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FICHA TÉCNICA:
José Carlos Junqueira de Araújo
Prefeito Municipal
Valdecir Feltrin
Secretário Municipal de Saúde
Mariúva Valentin Chaves
Departamento de Ações Programáticas
Técnicos Responsáveis
Alba Xavier de Souza
Anésia Nunes de Freitas
Ângela Cristina de Amorim
Camila Naiara R. S. Santos
Cristina Pereira da Silva
Eliane Pereira Ormund
Elizia Aparecida de Melo Machado
Elvira Sampaio de Oliveira
Ester Martins dos Santos Alves
Gláucia Rocha Silva
Laurinda Maria V. Cardoso
Lazara M. Lima de Moraes
Lenir Pereira Gavilan
Lourenço Ribeiro da Cruz Neto
Márcia Regina dos Anjos
Maria de Lourdes de Carvalho
Mariúva Valentin Chaves
Rhafaela Marques Monteiro Salgado
Diagramação
Cícero Francisco de Moraes
Fernando da Silva Souza
Hemerson Rodrigues Silva
Colaboradores
Cristiane dos Santos Ponce
Francisco Ferreira Chaves
Helenita Alves de Siqueira Cavalcante
Irenilda Araujo Bugalho
Martha Maria Pereira
Sérgio Aparecido da Silva
-2-
SUMARIO
Introdução .............................................................................................................................01
Justificativa ...........................................................................................................................02
Público alvo ..........................................................................................................................03
Objetivos ...............................................................................................................................04
Da hanseníase .......................................................................................................................05
Operacionalização do programa ...........................................................................................22
Procedimentos que a unidade e profissionais devem tomar para identificar a hanseníase...23
Atribuições............................................................................................................................23
Fluxo de atendimento em hanseníase ...................................................................................30
Indicadores............................................................................................................................31
Avaliação ..............................................................................................................................31
Conclusão..............................................................................................................................32
Bibliografia ...........................................................................................................................33
1. Introdução.
-3-
A Hanseníase é uma doença sistêmica, infecciosa, de evolução lenta, que se
manifesta com lesões na pele e nos nervos, com grande potencial incapacitante e é causada
por um bacilo denominado Mycobacterium leprae. O aparecimento da doença e suas
diferentes manifestações clínicas dependem da resposta do sistema imunológico do organismo
atingido.
O Município de Rondonópolis em 2012, tem como meta, a descoberta de 170
casos novos de Hanseníase e 90% (noventa por cento) de cura do mesmo. Para chegarmos a
este objetivo necessitamos da parceria de todos os profissionais de saúde, que direta ou
indiretamente são responsáveis pelo controle deste agravo
Desde 1883 o Município de Rondonópolis conta com um Centro de Referência para o
diagnóstico e tratamento da hanseníase, onde atualmente trabalham uma equipe composta por
um Médico Dermatologista e Hansenólogo; uma Enfermeira Especialista em Saúde Pública;
duas Técnicas em Enfermagem e uma Técnica em órteses.
2. Justificativa
-4-
O estado de Mato Grosso possui uma população estimada em 2011 de 3.033. 991 de
habitantes e ocupa o 3º lugar no país em número de casos de Hanseníase, somente em 2011
foram 2.295 casos novos notificados e dentro deste cenário o município de Rondonópolis que
possui uma população estimada de 200.000 habitantes, influi de forma direta nesta cadeia de
manutenção desta patologia.
As maiores dificuldades hoje encontradas para o controle da hanseníase estão
alicerçadas nas altas taxas detecção de casos novos, a prevalência em níveis elevados em
alguns municípios brasileiros e reduzidos em outros, diagnóstico tardio o que gera
incapacidades físicas nos portadores, falta de articulação entre os serviços de saúde, falta de
capacitação do pessoal da rede de serviços de saúde, abandono de tratamento e no preconceito
e estigma vivenciado pelos portadores da doença.
Desta forma, faz
se necessário que a hanseníase , não seja apenas agenda ou
programa de determinado governo, mas que seja encarada como um compromisso pontual
para o desenvolvimento do nosso país e da população.
Tendo em vista que, no município de Rondonópolis, o coeficiente de prevalência
continua acima do preconizado pela OMS e pelo Ministério da Saúde e considerando a
importância da eliminação da hanseníase como problema de Saúde Pública, faz-se necessário
que todas as unidades de saúde da família e centros de saúde sejam capazes de realizar busca
ativa, diagnóstico e tratamento destes casos. Para que ocorra este processo estamos propondo
a implantação de quatro (03) centros de referências no município, visando facilitar a
realização dos exames para diagnósticos precisos e suporte aos profissionais que atuam na
rede básica.
-5-
3. Público Alvo
Toda a população do Município de Rondonópolis e em especial as comunidades
expostas a um risco maior de vunerabilidade.
-6-
4. Objetivos
4.1 Objetivo Geral
Subsidiar as ações que tenham como objetivo controlar e eliminar a hanseníase como
problema de Saúde Pública, conforme acordo entre o Ministério da Saúde e as Secretarias,
Estadual e Municipal de Saúde.
4.2 Objetivo Específico
Aperfeiçoar a vigilância epidemiológica para: aumentar a detecção de caos novos,
aumentar a cura e diminuir o abandono de tratamento;
Expandir o tratamento supervisionado na Atenção Básica, especialmente, pelos
Programas Saúde da Família (PSF) e Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e nas
Unidades de Saúde;
Desenvolver ações educativas em saúde, comunicação e mobilização, social, na esfera
municipal, enfocando a promoção, prevenção, assistência e reabilitação da saúde;
Capacitar os profissionais que atuam no controle e prevenção da hanseníase em todas
as esferas de gestão;
Formar multiplicadores, que atuem no Programa Nacional de Controle da Hanseníase
em todas as suas áreas de atuação;
Manter a cobertura adequada de vacinação de BCG;
Aperfeiçoar o Sistema de Informação
SINAN;
Realizar uma avaliação epidemiológica anual e retroalimentar os serviços com
divulgação dos resultados para fins de nova programação;
Sensibilizar e mobilizar gestores do SUS, líderes políticos, formadores de opinião para
priorização da luta antihanseníase.
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5. Da Hanseníase
Hanseníase é doença crônica, granulomatosa, causada pelo Mycobacterium leprae, que
se manifesta principalmente através de sinais e sintomas dermatoneurológicos: lesões na pele
e nos nervos periféricos, principalmente nos olhos, mãos e pés e, ocasionalmente, outros
órgãos e sistemas (BRASIL, 2002). Este bacilo da ordem actinomycetales e família
mycobacteriaceae, é um bastonete gram positivo, álcool-ácido-resistente que tem a
capacidade de infectar grande número de indivíduos na comunidade (alta infectividade), no
entanto, são poucos os que adoecem devido a sua baixa patogenicidade (BRASIL, 2005). É
uma infecção lenta e progressiva que afeta pele e nervos periféricos, resultando em
deformidades incapacitantes (ROBBINS; COTRAN; KUMAR, 2005).
Vários estudos têm demonstrado que, diante da contaminação, a maioria dos
indivíduos oferece resistência ao M. leprae, não desenvolvendo a doença, situação que pode
ser alterada, em função da relação entre agente, meio ambiente e hospedeiro (BECHELLI &
CURBAN 1.988; LOMBARDI et al.1990). A hanseníase é uma doença que atinge
principalmente as camadas de baixo nível sócio-econômico (SAMPAIO; CASTRO; RIVITTI,
1989).
O ser humano ainda constitui a única fonte de infecção, embora tenham sido
identificados animais naturalmente infectados (BRASIL, 2005). A porta de entrada no
organismo é tida como a pele com lesões e as vias respiratórias (TALHARI, 1997).
A primeira manifestação clínica da moléstia é a distesia cutânea
sintoma
característico e sempre constante, porque o bacilo de hansen (nome também conhecido da
doença) é neurotrópico. Inicialmente, ocorrem alterações da sensibilidade térmica:
hiperestesia (durante período fugaz), seguida de hipoestesia e, após algum tempo, anestesia. A
seguir, ocorre perda progressiva da sensibilidade dolorosa e por último, da tátil. (VERONESI
& FOCACCIA, 2004). A hanseníase, se não for tratada e diagnosticada precocemente, pode
causar deformidades permanentes (FILGUEIRA et al., 2004).
O diagnóstico da hanseníase é baseado em alguns sinais e sintomas, como a presença
de anestesia em lesões cutâneas, sugestivas da doença, o espessamento de nervos periféricos,
e a demonstração do M. leprae no esfregaço de linfa ou cortes histológicos de tecidos
(SOUZA, 1997).
-8-
5.1.
Agente Etiológico e Patogenese
A doença tem como agente etiológico o Mycobacterium leprae, um parasita
intracelular obrigatório, com período de incubação prolongado e de evolução crônica, que
afeta principalmente pele e nervos periféricos (MARTELLI et al, 2002). Michalany e
Michalany (1988) explicam que a bactéria foi descoberta somente em 1873 pelo médico
norueguês Gerhard Armauer Hansen.
O bacilo de Hansen é uma micobactéria, pertence à família Mycobateriaceace à
ordem Actinomycetales e à classe Schizomycetes. O Mycobacterium leprae ou bacilo de
Hansen (BH) tem forma de bastonete linear ou levemente encurvado, às vezes em forma de
clava ou vareta de tambor ou, ainda em forma de halteres; o comprimento varia entre 1,5 a 1,8
m e a largura entre 0,2 a 0,4 m, divide-se por fissão binária, é Gram positivo e fortemente
álcool-ácido-resistente. Aparece isolado ou formando
globias
bacilos agrupados,
dispostos paralelamente, formando feixes semelhantes a maços de cigarros ou aglomerados
globosos de vários tamanhos, os bacilos mais ou menos numerosos formam conjuntos
compactos nessas globias, a custa de material resistente de contenção, glutinoso, transparente
e não corável
chamado glea -, que suporta bem a ação de vários ácidos e álcalis, de digestão
trípsica, de tempo e temperatura, não a separação dos bacilos agregados. É o único
representante do gênero Mycobacterium que se dispõe em verdadeiras globias. (VERONESI
& FOCACCIA, 2004)
Identificado por Hansen em 1873, até hoje, não pôde ser cultivado in vitro. No início
da década de 1960, conseguiu-se a infecção experimental de M. leprae na pata de
camundongos. Kirchheimer & Stors, em 1971, inocularam tatus (Dasypus novemcinctus),
obtendo grande quantidade de M. leprae. Desde então, M. leprae, obtida a partir de tatus
infectados experimentalmente e criados em cativeiro, tem sido a principal fonte de antígenos
para pesquisa, vacinas em ensaios clínicos e realização dos testes cutâneos. Com este aporte
antigênico foi possível o início de estudos que visavam caracterizar os componentes
antigênicos de M. leprae. (FERREIRA & ÁVILA, 2001).
-9-
5.2. Como se transmite a Hanseníase.
O homem é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. O contágio dá-se
através de uma pessoa doente, portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para
o meio exterior, contagiado pessoas susceptíveis.
A principal via de eliminação do bacilo, pelo indivíduo doente de hanseníase, e a mais
provável porta de entrada no organismo passível de ser infectado são as vias aéreas, o trato
respiratório. No entanto, para que a transmissão do bacilo ocorra, é necessário um contato
direto com a pessoa doente não tratada.
O aparecimento da doença na pessoa infectada pelo bacilo, e suas diferentes
manifestações clínicas, dependem dentre outros fatores, da relação parasita/hospedeiro e pode
ocorrer após um longo período de incubação, de 2 a 7 anos.
A hanseníase pode atingir pessoas de todas as idades, de ambos os sexos, no entanto,
raramente ocorre em crianças. Observa-se que crianças, menores de quinze anos, adoecem
mais quando há uma maior endemicidade da doença. Há uma incidência maior da doença nos
homens do que nas mulheres, na maioria das regiões do mundo.
Além das condições individuais, outros fatores relacionados aos níveis de endemia e
às condições socioeconômicas desfavoráveis, assim como condições precárias de vida e de
saúde e o elevado número de pessoas convivendo em um mesmo ambiente, influem no risco
de adoecer.
Dentre as pessoas que adoecem, algumas apresentam resistência ao bacilo,
constituindo os casos Paucibacilares (PB), qua abrigam um pequeno número de bacilos no
organismo, insuficiente para infectar outras pessoas. Os casos Paucibacilares, portanto, não
são considerados importantes fontes de transmissão da doença devido à sua baixa carga
bacilar. Algumas pessoas podem até curar-se espontaneamente.
Um número menor de pessoas não apresenta resistência ao bacilo, que se multiplica no
seu organismo passando a ser eliminado para o meio exterior, podendo infectar outras
pessoas. Estas pessoas constituem os casos Multibacilares (MB), que são a fonte de infecção a
manutenção de cadeia epidemiológica da doença.
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Quando a pessoa doente inicia o tratamento quimioterápico, ela deixa de ser
transmissora da doença, pois a primeiras doses da medicação matam os bacilos, torna-os
incapazes de infectar outras pessoas.
Há de ressaltar que a Hanseníase não é hereditária.
5.3.
Período de incubação e de transmissibilidade
A hanseníase apresenta um longo período de incubação; em média, de dois a sete anos.
Há referência a períodos mais curtos, de sete meses, como também de mais de dez anos
(BRASIL, 2005).
Os doentes paucibacilares (indeterminados e tuberculóides) não são considerados
importantes como fonte de transmissão da doença, devido à baixa carga bacilar. Os pacientes
multibacilares, no entanto, constituem o grupo contagiante, assim se mantendo enquanto não
se iniciar o tratamento específico (BRASIL, 2005).
5.4.
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas mais freqüentes nos casos de Hanseníase estão relacionadas
ao aparecimento de manchas hipocrômicas, com alteração de sensibilidade e presença de
cãibras, formigamentos, choques, que evoluem para dormência; formação de pápulas,
infiltrações, tubérculos e nódulos, normalmente sem sintomas; diminuição ou queda de pêlos,
localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas e falta ou ausência de sudorese no local.
Além destes, outros sintomas menos comuns podem ser perceptíveis como: dor e/ou
espessamento de nervos periféricos; diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos
nervos afetados, edema de mãos e pés; febre e artralgia; entupimento, feridas e ressecamento
de nariz; mal estar geral e ressecamento dos olhos (BRASIL, 2008).
5.5.
Formas clínicas
De acordo com a classificação adotada, segundo as manifestações clínicas
apresentadas, pelo Ministério da Saúde, a doença pode ser classificada em 4 formas clínicas:
inderterminada, tuberculóide, dimorfa e virchowiana (BRASIL, 2008).
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5.5.1. Hanseníase Indeterminada (HI)
É a forma inicial da doença. Caracteriza-se pelo aparecimento de uma ou mais
manchas hipocrômicas ou eritemato-hipocrômicas cujas bordas podem ser bem determinadas
ou imprecisas, localizadas em qualquer lugar da pele. (BRASIL, 2005)
Algumas vezes, nesta forma podem ocorrer apenas alterações da sensibilidade
superficial sem lesão cutânea. Na grande maioria dos casos apenas a sensibilidade térmica
está alterada, a dolorosa pode estar normal ou pouco alterada e a tátil preservada. Não
havendo tratamento, de acordo com o grau e defesa do indivíduo poderá ocorrer evolução
para o tipo tuberculóide, quando há resistência ao bacilo (reação de Mitsuda positiva);
virchowiana, quando não há resistência (reação de Mitsuda negativa); dimorfa, nos casos
onde a resistência é superior aos portadores de HV e inferior aos portadores de HT (reação de
Mitsuda francamente positiva ou negativa). A forma indeterminada também pode permanecer
estacionária ou involuir espontaneamente para a cura (FARIAS, 2002)
5.5.2. Hanseníase Tuberculóide (HT)
As lesões são eritematosas, infiltradas, tuberosas em placas que muitas vezes sofrem
involução central tomando aspecto tricofitóides. Seus limites são bem nítidos, assimétricos e
em número reduzido. As alterações da sensibilidade térmica, dolorosa e tátil são evidenciadas.
Troncos e nervos podem estar afetados chegando até haver necrose caseosa dos mesmos e
incapacidades (muitas vezes este pode ser a única manifestação clínica). (FARIAS, 2002)
5.5.3. Hanseníase Dimorfa (HD)
Quando a imunidade celular está preservada, o número de lesões é pequeno, são
assimétricas, com as bordas mais ou menos definidas e o centro espessado eritematoso e/ou
pigmentado. Estando a imunidade celular diminuída, o número de lesões é maior, são
simétricas, as bordas externas são mal definidas, as bordas internas são nítidas e o centro
deprimido, dando o aspecto em queijo suíço. Há também nódulos e placas eritematosas e
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pigmentadas. Os troncos e filetes nervosos estão envolvidos, havendo distúrbios sensitivos,
motores e tróficos. (FARIAS, 2002)
5.5.4. Hanseníase Virchowiana (HV)
As lesões são múltiplas, hipocrômicas de limites imprecisos e vão tornando-se
eritematosas,
eritemato-acastanhadas,
eritemato
amareladas.
Podem
surgir
pápulas,
papulonódulos, nódulos, placas isoladas ou agrupadas. As lesões são geralmente simétricas e
atingem todo o corpo. As infiltrações difusas na face com a preservação dos cabelos dão o
aspecto de fácies leonina . As orelhas tornam-se infiltradas, principalmente os lóbulos. Há
queda de supercílios a partir de suas extremidades externas (madarose). As mucosas ocular,
bucal e de orofaringe são afetadas, podendo ocorrer perfuração do septo nasal. Há
comprometimento do sistema nervoso periférico com infiltração dos troncos nervosos e dos
ramos periféricos, provocando distúrbios sensitivos, motores e tróficos. Pode ocorrer também
envolvimento dos linfonodos, fígado, baço, supra-renais, testículos, medula óssea e ossos.
(FARIAS, 2002)
5.6. Diagnóstico
O diagnóstico da Hanseníase é feito principalmente através do exame físico, onde é
realizada uma avaliação dermatológica que visa identificar lesões na pele com alterações da
sensibilidade térmica, dolorosa e/ou tátil, típicas da Hanseníase. Faz-se também a avaliação
neurológica que consiste na inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés, palpação dos troncos
nervosos periféricos, avaliação da força muscular e avaliação de sensibilidade nos olhos,
membros superiores e inferiores. A palpação dos nervos periféricos tem o objetivo de
verificar se há espessamento dos nervos que inervam os membros superiores e inferiores,
visando prevenir lesões neurais e conseqüentes incapacidades (BRASIL, 2002).
A Hanseníase pode ser confundida com outras doenças dermatológicas ou
neurológicas, que apresentam sinais e sintomas semelhantes aos seus. Portanto, o profissional
médico, deve fazer o diagnóstico diferencial em relação a essas doenças. Exames diagnósticos
como baciloscopia e reação de Mitsuda devem ser realizados como forma complementar ao
exame clínico. (BRASIL, 2008).
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De acordo com o número de lesões que o portador de Hanseníase apresenta, ele pode
ser classificado operacionalmente sob duas formas, para fins de tratamento específico, sendo:
a) Paucibacilares (PB), o indivíduo que apresenta até 5 lesões cutâneas, representando o
estágio não transmissível da doença e;
b) Multibacilares (MB), o indivíduo que apresenta mais de 5 lesões, pacientes estes
considerados de alto poder de transmissão e da forma de disseminação da doença (BRASIL,
2002).
5.7. Diagnóstico Clínico
O diagnóstico clínico da hanseníase se baseia nos exames dermatológico e neurológico
periférico, pesquisa de nervos periféricos à procura de espessamentos. Para isto, é feita a
prova de sensibilidade cutânea superficial; sensibilidade térmica, pesquisa da sensibilidade
dolorosa e tátil. (VERONESI & FOCACCIA, 2004)
5.8. Diagnóstico Laboratorial
5.8.1. Prova de Histamina
Essa prova é usada em máculas hipocrômicas ou acrômicas. A técnica consiste em
depositar gotas de cloridrato ou fosfato de histamina a 1/1.000 na mácula e na pele
circunvizinha, livre de lesões e, em seguida, fazer picadas superficiais através de gotas. Na
interpretação, peles normais ocorrerá a tríplice reação de Lewis , que se manifesta por
eritema primário após cerca de 20 segundos da picada através de gotas de histamina; segue-se
eritema secundário (ou reflexo) em até 40 segundos; finalmente,surge pápula urticariforme ou
edematosa após um a dois minutos
corresponde à reação completa. No caso de lesão
hipocrômica da hanseníase, faltará o eritema secundário devido às alterações das terminações
nervosas autonômicas nos vasos sanguíneo, portanto a reação é incompleta . (VERONESI &
FOCACCIA, 2004)
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5.8.2.Prova de Pilocarpina
Esta é usada nos doentes negros e/ou nas lesões eritematopigmentadas. A técnica
consiste em pincelar tintura de iodo (ou lugol) na pele lesada e circunvizinha e, em seguida,
injetar intradermicamente 0.1 mL de pilocarpina a 0,5% oi 1% em ambas as áreas; enxugar
imediatamente as gotículas que refluírem; pulverizar amido e por fim, aguardar alguns
minutos. Na interpretação, para peles normais, surgem grandes quantidades de pontos de cor
azul-escura, que corresponde à mistura de amido, suor e iodo; na lesão hansênica, não ocorre
sudorese, por lesão das terminações nervosas autônomas nas glândulas sudoríparas,
conseqüentemente, o amido não muda a cor ou surgem apenas alguns pontos azul-escuro.
(VERONESI & FOCACCIA, 2004)
5.8.3. Teste de Mitsuda
O teste de Mitsuda avalia a imunidade celular tardia ao M leprae, tendo valor
prognóstico na doença pela presença, se positivo, ou ausência, se negativo, de resistência ao
bacilo. Injeta-se por via intradérmica 0,1 mL de preparado bacilar (obtido de nódulos
hansênicos, que possuem 40 a 60 milhões de BAAR/mL) e faz-se leitura 4 semanas depois. Se
houver nódulo maior ou igual a 5mm, considera-se positivo; se menor do que 5mm, duvidoso;
se não houver reação, negativo. (FILGUEIRA et al.,2004)
5.8.4 Baciloscopia
A baciloscopia deve ser feita pela coleta de linfa por incisão em pelo menos quatro
locais: lesões suspeitas, lóbulos das orelhas, cotovelos, joelhos e nariz após produzir-se uma
isquemia local, por pressão entre o dedo polegar e indicador. (FILGUEIRA et al., 2004)
5.8.5 Histopatológico
O exame histopatológico pode ser feito nos casos de dúvida. A biopsia da pele deve
ser profunda, abrangendo toda a derme e hipoderme. Conforme a forma clinica da doença, os
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achados histopatológicos irão variar; principalmente como conseqüência da imunidade e
polaridade da doença. Na forma tuberculóide, há granulomas de células epitelióides na derme,
com necrose fibrinóide local, infiltração celular inflamatória em nervos, músculos e anexos
cutâneos; raros bacilos são visualizados. Na forma virchowiana, o infiltrado pode ser difuso a
nodular, sem tendência a formar granulomas de células epitelióides e com riqueza de bacilos
em coloração específica. Na forma indeterminada, há um infiltrado perianexial inespecífico
ou pequeno infiltrado de células mononucleares em torno dos nervos, invadindo-os, tornando
o diagnóstico dependente dos achado clínicos compatíveis. (FILGUEIRA et al., 2004)
5.9. Duração e esquema de tratamento recomendado pela Organização Mundial da
Saúde.
5.9.1. Forma Paucibacilar (PB)
Duração: 6 meses.
Medicamentos:
Adulto
Rifampicina
Dapsona
Dose mensal
600 mg
100 mg
supervisionada
(2 caps.300 mg)
(1 comp.100mg)
Dose diária
100 mg
Auto administrada
(1 comp.100mg)
Dose mensal
0-5 anos
150-300 mg
Supervisionada
Dose diária
25 mg
Auto administrada
Dose mensal
6-14 anos
300-450 mg
supervisionada
Dose diária
Auto administrada
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25 mg
50-100 mg
50-100 mg
Seguimento dos casos:
Comparecimento mensal para a medicação supervisionada num total de 6 doses em
até 09 meses;
Contato quinzenal,
por telefone ou visita domiciliar,
alternando com o
comparecimento na US, para acompanhamento do caso;;
Preencher, a cada avaliação, ficha/planilha de controle do paciente com hanseníase;
Revisão dermatoneurologica na 6º dose;
Avaliação do grau de incapacidade na alta do tratamento.
Critérios de alta por cura:
Receberão alta por cura, os pacientes que completaram as 6 doses de PQT
supervisionada, em até 9 meses, independentemente do número de faltas consecutivas.
Seguimento após a alta do tratamento:
Os doentes com alta por cura sairão do registro ativo (sistema de notificação de
vigilância epidemiológica) devendo retornar anualmente, por 3 anos, quando serão
liderados com orientação para retornar para sua unidade, caso desenvolvam sinais e
sintomas sugestivos de atividade da doença.
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5.9.2. Forma Multibacilar (MB).
Duração: de 12 meses.
Medicamentos:
Adulto
Rifampicina
Clofazimina
Dapsona
Dose mensal
600 mg
300 mg
100 mg
supervisionada
(2 caps.300 mg)
(3 caps.100mg)
(1 comp.100mg)
Dose diária
50 mg
100 mg
Auto administrada
(1 caps.50 mg)
(1 caps.100 mg)
Dose mensal
0-5 anos
Supervisionada
150-300 mg
25 mg
Dose semanal
50 mg
Auto administrada
2x semana
Dose diária
25 mg
Dose mensal
6-14 anos
supervisionada
300-450 mg
150-200 mg
Dose semanal
50-100 mg
50 mg
3x semana
Dose diária
50-100 mg
Seguimento dos casos:
Comparecimento mensal para a medicação supervisionada num total de 12 doses em
até 18 meses;
Contato quinzenal, por telefone ou visita domiciliar, alternado com o comparecimento
nas US, para acompanhamento do caso;
Preencher, a cada avaliação, ficha/planilha de controle do paciente com hanseníase;
Revisão dermatoneurológica na 6º dose e 12º doses;
Avaliação do grau de incapacidade na alta do tratamento.
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Critérios de alta por cura:
Receberão altas, por cura, os pacientes que completaram as 12 doses de PQT
supervisionada, em até 18 meses, independentemente do número de faltas
consecutivas;
Casos multibacilares que iniciam o tratamento com numerosas lesões ou extensas
áreas de infiltração cutâneas, terão risco maior de desenvolver reações e dano neural
após completarem 12 doses. Estes casos poderão apresentar regressão mais lenta das
lesões de pele. A maioria destes doentes continuará a melhorar após a conclusão do
tratamento com 12 doses. É possível, que alguns destes casos, não demonstrem
qualquer melhora e devido a isso necessitarão de 12 doses adicionais de PQT-MB.
Nestes casos encaminhar para avaliação e orientação no Centro de Referência Jardim
Guanabara.
Seguimento após a alta do tratamento:
Os doentes com alta por cura sairão do registro ativo (sistema de notificação de
vigilância epidemiológica) devendo retornar anualmente, por 3 anos, para
acompanhamento.
Após este período serão liberados com orientação para retornar à unidade de saúde, na
presença de sinais e sintomas sugestivos da doença.
5.9.3. Reações adversas à PQT.
No quadro a seguir estão esquematizados as drogas usadas no tratamento da
hanseníase e seus efeitos colaterais.
- 19 -
Principais reações adversas à PQT.
Nº
Medicamento
Reações Adversas
Pele
01
Clofazimina
Gastro-Instestinal
Sangue
Coloração da pele em tom avermelhado no início e
Reações
depois tendendo ao marrom; as lesões da doença se
como
gastrointestinais
tornam hiperpigmentadas, podendo chegar ao cinza-
diarréia, podem ocorrer com
escuro e preto; esta coloração poderá levar vários
doses elevadas; em alguns
meses e até anos para desaparecer após a conclusão
casos
do tratamento.
abdominal com dor sugerindo
náuseas,
pode
vômito
haver
Outros
Diminuição do suor e da secreção lacrimal e fotossensibidade.
e
A
urina,
suor
e
lágrimas
podem
adquirir
coloração
avermelhadas.
quadro
obstrução intestinal.
02
Dapsona
Síndrome de Stevens-Jonhson; Dermatite esfoliativa
Anorexia, náuseas, vômito e
Anemia hemolítica mais
Cefaléia, insônia, nervosismo, confusão mental,desorientação,
ou eritrodermia Fotodermatite.
dor abdominal.
fgrave nos deficientes de
alucinações, Hematúria, diarréia, vômito.
G-6
PD
Métahemo
globinemia,
leucopenia,
cianose, agranulocitose.
03
Rifampicina
Prurido e erupção cutânea Rubor (face e pescoço)
Mal
Acne
náuseas, vômitos e diarréia.
estar
abdominal;
Trombocitopenia,
Icterícia assintomática; dor muscular e articular; coloração
anemia,
vermelho-alaranjada da urina, fezes, saliva, escarro, suor e
hemolítica,
eosinofilia, leucopenia.
lágrimas; Reação do tipo imunológico em pacientes com
tratamento intermitente, com doses elevadas de até 1.200 mg.;
nestes casos ocorrem dispnéia, púrpura e dores musculares e
articulares, Síndrome pseudogripal.
04
Ofloxacina
Erupção cutânea, prurido rubor; fotossensibilização.
Náuseas, cefaléia e tontuta.
Eosinifilia leucopenia e
Sonolência,
Dor
trombocitopemnia
convulsivas.
Anemia
Sonolência,
abdominal
dispepsia,
insônia
e
inquietação;
depressão
crises
insônia
e
inquietação;
depressão
crises
flatulência e estomatite.
05
Minociclina
Exanterma
esfoliativo;
fotossensibilidade;
Distúrbios gastrointestinais.
pigmentação da pele e mucosa.
06
Prednisona
Rubor facial; aumento do crescimento dos pelos.
hemolítica;
trombocitopenia.
Gastrite e ùlcera péptica.
convulsivas.
Depressão e psicose. osteoporose; agravamento da diabetes;
aumento da pressão ocular; edema; aumento de peso;
Síndrome de Cushing.
07
Talidomida
Lesões vesiculares
Obstipação intestinal; diarréia.
Linfopenia
Teratogenicidade; tontuta; cefaléia; amenorréia; sonolência;
diminuição da libido.
20
Resumo dos principais efeitos colaterais e manejo:
Síndrome Pseudogripal
Suspender a rifampicina.
Dor abdominal importante, se perceber correlação.
Suspender a clofazimina.
Quadro psicótico.
Suspender a dapsona e prdnisona.
Metahemoglobunemia, anemia hemolítica.
Suspender a dapsona;
Reavaliar hematológicamente;
Aguardar melhora;
Pode-se associar ácido fólico 2 mg, não usar ferro via oral a não ser que hajam outras
indicações;
Tentar reintrodução com doses pequenas, aumentando progressivamente e monitorar
dermatologicamente.
Não usar talidomida em gestantes e mulheres em idade fértil.
5.9.4.Na impossibilidade absoluta de utilizar Rifampicina e Dapsona.
PAUCIBACILAR
MULTIBACILAR
6 meses
6 meses
Ofloxacina 400 mg diários auto-administrado ou
Ofloxacina
400 mg diários, auto-administrados e
Minocidlina - 100 mg diários auto-administrado ou
Minociclina 100 mg diários, auto-administrados e
Clofazimina 50 mg diários auto- administrado.
Clofazimina - 50 mg diários auto-administrado e
Mais de 18 meses
Ofloxacina
400 mg diários, auto-administrados e
Clofazimina - 50 mg diários auto-administrado.
OU
Minociclina 100 mg diários, auto-administrados e
Clofazimina - 50 mg diários auto-administrado.
Seguimento de caso
Seguimento de caso
Comparecimento mensais para avaliação;
Comparecimentos mensais para a avaliação;
Revisão dermatoneurológica na 6º dose para a alta
Revisão dermatoneurológica e baciloscopia
por cura;
na 12º e 24º doses (alta).
Para alta, necessária ausência de sinais de atividade
clínica.
5.9.5. Na impossibilidade absoluta de utilizar Clorazimina (multibacilares).
Ofloxacina
400 mg diários, auto-administrados, ou
Minociclina
100 mg diários, auto-administrados;
Dapsona
100 mg diários, auto-administrados;
Rifampicina
600 mg mensal,supervisionada.
Tempo de duração: 12 meses.
OU
Rifampicina
600 mg mensal, supervisionada;
Ofloxacina
400 mg mensal, supervisionada;
Minociclina
100 mg mensal, supervisionada.
Tempo de duração: 24 meses.
- 22 -
5.9.6. Tratamento em situações especiais.
Gravidez: O tratamento é seguro para a mãe e o feto, não interromper durante
gravidez. Somente está contra-indicado o uso da talidomida;
Associação com tuberculose: Usar o esquema de rifampicina preconizado no
tratamento da tuberculose, o restante deverá ser mantido;
Infecção pelo HIV: O tratamento é o mesmo de qualquer outro paciente. A rifampicina
na dose de 600 mg/mês não interfere na ação dos anti-retrovirais;
Tratamento da Recidiva: Todos os casos de recidiva devem ser encaminhados para
referência para avaliação e confirmação da recidiva. Esquema terapêutico deverá ser
definido na referência e mantido na U.S.
5.10. Critério de alta
Considera-se uma pessoa de alta, por cura, aquela que completa o esquema de
tratamento PQT. O paciente que tenha completado o tratamento PQT/OMS não deverá mais
ser considerado como caso de hanseníase, mesmo que permaneça com alguma seqüela da
doença. É considerado um caso de recidiva aquele que completar com êxito o tratamento
PQT/OMS e que depois venha, eventualmente, desenvolver novos sinais e sintomas da
doença (BRASIL, 2005).
Segundo Brasil (2010), o encerramento da poliquimioterapia (alta por cura) deve ser
estabelecido segundo os critérios de regularidade ao tratamento: número de doses e tempo de
tratamento, de acordo com cada esquema mencionado anteriormente, sempre com avaliação
neurológica simplificada, avaliação do grau de incapacidade física e orientação para os
cuidados pós-alta.
De acordo com Veronesi & Focaccia (2004), a recidiva pode ocorrer por dois fatores.
O primeiro deles é a resistência medicamentosa. Em sua maioria ocorre pela resistência a
monoterapia com sulfona (cerca de 50%), porém existem vários relatos de resistência a
rifampicina, a clofazimina e até às três drogas associadas. O outro fator é a resistência do M.
leprae , ou seja, muitos bacilos dormentes que escapam à ação medicamentosa.Os bacilos
- 23 -
persistentes existem em cerca de 10% dos doentes multibacilares e não foram destruídos pelas
drogas ou esquemas terapêuticos utilizados.
Uma observação importante é que a ocorrência de episódio reacional após a alta do
paciente não significa recidiva da doença. A conduta correta é instituir apenas terapêutica
anti-reacional (prednisona e/ou talidomida) (BRASIL, 2005).
5.10. Avaliação de contatos
O tratamento com multidrogaterapia é extremamente eficiente, porém, Eidt (2004)
lembra que, a PQT não recupera nem reverte as deformidades físicas já instaladas.
Considerando que todos os portadores de Hanseníase foram primeiramente comunicantes, não
basta tratar o doente, mas também realizar o controle dos contatos intradomiciliares (pessoas
que residem na mesma casa ou que tenham um convívio contínuo e prolongado com o
doente). Considera que estas são as pessoas mais susceptíveis a adoecer, sendo então
consideradas de importância epidemiológica significativa em termos de endemia e
manutenção da cadeia de transmissão (VIEIRA et al., 2008).
Para fins operacionais, considera-se contato intradomiciliar toda e qualquer pessoa que
resida ou tenha residido com o doente de Hanseníase nos últimos cinco anos, devendo
proceder a investigação do caso, a qual consiste no exame dermatoneurológico com ênfase na
orientação sobre o período de incubação, transmissão, sinais e sintomas precoces da doença
(BRASIL, 2008). Para Cunha et al.(2007, p. 1188) a informação sobre a doença e o exame
dos contatos dos casos novos diagnosticados ainda são as principais estratégias para o
diagnóstico precoce da doença .
5.12. Prevenção e tratamento de incapacidades físicas
A Hanseníase é altamente incapacitante. Apenas o grupo indeterminado, na fase inicial
e matricial de todas as outras manifestações, paucibacilares ou multibacilares, adequadamente
tratado, não deixa nenhuma seqüela. O grau mínimo da seqüela é anestesia localizada. Os
doentes paucibacilares têm acometimento neural mais intenso e assimétrico, e, portanto,
- 24 -
maiores seqüelas neuromusculares. Os multibacilares têm acometimento neural menor e
simétrico (VERONESI & FOCACCIA, 2004).
A principal prevenção consiste em diagnóstico precoce, tratamento poliquimioterápico
adequado e tratamento das neurites com corticoterapia, principalmente durante os estados
reacionais. É importante orientar o paciente para que realize o auto-exame diário e evite
traumatismos, calos, ferimentos e queimaduras (FILGUEIRA et al., 2004).
As atividades de prevenção e tratamento de incapacidades não devem ser dissociadas
do tratamento PQT/OMS. Desenvolvidas durante o acompanhamento de cada caso, devem ser
integradas na rotina dos serviços da unidade de saúde, de acordo com seu grau de
complexidade. A adoção de atividades de prevenção e tratamento de incapacidades será
baseada nas informações obtidas através da avaliação neurológica, no diagnóstico da
hanseníase. Estas informações referem-se ao comprometimento neural ou às incapacidades
físicas identificadas, as quais merecem especial atenção tendo em vista suas conseqüências na
vida econômica e social dos portadores de hanseníase, ou mesmo suas eventuais seqüelas
naqueles já curados (BRASIL, 2005).
6. Operacionalização do Programa.
O município de Rondonópolis está dividido em cinco Distritos, com um número total
de 31 unidades de saúde da família, onde a maioria da população vive no conglomerado,
facilitando a presença de Hanseníase.
Para melhorar a qualidade de vida e bloquear a disseminação destas doenças no
município, pretende-se implantar cinco (03) pólos de atendimento.
Estas unidades de referência farão biópsia, entrega de material para coleta de linfa,
notificação e relatório mensal, tratamento e alta dos casos diagnosticados, bem como o
controle dos comunicantes intradomiciliares de todos os doentes da área de abrangência das
mesmas.
As demais Unidade Básicas de Saúde, serão responsáveis pelo acompanhamento das
doses supervisionadas e pelo controle de todos os comunicantes intradomiciliares, bem como
pelo relatório destas atividades e o encaminhamento destes ao Sistema de Informação.
- 25 -
7. Procedimentos que a Unidade e Profissionais devem tomar para identificar
Hanseníase.
Examinar manchas ou lesões e quantas têm;
Verificar a sensibilidade tátil (com algodão ou estesiômetro);
Palpar o trajeto dos nervos, observando dormência, dor, choque, simetria, tamanho,
forma, consistência (duro ou mole) e presença de nódulos;
Preencher todas as informações importantes no próprio prontuário do paciente e
prontuário de avaliação de incapacidades;
Acompanhar e encaminhar casos de incapacidade grau II;
Preencher ficha de notificação
entrega semanal;
Examinar os comunicantes intradomiciliares e encaminhar relatório para o Sisatema
de Informação.
Dar todas as informações sobre Hanseníase e prognósticos sem e com o tratamento
aos doentes;
Alertar a comunidade para a suspeita de Hanseníase, informando a eficácia do
tratamento, importância do diagnóstico e tratamento precoce e trabalhando no
sentido de superar preconceitos;
Investigar em todos os usuários atendidos na U.S, a presença de lesões suspeitos de
Hanseníase, encaminhando para consulta médica.
8. Atribuições
8.1. Competências da Secretaria Municipal de Saúde.
Os técnicos da Secretaria Municipal de Saúde, responsáveis pelo programa de
Hanseníase realizarão supervisão mensal em cada unidade de saúde da família.
Os treinamentos serão organizados e agendados com antecedência de quinze (15) dias
pela Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com o Escritório Regional de Saúde do
Estado.
- 26 -
Serão efetivadas avaliações com as Unidades de Saúde para verificar as atividades e
metas pactuadas pela Secretaria Municipal de Saúde com o Ministério da Saúde.
8.2.Competências do Laboratório Municipal
Coletar e realizar baciloscopia de todos os pacientes encaminhados pela Rede
Municipal de Saúde;
Realizar exame de linfa para comprovação do diagnóstico.
8.3. Competências dos Profissionais da Equipe de Saúde:
8.3.1. Planejamento/Programação do Cuidado.
Atribuições do médico, do enfermeiro, do auxiliar de enfermagem e do agente
comunitário de saúde:
Planejar ações de assistência e controle do paciente, família e comunidade com base
no levantamento epidemiológico e operacional;
Participar de estudos e levantamentos que identifiquem os determinantes do processo
saúde/doença de grupos populacionais, famílias e indivíduos;
Estabelecer relações entre as condições de vida e os problemas de saúde identificados
e estabelecer prioridades entre tais problemas;
Identificar a diversidade cultural com que a população enfrenta seus problemas de
saúde, destacando as que representam riscos;
Sistematizar e interpretar informações, definindo as propostas de intervenção;
Realizar a programação de atividades, observando as normas vigentes;
Prever o material necessário para a prestação do cuidado a ser realizado.
- 27 -
8.4. Execução do cuidado.
8.4.1. Promoção da saúde.
a) Atribuições do médico, do enfermeiro, do auxiliar de enfermagem e do agente
comunitário de saúde:
Identificar os determinantes fundamentais da qualidade de vida: trabalho/renda
e consumo de bens e serviços;
Identificar as características genéticas, ambientais, socioeconômicas e
culturais, que interferem sobre a saúde;
Identificar as organizações governamentais e não governamentais na
comunidade ou região, cuja finalidade contribui para elevar a qualidade de
vida;
Avaliar a qualificação de cada instituição no esforço conjunto para o
equacionamento dos problemas de saúde, contextualizando as possibilidades e
limitações das organizações do SUS;
Promover a mobilização social, em parceria com agentes de comunicação e
lideranças comunitárias, em torno das demandas e necessidades em saúde;
Realizar ações de promoção da saúde dirigidas para grupos de risco ou para
segmentos populacionais alvo dos programas institucionais de saúde;
Realizar ações educativas para família e comunidade.
b) Atribuição do médico:
Avaliar o estado de saúde do individuo através da consulta médica.
c) Atribuição do enfermeiro:
Avaliar o estado de saúde do indivíduo através da consulta de enfermagem.
- 28 -
8.4.2. Prevenção de Enfermidades
a) Atribuições do médico, do enfermeiro, do auxiliar de enfermagem e do agente
comunitário de saúde:
Identificar os principais fatores ambientais que representam riscos ou causam
danos à saúde do ser humano;
Identificar os principais mecanismos de defesa/adaptação do ser humano às
agressões do meio ambiente;
Identificar as formas de interação entre os seres vivos, destacando o conceito
de hospedeiro;
Identificar as doenças transmissíveis e não transmissíveis prevalentes na sua
região;
Distinguir as doenças transmissíveis que são controladas por vacinas daquelas
que são controladas por medidas de intervenção sobre o meio ambiente e
outros meios;
Identificar as alterações orgânicas causadas pela penetração, trajetória e
localização dos agentes infecciosos no corpo humano, como base para o
cuidado;
Executar medidas de intervenção na cadeia de transmissão das doenças e
outros agravos à saúde prevalentes na região;
Identificar e notificar situações atípicas e casos suspeitos de doenças;
Realizar medidas de controle de contatos;
Monitorar a situação vacinal de populações de risco;
Localizar áreas/ambientes que oferecem risco à saúde na comunidade;
Realizar busca ativa dos casos;
Executar ações básicas de investigação e vigilância epidemiológica.
- 29 -
8.4.3. Recuperação e reabilitação em saúde.
a) Atribuições do médico, do enfermeiro, do auxiliar de enfermagem e do agente
comunitário de saúde:
Prestar cuidados básicos de saúde à clientela alvo dos programas institucionais;
Aplicar os procedimentos de intervenção, referência e acompanhamento,
conforme as normas vigentes dos programas de saúde;
Realizar visitas domiciliares;
Aplicar técnicas simples A.V.D.(atividade da vida diária), em pacientes de
hanseníase;
b) Atribuições do médico, do enfermeiro e do auxiliar de enfermagem:
Realizar coleta de material, segundo técnicas padronizadas;
Realizar procedimentos semi-técnicos;
Identificar as incapacidades físicas;
Aplicar técnicas simples de prevenção e tratamento das incapacidades físicas;
Fazer controle de doentes e contatos;
Aplicar teste de Mitsuda;
Efetivar medidas de assepsia, desinfecção e esterilização;
Identificar precocemente sinais e sintomas que indiquem complicações no
processo de evolução de enfermidades.
c) Atribuições do médico e do enfermeiro:
Prescrever técnicas simples de prevenção e tratamento das incapacidades
físicas;
Fazer avaliação clínica dermato-neurológica.
d) Atribuições do médico:
Diagnosticar e classificar as formas clínicas;
Prescrever o tratamento, inclusive das reações hansênicas;
Indicar a alta terapêutica.
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e) Atribuições da enfermeira e do auxiliar de enfermagem:
Aplicar tratamento;
Identificar e encaminhar pacientes com reações hansênicas;
Identificar e encaminhar pacientes com reações medicamentosas;
Identificar casos e encaminhar para confirmação diagnóstica;
Fazer a dispensação de medicamentos.
f) Atribuições do enfermeiro:
Solicitar exames para confirmação diagnóstica;
Prescrever medicamentos, conforme normas estabelecidas;
Executar tratamento não medicamentoso das reações hansênicas.
g) Atribuições do agente comunitário de saúde:
Realizar busca de faltosos e contatos;
Fazer supervisão da dose medicamentosa, em domicílio.
8.4.4. Gerência/Acompanhamento e Avaliação do Cuidado.
a) Atribuições do médico, do enfermeiro, do auxiliar de enfermagem e do agente
comunitário de saúde:
Organizar o trabalho, com base na programação do serviço, tomando por
referência critérios de eficiência, eficácia e efetividade;
Identificar e aplicar instrumentos de avaliação da prestação de serviços:
cobertura, impacto e satisfação;
Utilizar os meios de comunicação para interagir com sua equipe, com os
demais integrantes da organização e com os usuários;
Participar das atividades de pesquisa e de educação continuada em serviço;
Participar na implementação do sistema de informação para avaliação
epidemiológica e operacional das ações de controle das doenças, mediante
produção, registro, processamento e análise dos dados.
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b) Atribuições do médico e do enfermeiro:
Realizar supervisão e avaliação das atividades de controle das doenças;
Planejar as atividades de busca de casos, busca de faltosos, contatos e
abandonos;
Estabelecer a referência e contra-referência para atendimento em outras
unidades de saúde.
c) Atribuições do enfermeiro:
Gerenciar as ações da assistência de enfermagem;
Fazer previsão e requisição de medicamentos, imunobiológicos e material de
consumo.
d) Atribuições do enfermeiro, do auxiliar de enfermagem e do agente comunitário de
saúde:
Participar da organização e manutenção dos prontuários e arquivos de
aprazamento;
Fazer aprazamento da clientela.
- 32 -
9. Fluxograma do Atendimento em Hanseníase.
DEMANDA ESPONTÂNEA
BUSCA
ATIVA
CENTRO DE
REFERÊNCIA
VIGILÂNCIA
EPIDEMIOLÓGICA
UNIDADE DE SAÚDE DA
FAMÍLIA
LABORATÓRIO
CENTRAL
SECRETARIA MUNICIPAL
DE SAÚDE
- 33 -
ESCRITÓRIO
REGIONAL
10. Indicadores
Reduzir em 5% (cinco por cento) a incidência de Hanseníase;
Curar 95% (noventa e cinco por cento) dos casos de Hanseníase;
Detectar casos novos de Hanseníase, pactuado com o Ministério da Saúde;
Reduzir a prevalência em 10% (dez por cento) de Hanseníase em nosso município;
Notificar 100% (cem por cento) dos casos novos;
Reduzir em 95% (noventa e cinco por cento) os casos de abandono.
Examinar 85% dos comunicantes intradomiciliares.
Avaliar o grau de incapacidade física em 95% (noventa e cinco por cento) dos
pacientes.
11. Avaliação
Avaliar, mensalmente, todas as ações desenvolvidas pelas unidades, através de
supervisão mensal pelos técnicos responsáveis dos programas de Hanseníase;
Avaliação semestral com médicos e enfermeiros das unidades sobre atividades
desenvolvidas;
Avaliação de casos novos encontrados e meios de entrada na unidade
(encaminhamentos);
Avaliação do número de comunicantes examinados;
Avaliar número total de pacientes que utilizaram a sapataria de Hanseníase;
Avaliar números de pacientes que utilizam o serviço de fisioterapia;
Avaliar o número de pacientes que são encaminhados para tratamento de
especialidade fora do domicílio de residência.
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17. Conclusão
Concluímos que o Programa de Hanseníase do Município de Rondonópolis só obterá
100% (cem por cento) de êxito em suas ações se existir suporte didático e recursos humanos
comprometidos em desenvolver as ações propostas pelos gestores municipal, estadual e
federal, atingindo assim, as metas pré-pactuadas entre estes. Necessitamos ainda, do empenho
de todos os profissionais da rede de Atenção Básica no desenvolvimento das ações de busca
ativa, identificação precoce, tratamento e alta dos portadores de hanseníase com objetivo de
reduzir os índices de casos novos e sairmos do quadro epidemiológico endêmico que somos
enquadrados.
- 35 -
13. Bibliografia consultada.
ANDRADE, V. A. Eliminação da Hanseníase no Brasil. Revista de Hansenologia
Internationalis, v.25, n.2, p. 177-179, 2000
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ensino-serviço. DNDS/NUTES, 1989.
_____.Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Gestão de
Políticas Estratégicas. Relatório de atividades da área técnica de dermatologia sanitária
ano de 1999. Brasília, 1999.
_____. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Guia para o Controle da hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
_____, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Hanseníase: Guia de
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