1 PREVALÊNCIA DE INFECÇÕES VIRAIS DO TRATO RESPIRATÓRIO SUPERIOR EM IDOSOS RESIDENTES EM INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA. MARIANA SALOMÃO DAUD ¹ CARLOS HENRIQUE ALVES DE REZENDE ² Resumo: Introdução - A infecção viral das vias aéreas superiores (IVVAS) é doença infecciosa aguda que acomete o trato respiratório e a cada inverno atinge mais de 100 milhões de pessoas. Na população idosa, essa afecção constitui importante causa de internação e morte nas últimas décadas. Sabe-se que a vacina contra gripe oferece proteção satisfatória contra complicações e hospitalizações, mas em indivíduos institucionalizados essa proteção é menor. Objetivo - Identificar a prevalência e o impacto das IVVAS nas co-mordidades e mortalidade de idosos residentes em instituições de longa permanência (ILPI). Material e Métodos - Estudo de prevalência realizado com os idosos de ILPI em Uberlândia-MG no período de Agosto/2005 á Julho/2006. Todos os idosos que preenchiam os critérios para IVVAS foram examinados pelos autores e questionados quanto a uma série de fatores. Resultados - Foram notificados 121 idosos com critérios para IVVAS, com maior ocorrência em idosas, principalmente naquelas maiores de 85 anos. Quanto à sazonalidade houve maiores taxas nos meses de Dezembro/2005 á Fevereiro/2006. Observou-se um predomínio das afecções com duração entre 16-30 dias, além de alterações das co-morbidades durante o curso da infecção, principalmente as crônico-degenerativas. As complicações foram sinusite, pneumonia e óbito. Conclusão - Os achados do presente estudo mostram a importância das IVVAS na população idosa institucionalizada, pela alta freqüência e suas graves complicações, com necessidade de hospitalização e tratamentos específicos. Aponta-se para a necessidade de medidas de promoção e prevenção á saúde no idoso visando reduzir essas infecções virais e suas complicações. Palavras-chave: Infecções virais, trato respiratório superior, idosos, instituições de longa permanência. (1)Faculdade de Medicina-UFU, Rua Rio Preto, 507 Uberlândia – MG. E-mail: [email protected] (2) Faculdade dePREVALENCE Medicina-UFU, Av.OF Pará,THE 1720,UPPER Campus Umuarama - UberlândiaTRACT – MG E-mail: [email protected] RESPIRATORY VIRAL 2 INFECTIONS IN OLD PEOPLE RESIDENTS IN LONG-TERM CARE FACILITIES. Abstract: Introduction – The viral infection of the upper respiratory tract (VIURT) is an acute infectious disease that attacks the respiratory system and wich every winter reaches over more than 100 million people. In the last decades, it has been an important cause of hospitalizations and deaths in older populations. It’s known that influenza´s immunization offers a satisfactory protection against complications and hospitalization, but those who live in long-term care facilities (LTCF) have lower protection. Objectives – To identify the prevalence and the impact of VIURT at comorbidities and mortality in geriatrics living in LTCF. Casuistic and Methods – Prevalence application with geriatrics from on LTCF in Uberlandia-MG between August/2005 and July/2006. Those who fulfilled the qualification for VIURT were examined by the authors and questioned about factors that involved the infections. Results – Were notified 121 elderly with qualification for VIURT, was found a bigger occurrence in women, especially with more than 85 years old. About the season, December/2005 to February/2006 was the period with more number of cases. Notice a predominance of the affection duration between 16-30 days, besides the alteration of the comorbidities during the infection, especially the chronic-degenerative ones. The complications founded were sinusitis, pneumonia and death. Conclusion – The present application showed the importance of the VIURT for geriatrics living in LTCF, because of the higher frequency of cases and their complications, especially the need of hospitalization and specific treatments. It points to the necessity of measures to promote health and to prevent sickness, looking for a way to reduce viral infections and their complications. Key-words: Viral Infection, upper respiratory tract, old people, long-term care facilities. 1. INTRODUÇÃO 3 A infecção viral das vias aéreas contra influenza, os portadores de primária ou superiores (IVVAS) é doença infecciosa deficiência aguda de origem viral que acomete as vias secundária, cardiopatias ou pneumopatias. imunológica aéreas superiores e a cada inverno atinge Com o aumento na proporção de mais de 100 milhões de pessoas na Europa, idosos na população brasileira, cresce o Japão causando número de indivíduos que atingem faixas anualmente a morte de cerca de 20 a 40 mil etárias de risco para doenças crônicas e pessoas país incapacidades. Cerca de 80% dos idosos no (SIMONSEN, 1997). O agente etiológico país apresentam alguma doença crônica mais comum é o Myxovirus influenzae, ou (CHAIMOWICZ & GRECO, 1999). Nesse vírus da gripe, mas outros vírus como o grupo, medidas preventivas e de proteção Rinovírus, o específicas devem ser priorizadas, devido à Coronavírus, o vírus Sincícial respiratório, significativa e crescente demanda por Enterovírus e o Adenovírus também serviços ambulatoriais, hospitalares e de acometem e Estados somente o o promovem Unidos, neste vírus último Parainfluenza, sistema sintomas respiratório e reabilitação, conforme demonstram vários semelhantes à estudos (RAMOS & GARCIA, 2003). Influenza. Dentre A infecção respiratória viral é uma as várias alterações fisiológicas associadas ao processo de das doenças infecciosas que mais preocupa envelhecimento, as autoridades sanitárias, devido à grande referentes ao sistema imunitário dos variabilidade antigênica dos vírus e à idosos, possibilidade vulnerabilidade de uma única pessoa a destacam-se sua aquelas suscetibilidade às infecções e em infectada poder transmití-la para diversos comparação com os adultos jovens; os indivíduos idosos são menos capazes de responder susceptíveis, o que pode provocar epidemias ou mesmo pandemias, fisiológica usualmente abruptas, com pico em duas a microorganismos três semanas e duração total de oito 2000). Nos últimos 20 anos, o número e a semanas (IZURIETA et al, 2000). Os taxa menores de 23 meses e os maiores de 60 respiratórias agudas aumentaram de forma anos encontram-se entre os grupos mais constante entre os idosos. As infecções vulneráveis a complicações e ao óbito por virais de vias aéreas superiores e a tais infecções (COX & SUBBARAO, pneumonia estão entre as principais causas 1999). Também são considerados muito de morbi-mortalidade nesse grupo etário vulneráveis, e com indicação de vacinação (CRUZ, de e imunologicamente invasores internação BRAVO & por aos (DODET, infecções ROJAS, 1999). 4 Segundo Vasconcelos (2002) as doenças contra a gripe surgiu como uma como respiratórias foram responsáveis por 11,3% estratégia nacional de impacto na redução das causas de morte em pessoas com 60 da anos ou mais no Distrito Federal em 1999, respiratórias entre os idosos (LATORRE et correspondendo à terceira causa de morte al., 2005). nesse grupo. morbi-mortalidade Apesar da ampla por doenças divulgação das Dados do Sistema de Informações campanhas e dos benefícios da vacinação, sobre Mortalidade (SIM/SUS) mostram muitos idosos ainda não aderiram a essa que no Brasil, a proporção de óbitos por prática no país. Nos Estados Unidos, doenças do aparelho respiratório vem estima-se que 900 mortes e 1 300 aumentando entre a população maior de 60 hospitalizações possam ser prevenidas por anos nas últimas décadas. No Estado de cada milhão de pessoas vacinadas contra a São Paulo, observa-se a mesma tendência: influenza. O efeito protetor da vacina em 1980 os óbitos por tais afecções contra a influenza em idosos pode variar representaram 8,6% do total nesta faixa com a capacidade imunitária do indivíduo, etária, aumentando para 13,2% e 15% nos a anos de 1990 e 2002, respectivamente. No coincidência antigênica entre a vacina e as que se refere à morbidade por tais afecções cepas circulantes na comunidade (CRUZ et no País, de acordo com o Sistema de al, 1999). Informações Hospitalares imunogenicidade da vacina e a (SIH/SUS), Apesar de a resposta imunitária variar ocorreram 65.194 internações hospitalares entre 30 e 70%, os reais benefícios se devido a doenças respiratórias, sendo referem à prevenção de pneumonia viral 26.456 por pneumonia e destas, 18.240 primária ou bacteriana secundária e de (69,0%) entre idosos, no ano de 2000 no hospitalizações, Estado de São Paulo. Essa fonte mostra redução da mortalidade entre aqueles com ainda que no Estado de São Paulo, no doenças período de 1998 a 2003, ocorreram cerca pulmonares (BRIDGES et al, 2003). de 27 700 internações decorrentes de e, crônicas principalmente, cardiovasculares à e No Brasil, ainda há poucos dados sobre infecções virais de vias aéreas superiores e o pneumonia por ano na faixa etária de 60 nacionais de vacinação contra influenza no anos ou mais. idoso. No Estado de São Paulo, as impacto das recentes campanhas Considerando a crescente demanda por coberturas vacinais desde a implantação medidas para reduzir as complicações das campanhas foram: 84% entre os decorrentes dessas infecções, a vacinação maiores de 65 anos em 1998; e entre os 5 maiores de 60 anos, 63,9% em 2000, com relação à eficácia da vacina nessa 66,6% em 2001, 65,6% em 2002 e 75% em população. 2003 (BEPA, 2005). Embora em alguns O presente estudo teve como objetivo anos as coberturas não tenham atingido analisar as conseqüências das IVVAS em níveis esperados, estiveram próximas à idosos residentes em instituições de longa meta de 70%. Acredita-se que algum permanência e fatores predisponentes, impacto eventualmente poderá ser medido identificando no período. população e o seu impacto nas co- Em idosos e portadores de doenças crônicas, normalmente há uma menor mordidades a e prevalência na nessa mortalidade desses idosos. indução dos níveis de anticorpos. Porém, ainda assim a vacina oferece proteção satisfatória contra hospitalizações, complicações entre e e 70% Esse estudo foi realizado em os (NEUZIL et al., 2000; NICHOLSON et al. indivíduos com 65 anos ou mais, residentes 1998). Em indivíduos institucionalizados, a em seis instituições de longa permanência proteção para contra 30% 2. MATERIAL E MÉTODOS hospitalização e idosos (ILPI), sendo cinco pneumonia situa-se entre 50% e 60%, filantrópicas e uma particular, na cidade de sendo maior contra a ocorrência de óbitos, Uberlândia que é de 80% (ARDEN, PATRIARCA & AGOSTO/2005 a JULHO/2006. Num KENDAL, da primeiro momento os cuidadores foram infecção por vírus, o agravamento de capacitados a reconhecer os sintomas doenças graves característicos das IVVAS como febre, decorrentes da infecção nessa população calafrios, suor excessivo, tosse seca, dores são deduzidas a partir de um aumento articulares, sazonal da morbidade e mortalidade por cefaléia, coriza, congestão nasal, náuseas, doenças dor 1986). de base A e respiratórias associação doenças sem nenhuma - MG mialgia, abdominal, no período fadiga, diarréia, de anorexia, fotofobia e evidência científica dessas conseqüências dispnéia (CATE, 1993), e notificar os (GUTIERREZ, LI & SANTOS, 2001). pesquisadores na presença de pelo menos Segundo O’Reilly et al (2002) existem evidências que sugerem que a metade das mortes por influenza ocorrem em idosos institucionalizados e que existe uma dúvida dois dos sintomas (CALL et al., 2005) com no máximo 72 horas de evolução. Assim que notificados, os pesquisadores entrevistaram e examinaram os idosos acometidos pelos sintomas 6 utilizando uma ficha padrão em que os Universidade Federal de Uberlândia no seguintes aspectos foram contemplados: início de sua realização e todos os seus idade, sexo, número de idosos no quarto, participantes ou responsáveis assinaram o duração do processo, imunização contra termo de consentimento livre e esclarecido. influenza nos dois últimos anos, número de medicações em uso, sintomas presentes, 3. RESULTADOS co-morbidades dos idosos segundo registro médico, complicações como amigdalites, Dos 205 idosos residentes nas seis ILPI sinusites, pneumonia, alteração do estado visitados, 121 preencheram os critérios de saúde anterior ao processo e óbitos. para entrar no estudo durante os doze Além disso, foram aplicados três instrumentos de “screnning” para meses observados, uma incidência alta de 59,02%. depressão, demências e desnutrição. Os instrumentos realizados foram: Todos os idosos do estudo foram vacinados contra a influenza nos anos de • Mini-exame do Estado Mental 2005 e 2006. O número de indivíduos por dormitório foi de no mínimo 2 e máximo 4 (SEABRA et al., 1990); • Escala de Depressão Geriátrica – idosos. A distribuição quanto ao sexo e idade Abreviada de Yesavage (KANE encontra-se na Tabela 1, indicando um & KANE, 1981); • Mini Avaliação Nutricional (GUIGOZ, VELAS & GARY, 1994), retro-tradução principalmente aquelas com mais de 85 anos. Observa-se também que houve um acometimento crescente com o aumento da (REZENDE, 2001). Foram realizados retornos a cada quatro dias durante oito semanas após a detecção dos sinais clínicos. Esse período é considerado como a duração máxima dessa infecção e, portanto o tempo em que as complicações podem ser consideradas decorrentes da infecção (CALL et al., idade nesse gênero. Quanto ao número de casos por instituições observa-se uma maior freqüência nas ILPI E e F (Tabela 2). A ocorrência sazonal das IVVAS pode ser observada na Figura 1, na qual há uma maior incidência nos meses de Dezembro- 2005 á Fevereiro-2006 em 2005). O presente estudo foi aprovado pelo Comitê número maior de idosas com IVVAS, de Ética em pesquisa da relação aos meses de outono e inverno. A Tabela 3 mostra a freqüência de infecções quanto á sua duração em dias. 7 Observou-se um predomínio das afecções Congestiva com duração entre 16 e 30 dias. exacerbação com dispnéia e Em relação ao número de sintomas na edema primeira visita, ou seja, ao diagnóstico da infecção viral estudada (Tabela 4), apresentaram durante o quadro infeccioso. • 58,3% dos idosos com história observou-se que a maioria dos idosos era de Pneumonia de repetição relativamente tiveram um novo episódio como pouco sintomáticos. A Figura 2 apresenta a freqüência dos complicação da infecção viral. • sintomas das IVVAS. 100% dos portadores de Doença Na Tabela 5, observa-se a relação da Pulmonar Obstrutiva Crônica freqüência de IVVAS com o número de tiveram alteração da freqüência co-morbidades já e médico instituição. da diagnosticadas pelo Quanto á necessitando distribuição das co-morbidades (Figura 3) encontrou-se maior Hipertensão Arterial prevalência de Sistêmica e Demência. desconforto respiratório, de tratamento especifico. Outro aspecto contemplado nesse estudo foi a freqüência de complicações das IVVAS em idosos institucionalizados Quando se analisou o impacto das (Tabela 7). Observou-se 19 (40,4%) casos infecções nas doenças já diagnosticadas de sinusite aguda diagnosticada pelo nos idosos obtiveram-se os seguintes médico da instituição em acordo com os resultados (Tabela 6): pesquisadores. Houve também 27(57,45%) • • • • 82,7% dos hipertensos tiveram casos de pneumonia dos quais 17 (63%) seus níveis pressóricos alterados completaram critérios para internação, os para mais durante a infecção. outros 10 (27%) idosos foram medicadas 73,7% dos idosos que eram na instituição. Todas as complicações considerados caidores crônicos foram tratadas com antibióticoterapia e sofreram nova queda, sem sinal obtiveram de fratura. tratamento. critérios de cura após o 21% daqueles com história de Houve um caso de pneumonia que fratura prévia, sofreram nova evoluiu para óbito após 48 horas do queda com fratura. diagnóstico 75% dos Insuficiência portadores de Cardíaca e instituição de antibióticoterapia. Os últimos aspectos analisados foram a ocorrência de demência, depressão e 8 desnutrição em relação á freqüência de tinham depressão diagnosticada e em infecções virais das vias aéreas superiores. tratamento e/ou com 5 pontos ou mais na Esses aspectos foram analisados segundo a Escala de Depressão Geriátrica, que é realização dos instrumentos apresentados sugestiva dessa no Material e Métodos desse estudo, que Aqueles indivíduos foram aplicados as pontuação normal representaram apenas possibilidades de cada indivíduo. Houve 29,5% (23). Por fim, o último aspecto uma maior freqüência de infecções nos analisado foi quanto a freqüência de idosos com pontuação no Mini-exame do infecções em idosos desnutridos ou em Estado mental compatível com demência, risco para desnutrição. Esses dois grupos que foi proporcional á gravidade da doença somados representaram maioria (54%) dos (Tabela 8). Na Tabela 9 observa-se maior indivíduos de acordo com alteração que de humor. obtiveram infectados. ocorrência de infecção nos idosos que já Tabela 1 – Distribuição quanto ao sexo e idade dos idosos acometidos por infecções virais em vias aéreas superiores em instituições de longa permanência, 9 Uberlândia – MG, 2005-2006. Faixa etária 65-74 anos 75- 84 anos 85 anos ou mais Total N % N % N % N % Masculino 23 51,2 16 41,1 11 29,7 50 41,3 Feminino 22 48,8 23 58,9 26 70,3 71 58,7 Total 45 100 39 37 100 121 100 Sexo 100 Tabela 2 – Distribuição dos casos de infecções virais respiratórias alta quanto ás instituições de longa permanência para idosos (ILPI), Uberlândia – MG, 2005-2006. Instituições de longa permanência para idosos Freqüência por ILPI N % Freqüência relativa ao total de idosos por ILPI N % ILPI A 14 11,6 39 35,9 ILPI B 19 15,7 45 42,2 ILPI C 15 12,4 23 65,2 ILPI D 27 22,3 40 67,5 ILPI E 33 27,3 42 78,6 ILPI F 13 10,7 16 81,25 TOTAL 121 100 205 - Tabela 3 – Período de duração das infecções virais respiratórias altas nas ILPI’s, Uberlândia – MG, 2005-2006. Freqüência Duração do processo N % Menor que 15 dias 51 42 Entre 16-30 dias 68 56,3 Maior que 31 dias 2 1,7 10 Total 121 100 Tabela 4 – Número de sintomas ao diagnóstico das infecções virais de vias aéreas superiores nos idosos estudados, Uberlândia – MG, 2005-2006. Freqüência Número de sintomas N % 2a 4 54 44,6 5a7 60 49,6 Maior 8 7 5,8 Total 121 100 Tabela 5 – Número de co-morbidades ao diagnóstico da infecção viral do trato respiratório superior nas ILPI, Uberlândia – MG, 2005-2006. Freqüência Número de co-morbidades N % 0a2 50 41,3 3a5 56 46,3 6a8 13 10,5 9 a 11 2 1,9 Total 121 100 Tabela 6 – Impacto das infecções virais das vias respiratórias superiores nas doenças de base dos idosos institucionalizados, Uberlândia – MG, 2005-2006. Freqüência Impacto nas doenças de base N % HAS 43 82,7 Quedas sem fraturas 14 73,7 11 Quedas com fraturas 4 21 ICC 9 75 PNM de repetição 7 58,3 DPOC 29 100 Tabela 7 – Freqüência de complicações das infecções virais do trato respiratório superior nas ILPI’s, Uberlândia – MG, 2005-2006. Freqüência Complicações N % Sinusites 19 40,4 Pneumonia 27 57,5 Óbitos 1 2,1 Total 47 100 Tabela 8- Freqüência de demência nos idosos com infecções virais do trato respiratório superior, Uberlândia – MG, 2005-2006. Freqüência Mini-exame do Estado Mental N % Normal 2 2,2 Demência leve 18 19,8 Demência moderada 30 33 Demência grave 41 45 Total 91 100 Tabela 9 – Freqüência de depressão nos idosos com infecções virais do trato respiratório superior, Uberlândia – MG, 2005-2006. 12 Freqüência Escala de Depressão Geriátrica N % Até 4 pontos 23 29,5 5 pontos ou mais 33 42,3 Com depressão em tratamento 22 28,2 Total 78 100 Tabela 10 – Avaliação do estado nutricional dos idosos com infecções virais do trato respiratório superior, Uberlândia – MG, 2005-2006. Freqüência Mini-avaliação Nutricional N % Nutrido 41 46 Risco de Desnutrição 36 40,5 Desnutrido 12 13,5 Total 89 100 13 20 18 17,4 16 Freqüência (%) 14 13,2 13,2 12 10 9,9 9,1 8,3 8 6,6 6 6,6 5,8 4,1 4 3,3 2,5 2 JU LH O O H N JU M A IO IL BR A Ç R A M FE V ER N JA O O EI R O EI R O EZ D EM BR N O V U O EM BR O O BR TU M TE SE A G O BR ST O O 0 Meses do ano Figura 1 – Ocorrência sazonal das infecções virais em trato respiratório superior em idosos institucionalizados, Uberlândia – MG, Agosto/2005-Julho/2006. Calafrios 1,6% Dor abdominal 6,6% Fadiga 6,6% Diarréia 9,1% Sintomas Suor excessivo 10,7% Fotofobia 23,1% Febre 23,1% Náuseas 27,3% 33,9% Anorexia 37,2% Dores articulares 40,5% Cefaléia 52,9% Mialgia 66,1% Dispnéia 74,4% Coriza 76,0% Tosse seca 81,8% Congestão nasal 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Freqüencia (%) Figura 2 – Freqüência dos sintomas ao diagnóstico das infecções virais em trato respiratório superior em idosos institucionalizados, Uberlândia – MG, 2005 - 2006. 90% 14 32,2 Outros 43 HAS 39,6 Demência 32,2 Tosse crônica 24 DPOC 24 Distúrbio do sono 19,8 Co-morbidades Cirurgias recentes 18,2 Depressão 16,5 AVC Tabagismo 15,7 Fraturas 15,7 13,2 Incontinência urinaria PNM de repetição 9,9 ICC 9,9 DM 9,9 Alterações tireroidianas 9,9 9 Esquizofrenia 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Freqüencia (%) * DM (Diabetes mellitus), ICC (Insuficiência Cardíaca Congestiva), PNM (Pneumonia), AVC (Acidente Vascular Cerebral), DPOC (Doença Obstrutiva Crônica), HAS (Hipertensão arterial sistêmica). Figura 3 – Freqüência das co-morbidades dos idosos ao diagnóstico das infecções virais do trato respiratório superior, Uberlândia – MG, 2005-2006. queixavam 4. DISCUSSÃO dos sintomas ao serem acometidos por tais viroses. Mesmo assim Durante o período estudado houve 121 houve uma freqüência de 59,02%, que notificações de idosos que apresentavam seriam aproximadamente três em cada dois ou mais dos sintomas relacionados cinco indivíduos residentes nas ILPI’s como característicos de doenças virais do desenvolveram alguma infecção viral de trato prazo vias aéreas superiores em um ano. Essa máximo de 72 horas do início do quadro. freqüência é considerada alta se comparada Essas variáveis podem ser a maior com adultos jovens dos EUA, segundo Call limitação do estudo, pois fatos como: as et al. (2005) que apresenta uma incidência instituições idosos de 20% nessa população, que seria um não caso a cada cinco indivíduos. Não há comunicaram aos pesquisadores ou os estatística na população idosa brasileira respiratório subestimaram ao superior avaliar seus no os sintomas e próprios idosos não reconheciam e não se 15 sobre essa incidência, muito menos na compreender mudanças em seu estado de população institucionalizada. saúde. A regra clínica básica de tentar Estes resultados se comparados às associar o total de sintomas e sinais em incidências internacionais, também haverá uma única doença não se aplica ao idoso. desproporção uma vez que a sensibilidade A maioria dos pacientes nessa faixa etária para o diagnóstico das infecções no estudo apresenta é maior se comparado aos demais, que agudas, utilizam de questionários, ou seja, auto- interagem entre si e com fatores sociais e referência de infecções (STOTT et al., psicológicos, para determinar o quadro 2001). clínico. Durante a avaliação do paciente Segundo Costa & Gorzoni (2002) várias afecções concomitante. crônicas Essas e afecções idoso, há permanente risco de que sintomas existem uma série de fatores que são e responsáveis pelas manifestações atípicas etiológica, estejam ausentes ou não sejam das infecções nos idosos. Ao se avaliar um considerados como parte de quadros paciente geronte, baseando-se apenas nos clínicos, principalmente agudos como as sinais e sintomas clássicos das infecções, infecções. comumente o diagnóstico será incorreto, funcional, que caracteriza o processo de ou no mínimo tardio. Para que se possa envelhecimento e que pode ser agravada e melhorar a acurácia do diagnóstico clínico, acelerada pela como também a indicação de exames modifica a complementares, é necessário compreender organismo a qualquer afecção aguda, as complexas interações que ocorrem entre principalmente as infecções, contribuindo o envelhecimento, as doenças e os sinais e para que as doenças se manifestem de sintomas por elas determinados. formas diferentes das observadas em Ainda segundo esses autores, as sinais indivíduos apresentem sobreposição A diminuição da reserva presença resposta mais de doenças, fisiológica jovens. Um do outro percepções equivocadas sobre o processo fenômeno relatado pelos mesmos autores de envelhecimento são comuns, pois nas faixas etárias mais avançadas é a baixa idosos e seus cuidadores atribuem, com correlação entre o quadro clínico, o tipo e a freqüência, novos e antigos sintomas a gravidade da infecção. manifestações da idade e deixam de relatálos. Em relação à freqüência de infecções Outro fator é a prevalência de por faixa etária, observou-se que houve demência que aumenta progressivamente uma diminuição progressiva de casos com com a idade e idosos com deficiência o aumento da idade. Esse fato pode ser cognitiva têm dificuldades em reconhecer e 16 explicado por alguns dos motivos citados até uma hora infectam por anteriormente. inalação; • Ao analisarmos a distribuição das freqüências nas instituições de longa permanência para idosos (maiores órgãos em uma superfície mucosa; públicos, • das lucrativos apresentam três vezes mais pessoa para uma pessoa ou nasal. objetivo desse estudo. Quanto à maior Portanto, a transmissão das viroses ocorrência na ILPI E pode ser explicada, respiratórias dependem de uma série de fatores, como a circulação do ar, a umidade notificações dos casos. Ainda quanto a esse aspecto, pode-se verificar que não houve proporcionalidade quanto á freqüência das infecções e o número de idosos residentes em cada instituição, uma vez que as ILPI A e B taxas, mesmo relativa do ar, o tempo e o tipo do contato entre os indivíduos, a qualidade dos cuidados de higiene. Com isso nem sempre o local em que há um aglomerado maior de pessoas será o local com maior número de infectados por tais vírus. Ao observar a distribuição sazonal possuindo uma grande quantidade de demonstrada indivíduos. Segundo Musher (2003), a transmissão dos vírus que causam os resfriados pode ocorrer por um ou mais dentre três nesse estudo, pode se perceber que há uma maior ocorrência nos meses de Dezembro-2005, Janeiro e Fevereiro-2006, que pode ser justificada por ser um período em que há maior mecanismos: Aerossóis uma sua própria mucosa conjuntival explicar esse fato, mas nenhum deles foi • de sadia, que inocula o vírus em São vários os fatores que poderiam menores mãos infectada hospitalizações que as assistencialistas. pois esta se mostrou mais eficaz nas Transferência direta de vírus em secreções, por meio do contato (2002) mostraram que instituições com fins as de um metro e infectam por chegar considerada particular. Zimmerman et al. tiveram 10μm diâmetro) que viajam menos de nas ILPI E e F. Sabe-se que a ILPI F não é por que (ILPI) observamos que há uma maior ocorrência subsidiada Gotículas de partículas grandes de pequenas número de visitas em virtude das festas de fim de ano e também por ser um período partículas (menores que 5μm de diâmetro) suspensas no ar por caracteristicamente chuvoso, o que leva a uma maior permanência em locais 17 fechados e de menor circulação do ar. Mas idosos, a presença conocomitante de também pode ser explicado por ser um doenças crônicas que podem dificultar a período Sincicial recuperação do individuo, e mesmo a Respiratório circula com maior prevalência atuação mais lenta e ineficaz do sistema que o vírus Influenza e ainda não possui imunológico vacina 2002). em que específica o vírus (SIVEP-GRIPE/MS, 2005). (COSTA & GORZONI, Segundo Call et al. (2005), não há Outro pico de ocorrência foi em sintomas com sensibilidade boa para maio, mês em que é feita a vacinação síndromes gripais em pacientes acima de contra o Influenza. Sabe-se que a vacina 60 anos, porém os de maior especificidade possui uma cobertura especifica para foram tosse e febre (94%), apenas febre alguns sorotipos de Influenza A e B (91%), mialgia (81-83%) e cefaléia (79%). circulantes no hemisfério sul, e que a Enquanto que em indivíduos jovens os duração de sintomas de maior sensibilidade para aproximadamente seis meses (JENNINGS IVVAS são tosse (98%), mialgia (94%), & LIDDLE, 2001). Por isso, a vacina deve cefaléia (91%), congestão nasal (91%), ser renovada todo ano e com nova febre (84%), dor de garganta (84%) e composição. Esse fato pode justificar o coriza (83%), não havendo sinais ou pico em maio, pois nesse período o vírus sintomas com especificidade boa. Nesse Influenza A circula em maior proporção ponto, os dados do estudo quanto à (SIVEP-GRIPE/MS, 2005), podendo haver freqüência de sintomas apresentados pelos novo sorotipo circulando e ainda incluindo idosos institucionalizados se aproxima ao o período em que os idosos não possuem quadro apresentado por indivíduos mais mais anticorpos para tais vírus. jovens, o que pode ser justificado tanto da imunização é Ao acompanhar a duração das síndromes gripais dos idosos pelos critérios diagnósticos utilizados nesse estudo quanto á comprovação dos institucionalizados pode-se perceber que sinais em sua maioria a duração foi de 16 a 30 pesquisadores, o que nem sempre ocorre dias, período longo para uma afecção nos demais estudos, que se baseiam de caracterizada como aguda, que em adultos auto-referência para seus levantamentos. e sintomas por parte dos jovens e saudáveis dura em média 7 a 14 Um dos aspectos desse estudo que dias. A razão desse período prolongado de mais surpreenderam foi a menor freqüência infecção pelas de infecções virais nos idosos com maior manifestações atípicas das infecções nos número de co-morbidades, porém esse fato pode ser explicado 18 pode ser justificado pelos mesmos motivos nessa população, necessitaram de que a freqüência de infecções diminui com tratamento específico. a idade. Clinicamente, a importância das Quanto à freqüência de co- síndromes gripais está nas complicações morbidades há um maior número de idosos que causam, das quais as pulmonares são com Hipertensão Artérial Sistêmica e as mais freqüentes, mas outras como Demência, doenças crônico-degenerativas sinusites aguda, otite média aguda e típicas do envelhecimento. Em se tratando amigdalites podem ter repercussões fatais de fonte secundária de dados, a associação na população idosa. No presente estudo das IVVAS com essas co-morbidades não observou-se uma taxa alta de casos de permitiram maiores conclusões. pneumonia, em que a maioria necessitou Ellis et al. (2003) demonstraram de hospitalização e antibioticoterapia que o vírus Influenza e o vírus Sincicial endovenosa. Houve também muitos casos Respiratório estão relacionados com 28% e de sinusite aguda que foram tratados na 15 %, respectivamente, das hospitalizações própria por doenças cardiopulmonares em idosos antimicrobianos específicos. Houve, ainda institucionalizados co-morbidades um caso de pneumonia que evoluiu para cardíacas ou pulmonares. O presente óbito após 48 horas do diagnóstico e estudo apresentou alterações mais precoces instituição de antibioticoterapia. com das repercussões das infecções virais respiratórias como: • • • instituição Os vírus com respiratórios agentes são os melhores modelos conhecidos para o a alteração dos níveis pressóricos, estudo da co-infecção bacteriano-viral. que é fator de risco para infarto Epidemias de influenza resultam em agudo do miocárdio e acidentes aumento na taxa de admissão hospitalar vasculares encefálicos; por a alteração do estado geral de principalmente pacientes de Haemophilus influenzae e Staphylococcus insuficiência cardíaca congestiva, aureus. Embora o mecanismo preciso não levando á seja conhecido, parece estar envolvida a hospitalização para controle da depressão da atividade bactericida dos crise; fagócitos do todos os portadores de doença Influenza. Co-infecção pulmonar obstrutiva crônica, fator não é justificativa para prescrição de de risco conhecido para pneumonia antibióticos sistêmicos na doença viral, portadores 50% desses pneumonia bacteriana por causada Pneumococcus, hospedeiro pelo vírus bacteriano-viral 19 mas novas abordagens da vacinação, tais Nutricional se encontravam entre risco como desenvolvimento de vacinas a partir para desnutrição e desnutridos. de vírus vivo para administração intranasal, podem melhorar o controle das 5. CONCLUSÃO infecções virais respiratórias no futuro (GOMES, 2001). Os achados do presente estudo Idosos com afecções neurológicas e apontam a importância das infecções virais psiquiátricas devem ser avaliados mais do trato respiratório superior na população cautelosamente, segundo Costa e Gorzoni idosa institucionalizada, uma vez que essa (2002), pois doenças cerebrovasculares, apresenta uma freqüência alta de tais demências e depressões podem ocasionar afecções, que muitas vezes complicam distúrbios de comunicação, deglutição, e com infecções bacterianas, necessitando de motricidade que predispõem a instalação hospitalizações, de processos infecciosos. Dependendo do antibióticos específicos e até mesmo grau de evolução, surgem alguns fatores evoluindo para óbito. Considerando a como a desnutrição, que colaboram para tendência de aumento das doenças crônico- que ocorram reações orgânicas atípicas. A degenerativas entre idosos, devido á associação crescente longevidade da população, o freqüente circunstancias, tais de com como outras Diabetes diagnóstico tratamento precoce e objetivo, com a Mellitus, neoplasias e cirurgias recentes, necessidade de uma abordagem mais que alteram os sintomas clínicos e a especifica para a população residente em resposta imunológica nesse grupo de instituições de longa permanência são de pacientes, deve também ser levada em extrema importância para a sua qualidade conta. Convém lembrar que além de mais de vida. Além de uma investigação mais predispostos esses aprofundada dos mecanismos de contagio pacientes apresentam dificuldades para nessa população em especiais pode trazer discernir novos sintomas dos antigos e grandes benefícios no controle de doenças relatá-los. Esses fatos explicam a maior respiratórias. Medidas de promoção e ocorrência de infecções virais em idosos prevenção á saúde do idoso podem ter com critérios para demência, segundo o impacto na qualidade e sobrevida desse Mini-exame do Estado Mental, com índice grupo etário, visando reduzir as infecções e diagnóstico para depressão, e também virais e suas complicações. a ter infecções, aqueles que á Mini-avaliação do Estado 6. AGRADECIMENTOS 20 CHAIMOWICZ, F.; GRECO, D. B. Ás instituições de longa permanência para idosos de Uberlândia. Dinâmica da institucionalização de idosos em Belo Horizonte, Brasil. Revista de Á Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós- Saúde Pública, São Paulo, v. 33, n.5 p. 454 Graduação da Universidade Federal de – 460, 1999. Uberlândia. COSTA, E. F. A.; GORZONI, M. L. Ao Conselho Desenvolvimento Nacional Cientifico de e Tecnológico, CNPq. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro, 2002. 1187p. Cap. 68: Manifestações Atípicas das Infecções, 7. REFERÊNCIAS p.574-577. BIBLIOGRÁFICA COX, N..J.; FUKUDA, K. 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