1 ROQUE ISMAEL DA COSTA GÜLLICH A BOTÂNICA E SEU ENSINO: HISTÓRIA, CONCEPÇÕES E CURRÍCULO Dissertação de Mestrado Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul Departamento de Pedagogia Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências - Mestrado Professora Orientadora: Dra. Maria Cristina Pansera-de-Araújo Ijuí 2003 2 Em meio a onze-horas, azaléias, margaridas e camélias e as falas de minha mãe; Em meio a camboatás, anjicos, cedros, louros e o lenhar de meu avô; Os brincos-de-princesa, os peixinhos, as rosas, as hortências e os cravos iam florindo e entre carícias de minha avó querida, fui aprendendo a plantar, regar, adubar e cuidar. Do jardim de minha infância ao jardim de minha vida, foi assim, cheio de butiás, bonzais, pitangueiras e doces perfumes das ervas doces do campo; e cheiros que impregnavam seu uso em minha memória, como a malva, o alecrim, a sálvia e o guaporoti, aprendi que a cura vem das plantas e da alma. E, em meio a rosas dadas e orquídeas recebidas, descobri que o amor tem perfume de flor. Ensino o que aprendi, e em meio a nomes que ainda não aprendi, aprendo mais com meus alunos. Descubro as cobrinas, os açucaras, a salsa e os jaraquachas; Descubro o mundo das plantas; Pesquiso esse mundo e na busca de desvelar seu segredo; Aprendo mais, mais e mais... Roque Ismael da Costa Güllich Verão/ 2003. 3 Dedico minha primeira obra aos meus pais, Adão e Esmerilda, pois, é na família que se forma um homem; e a minha esposa Uanita pela paciência, compreensão e companheirismo durante esse tempo de dissertar. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço especialmente à minha Professora Orientadora a Doutora Maria Cristina Pansera-de-Araújo, que além de professora e amiga é luz em meu caminho. Agradeço em especial às pessoas que como meu Avó Ismael Gonzaga da Costa (in memorin), minha Avó Amélia Vincensi da Costa (in memorin) e meu Pai Adão Nelson Güllich apresentaram o mundo da natureza aos seus filhos desde a infância. À minha Escola Estadual de Educação Básica João XXIII, pelas inúmeras compreensões nas minhas ausências. Aos autores dos trabalhos analisados nesta investigação. Aos meus alunos, razão maior de meus estudos. Aos professores do Curso de Mestrado em Educação nas Ciências da UNIJUÍ, em especial ao Professor Mario Osorio Marques (in memorin) pela paixão no ato de ensinar e aprender. Aos colegas de curso pelo ser “corpo” (discente), que conseguimos ao longo do curso. A CAPES, pela concessão da bolsa. 5 SUMÁRIO LISTA DE QUADROS................................................................................................07 LISTA DE FIGURAS..................................................................................................09 LISTA DE SIGLAS.....................................................................................................10 RESUMO....................................................................................................................11 ABSTRACT................................................................................................................12 INTRODUÇÃO...........................................................................................................13 CAPÍTULO 1: O ENSINO DE BOTÂNICA SISTEMÁTICA COMO PROBLEMA DE PESQUISA.................................................................................................................17 1.1 AS RELAÇÕES ENTRE O PROBLEMA DE PESQUISA E O MEU SER PROFESSOR ............................................................................................................17 1.2 A PESQUISA DOCUMENTAL COMO POSSIBILIDADE DE INVESTIGAÇÃO.........................................................................................................21 1.3 O CARÁTER HISTÓRICO DA ANÁLISE E O ENSINO DE BOTÂNICA PROPULGADO PELA SBB DE 1950 A 2001............................................................24 CAPÍTULO 2: BOTÂNICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES..............28 2.1 APROXIMAÇÕES INICIAIS.................................................................................28 2.2 CONTEXTO HISTÓRICO NA PRODUÇÃO DA CIÊNCIA BIOLÓGICA..............33 2.3 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES DE BOTÂNICA ........................43 6 2.4 A BOTÂNICA E O PARADIGMA DAS PLANTAS ...............................................57 CAPÍTULO 3: A SOCIEDADE BOTÂNICA DO BRASIL COMO ESPAÇO DE PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO NO ENSINO DE BOTÂNICA DO BRASIL............62 3.1 AS CONCEPÇÕES DE ENSINO PRESENTES NA SBB....................................70 3.2 O CURRÍCULO QUE ENSINA E APRENDE BOTÂNICA NO BRASIL A PARTIR DA SBB......................................................................................................................73 3.2.1 UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TEORIAS DO CURRÍCULO............73 3.2.2 O CURRÍCULO E O ENSINO DE BIOLOGIA..................................................76 3.2.3 AS CATEGORIAS DE CURRÍCULO E O ENSINO DE BOTÂNICA NO BRASIL......................................................................................................................79 3.2.3.1 A Didática da metodologia, dos objetivos e do saber planejar e avaliar........................................................................................................................88 3.2.3.2 Saber – Poder: a transição de um currículo..............................................91 3.2.3.3 A crítica do currículo oculto e da ideologia..............................................91 3.2.3.4 A significação e a identidade de um currículo na razão pós-crítica.......92 3.2.4 AS TEORIAS DO CURRÍCULO E O MOVIMENTO DISCURSIVO DO CURRÍCULO DE BOTÂNICA EXPRESSO PELA SESSÃO DE ENSINO DA SBB............................................................................................................................94 CAPÍTULO 4: O LIMIAR ENTRE AS PROPOSTAS QUE ENSINAM E APRENDEM BOTÂNICA NO BRASIL E OUTROS PRESSUPOSTOS ......................................101 4.1 ENSINAR E APRENDER BOTÂNICA: OS SEUS LIMITES E AS SUAS POSSIBILIDADES NA SESSÃO DE ENSINO DA SBB...........................................101 4.2 OUTRAS FORMAS DE ENSINAR E APRENDER BOTÂNICA (DECORRENTES DA INVESTIGAÇÃO)...............................................................................................112 4.2.1 A DENDROLOGIA: CIÊNCIA NÃO APENAS DE FLORES..........................112 4.2.2 A ETNOBOTÂNICA........................................................................................113 4.2.3 RECURSOS DA INFORMÁTICA....................................................................115 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................117 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................123 ANEXOS..................................................................................................................129 Anexo A: Resumos publicados nos anais dos Congressos Nacionais de Botânica-Sessão de Ensino da Botânica, selecionados e analisados nesta investigação, de 1982 até 2001.............................................................................129 7 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Trabalhos sobre Ensino de Botânica nos CNB da SBB de 1950 até 2001............................................................................................................................24 Quadro 2 - Filósofos e seus pensamentos, segundo as contribuições de Gaarder (1995).........................................................................................................................38 Quadro 3 - A Botânica e seus pensadores................................................................46 Quadro 4 – Distribuição dos Trabalhos da Sessão de Ensino da Botânica dos Congressos Nacionais de Botânica de 1982 até 2001, apresentados e analisados..................................................................................................................63 Quadro 5 – Títulos analisados, descrição sumária, instituição e nível de ensino dos resumos sobre o Ensino de Botânica apresentados na Sessão de Ensino de Botânica dos Congressos Nacionais de Botânica, de 1982 até2001.........................64 Quadro 6 – Concepções de Ensino presentes na SBB e Temáticas apresentadas nos trabalhos de 1982 até 2001.................................................................................70 Quadro 7 - Categorias conceituais de currículo, segundo Silva (2001)....................75 Quadro 8 - Construção das Categorias empíricas encontradas nos trabalhos da Sessão de Ensino de 1982 até 2001..........................................................................79 Quadro 9 - Aproximações entre categorias empíricas e teóricas de currículo na Sessão de Ensino de Botânica dos Congressos Nacionais de Botânica, realizados de 1982 até 2001........................................................................................................86 Quadro 10 – Teoria Curricular, grau de ensino e temáticas de Ensino de Botânica Sistemática apresentadas na Sessão de Ensino, dos Congressos Nacionais de Botânica, realizados de 1982 até 2001......................................................................95 8 Quadro 11 - Quadro resumo: teoria curricular, categorias identificadas na Sessão de Ensino de Botânica da SBB e a Relação entre ambas..............................................99 Quadro 12 – Limites e Possibilidades do ensino de Botânica presentes nos trabalhos apresentados na Sessão de Ensino de Botânica dos Congressos Nacionais de Botânica, realizados de 1950 até 2001..............................................102 Quadro 13 - Sistematização das concepções de ensino resultantes da análise dos limites e possibilidades apresentados na Sessão de Ensino da SBB......................108 Quadro 14 - Metodologias de Ensino produzidas no âmbito da SBB de 1982 até 2001..........................................................................................................................109 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Matriz histórica decorrente da trajetória botânica e seu assentamento enquanto ciência e saber escolar...............................................................................32 Figura 2 : Chave do Sistema de Tournefort...............................................................52 Figura 3: Chave do Sistema Sexual de Lineu...........................................................54 Figura 4: Diagrama do Sistema de Lineu..................................................................55 Figura 5: Paradigma das Plantas e a relação Sociedade -Natureza.........................58 10 LISTA DE SIGLAS a.C. – Antes de Cristo CNB - Congresso Nacional de Botânica DELTA – Description Language for Taxonomy IES - Instiuição de Ensino Superior RS – Estado do Rio Grande do Sul SBB - Sociedade Botânica do Brasil SBENBIO – Sociedade Brasileira de Ensino da Biologia SBG – Sociedade Brasileira de Genética SBZ – Sociedade Brasileira de Zoologia PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais 11 RESUMO Essa dissertação de mestrado tem como tema: “A botânica e seu ensino: história, concepções e currículo”, e procurou compreender o Ensino da Botânica através da Sociedade Botânica do Brasil. Dessa forma pesquisei a história da botânica enquanto saber da Ciência Biológica, as concepções de ensino, o currículo de botânica expresso pela SBB, e as formas de ensinar e aprender produzidas de 1982 até 2001. A pesquisa documental, numa abordagem qualitativa, serviu de método neste estudo e a análise de conteúdo do discurso presentes nos resumos possibilitou a compreensão da Botânica enquanto ensino e currículo. Durante a investigação foram analisados os resumos dos trabalhos apresentados na Sessão de Ensino da SBB de 1982 até 2001 e a trajetória histórica da SBB enquanto instituição científica que se preocupa com o ensino. A dimensão histórica da Botânica ao longo de sua constituição produziu significados que deram um curso específico a este saber enquanto Ciência. Este entendimento facilitou a leitura do currículo de Botânica e a das concepções de ensino que ele perpassam. Os modos de ensinar e aprender produzidos no âmbito da Sessão de Ensino da SBB vem modificando a forma de fazer e pensar a Ciência e servem de espaço-tempo de produção de sentidos e significados para a educação brasileira, em especial para as Licenciaturas em Ciências Biológicas. 12 ABSTRACT This dissertation has as its theme “Botany and its teaching: history, conceptions and syllabus”. It was tried to understand the Botany teaching through the Botany Society of Brazil (Sociedade Botânica do Brasil – SBB). This way, it was researched the Botany history in the Biological Science approach, teaching conceptions, the Botany syllabus expressed by SBB, as well as teaching and learning ways produced from 1982 to 2001. The documental research in a qualitative approach served as a method on this study and the analysis of the speech presented on summaries made the understanding of Botany possible while teaching and syllabus. During the investigation, the summaries of the works presented at the Teaching Section of SBB from 1982 to 2001 and the SBB historical trajectory as a scientific institution were analyzed. The historic dimension of Botany along its constitution produced meanings, which gave a specific course to this learning as a Science. This understanding helped with the reading of the Botany syllabus and its teaching conceptions that go through it. The ways of teaching and learning produced in the branch of SBB Teaching Section have been modifying the way of doing and thinking Science and they serve as a time-space to produce senses and meanings for the Brazilian education, mainly for Biological Science Teaching in College Degrees. 13 INTRODUÇÃO A relação sociedade-natureza estabelece os caminhos da sobrevivência do homem, enquanto espécie que vive na Terra. O entendimento de que as plantas são responsáveis pela manutenção da vida deveria preocupar o Homo sapiens sapiens1 que vive no planeta Terra, pois a vida de cada espécie depende de um ciclo biológico e de um ciclo social. O sentimento de pertença a terra e o real entendimento da condição humana submetida a algo maior, como o cosmos, permitem pensar as relações entre planta e gente. A sociedade tem a escola como (re) articuladora dessa relação, e a escola possibilita a compreensão das condições e das interações tecidas no espaço de vida. O destino planetário do gênero humano é outra realidade chave até agora ignorada pela educação. O conhecimento dos desenvolvimentos da era planetária, que tendem a crescer no século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena, que se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a todos, devem converter-se em um dos principais objetos da educação. Convém ensinar a história da era planetária, que se iniciou com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no século XVI, e mostrar como todas as partes do mundo se tornam solidárias, sem contudo, ocultar as opressões e a dominação que devastaram a humanidade e que ainda não desapareceram. Será preciso indicar o complexo de crise planetária que marca o século XX, mostrando que todos os seres humanos confrontados de agora em diante aos mesmos problemas de vida e morte, partilham de um destino comum. (MORIN, 2000, p. 15-6) Morin descreve as (im)posibilidades da vida na Terra como necessárias para o entendimento do que somos e de onde vivemos para a sobrevivência. Ele acrescenta: 14 ainda até os anos 1950 – 1960, vivíamos numa terra desconhecida, vivíamos numa Terra abstrata, vivíamos numa Terra-objeto. Nosso fim de século descobriu a Terra-sistema, a Terra Gaia, a biosfera, a Terra parcela cósmica. Cada um de nós tem sua genealogia e sua carteira de identidade terrestres. Cada um de nós vem da terra, é da Terra, está na Terra. (MORIN, 1995 . p.185) “Educar para este pensamento é finalidade da educação do futuro, que deve trabalhar a era planetária, para a identidade e a consciência terrenas” (MORIN, 2000, p.65). Das palavras de Morin ao discurso de Marques, se acrescentam o simbólico e a sociedade. É extremamente complexa a relação homem-natureza, mas nela a natureza humana não é algo diferente do homem. Mais do que ter um corpo o homem é corporeidade que se constrói na história e na expressividade do ser. O nascimento, a vida, o crescimento, a infância, a adolescência, a idade adulta, o envelhecimento, a doença, o sexo, a morte são dados objetivos da pessoa humana, onde conjugam indistintamente natureza, cultura e a sociedade simbolicamente estruturadas. (MARQUES, 2000, p. 23) Dessa compreensão e da trajetória de meu ser professor é que parti para esta investigação. O problema com o saber o nome das plantas, ou seja, com o ensinoaprendizagem da Botânica sistemática, surge do por quê e para quê ensinar este tema. Quando estava escrevendo esse texto minhas perguntas foram sendo modificadas. Minha briga com as chaves analíticas de identificação, por exemplo, não cessou; pude, no entanto, compreender como foram construídas e com que objetivos. A dimensão do pesquisar e do compreender a Botânica modificou minha forma de pensar o ensino e a identificação das plantas. Assim, consegui vislumbrar que a dimensão pedagógica transcende esses processos e calca-se nas ações que os permeiam. A análise da história-episteme da Biologia e das formas de ensinar e aprender botânica levaram-me a discorrer sobre a sua história, o seu currículo formador dos licenciados e os seus processos de ensino aprendizagem. 15 Essa dissertação de mestrado trata do Ensino da Botânica, na perspectiva de um estudo sobre o ensinar e o aprender e permite uma leitura sobre o currículo de Botânica formador de professores de Ciências e Biologia, no Brasil, a partir das publicações da Sociedade Botânica do Brasil. Constituí meu campo empírico nos Anais dos Congressos Nacionais de Botânica. Fiz uso da pesquisa documental, numa abordagem qualitativa, utilizandome da análise do conteúdo do discurso, presente nos resumos da Sessão de Ensino, no período de 1982 até 2001, para elucidar a problemática dessa dissertação. Também foi necessária a leitura da história da SBB, instituição que possui 50 anos de trajetória científica. Faço a discussão do Ensino de Botânica no Brasil, a partir das concepções, esboço curricular e as formas de ensinar e aprender apresentadas pela SBB, que ganharam forma acrescidas de uma análise histórica (epistemológica) da Botânica enquanto Ciência. A compreensão da taxonomia conhecida e dada pela Ciência é parte indispensável ao Conhecimento Botânico e à Ciência Biológica, mas temos de entender a trajetória que construiu este sistema e como se dá sua aprendizagem na escola. Com essa hipótese, construo, ao longo do texto, o pensamento de que a Botânica e seu ensino necessitam entender sua história e as múltiplas vozes que a constituíram. A discussão se articula em quatro capítulos. No primeiro, “O ENSINO DE BOTÂNICA SISTEMÁTICA COMO PROBLEMA DE PESQUISA”, relato parte de minha trajetória enquanto professor e as relações com o tema proposto, o campo empírico e a metodologia utilizada no trabalho. No segundo capítulo, “A BOTÂNICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES”, discorro sobre a trajetória da Botânica enquanto ramo da Biologia, para compreender a dimensão do ensinar - aprender a partir da história deste conhecimento específico e dos caminhos percorridos pela Ciência Biológica. No terceiro, “A SBB COMO ESPAÇO DE PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO NO ENSINO DE BOTÂNICA DO BRASIL”, faço a análise dos documentos da investigação e trabalho com concepções de ensino e o 16 currículo formador de Professores de Ciências, Biologia e Biólogos esboçadas na SBB. Finalizando, no quarto capítulo, “O LIMIAR ENTRE AS PROPOSTAS QUE ENSINAM E APRENDEM BOTÂNICA NO BRASIL E OUTROS PRESSUPOSTOS”, analiso e apresento os limites e as possibilidades do ensino de Botânica no Brasil. ___________ NOTA 1 Homo sapiens sapiens é o nome científico da espécie humana atribuído pela Ciência. Obedece a regras do Sistema Binominal de Nomenclatura Científica que tem validade internacional. Este sistema foi criado por Lineu e adaptado pelos cientistas modernos. 17 CAPÍTULO 1: O ENSINO DE BOTÂNICA SISTEMÁTICA COMO PROBLEMA DE PESQUISA 1.1 AS RELAÇÕES ENTRE O PROBLEMA DE PESQUISA E O MEU SER PROFESSOR Minha trajetória como professor e minha constituição como pesquisador refletem e justificam as indagações que faço a partir do ensino de Botânica. Essas brotam e estão presentes de longa data em minha história de vida: ora como neto obediente e escutador na hora de tirar a lenha do mato, ora como aluno e estagiário de silvicultiura/jardinocultura no CASM – Colégio Agrícola de Santa Maria, como acadêmico e Biólogo e, principalmente, enquanto docente no Ensino Fundamental e Médio. Estes momentos facilitaram a compreensão de meu problema de pesquisa, à medida que estudei e compreendi este processo. Rincão dos Victor, Giruá –RS-BR, localidade do interior do município com exuberante fauna e flora remanescente na mata nativa, na propriedade Nossa Senhora da Saúde, do casal Adão Nelson Güllich e Esmerilda Costa Güllich, ambos agricultores e, ela também do lar, que na época já pais de 4 filhos, destes dois meninos e duas meninas. Nascido, no dia 30 de setembro de 1977, o quinto filho – Roque Ismael da Costa Güllich. Recordo-me bem dos festejos juninos e da igreja na localidade em que nasci, dos banhos de cachoeira, pescarias e idas à mata com meu avô materno, Sr. Ismael, para retirar lenha seca, ocasião em que ele me ensinava o nome das árvores que avistávamos. Lembro-me até hoje da professora da 1ª série, Eliane Kuhn, do Instituto Educacional Nossa Senhora Conquistadora, prédio e sala nos quais trabalho, hoje, na SMEC1 Giruá . 18 Penso que minha história de vida conta como e por que o ensino da Botânica Sistemática entrou e permanece em minha vida, a partir de três interessantes momentos que me fizeram estudá-la e procurar entendê-la melhor. O primeiro momento está pontuado pela minha infância, as idas à mata com meu avô, e a adolescência como estagiário de Silvicultura. Eu nasci e vivi numa localidade de zona rural em Giruá-RS. Nestes tempos de ser criança, eu escutava muito as identificações (nomeações de plantas) que meu avô paterno falava: madeira de lei serve para cabo de enxada... E, quando do estágio de Silvicultura eu trabalhava com plantas – árvores da mata, produzindo mudas, identificando-as com técnicas da Dendrologia (ver capítulo 4). O segundo momento aponta para o problema de pesquisa apresentado nesta dissertação e está ligado a minha formação enquanto professor – biólogo. Neste período, descobri a educação como parte de minha vida, a profissão “BIOLOGIA”, e passei por uma experiência com a identificação de plantas extremamente frustrante: o uso de chaves analíticas. Essa metodologia exige que o aluno encontre uma família a que pertence a espécie que é identificada por este nome familiar, fazendo com que a realidade fique distante e sem significado para o aluno. A Biologia foi o curso que escolhi para contemplar meus sonhos de preservar e de mudar o mundo. Cursei Biologia por opção minha, por lembrar do quanto trabalhei com silvicultura no técnico em Santa Maria e por acreditar que a formação do educador e biólogo traz consigo uma visão de educação ambiental que se preocupa com as transformações do meio social e que pretende analisar os fatos e suas implicações na sociedade, como o contexto histórico da formação do homem e porque somos tão consumidores e degradamos o ambiente no qual vivemos. Estudei durante 4,5 anos e penso que a biologia pode cumprir seu papel na sociedade quando colocamos de fato “A vida a serviço da vida.”, pois somos sujeitos 2 capazes de transformar a realidade ou não somos sujeitos do mundo . A partir de 1999, iniciei meu trabalho docente na Escola Estadual de Educação Básica João XXIII, onde leciono até hoje Biologia no Ensino Médio. Então, percebi um terceiro momento que me levava ao aprender - ensinar Botânica: comecei a perceber o quanto era difícil para os alunos significar o nome científico das plantas (espécie) e suas famílias. 19 Enquanto lecionava na Escola de Ensino Médio, duas preocupações me assombravam, 1- o ser professor pesquisador, 2- as formas de ensino de Biologia que privilegiavam uma dimensão extremamente nominalista. Então, decidi que a pesquisa em educação e o curso de Mestrado poderiam fazer com que a reflexão acerca do tema fosse amadurecida e que eu entendesse meus problemas enquanto professor. (...) Penso que estas mudanças implicam em admitir que temos errado enquanto consolidamos nossa prática na reprodução de conhecimento e se faz necessário o redimensionamento de nossas práticas, o que se dará pela 3 reflexão teórica . Ao ingressar no Mestrado, pensei ter os meus dias de folga e compreensão de minhas ansiedades acerca do ensinar/aprender nomes de plantas definidos, mas meu problema de pesquisa sofreu várias modificações. Minhas idéias sobre ensinar o nome das plantas eram de abolir as chaves analíticas e criar um novo método de ensino. Durante o curso pude perceber que o problema ultrapassava as minhas próprias aulas, que minha formação necessitava dar conta de entender a história de minha ciência, e não apenas abolir as chaves de identificação e, sim, compreender o processo de ensino-aprendizagem em botânica. Houve rejeições e barreiras a esta investigação, em especial dos sistematas clássicos de Botânica que pensam serem as chaves analíticas as únicas formas de ensino da identificação das plantas. Definitivamente o que existe para o homem tem um nome. Aquilo que não tem um nome não existe, não pode ser pensado. Quanto mais palavras conheço, quanto mais conceitos posso articular, maior é o meu mundo (DUARTE JUNIOR apud MORAES, 1992, p. 10 ). Conforme a citação, a identificação de coisas, objetos e de seres vivos torna possível o pensamento humano, ou seja, pela palavra pode-se atribuir significado aos objetos a nossa volta. Nos processos de identificação dos vegetais podemos partir deste princípio identificar para pensar a estrutura, a função, o processo e/ou o vegetal enquanto espécie. O problema é como tornar significativo este nome para o aprendente? Posso afirmar que ao longo da produção deste texto, meu enfoque passou de uma briga excessiva contra o uso exclusivo das chaves analíticas no ensino de Botânica, por um estágio intermediário, em que fiz a crítica ao ensino mecanicista e disciplinar expresso pela SBB, para assentar-se no estudo, análise e compreensão do processo estudando seus limites e, mais do que isso, as suas possibilidades. 20 Por tudo isso, História, Currículo, Sociedade Botânica do Brasil e Ensino de Botânica são os focos desta investigação. A evolução e o esboço curricular da Botânica ao longo deste processo de aprender ganharam forma e resultaram, junto com uma análise histórica (epistemológica) dessa Ciência, na minha dissertação. A disciplina de Botânica Sistemática sempre trabalhou numa ótica positivista – mecanicista, abordando apenas famílias de plantas em uma chave analítica, desconexa da realidade de nós acadêmicos e, muitas vezes, permanecendo os conceitos, utilizados para a identificação, vagos ou apenas memorizados, transferidos. Como minhas observações e aprendizagens do mundo da natureza eram anteriores a essa disciplina, permaneci sem compreender muitos significados, aos quais já atribuía sentidos por conta própria. Esta impossibilidade de aprender o nome(espécie) de cada planta, na disciplina de Botânica Sistemática tomou conta de meu pensamento e transformou-se numa busca – pesquisa. Acreditando que a formação inicial dos professores pode determinar a sua prática pedagógica no Ensino da Biologia. Minha preocupação ampliou-se para um problema de pesquisa comprometido com a formação de professores de Ciências e Biologia. Desse modo, passei a buscar o entendimento de como se dão as aprendizagens em Botânica Sistemática, uma vez que, a partir daí, é possível se pensar um currículo formador articulando prática e teoria e, também, compreender a dimensão do ensinar e aprender frente a um ramo da ciência. A compreensão da taxonomia conhecida e dada pela Ciência é parte indispensável ao Conhecimento Botânico e à Ciência Biológica, mas temos de entender a trajetória de constituição deste sistema e como se dá a sua aprendizagem, na escola. Então, procurei, na investigação, compreender como essa ciência e pensamento são consolidados através do ensino. Para isso, foi necessária a adoção de uma metodologia séria e rigorosa, para que não houvesse confusão entre a pesquisa e minhas ansiedades com o tema, fazendo uso de um olhar de pesquisador, conforme Fricke (2001). 21 1.2 A PESQUISA DOCUMENTAL COMO POSSIBILIDADE DE INVESTIGAÇÃO Esse texto decorre da análise de 44 trabalhos dos 96 publicados, na forma de resumo nos 50 anos da Sociedade Botânica do Brasil (SBB), na Sessão de Ensino. Os resumos foram apresentados nos Congressos Nacionais de Botânica da SBB de 1982 até 2001 (ver p.130, anexo A). Os critérios de escolha dos resumos analisados foram os seguintes: a) ensino de sistemática botânica; b) um relato sobre o ensino-aprendizagem do componente curricular Botânica, independente da sub-área (anatomia, fisiologia vegetal, entre outras). A seleção, considerando esses dois critérios, foi adotada para facilitar a análise das concepções de ensino, uma vez que os relatos somente sobre ensino de botânica sistemática eram raros. A leitura da história da SBB enquanto instituição, que discute a botânica e também o seu ensino no Brasil, nos livros de Barradas & Nogueira (2000) e Nogueira (2000), permitiu a análise da coerência do discurso da SBB e da Universidade. Este relato utilizou, como método de investigação, a Pesquisa Documental descrita por Lüdke (2001). A análise documental pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema. [...] são considerados documentos ’quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano’ (PHILLIPS, 1974 apud LÜDKE, 2001). Estes incluem desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio, televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares (p.38). Desse modo, os resumos da SBB, contidos nos anais de cada Congresso Nacional de Botânica (CNB), e dos textos de Barradas e Nogueira sobre a história da SBB são documentos que expressam de forma oficial o ensino de Botânica no Brasil, objeto desta análise. A Botânica está portanto melhor expressa nestes 22 documentos, e estes a oficializam porque fazem parte da SBB, numa sessão que discute de forma prioritária o ensino e por estarem publicados são de domínio público. Este método de estudo parte de algo escrito que pode ser plenamente analisado, pois “persistindo ao longo do tempo, os documentos podem ser consultados várias vezes e inclusive servir de base a diferentes estudos, o que dá mais estabilidade aos resultados obtidos” (LÜDKE, 2001, p.39). Isto garante, ainda, transparência e rigor com a veracidade das análises, que são provisórias e expressam, ao seu tempo, uma leitura de mundo, a partir do conteúdo. Pois, para Vigotski (2001), cada palavra recheada ou encharcada de significado constitui um conceito, mas cada sujeito se individuou a partir de sua história e de suas interações com os outros, o que mostra o quanto uma interpretação destes documentos é única e particular. Além disso, os documentos constituem-se em fontes de argumentação que podem justificar, reafirmar e reforçar as declarações do pesquisador. O documento não é “apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto” (LÜDKE, 2001, p. 39). Assim, os resumos analisados neste relato documentam o tema e surgem no seu contexto próprio para explicá-lo. Mostra-se, com ele, o contexto de como se ensina – aprende botânica que está contido nos resumos da SBB. Os fatos aparecem na análise, emergidos do discurso e perpassam a investigação. Outra razão é o fato de que os documentos facilitam a obtenção de dados reais e relevantes, quando pessoalmente seriam praticamente impossíveis de se conseguir, por exemplo, entrevistar os autores dos 44 trabalhos, que residem nas diferentes regiões do Brasil. Finalizando este argumento, penso ser importante ressaltar que esta escolha favoreceu outro entendimento crucial para uma pesquisa em educação envolvendo o ensinar e o aprender, uma análise qualitativa do relato escrito, considera, como 23 ponto chave, a linguagem. “Quando o interesse do pesquisador é estudar a partir da própria expressão dos indivíduos, ou seja, quando a linguagem dos sujeitos é crucial para a investigação” (LÜDKE, 2001, p. 40). Essa expressão compromete essa dissertação com uma matriz teórica maior, que se coloca como a abordagem histórico-cultural. A análise qualitativa do conteúdo do discurso presente nos resumos possibilitou desvelar, historicizar e perceber o problema sob um foco investigativo. Para tanto, passo a envolver-me com o simbólico presente nos resumos e a necessitar de um cuidado maior quanto às sensações que vivenciei como aluno deste ensino que ora analiso. Por isso, tomei medidas de controle específicas e procedimentos que julguei adequados, buscando apoio em Lüdke (2001) e Bardin (1997). A unidade de análise na qual centrei o enfoque foi a temática, mas a palavra foi também utilizada, o que exigiu a interpretação de informações mais comprometedoras do que uma simples afirmação. Isto mexeu no fazer e na posição que passei a ocupar na pesquisa. [...] a diversidade de pontos de vista e de enfoques parece contribuir mais para aumentar o conhecimento sobre algo do que para limitá-lo. A exigência de consenso parece, pois, muito mais uma exigência do formalismo analítico característico dos esquemas clássicos de pesquisa do que uma necessidade do ato de conhecer (LÜDKE, 2001, p.41). Lüdke reforça, aqui, a idéia de que o caminho da pesquisa a ser percorrido, vivenciado, contado e interpretado, torna o enfoque de cada um, um posicionamento valioso, sem, com isso, desprezar a necessidade de um método com instrumentos pré-estabelecidos que norteiem o trabalho no seu processo de constituição. A análise temática buscou compreender o movimento dos processos de ensino-aprendizagem dentro da SBB, uma instituição que apresenta além da discussão específica de conhecimento botânico, a do seu ensino. Tendo claro a unidade de análise, passei a construir a forma de registro das análises prévias, ou seja, o trabalho de ler os documentos e interpretá-los em 24 primeira instância, e organizá-los em tabelas que permitissem a identificação das categorias ou tipologias. As categorias são unidades de texto que congregam o conteúdo analisado em cada documento. A construção de categorias não é tarefa fácil. Elas brotam, num primeiro momento, do arcabouço teórico em que apóia a pesquisa. Esse conjunto inicial de categorias, no entanto, vai ser modificado ao longo do estudo, num processo dinâmico de confronto constante entre teoria e empiria, o que origina novas concepções e, conseqüentemente, novos focos de interesse (LÜDKE, 2001, p. 42). Neste sentido, acredito que as categorias vão, pois, refletir os propósitos da investigação. Depois de existentes, elas definem a pertinência do trabalho, o status teórico, as leituras e análises, ligando e ampliando discussões numa rede que conecta teoria e empiria. No capítulo 3, em especial no esboço curricular do Ensino de Botânica no Brasil, as categorias aparecem com maior freqüência e são estudadas. 1.3 O CARÁTER HISTÓRICO DA ANÁLISE E O ENSINO DE BOTÂNICA PROPULGADO PELA SBB DE 1950 A 2001 A SBB foi fundada em 1950, ano da sua 1ª Reunião Anual, no Rio de Janeiro, na cidade de Itajaí, realizada nos dias 9 e 10 de Janeiro, conforme Barradas & Nogueira(2000). Quadro 1 – Trabalhos sobre Ensino de Botânica nos CNB da SBB de 1950 até 2001 Ano 1950 à 1982 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 1981 * * ** * ** ** ** ** Categorização ** Não N° de trabalhos ocorre 03 12 06 09 10 10 22 24 apresentados registro Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2002 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. Legenda: * Sessão de Ensino e Sessão de Educação Ambiental mista. ** Sessão de Ensino da Botânica. O quadro 1 mostra que de 1950 até 1981 não ocorre nenhum registro oficial de trabalhos apresentados com o tema ensino de Botânica, e, o quão recente é a preocupação específica com essa questão na SBB. 25 A criação da Sessão Técnica de Ensino da Botânica ocorreu, no ano de 1982, com a publicação de apenas três trabalhos, destes um era sobre educação ambiental. Daí em diante, somente volta a se pronunciar em 1995 ainda de forma conjunta. A sessão própria e exclusiva do Ensino da Botânica, firmando seu espaço de discussão, somente se dá após o ano de 1998, quando já são publicados 10 trabalhos. Analisando a história da Sociedade Botânica do Brasil (SBB), podemos constatar, desde o seu 3° encontro anual, preocupações com o ensino expressas por: “propugnar pela intensificação da pesquisa botânica em todos os seus ramos e pela melhoria do ensino de botânica desde os cursos secundários” Barradas e Nogueira (2000, p.54), mas pouco se podia afirmar sobre a evolução nas concepções de ensino presentes. Desde 1998, a Comissão de Ensino teve importante papel na integração entre as diversas áreas da Botânica, com um grande interesse em consolidar um posicionamento a respeito do ensino em que “a interdisciplinaridade é indispensável” (BARRADAS &NOGUEIRA, 2000). Este viés de entendimento interdisciplinar é abordado em parte dos artigos da sessão de ensino, o que comprova uma consonância entre a SBB e a Universidade. Em 1952, o 3° Encontro Anual da SBB declarou que: o pequeno número de especialistas neste ramo das ciências naturais, a sua dispersão geográfica e, porque não dizer, o acentuado desinteresse que se nota entre nós em relação às pesquisas básicas em geral, ainda não permitiram que a Sociedade Botânica do Brasil tomasse maior vulto. Mas é justamente pelas razões expostas que grande é a sua responsabilidade. Propugnar pela intensificação da pesquisa botânica em todos os seus ramos e pela melhoria do ensino de botânica desde os cursos secundários; promover o maior intercâmbio possível entre as instituições que se dedicam a este ramo da ciência e divulgar, de maneira mais ampla, os resultados das pesquisas botânicas constituem apenas algumas das atribuições dos nossos associados (BARRADAS & NOGUEIRA, 2000, p.54). O ensino interdisciplinar de Botânica é instituído a 50 anos atrás (reconhecido como válido) pela SBB. A SBB é instituição que acolhe os Botânicos pertencentes às Universidades brasileiras e que, por sua vez, são os formadores nos cursos de 26 licenciatura na área de Botânica. Estes professores passam a adotar uma visão interdisciplinar no seu trabalho após o ano de 1998. O ensino, como preocupação da SBB, aparece ainda na forma de tema de Workshops, apenas em 1995, 1997 e 1998; nas Mesas-redonda é o mais contemplado até 1999; nos simpósios, não está presente até 2001; nos encontros e reuniões satélites, nos anos de 1996, 1998 e 1999, e, como tópico de excursão científica, não ocorre até 2001. Outro fator fundante do problema acima descrito é a carência de trabalhos investigativos, até a presente data, que façam a discussão do ensino de Botânica e das mediações que daí decorrem (MARQUES, 2000), pois, nos programas de mestrado e doutorado em Botânica no Brasil, não ocorre nenhuma linha de pesquisa sobre o ensino, ficando este desconsiderado ou, em tese, propício a qualquer tipo de discussão (NOGUEIRA, 2000, p.153). As discussões acerca desse assunto têm sido abordadas nos Mestrados e Doutorados de Educação e de Ensino de Ciências. Essa análise histórica inicial da SBB, e algumas perguntas resultantes de minha formação enquanto professor e biólogo, me permitiram pensar na epistemologia da Ciência Biológica, ou seja, compreendi que o papel da história na produção do conhecimento e da pesquisa é indispensável, concordando com Vigostski (2001), que aponta ser imprescindível entendermos a educação a partir dos sujeitos da aprendizagem, que tem bagagem histórica e cultural. Durante minha formação, não estudei a origem, a história e a etiologia da Biologia, então não compreendia de onde vinha o ensino extremamente nominalista, mecanicista e tradicional das disciplinas de Botânica na graduação. Ao pesquisar esta história, pude compreender alguns porquês que apresento no capítulo 2, discutindo as concepções, os pensamentos e a história que permeou a Biologia – em especial a Botânica, ao longo dos tempos, como parte necessária à compreensão do seu ensino e do seu currículo: tema desta pesquisa. 27 _______________ NOTAS 1,2,3: Referência a fragmentos de meu memorial de vida apresentado por ocasião do ingresso no Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências – Mestrado. 28 CAPÍTULO 2: BOTÂNICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES “Filum ariadneum Botanices est Systema, sine quo Chaos est Res herbaria.” Lineu * Tudo o que muda no tempo tem, por definição história – Universo, os países, as dinastias, a arte e a filosofia, e as idéias. Também a Ciência, já desde a sua origem nos mitos e nas filosofias primitivas, experimentou uma constante mudança histórica, e por isso constitui um tema legítimo para o historiador (MAYR, 1998, p.15). Segundo Mayr (1998) a história da Ciência pode e deve ser estudada, pois, do tratamento adequado dado a compreensão desta história depende seu resgate autêntico, sua preservação e sua continuidade. Na história encontramos os “princípios que formam a matriz conceitual da Ciência” (MAYR, 1998, p.15) pois, se os problemas do passado não forem compreendidos os atuais também não poderão ser. Assim sendo, o estudo que este capítulo apresenta visa elucidar como a trajetória da Botânica e da Biologia modificaram as concepções de Ciência presentes nos atuais tempos. 2.1 APROXIMAÇÕES INICIAIS As vertentes1 da humanidade e a constituição da sociedade humana iniciam seu percurso já na pré-história, assim como a formação do simbólico, ou seja, as significações iniciais e os atributos usados nelas. As relações mantidas, inicialmente, com os objetos (seres vivos e não-vivos) estabelecem os primórdios classificatórios do homem sobre os que se encontra a sua volta. 29 Registros de Epígenes sobre observações astronômicas datadas de 720.000 a.C., realizadas por frígios, arcádios e egípicios, em rochas de cavernas, pintadas com extratos vegetais, demonstram a antigüidade das relações homem-planta. Temos de notar que datar os primórdios das civilizações não é tarefa fácil, haja vista as confusões feitas pelas civilizações antigas (FRANCO, 1997). O que temos como pretensão de verdade pode não ser uma realidade pontual, pois a história da ciência, em especial a origem do conhecimento botânico, parece ser muito antiga. Desde o Homo erectus, segundo Chassot (2000, p.11), já havia a utilização de objetos de conquistas científicas posteriores. A humanidade existe há mais de um milhão de anos, como é confirmado pela análise de pedaços de pedras lascadas e outros trabalhos arqueologicamente datados, bem como fósseis de flora e fauna. Um galho de árvore ou um fêmur tornam-se tanto armas para defesa quanto instrumentos para apanhar um fruto em lugares altos. (...) Novos materiais passaram a ser utilizados para a confecção de objetos: unhas, garras, chifres, dentes, conchas, fibras vegetais; utilizava-se couro para se fazerem martelos, arcos, agulhas, pentes, peneiras, trituradores, raspadores. (CHASSOT, 2000, p.12) A descoberta do fogo foi um dos maiores benefícios que a humanidade constituiu, e a capacidade de produzi-lo e conservá-lo resultou de um processo de observação. A capacidade de observação e o pensamento científico (biológico) estão estreitamente relacionados com a origem do conhecimento botânico em tempos remotos. Depois do fogo, o cozimento de alimentos, no final do paleolítico, em utensílios de cerâmica, a fermentação de sucos de extratos vegetais, curtição de peles e tingimento de fibras, bem como a alteração de dietas alimentares (CHASSOT, 2000, p.13), mostrou como a relação Homem-Planta se efetivou. Pinturas rupestres, de 20.000 a.C., segundo Chassot (2000, p.14), confirmam as idéias já citadas de Franco (1997), ao representarem os afazeres e a tradição da humanidade. Tinham corantes muito apropriados para tais pinturas, decerto feitos com pigmentos vegetais cozidos em gordura animal e algum solvente, haja visto que 30 as cores vermelho e amarelo destes vestígios não são de sangue, pois, se assim fosse, tornar-se-iam de cor marrom, à medida que o tempo passasse. No princípio, a relação do homem com os animais e as plantas era alimentícia, ou seja, da ingestão para sobrevivência; mais tarde foram usados na confecção de utensílios ou materiais; logo, na forma de registros de informações sinalizando em rochas e, somente depois, o uso na agricultura. Desde então, o homem já estabeleceu critérios de escolha destes seres para sua utilização, com isso formatando hierarquias, ora devida à importância alimentar, agrícola e/ou medicinal. Existem registros de que o arroz já era cultivado na China 5.000 anos antes de nossa era, e também, outros vegetais como a cevada, o linho e o trigo, segundo Chassot (2000, p.15-6). Em uma determinada etapa de nossa história, nossos ancestrais, talvez há uns 10 mil anos, deixaram de ser caçadores e colhedores de frutos para se estabelecerem como cultivadores da terra e criadores de animais domésticos. Em vez de, simplesmente apropriar-se dos animais e dos frutos que encontravam na natureza, passaram a interferir nela (CHASSOT, 2000, p. 14). A medicina mesopotâmica associou, à magia e à astrologia conhecimentos das plantas na preparação de remédios. Segundo Chassot (2000, p. 23), “(...) tratavam doenças como hidropisia, a febre, a lepra, a sarna, a hérnia, assim como problemas de pele e de cabelo, garganta, pulmões e estômago”. Os chineses, por exemplo, “cutivavam um grande número de plantas, e sua farmacopéia descrevia os produtos úteis, inúteis ou prejudiciais dos três reinos. Na mais antiga obra a respeito, encontram-se uma relação de mais de trezentas plantas e 46 substâncias minerais” (CHASSOT, 2000, p. 27). Na medicina, as plantas também vêm sendo usadas pela humanidade desde a antiguidade. Então, a mesma sociedade que determina a anti-relação entre planta e homem, está na dependência das plantas enquanto medicamentos, remetendo 31 pesquisa às civilizações antigas para investigar, por exemplo, os saberes etnobotânicos, presentes nas diversas populações do mundo inteiro. Nota-se que o conhecimento das plantas (botânico) é anterior ao desenvolvimento do pensamento biológico mais amplo, estabelecendo-se na origem da humanidade, mas seu progresso só se torna possível a partir do momento em que a Botânica se estabelece como parte da Ciência Biológica. A moderna taxonomia das plantas emerge num meio influenciado pela história da filosofia, pelas discussões e apropriações de áreas em que a ciência positivista é determinante tais como: a física e a medicina, esta última, por sinal faz uso das plantas desde o seu início. Carregada desta constituição, a sistemática torna-se o centro da botânica, como disciplina e como estudo, e assim se dá a inserção do conhecimento botânico na educação – via ensino da sistemática. 32 Figura 1: Matriz histórica decorrente da trajetória botânica e seu assentamento enquanto ciência e saber escolar Pensamento Humano Conhecimento Biológico Universidade Conhecimento Botânico Pensamento Biológico História da Espécie Humana BOTÂNICA Ensino da Botânica Paradigma das Plantas Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2003 – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. A figura 1 sistematiza como a botânica mantém suas relações com a educação e com o pensamento humano ao longo da história, possibilitando a emergência de um novo paradigma, em que o estudo das plantas se constitui de forma multidisciplinar. 33 A citação de Mayr justifica, em parte, como a humanidade iniciou as preocupações com a relação homem-planta e o quanto a apropriação dessa história incursiona nossa vida. Quando se encara a história da exploração da diversidade orgânica, não se pode evitar o espanto em face da diversidade avassaladora da natureza, no espaço (todos os continentes), no tempo (de 3,5 bilhões de anos atrás até o presente). No tamanho (dos vírus às baleias), no habitat (ar, terra, água doce, oceanos), e no estilo de vida (por si mesmo, ou parasito). Não há surpresa de que o homem jamais ignorou a incrível riqueza da vida orgânica que o cerca; na realidade, ele teve diversas razões para estudá-la. Antes de tudo, a sua curiosidade sempre presente , acerca do mundo circunstante, e seu desejo de conhecê-lo e compreendê-lo. Havia também a necessidade puramente prática de saber que animais e plantas, podiam ser-lhe úteis, em particular como alimento e, no caso das plantas, também como medicina. Quando perguntaram a Lineu para que servia o estudo da diversidade, ele como criacionista pio, respondeu da seguinte maneira, na sua dissertação Cui bono?: Todas as coisas criadas devem servir a um objetivo. Algumas plantas são para a medicina, alguns organismos são destinados à alimentação humana, e assim por diante. O criador sapientísssímo não criou nada em vão, mas criou todas as coisas para um fim específico, ou para o benefício de alguém ou alguma coisa. A nossa tarefa consiste em descobrir essas utilidades predeterminadas, e tal é o objetivo da história natural. (MAYR, 1998, p. 168-9) 2.2 CONTEXTO HISTÓRICO NA PRODUÇÃO DA CIÊNCIA BIOLÓGICA Uma Ciência é constituída ao longo de sua trajetória. A Biologia (a Ciência da Vida) inicia sua história a partir do surgimento da civilização humana. Então, entender como essa história se passou e como ela influenciou a Biologia e a Botânica, enquanto saber específico, é parte deste estudo. Para isso passo a relatar brevemente o pensamento humano, a história das civilizações, a Ciência Biológica, no seu percurso inicial, e as incursões da filosofia na história da Sistemática 2 - Botânica. O período paleolítico detém os primórdios do simbolismo, ou seja, o surgimento da linguagem. Neste momento, “o homem”, ao nomear os objetos e situações, que, segundo Bernal (1997, p.69), são sempre mais complexos do que os sons empregados para descrevê-los, começa a criar os símbolos, que as sociedades humanas significam pelo uso da palavra. Estes símbolos constituíam o pensamento humano, através do seu uso direto na linguagem e de sua imaginação visual. 34 As diferentes formas de conhecimento da humanidade tiveram um caminho inicial no campo da dominação do inanimado. O homem se dedicou basicamente a produzir mecanicamente utensílios e a conhecer animais e plantas como fonte de alimento. Nos primórdios, a ciência percorria um caminho, mas não havia interesse em sua exploração. Ocorria que as manipulações dos objetos e dos seres vivos serviam para a sobrevivência do homem e ao conhecê-los empreendia a observação e o conhecer científico. A continuidade das sociedades humanas caracterizadas por Bernal (1997, p. 63) ocorre desde o Paleolítico, através da combinação da capacidade manual e visual com outra especial, a aprendizagem, possibilitando usos a priori da pedra e madeira e a posteriori de objetos mais selecionados, de acordo com suas aplicações em necessidades humanas. Portanto, a capacidade de aprender e ensinar, generalizando a tradição de passar de um o conhecimento pré-adquirido a outro, é que caracteriza a existência e a persistência das sociedades humanas. O conhecimento obtido pela observação da natureza, como a necessidade de alimentar-se, neste momento, se deu pelo conhecer os hábitos de animais (Comportamento) e as propriedades das plantas (Botânica). Então, aqui encontra-se imbricada a base da Biologia atual. A história dos pressupostos da hierarquia biológica, ou seja, a classificação é mais antiga que a própria ciência consciente, conforme Bernal (1997), reforçado por Chassot: o estudo das plantas fez parte dos primeiros conhecimentos do homem, pois este necessitava selecionar raízes, caules, folhas, frutos e sementes destinados alimentação, vestuário e construção. Imaginemos os problemas de seleção de raízes não-tóxicas para a alimentação tanto animal como humana (CHASSOT, 2000, p.15). Na citação, explica-se a possibilidade de seleção de diferentes partes dos vegetais pela humanidade em seus primórdios. Podemos pensar também, como selecionaram e classificaram os galhos que faziam o fogo durar mais ou os pigmentos usados como tintas. 35 Na humanidade do período pré-histórico, não havia uma distinção clara entre o conhecimento biológico e mítico; por conseguinte, essas culturas foram muito instáveis no que realmente acreditavam. O conhecimento biológico, por ser complexo para o pensamento humano seguiu um caminho diferente do conhecimento popular. As razões míticas incutidas nos fenômenos e a falta de uma distinção com o científico, constituíram uma classificação inicial que permitiu, por sua vez, o desenvolvimento da Biologia e também da Química. Embora, inicialmente, a classificação já detivesse seu significado na vida humana, baseando-se fundamentalmente na linguagem oral, que era “uma teoria em que os seres vivos ou objetos (nomes) eram susceptíveis a ação ou passividade dada pelo homem (verbos)” (BERNAL, 1997, p.76), não tínhamos a separação clara entre os objetos de conhecimento da ciência e da sociedade. Na Idade do Ferro, nasceu o alfabeto, através do uso de símbolos advindos dos mesopotâmicos e dos egípcios, mais tarde, constituindo o nascimento da escrita. Na ordem de registro dos acontecimentos e das Áreas de Conhecimento a Biologia e a Literatura ficaram por último. Estes caminhos incomuns, pelos quais a ciência primitiva tramitou, incursionaram aspectos apreendidos em nossa cultura advindos de períodos outros, por conseqüência, anteriores à escrita. A passagem do conhecer inicial (pensamento humano primitivo) para um saber, ou seja, de uma verdade para outra, está na escrita. A linguagem, então, torna-se o pressuposto fundamental das posteriores mudanças que a forma de conhecer da humanidade incorporou através dos tempos. O surgimento da escrita e a história da caminhada do povo de Deus, contada na Bíblia, fazem com que a humanidade adquira um contexto e, por conseguinte, é nela que encontramos o primeiro ato de identificar (tido como nomear) os seres vivos, com objetivo de dar significação aos demais seres que habitavam a terra, e também para separar o humano do objeto de conhecimento humano. 36 Tendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais terrestres e todas as aves do céu, levou-os diante de Adão, para este ver como os havia de chamar; e todo o nome que Adão pôs aos animais vivos, esse é o seu verdadeiro nome. (Gênesis, 2, 19-20) Na Bíblia, o livro de Gênesis (capítulo7) conta a história do dilúvio, em que ocorre uma forma de classificar os animais (todos os seres vivos da terra) como puros e impuros, selváticos e domésticos, para separar os diferentes grupos de animais pela importância quanto à utilidade doméstica ou não. A escrita é a alavanca da mudança do pensamento humano no início das civilizações, modificando, com isso, a relação entre homem e natureza, conforme Marques (1993). Embora a Bíblia tenha imposto um caminho para a sociedade após sua escrita, principalmente na organização das civilizações antigas, o povo grego e sua cultura tornam-se o elo entre o primitivo e o início da história que afeta a sociedade moderna (BERNAL, 1997). A partir daí dá-se, o início de uma cultura que tem sido de maior, ou até mesma única relevância no desenvolvimento do pensamento biológico. Daí a relevância da escrita e da bíblia (povo hebreu), para marcar o elo entre o inicial anterior e o novo mundo, dos gregos. A civilização grega, na Idade Antiga, caracterizou-se por pilhar e apossar-se das culturas devastadas, e, também, por aprender e incorporar culturas e símbolos diferentes. Daí serem os gregos o elo de ligação entre o anterior à escrita (da Bíblia) e o posterior, ou seja, a história contada na escrita é a única que interfere até os dias de hoje, porque os gregos assim assumiram o papel de disseminadores, dando um curso apropriado à cultura grega até os dias de hoje na história das civilizações. A sociedade classista também deixou marcos, no que tange a vincular a ciência e sua aprendizagem, segundo Bernal (1997, p.114), às classes de maior prestígio, como a matemática, astronomia e medicina, enquanto que a Biologia e a 37 Química tiveram que conquistar seu espaço duramente para obter seu reconhecimento cultural. Tal situação perdurou até o século XVIII. O paradigma das Essências rompe com a indistinção de homem - natureza, e o homem passa a dominá-la, tendo, como instrumento para separar ou disciplinar esta distinção, a simbologia do que, mais tarde, seria a matemática. A Bíblia é tida como saber do povo, em que se misturam a fé e a razão por explicações de fundo mítico. Quando surgem os sofistas, primeiros professores, a filosofia possui grande prestígio. Sócrates, num contexto de objetividade, apela para a reminiscência, e busca, segundo Marques (1993), no mandamento de Apolo, Delfos, “conhece-te a ti mesmo”, a referência para sua caminhada. Junto dele Platão ensaia o princípio da filosofia “ser para sempre, para além das aparências físicas (ton meta ta physica)”. No dualismo da fé e da razão, o cristianismo prendeu seus pilares e o dogma cristão: corpo/alma, segundo Mayr (1998), dominou o pensamento biológico durante muitos anos. Aristóteles, buscando consolidar o pensamento de Platão, teve a filosofia como vertente de verdades na época e o essencialismo, desde Platão, só se removeu, por Darwin, devido a observações de taxonomistas da época. Então, a filosofia não só estabeleceu regras para o pensamento humano em geral, na época, como também influenciou o pensamento biológico. A filosofia e sua história é que garantiram, por outro lado, a passagem e as contribuições do pensamento de Aristóteles, primeiro taxonomista, até a taxonomia clássica, passando por Santo Agostinho: a importância de Aristóteles para a cultura européia está também no fato de ele ter criado uma linguagem técnica usada ainda hoje pelas mais diversas ciências. Ele foi o grande sistematizador, o homem que fundou e ordenou as várias ciências (GAARDER, 1995, p.122). Os filósofos e a história da Filosofia revelam parte de como o pensamento biológico, que definiu o início da sistemática, chegou até nós, perpassando principalmente a Idade Antiga e Média, e, a partir daí, o seu percurso como ciência 38 na Idade Moderna e no Mundo Contemporâneo. No quadro 2, são citados alguns filósofos, épocas e os fatos decorrentes de sua história para a constituição do pensamento biológico e, ainda, a lógica de transmissão da sistemática botânica através dos tempos. Quadro 2 - Filósofos e seus pensamentos, segundo as contribuições de Gaarder(1995) Idade Filósofo Época Pensamento Antiga Tales de Mileto 625-527 a.C. Água é origem de todas as coisas. Antiga Anaximandro 610-546 a.C. Mundo era uma parte do infinito. Antiga Anaxímenes 550-526 a.C. O ar ou o sopro era a base de todas as coisas. Antiga Parmênides 540-480 a.C. Tudo sempre existiu. “Só acredito vendo”, pois, enganam os sentidos (semente nos do racionalismo). Antiga Heráclito de 540-580 a.C. “Tudo flui”, a natureza é fruto de suas transformações, e as impressões dos Eféso sentidos são confiáveis. Antiga Empédocles 494-434 a.C. O ar, a água, a terra e o fogo são as “raízes” da natureza, seus elementos básicos. Antiga Anaxágoras 500-428 a.C. A natureza era composta por partículas bem pequenas invisíveis a olho nu, e tudo pode ser dividido em partes cada vez menores. Antiga Demócrito 460-370 a.C. Último Filósofo da Natureza - todas as coisas eram formadas por partes menores, minúsculas, cada uma delas eterna e mutável. Antiga Sócrates 470-399 a.C. A relva e as árvores nada lhe ensinavam. Antiga Platão 427-347 a.C. Idealista e, na sua escola, passou sua visão sobre Sócrates. 39 Antiga Aristóteles 384-322 a.C. Realista, primeiro sistematizador das ciências. Organizador meticuloso que queria pôr ordem nos conceitos dos homens sinônimo do (ordem é também positivismo mais tarde), fundando assim a lógica como ciência. Média Santo 354-430 d.C. Agostinho Vertente idealista de Platão, acreditava que o homem necessitava de salvação divina (da fé). Média São Tomás de 1225-1274 d.C. Cristianizou Aristóteles, encarando Aquino duas verdades: a 1ª do que era natural antes da revelação divina e a 2ª após a revelação, sem contrapôlas. Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2003 – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. Os três primeiros eram considerados os filósofos da natureza, na antiguidade, por terem dado atenção especial a fenômenos naturais, princípio que alavancou a separação entre a filosofia e a religião. Foram os primeiros a tecer um caminho que levou a humanidade a uma “forma científica” de pensar o mundo, propiciando o nascer das ciências naturais. Eles buscavam o conhecimento e criticavam a mitologia, contrapondo-a à fé, já que nada pode surgir do nada. Se Heráclito já acreditava nos sentidos e na observação, Aristóteles ao sintetizar as idéias deste filósofo, cujos escritos foram perdidos, percebeu importância da observação, como base do método defendido, posteriormente. Na antiguidade, a escola de Platão pregou o discurso de Sócrates, que foi queimado por “persuadir” jovens de sua época. Aristóteles não usou apenas a razão como Platão, usou também seus sentidos (GAARDER, 1995, p.121). Daí a importância da observação e comparação nos métodos taxionômicos. No 40 desenvolvimento da história da filosofia está imbricado o percurso inicial da biologia, pois Aristóteles, pode ser considerado também, o primeiro biólogo da Europa, porque seu maior interesse estava na “natureza viva” (p.121). Segundo Gaarder (1995, p.127), “Quando reconhecemos as coisas, nós as ordenamos em diferentes grupos ou categorias”, pois todas as coisas na natureza podem ser agrupadas ou categorizadas para facilitar sua identificação, e Aristóteles tentou mostrar este processo à humanidade. Para ele, o que diferenciava os animais e as plantas das pessoas era a capacidade de pensar, ou seja, ordenar suas impressões sensoriais em diferentes grupos e classes. No final da Antigüidade, temos o período romano, em que Roma assume o predomínio militar (50 a.C.). A cultura romana e a língua latina passam juntamente a predominar desde a Europa até a Ásia. O latim foi a língua escolhida nas ciências, para separar o laico do erudito, já que a religião separou e distinguiu o profano(povo) do sagrado(sábios da igreja). A ciência do helenismo advinda da internacionalização dos reinos helênicos Macedônia, Egito e Síria - fez com que Alexandria, no Egito, fosse a união do Oriente e com o Ocidente (GAARDER, 1995, p.116), tornando-se a capital da Biologia, da Medicina e das Artes, entre outras. A medicina desenvolveu-se utilizando a botânica (o conhecimento das plantas) como sendo sua base teórica. Sabe-se que as ervas medicinais e as essências extraídas por boticários estão presentes desde a origem da medicina até os dias de hoje na base de inúmeros medicamentos e tratamentos. Durante toda a Idade Média, o Renascimento fez com que a cultura antiga e as idéias de Aristóteles, por meio de São Tomás de Aquino, constituíssem novos conhecimentos. Durante toda a Idade Média, os árabes foram líderes em ciências tais como o matemática, química, astronomia e medicina. Até hoje empregamos os ‘algarismos arábicos’, por exemplo. Em alguns campos, a cultura árabe era mesmo superior à cristã (GAARDER, 1995, p. 191). 41 Além disso, percebe-se que não só os cristãos eram conhecedores da Ciência mas, também, outros povos, como os árabes (cf. GAARDER, 1995). Podemos, com isso, notar que a história se encarregou de manter presente o passado, transmitindo às civilizações um produto cultural, baseado em seus conhecimentos através da tradição, de geração a geração (BERNAL, 1997). Já na Idade Moderna (séculos XV e XVI), as transformações como a “Reforma”, serviram segundo Gaarder (1995, p.215), para deixar a relação entre ciência e religião mais livre à autonomia, da razão e da ciência. O Renascimento traz consigo os experimentos sistemáticos de Galileu Galilei, que visam tornar tudo mensurável, pois, até o século XVII, a matemática e a física eram rainhas absolutas das ciências. Constrói-se, assim, o método científico baseado no Empirismo - Indutivismo, defendido amplamente pelo filósofo Inglês Francis Bacon, este considerado o Pai da Ciência Moderna, em função do uso desse método. Desde a Idade Antiga, o homem indagou-se sobre a origem do mundo e da vida, tentando entender a vida como um processo. Ele avançou em diferentes aspectos, embora, até a Idade Média, tenha sido dominado pelos dogmas da religião, dos ensinamentos bíblicos, das revelações e do sobrenatural. A ciência passa a encarar os fenômenos como perguntas, com dúvidas e explicações, opondo-se à religião. Durante muito tempo, esse processo foi esquecido e, somente após a Alta Idade Média e durante a revolução científica, foi relembrado, conforme Mayr (1998). Com essa retomada, começou-se a questionar também as Escrituras Sagradas (Bíblia). A lógica escolástica dominou o método taxonômico, do conhecimento biológico de Cesalpino até Lineu (MAYR, 1998). O Aristotelismo grego seguia um padrão, uma doutrina imposta pela sociedade sagrada da época (igreja - detentora do conhecimento). O nominalismo 42 que atribuía uma mera denominação às coisas segundo Marques (1993), predominou no surgimento do método escolástico (científico) que tinha como premissa o “colocar a questio”. Então a tradicional e mecanicista concepção de ciência esteve em ascensão desde esta época. Na ciência, residiam as explicações alternativas, não como dogmas da religião e sim, para substituir uma teoria por outra. Segundo Mayr (1998), para Galileu a medida e a quantificação eram de suma importância e para Aristóteles o método experimental era a única aproximação que conduzia a resultados. Nasce, assim, o Método da Ciência, que despontou a partir do séc. XIX, e, foi iniciado por Aristóteles, seguido por Descartes, ambos indutivistas, para mais tarde ser consolidado como o Método hipotético-dedutivo, a partir da especulação e depois da condução dos experimentos. Usado por Darwin, desmantelou o indutivismo (de Bacon), crucial desde o séc. XVIII. A física rendeu-se ao método e dessa decisão nasce o seu grande predomínio entre as ciências. No século XVII, o Método foi escrito por René Descartes em francês e não em latim, uma consideração importante para o desmantelamento das questões postas, ou seja, do conhecimento científico ser apenas daqueles que conheciam latim. A Biologia concebeu seu pensamento baseando-se no Método indutivo e no hipotético-dedutivo comparativo, a partir da observação, da classificação, da análise e das leituras do real com aproximações. O método científico foi também responsável pela condução da hierarquia Lineana (MAYR, 1998). De mais a mais, não existem grandes separações entre estes métodos; existe, sim, uma complementaridade. A Física, hoje, já se entende como produto de múltiplos saberes, usando também da observação e aproximações para não perder seu espaço dentre as demais ciências modernas. A autonomia da Biologia seguia seu curso, ainda que tênue. A história da Biologia continua por áreas diversas como a Zoologia, a Botânica e a Embriologia. O 43 pensamento humano rompe paradigmas, coloca-se à frente na pesquisa, registra suas observações, analisa e remonta histórias próprias, específicas. A história da sociedade humana apresentada neste texto, mostra que o pensamento biológico surgiu posterior ao conhecimento botânico e que a Botânica, enquanto saber específico, teceu e tece história, memória e relações com o homem. 2.3 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÕES DE BOTÂNICA A Botânica, enquanto estudo das plantas e área da Biologia, ao longo de sua história concebeu teorias, gerou pensadores e sustentou formas de pensamento. Em especial a sistemática, que trata da identificação dos vegetais assumiu modelos e perspectivas, com isso, difundiu concepções de Ciência, de Ensino, e de Currículo. Nesta perspectiva, em que a Botânica através de seu percurso histórico fez opções, tomou caminhos e constituiu uma trajetória que influenciou e influencia diretamente a pesquisa-ciência e o ensino, penso ser importante compreender a hierarquia biológica desde as vertentes à contemporaneidade da taxonomia das plantas, tecendo uma leitura dos nomes que fizeram parte desta história. A taxionomia, a morfofisioligia, o uso e a distribuição das plantas são os focos do estudo botânico. O ensino da Botânica tem raízes recentes dentro desta Ciência, constitui-se como pesquisa, no Brasil, em 1982, com a criação da uma Sessão de Ensino dentro da Sociedade Botânica do Brasil – SBB, mas o pensamento biológico e o conhecimento botânico que o sustentam estão presentes na humanidade desde seus primórdios. Acredito que o início da relação homem-planta pode ser datado de 720.000 a. C., a partir da análise de inscrições em cavernas Sírias, Arcádias e Egípcias. Daí em diante, o surgimento do fogo, o cozimento dos alimentos, a construção de utensílios e a agricultura foram algumas das realizações da humanidade, utilizando as plantas. Enquanto o Homo sapiens sapiens descobria o mundo das plantas, acontecia 44 também o registro escrito destes saberes, garantindo, assim, que a cultura preservasse esta história. Com o desenvolvimento da Ciência Moderna, o conhecimento botânico passou a ser privilégio da Medicina e da Farmácia (plantas para cura de doenças) e da Agronomia (cultivo econômico das plantas), somente mais tarde é que a Biologia recebeu o reconhecimento da Botânica enquanto saber específico. A relação homem-planta na sociedade moderna passa pela concepção de que a humanidade modifica o mundo a sua volta para a sobrevivência, esquecendo com isso, que a garantia da vida no Planeta depende da Luz Solar e das Plantas (produção de alimento). A sociedade moderna industrializa, ocupa e extermina florestas inteiras com o discurso enganoso da sobrevivência. O Homo sapiens sapiens muda o ritmo biológico do Planeta e coloca a Vida de todos os seres vivos em perigo, ou seja, em ameaça de extinção. A pós-modernidade/discurso pós-moderno faz com que nasça uma outra concepção/paradigma para relação homem-planta, o entendimento da Condição Humana (que depende de todos os outros seres vivos e do ecossistema Terra para sobrevivência) e da Consciência Cosmológica (pensamento complexo que expressa a necessidade de entendermos o todo do Universo como parte de nossas vidas) numa época chamada Era Planetária (de nos apegarmos as questões biológicas para entender os processos vitais do mundo). Essas alterações no pensamento humano modificam também a Ciência e, por sua vez, o ensino nela fundamentado. É verdade, porém, que nem toda sociedade reconhece estes estudos ou essa concepção de mundo, mas todos têm experimentado nas suas peles as condições climáticas, por exemplo, fruto dos erros humanos que agridem o ambiente Terra. Então, se não for acordo da sociedade repensar a situação de vida na Terra, que sirva de alerta ao mundo o pensamento aqui exposto e as pesquisas nesta direção. Dentro desse contexto social e histórico de produção de pesquisa, convive a Escola, e o currículo escolar. 45 O currículo que aprende e ensina Botânica não é diferente do todo da Escola, ele sofre as alterações impostas pelo discurso reconhecido como válido pela sociedade. A história da Botânica, do pensamento biológico e da constituição curricular do seu ensino traçou uma determinada trajetória que, hoje, nos permite pensar novas dimensões acerca do ensinar e do aprender. O currículo que ensinava as plantas, das páginas escuras do livro, dá lugar ao texto, à discussão e à experiência prática com as plantas. Os passeios à mata e o uso do laboratório ganham novos significados dentro da prática pedagógica. Os discursos ambientalistas desbotam e reforça-se o tom da ação e intervenção nos ambientes e ecossistemas frágeis. A luta pela não-extinção cede espaço ao estudo e pesquisa genômica para preservar as espécies. O currículo escolar aposta na linguagem viva, no discurso da ação e modifica a escola, na pretensa intenção de melhorar a qualidade de vida de todos os seres vivos. Mas a Escola não se descuida do texto, da biblioteca, da pesquisa e do fazer pedagógico que resgata a diferença, que respeita as crenças, as culturas, os gêneros e a produção de conceitos científicos através da interlocução dos saberes na mediação da aprendizagem. A taxonomia é o princípio que deu origem à Botânica e sustentou sua expansão por toda a modernidade, conforme mostra a história. No sentido de entender desde as vertentes da Botânica até a concepção contemporânea do estudo das plantas pela humanidade, investi parte deste trabalho no estudo histórico da Botânica. As crescentes discussões sobre como melhorar os Sistemas de Classificação e tornar a Botânica Sistemática acessível aos cientistas e à população em geral faz com que se inicie, em meados do século XX, uma preocupação dessa Ciência em se fazer entender. Com isso, aponta-se uma discussão nova e emergente na academia e na sociedade: o “paradigma das plantas”. Esse paradigma não é a saída e, sim, o constructo histórico que surgiu da análise das diferentes e fracassadas formas de relação homem-planta já enunciadas, neste texto. Assim, entender esta história é 46 parte indispensável para o estudo e compreensão do currículo de Botânica que reflete esta trajetória. Os paradigmas constituem-se ao longo do tempo revelando as formas de pensamento humano acerca de um tema. Na relação homem-planta, constituiu-se a história da Botânica, apresentada no quadro 3, a partir de Miranda (1944) e Carvalho (2000). Quadro 3: A Botânica e seus pensadores Fase / Época Botânicos/Autores Botânica Erudita Hipócrates, (Antiguidade) Teofrasto, Pensamento Galeno, Filosofia base de seu pensamento, constituindo-os fundadores dessa Dioscórides, Plínio e Ciência. Aristóteles, Averrohoes. Brunfels, As grandes navegações conferiamlhes o título de botânicos após a (Idade Média) Anguillara, Cesalpino, publicação das listas de plantas dos Lobelius, Gesner, países visitados. Cesalpino e Lineu, criadores de sistemas de Bhuin, Rajus, Yung, classificação das plantas, deram a Tourneford, Lineu, botânica à ordem clássica das chaves de identificação utilizando como Jussieu, Condolle. método agrupamentos baseados na estrutura da flor na maioria das vezes. Botânica Moderna Eichler, Engler, Joly, Adeptos dos estudos da filogenia, da (Idade Weberling, Judd, genética, do parentesco entre os Moderna/Contemporânea- Schwantes, entre grupamentos. Séc. XIX e XX) outros. Botânica Mayr, Morin, Pelt, Coloca em xeque a relação do Botânica Clássica Clusius, Contemporânea entre outros. ( Séc. XX e XXI) homem com as comprometer humanidade a e plantas, educação, o ambiente visa a pela discussão sobre os caminhos do planeta. Fonte: Güllich; Pansera de Araújo, 2003 – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. O quadro 3 revela como o pensamento botânico perpassou os diferentes momentos da história, traçando um perfil específico, a cada tempo. As concepções 47 de ciência implicam diretamente nas formas de ensino e no currículo que as norteia, uma vez que a Ciência é produzida na Universidade onde é formado o licenciado da área. Aristóteles, Teofrasto, Dioscórides e Plínio foram, segundo Miranda (1944, p.25), os fundadores da botânica erudita. Desde a Idade Média até o século XVIII, os filósofos gregos e romanos da antiguidade, que se ocuparam das questões naturalistas, foram considerados os Pais da Botânica, alguns deles, como Hipócrates, Galeno, Dioscórides e Plínio, dedicaram-se mais à descrição e nomenclatura das plantas de seus países. “Como a botânica sempre andou ligada à medicina, não se esqueciam estes descritores de dar o maior relevo às virtudes que cada espécie vegetal possuía para a cura dos males humanos” , Miranda (1944, p. 25). O maior de todos estes naturalistas foi Aristóteles. Nenhum ramo das ciências pode deixar de o citar, tão vasta e variada era a sua erudição. (...) Quando nas Universidades medievais, surgia qualquer dúvida sobre qualquer ponto da filosofia ou da ciência, ia-se consultar a obra de Aristóteles. (...) Foi na história natural que Aristóteles mais se aproximou dos conhecimentos modernos. Fez a classificação das ciências e estabeleceu a hierarquia dos seres (MIRANDA, 1944, p. 26). Conforme Miranda (1944), nos fragmentos do livro “Teoria das plantas” de Aristóteles, encontra-se a distinção entre plantas anuais e vivazes como esboço de classificação. Na obra de Teofrasto, podemos distinguir as árvores de arbustos, de sub-arbustos e de ervas, conforme o porte, e também, plantas aquáticas de terrestres, e ainda, as de folhas persistentes das de folhas caducas. E, Dioscórides fez sua obra descrevendo aquelas de uso médico para reorientar a ciência na época, considerando apenas as de interesse curativo, sem se preocupar com aquelas vulgares. Não fez seqüência alfabética tampouco teceu planos de classificação. Como poderia uma verdadeira teoria unificada da sistemática desenvolver-se efetivamente, enquanto perdurasse o fato de que o termo “afinidade” era usado tanto para mera semelhança como para o parentesco genético, enquanto o termo “variedade” era empregado para populações geograficamente circunscritas e para variantes intrapopulacionais (indivíduos) (...) (MAYR, 1998, p.173). 48 As palavras utilizadas pelos botânicos tinham significados muito diferentes e eram usadas para variados aspectos ou formas dos vegetais. Por exemplo, lótus poderia ser uma árvore ou um arbusto, ou simplesmente uma triste erva, chegando até à nomenclatura de Lineu para dar nome à palma (Lótus corniculata L.). Plínio era considerado um discípulo continuador de Aristóteles. Em sua obra “História natural”, descreveu, em 37 livros, a ciência, dedicando 10 às plantas, comprendendo títulos do tipo as flores, a medicina e as ervas, plantas que se semeiam, árvores silvestres, plantas de bom aroma, entre outros (Miranda, 1944). Permanecendo um grande problema para os botânicos da época, confundiam–se as plantas com mesmo nome e de locais distintos com mesmo uso, faltando a compilação destes trabalhos. Na Idade Média, o interesse pela história natural declinou, mas o gosto pelo estudo das plantas despertou quando os árabes, apoderando-se do Egito, salvaram boa parte dos escritos que se perderam dos gregos e romanos em Alexandria, quando incendiada. Mais tarde, quando os árabes invadiram a Península hispânica mostraram à população da Europa que possuíam estes escritos sobre as plantas, permanecendo, estes, assim entre a humanidade. Averrohoes, árabe nascido na Espanha, traduziu e comentou as obras de Aristóteles e ministrou seus ensinamentos nas Universidades medievais. Miranda (1944) cita que a descrição de plantas milagrosas e o sentido de busca da humanidade logo progrediu novamente. Na Idade Média, a família Pólo, de Marco Pólo, fez viagens famosas e descreveu uma forma de localizar estas plantas de especiarias e cura, o que fez, em parte, despertar, na Itália, na Espanha e em Portugal, o desejo de buscar estas plantas em seus navios. As grandes expedições de portugueses e espanhóis revelaram a flora da América e do Oriente, Hernandez e Garcia da Orta foram os principais naturalistas dessas novas descobertas. Estes, ao lado de Cristóvão Colombo, apesar de serem pouco versados em história natural, tinham o espírito observador e relatavam seus conhecimentos distribuindo plantas trazidas como especiarias, temperos e 49 condimentos, tais como a pimenta, a canela, a noz-noscada, o que paulatinamente conferia status a botânica. O México, por anos, utilizou, como moeda, a semente do cacaueiro, árvore que cresce nas bacias do Amazonas. Na América, Francisco Hernandez foi o naturalista que mais nos roubou e revelou ao mundo essas riquezas. “Tão importante foi a colheita das plantas medicinais do Novo Mundo, que em sua honra se criaram, na Europa, os primeiros Jardins Botânicos da Itália, Holanda e França” (MIRANDA, 1944, p.47). As plantas que foram levadas da América Latina, como o milho, a batata, o tomate, o pastel, o pau-brasil, a goiaba, o maracujá, a manga, o abacate, a papaia, entre outras tantas, propiciaram a outros povos o aproveitamento de suas propriedades e agregação de valor econômico. No século XVI, na Europa, os naturalistas resolveram dedicar-se a observação e experimentação, como botânicos de campo, descrevendo várias espécies. Entre eles podem ser citados: Clusius - Carlos de L’Ecluse - descreveu da Espanha e de Portugal, cerca de 200 novas espécies que estão no seu livro de História das Plantas Raras; Brunfels - Othon Brunfels - estudou a flora indígena dos arredores de Estrasburgo e do Vale do Reno e escreveu a História das Plantas Indígenas, descrevendo todas aquelas que pessoalmente conheceu e as desenhou naturalmente, revolucionando os hábitos científicos da época. Na obra de Clusius, parece haver um cuidado com a taxonomia; primeiro trata de plantas arbóreas e por segundo, de plantas bulbosas e rizomatosas. “Na nomenclatura começaram os descritores a usar, para designar as plantas, as descrições curtas e precisas, com o menor número de palavras” (MIRANDA, 1944, p. 56). Foi Anguillara, no século XVI, quem iniciou essa forma, aproveitando os nomes vulgares das plantas, conservados desde o latim pela tradição popular, embora modificados pela evolução natural das línguas. Muitas centenas de plantas já eram descritas por duas palavras, tal como Lineu haveria de propor mais tarde. 50 André Cesalpino, tido como o mais notável fisiologista da época, estudou a flor entre outras partes da planta, e distinguiu algumas delas, nomeando-as. Quanto a flor, Cesalpino distingue nela uma parte principal e uma parte acessória que protege a primeira como simples invólucro. Designa os carpelos por estamina e os estames por flocci. Stamina e flocci constituem a parte principal. O invólucro protetor é o calyx, formado por folículos, uns verdes, outros corados. Às vezes, o calyx falta inteiramente (MIRANDA, 1944, p. 57). Foi ainda Cesalpino quem fez um primeiro ensaio de sistematização verdadeira, havia um número considerável de plantas descritas que, somadas às americanas, trazidas à Europa, aumentavam a todo o momento. Ele dividiu inicialmente, como os clássicos já faziam, em agrupamentos de árvores e ervas, e, depois, dentro dessas, procurou grupos mais limitados. Ele utilizava, como critério para as árvores, as sementes e os embriões destas, agrupando-as em duas classes: na 1ª, o embrião está orientado para o vértice da semente e, na 2ª, o embrião está mais próximo à haste. Quanto às ervas, dividiu-as em 15 classes, sendo a 1ª as de sementes aparentes, a 2ª as de sementes não aparentes e, aquelas, cujos frutos tinham apenas uma semente, estavam na 3ª classe. Da 4ª à 14ª classes, distinguiam-se pelo número e disposição das sementes, pelo aspecto fibroso ou bulboso da raiz e pela disposição das flores. E, por fim, na 15ª classe estavam as ervas sem frutos e sem flores. Lobelius – Matias Lobel fez a primeira tentativa de agrupamentos por famílias e percebeu que o sistema de Cesalpino, logo que pronto, não conseguia dar conta de todas as plantas já registradas. Um dos nomes propostos encontra-se até hoje em uso com adaptações pequenas – graminia- gramíneas, irides – irifiáceas e labiatae- labiatas. Conrad Gesner, outro botânico da época, propôs o gênero, após observar que plantas que tinham a mesma forma de flor e de frutos, tinham, em regra, outros órgãos em comum. Ele, então, deu sentido à correlação de características que mais tarde propiciaram base para os métodos naturais de classificação (MIRANDA, 1944). 51 Os taxonomistas do século XVII adotaram o gênero como agrupamento fundamental e, em conseqüência, a botânica torna-se acessível e popular. Neste período o microscópio é descrito cientificamente por Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723), e isto permite analisar a anatomia vegetal com maior clareza. Jean Bauhin era suíço e descreveu neste século mais de 5000 espécies de plantas, sem falar em classificação própria, dispõe seus livros em 40 volumes, separando os grupamentos de vegetais com afinidades, os quais, hoje, têm o nome de famílias. Gaspar Bauhin, irmão de Jean, foi um herborizador que procurava primeiramente catalogar as plantas de uma região delimitada. Sua Flora dos arredores de Bale serve de exemplo até hoje, para organizar a de outros estados e países. Cada espécie é designada por um nome genérico – o seu nome vulgar em latim - seguido de um ou dois atributos que a caracterizam, sem perigo de confusão. Aperfeiçoou os nomes genéricos de tal forma que foram utilizados por Tournefort e por Lineu, e o conceito de gênero galgou posições com isso. John Ray – Rajus era inglês e dedicou-se, como amador, à organização da Flora dos arredores de Cambridge e, mais tarde, a das Ilhas Britânicas, Holanda, França, Alemanha, Suíça, Itália, Sicília e Malta. “A botânica deve-lhe um sistema de classificação que é geralmente considerado como o inspirador de Tournefort” (MIRANDA, 1944, p.62). Ray dividiu as plantas em ervas e árvores, como outros já o fizeram anteriormente; essas eram “divididas em classes, conforme o seu aspecto geral e as características do fruto e da flor, principalmente da corola” (p. 63). No seu sistema, aquelas designadas por fungos (os cogumelos) eram ervas imperfeitas. Umbelíferas e Papilionáceas eram designações quanto à disposição ou forma das flores, Pomíferas, Bacíferas, Seliquosas relacionadas com os frutos. Árvores de sementes nuas, sem fruto, eram as Gimnosmonospérmicas, e aquelas a que nenhuma classe fazia alusão eram chamadas anômalas. Seu sistema era falível, confessado por ele próprio, porque se baseava exclusivamente no estudo da flor. Neste período, o estudo da morfologia dos órgãos da planta foi consagrado pelo alemão Joaquim Yung em termos adaptados por Lineu. O seu maior feito foi designar, ao contrário de Cesalpino, por stamina os estames, e por stylos os estiletes, coroados pelos estigmas. Fez, ainda, desaparecer a confusão entre fruto e semente, pois a última, na sua concepção, era envolvida por um invólucro externo. 52 Já no final do século XVII, revelou-se, na França, um dos maiores botânicos modernos, José Pitton de Tourneford, que sintetizou suas observações e de seus antecessores, selecionou doutrinas expostas, anteriormente, esclarecendo-as. Descreveu, após inúmeras viagens, um sistema de classificação das plantas pela flor. Morreu cedo e publicou o “Método de Conhecer as Plantas”, com mais de 1356 catalogadas, muitas delas desconhecidas na época. Veja o sistema esboçado na Figura 2: Figura 2: Chave do Sistema de Tournefort Fonte: Extraído de Miranda (1944, p. 68). 53 Na figura 2, entre outras coisas, encontram-se algumas famílias, até hoje conhecidas, como por exemplo, as Umbelíferas, Liliáceas, Crucíferas e Rosáseas. Outro fator importante é que os nomes de famílias ou gêneros (nomes vulgares, genéricos) de plantas surgiram na cultura popular e permaneceram até hoje, graças à tradição das populações que as utilizavam como alimento ou medicamento. Isto foi incorporado pela ciência e conferiu à Botânica um “status” de ciência acessível e popular. Sempre o povo chamou roseira a qualquer roseira, e pinheiro a qualquer espécie de pinheiro. De forma que o inventor do gênero não foi realmente nem Gesner, nem Buhin, nem Tournefort, nem Lineu, mas sim o povo, o camponês, o agricultor e o jardineiro. A ciência [adaptou] a sabedoria e bom senso do povo, e de aí resultou para ela um extraordinário benefício: inúmeras pessoas até aí alheias à botânica passaram a interessar-se pelas plantas, encarando-as sob um ponto de vista científico e aperfeiçoando os conhecimentos de ordem prática, e muitas vezes incertos, que possuíam (MIRANDA, 1944, p. 69). Essa citação aponta para um princípio fundante da ciência biológica: a organização do mundo vivo a partir da sistemática, permitindo sua consolidação enquanto ciência e saber científico, que permitisse evolução. Karl Van Linné – Lineu era sueco, nasceu em Roeshult, na Smolândia distinguiu-se dos demais naturalistas e botânicos por ter criado a nomenclatura binária para identificar as espécies, além de descrever e nomear inúmeras plantas por todo o globo. Além de criar o seu sistema de determinação, publicou obras como Sistema Naturae (1735), em que se pode conhecer o chamado “Sistema Sexual de Lineu”, que, mesmo incompleto, serviu para a época como a maior obra de taxonomia existente, e, em Genera Plantarum (1737) e Species Plantarum (1735), estabeleceu formas, nomes, classes e ordens sempre levando em consideração o sexo e o número de estames. Veja, nas figuras 3 e 4, o Sistema de Lineu. 54 Figura 3: Chave do Sistema Sexual de Lineu Fonte: Extraído de Miranda (1944, p.100) 55 Figura 4: Diagrama do Sistema Sexual de Lineu Fonte: Extraído de Miranda (1944, p.11) 56 Os sistemas de Tournefort e Lineu (figuras 2 e 3), assim como os demais ensaios anteriores, pareciam artificiais “agrupavam as plantas segundo critérios arbitrários considerando essencialmente aspectos morfológicos de fácil reconhecimento em todos os vegetais” (Carvalho, 2000, p. 12). Após Lineu, surgem os primeiros sistemas naturais, destacando-se os de Antonine Laurent de Jussieu (1748 –1836) e o de Augustin Pyrame de Condolle (1778 –1841), que tinham a pretensão de considerar os aspectos evolutivos, mas não o conseguiram porque estava em vigência o conceito inalterável de espécie. Conforme o próprio Lineu apud Papavero, “Species tot numeramus quot diversae formae in princípio sunt creatae” (1999, p. 72 - as espécies seriam enumeradas tantas quantas fossem as formas criadas a princípio por Deus). Daí originam-se os sistemas naturais modernos ou filogenéticos. A questão da origem de formas novas de organismos, levantada por Sant-Hilaire e Lamarck, teve solução definitivamente encaminhada com os trabalhos de Wallace e Darwin, de tal modo que o dogma da imutabilidade da espécie foi abandonado, sendo as afinidades entre as plantas considerada reflexo de sua evolução filogenética (CARVALHO, 2000, p.18). Desse modo, a Botânica passa a ter respaldo para construir sistemas filogenéticos, baseados nos estudos da Evolução e da Fitopaleontologia. Conforme Carvalho, “um moderno sistema de classificação, baseando-se em relações genéticas não pode prescindir dos conhecimentos oriundos da teoria da evolução, que teve o mérito de introduzir na ciência um novo modo de pensar acerca da organização das plantas” (2000, p.18). Dentre os botânicos sistematas da filogenia, destacaram-se August Wilhelm Eichler (1839-1887), Adolf Engler (1844-1930) e Arthur Cronquist com publicação oficial de 1981. Temos, ainda, autores da taxonomia moderna, como Aylthon Brandão Joly, Focko Weberling e Hans Otto Schwantes. Estes, além de criarem sistemas naturais modernos ou filogenéticos, partiram dos princípios da evolução e consideraram outros fatores, tais como a presença ou não de alcalóides e pigmentos, a biologia da dispersão das sementes, as flores, a ecologia e a fisiologia, entre outros. “Com o advento da cladística e das tecnologias de engenharia genética” (TISSOT-SQUALI, 57 2002, p. 1) os resultados de pesquisas em sistemática vegetal “trouxeram novidades na classificação dos vegetais superiores” (idem anterior), destes estudos participa além de outros o botânico da escola alemã: Judd. Os pensadores modernos da Botânica Sistemática têm muito a nos dizer. Mas, esta parte da Botânica está em discussão hoje, interessava-me revisar e entender a trajetória botânica até o presente. As discussões sobre a Botânica hoje e seu ensino estão presentes ao longo desta dissertação através da análise da Sessão de Ensino da SBB. A sistemática botânica evolui, assim como as concepções de ciência que tramitam nesta área. Em decorrência disto, os pensadores tomam parte da discussão não somente da compreensão dos sistemas de classificação, mas da botânica como um processo, no seu todo. Então, os estudos começam a apontar para discussões acerca da sobrevivência do homem e da interdependência entre planta-homem. Esses estudos não limitam as discussões em torno da sobrevida apenas, mas colocam em xeque a condição humana. 2.4 A BOTÂNICA E O PARADIGMA DAS PLANTAS A conceituação do Paradigma das Plantas, a discussão de onde ele emerge, no que se fundamenta e no que interfere, bem como os apontamentos sobre as incursões deste no ensino de Botânica, são abordados na figura 5. 58 Figura 5: Paradigma das Plantas e a relação Sociedade-Natureza Interdependência das Interações Homem-Planta Emerge da Fundamenta Paradigma das Plantas Concepções de Ensino Modifica postas em xeque Expressam-se no currículo escolar. Movimentos da Sociedade Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2003 – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. A figura 5, além de apresentar a relação entre o paradigma das plantas com os “movimentos da sociedade” como modificadores das concepções pelas quais passam o aprender e o ensinar, mostra como o currículo de botânica vem sofrendo intensas proposições da história da humanidade. Segundo Pelt (2001), a emergência da vida vegetal na sociedade decorre de cinco pilares: 1) Não se sentir envergonhado por falar das plantas; 2)Insistir sobre a noção de evolução; 3)Introduzir a noção de ecologia; 4)O lugar das plantas na alimentação e na saúde; 5) As plantas no alcance da mão. E, penso ser necessário acrescer mais um pilar: 6) A nutrição (fotossíntese) das plantas e a relação com a sobrevivência da Sociedade Humana. 59 A discussão de Pelt (2001) promove o entendimento de quão importante é a interação entre homem-planta e como podemos pensar nossa condição humana a partir dessa relação. No que se refere à botânica e ao ensino da sistemática, Pelt traz presente que: Essa identificação imediata em meio a flora é o exercício número 1 da botânica, como aliás, também a preocupação de descrevê-la por meio de uma abordagem típica do hemisfério esquerdo do cérebro. Essa abordagem, que foi adotada por nossos antepassados desde a Renascença e, sobretudo desde Lineu, encontra-se hoje condenada (PELT, 2001, p. 114). Além de condenar a botânica clássica, Pelt (2001) apresenta três abordagens para o ensino dos nomes das plantas: a “abordagem descritiva, estritamente botânica, abordagem genética, abordagem estética” (p.114). Com isso, no ensino, “o sentido da observação será assim educado ao mesmo tempo que a capacidade de maravilhar-se, pois ciências naturais também devem educar para a descoberta da beleza” (p.114). Assim, o autor, ao defender essa concepção “nova” de ensino e de Botânica produz uma teoria que busca relações interpessoais associadas à linguagem e à interlocução dos saberes, ao mesmo tempo em que procura dar ênfase às compreensões biológicas sobre a vida. Brosse (1993) é outro autor que, em seu livro “As plantas e sua magia”, discute a relação homem-planta, a partir do entendimento de que o pilar mestre da condição humana na Terra depende em primeira instância e diretamente, “do milagre da clorofila” (p. 13) e da relação de dependência nutricional dos animais pelas plantas. E, acrescenta: a fotossíntese constitui o milagre criador de onde tudo tem origem, pois ela metamorfoseia o mineral em orgânico, o inanimado em animado, o inerte em vivo; a clorofila é a fonte universal em que se abastecem todos os seres vivos (BROSSE, 1993, p.14). 60 Esse novo paradigma mexe nas formas de pensar não só as plantas no mundo em que vivemos, mas na botânica enquanto saber que pode e deve nos ajudar a compreender a vida. A História da Botânica e de seu Ensino são temas que necessitam de um cuidado especial, pois a escola não nos permite mais desconhecer a dimensão histórica para lermos o mundo de hoje. Os caminhos de uma ciência nos permitem compreender seus enlaces, encontros e desencontros e nos dão a chance de descobrir o porquê, o quê e para quem ensinamos. A base do “porquê”, penso ter constituído nesse capítulo, que também evidencia o “o quê” e o “para quem” ensino, num conteúdo disciplinar escolar que forma sujeitos conhecedores e capazes de interagir no meio. A historicidade de uma ciência nos permite vislumbrar que a taxonomia, enquanto saber botânico e conhecimento biológico, não são invenções fechadas e sim um constructo de uma representação (des)contínua, produzida por pessoas que registram os conhecimentos adquiridos e permitirão a sua progressão. Através da dimensão histórica, podemos entender o presente e modificar as aspirações futuras, de modo a esclarecer as razões do caminho adotado, por exemplo, pelos taxonomistas-professores das Universidades brasileiras, formadores de professores de Ciências e de Biologia e sócios da SBB, onde publicam suas preocupações relativas ao ensino. As concepções/tendências pedagógicas, as formas de ensino e as teorias que este ensino produziu, são construções ligadas intrinsecamente à produção da disciplina de Botânica, ao longo de sua história, e, estão apresentadas no terceiro capítulo dessa dissertação. Os pressupostos já apresentados neste capítulo afirmam que o caminho percorrido pela Botânica, ao longo de sua trajetória, sustentou e vem sustentando o pensamento (concepção) mecanicista como sendo dominante e ainda vigente, mas não como única. Nesse sentido, torna-se indispensável analisar o currículo formador e conhecer as muitas e diferentes formas de ensino de Botânica, como um saber que reflete inúmeros momentos de mudanças. 61 ____________ NOTAS * Karl Van Linné é o nome completo de Lineu, Lineu será a forma usada sempre que mencionarmos este sistemata. Tradução da citação: “A filogenia tece o sistema da botânica, sem o qual brota o caos”. 1 Vertentes é o termo utilizado em referência ao nascimento, surgimento de uma história, diz-se do seu início. 2 Sistemática, segundo Schultz (1991), é o estudo da Identificação dos seres vivos. 62 CAPÍTULO 3: A SOCIEDADE BOTÂNICA DO BRASIL COMO ESPAÇO DE PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO NO ENSINO DE BOTÂNICA DO BRASIL A pesquisa documental permitiu-me leituras acerca da Sociedade Botânica do Brasil enquanto espaço de produção de ensino em Botânica, a partir de suas publicações. Entender a SBB como um tempo-espaço de produção de significados e de currículo facilitou a compreensão de meu problema de pesquisa, à medida que este deixava de ser uma reação rançosa com os processos de identificação e passava a ser uma possibilidade de compreender o ensino-aprendizagem e currículo esboçado. A SBB congrega os Botânicos brasileiros e está dividida em Sessões. A de maior relevância e com maior número de trabalhos publicados conforme Barradas & Nogueira (2000), é a Sessão de Sistemática das Fanerógamas 1, em que os autores publicam trabalhos acerca de como se identificam essas plantas. No entanto, após o ano de 1982, com a criação da Sessão de Ensino, as preocupações sobre como ensinar a identificação das plantas torna-se acentuada. A cada ano, cresce o número de trabalhos apresentados nesta sessão (quadro 4), e o Ensino da Botânica inicia uma trajetória paralela ao estudo da identificação das plantas : a Taxionomia 2. Então a SBB existe não somente como sociedade científica mas, sim, como um espaço de discussão e produção de significado a cerca do processo de ensinar e aprender Botânica no currículo das Licenciaturas de Ciências e Biologia. A análise da SBB se deu a partir dos trabalhos apresentados e publicados de 1982 até 2001, nos livros de resumos dos CNB, dos quais foram analisados, conforme o quadro 4, 44 trabalhos. 63 Quadro 4 – Distribuição dos Trabalhos da Sessão de Ensino da Botânica dos Congressos Nacionais de Botânica de 1982 até 2001, apresentados e analisados. Ano Total de 1982 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Trabalhos Categorização N° de trabalhos apresentados N° de trabalhos analisados pela investigação 03 12 06 09 10 10 22 24 96 02 03 02 02 06 04 12 13 44 Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2002 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. No quadro 4, pode-se verificar, nitidamente, o número reduzido de trabalhos expostos até o ano de 1999 e os estudos sobre o ensino de Botânica até 2001 confundem-se com outros temas, como anatomia, fisiologia e educação ambiental, conforme Nogueira (2000). Após 1999, as temáticas deixam de analisar o ensinar-aprender enquanto processo, preocupando-se mais com a produção de metodologias diferenciadas de ensino. A partir da leitura dos resumos e da análise inicial do conteúdo, tratei de organizá-los em um quadro que sistematizasse a descrição sumária de cada trabalho, servindo como um direcionamento posterior. Essas descrições facilitaram as categorizações, uma vez que sintetizam as idéias essenciais retiradas de cada um dos trabalhos. No quadro 5, apresento os títulos dos trabalhos considerados, o ano, as instituições de origem das publicações, o nível de ensino abordado e uma descrição breve de cada um deles. 64 65 66 67 68 69 70 3.1 AS CONCEPÇÕES DE ENSINO PRESENTES NA SBB Nesses trabalhos, percebeu-se que a Botânica se inscreve em diferentes contextos, e, que a trajetória da SBB influenciou os caminhos do seu ensino desde a sua criação (1950) até os dias de hoje. Da mesma forma, a análise dos resumos mostrou que esse ensino tem sofrido modificações nas concepções que o perpassam, evoluindo desde uma abordagem mecanicista, passando pela adoção de um caminho interdisciplinar, até os ensaios numa perspectiva histórico-cultural (quadro 6). No entanto, pode-se afirmar que não há uma proposta pedagógica única embasando de forma clara os processos de ensino-aprendizagem para a botânica sistemática. Os relatos dos resumos referem-se a escolas de educação básica e de ensino superior. A proposta pedagógica, referida neste parágrafo, é uma teoria que sustente as formas de ensino descritas e/ou as pesquisas que foram analisadas, pois, ao mesmo tempo que mostram correlação com uma concepção de ensino, não se afirmam como resultantes do estudo e aplicação desta concepção. As escolas nas quais se inserem as pesquisas analisadas, por certo, têm uma proposta em particular, mas estas não ficam claras nos resumos analisados. Quadro 6 – Concepções de Ensino presentes na SBB e Temáticas apresentadas nos trabalhos de 1982 até 2001 Ano 1982 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Temática * Nº Base Curricular para competência Concepção de ensino Interdisciplinar Políticas de ensino Interdisciplinar 01 Metodologias de Ensino - Diagnóstico do ensino superior de botânica Mecanicista Interdisciplinar 02 01 Mecanicista Mecanicista 01 01 - O ensino e paradigma mecanicista - Técnicas e Instrumentos de ensino - Abordagem em Projeto Histórico-cultural Mecanicista Interdisciplinar 01 06 01 - Técnicas e Instrumentos de ensino Mecanicista 02 - O componente vegetal na aprendizagem - Metodologias de Ensino Histórico-cultural Mecanicista 01 05 - O significado e a aprendizagem Histórico-cultural 01 Mecanicista 05 - Metodologias de Ensino - Metodologias de Ensino - Técnicas e Instrumentos de ensino 02 71 2001 - Diagnóstico do Ensino - Técnicas e Instrumentos de ensino - Metodologias de Ensino - Ensino de botânica e currículo Interdisciplinar Mecanicista 01 08 Mecanicista 04 Histórico-cultural 01 Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2002 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. * N°: Número de trabalhos categorizados na temática A partir das temáticas analisadas, no quadro 6, dos 44 trabalhos, observa-se que a concepção Mecanicista está presente em 77,27% deles, a concepção Interdisciplinar em 13,63%, enquanto que a Histórico-cultural apenas mostra sua face em 9,09% dos trabalhos. No Brasil, a Botânica tem uma constituição como saber do povo (popular) anterior ao seu desenvolvimento científico, passando, inicialmente, pela criação de Jardins Botânicos e Herbários, e depois, ao lado da Química nas Escolas de Agronomia. A formação botânica restringia-se, inicialmente, as áreas agronômica, farmacêutica e médica. Somente mais tarde, a Biologia constituiu-se como uma ciência, em que a botânica se inscreve. Isso permitiu que o seu ensino fosse também impregnado dessas formas de fazer ciência, uma abordagem mecanicista passou a imperar por muitos anos nessa disciplina, cujas conseqüências estão presentes até hoje. Marques (1993) descreve que a forma mecanicista de pensar tornou o ensino tradicional, clássico e regrado em demasia. Como se evidencia no ensino de Botânica, em que um único instrumento de aprendizagem, a chave analítica de famílias, é usado em todas as escolas desde o ensino fundamental até o superior. O modo mecanicista de ensinar foi estudado na própria sessão de ensino, no ano de 1997, a partir do trabalho intitulado “O ensino de botânica e o viés do paradigma mecanicista”, que enfoca um ensino preso à classificação/descrição com técnicas únicas de identificação de vegetais. Assim, podemos verificar que essa forma, baseada na racionalidade técnica, vem sendo utilizada e ao mesmo tempo questionada nas próprias publicações da área. 72 As concepções de ensino na disciplina de Botânica, além de absorver diferentes influências da ciência vigente, assumiram, na sua trajetória, uma postura de adotar o discurso pedagógico vigente, como por exemplo, a interdisciplinaridade (RIBEIRO, 1999) que está presente de forma marcante nesses trabalhos da SBB. No trabalho “Programa de Ensino do projeto flora fanerogâmica do estado de São Paulo. Uma experiência na cidade de São Carlos” (CNB, 1999), podemos vislumbrar, com muita facilidade, o viés da interdisciplinaridade. Este documento descreve a prática de um grupo de professores que introduz conceitos botânicos, faz visitações, atividades musicais, trabalhando com a consciência ambiental e ação antrópica no meio, e ainda, resgata valores étnicos, envolvendo todas as disciplinas e docentes da escola. Encontramos uma outra linha de pensamento, ainda que tênue, a abordagem histórico-cultural, em que o ensino passa de simples técnicas, metodologias ou didáticas de ensinar e começa a pensar como a botânica pode partir do real cotidiano de cada escola para construir o conhecimento científico. Essa concepção está baseada na teoria de Vigotski, alicerçada na constituição do sujeito e dos saberes através da relação com o outro (outros sujeitos), mediatizados pela linguagem (VIGOSTKI, 2001, 1991). Para notarmos como essa teoria passa a embasar algumas práticas pedagógicas, o trabalho “Os significados das atividades de campo no aprendizado de botânica: Uma experiência em Santos” (CNB, 2000), consegue através de uma prática calcada na análise de concepções da práxis e teoria do educador, descrever como os educandos desenvolvem o pensamento, apresentando concepções reais e críticas, frente ao ensino atual. As concepções trazidas não são as únicas possíveis, mas sim as que foram analisadas e estão presentes, ainda hoje, nas publicações, cujas bases teóricas seguem um movimento próprio que perpassa a formação dos sujeitos autores desses textos. Por isso, no quadro 6, pode-se notar perfeitamente esse movimento. 73 O ensino da Botânica, nos resumos analisados, inscreve-se em diferentes contextos, caracterizando-se mais acentuadamente numa perspectiva positivista e disciplinar, sem acolher as múltiplas vozes que o constituem. Por outro lado, tornouse significativo no que se refere à identificação das plantas, mostrando que, mesmo numa perspectiva disciplinar, ocorreu ensino e aprendizagem. 3.2 O CURRÍCULO QUE ENSINA E APRENDE BOTÂNICA NO BRASIL A PARTIR DA SBB 3.2.1 UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS TEORIAS DO CURRÍCULO Assim, para entrar no nosso tema, uma teoria do currículo começaria por supor que existe, “lá fora”, esperando para ser descoberta, descrita e explicada, uma coisa chamada “currículo”. O currículo seria um objeto que precederia a teoria, a qual só entraria em cena para descobrí-lo, descrevê-lo, explicá-lo (SILVA, 2001, p.11). As teorias do currículo não podem ser utilizadas para explicitação de uma análise, sem que possamos compreender a dimensão histórica e social sob a qual se constrói um currículo. No decorrer deste estudo acerca, das concepções de currículo, acredito poder estar compreendendo como ele está posto, se faz e se articula enquanto documento e identidade da “escola”. A questão central que serve de pano de fundo para qualquer teoria do currículo é a de saber qual conhecimento deve ser ensinado. De uma forma mais sintética a questão central é: o quê? Para responder a essa questão, as diferentes teorias podem recorrer a discussões sobre a natureza humana, sobre a natureza da aprendizagem ou sobre a natureza do conhecimento, da cultura e da sociedade. As diferentes teorias se diferenciam, inclusive, pela diferente ênfase que dão a esses elementos. Ao final, entretanto, elas têm que voltar à questão básica: o que eles ou elas devem saber? Qual conhecimento ou saber é considerado importante ou válido ou essencial para merecer ser considerado parte do currículo? (SILVA, 2001, p.14). Tomaz Tadeu da Silva (2001) estudou e apresentou as teorias do currículo à escola, suas bases, seus fundamentos e sua dimensão histórica. Por isso, recorri a ele para fazer esta análise da dimensão curricular que perpassa a SBB. Em seus relatos, cita três correntes teóricas de currículo: as tradicionais, as críticas e as póscríticas, escritas do ponto de vista de sua articulação. O autor menciona, ainda, 74 como a sociedade reflete no currículo o tipo de homem a formar e, com que modelo se molda este esteriótipo ditado pelo social. É precisamente a questão do poder que vai separar as concepções tradicionais das concepções críticas e pós-críticas do currículo. As concepções tradicionais pretendem ser apenas isso: “teorias” neutras, científicas, desinteressadas. As concepções críticas e as concepções póscríticas, em contraste, argumentam que nenhuma concepção é neutra, científica ou desinteressada, mas que está, inevitavelmente, implicada em relações de poder (p.16). Nas teorias tradicionais, o conhecimento dominante concentra a questão do quê ensinar e como, preocupadas com um modelo administrativo, advindo do processo industrial, tornando o ensino clássico e tradicional. A inspiração para esse modelo curricular é Taylor e sua administração científica, segundo Silva (2001). A preocupação central dessa teoria é a organização. As teorias críticas e pós-críticas, por sua vez, não se limitam em perguntar “o quê?”, mas submetem este “que” a um constante questionamento. Sua questão central seria, pois, não tanto “o quê?”, mas “por quê?”. Por que esse conhecimento e não outro? Quais interesses fazem com que esse conhecimento e não outro esteja no currículo? Por que privilegiar um determinado tipo de identidade ou subjetividade e não outro? As teorias críticas e pós-críticas de currículo estão preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder (SILVA, 2001, p.16). As teorias pós-tradicionais vão além de o que ensinar e questionam-se sobre a política, as crenças, o gênero, o saber ser, enfim, passam de simples reprodutoras de um modelo para desconfiadoras da verdade posta. A grande marca diferencial das teorias críticas de currículo é a crítica ao currículo reprodutivista e tradicional, e, é assim que peca, por vezes, em fazer a crítica pela crítica, ou seja, analisa o currículo dominante, contrapõe-se a ele e torna a apenas criticá-lo, não concebe nem propõe como suas implicações podem ser reestruturadas em novo currículo. A tendência curricular crítica no Brasil é descrita, por Moreira (1995), como sendo baseada na pedagogia crítico-social dos conteúdos, rebatendo a escolanovista que deixou para trás os conteúdos, resgatando a sua valorização. 75 Então, entende-se que as teorias críticas de currículo possuem uma proposta clara e séria em contraposição às já postas. Como as categorias de política e ideologia são predominantes nestas teorias, o significado e a produção real de conceitos foram aprimorando discussões e entendimentos sobre o ensino e a crítica à linguagem da própria crítica e da possibilidade. A teoria crítica, segundo Moreira (2001), concordando com McLaren (1997) e Sacristán (2000), usa de suas categorias para analisar, também, a ação humana na produção e reprodução de significados, estuda as suas massificações e se contrapõe a elas. Como vimos, uma teoria define-se pelos conceitos que utiliza para conceber a “realidade”. Os conceitos de uma teoria dirigem nossa atenção para certas coisas que sem eles não “veríamos”. Os conceitos de uma teoria organizam e estruturam nossa forma de ver a “realidade” (SILVA, 2001, p. 18). No que tange às teorias pós-criticas do currículo, a discussão centra-se nos conceitos de identidade, subjetividade, significado, cultura e gênero, entre outros, de forma a explicitar que, para se estudar um currículo, temos de compreender de fato que os sujeitos constituintes é que permitem conhecê-lo, pois este é feito de documento de identidade forjados por gente que faz e muda a história, no seu tempo. O quadro 7 elenca as categorias de currículo apresentadas por Silva (2001) e que fundamentaram as análises realizadas. Quadro 7- Categorias conceituais de currículo, segundo Silva (2001) Teorias Tradicionais Teorias Críticas Teorias Pós-Críticas Ensino Ideologia Identidade, alteridade, diferença Aprendizagem Reprodução cultural e Subjetividade social Avaliação Poder Significação e discurso Metodologia Classe social Saber-poder Didática Capitalismo Representação 76 Organização Relações sociais de Cultura produção Planejamento Conscientização Gênero, raça, etnia, sexualidade Eficiência Emancipação e libertação Objetivos Currículo oculto Multiculturalismo Resistência Fonte: Adaptado de Silva (2001). 3.2.2 O CURRÍCULO E O ENSINO DE BIOLOGIA A questão do currículo de Botânica é apontada, dentro dos estudos da Biologia e de Ciências, por Krasilchick (1987), Carvalho & Gil-Pérez (2000), Soncini (1992), como indispensável de ser repensada e compreendida na sua representação social e funcional, enquanto conhecimento científico que perpassa a escola. No PCN de Ciências Naturais, “utilizar características e propriedades de materiais, objetos, seres vivos para elaborar classificações” (v. 4, p.64), manifesta claramente a presença e a importância da taxonomia desde o primeiro ciclo, pois a nomeação, ou seja, a identificação dos seres vivos é que permite conhecê-los. Discutir o currículo formador de professores de Biologia e Ciências, no que tange à Botânica tem seu aporte no entendimento de que a formação inicial é determinadora dos sujeitosprofessores, constituindo-se um campo urgente de investigação. Nesse sentido, segundo Gil-Pérez & Carvalho (2000), temos de adquirir conhecimentos que fundamentem as propostas construtivas, tais como: A- reconhecer a existência de concepções espontâneas(e sua origem) difíceis de ser substituídas por conhecimentos científicos, senão mediante uma mudança conceitual e metodológica. B- saber que os alunos aprendem significativamente construindo conhecimentos, o que exige aproximar a aprendizagem das Ciências às características do trabalho científico. C- saber que os conhecimentos são respostas a questões, o que implica propor aprendizagem a partir de situações problemáticas de interesse para os alunos. D- conhecer o caráter social da construção de conhecimentos científicos e saber organizar aprendizagem de forma conseqüente. E- conhecer a importância que possuem, na aprendizagem das Ciências - isto é, na construção dos conceitos científicos -, o ambiente da sala de aula e o 77 das escolas, as expectativas do professor, seu compromisso pessoal com o progresso dos alunos, etc (GIL-PÉREZ & CARVALHO, 2000. p.32). As propostas de Gil-Pérez & Carvalho mostram claramente uma preocupação com os fatores sociais, aproximando-se de uma base teórica interacionista, que trabalha na perspectiva da produção de conceitos a partir do conhecimento préviocotidiano do educando. Evidenciando a necessidade de uma readequação do ensino de Ciências, o trabalho de KRASILCHIK (1994) indica como um problema: a “ - memorização; - falta de vínculo com a realidade”, e, como fatores que o influenciam negativamente, “a preparação deficiente dos professores e os guias e livros inadequados e de má qualidade”, e como condições para a sua melhoria, os “programas de aperfeiçoamento para professores”, deixando claro que existem problemas que nos remetem a sua formação inicial. Pode-se assegurar, com isso, que o currículo formador deve ser, no mínimo, repensado, de forma a se encontrar consoante com a realidade de hoje e dando conta dos problemas já mencionados ou notando sua presença. Soncini (1992) trata da formação inicial de professores de Ciências Biológicas, e, vislumbra cinco aspectos importantes para que essa área participe do núcleo comum de disciplinas no Ensino Médio, constatando, assim que: - - - - cada área do conhecimento possui um código intrínseco, uma lógica interna. Por isso, cada uma delas atua de forma específica na construção e no desenvolvimento do pensamento; o ensino de biologia, como as demais áreas do conhecimento, possibilita a contraposição entre o místico e o científico nas explicações dos fenômenos naturais (...), sendo uma de suas características a possibilidade de ser questionada e de se transformar; compreender o mundo e tentar superar problemas constituem características da espécie humana. A curiosidade e a necessidade são dois grandes móveis, que nos fazem caminhar em busca do conhecimento. A biologia faz parte do conhecimento e os fenômenos são objeto de interesse dos indivíduos desde que iniciam a sua exploração do mundo. Cabe à escola assegurar que esse interesse subsista. ser importante compreender que a vida se manifesta de formas diversas (reinos: vírus, monera, protista, fungos, vegetais e animais), relacionadas entre si e com o meio; que todas essas formas estão sujeitas a transformações que ocorrem no tempo e no espaço; que tais transformações são fruto das interações entre organismo e ambiente, podendo ou não ser causa de novas formas de interação; 78 - questões polêmicas como as que dizem respeito ao impacto ambiental – uso de inseticidas na agricultura, erradicação de moléstias, utilização de aditivos alimentares, desmatamento, biotecnologia e tantas outras – só podem ser julgadas e devidamente encaminhadas se tivermos conhecimento sobre a dinâmica dos ecossistemas, dos organismos, enfim sobre o modo como a natureza se comporta e como a vida se processa. (SONCINI, 1992. p. 21) Soncini (1992) demonstra intensa preocupação com os códigos próprios de cada componente do ensino e com a sua valorização como conhecimento científico e enquanto conceitos constituintes do conteúdo escolar. A autora ainda considera a articulação dos conteúdos, “de tal forma que os alunos compreendam que o fenômeno vida se caracteriza por um conjunto de processos organizados e integrados, quer ao nível de indivíduo, quer ao nível de organismos no ambiente” (SONCINI, 1992. p. 23) e “que o conhecimento vem sendo construído historicamente” (p. 24), pois a ciência é dinâmica e evolutiva, em conseqüência das investigações constantes. O ensino de Biologia tem preocupações que vão para além do aprender as interações com o ambiente natural, deve atentar para que o ambiente social e o natural sejam considerados de forma integrada e interdependente. Portanto, aprender e ensinar Ciências, Biologia e, por sua vez, Botânica pressupõe a aquisição constitutiva de um corpus teórico que tem exigências, segundo GILPÉREZ & CARVALHO (2000, p. 37), para além de “recursos ou estilos de ensino”, como em qualquer outro domínio científico. Lopes (2002) chama atenção para a concepção positivista da Biologia como sendo parte do currículo de Ciências e discute como os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM – Brasil, 1999) adotam a categoria interdisciplinar para apontar a necessidade de uma integração curricular. E, reintera, ainda, a discussão acerca da padronização e constituição curricular nacional única que preocupa em todos os níveis de ensino. Essas dimensões teóricas da área específica leva-nos a crer que o ensino da Biologia, em especial da Botânica, merecem uma atenção especial que permita repensar o que, como e porque ensinamos, sem nos descuidar de para quem e com quem ensinamos e aprendemos. 79 3.2.3 AS CATEGORIAS DE CURRÍCULO E O ENSINO DE BOTÂNICA NO BRASIL O esboço curricular em que vislumbro a Botânica e seu ensino pode ser melhor compreendido a partir da leitura da quadro 8, que expõe as categorias empíricas emergidas da análise e seu processo de identificação. As categorias empíricas foram constituídas a partir da leitura dos resumos, marcação de temáticas e definição das palavras ou expressões chaves. O quadro 8 consta da construção das categorias empíricas através da análise de conteúdo do discurso presente nos resumos publicados nos anais dos Congressos Nacionais de Botânica - Sessão de Ensino, de 1982 até 2001. Quadro 8 - Construção das Categorias empíricas encontradas nos trabalhos da Sessão de Ensino dos CNBs, de 1982 até 2001 Categorias empíricas Texto encontradas Ano Trabalhos (Unidade Temática) A “adoção dos princípios do movimento que , no Competências 1982 A 1 Brasil denomina-se Ensino para Competência” e a “elaboração das competências a partir das recomendações de BLOOM ( domínios e níveis , na taxonomia de objetivos ) e POPHAM ( regras para elaboração de objetivos )”. A2 A “estruturação do currículo em Botânica , a Proposta curricular partir dos axiomas que norteiam o movimento Competência denominado Ensino para Competência”, o “levantamento de sugestões relativas a forma de dinamizar um currículo para competência em Botânica , visando a eficiência e a eficácia dos resultados” e a “validação de , aproximadamente 1.300 competências”. “A resposta às inúmeras indagações depende da política no ensino 1995 A 3 concentração de esforços em uma nova política para ensino de Botânica.” “Hoje, já atingindo as metas propostas, esse Jardim didático A4 jardim viabiliza os objetivos práticos dos conteúdos programáticos de diversas disciplinas de vários cursos da UFRJ.” 80 A5 1996 A 6 A7 1997 A 8 A9 1998 A 10 A 11 “Portanto, a elaboração de um Atlas de Botânica como material didático-pedagógico nas aulas de laboratório mostra que a realização de trabalhos práticos é necessária ao desenvolvimento de habilidades fundamentais.” “Poucos são os trabalhos de investigação didática sobre o ensino superior no Brasil. Na área de Botânica, especificamente, uma discussão mais aprofundada sobre a prática pedagógica dos docentes somente se instaurou no último Congresso Nacional de Botânica (Ribeirão Preto, 1995) com a criação de uma seção temática específica.” “A diversidade morfológica existente define o Parque Florístico como uma escola prática de Botânica para taxonômistas e é capaz de despertar o interesse do público visitante.” “Nesta área, podem-se desenvolver diversos tipos de atividades através do planejamento de trilhas interpretativas que permitam a visitação dos alunos e professores e a aplicação de metodologia de ensino com ênfase às atividades práticas.” “Por meio de pesquisa qualitativas que se valeu de técnicas multivariadas para a obtenção de dados o trabalho evidencia a permanência de um naturalismo marcado pelo que os autores têm denominado a ‘aparente inutilidade das Ciências Naturais’.” “Igualmente o levantamento da composição florística e da estrutura este remanescente e a análise da morfologia externa e interna da espécies presentes constituem-se em valiosos instrumentos para o ensino das disciplinas de Sistemática Vegetal” “ Foi estabelecido um projeto de atividades conjuntas a serem desenvolvidas entre professores e alunos da UniABC-Universidade do Grande ABC e professores e alunos do Colégio Barão de Mauá. Dentre as atividades foi montado um grupo de alunos de 5ª à 8ª séries, que acompanhados por professores e estudantes de Biologia da UniABC, realizaram visitas periódicas a um parque situado no município de Mauá” trabalho individual Diagnóstico Passeando botânico - jardim utilização dos recursos naturais Ensino - paradigma herbário - proposta de melhoria Aprendizado botânica de 81 A 12 A 13 A 14 A 15 1999 A 16 A 17 A 18 A 19 2000 A 20 “Com os objetivos de aprimorar o ensino de Botânica no Curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Formação de Professores e de fazer o levantamento da flora e seus recursos das regiões próximas ao Campus ou que tem sofrido fortes ações antrópicas, são desenvolvidas atividades de coleta, observação de campo, herborização, cadastramento de espécies e manutenção do herbário.” Foi desenvolvido um “treinamento dos professores de Ciências” Oferecido aos “professores das Escolas de 1º grau, cursos de preparação de material botânico, visando habilitar os professores de Ciências em técnicas de coleta, preparação e conservação de espécies vegetais para fins didáticos.” “Substitui-se os métodos tradicionais de ensino e de avaliação por um processo dinâmico e mais eficiente, considerando o aluno como objeto central do processo de aprendizagem.” Uma parte do relato nos mostra que “O terceiro instrumento foi um questionário com os seguintes enfoques: conhecimento de Botânica, conhecimento do espaço circundante, resolução de problemas e atitudes, habilidades e posturas.” “Contribuir para a melhoria da qualidade de ensino prático das aulas de Botânica nas escolas públicas” “o conhecimento sobre plantas medicinais e motivar os alunos a estudarem Botânica, o jardim Botânico e a Escola Santo Tomás de Aquino desenvolveram um projeto” “Adotando o estudo de caso como metodologia, envolvendo reflexões no interior da Escola com professores, alunos e o livro didático,” que “embora questionado, é legitimado pelos professores como instrumento que lhe possibilita desenvolver o trabalho docente. Alunos e professores manifestaram insatisfações com o resultados do trabalho no cotidiano da Escola.” E a “elaboração de propostas de ensino e de currículo sobre o ensino de Botânica. Adotando o estudo da flora regional e as respectivas potencialidades.” “A análise de materiais produzidos pelos alunos ao final de cada atividade permitiu a identificação de aspectos relativos à dinâmica da ciência que se mostraram marcantes para a população escolar, tais como: linguagem, técnicas de trabalho, espaços e tecnologia empregados na prática aprimoramento do ensino herbário didático ensino de botânica professores material botânico ensino oficinas - ensino programa de Ensino ensino prático botânica jardim escola botânico de – componente vegetal Ensino – aprendizagem metodologias ensino para o 82 A 21 A 22 A 23 A 24 A 25 A 26 A 27 A 28 A 29 científica.” “Ficou evidente que esse projeto não abrangeu somente a Botânica, do ponto de vista específico, mas sim todos os aspectos ligados a ela, influenciando no comportamento e na capacidade de pensar do aluno. Isto possibilitou trabalhar com temas extraídos dos espaços da vida cotidiana dos alunos, desenvolvendo-se uma capacidade crítica e concepções mais realistas.” Uma “estratégia alternativa de ensino facilita a compreensão do aprendiz sobre diversas áreas da botânica, uma vez que, apresenta uma linguagem mais acessível e ilustrações didáticas: A cartilha.” “No momento, o acervo consta de 300 exsicatas de plantas de interesse econômico, com ênfase às medicinais, e 100 amostras de sementes, sendo utilizadas sistematicamente como recurso didático para pesquisas escolares. “Com base nas informações obtidas, formulou-se roteiros específicos para o curso de morfologia vegetal e de sistemática vegetal, visando o diagnóstico das estruturas externas e a identificação das famílias.” “Pudemos observar que após a aplicação das técnicas, os alunos demonstraram mais interesse em participar das aulas, e suas notas aumentaram significativamente, surpreendendo até mesmo os próprios professores da disciplina.” “O Colégio da aplicação da UERJ a partir de 1999 oferece anualmente um urso para a organização de coleções e treinamento na coleta, herborização e montagem de exsicatas para a implantação de um Herbário Didático na escola e confecção de material didático.” “Após sistematização das atividades, foram elaborados roteiros que foram reavaliados no segundo momento, e, em seguida algumas atividades foram desenvolvidas pelos alunos nas escolas.” “Dentro desse contexto, foi desenvolvido nas escolas Públicas de Ensino Fundamental e Médio, localizadas nas proximidades do Campus I, em João Pessoa, Paraíba, um projeto direcionado para professores de Botânica, dando-se ênfase a utilização da flora existente nos arredores das escolas selecionadas, como instrumento de ensino nas aulas praticas de Botânica.” “Visando destacar o pau-brasil, Caesalpinia echinata Lam., Leguminosae, por ocasião das significado atividades aprendizado botânica das de ensinando botânica cartilhas herbário didático Modelo de curso prático - sistemática vegetal aplicação práticas - aulas coleta, montagem, organização - coleções – aplicações - ensino roteiros de atividades dinâmica do ensino Dramatização facilitador interativo – 83 A 30 A 31 2001 A 32 A 33 A 34 A 35 A 36 comemorações dos 500 anos do Brasil, o desmatamento gradativo da Mata atlântica e alternativas de manejo para o bioma, foi utilizada a dramatização como recurso ao aprendizado.” “Neste contexto de mudanças na educação, a avaliação da aprendizagem também está em questionamento como importante instrumento delineador dos novos profissionais.” “O herbário tem como objetivos: aperfeiçoar alunos em técnicas usuais de rotina de herbário, conhecer os aspectos botânicos da flora belenese, principalmente aquele de interesse humanitário, econômico, cultural miístico-religioso e contribuir com material didático para o ensino fundamental e médio da escola e da rede municipal.” “Seguindo a tendência cognitivista do “aprender fazendo”, a aula prática conquistou gradualmente lugar de importância nas escolas. Uma visão mais ampla de aula prática transcende o espaço escolar para alcançar ambientes não formais como Jardins e Parques.” “O projeto consiste na produção de materiais didáticos (jogos, cartilhas, roteiros e modelos tridimensionais) relativos à Botânica, principalmente os tema mais complexos ou de difícil entendimento pela maioria dos alunos de ensino médio e de graduação. Cada bolsista desenvolve um sub-projeto, de acordo com suas aptidões e / ou interesses.” “A presente proposta foi idealizada visando incentivar o aprendizado da Botânica e da Ecologia em graduandos de Biologia produzindo, ao mesmo tempo, material didático para professores do ensino médio e fundamental utilizarem em aulas.” “Os materiais didáticos são ferramentas facilitadoras e estimuladoras da aprendizagem, aproximando o aluno da realidade e do conhecimento que se deseja ensinar. Em situações em que o contato com a realidade é difícil, substituem-na e auxiliam o professor no desenvolvimento da aula...foi idealizada a produção de um vídeo com as principais etapas de um trabalho de campo em uma unidade de conservação no Estado do Rio de Janeiro.” “O presente estudo proporcionou também uma oportunidade de treinamento aos estagiários em técnicas de coleta, herborização e identificação de plantas, além do estudo de diferentes aspectos ligados a plantas ornamentais (técnicas de cultivo, Avaliação -instrumento herbário didático aula prática mediadora – laboratório de ensino sítio aprimoramento do ensino - produção de material didático para professores vídeo - material didático jardins e canteiros – estudo sistemático 84 adubação, entre outros).” A 37 A 38 A 39 A 40 “Novas propostas, no entanto, foram surgindo e incorporadas ao projeto. Além da produção de material didático, estão sendo realizados estudos das plantas ornamentais do Campus Centra; levantamento florístico em áreas de preservação do Campus Nova Lima; e estudos em plantas medicinais.” “Atendendo a um dos objetivos do Programa de Ensino do Projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, foi elaborado material didático a partir de atividades conjuntas desenvolvidas no entorno da EMEF Padre Francisco Silva e num fragmento de floresta estacional semidecídua, em Campinas. Participam dessas atividades, professores, estagiários, e pesquisadores da UNICAMP e IAC.” “O desenvolvimento do currículo a partir do reconhecimento e do contato com o entorno da escola, através dos diferentes olhares das disciplinas envolvidas, foi altamente significativo para os alunos e professores. Buscou-se também aproximar a comunidade escolar dos professores de produção do conhecimento científico, através de visitas estruturadas às instituições de pesquisa envolvidas e a um fragmento de floresta estacional semidecídua. Conclui-se que são condições indispensáveis para a realização de projetos dessa natureza: que o professor desenvolva uma postura investigativa, refletindo sobre a sua prática pedagógica; que os professores tenham espaço e horário para reuniões semanais de avaliação e planejamento conjunto; que a direção da escola estimule/permita projetos inovadores e que a comunidade acadêmica reconheça a importância da interação com o ensino básico público; que a reconstrução curricular resulte do intercâmbio de conhecimentos de vários campos, como experiências dos alunos, saberes dos professores, pesquisa e produção da ciência, etc.” “Foram coletados, preparados e adaptados diversos tipos de : raízes, caules, folhas, flores, frutos e sementes de Angiospermas representativas da flora regional bem como, exemplares de Pteridófitas, Briófitas e Algas, trabalhados com quatorze (14) módulos. Modelos didáticos, textos e cartazes foram confeccionados como recursos auxiliares e de ensino.” proposta científica didático- produção e uso material didático de espaços de produção do ensino - experiência curricular materiais botânicos – instrumentos 85 “Diante dessa necessidade desenvolveu-se a identificação dos presente pesquisa que teve como objetivo interesses de alunos identificar as experiências e interpretações dos alunos que visitaram o Jardim Botânico da FZBBH. Foram entrevistados 39 alunos de uma escola de Belo Horizonte com idade entre 6 e 7 anos (22 do sexo feminino e 17 do sexo masculino).” A criação de cartilhas, como material didático, cartilha no ensino A 42 visando o ensino da botânica, faz parte do projeto de extensão “Estudo da vegetação do vale do Jequitinhonha num processo de ensino, pesquisa e extensão” desenvolvido pela UFMG. “Muito se tem falado sobre o papel da internet e recursos da internet A 43 suas potencialidades nas diversas áreas do proposta - educação conhecimento, em particular na educação”. “Os interativa diversos recursos utilizados visam explorar o alcance e o sucesso da grande rede, principalmente entre pesquisadores e adolescentes. É uma forma rápida, dinâmica e econômica de disponibilizar informações, permitindo, ainda, um auto grau de interatividade por parte dos visitantes.” “O emprego de audiovisuais através de produção de A 44 dispositivos é comumente utilizado em palestras e audiovisual centros acadêmicos nas diversas áreas do conhecimento, sendo pouco difundido nos ensinos fundamental e médio.” “O audiovisual visa auxiliar na construção do conhecimento do conteúdo de forma prática ligada ao cotidiano, além de constituir-se numa maneira prazerosa de aprendizagem.” Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2003 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. A 41 A partir do quadro 8, o trabalho de construção das categorias de análise torna claro o processo de que decorre tal categorização. A unidade de texto é extraída dos fragmentos que descrevem cada trabalho em sua essência identificando suas idéias principais. Essa unidade, então, chamada categoria de currículo empírica será utilizada para identificação das categorias de análise que foram lidas a partir de Silva (2001). O quadro 9 relaciona as categorias empíricas encontradas nos resumos estudados e as teóricas que nos permitem analisar o currículo expresso pela SBB. 86 Quadro 9 - Aproximações entre categorias empíricas e teóricas de currículo, na Sessão de Ensino de Botânica dos Congressos Nacionais de Botânica, realizados de 1982 até 2001 Ano Trabalhos Categorias empíricas encontradas Categorias que esboçam o currículo, segundo a teoria Eficiência A1 Competência A2 Eficiência A3 Proposta curricular Competência política no ensino A4 Jardim didático Metodologia A5 Trabalho individual Eficiência 1996 A6 Diagnóstico Currículo oculto 1997 A7 A8 Passeando - jardim botânico utilização dos recursos naturais Metodologia Metodologia 1998 A9 A 10 ensino - paradigma Herbário - proposta de melhoria Saber – poder Metodologia A 11 aprendizado de botânica Metodologia A 12 aprimoramento do ensino - herbário didático Metodologia A 13 ensino de botânica - professores Metodologia A 14 material botânico - ensino Metodologia A 15 A 16 oficinas – ensino programa de Ensino Metodologia Significação A 17 ensino prático de botânica Metodologia A18 jardim botânico – escola Metodologia A19 A 20 A 21 Significação componente vegetal -Ensino aprendizagem Metodologia metodologias para o ensino significado das atividades - aprendizado de Significação botânica A 22 ensinando botânica - cartilhas Metodologia A 23 herbário didático Metodologia A 24 Modelo de curso prático - sistemática vegetal Metodologia A 25 aplicação - aulas práticas Metodologia A 26 coleta, montagem, organização - coleções – Metodologia aplicações - ensino 1982 1995 1999 2000 Ideologia 87 2001 A 27 roteiros de atividades Metodologia A 28 dinâmica do ensino Currículo oculto A 29 dramatização - facilitador interativo Metodologia A 30 avaliação - instrumento Avaliação A 31 A 32 herbário didático aula prática – mediadora Metodologia Metodologia A 33 laboratório de ensino - sítio Metodologia A 34 aprimoramento do ensino - produção material didático para professores A 35 vídeo - material didático Metodologia A 36 jardins e canteiros – estudo sistemático Metodologia A 37 proposta didático-científica Planejamento A 38 produção e uso de material didático Metodologia A 39 A 40 espaços de produção do ensino - experiência Identidade curricular Metodologia materiais botânicos – instrumentos A 41 identificação dos interesses de alunos Objetivos A 42 cartilha no ensino Metodologia A 43 recursos da internet - proposta interativa A 44 produção de audiovisual de Metodologia educação Eficiência Metodologia Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2002 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. A partir do quadro 9 pode-se ler as categorias que ilustram o currículo de Botânica no Brasil, principalmente, no que tange as suas principais preocupações, as formas de ensinar e aprender. Este currículo apresenta-se escrito nas publicações dos Congressos Nacionais da SBB, de forma que o mesmo está validado pelos seus sócios e pelas demais instituições que conferem ao presente Congresso seu status na área de Botânica. Desse modo, as categorias, que o enunciam, mostram que o ensino de Botânica se preocupa consideravelmente com a didática, principalmente na 88 discussão das metodologias e do planejamento. A preocupação com a política, o currículo em si e a ideologia é menor, mas são bem posicionadas. Com a significação e a identidade as preocupações são iniciais. 3.2.3.1 Didática: a metodologia, os objetivos e o saber planejar e avaliar As categorias: metodologia, objetivos, eficiência, planejamento e avaliação serão discutidas dentro de um eixo maior que é a didática do ensino. O trabalho: “A aula prática em ambientes não formais como mediadora da construção do conhecimento.”, faz um relato sob como apresentar diferentes formas de conduzir o processo escolar de ensinar e aprender e trazem presentes as “condições e formas que vigoram no ensino” de botânica (LIBÂNEO,1996, p. 52). A didática, como direcionamento imediato da prática do ensino e da aprendizagem, servirá de elemento articulador entre as proposições teóricas e a prática escolar propriamente dita. Ela, tanto em sua fase de planejamento, quanto em sua fase de execução, é a mediação necessária para garantir a tradução da teoria pedagógica em prática pedagógica (LUCKESI, 1999, p.163). Ocorre uma forte preocupação com inventar ou melhorar as maneiras de ensinar a Botânica, em geral, daí o foco de vários trabalhos acabar sendo o como ensinar os conteúdos de formas variadas, não fazendo uma leitura dos atores que ensinam e aprendem durante os processos. As intenções eram as melhores, mas o resultado ainda não parece ser significativo no campo da aprendizagem. Por ser a didática um tema central na maior parte dos trabalhos, o currículo tradicional torna-se evidente. A metodologia é uma categoria de análise presente de forma expressiva nos resumos, revelando um currículo tradicional (até 2001), como possibilidade de ensino. Penso que a metodologia é a categoria melhor expressa na sessão de ensino da Botânica, pois são inúmeros os procedimentos propostos. Talvez por a história da formação dos botânicos estar atrelada ao positivismo e à racionalidade técnica, aqui pode ser observado o quanto dependem dessa forma de pensar quando das 89 elaborações de suas ações. Criam-se passeios, estudos em grupo, práticas ao ar livre, laboratório, internet, teatro, vídeos, montagem de herbários e outros procedimentos para trabalhar com os alunos, de forma a facilitar-lhes a aprendizagem. Mas, a produção de conceitos e significados não é avaliada pelos trabalhos e, várias vezes, sequer são mencionadas. “De fato, sobre métodos e procedimentos de ensino é preciso agir com critérios definidos e com prudência” (1999,p.105), diz Luckesi, quando se refere à metodologia do ensino, e acrescenta, mais adiante, “há necessidade de estudar” as melhores formas de ensinar, de modo que nossos alunos atinjam os objetivos de aprender. As metodologias e os objetivos, fornecem ao docente e ao ensino, o modo de agir consciente e a direção, durante a ação pedagógica. O professor precisa saber avaliar a pertinência dos objetivos quanto ao sistema escolar, e, ainda, quanto às aspirações da formação da clientela, segundo Libâneo (1996, p. 121). Assim, a “Identificação dos interesses de alunos que visitaram o jardim botânico da fundação zoobotânica de Belo Horizonte.” tentou analisar os interesses do aluno, para propor roteiros de educação ambiental no jardim botânico, respeitando as expectativas do grupo alvo. Os trabalhos categorizados no conceito de eficiência foram: “Competências Básicas em Botânica I: Contribuição ao conhecimento dos elementos generativos de vegetais superiores” e “Proposta curricular para a área botânica, a nível de graduação com base em ensino para competência”, porque tentam aplicar um modelo industrial de competências no currículo formador do biólogo, ditando como deve ser o ensino de forma a contrapor-se aquele vigente. Estes trabalhos questionam o currículo vigente, mas estão baseados somente na eficiência, categoria tradicional para descrever como deve ser o profissional biólogo quanto ao saber botânico. A forma metódica e sempre linear de enxergar o ensino é que categoriza os trabalhos como tradicionais, e por conseqüência, seus autores. Assim, o 90 planejamento, outra categoria do currículo expresso como tradicional, também aponta para a seriedade do bom ensino, preocupado apenas com quanto, como e de que forma vamos ensinar o homem para a sociedade que queremos. O planejamento no ensino é essencial como a água é para a vida, e o “Projeto Martius – Uma proposta didático-científica em botânica.” é um exemplo de como o planejamento pode ser a base da mudança no processo de ensinar e aprender. O planejamento é o processo de racionalização, organização e ordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. A escola, os professores e os alunos são integrantes da dinâmica das relações sociais [...] isso significa que os elementos do planejamento escolar – objetivos, conteúdos e métodos – estão recheados de implicações sociais, têm um significado genuinamente político (LIBÂNEO, 1996, p.222). O planejar é o que garante as intenções da prática pedagógica, mas, todavia, não garante que o trabalho decorra sob uma concepção pré-definida, portanto, é necessário mais que planejar, é conduzir uma ação pedagógica voltada aos objetivos pretendidos. A avaliação, por exemplo, é outra categoria que, dentro da didática, serve aos interesses de uma visão tradicional de ensino, pois, vislumbra apenas o quantificar e não se preocupa com a essencialidade de sua função, o aprendido. No texto, “Avaliação comentada como instrumento de aprendizagem em botânica.”, a avaliação é também colocada mais como uma técnica ou metodologia diferenciada a ser executada do que como uma concepção do que representa no processo de ensino-aprendizagem propriamente dito. Por outro lado, esse instrumento pode servir para enxergarmos a avaliação como um momento de assegurar a (re)discussão dos conteúdos, afim de verificar os pontos fracos e fortes da aprendizagem. 91 3.2.3.2 Saber – Poder: a transição de um currículo Em “O ensino de botânica e o viés do paradigma mecanicista.”, essa relação é analisada sob a ótica do paradigma vigente no ensino na década de noventa, fazendo uma crítica às posturas puramente positivistas assumidas pela maioria dos cientistas brasileiros da área, até então, que são os formadores dos professores de Ciências e Biologia, nas Universidades. Saber e poder constroem-se em reciprocidade: o saber implica em relações de poder, as quais só existem num campo de saber. Não bastam à constituição do poder as correlações de forças, mas exige-se que sejam elas transformadas em relações simbólicas, numa rede de consensos que partem de baixo e do interior das consciências(Eco:322). Por outra parte, não há saber politicamente neutro: todo conhecimento existe a partir de condições políticas exigidas tanto para a existência dos sujeitos como para a constituição dos domínios do saber. No poder, o saber que simbolicamente o constitui deve enfrentar complexas interações de forças que se geram nas relações entre pessoas e seus grupos de convivência e trabalho, agigantam-se nos aparelhos do poder político, ocultam-se nos claros/escuros da ideologia (MARQUES,1988, p.118). O saber e poder, na escola, tecem uma relação intrínseca como diz Marques (1988) reforçado por Silva (2001-b). Assim, quando os atores sociais do ensino de Botânica notam que esse ensinar (saber) pode ser compreendido de forma diferente da tradicional (mecanicista), tomam para si o poder que determina uma outra forma de expressão do currículo. O saber-poder marca a transição do currículo tradicional para o crítico e deste para o pós-crítico. Na teoria crítica, somente, o poder a serviço do aparelho ideológico surge como categoria e, na teoria pós-crítica o saber é entendido como algo que também recebe as forças do poder social. As demandas sociais de poder determinam tanto a sociedade, a política quanto os conteúdos escolares. 3.2.3.3 A crítica do currículo oculto e da ideologia “Os grandes grupos, a utilização do elogio e do poder que se combinam para dar um sabor distinto à vida de sala de aula coletivamente formam um currículo oculto, que cada estudante (e cada professor) deve dominar se quiser se dar bem na escola” (SILVA, 2001, p.78). 92 O currículo oculto dá à escola e ao ensino características estruturais da sala de aula e do ensino mais do que os seus conteúdos em si. “As relações de autoridade, a organização espacial, a distribuição do tempo, os padrões de recompensa e castigo” (SILVA, 2001, p.78), por exemplo, são regras pertinentes para um bom comportamento social, acima de tudo ditado pela própria sociedade. “O currículo oculto ensina ainda, através de rituais, regras, regulamentos, normas” (Silva, 2001, p.79). Na pesquisa, “A dinâmica do ensino de botânica em escolas públicas.”, explicita-se uma forma de controle influenciada somente pelo sistema de ensino, como, de fato, os municípios conseguem controlar as escolas atreladas às secretarias, tornando-se fácil a adoção de um currículo único como forma de defesa interna e externa às relações da escola. A crítica ao currículo tradicional é a maior arma do currículo crítico, mas a expressão do oculto como uma forma de controle, mostra que esta teoria tem sua proposta alicerçada em discussões de outra perspectiva, a da linguagem e do diálogo. A ideologia é outra face desse tipo de currículo, fazendo com que ele, a partir da crítica, use o diálogo para propor a linguagem da possibilidade. Do simples “questionar e contrapor a sociedade e o ensino vigentes” a teoria crítica quer mais, ela propõe e constrói currículo e cidadania, conforme Moreira (2001). No trabalho, “Contribuições para uma nova política no ensino de Botânica”, pode-se observar como as preocupações com a política de ensino existem, mas o aspecto ideológico chega à discussão nas escolas com as primeiras idéias críticas sobre o sistema, para superar a visão não-crítica ou ingênua, assumida até então. A escola neutra entra em conflito com a crítica e essa abordagem, apesar de considerar as relações sociais, acaba reproduzindo somente seus próprios princípios ideológicos, conforme Luckesi (1999, p.41), tornando-se uma visão crítica reprodutivista. 3.2.3.4 A significação e a identidade de um currículo na razão pós-crítica Ao analisar a significação enquanto categoria, penso estar apontando uma das possibilidades para superação do ensino fragmentado e essencialmente 93 tecnicista que a SBB apresenta, pois acredito nas aprendizagens como possibilidade de significação. Dentro disso, Vigostki (2001) explica a aprendizagem significativa, quando trabalha com a Zona de Desenvolvimento Proximal, ou seja, é na mediação com o outro que se aprende, com ajuda do professor, do colega, mas sempre na interação social. “A aprendizagem antecipa-se, assim ao desenvolvimento mental: o que se aprendeu não é apenas um ponto de chegada, é o ponto de partida para novas aprendizagens” (MARQUES, 2000, p.43) significativas. A compreensão de que se aprende com e não dos outros aposta no ensino que discute a ação, que media a aprendizagem pela discussão, pela interlocução entre sujeitos, entre conceitos e que constrói estes a partir da realidade, respeitando os diferentes saberes. “Os significados das atividades de campo no aprendizado de botânica: Uma experiência em Santos.” é o título de um dos trabalhos que conseguem vislumbrar para além do conteúdo botânico escolar, o de nossas vidas, o respeito ao ambiente, as relações interpessoais. E, então, a Botânica passa a ser significada, a partir da realidade que nos cerca, onde existem plantas com funções específicas e não apenas as plantas e seus nomes. Esse entendimento de que a Botânica é uma forma de levar o educando a compreender o mundo e a ler com os olhos da ciência o seu ambiente, faz com que o próprio conteúdo adquira identidade própria. A identidade, neste caso, é dada por esse componente num currículo, mas, somente, se concretiza se os sujeitos envolvidos atribuem significado a sua aprendizagem. A subjetividade das lutas e conflitos do saber e do poder faz brotar as razões de que nascem o conceito de identidade e de documento. A identidade, o gênero, a raça, a crença, a ideologia do eu, as individuações de cada um, quando respeitadas, 94 deixam que o currículo assuma o seu próprio rosto, o sorriso e a coragem de homens e mulheres que ensinam e aprendem. A identidade não existe “naturalmente”: ela é construída pelo próprio grupo e pelos outros. Não existe nada de “naturalmente” comum ligando os diversos indivíduos de um determinado grupo. Certamente existem certas condições sociais que fazem com que os grupos se vejam contendo características em comum: geografia, sexo, “raça”, sexualidade, nação (SILVA, 2001-b, p.47). Desse modo, o trabalho, “Espaços de produção do ensino de botânica: Uma experiência de inovação curricular na cidade de Campinas.”, define como uma escola pode, através de um eixo comum, aprender Botânica, descobrir quem é, quem respeita, porque e como o faz. O currículo de Botânica torna-se assim, multifacetado, sonorizado por muitas vozes, enxergado a muitas formas e constituído por muitos “eus”. E, esse currículo ensinou, ensina e continuará ensinando Botânica e sendo (re)construído a cada passo conforme a história da sociedade e das pessoas que o fazem. 3.2.4 AS TEORIAS DO CURRÍCULO E O MOVIMENTO DISCURSIVO DO CURRÍCULO DE BOTÂNICA EXPRESSO PELA SESSÃO DE ENSINO DA SBB As categorias apresentadas anteriormente fazem com que se torne mais fácil entender como as teorias do currículo se sustentam na SBB, tecem história e marcam seu tempo. O discurso vigente na SBB declara como válido o currículo expresso em suas publicações (resumos dos trabalhos da Sessão de Ensino), mesmo não sendo o currículo oficial de Botânica no que tange ao seu ensino no Brasil, pois este não existe na prática. Sendo assim, compreender as teorias que o sustentam torna-se imprescindível, para entender a sua constituição (quadro 10). 95 Quadro 10 – Teoria Curricular, grau de ensino e temáticas de Ensino de Botânica Sistemática apresentadas na Sessão de Ensino, dos Congressos Nacionais de Botânica, realizados de 1982 até 2001 Ano 1982 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Temática Base Curricular para competência Classificação (1) Teoria Crítica Políticas de ensino Teoria Crítica Grau * 3 Nº 02 3 01 Metodologias de Ensino Teoria Tradicional - Diagnóstico do ensino superior de Teoria Crítica botânica 3 3 02 01 - Metodologias de Ensino - Metodologias de Ensino Teoria Tradicional Teoria Tradicional 3 3 01 01 - O ensino e paradigma mecanicista Teoria Pós-Critica 1,2 e 3 01 - Técnicas e Instrumentos de ensino - Abordagem em Projeto Teoria Tradicional Teoria Crítica 1,2 e 3 1 06 01 - Técnicas e Instrumentos de ensino Teoria Tradicional 1 02 na Teoria Pós-Crítica 1 01 Teoria Tradicional 1,2,3 05 - O significado e a aprendizagem Teoria Pós-Critica 1 01 - Técnicas e Instrumentos de ensino Teoria Tradicional 1,2,3 05 - Diagnóstico do ensino - Técnicas e Instrumentos de ensino Teoria Crítica Teoria Tradicional 1,2 1,2 e 3 01 08 - Metodologias de Ensino Teoria Tradicional 1,2 e 3 04 - Ensino de botânica e currículo Teoria Pós-Critica 1e2 01 - O componente vegetal aprendizagem - Metodologias de Ensino Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2002 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. Legenda: (1) Concepções classificadas a partir de Silva (2000); * 1- Ensino Fundamental, 2- Ensino Médio, 3- Ensino Superior; N°: Número de trabalhos analisados de cada ano. O quadro 10 mostra os trabalhos reunidos por temáticas e as teorias que fundamentam seus discursos curriculares. Ler um currículo não é tarefa fácil, por isso pretendo apontar um esboço curricular que decorre do ensino de Botânica discutido/apresentado, na SBB, por todo o Brasil. 96 A categorização do quadro 10, foi realizada a partir de Silva (2001), referência que traz presentes as diferentes teorias e trabalha categorias de análise de cada uma delas. Os trabalhos foram reunidos por temáticas de forma a deixar claro as teorias de currículo que perpassaram a SBB, ao longo de sua trajetória. Um aspecto importante é que a teoria tradicional embasa 34 trabalhos (77,27%) dos 44 analisados. Dos 10 restantes (22,73%), 06 relacionam-se às teorias críticas e 04 às pós-críticas do currículo. Outro aspecto interessante é quanto ao grau de ensino a que pertencem as pesquisas analisadas, em que, apenas no ano de 1999, não foram vistos trabalhos do nível superior (ver quadro 10). A relevância deste fato está na preocupação com a análise do currículo formador dos professores de Ciências e Biologia, e suas conseqüências futuras na escola. Tendo presentes as categorias trabalhadas no item 3.2.3 que emergiram da análise, tais como metodologia, saber e poder, significação e identidade, pode-se tecer considerações acerca do currículo e das teorias que o permitem existir na perspectiva da educação brasileira. Essas categorias explicitam o currículo de Botânica no Brasil ao longo de sua história e podem ser classificadas em abordagens tradicionais, críticas e pós-críticas, como definido por Silva (2001). Essa referência permite vislumbrar o movimento curricular pelo qual o ensino de Botânica, expresso pela SBB, passou nos últimos anos. Constatou-se que, nos trabalhos com título sobre processos de ensinoaprendizagem, prevaleceu a concepção positivista de ciência assentada na racionalidade técnica (MARQUES, 1993), em que predominaram as técnicas e diversificadas metodologias de ensino, mas não se constituíram em investigações sobre o processo. Isto ocorreu principalmente, nos anos de 1982, 1995, 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001. “Aqui, o currículo é visto como um processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos. O modelo institucional dessa concepção é a fábrica” (SILVA, 2001, p. 12). 97 O currículo tradicional ou disciplinar, segundo Lopes: é identificado como incapaz de integrar saberes, de permitir uma compreensão global dos conhecimentos ou de gerar maior aproximação com saberes cotidianos dos alunos, dessa forma dificultando aprendizagem de conhecimentos significativos (2002, p. 74). Já no ano de 1982, as preocupações com o currículo relacionavam as competências e habilidades técnicas do biólogo. Alguns trabalhos de 1996, 1997, 1998, 2000 e 2001 conseguem criticar a taxionomia clássica que se preocupa com as famílias vegetais, sugerindo ser necessário ensinar através de espécies que estão no ambiente próximo dos alunos. As teorias críticas sobre o currículo, em contraste, começam por colocar em questão precisamente os pressupostos dos presentes arranjos sociais e educacionais. As teorias críticas desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas desigualdades e injustiças sociais. As teorias tradicionais eram teorias de aceitação, ajuste e adaptação. As teorias críticas são teorias de desconfiança, questionamento e transformação radical (SILVA, 2001, p. 30). Por outro lado, os resumos que enfatizam a sistemática das fanerógamas chegam ao final com a montagem de uma coleção botânica e um herbário, quando não foram os próprios herbários que fizeram as coletas de material para aulas de morfologia vegetal, ou excursões científicas a parques e bosques. A crítica dos trabalhos que apresentam novas possibilidades se volta à construção, muitas vezes, de novas técnicas, o que também não avança na forma de discutir uma nova identidade para este ensino. Por outro lado, mesmo que tênues, existem representações claras da crítica ao currículo tradicional neste outro grupo de trabalhos, através de conceitos que nos permitam isto (SILVA, 2001). Um terceiro grupo descreve situações interdisciplinares de ensinar e aprender conceitos sociais e éticos através desse conhecimento integrado a outros, mas não ocorre um estudo específico sobre como o corpus teórico da Botânica, enquanto sistemática, é incorporado pelas populações de educandos. São descritos, também, vários trabalhos sobre cursos de formação para professores de Ensino Fundamental e Médio, em que sempre se fazem coletas a campo e montagem de coleções para identificação de grupos vegetais, aparecendo muito o termo treinamento em 98 técnicas de montagem de coleções. Notadamente a partir de 2000, os trabalhos procuram enfocar um discurso baseado na identidade, na significação de conceitos, nas discussões de arte, cultura, etnicidade, gênero, que, para Silva (2001), apontam para representações de uma nova esfera curricular num discurso pós-crítico, que descentraliza a crítica pela crítica e funda a diferença, a subjetividade, o discurso e a cultura como um currículo. Uma das conseqüências da “virada culturalista” na teorização curricular constitui na diminuição das fronteiras entre, de um lado o conhecimento acadêmico e escolar e, de outro, o conhecimento da cultura de massa. Sob a ótica dos Estudos culturais, todo conhecimento, na medida em que se constitui num sistema de significação, é cultural (SILVA, 2001, p.139). O que constatamos, na análise dos resumos da Sessão de Ensino da Botânica presente nos anais da SBB, é o movimento dos aspectos que participam de um currículo, em torno dessa temática e das demais áreas do saber que circunscrevem o seu fazer curricular e suas perspectivas apontadas para discussão, com muito a percorrer, incursionando erros e aprendendo a refazer. Este currículo brevemente analisado tece história, conta aprendizagens, faz-se no social, provocando-nos a aprender com ele, a compreender sua dimensão histórica e pedagógica, e a lê-lo como um documento de identidade. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, Curriculum Vitae: no currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento, O currículo é documento de identidade (SILVA, 2001). O quadro 11 ilustra como as concepções de currículo, presentes na SBB, se ligam às teorias que identificam o que se ensina e aprende na Botânica no País e vislumbra, de forma resumida, como essas três teorias estão presentes. A análise do ensino de Botânica no Brasil serve, ainda, de referência a outras áreas do conhecimento, como um diagnóstico de como se estrutura um currículo, como está esboçado enquanto elo formador e como tece suas representações enquanto instituído e instituinte. Então, Botânica, ensino e currículo começam a conversar mais estreitamente e discutir seus caminhos de formação e história. 99 Quadro 11 - Quadro resumo: teoria curricular, categorias identificadas na Sessão de Ensino de Botânica da SBB e a Relação entre ambas TEORIA Categorias Descrição do Currículo na SBB Currículo Tradicional Metodologia, avaliação, eficiência, avaliação, planejamento e objetivos. Ideologia, Currículo oculto e saber-poder. Baseia-se no ensino através de chaves analíticas e da construção de metodologias, didáticas e novas formas de ensino. Critica a forma descrita acima, e analisa a formação do biólogo e licenciado em Biologia. Mas continua analisando de forma tecnicista a formação, baseando seus estudos em competências e perfis deterministas dos profissionais da área. Currículo Pós- Identidade e Dá espaço e tempo para a escola inventar e descobrir seu currículo, busca significado, Crítico Significação identidade, diferença e representação, respeitando o subjetivo de cada um. Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2002– Pesquisa nos Anais dos CNB e Silva(2001) – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. Currículo Crítico O currículo de Botânica no Brasil, além de sustentar teorias ao longo de sua constituição, produziu inúmeras propostas de ensino, principalmente com base na concepção tradicional, em que as formas e/ou metodologias de como ensinar prevalecem. As metodologias de ensino produzidas por esse currículo comprovam que a concepção mecanicista de Ciência pode ser verificada como sendo a que prevaleceu nos trabalhos analisados, demonstrando o quanto a história da Botânica e da SBB, enquanto instituição científica, é determinante do currículo e do ensino. Logo, analisar esses (muitos) modos de ensinar e aprender significa reconhecer o que a produção do conhecimento botânico expressa, nestes anos de Sessão de Ensino, e declarar a importância de conhecermos essas formas de ensino como parte das suas singularidades (ver no Capítulo 4, quadro 14). 100 __________ NOTAS 1 Fanerógamas, segundo Vidal (2000), é o termo que designa o grupo de plantas que possui flor. 2 Taxionomia, segundo Schultz(1991), é ramo da Biologia - Botânica que se dedica ao estudo do agrupamento dos seres vivos – vegetais e a sua identificação. 101 CAPÍTULO 4: O LIMIAR ENTRE AS PROPOSTAS QUE ENSINAM E APRENDEM BOTÂNICA NO BRASIL E OUTROS PRESSUPOSTOS Os limites, as possibilidades e as propostas do ensino de Botânica presentes no currículo expresso pela SBB e, outros pressupostos serão considerados neste capítulo. 4.1 ENSINAR E APRENDER BOTÂNICA: OS SEUS LIMITES E AS SUAS POSSIBILIDADES NA SESSÃO DE ENSINO DA SBB Para cada trabalho analisado, registro os limites e as razões de sua superação, apontando as possibilidades de leitura de que todos os relatos contribuem para se esboçar o ensinar e aprender Botânica no Brasil. A educação brasileira, em especial o ensino de Ciências, tem produzido significados, ao longo de sua história, e suas práticas pedagógicas têm possibilitado a discussão e produção de conhecimento. Conhecendo a história de nossas práticas de ensino, podemos perceber o fazer pedagógico, a didática e podemos entender o processo de ensinar e aprender. Portanto, estudar e analisar as práticas que ora apresento servem para elucidar os problemas didáticos e metodológicos, respaldando as nossas práticas futuras que nos levam a criar novas formas de superar a lógica mecanicista dos conteúdos. No quadro 12, apresento uma análise que possibilita a compreensão desse capítulo. 102 103 104 105 106 O quadro 12 revela uma dialética em que a interpretação é deveras complicada, se não pelo número de discrepâncias no todo, então pelas diferenças entre limites e possibilidades de um mesmo trabalho. Assim, o trabalho “Oficinas de botânica – Uma proposta para o ensino fundamental.” sugere uma inconformidade entre a análise que faz sobre serem insuficientes as aulas teóricas de memorização, e a proposta de oficinas com modelos e técnicas de ensino para exercitar e demonstrar o conhecimento. Desde 1982, já ocorrem preocupações com o currículo formador do Biólogo, expressas por: “Competências Básicas em Botânica I: Contribuição ao conhecimento dos elementos generativos de vegetais superiores.”. Os autores já desconfiam da arbitrariedade do currículo vigente, atribuindo a sociedade esse fato, mas o trabalho não consegue sair da visão mecanicista imposta pelo sistema e discute um currículo para o biólogo e o licenciado baseado apenas em três competências técnicas. Em 1995, as “Contribuições para uma nova política no ensino de Botânica.” apontam deficiências no sistema de ensino superior que forma licenciados em Biologia, e descreve a falta de discussões-pesquisas sobre a temática. O trabalho “Passeando e aprendendo no jardim botânico do Rio de Janeiro – estudos vegetativos.”, de 1996, é o primeiro na Sessão a preocupar-se com outros elementos da estrutura dos vegetais, que não a flor, para facilitar o estudo da taxonomia vegetal de forma significativa, mas deixa de analisar as relações entre professor e aluno nesse processo. O ano de 1997 foi permeado pelas preocupações com “O ensino de botânica e o viés do paradigma mecanicista.”, em que fica novamente claro quão grande é a influencia, na formação do profissional da Biologia, do tecnicismo. O trabalho consegue, ainda, criticar o ensino tradicional, respaldando, assim, as discussões apresentadas nessa dissertação. 107 Em “A contribuição da Universidade no Aprendizado de botânica por alunos do 1° grau, através da criação de grupos de trabalho interinstitucionais.”, de 1998, torna-se nítida a participação da Universidade nos processos escolares da aprendizagem, mas deixa de lado a discussão de como trabalhar uma proposta de ensino, que não seja apenas construir herbários com grupos de professores. Em 1999 e em 2000, a preocupação em mostrar o tipo de teoria que sustenta a discussão no ensino de Botânica parece ser, na maioria das vezes, o construtivismo. No relato de “Coleta montagem e organização de coleções botânicas e suas aplicações no ensino fundamental e médio.”, observa-se a contrariedade à memorização, chamada de sintoma, acompanhada da busca de um ensino a partir da realidade; no entanto, somente são produzidas coleções botânicas para a sala de aula. O “Aprimoramento do ensino da botânica e ecologia através da produção de material didático para professores do ensino médio e fundamental.” (2001), mostra a produção de material por alunos da graduação que são emprestados aos professores de escolas de Ensino Fundamental e Médio. Notase a dissonância entre a teoria (produção do material) e prática (professor – aluno – sala de aula) como forma de propor melhoria na qualidade do ensino. Já em “O componente vegetal na 6ª série do 1° grau: Ensino – aprendizagem.” (2000), se revela um discurso reflexivo, que compreende a significação dos conceitos em botânica, como objetivo primeiro do trabalho. O trabalho descreve ainda o currículo vigente em sua prática de maneira a fazer um exercício de reflexão sobre seu ensino-aprendizagem. A SBB instituiu formas de ensino e, além disso, sustentou e produziu teoria, história e memória. Analisando o uadro 12, podemos perceber inúmeras limitações e possibilidades. E para facilitar o seu entendimento e sistematizar as informações contidas nele, apresentamos o quadro13 que resume as preocupações surgidas da 108 análise do conteúdo e tem por função mostrar as relações entre as perspectivas de ensino, as temáticas dos trabalhos e características. Quadro 13 - Sistematização das concepções de ensino resultantes da análise dos limites e possibilidades apresentados na Sessão de Ensino da SBB Concepção/ Perspectiva de ensino Temática Metodologias de Ensino * Nº Características do ensino O ensino visto essencialmente como a produção de práticas e Mecanicista Técnicas e Instrumentos de instrumentos metodológicos de 21 ensino, ensino preocupa-se incessantemente com a didática. Base Curricular para 02 Questiona o currículo posto, mas competência estrutura um currículo baseado em competências que revelam 01 um perfil único para todos os Políticas de ensino biólogos e professores. Discute o Interdisciplinar Diagnóstico do ensino de 02 ensino de botânica e elabora diagnósticos situacionais. Propõe botânica propostas interdisciplinares para 01 o ensino tendo como referência a Abordagem em Projeto botânica. O ensino e paradigma 01 Apresenta ensaios da mecanicista abordagem histórico-cultural por valorizar o saber do aluno e O componente vegetal na 01 trabalhar na perspectiva do Históricoaprendizagem diálogo. Trabalha com o cultural componente botânica em todo o O significado e a aprendizagem 01 processo de aprendizagem, rompe com a fragmentação 01 estanque Ensino de botânica e currículo e prioriza a aprendizagem significativa. Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2003. Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. Legenda: *N: Número de trabalhos por temáticas. 13 O quadro 13 evidencia a concepção mecanicista de ensino predominante na SBB nos últimos anos e aponta as características gerais de cada tipo, vislumbradas a partir da perspectiva de ensino e das temáticas gerais. No campo da didática, das estratégias de ensino, tenho o prazer de apresentar a Sessão de Ensino de Botânica da Sociedade Botânica do Brasil como uma instituição que produziu e produz muitas e diferentes maneiras de ensinar. 109 Quadro 14 - Metodologias de Ensino produzidas no âmbito da SBB de 1982 até 2001 Tipificação da Metodologia Descrição da forma Observações empregada utilizada Jardim Didático Trabalho desenvolvido em escolas, para plantar espécies arbóreas e herbáceas para estudo. Passeios nos Jardins Atividade com grupos de alunos afim de conhecer Jardins Botânicos de Universidades para identificação de espécies vegetais. Aula Prática a campo Aulas de visitação a O contato direto dos florestas e parques locais alunos com as plantas a fim de apresentar aos serve para aproximar o estudantes sua flora homem da natureza. local/regional. Aula Prática em Laboratório Estudo de materiais botânicos do tipo caule, folhas e flores e de coleções botânicas; uso de microscópio, para observar estruturas, como tecido, pelos, estômatos. Visita ao Herbário Visitação a Herbários institucionais, a fim de mostrar aos estudantes as formas de organização e armazenamento de espécies no Herbário. Montagem de Herbário Esta atividade fora Escolar elaborada para que as escolas pudessem montar Herbários que facilitassem o ensino de espécies sem sair da escola. Oficinas de aprendizagem Estudo, montagem e Na maior parte técnicas aplicação de atividades de coleta de material pedagógicas elaboradas botânico e montagem de por professores, em herbário. conjunto. Material Botânico e aula Coleta de material prática em sala de aula botânico a campo e estudo na sala de aula, tais como: folhas, caules, raízes. Organização de Jardim Planejamento, plantio, Quando os próprios plantam as Botânico na Escola cuidados e identificação de alunos espécies eles, vegetais na escola. 110 conseguem perceber porque preservar o ambiente natural. Cartilhas – Histórias de planta Livretos produzidos sobre e gente. as relações entre plantas e pessoas, usos na alimentação, medicina entre outros temas Curso prático de Sistemática Curso para professores sobre a identificação de vegetais, para possibilitar as atividades com alunos. Roteiros de Atividades Elaboração de roteiros de aulas práticas e técnicas de estudo e pesquisa em botânica. Dramatização ou teatro O teatro foi utilizado para facilitar a compreensão do ciclo reprodutivo dos vegetais. Aulas com o contato interpessoal facilitam o convívio do grupo, melhorando o ambiente da aprendizagem. Este tipo de avaliação foi utilizado a fim de discutir os acertos e erros dos alunos em grupo, como forma de revisar os objetivos não atingidos. Vídeo Elaboração de um vídeo educativo, contendo informações sobre reprodução e tipos de plantas. Audiovisual – Slides Fotos de plantas devidamente identificadas, para facilitar o reconhecimento pelos estudantes. Internet Montagem de site A escola deve conseguir interativo, para divulgação compreender o recurso de assuntos pertinentes a tecnológico como ponte Botânica, a partir de um na mediação do aprender projeto de escola-sítio, que e não apenas como uma nova aprendizagem. ensina botânica na prática e na interatividade. Produção de Material didático Produção de jogo didático, roteiros de aula e de material para uso no laboratório da escola. Fonte: Güllich; Pansera-de-Araújo, 2003 – Pesquisa nos Anais dos CNB – Mestrado em Educação nas Ciências – UNIJUÍ. Avaliação comentada 111 Conforme o quadro 14, a Sessão de Ensino dos CNBs produziu diferentes formas de ensinar que se refletem na formação inicial e continuada dos professores, e fazem crer que as iniciativas de propor um ensino para além do tecnicismo puro de chaves analíticas, como únicas formas de se aprender, estão presentes dentro da própria SBB, talvez como vozes que, na época, não tinham sido ouvidas, mas hoje despontam. A formação do professor abrange, pois, duas dimensões: a formação teórico-científica, incluindo a formação acadêmica específica nas disciplinas em que o docente vai especializar-se e a formação pedagógica, que envolve os conhecimentos da Filosofia, Sociologia, História da Educação e da própria Pedagogia que contribuem para o esclarecimento do fenômeno educativo no contexto histórico-social; a formação técnicoprática visando a preparação profissional específica para a docência, incluindo a Didática, as metodologias específicas das matérias, a Psicologia da Educação, a pesquisa educacional e outras (LIBÂNEO, 1996, P.27). Por entender que a metodologia do ensino ou a didática é crucial, apresentei neste relato tais maneiras de ensinar-aprender, mostrando que é possível romper com aquelas mais tradicionais. Não desacredito que estes trabalhos refletem muito pouco a dimensão do aprender e do ensinar, ou mesmo das relações entre professor – aluno, mas penso ter aqui mostrado indícios de que as mesmas publicações, que fazem um ensino ainda muito tradicional, estão cansadas de serem “dadoras” de aula e clamam por mudanças. Assim sendo, procurei registrar outras maneiras para superar o ensino mecanicista, como maneira de reconhecer outros trabalhos relevantes sobre temas recorrentes do ensino de Botânica Sistemática. 112 4.2 OUTRAS FORMAS DE ENSINAR E APRENDER BOTÂNICA (DECORRENTES DA INVESTIGAÇÃO) 4.2.1 A DENDROLOGIA: CIÊNCIA NÃO APENAS DE FLORES Dendrologia: Dendron e logos, em grego significam árvore e estudo ou tratado respectivamente. Esse termo foi criado por Aldrovandi, em 1668. Dendrologia é o “ramo da biologia que trata do estudo das árvores, sua identificação, características e distribuição geográfica” (MARCHIORI, 1997, p.10). Esse estudo é muito utilizado na Engenharia Florestal, pois as árvores, muitas vezes, estão desprovidas de flores e precisam ser identificadas a campo. A dendrologia não substitui a Sistemática, conforme as palavras de Marchiori: Não é através da Dendrologia que se vai descrever uma espécie nova para a ciência. Para isso é necessária uma análise taxonômica profunda, incluindo todas as espécies do grupo, independente do porte (erva, árvore, etc.) e da área de ocorrência. A tarefa de classificação transcende, desde modo, a Dendrologia. Esta ciência tem objetivos cientificamente mais modestos, mas de inegável valor prático, ao possibilitar, com seu instrumental próprio, uma identificação mais fácil e rápida das árvores ocorrentes em determinada região (1995, p.10). Então, segundo Marchiori, cabe ainda “destacar que a metodologia dendrológica distingue-se por dar grande ênfase a caracteres normalmente pouco valorizados pela botânica Sistemática, tais como aspectos da casca, copa, madeira e folhas.” (1997, p.10) . Dessa forma, a Dendrologia é um método de rápido e fácil uso, que leva o estudante a campo e a fazer comparações reais, ao mesmo tempo em que convive com as plantas. No ensino, é mais uma alternativa que pode valorizar o vegetal in loco, possibilitando a criação de um significado de pertença e de valorização ambiental dos exemplares - espécies em estudo. Durante minha experiência como docente, tratei de investigar como podem ser aplicados os conceitos da dendrologia no ensino da identificação das plantas, além de valorizar a flora nativa local. No trabalho “Importância da Identificação de 113 Espécies Frutíferas Nativas Presentes na Vegetação remanescente de Mata Nativa do município de Giruá – RS para alunos do Ensino Fundamental e Médio” apresentado em encontro de Botânicos do RS, apontamos como a identificação, através do contato direto com a planta, valoriza a importância do vegetal no meio e sensibiliza os alunos a um envolvimento ímpar com o conteúdo (GÜLLICH, 2000). 4.2.2 A ETNOBOTÂNICA “Os saberes populares são muitos conhecimentos produzidos solidariamente e, às vezes, com muita empiria” (CHASSOT, 2001, p. 205). São saberes sustentados em grupos étnicos ou grupos que simplesmente guardam extremo conhecimento sobre algo ou alguma coisa ao longo de sua trajetória, ou seja, alguns saberes populares são de fato científicos ou no mínimo, comprovados. Os conhecimentos de meteorologia que homens e mulheres possuem são resultados de uma experimentação baseada na observação, na formulação de hipóteses e na generalização. O caboclo que sabe explicar melhor do que o acadêmico por que uma desfilada de correição é sinal de chuva tem um conhecimento científico resultante da observação e transmissões construídas solidariamente, às vezes por gerações (CHASSOT, 2001, p. 206). A Etnobotânica é também um conhecimento dessa origem, por ser uma disciplina que focaliza a inter-relação pessoas/plantas. Segundo Albuquerque (2002, p. 17), o termo foi formalmente designado em 1895. O homem é e foi importante agente de mudanças vegetacionais e de evolução vegetal, porque sempre foi dependente do meio botânico para a sua sobrevivência, manipulando-o não somente para suprir as suas necessidades mais urgentes, mas também na sua magia e medicina, no uso empírico ou simbólico, nos ritos gerenciadores de sua vida e mantenedores de sua ordem social (ALBUQUERQUE, 2002, P. 17). O conceito de Etnobotânica e suas aplicações na pesquisa vêm ampliando-se a cada dia, e passa, do simples conceito de inter-relações entre povos primitivos e plantas, para o campo do estudo de populações tradicionais e das sociedades industriais, ampliando, assim, o entendimento sobre a relação entre populações humanas e ambiente botânico. 114 Tendo, como objetivo de estudo, entender os saberes que se constroem nessa relação, a Etnobotânica valoriza os saberes populares, parte deles para construir um referencial empírico e, então, concluir cientificamente seus estudos. No ensino, este ramo da Biologia pode e deve ser compreendido como um recurso valioso, ou seja, identificar a flora do meio em que os alunos e seus antepassados estão/vam inseridos pode tornar o ensino da Botânica Sistemática parte da vida deles. Albuquerque (2002, p. 66) diz que a valorização do conhecimento tradicional apaga as novas formas de compreender o mundo, mas se reduzirmos “as diferenças entre saber popular e saber científico”, podemos notar que “são as formas úteis de conhecimento que respondem às necessidades de grupos específicos.” A Etnobotânica se volta ao benefício da humanidade, enquanto saber científico, e não em benefício de alguns. O título: “Plantas medicinais no ensino de botânica do curso médio: uma experiência de parceria entre o jardim botânico de Belo Horizonte e a escola Santo Tomás de Aquino.”, sugere o ensino de Botânica a partir dos conhecimentos trazidos pelos alunos de suas comunidades de origem. Isso mostra que existem possibilidades de ensino, através da etnobotânica, já sendo propostas. No trabalho “O conhecimento etnobotânico perpassando o currículo no ensino médio” (GÜLLICH, 2002-c) apresento análises do currículo de biologia no ensino médio, no que tange ao uso da etnobotânica como possibilidade de ensino para esse conteúdo curricular. Neste sentido, também tenho desenvolvido estudos junto à escola onde leciono: “Etnobotânica: sua constituição nas populações tradicionais no município de Giruá- RS e o saber sobre as plantas medicinais na escola de ensino médio” e “A etnobotânica e o saber sobre as plantas nas populações tradicionais do Noroeste Colonial do RS” ambos publicados em Congresso Nacional de Botânica (53°, 2002), em que utilizo a possibilidade do estudo etnobotânico, respeitando os conhecimentos prévios dos alunos e sua história, bem como entendendo a cultura em que estão inseridos, mostram aceitação 115 por parte dos alunos e uma aprendizagem conceitual que merece atenção especial do ponto de vista da produção de significados (GÜLLICH, 2002-a; 2002-b). 4.2.3 RECURSOS DA INFORMÁTICA A “Utilização de recursos da internet numa proposta de educação interativa: o projeto floralia.”, descreve a internet como um recurso que tem modificado os conceitos de tempo e espaço das coisas, bem como o espaço “sala de aula”. O paradigma da informação modificou e vem modificando o conceito de interação, já que o computador entra na escola e na vida do cidadão de diferentes maneiras, provocando o que a sociedade chama de “revolução digital". De face aos avanços e à disseminação generalizada da microeletrônica e da racionalização sistêmica, impõe-se a construção, por parte do coletivo dos educadores, de um entendimento mais amplo sobre a produção de inovações tecnológicas na sociedade contemporânea, sobre os desafios que elas colocam à educação e sobre os usos pedagógicos delas nos processos de ensino-aprendizagem (MARQUES, 2000 b, p. 103). Com isso, escolas e universidades informatizam sistemas e se equipam com programas rápidos e eficientes que interagem com o educando e possibilitam o repensar do ensino. Na Botânica sistemática não é diferente, apesar de utilizado ainda em pequena escala programas como o DELTA1 que serve para a classificação dos vegetais, dão novo entendimento as maneiras de aprender e ensinar Botânica. É um programa interativo, que pode servir para criar chaves de identificação que levam os educandos a conhecer o vegetal de forma rápida e segura, e pode ser construída pelos próprios alunos no decorrer de seu processo de aprender. No Brasil, este programa é pouco utilizado, mas em Ijuí, na UNIJUÍ, no Departamento de Biologia e Química, junto ao Laboratório de Botânica, tem-se buscado superar o uso das chaves analíticas, através da construção de chaves interativas, que, além de propor interação entre a chave e o aluno, mostra visualmente partes dos vegetais e até mesmo este, na íntegra, rompendo com a estrutura de aulas práticas tradicionais de Botânica. O mecanismo possibilita, também, fazer chaves a partir da realidade em que os alunos estão inseridos, 116 começando o estudo pelos vegetais ao seu redor e depois transpondo para análises maiores. Desses muitos modos de ensinar e aprender, emerge o ensino da Botânica, a partir de uma leitura da SBB e da história da Botânica, que pode ser pronunciado como o “A BOTÂNICA E SEU ENSINO: HISTÓRIA, CONCEPÇÕES E CURRÍCULO”. _____________ NOTAS 1 O DELTA é um programa que possibilita a construção de chaves de identificação de plantas (ver lista de SIGLAS). 117 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas três últimas décadas, os currículos das disciplinas científicas sofreram intensas modificações exemplificando um significativo processo educacional nos vários níveis de escolaridade. A complexidade desse processo envolveu análises teóricas sobre o papel da Física, Química, Biologia e Ciências na educação, pesquisas sobre a forma de aprendizagem dos conceitos científicos, produção de materiais didáticos, desenvolvimento de metodologias, estudos do papel da linguagem, da motivação e do interesse, em alunos de diferentes faixas etárias (Krasilchik, 1994, p. 1). As preocupações com o ensino de Ciências são notadas em diferentes obras e com diferentes enfoques no que tange aos conteúdos abordados. Mas as plantas e os conteúdos referentes ao seu estudo são preocupação especial em livros como os de Moraes (1988; 1992;), de Soncini (1992) em “Metodologia do Ensino de Biologia”, de Krasilchik (1994) em “O Professor e o Currículo das Ciências”, de Delizoicov e Angotti (1994) em “Metodologia do Ensino de Ciências”, que discutem o processo de ensino e aprendizagem em Botânica. Já Krasilchik (2001), na sua obra “Biologia e o Homem”, descreve como o entendimento dos processos biológicos, da vida e da ciência passam pela perspectiva de como ensinamos e aprendemos Botânica e Biologia de modo geral. Esses autores podem ser lidos e percebidos como aqueles que repensam, discutem o ensino de Ciências e Biologia, seu currículo e sua história, estabelecendo interlocuções entre a formação inicial e a docência nestas áreas. Concordando em repensar as formas de ensino e o currículo de Botânica: “A evolução do ensino de Botânica nos congressos da SBB”, investigação de Güllich; Pansera-de-Araújo; Tissot-Squalli (2002) publicado no Livro de Resumos do 118 53° CNB - Sessão de Ensino identifica “a necessidade de entender melhor as questões sobre o ensino de botânica analisando concepções docentes e discentes” (GÜLLICH; PANSERA-DE-ARAÚJO; TISSOT-SQUALLI, 2002, p. 304). A partir desta investigação torna-se nítido que o trabalho docente de ensinar envolve discussões sobre o ato de ensinar, sobre a história dessa ciência, sobre o conhecimento botânico, em especial, sobre a educação enquanto processo. A Botânica, enquanto saber, vem sendo constituída ao longo da história da humanidade (BERNAL, 1997), porém, ainda necessita de um estudo aprofundado sobre as aprendizagens significativas, em especial, a identificação dos vegetais. Neste estudo, compreendi que a dimensão histórica é a premissa para os entendimentos da Ciência Biológica e, por conseqüência, da Botânica. Esta história interfere, modifica e manipula o presente: tendo em vista que a essência da Ciência é o processo continuado de soluções de problemas na busca de um entendimento do mundo em que vivemos, uma história da Ciência é antes de tudo uma história de problemas da Ciência e de sua solução, ou de soluções tentadas. Mas ela é também uma história do desenvolvimento dos princípios que formam a estrutura conceitual da Ciência. Como as grandes controvérsias do passado muitas vezes se estendem até a Ciência moderna, muitos problemas atuais não poderão se plenamente entendidos sem uma compreensão da sua história ( MAYR, 1998, p.15). Para Karl Van Linné, a Botânica se organiza através da sistemática, sem a qual estaria num caos perfeito, e Mayr (1998), concordando com Linné, pesquisou como a trajetória do pensamento biológico e do sistema botânico evoluiu e tomou para si os conceitos e tendências que influenciaram o mundo científico desde a Idade Antiga até os dias atuais, enfatizando a Concepção Positivista que se aloca, hoje, nos mais variados ramos da Biologia. Aspectos religiosos, filosóficos e sociais influenciaram os caminhos percorridos pela Ciência; assim sendo, ela além de um construto histórico é social, segundo Lopes (1998). Nos tempos atuais, a sociedade brasileira vive, no seu contexto educacional um momento de ruptura das estruturas curriculares e aloca-se num novo paradigma social, o da pós-modernidade, ou seja, a interlocução dos saberes (MARQUES, 2001). 119 Essa dissertação de mestrado é o resultado de minha formação enquanto professor-mestre e expressa uma investigação acerca do Ensino da Botânica no Brasil. Nela faço uma análise da historiografia dessa ciência, descreve as concepções de ensino e o currículo que perpassam a Sociedade Botânica do Brasil em sua Sessão de Ensino relatando limites e possibilidades de ação pedagógica em torno do eixo central: Ensinar e Aprender. A análise temática enquanto dimensão metodológica levou-me a entender o Ensino de Botânica através de um viés possível (currículo e ensino), entre tantos disponíveis que podem implicar em leituras conceituais e epistêmicas, que levam a novos caminhos e conclusões. Aprender e ensinar Ciências, Biologia e, Botânica, em especial, pressupõe a construção de um corpus teórico que tem exigências, segundo GIL-PÉREZ & CARVALHO (2000, p. 37), para além de “recursos ou estilos de ensino”, como em qualquer outro domínio científico. Dentro disso, pude compreender que as preocupações da SBB, enquanto instituição científica, foram demasiadas em produzir metodologias de ensino, descuidando de como ocorre o processo de aquisição do corpus teórico em Botânica. Vale salientar, porém, que, em sua história, a SBB serviu e serve de espaço-tempo de discussão e produção de significado no que tange ao seu ensino, mas preserva a concepção e o currículo tradicionais de ensinar. A SBB necessita ser ouvida e reconhecida como associação científica pelas políticas públicas de educação, não somente pelo fato de produzir ciência, mas por ter se dedicado às pesquisas em ensino e ter reservado um espaço próprio para tais discussões. A SBB não regulamenta nem revela um currículo único e oficial para o ensino da Botânica; pelo contrário, apresenta, discute e sistematiza as pesquisas e preocupações acerca deste ensino no Brasil. Entendo que o ensino de Botânica passa por concepções do seu saber específico, de ciência, de currículo e de ensinar e aprender. Isto me permite acreditar na docência como algo que depende da sociedade em que estamos inseridos e com quem dialogamos. A sessão de Ensino da Botânica da SBB é uma possibilidade de discussão-reflexão de práticas de ensino, que me presenteou com o 120 entendimento da sua dimensão enquanto instituição, preocupada com as questões do ensino, ao longo do tempo. A expressão das concepções de ensino, desde a Tradicional ou Bancária, Interdisciplinar e Histórico-Cultural, mostra que ocorrem mudanças na maneira de ensinar a Botânica, constantemente. Essas diferentes concepções presentes na SBB (trabalhos analisados) permitem-me crer que o ensinar – aprender percebe-se das mudanças sócio-culturais, recebe seus efeitos e modifica suas ações (esta leitura é fruto da análise do movimento discursivo entre as teorias que sustentam as práticas de ensino apresentadas pela SBB). As investigações quanto ao processo de ensino-aprendizagem da Botânica são reduzidas; portanto, urgem pesquisas sobre o seu ensino analisando as concepções docentes e discentes, bem como sobre o estado da arte e a história da construção desse conhecimento no Brasil (GÜLLICH; PANSERA-DE-ARAÚJO; TISSOT-SQUALI, 2002, p. 304). Por isso, a prevalência da concepção positivista de ciência assentada na racionalidade técnica, verificada nos resumos, e não as investigações sobre como se processa o ensino-aprendizagem foi entendida como parte da construção histórica da Botânica enquanto saber-ciência. Outro aspecto é que o ensino de Botânica está caracterizado, na sua maior parte, por uma perspectiva positivista e disciplinar, sem acolher as múltiplas vozes que constituem esse saber de forma a tornar significativo o “nome das plantas”. O estudo do currículo esboçado pela SBB para o ensino da Botânica, revela a história, o contexto e o texto, que num caminho próprio e autêntico discute e tece currículo, identidade (SILVA, 2001). O currículo que se encontra esboçado na SBB é fruto de suas práticas pedagógicas que geraram teorias e, assim, puderam ser lidas, identificadas e analisadas através dos resumos. Acredito que o currículo de Botânica esboçado na SBB é fruto de uma trajetória histórica inserida em diferentes contextos, porque as pessoas que fazem a identidade deste currículo possuem ideologias, crenças, subjetividades próprias e 121 individuais. Os resumos analisados mostram que a Sessão de Ensino da SBB se constituiu um importante espaço de produção do conhecimento sobre o ensino. Pois, “a partir desse conjunto de atividades emerge um campo de conhecimento – o ensino das Ciências – sustentado por instituições acadêmicas, associações profissionais e órgãos governamentais” ( KRASILCHIK, 1994, p. 1). Verifiquei que as instituições como a SBB determinam a vigência de algumas ações das IES, formadoras de Licenciados e Bacharéis em Biologia, que produzem, assim, seus currículos para discussão na Sessão de Ensino da SBB. Nas diferentes Sessões da SBB, a participação de docentes dos licenciados com vozes de formadores que são, é tênue ou de pequena relevância, mas na Sessão de Sistemática de Fanerógamas as vozes se tornam muitas, como sistematas e pesquisadores. A análise do ensino de Botânica no Brasil serve, ainda, de referência a outras áreas do conhecimento, como um diagnóstico constituído que dá conta de entender em parte, como se estrutura um currículo, como está esboçado enquanto elo formador e como tece suas representações enquanto instituído e instituinte. Entendo que, a partir da Sessão de Ensino de Botânica, o ensino, a história e o currículo, passam a ser temas discutidos entre os formadores, que começam a conversar mais estreitamente sobre seus caminhos de formação. A formação inicial e continuada de Licenciandos e Bacharelandos através dos formadores e IES devem repensar o currículo do Ensino de Ciências no Brasil de modo geral no que tange ao que e como se ensina, não somente Botânica, mas Zoologia, Ecologia, Genética, ... para que a produção de sentidos e significados não se dê apenas no âmbito da SBB, mas também, nas IES e nas escolas. Outro aspecto importante é que a SBB enquanto referencial para discussão demonstra uma preocupação com o ensino na perspectiva da mudança. Ouras Instituições como SBG e SBZ começam a produzir pesquisas na área e também, criam Sessões de Ensino que então, passam a merecer cuidado especial. É criada também a SBENBIO que se dedica a mostrar os relatos de experiência e pesquisas sobre o Ensino de Biologia de maneira geral. 122 Assim, ampliam-se as discussões, teorias, estudos e interações, sobre aprender e ensinar, nos paradigmas da vida em que as minhas compreensões já não são mais só minhas, são hermenêuticas de minhas aprendizagens através de uma história, que se refletirão no meu modo de “professar o saber”. As plantas seguirão comigo, em meu caminho seguiram junto, com, e não aprenderei com elas e sobre elas, a história se encarrega da vida, a ciência da história da vida o professor do ensino e a escola toma seu curso a partir de suas vivências. O professor –pesquisador observa e recria problemas, inventa, cria, produz, e de suas prática brotam teorias e novas perguntas que ao inquietarem sua alma o fazem novamente pesquisar. Roque Ismael da Costa Güllich Inverno de 2003 123 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de. Introdução à etnobotânica. Recife: Bagaço, 2002. 87p. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Tradução Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1997. 226p. BARRADAS, M. Mércia, NOGUEIRA, Eliana. Trajetória da sociedade botânica do brasil em 50 anos. Resgate da memória dos seus congressos. Brasília: Sociedade Botânica do Brasil, 2000. 167p. BERNAL, John D. Historia social de la ciencia 7.ed. v. 1. Barcelona: Península, 1997. 540p. BROSSE, Jacques. As plantas e sua magia. Tradução de Pina Bastos. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. 253p. CARVALHO, A. M. P. de; GIL-PÉREZ, Daniel. Formação de professores de ciências. São Paulo: Cortez, 2000. 120p. CARVALHO, Douglas Antônio de. 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ANO: 1982 A 1- PROJETO “COMPETENCIAS BÁSICAS EM BOTANICA I : contribuição ao conhecimento dos elementos generativos de vegetais superiores.” GASTÃO OCTAVIO FRANCO DA LUZ MARIA MIRANDA SHOENBERG YEDO ALQUINI* O processo ensino-aprendizagem na área de Botânica tem , nos últimos anos , merecido , paralelamente ás preocupações com a pesquisa razoável espaço nas discussões e na experimentação de novos tratamentos pedagógicos , no Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná . Como parte deste movimento , a presente comunicação vem trazer informações referentes ao andamento de um projeto voltado para esta questão e que iá se encontra em fase de implementação . As metas do projeto voltam-se , fundamentalmente , para a contribuição nos esforços de : a- posicionar a Universidade , enquanto co-participante no avanço do ensino e da pesquisa , como centro de excelência na elaboração de propostas alternativas para melhoria do processo ensino-aprendizagem , em todos os níveis ; b- facilitar a dinamização de estudos na área da Botânica , em todos os níveis do ensino ; c- elaborar recursos que contribuam de forma dinâmica , tanto com o ensono , quanto a aprendizagem . Para tanto , o projeto se propõe a ofertar recursos instrucionais , ( competências básicas em Botânica , recomendações de estratégias , recursos e sistemas de avaliação) , envolvendo a escolarização , desde o Pré-Escolar , até o ensino de 2º grau , nas modalidades Regular e Supletivo. Como suporte teórico , a iniciativa embasa-se no seguintes elementos : a- concepções Botânicas voltadas para a vitalização de conteúdos , métodos e princípios da ciência vegetal ; 130 b- concepção de currículo , de acordo com a contribuição de EISNER & VALLANCE; c- adoção dos princípios do movimento que , no Brasil denomina-se Ensino para Competência ; d- elaboração das competências a partir das recomendações de BLOOM ( domínios e níveis , na taxonomia de objetivos ) e POPHAM ( regras para elaboração de objetivos ) ; e- adoção dos princípios da psicologia genética de PIAGET , associadas as recomendações de GAGNÉ , quanto ao tratamento a ser dispensado à forma de dinamizar o processo ensinaraprender . O projeto tem duração mínima de implementação de 2 anos e será complementado , através do projeto COMPETENCIAS BÁSICAS EM BOTANICA II , cujos objetivos voltar-se-ão para o Ensino de Graduação e de Pós-Graduação ( Mestrado e Doutorado ) . É no sentido de contribuir diretamente com o processo educacional e, por conseqüências, com a pesquisa na área de Botânica, que a equipe se propõe à execução da tarefa. O produto final, além de repercutir sobre o problema específico escolhido, poderá estimular profissionais de outros campos de atuação a igualmente gerarem recursos que ampliem a difusão dos mesmos, acelerando o processo de mudanças . *Professores Assistentes do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná. A 2- PROPOSTA CURRICULAR PARA A ÁREA BOTANICA , A NÍVEL DE GRADUAÇÃO COM BASE EM ENSINO PARA COMPÊTÊNCIA . GASTÃO OCTÁVIO FRANCO DA LUZ * O tratamento dispensado ao ensino da Botânica , á nível de graduação , tendo como ponto de apoio a estruturação de programas , não vem atendendo as exigências para uma aprendizagem efetiva , nem propiciando meios para uma vitalização dos valores da Botânica , enquanto ciência. Após pesquisa bibliográfica e análise de documentos legais é possível afirmar que: a- a história da botânica no Brasil , do século XVI até o presente , revela : (1) uma preponderante maioria de pesquisadores estrangeiros respondendo pelo vulto da pesquisa na área , no país ; (2) uma tendência maximizadora de trabalhos voltados para o campo da sistemática , e detrimento das demais sub-áreas e (3) o baixo número de pesquisadores na área , o que vem revelando alarmantes de agravamento; b- invariavelmente , as Universidades implementam o processo ensino-aprendizagem , a partir de programas gerados classicamente , em lugar de estruturarem um currículo para a botânica , tratado de acordo com recomendações teóricas já existentes e aplicadas com bons resultados em outras áreas do conhecimento humano . Metodologicamente , o problema foi tratado sobre os seguintes enfoques : a- busca dos conteúdos , métodos e princípios significativos ao processo ensinoaprendizagem e a vitalização da Botânica ; b- elaboração de um modelo referencial para currículo de Botânica , abordado tridimensionalmente ( dimensões cognitiva , metodológica e ético-profissional); c- definição de conjuntos e áreas de competências , por dimensão , relativos as diferentes disciplinas ofertadas pelo departamento de Botânica da UFPr . , a oito diferentes cursos de graduação ; d- estruturação do currículo em Botânica , a partir dos axiomas que norteiam o movimento denominado Ensino para Competência ; e- levantamento de sugestões relativas a forma de dinamizar um currículo para competência em Botânica , visando a eficiência e a eficácia dos resultados ; f- validação de , aproximadamente 1.300 competências ( distribuídas em dez disciplinas , nas três dimensões ) , junto ao estafe departamental . Resultados e conclusões : a- o índice de aceitação das competências , permaneceu ao redor de 93% ; b- após tomar conhecimento dos princípios que norteiam o Ensino para competência , o estafe conseguiu identificar mais 28 atividades ou disciplinas , passíveis de oferta pelo Departamento , tendo em vista as reais necessidades da comunidade ; c- após dois anos de aplicação experimental da proposta , é possível observar melhoria no padrão de desempenho dos estudantes ; d- é necessária a busca de validação em outros centros universitários , tendo em vista a avaliação da proposta e sua possível adoção. *Dissertação de Mestrado ( área de concentração em currículo ); Professor Assistente do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Pará . ANO: 1995 131 A 3- CONTRIBUIÇÕES PARA UMA NOVA POLÍTICA NO ENSINO DE B0TÂNICA. Barbieri, M.R.; Carvalho, C.P.; Santos, S.A.B.; Guimarães, L.B.; Guimarães, M.V U.; Diniz, P.P. & Acciari, H. A. ( Depto. de Psicologia e Educação, LEC, FFCLRP, USP ). O envolvimento dos alunos graduados de Ciências Biológicas bolsistas do LEC em trabalhos na área de Botânica revela, em escala reduzida, as dimensões e as dificuldades para um ensino de Botânica ( 1º e 2º Graus) que reverta a situação . Essa área das ciências é uma das que tem pouco material investigado disponível para consultas e em formato acessível aos professores, a despeito do interesse que se tem produzido com o debate atual sobre o meio ambiente. Na explicação dos ecossistemas, há ênfase menor em fatores relacionados à vegetação do que em outros. De forma viesada, o tratamento dado às plantas vem geralmente associados a outros interesses muito distantes de seu próprio conhecimento. Os trabalhos realizados no LEC são temáticos e têm demonstrado a viabilidade de se construir a trajetória de produção de materiais instrucionais e atividades com os pesquisadores. Contudo, é um processo lento, dependente da presença de pessoas, de registros, de análises, enfim, de todo o caminhar próprio de investigadores. A resposta às inúmeras indagações depende da concentração de esforços em uma nova política para ensino de Botânica. A 4- JARDIM DIDÁTICO DA UFRJ – UM PROPOSTA DE OTIMIZAÇÃO E MELHORIA DAS ATIVIDADES DE ENSINO, PESQUISA E EXTENÇÃO NA ÁREA DE BOTÂNICA. Fernando V. Agarez ( Depto. de Botânica, UFRJ). A instalação do campus da UFRJ na atual ilha do fundão, na década de 60, foi precedida por um imenso aterro de oito ilhas, que configuraram uma área atual. de 4.500.000 m , provocando a destruição quase total da flora original. Apesar de existir um Plano Diretor definido o tratamento paisagístico a ser efetivado, este foi relegado, criando, conseqüentemente, grandes áreas livres de aterro, onde se instalaram populações de plantas invasoras, com domínio preponderante de Panicum maximum Jaq. Em 1992, em uma vertente construtivista e interdisciplinar envolvendo várias áreas da Universidade, o Núcleo de Atividades Didático-Científicas ( NADC ) do Depto. de Botânica, buscando inicialmente, de forma prioritária, contribuir para a melhoria da formação dos profissionais da área de Biologia, Farmácia e Paisagismo, implantou os primeiros canteiros do Jardim Didático em uma área aproximada de 1.200 m . Hoje, já atingindo as metas propostas, esse jardim viabiliza os objetivos práticos dos conteúdos programáticos de diversas disciplinas de vários cursos da UFRJ, bem como a consecução de atividades de pesquisa ( biotecnologia, controle biológico, recuperação de áreas degradadas, etc. )e extensão ( cursos de atualização para professores de 1º e 2º Graus, projetos de educação ambiental com a comunidade, etc. ) . Estrutura-se em seis áreas : ecossistema, plantas de uso popular, plantas ornamentais, experimental, atracão de aves de módulo de multi-uso, em fase de implantação. A 5- ELABORAÇÃO DE ATLAS DE BOTÂNICA – UM TRABALHO INDIVIDUAL. Raul Luís de Melo Dusi ( Depto. de Biologia, FFCL, Universidade Católica de Brasília ). Os hábitos e as estruturas alteram-se muito lentamente e as pessoas e o sistema são tentados, freqüentemente, a mudar apenas as aparências para não alterar a essência. Com isso, os processos de assimilação e de aceitação são lentos e graduais. Assim acontece na Botânica, que é um assunto predominantemente de campo e especulativo, sendo que é através da observação das plantas em si que se descobre sua natureza. Portanto, a elaboração de um Atlas de Botânica como material didático-pedagógico nas aulas de laboratório mostra que a realização de trabalhos práticos é necessária ao desenvolvimento de habilidades fundamentais, permitindo uma visualização objetiva e concreta dos conceitos e princípios básicos no estudo das plantas, reforçando, ainda, a formação do aluno e do futuro professor de Ciências/Biologia. O trabalho é desenvolvido seguindo uma ordenação lógica das estruturas externas e internas, onde se introduzem as noções e conceitos de organografia e morfologia. O Atlas de Botânico auxilia no desenvolvimento da criatividade, evitando transformar o ensino de Botânica em um curso que seja apenas memorizado, pois o aluno constrói um material didático-pedagógico próprio, que certamente será utilizado em suas atividades profissionais. ANO: 1996 A 6- DIAGNÓSTICO DO ENSINO SUPERIOR DE BOTÂNICA CRIPTOGÂMICA NO ESTADO DA BAHIA. Cláudia de Alencar Serra e Sepúlveda e Aristóteles Góes Neto ( Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS ). O ensino de terceiro grau destina-se à formação de profissionais nas áreas de: (a) ensino (em todos os níveis), (b) pesquisa científica e tecnológica, (c) atividades técnicas especializadas. Esta perspectiva, no entanto, não é freqüentemente levada em consideração pelos professores 132 universitários nas suas estratégias de ensino. Poucos são os trabalhos de investigação didática sobre o ensino superior no Brasil. Na área de Botânica, especificamente, uma discussão mais aprofundada sobre a prática pedagógica dos docentes somente se instaurou no último Congresso Nacional de Botânica (Ribeirão Preto, 1995) com a criação de uma seção temática específica. No Estado da Bahia existem seis instituições de ensino superior onde são ministrados cursos de Ciências Biológicas, Agronomia e Farmácia, nos quais se insere o ensino de Botânica. Foi realizada uma enquete com os professores que ministram as disciplinas relacionadas com Botânica Criptogâmica nestas instituições com o objetivo de avaliar o ensino desta área de Botânica nos seguintes aspectos: (1) a preocupação do docente com o desenvolvimento no aluno das competências necessárias prara atuar nos tês campos acima referidos, (2) o papel das atividades práticas e sua relação com a teoria, (3) as dificuldades em realizar as atividades práticas, (4) a disponibilidade e natureza dos recursos bibliográficos utilizados na elaboração das aulas e daqueles indicados aos alunos, (5) o tratamento da disciplina no currìculo, (6) formação do docente. A 7- PASSEANDO E APRENDENDO NO JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO – ESTUDOS VEGETATIVOS – Lúcia d’ A. Freire de Carvalho e Fátima S. Gil (Jardim Botânico do Rio de ); Massimo G. Bovini, Laurita M. de F. Lima, Ana Paula A. D.G. Monteiro (Bolsistas doCNPq Aperfeiçoamento) e Pedro Shuback (Fundação Botânica Margaret Mee) A diversidade morfológica existente define o Parque Florístico como uma escola prática de Botânica para taxonômistas e é capaz de despertar o interesse do público visitante. O estudo da morfologia vegetativa (caule, ramos e folhas), demonstrou uma variedade de formas estruturais de indiscutível valor taxonômico nos diversos níveis da hierarquia Vegetal; uma vez que as cnstantes variações na periodicidade da floração e frutificação, impedem a forma tradicional de identificação das plantas. As estruturas morfológicas mais delicadas, evidenciadas nas observações de campo, e que se modificam após a herborização demonstram valor taxonômico ainda não explorado pela taxonômia clássica. A interpretação destas observações serviram para elaboração de chave analítico-vegetativa visando o reconhecimento de 63 espécies de 29 famílias de dicotiledôneas arbustivas e arbóreas, em uma área selecionada. Estes resultados permitiram transformar a metodologia científica em um “guia educativo”para visitantes. Um glossário ilustrado por fotografias para termos técnicos, auxilia na interpretação das estruturas morfológicas mencionadas na chave analítica e nas descrições especificas. A distribuição geográfica, a origem e os nomes populares, completam os dados dos indivíduos estudados. ANO: 1997 A 8- PROJETO DE APRIMORAMENTO DO ENSINO DE BOTANICA ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Lígia Queiroz Matias, Carlos Lineu Frota Bezerra e Rivete Silva de Lima (Depto. Biologia, Centro de Ciências, UFC). O campus da UFC apresenta uma diversidade de sistemas ecológicos que favorecem a implantação de um programa de atividades práticas na área de Botânica. Dentro de seus limites, ocorre uma área remanescente de mata litorânea de tabuleiro com fácies secundária, multiestratificada e apresentado elevada diversidade de espécies. Nesta área, podem-se desenvolver diversos tipos de atividades através do planejamento de trilhas interpretativas que permitam a visitação dos alunos e professores e a aplicação de metodologia de ensino com ênfase às atividades práticas. Igualmente o levantamento da composição florística e da estrutura este remanescente e a análise da morfologia externa e interna da espécies presentes constituem-se em valiosos instrumentos para o ensino das disciplinas de Sistemática Vegetal, Morfologia e Anatomia Vegetal, Ecologia Vegetal e Botânica aplicada à Farmácia ministrado para os cursos de Ciências Biológicas, Agronomia e Farmácia. Outras formações Vegetais ocorrem em diferentes pontos do Campus, havendo setores antropofizados e ricos em espécies colonizadoras e ruderais que propiciam o ensino e a pesquisa de taxons específicos e de processos de sucessão ecológica. Adjunto à mata de tabuleiro, situa-se o açude Anastácio que juntamente com ambiente de interface açude/mata de tabuleiro, podem ser utilizados para o ensino de vegetais criptógamos, favorecendo o ensino das disciplinas de Botânica I e II do curso de Biologia. Foram desenvolvidas atividades práticas associadas ao conteúdo destas disciplinas e tendo como princípio a disponibilidade dos recursos naturais acima descritos. Objetivase a aplicação de metodologia com ênfase na observação in situ das espécies e o desenvolvimento de monografias que visem o conhecimento florístico e ecológico do Campus. Todas as atividades previstas acima para os cursos de graduação estão sendo adequadas às atividades do Clube de Biologia, projeto de extensão da UFC que objetiva a divulgação das ciências biológicas nas escolas de primeiro e de segundo graus de Fortaleza. 133 A 9- O ENSINO DE BOTÂNICA E O VIÈS DO PARADIGMA MECANICISTA. Gastão Octávio Franco da Luz ( Dptº. De Métodos e Técnicas em Educação, UFPR ) & Karin Esemann de Quadros (Dptº. De Ciências biológicas, UNIVILLE; Deptº de Tecnologia Moveleira, UDESC). Envolvendo uma amostra de estudantes de ambos os sexos, da zona rural e urbana, nos ensinos de 1º a 3º graus, por meio de pesquisa qualitativas que se valeu de técnicas multivariadas para a obtenção de dados o trabalho evidencia a permanência de um naturalismo marcado pelo que os autores têm denominado a “aparente inutilidade das Ciências Naturais”. Tal evidenciação se dá pela revelada incapacidade de o ensino de Botânica em afastar-se da hipervalorização dos princípios de descriação/classificação de base aristotélica (contemplação) e do princípio newtoniano que faz do saber escolar um treinamento em termos de comportamento teórico que exige distanciamento da realidade. Do ponto de vista pedagógico, o ensino de Botânica continua não participando das tendências ( MEC, Cartas Internacionais, etc.) que, a muito, colocam ao menos a interdisciplinaridade, o Construtivismo e o Interacionismo, com metas a serem alcançados pela Educação Nacional. ANO: 1998 A 10- O HERBÁRIO DIDÁTICO DA UFPA : UMA PROPOSTA DE MELHORIA DO ENSINO DA BOTÂNICA NA GRADUAÇÃO. Maria das Graças Pires Sablayorelles¹, Chieno Suemitsu¹, Marília da Conceição S. Machado², Kátia Ane S. Jesus² ( 1. Professoras da UFPA; 2. Estagiárias do Herbário da UFPA; Laboratório de Botânica – Belém – Pará ). Visando contribuir para o ensino da Botânica, a nível de graduação, dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Biologia, e Farmácia da UFPA, e estimular o conhecimento sobre a flora local e suas potencialidades econômico-sociais, o Herbário da UFPA (HF), vêm investindo no sentido de construir coleções didáticas de plantas regionais. Para tanto, vem sendo realizadas coletas periódicas de material botânico, em regiões de várzea e de terra firme, próximas a Belém, e parceiras com outros Herbários da região ( Museu Goeldi e EMBRAPA/CPATU ). O material botânico coletado é herborizado e/ou fixado em meio líquido ( FAA à 50% ou Álcool à 70% ) permitindo assim sua entrada em uma das seguintes coleções: 1) o herbário temático ( atualmente centrado em 3 assuntos: plantas tóxicas e medicinais; plantas frutíferas e plantas com potencial madeireiro ); 2) a de flores e frutos em meio líquido; e 3) a de frutos secos e sementes. O Herbário consta ainda de uma coleção de referência, onde as excicatas que constituem o acervo, estão arranjadas segundo o Sistema de CRONQUIST (1998). O acervo de plantas criptogâmicas (algas, liquens, briófitas e pteridófitas) esta sendo efetivamente constituído. O Herbário didático tem permitido melhorar as aulas práticas de Morfologia Vegetal, Sistemática de Criptógamas e Fanerógamas na UFPA, possibilitando aos alunos Ter exemplos práticos com plantas da Amazônia, independentemente de sua época de floração/frutificação no campo, e contato com espécies oriundas de vários ecossistemas. O Herbário didático tem colaborado com os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), dos alunos de graduação da UFPA, permitindo a identificação das plantas por eles estudadas, e fornecendo informações sobre seu uso e seu potencial econômico na região. Todo o acervo do Herbário, vem sendo inventariado e informatizado, através do programa BRAHMAS, com o apoio do Laboratório de Botânica da EMBRAPA-CPATU, para permitir o acesso mais rápido e eficaz às coleções, por parte de alunos e professores. As principais dificuldades encontradas tem sido a escassez de recursos financeiros, que limita a possibilidade de realização de coletas de material Botânico diversificado, e a falta de um espaço mais adequado de atendimento ao público alvo. A 11- A CONTRIBUIÇÃO DA UNIVERSIDADE NO APRENDIZADO DA BOÂNICA POR ALUNOS DO 1º GRAU, ATRAVÉS DA CRIAÇÃO DE GRUPOS DE TRABALHO ITERINSTITUCIONAIS. Marta Angela Marcondes e Dagmar Santos Roveratti (Escola de Ecologia – UniABC-Universidade do Grande ABC, São Caetano do Sul/SP). Dentro do ensino de Ciências, vários conteúdos da Botânica são abordados junto aos alunos de 5ª à 8ª séries. Os grupos vegetais fazem parte do programa de Botânica nestas séries e constituem um dos assuntos que apresentam grande grau de dificuldade de aprendizado , principalmente devido à problemas de associação entre as características morfológicas e os nomes dos grupos. Sendo assim, atividades práticas de observação e outras técnicas são fundamentais para a compreensão e identificação dos diversos grupos pelos estudantes. No inicio do ano letivo de 1997, foi estabelecido um projeto de atividades conjuntas a serem desenvolvidas entre professores e alunos da UniABCUniversidade do Grande ABC e professores e alunos do Colégio Barão de Mauá. Dentre as atividades foi montado um grupo de alunos de 5ª à 8ª séries, que acompanhados por professores e 134 estudantes de Biologia da UniABC, realizaram visitas periódicas a um parque situado no município de Mauá, onde localiza-se o colégio, o Parque Guapituba. Orientados pelos professores e estudantes universitários, os alunos do 1º grau foram conduzidos a fazer uma análize da composição florística do Parque que incluiu informações sobre morfologia externa, coleta e preparo de exsicatas e montagem de herbários. Todas estas atividades foram direcionadas de forma a compatibilizarem os conteúdos de Botânica que estavam sendo conduzidos em sala de aula pelos professores do colégio. De acordo com os professores que acompanharam o desenvolvimento destas atividades, a aprendizagem dos conteúdos da sistemática Botânica foi extremamente facilitada e realizou-se de forma expontânea, resultando em inúmeros trabalhos com produção de painéis fotográficos, um pequeno herbário, além da motivação dos alunos de ambas instituições em dar continuidade a outros estudos no Parque no presente ano letivo o que demonstra, também, o aprendizado recíproco entre os estudantes universitários e os do 1º grau. A 12- APRIMORAMENTO DO ENSINO DE BOTÂNICA ATRAVÉS DA IMPLANTAÇÃO DO HERBÁRIO DIDÁTICO DO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES – UERJ EM SÃO GONÇALO, RJ. Maria Cristina Ferreira dos Santos (Profª. Assist., Depto. Ciências, FFP/ UERJ ), Marcelo Guerra Santos (Mestrando em Botânica do Museu Nacional. UFRJ), Kelly Araújo Lúcio, Kelly Maurício Leal, Luiz José Soares Pinto, Rita de Cássia couto Silva, Tatiana Antunes da Silva (Estagiários, Depto. Ciências, FFP/UERJ). Com os objetivos de aprimorar o ensino de Botânica no Curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Formação de Professores e de fazer o levantamento da flora e seus recursos das regiões próximas ao Campus ou que tem sofrido fortes ações antrópicas, são desenvolvidas atividades de coleta, observação de campo, herborização, cadastramento de espécies e manutenção do herbário. As coletas tem sido realizadas principalmente nos municípios de São Gonçalo, Niterói e Engenheiro Paulo de Frontin, em regiões sobre constante ameaça de devastação. A implantação do herbário constitui-se em importante instrumento para o ensino dos conteúdos de Morfologia, Anatomia e Sistemática Vegetal contidos nos programas das disciplinas de Botânica do Curso de Ciências Biológicas, bem como para as atividades de pesquisa e extensão, visando a aplicação de novas metodologias de ensino e desenvolvimento de monografias relacionadas ao ensino de Botânica no primeiro e segundo graus e ao conhecimento da flora destas regiões e de sua importância. O herbário esta situado no segundo andar do prédio principal da Faculdade, nas dependências do Departamento de Ciências e atualmente conta com um acervo de 580 exsicatas, sendo as famílias Euphorbiaceae, leguminosae e Compositae as mais representativas. A 13- UMA NOVA REALIDADE DO ENSINO DE BOTÂNICA PARA PROFESSORES DE CIÊNCIAS. Zoraida M. de M. Gouveia, Amelia Iaeca Kanagawa (Depto. De Sistemática e Ecologia, CCEN/UFPB), Romualdo L. Leite (Bolsista da PRAC/UFPB). O Departamento de Sistemática e Ecologia do CCEN/UFPB realizou treinamento de professores da rede municipal de ensino das cidades de Duas Estradas, Serra da Raiz e Conde nos anos de 1994, 1995 e 1996, respectivamente com o objetivo de aumentar e melhorar o nível de ensino de Ciências ministrados nas escolas públicas dos municípios do interior da Paraíba. Para esse treinamento utilizou-se a seguinte metodologia: Fase 1 – seleção de um recém-graduado em Ciências Biológicas (monitor de treinamento). Fase 2 – treinamento e orientação deste monitor pelos docentes do DSE envolvidos no projeto (supervisores). Fase 3 – treinamento dos professores de Ciências através do monitor. 4 – acompanhamento do treinamento através de visitas mensais do supervisor e do monitor às escolas atendidas pelo programa. Foram treinados 23 professores de serra da Raiz, 25 de duas Estradas e 68 de Conde com 20, 30 e 20 horas de aulas práticas, respectivamente. Para a ministração das aulas procurou-se utilizar amostras das plantas mais comuns na região e o emprego de materiais de fácil acesso e baixo custo para a preparação do material didático, buscando assim facilitar a relação ensino-aprendizagem. Foi observada uma grande Heterogeneidade na formação dos professores trinados, desde leigos a licenciados em Ciências. Considerando a realidade local o nível dos professores, foram obtidos resultados positivos quanto ao aumento do conhecimento dos treinados. A 14- PREPARAÇÃO DE MATERIAL BOTÂNICO PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS. Zoraida M. de M. Gouveia, Amelia I. Kanagawa, Carlos Alberto B. Miranda (Depto. de sistemática e Ecologia, CCEN/UFPB), Vanice Apolinário, Verônica Medeiros (bolsistas, PRAC/UFPB). De uma maneira geral, as Escolas da rede de ensino do Estado da Paraíba não dispõe de laboratórios adequadamente equipados, capazes de possibilitar o ministro de aulas práticas de boa qualidade para seu alunado. Este fato levou o Departamento de Sistemática e Ecologia, do Centro de 135 Ciências Exatas da Natureza da Universidade Federal da Paraíba, desde o ano de 1994, a oferecer para os professores das Escolas de 1º grau, cursos de preparação de material botânico, visando habilitar os professores de Ciências em técnicas de coleta, preparação e conservação de espécies vegetais para fins didáticos. Os cursos foram ministrados através de aulas teóricas (cinco horas) e práticas (quinze horas) dando-se preferencia ao material de baixo custo e de simplicidade operacional. Utilizou-se o material biológico da região que foi preparado nos laboratórios do DSE. Os métodos de coléta e preparação utilizados no curso foram variados de modo a abranger a diversidade dos organismos. Em 1994, quando foi realizado o primeiro curso, inscreveram-se 12 professores oriundos de escolas distintas. No segundo curso, inscreveram-se 22 professores, sendo 21 de escolas públicas e 1 de escola particular. No terceiro, inscreveram-se 18 professores, sendo 13 de escolas particulares e 5 de escolas públicas. Todos os professores vieram de escolas localizadas na capital do Estado. O material coletado e preparado pelos alunos foi doado às respectivas escolas para que seus professores o utiliza-se em suas aulas de laboratório. Após a realização de cada curso foram feitas visitas às escolas para se observar o uso adequado de material didático, bem como o emprego das técnicas de coléta e preparação utilizadas pelos professores em suas respectivas aulas práticas. Foi observado um maior interesse dos alunos através da constatação do aumento da quantidade de coleções botânicas preparadas nas escolas visitadas. A 15- OFICINAS DE BOTÂNICA – UMA PROPSTA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL. Rosilane Ferreira de oliveira & Lígia Queiroz Matias (Depto. de Biologia. Centro de Ciências/UFC) O ensino de Botânica geralmente tende a se transformar num cansativo processo de memorização, limitado a descrições morfológicas, gerando um quadro contemplativo e exigindo dos alunos um comportamento rígido, típico da sala de aula convencional, tratando o ensino de ciências como um processo estático. Talvez por falta de equipamentos e de orientação adequados, o processo ensinoaprendizagem torna-se obsoleto, levando a um desinteresse pela Botânica. A nossa proposta de prática ao ensino de botânica visa motivar o aluno, principalmente estimulando a curiosidade, a exploração e as descobertas do universo que o rodeia. Trabalhando com o material de baixo custo (cartão, cartolina, plásticos, argila, isopor, madeira, entre outros), na própria escola e nas suas proximidades, coletando espécimes botânicas e relacionando caracteres ao ambiente circundante, desenvolveu-se práticas que demonstram a biodiversidade encontrada no reino vegetal. Para isso, utilizou-se as angiospermas, uma vez que este grupo oferece grande quantidade de material botânico, tanto na região nordeste como nas demais, fazendo com que o método desenvolvido possa ser aplicado em diferentes lugares e ecossistemas. Baseando-se na proposta construtivista e aplicando técnicas lúdicas, preparou-se kits educativos, maquetes, experimentos e trilhas interpretativas que objetivem a vivificação da natureza. A partir desta experiência, introduz-se conceitos botânicos e aplica-se jogos interativos nos quais os alunos irão exercitar e demonstrar o conhecimento adquirido. Estes modelos podem também ser utilizados em feiras de ciências e atividades relacionadas, levando o aluno a criar o seu próprio material de estudo. Desta forma, substitui-se os métodos tradicionais de ensino e de avaliação por um processo dinâmico e mais eficiente, considerando o aluno como objeto central do processo de aprendizagem. ANO: 1999 A 16- PROGRAMA DE ENSINO DO PROJETO FLORA FANEROGÂMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. UMA EXPERIÊNCIA NA CIDADE DE SÃO CARLOS. Lucia R. dos Santos Amaral, Maria Estela Buosi. Maria Luiza Menthen (E.E. Dr. Álvaro Guião ) & Denise de Freitas* , Luisa S. kinoshitaº, Maria Cecília P. Brandtº, Maria Helena A. de O. e Souza º, Maria Inês S. lima. (*DEME, . DB – UFSCar, ºUNICAMP) O Programa de Ensino do Projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo visa criar condições para que os conhecimentos produzidos por este último projeto cheguem, de forma adequada, ao ensino de segundo grau e, mais do que isso, contribuir para que o ensino de Botânica se torne mais atrativo nesses níveis, permitindo aos estudantes se interessar mais por essa ciência. O programa prevê a pesquisa da eficácia de sua implementação e, assim, fez-se necessário o estabelecimento de uma metodologia para tal. Foi escolhido como piloto, um terceiro ano de segundo grau. Foram usados três instrumentos de avaliação, aplicados no início e no final do processo: O primeiro foi uma música, cuja letra foi distribuída aos alunos, sem o nome e sem o autor. Essa música, após ouvida, deveria receber de cada aluno um título, que se contituiria também num tema para redação. A música utilizada foi “Matança” do compositor Jatobá, que cita diversas árvores nativas brasileiras. O segundo foi uma actividade artística na qual os alunos foram convidados a desenhar a praça “Paulino Botelho”, que seria utilizada posteriormente, para um estudo do meio, abordando aspectos biológicos, geográficos e históricos. O terceiro instrumento foi um questionário com os seguintes enfoques: 136 conhecimento de Botânica, conhecimento do espaço circundante, resolução de problemas e atitudes, habilidades e posturas. O programa desenvolveu-se com a utilização de variadas estratégias didáticas, entre as quais se incluíram três estudos do meio: o acima mencionado e mais dois outros, na “Trilha da Natureza” da Universidade Federal de São Carlos e na Fazenda Pinhal. (Processo Fapesp no. 97/02322-0) A 17- O ENSINO DE BOTÂNICA EM ESCOLAS DE 1º GRAU DA REDE PÚBLICA DA PARAÍBA. Zoraida M. de M. Gouveia (Departamento de Sistemática e Ecologia do CCEN/UFPB) Com a finalidade de contribuir para a melhoria da qualidade de ensino prático das aulas de Botânica nas escolas públicas, a área de botânica do DSE/CCEN da Universidade Federal da Paraíba vem desde há alguns anos, desenvolvendo junto aos professores do primeiro grau, em escolas de cidades do interior e da capital do Estado da Paraíba, orientação e acompanhamento das aulas práticas ministradas de Botânica. Foram selecionadas quatro escolas: uma na cidade de João Pessoa; uma na cidade do Conde; uma na cidade de Serra da Raiz e uma na cidade de duas Estradas. Em cada uma delas, foram realizadas reuniões, envolvendo os professores com o objetivo de levantar-se dados sobre o nível de aprendizado dos alunos. Depois disso, foi aplicado, aos alunos que já haviam cursado a sexta série, um teste para se saber o nível de aprendizado em Botânica. Os docentes das escolas envolvidas foram treinados através de seminários e visitas de campo. Nas visitas de campo, foi coletado material botânico visando a formação de mini-coleções didáticas, utilizando-se material de baixo custo e abundante em cada cidade (jornais velhos, cartolina, garrafas de plásticos, barbante, etc..) para suporte às aulas práticas. Durante o período letivo, os docentes foram treinados na elaboração das coleções didáticas de botânica. Ao final do primeiro ano de execução do projeto, foi aplicada à turma da sexta série cujos professores foram treinados, o mesmo teste foi aplicado na mesma turma do ano anterior. Os resultados obtidos (percentagem de acréscimos em relação as médias de cada turma) foram os seguintes: Escola A = 24,52%; Escola B = 18,42%; Escola C = 27,69% e Escola D = 32,45%. Percebe-se que em todas as escolas, as turmas da sexta série tiveram acréscimos positivos nas médias de avaliação, evidenciando um aumento no aprandizado de Botânica. A 18- PLANTAS MEDICINAIS NO ENSINO DE BOTÂNICA DO CURSO MÉDIO: UMA EXPERIÊNCIA DE PARCERIA ENTRE O JARDIM BOTÂNICO DE BELO HORIZONTE E A ESCOLA SANTO TOMÁS DE AQUINO. Albina Carvalho de Oliveira Nogueira & Mônica Versiane Machado (jardim Botânico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, Escola Santo Tomás de Aquino– Belo Horizonte. e-mail: [email protected]) Com o objetivo de resgatar o conhecimento sobre plantas medicinais e motivar os alunos a estudarem Botânica, o jardim Botânico e a Escola Santo Tomás de Aquino desenvolveram um projeto em Lavras Novas, minas Gerais, onde existe a tradição do uso das plantas como medicamento. Quarenta alunos do 2º ano do 2º grau foram divididos em grupos de 8 (oito) elementos. Entrevistaram-se 200 famílias permitindo verificar que as principais espécies usadas são as seguintes: Cymbopogom citratus (D.C) Stapf, Artemisia absintium L., anthemis cotula L., Mentha viridis L., Ctyledon orbiculata L., Gossypium herbaceum L., Plantago major L., Ocimum suave Willd, Persea americana L., Sechium edule (Jacq) Sw, Citrus aurantium L., Petroselium officinalis Hpffm, Tanacetum vulgare L., Coleus barbatus Benth, Rosmarinus officinalis L.. Das espécies nativas destacam-se: Achyrocline satureoides D.C., Buddleya brasiliensis Jacq., Vernonia polyantes Less., Bauhinia forficata Link, Bidens pilosa L., Stryphnodendron barbatiman Mart. e Bacharis trimera (Less) D.C..\ Verificou-se que apenas 15% dos conhecia pelo menos 1 das espécies usadas em Lavras Novas. Evidenciou-se a falta de vivência com as plantas e relacionamos esse fator ao desinteresse em estudar Botânica. A montagem das excicatas com as informações, obtidas nos questionários, a cerca da frequência de uso, forma de obtenção das plantas, parte usada, método utilizado para o preparo, quantidade empregada e indicações medicinais, facilitou a aprendizagem dos conteúdos de sistemática e morfologia vegetal. Ao final do trabalho registrou-se uma receptividade de 80% da turma em relação ao estudo de Botânica. Pode-se concluir que as atividades práticas desenvolvidas constituíram uma estratégia de estímulo ao estudo dos vegetais e ao mesmo tempo resgataram valores na utilização dos mesmos. A 19- O COMPONENTE VEGETAL NA 6ª SÉRIO DO 1º GRAU: ENSINO – APRENDIZAGEM (Mirassol D’Oeste, Mato Grosso) Maria Antonia Carnello & Germano Guarim Neto (UNEMAT – Cáceres, MT; Programa de Pós-Graduação em Educação – UFMT. ) A preocupação central este estudo refere-se à maneira como ocorre o ensino-aprendizagem do componente vegetal, tendo como base o trabalho pedagógico efetivado na Escola Estadual de 1º e 2º 137 Graus “Pe. José de Anchieta”, em Mirassol D’Oeste – Mato Grosso. O trabalho foi desenvolvido em dois anos, adotando o estudo de caso como metodologia, envolvendo reflexões no interior da Escola com professores, alunos e o livro didático. O livro, embora questionado, é legitimado pelos professores como instrumento que lhe possibilita desenvolver o trabalho docente. Alunos e professores manifestaram insatisfações com o resultados do trabalho no cotidiano da Escola. Na elaboração de propostas de ensino e de currículo sobre o ensino de Botânica o aluno não participa, cabendo aos professores a decisão sobre o conhecimento mais válido a ser trabalhado. Constatou-se que os alunos possuem clareza dos elementos relevantes no estudo de Botânica e os professores têm disposição para interferir neste estado de insatisfação. todos se interessam pelo estudo da flora regional e as respectivas potencialidades, convergindo com o programa de morfologia e fisiologia previsto no currículo, enquanto que os professores apontam à falta de orientação e acesso a produções cientificas basilares do trabalho. Afirmam também que os trabalhos experimentais e de campo possibilitam uma aprendizagem mais completa sobre o componente vegetal. Nas relações de ensino não identificou-se nenhuma concepção de Ciência como orientadora. Percebeu-se, no transcorrer da pesquisa, um deslocamento na postura de todo o grupo participante em relação à relevância desta área do conhecimento, para a formação do cidadão. Isto permeia a maneira de compreender e lidar com o contexto que envolve a formação do professor, as questões relativas ao currículo e a possibilidades de professores e alunos diante das problemáticas que se apresentam e a sua participação nas tomadas de decisões. ANO: 2000 A 20- METODOLOGIAS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL EM BOTÂNICA: A REALAÇÃO ENTRE A PRÁTICA CIENTÍFICA E A CULTURA ESCOLAR. Tatiana Spinelli¹, Yu Jie Ahn¹, Sábata Silva Constancio¹, Luiza Sumiko Kinoshita¹, Eliana Regina Forni Martins¹ , Roseli Buzzanelli Torres² & Antonio Carlos de Amorim¹. ¹UNICAMP ([email protected]) ²Instituto Agronômico de Campinas. O presente projeto esta inscrito no “Programa de Ensino do Projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo”, integrando o subprojeto de Campinas. Tendo como objetivo aproximar a população escolar dos processos de construção do conhecimento científico, os quais envolvem: a coleta de dados em campo e sua análise em laboratório, tecnologias para sua produção e relevância social, destacando sempre a proximidade da ciência em relação à realidade do aluno. Para tanto, foram feitos, no período de março de 1999 a fevereiro de 2000, o levantamento florístico e o levantamento das síndromes de polinização e dispersão no fragmento de floresta estacional semidecídua do Sítio São Francisco e na vegetação utilizada na arborização da área verde da EMEF Padre Francisco Silva e seu entorno. Estes dados foram utilizados como subsídio para o desenvolvimento de atividades em sala de aula, além de visitas às áreas estudadas e aos institutos de pesquisa envolvidos no projeto (IAC e UNICAMP). A análise de materiais produzidos pelos alunos ao final de cada atividade permitiu a identificação de aspectos relativos à dinâmica da ciência que se mostraram marcantes para a população escolar, tais como: linguagem, técnicas de trabalho, espaços e tecnologia empregados na prática científica, além da relação da ciência com outra comunidades. Foram identificadas categorias segundo as quais pode ser compreendido o processo de inserção de conhecimentos a respeito das práticas científicas no currículo do ensino fundamental. FAPESP. A 21- OS SIGNIFICADOS DAS ATIVIDADES DE CAMPO NO APRENDIZADO DE BOTÂNICA: UM EXPERIÊNCIA EM SANTOS. Maria Luiza D. Villar¹, Olga S. Maricato Pitta¹, Luiza S. Kinoschita², Ana Paula de Aguiar², Lívia M. V.R.S. de Oliveira³, Maria Regina P. Santana³ & Patrícia Vieira L. de Moraes³. ¹UNIMONTE, ²UNUCAMP, ³E. E. Bráz Cubas ([email protected]). O Programa de Ensino do Projeto Flora Fanerogâmica do Estado de são Paulo foi desenvolvido na Escola Estadual Bráz Cubas, na cidade de Santos. Esse projeto foi iniciado em julho de 1998 e tratase de uma pesquisa cujo objetivo é investigar a prática pedagógica dos educadores, tendo em vista estabelecer a relação entre a teoria e prática além da melhoria da qualidade de ensino de botânica. Na cidade de santos o trabalho foi desenvolvido interdisciplinarmente em uma 6ª série num movimento de construção de aproximação da Escola com a Universidade. A primeira etapa do trabalho se deu com a escolha de um tema gerador: “O Processo de Mudança Construído Através do Conhecimento do Espaço que o Cerca”. A partir desta escolha foram desenvolvidas várias atividades de campo, iniciando-se por uma trilha no Horto Florestal, onde foi coletado material para a confecção de um herbário; uma caminhada monitorada pelo jardim Botânico observando as espécies típicas das diferentes regiões do país e finalizando com um passeio ao redor da escola, onde os alunos, a partir de um texto sobre a Mata Atlântica, foram levados a questionar sobre a importância das leguminosas e o processo de arborização das ruas próximas. Ficou evidente que esse projeto não abrangeu somente a Botânica, do ponto de vista específico, mas sim todos os aspéctos ligados a ela, 138 influenciando no comportamento e na capacidade de pensar do aluno. Isto possibilitou trabalhar com temas extraídos dos espaços da vida cotidiana dos alunos, desenvolvendo-se uma capacidade crítica e concepções mais realistas. FAPESP. A 22- ENSINANDO BOTÂNICA ATRAVÉS DO USO DE CARTILHAS: UMA CONVERSA ENTRE PLANTA E GENTE. Izabella Scalabrini Saraiva, Karla Valéria Machado & Marilene Marinho Nogueira. UFMG. ([email protected]). A construção de cartilhas para auxiliar a prática de ensino é parte de um projeto de extensão desenvolvido na UFMG, que visa ensinar botânica para alunos do ensino fundamental e médio de qualquer instituição de ensino. Este tipo de estratégia alternativa de ensino facilita a compreensão do aprendiz sobre diversas áreas da botânica, uma vez que, apresenta uma linguagem mais acessível e ilustrações didáticas. A cartilha – Uma conversa entre planta e gente aborda o desenvolvimento de botões florais e da flor de Tibouchina granulosa com ênfase na anatomia das diferentes estruturas que compõe os botões florais e a flor. Para a realização deste estudo botões florais de diferentes tamanhos foram coletados, medidos e fixados em FAA 50. Cortes à mão livre foram feitos, corados com fucsina básica e montados em lâminas histológicas. Para evidenciar a epiderme das pétalas, a técnica de clarificação com hipoclorito de sódio 50% foi feita e após a lavagem com água corrente, lâminas histológicas foram montadas. A mesma metodologia foi utilizada para as demais peças florais dissecadas. Todo material obtido foi fotografado em fotomicroscópio e desenhos dos botões florais em corte longitudinal foram feitos ao estereomicroscópio com câmara clara. A análise do material histológico mostrou a presença de muitos cristais em todas as estruturas dos botões florais principalmente no cálice. Tricomas multicelulares apareceram com maior frequência nas sépalas, no filete e na borda das pétalas. Estruturas responsáveis pela condução de água, as traquéides, se mostraram presentes em todas as estruturas dos botões florais. Após a análise do material histológico, “a conversa entre a quaresmeira, seus botões florais e a gente ” foi escrita e posteriormente editada. Este material didático é usado como um modelo para construção de novas cartilhas, despertando a criatividade e o senso de observação da natureza e da vida. A 23- O HERBÁRIO DIDÁTICO PAUL LEDOUX DO DEPTO. DE MUSEOLOGIA DO MUSEU EMILIO GOELDI. Maria Filomena F. Videira Secco & Ricardo de S. Secco. Museu Paraense Emílio Goeldi. ([email protected]). O herbário didático Paul Ledoux surgiu como pioneiro na região, como fruto da experiência dos autores em lidar com professores e alunos do ensino fundamental e médio, bem como com alunos de graduação, que sempre demonstraram interesse em conhecer parte da biodiversidade vegetal da Amazônia, através das coleções botânicas do Museu Goeldi. O herbário faz parte da Coleção-didática Emília Snethlage, já implantada anteriormente pala primeira autora. O principal objetivo deste herbário é despertar o espirito científico dos estudantes para o potencial economico de nossa flora, bem como o de revelar novos talentos para a Taxonomia Vegetal. Visa também difundir o conhecimento científico gerado na área de Botânica do Museu Goeldi, contribuindo para enriquecer parte do ensino de Ciências nas escolas. A metodologia usada vem seguindo a padronização proposta pelo Depto. de Botânica do Museu Goeldi e consta de coleta do material, prensagem, secagem em estufa, montagem em cartolina (exsicata), identificação da família, gênero e espécie, registro em livro especial e incorporação ao acervo. As plantas estão organizadas por ordem alfabética de famílias, gêneros e espécies. No momento, o acervo consta de 300 exsicatas de plantas de interesse econômico, com ênfase às medicinais, e 100 amostras de sementes, sendo utilizadas sistematicamente como recurso didático para pesquisas escolares (gincanas, trabalhos de conclusão de cursos, etc.), cursos, palestras e feiras de Ciências. A 24- MODELO DE CURSO PRÁTICO DE MORFOLOGIA E SISTEMÁTICA VEGETAL PELO ESPAÇO PAISAGÍSTICO DO CAMPUS DA UFC. Andréa Pereira Silveira¹ & Lígia Queiroz Matias². ¹Universidade Federal Rural de Pernambuco ([email protected]), ²Universidade Federal do Ceará. O Campus da UFC possui um conjunto paisagístico com grande número de espécies arbóreas que são, frequentemente, utilizadas como recursos pedagógicos para o ensino de botânica. Visando ordenar as praticas de morfologia e sistemática vegetal, foi realizado um levantamento das espécies, registrando as estruturas vegetativas e reprodutivas, assim como dados de fenologia. Os dados são apresentados sob forma de tabelas, contendo a listagem das famílias, o nome vulgar e científico das espécies, e o estágio fenológico. Com os dados obtidos formulou-se roteiros para as aulas práticas de Morfologia e de Sistemática Vegetal. Foram encontradas 50 espécies. Um total de 10 espécies apresentam-se com flor durante todo o ano: espatódia, castanhola, sombreiro, munguba, chuva-de- 139 ouro, coqueiro, torém, ipê roxo, jasmim-mimoso e acacia. Nove espécies florescem no segundo semestre: mangueira, cajueiro, oiticia, casuarina, azeitona preta, ameixeira, gonçalo-alves, chichá e um espécime de pau-Brasil. Com base nas informações obtidas, formulou-se roteiros específicos para o curso de morfologia vegetal e de sistemática vegetal, visando o diagnóstico das estruturas externas e a identificação das famílias. Os roteiros são apresentados sob forma de estudo dirigido, onde os alunos, organizados em grupos, são levados a localizar e observar os espécimes, coletar e herborizar material botânico e diagnosticar as estruturas que cada espécie apresenta. Quando a prática possui como objetivo a determinação de famílias para a disciplina de sistemática vegetal, os alunos, além da diagnose, apresentam uma listagem das famílias que são determinadas com auxílio de chaves analíticas. Os resultados são apresentados sob forma de relatório final da disciplina, contendo ilustrações e detalhamento da flora estudada. Com a prática de observação das espécies no Campus da UFC, induz-se também uma estratégia de conservação dos espécimes, viabilizando a observação deste importante acervo paisagístico e pedagógico. A 25- A APLICAÇÃO DAS AULAS PRÁTICAS NO ENSINO DA BOTÂNICA. Eneyda Cristina Mourão Seabra¹, Susi cruz Almeida¹ & Marciléia Serrão². ¹UFPA, ²ETRB. ([email protected]). A Botânica é uma importante área da Biologia, que apresenta uma relativa dificuldade em ser compreendida por grande parte dos alunos do ensino médio. Levando-se em consideração este aspécto, formulou-se um estudo que tem como objetivo demonstrar a importância da utilização de aulas práticas pelo professor, de forma a despertar a curiosidade e motivar o aluno a estudar conteúdos relacionados à Botânica e consequentemente promover um envolvimento mais profundo com a situação de aprendizagem significativa. O estudo foi realizado com alunos do 1º ano, de 10 (dez) escolas da rede estadual de ensino, localizadas no município de Belém, nas quais os professores da disciplina utilizavam o quadro negro e o giz como únicos recursos didáticos. Observou-se que o índice de médias abaixo de 5,0 (cinco) chegou à 76,82%. As aulas práticas foram desenvolvidas com materiais de baixo custo e fácil aquisição, como: lamparinas, béquer, folhas variegadas, papel filtro, álcool, etc. Um dos procedimentos utilizados foi a dissociação dos pigmentos da folha variegada, onde obtêm-se como resultado a separação da xantofila e da clorofila. Pudemos observar que após a aplicação das técnicas, os alunos demonstraram mais interesse em participar das aulas, e suas notas aumentaram significativamente, surpreendendo até mesmo os próprios professores da disciplina. Nosso trabalho de coleta e análise de dados demonstrou que, a medida em que foram sendo adotadas aulas práticas como outro método de ensino, os alunos puderam compreender melhor aulas teóricas sem precisar, forçosamente, decorar os assuntos abordados, despertando desta forma seus potenciais cognitivos. A 26- COLETA, MONTAGEM E ORGANIZAÇÃO DE COLEÇÕES BOTÂNICAS E SUAS APLICAÇÕES NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO. Maria Cristina F. dos Santos. Universidade Estadual do Rio de Janeiro. ([email protected]). O ensino da Botânica muitas vezes restringe-se à memorização de termos técnicos e procedimentos com os quais os professores não estão familiarizados na vivência da prática escolar. A utilização de material didático nas aulas de Botânica facilita a visualização das formas e assimilação dos conteúdos pelos alunos. Com o objetivo de capacitação de professores do Ensino fundamental e Médio no estado do Rio de Janeiro o Colégio da aplicação da UERJ a partir de 1999 oferece anualmente um urso para a organização de coleções e treinamento na coleta, herborização e montagem de exsicatas para a implantação de um Herbário Didático na escola e confecção de material didático. Para a coleta das plantas foram realizadas excursões aleatórias no entorno das escolas e moradias dos professores e os materiais foram posteriormente utilizados para a montagem do material didático. Durante o trabalho de campo os professores puderam entrar em contato com a vegetação local e diferenciar cores e formas dos diversos órgãos vegetais, aromas e formas de vida das plantas e no laboratório proceder a prensagem, secagem, montagem e identificação das plantas. Foram confeccionadas exsicatas e montados álbuns com folhas de diferentes espécies vegetais, mostrando a diversidade de forma, padrão de nervação e bordo do limbo; heterofila; folhas modificadas e outras características, sendo estas coleções didáticas entregue aos professores ao término do curso. Este tipo de material pode ser bastante ilustrativo tanto para alunos do Ensino fundamental como do Ensino Médio. A utilização das plantas mais comuns no entorno da escola ou moradias e o emprego de material de fácil acesso e baixo custo para o preparo das coleções é importante para viabilizar a organização e manutenção destas, estimulando o interesse na identificação e pesquisa das características e potencial de uso das plantas. 140 A 27- ROTEIROS DE ATIVIDADES EM BOTÂNICA: UMA NOVA ABORDAGEM. Lázara Cordeiro. UNESP. ([email protected]). Um bom roteiro de atividades deve propor aos alunos que explicitem sua ideias sobre os fenômenos que estão sendo estudados levando-os a questionar suas próprias ideias. O professor assim, cria um clima de investigação solicitando que os alunos elaborem hipóteses ou explicitem aquilo que eles esperam como resultado. O importante a ser considerado é que os resultados ou as conclusões do trabalho não sejam adiantadas aos alunos. O professor deve ter o cuidado de apresentar ao aluno solicitações que lhe permita explorar diferentes possibilidades em relação ao trabalho proposto. O roteiro para a discussão poderia, de maneira geral, considerar quatro níveis de solicitações aos alunos que: 1- possibilitem aos alunos expressar as sua próprias ideias a respeito do que esta sendo estudado e que os estimulem a planejar experimentos; 2- desenvolvam a capacidade dos alunos para a observação dos processos ocorridos e dos resultados obtidos; 3- proponham diferentes possibilidades de análise dos dados; 4- ofereçam oportunidades para que os alunos tenham condições de comparar hipóteses, generalizar e aplicar os conhecimentos obtidos com a atividade desenvolvida em situações novas e planejar novos experimentos a partir de dúvidas surgidas. Dentro desse enfoque, foi desenvolvido um trabalho sobre o tema “Plantas” com aproximadamente 220 professores do 1º grau pertencentes a escolas da rede oficial na Delegacia de Ensino de Rio ClaroSP. Inicialmente foram trabalhados aspectos teóricos sobre o tema e anotadas as formas de abordagem por parte dos professores da rede. Após sistematização das atividades, foram elaborados roteiros que foram reavaliados no segundo momento, e, em seguida algumas atividades foram desenvolvidas pelos alunos nas escolas. No 3º momento, esses roteiros, parcialmente testados foram discutidos e entregues ao autor que, a partir desse material, elaborou uma apostila contendo 17 atividades que foi entregue à Delegacia de Ensino para distribuição ao participantes do curso. A 28- A DINÂMICA DO ENSINO DE BOTÂNICA EM ESCOLAS PÚBLICAS. Zoraida Maria de Medeiros Gouveia & Edgley Adriano César. Universidade Federal da Paraíba. ([email protected]). O ensino de Botânica na quase totalidade das Escolas Públicas da Paraíba se ressente de uma infraestrutura laboratorial e de professores treinados para proporcionar aos alunos um aprendizado prático e dinâmico. As aulas são essencialmente teóricas e não os motivam para um despertar do conhecimento da realidade da fitodiversidade da região. Dentro desse contexto, foi desenvolvido nas escolas Públicas de Ensino Fundamental e Médio, localizadas nas proximidades do Campus I, em João Pessoa, Paraíba, um projeto direcionado para professores de Botânica, dando-se ênfase a utilização da flora existente nos arredores das escolas selecionadas, como instrumento de ensino nas aulas praticas de Botânica. O projeto foi desenvolvido em quatro etapas: 1) levantamento do conteúdo programático da disciplina. 2) aplicação de um teste de avaliação do conhecimento dos alunos do ensino tradicional. 3) montagem, com os professores da Escola, de um laboratório experimental, a partir de coleta, identificação e preparação das espécies vegetais com a utilização de materiais de baixo custo. 3) treinamento dos professores. 4) aplicação do mesmo teste de avaliação do conhecimento aos alunos a quem foi ministrada a nova metodologia de ensino experimental. Foram obtidos os seguintes resultados, expressos em valores de nota (média por turma): 2,85 para a turma de alunos do ensino tradicional e 8,94 para a turma que recebeu a nova metodologia de ensino. O incremento de 313,68% no aumento da média da turma evidencia um fator positivo de aprendizado caracterizando uma predisposição dos alunos para a nova metodologia proposta. PROLICEN-UFPB. A 29- DRAMATIZAÇÃO SOBRE O DESMATAMENTO DA MATA ATLÂNTICA: UM FACILITADOR INTERATIVO AO ENSINO DE BOTÂNICA. Paulo Germano Gomes da Silva, Alzira Patrícia Constantino silva, Janaína Vieira Gomes da silva, Sheila Renata Alves de Lima, Valdelira Maria Costa Portela, Marlene Carvalho de Alencar Barbosa & Dilosa Carvalho de Alencar Barbosa. Universidade Federal de Pernambuco. ([email protected]). O Herbário UFP – Geraldo Mariz, da Universidade Federal de Pernambuco, desde 1997 vem resgatando estratégias facilitadoras ao ensino de Botânica, objetivando a divulgação de determinados conteúdos, para alunos, sobretudo, de ensino fundamental e médio das redes pública e privada do Estado de Pernambuco. Visando destacar o pau-brasil, Caesalpinia echinata Lam., Leguminosae, por ocasião das comemorações dos 500 anos do Brasil, o desmatamento gradativo da Mata atlântica e alternativas de manejo para o bioma, foi utilizada a dramatização como recurso ao aprendizado. O trabalho escrito e teatralizado foi realizado por cinco alunos de Ciências biológicas (bacharelado) da UFPE, com o auxílio das orientadoras, tendo sido apresentado para escolas públicas (05)e privadas (04), no total de 12 educadores e 287 estudantes. A dramatização tratou: (1) visão da Mata Atlântica 141 na época do descobrimento; (2) o índio e o colonizador; (3) as causas do desmatamento progressivo e da redução simultânea dos indígenas; (4) alternativas de manejo. Essa estratégia de ensino proporcionou a interação dos expositores com a platéia, situando questões sobre os temas abordados. Através dos resultados obtidos, pode-se concluir que a aprendizagem de determinados conteúdos de Botânica pode ser atingida de forma satisfatória se for empregada estratégia interativa, a exemplo da dramatização. A 30- AVALIAÇÃO COMENTADA COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM EM BOTÂNICA. Sueli Maria Gomes. Universidade Católica de Brasília. ([email protected]). A Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira focaliza a construção de competências e habilidades ao nível do ensino médio, o que começa a se repercutir nas licenciaturas. Está submergindo o paradigma do ultra-especialista solitário, emergindo o do especialista com perfil autodidata, hábil em lidar com as informações, competente no trabalho em equipe e capaz de dialogar com outra áreas do conhecimento. Neste contexto de mudanças na educação, a avaliação da aprendizagem também está em questionamento como importante instrumento delineador dos novos profissionais. A Taxonomia Vegetal, sendo ciência altamente descritiva, está exigir uma diversificação metodológica de ensino e, particularmente, na avaliação da aprendizagem. Nesta perspectiva aplicaram-se às turmas de Botânica do curso de Biologia da Universidade Católica de Brasília avaliações comentadas entre os critérios parciais avaliativos. Tal metodologia consiste na leitura de cada questão, seguida de um tempo para debate, quando os alunos em dupla discutem, mas não podem efetuar quaisquer anotações. Em seguida, cada aluno realiza suas anotações individualmente. A análise desta metodologia apontou que a maioria dos alunos considerou que aprendeu novas informações durante a própria avaliação. Ao mesmo tempo, constatou-se que tanto há duplas homogêneas em seu rendimento, com variação de até 1% entre as notas de seus componentes, como há duplas muito discrepantes, onde um dos componentes obteve rendimento inferior a 40% daquele do colega. Isto revela que nem sempre os alunos assimilaram homogeneamente o conteúdo examinado e que a metodologia de avaliação também detecta estas diferenças individuais. Estes fatos ressaltam os méritos da avaliação comentada como instrumento que ao mesmo tempo gera e avalia a aprendizagem dos alunos em Botânica, valorizando também suas competências de relacionamento interpessoal. A 31- HERBÁRIO DIDÁTICO DA ESCOLA BOSQUE: A BOTÂNICA NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO. Eunice Gonçalves Macedo & Maria José de Souza Cravo. ([email protected]). O herbário da Escola Bosque esta situado na ilha de Caratateua no município de Belém, Pará. O herbário tem como objetivos: aperfeiçoar alunos em técnicas usuais de rotina de herbário, conhecer os aspectos botânicos da flora belenese, principalmente aquele de interesse humanitário, econômico, cultural miístico-religioso e contribuir com material didático para o ensino fundamental e médio da escola e da rede municipal. A actividade no herbário foi iniciada no ano de 1999 e possui uma coleção de aproximadamente 400 espécies, além de uma pequena xiloteca e carpoteca. No momento estamos dando prioridade á coletas de espécies das regiões insulares de Belém. Contamos com uma equipe de professores da escola (ensino fundamental e médio), técnicos da Museu Paraense Emílio Goeldi e alunos do ensino médio (2º e 3º anos). O herbário tem contribuído na formação dos alunos do ensino médio da escola, que ao final do curso formam-se em técnicos de manejo de flora, fazendo um semestre de estágio no herbário. A coleção é bastante extensa e contribui para o ensino da botânica em nível elementar, auxiliando os professores do ensino fundamental com material didático como frutos, folhas, caules e raízes, além de contribuir com o ensino da educação ambiental para a comunidade escolar e comunitária. ANO: 2001 A 32- A AULA PRÁTICA EM AMBIENTES NÃO FORMAIS COMO MEDIADOR DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO. Viviane dos Santos Lima* , Marisa Moreira Araújo* , & Luciana Resende Allain**. *Estudantes de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas/ UFMG, **Professora do Dep. DMTE / FAE / UFMG Seguindo a tendência cognitivista do “aprender fazendo”, a aula prática conquistou gradualmente lugar de importância nas escolas. Uma visão mais ampla de aula prática transcende o espaço escolar para alcançar ambientes não formais como Jardins e Parques. O objetivo deste trabalho foi acompanhar o processo de construção de conhecimentos sobre Botânica fora do ambiente escolar tradicional. Para tal, acompanhamos 20 alunos da 4ª série da Escola Estadual Kennedy, BH, em uma visita orientada ao Jardim Botânico (JB) da Fundação Zoobotânica / BH. Para registrar a trajetória desta construção ancorada pela vivência prática no JB, promovemos oficinas de desenhos e grupos 142 focais (vivências de grupo onde opiniões e conceitos são expostos e discutidos sob a orientação de um entrevistador) antes e depois da visita ao JB. Os resultados do 1º Grupo focal e oficina indicam que os alunos já possuíam representações sobre Botânica. Suas representações mostravam-se bastante ligadas a opiniões estereotipadas sobre as plantas. A visão antropocêntrica da natureza esteve presente em seus relatos, assim, desenhos de árvores com frutas e frases do tipo “A planta fornece oxigênio para nós” foram comuns nesta 1ª etapa. Ao entrarem em contato com as plantas do JB o ensino se dava dentro de uma perspectiva interacionista, onde os significados eram atribuídos mediante experiências prévias e individuais de cada um. Dados colhidos no 2º Grupo Focal e oficina revelam que as representações do reino vegetal entre as crianças se sofisticaram. Conceitos como adaptações, hábitats, mecanismos de defesa foram registrados de maneira detalhada. Os desenhos expressam um “novo olhar” das crianças com relação às plantas, representando-as de maneira menos padronizada, como seres individuais, com características próprias. Os dados levam a crer que a construção do conhecimento acerca de Botânica foi grandemente influenciado pela vivência prática e a interação das crianças com o objeto de estudo. A 33- LABORATÓRIO PERMANENTE DE ENSINO DE BOTÂNICA E SÍTIO EDUCACIONAL FLORALIA – Samuel José de Melo Reis Gonçalves; Rosy Mary dos Santos Isaias; Cristina Generosa de Senna Queiroz; João Renato Stehmann; Frederico Gonçalves Guimarães; Karla Valéria Machado; Daniela Versieus; & Magno da Cruz Lopes. Departamento de Botânica, ICB-UFMG. (e-mail: [email protected]) O Laboratório Permanente de Ensino de Botânica / Sítio Educacional Floralia é um projeto em andamento no departamento de Botânica da UFMG, dentro do Programa de Aprimoramento Discente (PAD) da Pró-Reitoria de Graduação. O PAD propõe o estabelecimento de grupos de estudo, envolvendo docentes e discentes, com o objetivo de criar novas formas de ensinar e aprender botânica. O projeto consiste na produção de materiais didáticos (jogos, cartilhas, roteiros e modelos tridimensionais) relativos à Botânica, principalmente os tema mais complexos ou de difícil entendimento pela maioria dos alunos de ensino médio e de graduação. Cada bolsista desenvolve um sub-projeto, de acordo com suas aptidões e / ou interesses. Reuniões semanais são realizadas a fim de se discutirem a viabilidade de novas idéias, os pontos positivos e negativos de projetos e protótipos propostos pelos alunos-bolsistas e as dúvidas a respeito de conceitos botânicos. Já foram produzidos um protótipo RPG (Role Playing Game ) sobre plantas do Cerrado, onde os jogadores assumem o papel de sementes que enfrentam obstáculos até o sucesso reprodutivo da planta adulta; imagens em nanquim e aquarela para ilustrar uma cartilha de plantas utilizadas na arborização das ruas de Belo Horizonte; modelos tridimensionais de organelas, células e órgãos vegetais; e um roteiro abordando as Eras Geológicas e relacionando a evolução dos grandes grupos animais e vegetais. Este roteiro foi testado na II UFMG Jovem. Os bolsistas estão aprendendo noções básicas da linguagem html (internet) e do software LINUX de modo a montar o sítio educacional Floralia (wwwfloralia.icb.ufmg.br). A experiência do “Laboratório Permanente de Ensino de Botânica” permite a integração ensino, pesquisa e extensão, fundamental para a formação acadêmica. A análise crítica de temas relevantes ligados à área de botânica e meio ambiente, bem como da educação, são essenciais ao desenvolvimento de uma atuação consciente e participativa dos futuros professores. A 34- APRIMORAMENTO DO ENSINO DA BOTÂNICA E ECOLOGIA ATRAVÉS DA PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO E FUNDAMENTAL. Dagmar Santos Roveratti. Departamento de Ciências Físicas e Naturais – Fundação Santo André. ([email protected]). A presente proposta foi idealizada visando incentivar o aprendizado da Botânica e da Ecologia em graduandos de Biologia produzindo, ao mesmo tempo, material didático para professores do ensino médio e fundamental utilizarem em aulas. Durante o ano letivo de 2000, alunos do 3º e 4º anos de Biologia da Fundação Santo André, como parte das atividades das disciplinas Botânica e Ecologia, criaram “kits didáticos” sobre temas relacionados a estas disciplinas. Os alunos foram orientados a produzir um cervo de materiais sobre os diferentes Grupos Vegetais e Ecossistemas Brasileiros, composto por apostilas para o professor, transparências, fitas de vídeo, slides, apresentações computadorizadas em “Power Point”, atividades experimentais e materiais para observação como lâminas permanentes, exsicatas e outros. Ao final do ano letivo, os materiais foram acondicionados em caixas plásticas e estas foram disponibilizadas para empréstimo aos professores do ensino médio e fundamental da região. Atualmente o acervo é composto por 20 “kits didáticos” individuais sobre os temas: Algas, Líquens, Fungos, Briófitas, Pteridófitas, Gimnospermas, Angiospermas, Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Campos-Rupestres, Manguesais, Dunas, Restinga, Mata de Araucárias, Pantanal, Mata de Cocais, Ambiente Marinho e Biomas Terrestres. Os 143 professores interessados podem retirar cada “kit” por um prazo de 7 dias, mediante reserva via ofício. Além de Ter gerado um material de alta qualidade para apoio didático aos professores, este trabalho proporcionou aos graduandos uma excelente oportunidade de aprofundamento nos conteúdos da Botânica e da Ecologia. Para produção de “kits”, os alunos organizaram visitas as instituições de pesquisa, saídas de campo para coleta de material biológico com posterior aplicação de técnicas de classificação, preparação e conservação do material botânico. Em vista ao resultado observado, no presente ano letivo, o mesmo tipo de proposta de trabalho está sendo aplicada a diferentes turmas do curso de Biologia da Fundação Santo André. A 35- O VÍDEO COMO MATERIAL DIDÁTICO NO ENSINO DE ATIVIDADES DE CAMPO EM BOTÂNICA E ECOLOGIA. Wollemberg Narciso dos Santos Junior¹, Maria Cristina Ferreira dos Santos² & Douglas de Souza Pimentel². ¹Bolsista UERJ, ²Depto. Ciências, FFP, UERJ. ([email protected]) Os materiais didáticos são ferramentas facilitadoras e estimuladoras da aprendizagem, aproximando o aluno da realidade e do conhecimento que se deseja ensinar. Em situações em que o contato com a realidade é difícil, substituem-na e auxiliam o professor no desenvolvimento da aula. Com a finalidade de oferecer material didático auxiliar no ensino das disciplinas Morfologia e Taxonomia Vegetal e Ecologia do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foi idealizada a produção de um vídeo com as principais etapas de um trabalho de campo em uma unidade de conservação no Estado do Rio de Janeiro. A unidade escolhida foi o Parque Estadual do Desengano (PED), por representar uma das últimas reservas de Mata Atlântica do Norte Fluminense e possuir patrimônio biológico inestimável, sendo centro de sobrevivência de várias espécies. O PED está sob a tutela da fundação Instituto Estadual de Florestas / RJ. A filmagem foi realizada com uma câmera de marca PANASONIC X 30 – Digital Zoom de 14 a 17 de junho de 2000 na cidade de Santa Maria Madalena e no PED durante as atividades de trabalho de campo com os alunos da FFP e a edição foi feita pelo Centro de Tecnologia Educacional da UERJ. Na gravação são apresentadas informações gerais sobre a cidade de Santa Maria Madalena e o Parque, estrutura e importância da conservação da Mata Atlântica, técnicas de trabalho em campo e as atividades realizadas por alunos e professores da UERJ durante a coleta e preparo do material botânico. Este vídeo está sendo utilizado na FFP como material didático auxiliar no ensino destas disciplinas e também será usado para divulgação do trabalho junto às escolas e comunidade de Santa Maria Madalena. UERJ. A 36- JARDINS E CANTEIROS DO CAMPUS CENTRAL / FAMIH- BELO HORIZONTE, MG. UM ESTUDO SISTEMÁTICO E PAISAGISTICO. Marilia A. Lessa, Karen L. Goodwin, Júlia C. Coelho , Luciana G. Prado, Cybelle M. Cristiano & Leonardo O. Barbosa. Curso de Ciências Biológicas / FAMIH, Belo Horizonte. ([email protected]) O presente trabalho, tem como objetivo o levantamento da flora presente nas áreas ajardinadas no Campus Central das Faculdades Metodistas Integradas Izabela Hendrix. Sendo esta uma instituição que abrange desde o ensino infantil, até o ensino superior. Este trabalho surgiu da necessidade de se identificar as espécies presentes no local, o que viabilizaria a utilização dos jardins em trabalhos das disciplinas de ciências e biologia, nos diferentes níveis de ensino. O presente estudo proporcionou também uma oportunidade de treinamento aos estagiários em técnicas de coleta, herborização e identificação de plantas, além do estudo de diferentes aspectos ligados a plantas ornamentais (técnicas de cultivo, adubação, entre outros). Para a elaboração deste trabalho foram realizadas coletas de material botânico a partir de setembro de 2000. O. material coletado foi prensado e herborizado segundo as técnicas usuais, sendo as exsicatas arquivadas em coleção de referência, que se encontra no Laboratório de Botânica da Faculdade de Ciências Biológicas / FAMIH. Foram observadas neste estudo, 19 espécies arbóreas, 26 espécies arbustivas, 23 herbáceas e 08 palmeiras de tamanho variado. As famílias melhor representadas foram: Liliaceae, Arecaceae, Araceae, Alliaceae, Commelina-ceae, Marantaceae. Um catálogo com a caracterização das famílias representadas e informações a respeito do cultivo e cuidado das espécies identificadas foi também elaborado, encontrando-se a disposição de todos os professores da instituição. A 37- PROJETO MARTIUS – UMA PROPOSTA DIDÁTICO-CIENTÍFICA EM BOTÂNICA. Karem L. Goodwin, Alba L. F. Chaves & Patrícia C. S. Delgado. Departamento de Ciências Biológicas / FAMIH, Belo Horizonte. ([email protected]) A idéia do “Projeto Martius” surgiu a partir das novas demandas didáticas resultantes da implementação de um novo currículo no curso de Ciências Biológicas das Faculdades Metodistas Integradas Izabela Hendrix. O projeto tem como objetivo o aperfeiçoamento do aluno na área de Botânica, com treinamento em técnicas histológicas, utilização de chaves taxonômicas, pesquisas, 144 redação de textos, apresentação de referatas, entre outros. Inicialmente, este aperfeiçoamento se deu através da produção de material didático para as aulas práticas das disciplinas de botânica. Novas propostas, no entanto, foram surgindo e incorporadas ao projeto. Além da produção de material didático, estão sendo realizados estudos das plantas ornamentais do Campus Centra; levantamento florístico em áreas de preservação do Campus Nova Lima; e estudos em plantas medicinais. Concomitantemente, duas monografias relacionando a botânica com a educação estarão sendo desenvolvidas. Atualmente, o projeto conta com dezoito estagiários voluntários que trabalham divididos em grupos de acordo com a área de interesse. Foram montadas coleções de lâminas, com cortes histológicos de 19 estruturas diferentes, uma coleção de transparências referentes a aspéctos morfológicos, evolutivos e taxonômicos; e uma coleção de Slides, composta por 83 fotos retratando os grandes grupos vegetais, em especial as angiospermas. Um mini-herbário vem sendo organizado com as plantas coletadas na área de preservação do Campus Nova Lima, as plantas ornamentais do Campus Central, e com algumas plantas de interesse didático. Posteriormente, as plantas medicinais estudadas serão acrescentadas a este herbário. Como resultado do projeto, tem sido observado um maior interesse na área por parte dos alunos da graduação. A melhor formação em botânica dos participantes do projeto, tem levado alunos a dar continuidade aos estudos, em pós-graduações ligadas a área. Apesar de ser uma proposta nova, o “Projeto Martius” tem refletido na construção do saber e pensar científico dos alunos participantes. A 38- PRODUÇÃO E USO DE MATERIAL DIDÁTICO NO ENSINO DE BOTÂNICA: UMA PROPOSTA NA CIDADE DE CAMPINAS. Roseli B. Torres¹, Luiza S. Kinoshita², Eliana R. ForniMartins², Jorge Y. Tamaschiro², Sandra M. Carmello-Guerreiro², Yu Jie Ahn³, Tatiana Spinelli³, Sábata S. Constâncio³ & Carla V.V. Ferreira* . ¹IAC, ²Dep. De Botânica, IB, UNICAMP, ³IC/FAPESP, *TT/FAPESP. ([email protected]) Atendendo a um dos objetivos do Programa de Ensino do Projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, foi elaborado material didático a partir de atividades conjuntas desenvolvidas no entorno da EMEF Padre Francisco Silva e num fragmento de floresta estacional semidecídua, em Campinas. Participam dessas atividades, professores, estagiários, e pesquisadores da UNICAMP e IAC. As plantas dos locais estudados foram fotografadas no seu ambiente e também no laboratório, onde foram analisadas quanto às estruturas morfológicas, vegetativas e reprodutivas. Foram elaborados encartes contendo ilustrações e, no verso, o nome científico e dados sobre a ecologia da planta. Algumas plantas foram analisadas quanto à estrutura interna e raiz, caule e folha, adaptando-se as técnicas usuais quanto a coloração, para cada caso. Elaborou-se uma coleção de lâminas permanentes, a partir dos materiais selecionados, acompanhada de ilustrações em papel e em transparências dos diferentes cortes, com indicação das estruturas presentes. Todo o material é autoexplicativo e, no caso, por fazer parte de ambientes conhecidos pela comunidade escolar, proporcionou uma visão holística da planta e não a compartimentada quando se utiliza os livros didáticos. O aproveitamento torna-se mais completo, pois, a partir dele, há possibilidade do diálogo com os alunos, numa perspectiva interdisciplinar. Foram confeccionadas placas de identificação para árvores, nas quais há identificação botânica quanto à família e espécie, o nome popular e ocorrência. Além disso, há o aspecto positivo de trabalhar o lado efetivo dos alunos, fazendo com que eles se interessem mais pelas informações, construindo o seu próprio conhecimento. Esta prática permitiu uma interação dinâmica da equipe em todas as fases da produção do material didático, em que a própria metodologia construída suplantou os resultados adquiridos. Todo o material didático será distribuído às escolas participantes do Programa de Ensino das quatro cidades, Campinas, Santos, São Carlos e S. Paulo. FAPESP 97/02322-0 A 39- ESPAÇOS DE PRODUÇÃO DO ENSINO DE BOTÂNICA: UMA EXPERIÊNCIA DE INOVAÇÃO CURRICULAR NA CIDADE DE CAMPINAS. Luiza S. Kinoshita¹, Roseli B. Torres², Antonio Carlos de Amorim³, Eliana R. Forni-Martins¹, Edna S. Klein, Maria Ângela de M. Pinheiro, Maristela Marçal* , Maria Stela B. Lima* & Valdemir C. Silveira* . ¹Dep. De Botânica, IB, UNICAMP, ²IAC, ³Dep. De Metodologia de Ensino, FE, UNICAMP, *EMEF Padre Francisco Silva. ([email protected]). Este trabalho teve como objetivo aproximar a comunidade escolar da educação básica dos resultados do Projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo. Desenvolveu-se em quatro escolas públicas nas cidades de Campinas, Santos, São Carlos e São Paulo, em classes de ensino fundamental (6ª série) e ensino médio (1º e 2ª séries). As equipes foram sendo integradas e consolidadas ao longo dos três anos do projeto, em atividades de formação que abrangem questões relativas à flora de São Paulo e aspectos do trabalho pedagógico, e no planejamento interdisciplinar das atividades com os alunos. Em Campinas, o planejamento foi realizado em reuniões semanais da equipe local, envolvendo os pesquisadores do IAC e UNICAMP, os professores do EMEF Padre Francisco Silva e 145 estagiários. O desenvolvimento do currículo a partir do reconhecimento e do contato com o entorno da escola, através dos diferentes olhares das disciplinas envolvidas, foi altamente significativo para os alunos e professores. Buscou-se também aproximar a comunidade escolar dos professores de produção do conhecimento científico, através de visitas estruturadas às instituições de pesquisa envolvidas e a um fragmento de floresta estacional semidecídua. Conclui-se que são condições indispensáveis para a realização de projetos dessa natureza: que o professor desenvolva uma postura investigativa, refletindo sobre a sua prática pedagógica; que os professores tenham espaço e horário para reuniões semanais de avaliação e planejamento conjunto; que a direção da escola estimule/permita projetos inovadores e que a comunidade acadêmica reconheça a importância da interação com o ensino básico público; que a reconstrução curricular resulte do intercâmbio de conhecimentos de vários campos, como experiências dos alunos, saberes dos professores, pesquisa e produção da ciência, etc. (FAPESP 97/02222-0.) A 40- MATERIAIS BOTÂNICOS COMO INSTRUMENTO DE ENSINO: CONSTRUINDO ATIVIDADES PARA O ENSINO DE BIOLOGIA. Marsílvio Gonçalves Pereira¹, Zoraida Maria de M. Gouveia², Adriana F. Nóbrega³, Ariosvaldo M. Soares³, Eduardo B. L. Córdula³, Glycia L. C. Oliveira³, Humberto V. de Farias³, Júlio C. S. Santana³, Kátia S. V. Chianca³, Maria Lucibete de Moraes³, Tibério G. M. Barreto³ e Viviane M. S. Freitas³. ¹Dep. De Metodologia da Educação, CE; ²Dep. De Sistemática e Ecologia, CCEN, UFPB; ³Estudantes do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFPB. (marsí[email protected]). O ensino de Botânica inserido nas disciplinas de Ciências e de Biologia na educação básica, tem sido trabalhado num enfoque meramente tradicional, descritivo e sistemático, chegando a causar aversão e total desinteresse por grande parte dos alunos. Diante de tal constatação e na busca de alternativas que possam contribuir com a melhoria da qualidade do ensino de Biologia, este trabalho teve como objetivo utilizar recursos auxiliares de baixo custo e/ou de fácil acesso por meio de trabalho instrumental de coleta, preparação, adaptação, utilização e avaliação de materiais botânicos como instrumentos didáticos numa abordagem de ensino construtivista, em ações dirigidas aos alunos do ensino médio. Para isso, as atividades foram desenvolvidas no Laboratório de Ensino de Ciências, do Dep. De Metodologia da Educação (DME), do Centro de Educação (CE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com uma turma piloto constituída por alunos do Núcleo de ensino Supletivo do CE e da Escola de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde (CCS), UFPB. Foram coletados, preparados e adaptados diversos tipos de : raízes, caules, folhas, flores, frutos e sementes de Angiospermas representativas da flora regional bem como, exemplares de Pteridófitas, Briófitas e Algas, trabalhados com quatorze (14) módulos. Modelos didáticos, textos e cartazes foram confeccionados como recursos auxiliares e de ensino. As atividades de ensino foram centradas na figura do aluno, por isso trabalhou-se com estratégias de ensino do tipo: exposição dialógica e discussões orientadas, com base em roteiro de estudo e manipulação, observação, descrição, classificação e conceituação de materiais botânicos, visando o conflito sócio-cognitivo. Foram realizados pré e pós testes antes e uma semana após às aulas, respectivamente, com o intuito de avaliar o impacto da abordagem metodológica e da instrumentação de ensino. De acordo com a avaliação realizada, constatou-se que a utilização de materiais botânicos como recursos didáticos facilitou o processo ensino-aprendizagem, pois, o aluno foi capaz de observar diferenças, partes, tipos, formas e cores dos diferentes tipos de materiais e construir / reconstruir conceitos e que, a instrumentação do ensino de Biologia através de materiais botânicos, trabalhados numa perspectiva de ensino construtivista, evidenciou uma aprendizagem efetiva por parte dos alunos, agentes ativos no processo. A 41- IDENTIFICAÇÃO DOS INTERESSES DE ALUNOS QUE VISITARAM O JARDIM BOTÂNICO DA FUNDAÇÃO ZOO-BOTÂNICA DE BELO HORIZONTE. Flávia Cristina Pergolari Duarte¹; Angela Alves Luttterbach²; Cristiane Speziali². 1- Estudante de Ciências Biológicas PUC-MINAS 2- Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte (email: [email protected]) Jardins botânicos, considerados como espaços não-formais de educação, são excelentes locais para a prática da educação ambiental; não basta, porém, haver coleções para que ocorra o processo educativo, pois estas, por si mesmas, não garantem um envolvimento efetivo-cognitivo. Tais espaços de educação devem contar com estratégias que provoquem o envolvimento dos visitantes. Portanto, educadores desses locais devem proporcionar mais do que entreterimento e prazer aos participantes: devem atrair e reter a atenção do público de modo a engajá-lo por tempo suficiente para que ocorra aprendizagem. No entanto, deve-se conhecer e valorizar o conhecimento prévio do aluno e seu modo de interpretar a exposição, pois isso é fundamental para a condução do participante a um maior engajamento intelectual. Diante dessa necessidade desenvolveu-se a presente pesquisa que teve 146 como objetivo identificar as experiências e interpretações dos alunos que visitaram o Jardim Botânico da FZB-BH. Foram entrevistados 39 alunos de uma escola de Belo Horizonte com idade entre 6 e 7 anos (22 do sexo feminino e 17 do sexo masculino). As entrevistas semi-estruturadas foram audiogravadas individualmente, um mês após a visita. As interpretações dos estudantes foram categorizadas de acordo com o interesse. Destaca-se que 74,3% dos alunos manifestaram preferência pela planta carnívora, sendo a alimentação (achavam que comiam gente, etc,.) e a morfologia os principais motivos de interesse. Alguns alunos não citaram nomes mas utilizaram de analogias, estórias ou características marcantes para identificarem as plantas (29,4%): umas eram “iguais a abacaxis” (bromélias) e “bananas” (orquídeas); outras, “plantas que cospem” (plantas carnívoras). Outro dado significativo: 17,6% das crianças definiram o momento do lanche como o melhor da visita. Os resultados sugerem as múltiplas interpretações sobre o ambiente; estas devem ser valorizadas para que se possa elaborar atividades que despertem, cada vez mais, o gosto, o interesse e o envolvimento na actividade. A 42- UTILIZAÇÃO DE CARTILHA NO ENSINO DA BOTÂICA. Leonardo de Melo Versieux¹ & Marilene Marinho Nogueira². ¹Bolsista PROEX/UFMG, ²Dep. De Botânica, UFMG. ([email protected]). A criação de cartilhas, como material didático, visando o ensino da botânica, faz parte do projeto de extensão “Estudo da vegetação do vale do Jequitinhonha num processo de ensino, pesquisa e extensão” desenvolvido pela UFMG. As cartilhas utilizam uma linguagem mais acessível e ilustrações dodáticas permitindo aos alunos dos ensinos fundamental e médio uma melhor compreensão da botânica. A cartilha – Ana, Bruno e o Encholirium – aborda características ecológicas dos ambientes de campos rupestres da serra do Espinhaço e também algumas características anatômicas, fisiológicas e sistemáticas da família Bromeliaceae. Para elaboração desta cartilha foram feitas visitas à Área de Proteção Ambiental Pau-de-Fruta, na bacia do rio Jequitinhonha, no município de Diamantina, MG. Nessa área, foram observados e fotografados 4 gêneros de Bromeliaceae: Tillandsia, Vriesea, Encholirium e Aechmea. Um indivíduo de cada gênero foi coletado. Optou-se pelo preparo das lâminas histológicas semi-permanentes, com cortes realizados à mão livre e corados com fucsina básica e azul de astra. O material histológico foi fotomicografado. Também foram feitas fotografias em estereomicroscópio das partes reprodutivas masculinas e femininas, das sementes e das escamas foliares. A partir deste material, a cartilha foi escrita, ilustrada e ditada, tendo como personagem principal o Encholirium, que guia dois jovens por um passeio no campo rupestre, ensinando-lhes um pouco sobre anatomia, fisiologia, sistemática e ecologia das bromélias. A elaboração desta cartilha contribuiu para o desenvolvimento da pesquisa da flora regional e pode ser utilizada no ensino da botânica e na educação ambiental. PROEX / UFMG A 43- UTILIZAÇÃO DE RECURSOS DA INTERNET NUMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO INTERATIVA: O PROJETO FLORALIA – Frederico Gonçalves Guimarães; Rosy Mary dos santos Isaias; Jão Renato Stehmann (Depto Botânica, UFMG, ICB. ([email protected]). Muito se tem falado sobre o papel da internet e suas potencialidades nas diversas áreas do conhecimento, em particular na educação. Entretanto, basta uma “passeada” pelas trilhas da web para perceber que a grande maioria dos sites (ditos) educacionais se encaixam em uma- ou mais – das seguintes categorias: (1) fachada para empresas que tentam vender produtos da área educacional: (2) propaganda de editoras de livros didáticos ou paradidáticos; (3) paginas de instituições de ensino ou pessoais, frutos de trabalhos acadêmicos. No Brasil, não foi localizado, até o momento nenhum site educacional cujo princípio seja estimular a “participação plena” de seus visitantes, ou seja, a interferência direta do usuário no site , não somente através de e-mails, salas de bate papo ou fóruns de discussão, mas também através de colaborações na estrutura e manutenção das páginas. Esta é a idéia de Floralia: um espaço aberto para intercâmbio de informações, ideias e experiências relacionadas com a área ambiental, especialmente com a Botânica. A proposta é trabalhar em várias vertentes. Os diversos recursos utilizados visam explorar o alcance e o sucesso da grande rede, principalmente entre pesquisadores e adolescentes. É uma forma rápida, dinâmica e econômica de disponibilizar informações, permitindo, ainda, um auto grau de interatividade por parte dos visitantes. Atualmente, está disponibilizado um site (http:// www.floralia.icb.ufmg.br) cuja elaboração envolve várias pessoas, inclusive com espaço para inclusão de páginas externas relacionadas às diretrizes do projeto; artigos de produção interna e externa ao departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG; banco de imagens e salas de discussão síncrona on-line – também conhecidas como sala de bate-papo, ou chat. Futuramente pretende-se disponibilizar fóruns de discussão. Outro projeto, também para o futuro, visa a produção de materiais 147 para serem acessados off-line, através de CD-ROM´s. estes materiais visam atender a escolas que não possuem acesso à internet. PAD/UFMG. A 44- PRODUÇÃO DE AUDIOVISUAL PARA ENSINO EM BOTÂNICA ABORDANDO O TEMA FRUTOS E SEMENTES. Ana Carolina Srbek de Araujo, Diana Salles Sampaio, Renata de Andrade Silva & Eugênio Batista Leite. Pontificia Universidade Católica de Minas Gerais. ([email protected]). O emprego de audiovisuais através de dispositivos é comumente utilizado em palestras e centros acadêmicos nas diversas áreas do conhecimento, sendo pouco difundido nos ensinos fundamental e médio. O presente trabalho visa contribuir com o acréscimo de material didático audiovisual na área de botânica, abordando a morfologia de frutos e sementes. O tema proposto é de enorme importância biológica e possui inúmeras utilidades, tanto do ponto de vista econômico como nutricional. O audiovisual visa auxiliar na construção do conhecimento do conteúdo de forma prática ligada ao cotidiano, além de constituir-se numa maneira prazerosa de aprendizagem. O material documentado (frutos – simples / carnosos e secos; múltiplos; infrutescências; pseudo-frutos e partenocárpicos – e sementes) foi selecionado a partir da consulta de livros didáticos de ensino médio e graduação. Além deste, foram documentadas algumas fases do desenvolvimento de flor a fruto. As fotografias foram realizadas no Mercado Central de Belo Horizonte e em estúdio. Os equipamentos fotográficos utilizados, pertencentes ao Laboratório de Documentação em Biologia do DCB da PUC Minas, foram: câmera eletrônica, objetivas 28-80mm e macro 100mm, filtros polarizador e TVCC, flashes comum e circular, tripé e diferentes fundos variando cor e textura. Foram utilizados diapositivos Fuji e KODAK ASA 100, sendo o audiovisual composto por 75 slides. Constatou-se ser indispensável a utilização de diafragmas fechados e flash para a obtenção de profundidade de campo. Neste caso e no emprego de polarizador, viu-se necessário super-expor algumas fotografias. A utilização de diversos fundos proporcionou a valorização dos objetos e do próprio audiovisual. A digitalização de imagens levou à perda de qualidade das mesmas, embora represente um interessante artificio. A documentação de material botânico possui outras aplicações como na documentação de trabalhos científicos, no auxílio à identificação de espécimes vegetais e em campanhas publicitárias.