SCREENING FITOQUÍMICO DAS FOLHAS E CAULE DE MENTHA PIPERITA L.(Lamiaceae) DA REGIÃO AMAZÔNICA Wilde Silva dos Santos1 Janaina Dorneles Mahlke2 RESUMO: Plantas medicinais são utilizadas mundialmente como uma das principais formas de cuidado primário de saúde. No entanto, a literatura indica que muitas espécies podem apresentar composição química variável, toxicidade ou difícil identificação. O objetivo do presente estudo visou à obtenção de uma pesquisa fitoquímica no intuito de verificar se houve variação dos constituintes químicos da espécie Mentha piperita L. coletada aqui na região amazônica com relação à outras regiões do Brasil, utilizando metodologias de análise para o screening fitoquímico desta espécie. Foram identificados em sua composição os seguintes constituintes: taninos, saponinas, óleos essenciais e fixo, contribuindo dessa forma para a correta identificação desta espécie de planta medicinal. Palavras Chave: Mentha piperita L.; Screening fitoquímico; Planta medicinal. Abstract: Abstract: Medicinal plants are used worldwide as one of the main ways of primary health care. However, literature indicates that many species may exhibit variable chemical composition, toxicity or difficult to identify. The goal of this study was designed in obtaining a phytochemical research in order to determine whether there was variation in the chemical constituents of the species Mentha piperita L. collected here on Amazon regarding other regions of Brazil, using analytic models for phytochemical screening of this species. The following components were identified in its composition: tannins, saponins, essential and fixed oils, thereby contributing to the correct identification of this species of medicinal plant. Key-words: Mentha piperita L.; Phytochemical screening; Medicinal plant. 1 Acadêmico Concluinte do Curso de Bacharel em Farmácia. Professora Orientadora Caderno de Ciências Biológicas e da Saúde www.cathedral.edu.br 2 Boa Vista, n. 03, 2013 INTRODUÇÃO O uso de plantas medicinais no tratamento de doenças é tão antigo quanto o próprio homem (Maciel et al., 2002). No Brasil, pesquisas demonstram que 82% da população brasileira utilizam produtos à base de espécies vegetais (YUNES et al.,2001). No entanto, essa prática pode se tornar bastante perigosa quando realizada sem orientação, pois muitas plantas podem apresentar difícil identificação, composição química variável ou ainda relativa toxicidade (OLIVEIRA & AKISUE, 1997; SIMÕES et al., 2007). Os nomes populares das plantas variam muito nas diferentes regiões do país, bem como um mesmo nome pode indicar diversas espécies diferentes, o que pode se transformar em sério fator de erro no uso de plantas medicinais (OLIVEIRA & AKISUE, 1997). As espécies do gênero Mentha piperita L., erva aromática da família Lamiaceae, popularmente conhecidas no Brasil como hortelã, são usadas para fins medicinais com propriedades analgésica, antiemética, antiespasmódica, antiinflamatória, antimicrobiana, antiviral, descongestionante e expectorante (SCAVRONI et al., 2006). Várias espécies de Mentha têm sido investigadas, tanto por suas atividades biológicas como também pelos óleos essenciais produzidos por suas folhas (PAULUS et al., 2005). Também são usadas como condimentares na forma de aromatizantes alimentícios e tempero in natura. Conforme Watanabe et al. (2006), dentre as espécies mais populares se destacam a menta do levante (M. citrata), hortelã verde (M. spicata), poejo (M. pulegium), hortelã crespa (M. crispa), hortelã pimenta (M. x piperita) e menta japonesa ou hortelã doce (M. arvensis). Seu óleo é empregado como flavorizante aditivo em alimentos, em produtos de higiene bucal e em preparações farmacêuticas, no tratamento de problemas respiratórios e gastrintestinais (SIMÕES & SPITZER, 2000). Assim, pela riqueza em óleos essenciais, essas plantas têm sido investigadas sob o ponto de vista agronômico e químico, com o objetivo de maximizar seu conteúdo de óleo essencial e seus constituintes (MARTINS, 1998). O presente estudo visou à obtenção de uma pesquisa fitoquímica com o objetivo de identificar os constituintes químicos da espécie Mentha piperita L., Caderno de Ciências Biológicas e da Saúde www.cathedral.edu.br Boa Vista, n. 03, 2013 existentes em partes da planta, como folhas e caule, colhidas aqui na região amazônica a fim de comprovar a existência destes em sua composição, utilizando metodologias de análise para um screening fitoquímico desta espécie. MATERIAL E MÉTODOS As análises fitoquímicas foram realizadas no Laboratório de Química da Faculdade Cathedral, em Boa Vista-RR, no mês de abril de 2011. Para a verificação dos componentes químicos da planta Mentha piperita L. A matéria-prima constituída de folhas de hortelã (Mentha piperita L.) com caule foi adquirida no canteiro de Monte Cristo Boa Vista - RR e conduzida ao Laboratório de Química da Faculdade Cathedral. Preparo das Amostras Foi obtido o material vegetal fresco, utilizando apenas caules e folhas, submetendo-os pelos seguintes pré-processamentos: folhas e caules inteiros e folhas e caules picotados manualmente. A triagem fitoquímica foi realizada submetendo o extrato vegetal a diversos testes qualitativos de precipitação e coloração específicos para as principais classes de metabólitos secundários, conforme Matos (1995) e Simões (2007). Foram utilizadas reações específicas para a pesquisa de saponinas, taninos, flavonóides, polissacarídeos, antraquinonas e óleos fixos e essenciais. Análise Farmacognóstica As análises farmacognósticas foram realizadas a fim de se detectar a presença de compostos diferentes de interesse na espécie, seguindo-se as metodologias validadas para cada grupo. Foram realizados testes para o material vegetal em meio aquoso (polissacarídeos, taninos e saponinas) e extrato alcoólico (antraquinonas, flavonóides, óleos fixos e essenciais). Os testes para polissacarídeos foram realizados para identificar as características entre gomas e mucilagens. Para os taninos a verificação e extração deste composto da droga vegetal por meio da reação de coloração com sais de ferro Caderno de Ciências Biológicas e da Saúde www.cathedral.edu.br Boa Vista, n. 03, 2013 e com acetato de chumbo. A presença de saponinas foi verificada através do teste de espuma persistente. Para a pesquisa de antraquinonas foi realizada a reação de Bornträger (MELLO et al., 1997; FALKENBERG et al; 2003). Os testes para flavonóides consistiram das reações de Shinoda (cianidina). E para óleos essenciais foi realizados ensaios de pureza e identificação da droga vegetal e para óleos fixos análise para presença destes e extração de óleo fixo (AKISUE, 1995). RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação às análises farmacognósticas, realizadas com a droga vegetal em extrato alcoólico e em extrato aquoso, obtiveram-se os resultados mostrados na espécie Mentha piperita L. apresentando-se positiva em extrato aquoso para taninos e saponinas e o extrato alcoólico para óleos fixos e essencial o que confere com a descrição de Almeida (1993), Goda et al. (1999) e Lorenzi e Matos (2002). Sabe-se que ocorre grande variação na composição química dos óleos essenciais devido a diversos fatores, entre eles os genéticos, ecológicos e tecnológicos. A qualidade que se busca em óleos essenciais é determinada por sua composição química, onde este deve ser conhecida em cada espécie e população por uma profunda investigação previa (ROHLOFF et al.,2005) . As pesquisas da espécie de Mentha na região sul apresenta diversas espécies medicinais aromáticas, muitas destas apresentando em sua composição óleos essenciais, óleos voláteis, taninos e flavonóides como no caso de Mentha piperita, e muitas outras espécies como erva-cidreira brasileira (Lippia alba (Mil) e espécies do gênero Cunila, conhecida popularmente como poejo (MORAIS et al., 2009). Nas regiões nordeste, a atividade terapêutica dos óleos essenciais e fixos da planta da espécie Mentha piperita vem sendo utilizada como uma possível alternativa no combate a parasitoses, principalmente, a leishmaniose chagasi, porém existem poucos relatos na literatura (AGUIAR et al., 1983). Os resultados farmacognósticos obtidos para a identificação de taninos, saponinas, óleos fixo e essencial estão de acordo com o histórico da droga vegetal estudada. Conclui-se que os testes empregados foram suficientes para os estudos Caderno de Ciências Biológicas e da Saúde www.cathedral.edu.br Boa Vista, n. 03, 2013 de pré-formulação, ressaltando as prováveis ações antiinflamatórias, adstringentes e/ou anti-sépticas, analgésica, antiemética, antiespasmódica, antimicrobiana, antiviral, descongestionante e expectorante de acordo com a literatura. A composição química dos óleos essenciais de muitas plantas aromáticas é também, influenciada pelas condições agronômicas, como época de colheita, idade da planta e densidade de plantio (MAROTTI et al.,1994). De acordo com Correa Junior et al., (2006) os fatores técnicos também merecem destaque, como as técnicas de cultivo, os tratos culturais e os aspectos fitossanitários que determinam o estado geral de desenvolvimento da planta e, conseqüentemente, sua maior ou menor produtividade. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AGUIAR, C. P. Relatório técnico da campanha contra a Leishmaniose, Ministério da Saúde/SUCAM. Aracaju, 1983, (mimeo). ALMEIDA, R. Plantas Medicinais Brasileiras – conhecimentos populares e científicos. São Paulo: Hemus Editora Ltda, 1993. 341p. AKISUE,G. ; AKISUE, M.K. ; OLIVEIRA, F. de. Apostila de farmacognosia prática. 1995. CORREA Jr, C. SCHEFFER, M. C. MING, L. C. Cultivo agroecológico de plantas medicinais, aromáticas e condimentares. Ministério de Desenvolvimento Agrário, Brasília, 2006, 76 p. FALKENBERG, M.B.; SANTOS, R.I.; SIMÕES,, C.M.O. Introdução à análise fitoquímica. In: SIMOÕES, C.M.O.; SCHENKEL, E.P.; GOSMANN, G.; MELLO, J.C.P.; MENTZ, L.A.; PETROVICK, P.R. 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