A liberdade é tudo - António Pereira

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LIBERDADE!
Rabingranath Tagore, grande poeta, romancista, músico e dramaturgo hindu, escreveu
na sua obra Gitanjali: «A liberdade é tudo que quero, mas fico envergonhado de ter
esperança de obtê-la.»
Porém, muitos pensam que esta procura pela Liberdade última, Môksha, é algo
ultrapassado e antigo, só que isso não passa de uma meia verdade.
Segundo, Feuerstein, G., no seu A Tradição do Yoga, «a liberdade espiritual em si e
sua busca são tão importantes e pertinentes nos dias de hoje quanto foram em
qualquer outra época. O desejo de liberdade é um impulso atemporal, uma solicitude de
todas as épocas. Nós queremos a liberdade, ou a felicidade perene, mas quase nunca
reconhecemos a existência desse desejo profundo. Ele permanece sempre no nível de
um programa inconsciente que nos motiva secretamente em todas as nossas
realizações - da engenhosidade científica e tecnológica à criatividade artística, ao fervor
religioso, aos desportos, à sexualidade, à vida social e, infelizmente, ao vício das
drogas e do álcool. Em todas essas actividades, o que nós buscamos é a satisfação, a
realização, felicidade.»
Contudo, concluímos que a felicidade assim alcançada é infelizmente efémera e nesse
sentido vemos isso como um incentivo para continuar essa busca de auto-satisfação
através de novos estímulos, entrando num ciclo vicioso que nos traz frustração,
desânimo e depressão, porque a Verdadeira Liberdade, somente se alcança através de
um trabalho interior de renovação e transformação.
Nessa procura de superação, a tradição cultural indiana deu à luz, há mais de 5.000
anos, o Yôga, essa fantástica filosofia de vida, possuidora de um leque de ferramentas
psicossomáticas que levam o Ser Humano a essa Liberdade (Môksha), pela sua
transcendência, através da ampliação da auto-consciência que gera por último, um
estado expandido de consciência denominado samádhi (hiperconsciência,
megalucidez).
Praticar e aprofundar os estudos sobre esta extraordinária filosofia prática que é o Yôga
e outras filosofia indianas associadas a ela, como o Sámkhya, Tantra, Vêdanta,
Brahmáchárya, levam-nos a um mergulho profundo na consciência humana e a
encontrar meios para superar essa angústia existencial que em determinados
momentos sentimos, uns mais do que outros.
Na realidade o Yôga só se detém sobre aquilo que é a «realização efectiva» e não com
aquilo que é especulativo, pelo que podemos dizer que é o meio por excelência que
contempla todos os meios e ferramentas a se usar para esse fim.
Podemos afirmar que todas as filosofias e metodologias de estilos de vida,
desenvolvidos na Índia, têm um único propósito, levar-nos a sair da nossa zona de
conforto de consciência ordinária para que encontremos a nossa identidade, ou seja a
nossa união, com a Realidade última.
Esses métodos, como o Yôga, têm como meta libertar-nos dos condicionamentos
convencionais e desse modo libertar-nos do sofrimento, o qual é fruto dos nossos
condicionamentos inconscientes. Isto quer dizer que o Yôga nos leva à realização do Si
Mesmo (Púrusha), ou seja vivenciar um estado de felicidade absoluta, além da ideia
limitada que temos do estado de felicidade.
Feuerstein, G., diz-nos que «o Yôga, portanto, é a tecnologia do êxtase, da
autotranscendência... o modo de interpretação e os meios de realização desse estado
extático diferem de escola para escola.», pelo que daí advém uma certa confusão para
o leigo ao ser confrontado com uma diversidade de metodologias diferentes que as
várias escolas de Yôga utilizam, fora as deturpações que foram produzidas ao longo de
mais de 5.000 anos de história que esta fantástica filosofia tem.
Porém, como afirmou o grande historiador e escritor Mircea Elíade, «o que caracteriza o
Yôga não é somente o seu lado prático, mas também a sua estrutura iniciática.», pelo
que cada vez mais se torna necessário preservar essas características.
Por outro lado há que retirar o Yôga de um certo obscurantismo e exotismo que alguns
profissionais e a imprensa o colocaram, por falta de estudo aprofundado e sério, o que
se manifesta num posicionamento consumista despropositado e inadequado aos nobres
Princípios e Valores deste Património Cultural da Humanidade.
Fica aqui o desafio para conhecer e experimentar um Yôga Tradicional e genuíno, num
estudo e prática profunda de transformação e ampliação da consciência humana.
António Pereira
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