1 of 4 http://www2.gsb.columbia.edu/ipd/j_writingtips2_por.html Pode ser economia, mas ainda é jornalismo Por Graham Watts Não são muitos os repórteres econômicos que chegam em casa à noite e conseguem prender a atenção da família e dos amigos com a crônica do que fizeram durante o dia. Mas aquilo que escrevemos está cada vez mais ligado a questões de vida e morte do que muito do que escrevem os nossos colegas de outras editorias – inclusive o repórter de polícia. É raro que nosso ofício seja visto assim – e em parte isso tem a ver com fato de que na maior parte do tempo nós prestamos atenção apenas ao conteúdo do que escrevemos, da mesma forma que fizemos na escola ou universidade. Quando estudantes, nós canalizávamos toda nossa energia para nos certificar de que convenceríamos nossos professores de sermos capazes de usar os termos e conceitos ensinados. Agora, dada a seriedade do assunto, pensamos sobre os nossos leitores da mesma forma – gente que sabe muito e que vai perceber quando nós não sabemos. Às vezes nos esquecemos de que estamos no ramo das comunicações. Ser um repórter de economia signficar ser um bom redator, um bom comunicador, e não apenas alguém que domina o assunto em questão. Logo, se você quer melhorar a sua produção, não gaste muito do seu tempo livre estudando pesados livros de economia - leia um bom romance. Ser um bom comunicador também significa que temos que ser experts como jornalistas, e não experts em finanças ou em economia. E nós temos que continuar a fazer tudo o que jornalistas fazem, fazendo julgamentos com os mesmos instintos - Isso é novo? É grande? É diferente? É interessante? É até mesmo divertido? E por que isso tem importância? Além disso, devemos abordar a informação que nos é passada com a mesma cautela e rigor. De onde ela veio? Será que a fonte da informação tem algum interesse em que a matéria seja escrita de uma determinada forma? Com quem mais eu posso falar para confirmar se a informação é precisa, justa e equilibrada? Será que eu falei com todo mundo envolvido na história, ou pelo menos com gente o bastante para obter uma opinião cruzada representativa? Será que perguntei aos especialistas (já que eu não sou um especialista) o que eles acham? Será que consegui uma boas aspas? Como será o meu lead? Uma maneira de pensar a esse respeito é dizer a si mesmo: Essa é a minha matéria! No começo, você pode ter sido presenteado com alguma informação, mas você construiu o resto por sua conta. Você começa perguntando a si mesmo – ou ao seu editor ou aos seus colegas – todas as perguntas que você pode pensar a respeito para tornar a matéria melhor, mais interessante e mais fácil de ser lida. E se houver alguma coisa que você não entenda, não a inclua na matéria e fique torcendo pelo melhor. Tome à frente da matéria e use uma boa quantidade de fontes para construí-la, e não apenas aquela que imprimiu o press release ou deu a coletiva de imprensa. Aqui vão dez passos para uma melhor apuração em economia: 1. Tenha uma idéia clara sobre o assunto da matéria O problema mais comum em matérias de qualidade inferior é a falta de clareza do repórter sobre o tema a ser desenvolvido. Uma forma de tornar as coisas claras é contar a matéria a uma outra pessoa. Num mundo ideal, essa pessoa vem a seu o seu editor. Ele deve fazer as perguntas, todas feitas para julgar se você realmente tem a matéria que julga ter em mãos. Parece simples, mas não é. Se você não tiver a sorte de ter um excelente editor, faça você mesmo o trabalho. Imagine que você está contando a história para um amigo ou parente que não está particularmente interessado ou envolvido com negócios e finanças. Mas não se sinta tentado a transformar a matéria 6/22/2010 2:08 PM 2 of 4 http://www2.gsb.columbia.edu/ipd/j_writingtips2_por.html em algo que não tenha a ver com ela. 2. Amplie a matéria. Apodere-se de sua própria matéria – adicionando o que chamamos de “valor agregado.” Você começa fazendo perguntas que surgem da informação que você recebeu. O ponto de partida é ir além de uma pessoa específica ou do departamento do governo ou do país em questão: Logo, você começa fazendo perguntas como essas: Essa é a primeira vez que isso aconteceu nesse setor da economia? Isso faz parte de uma tendência? Ou isso vai contra a tendência? Ou isso sinaliza uma mudança no curso de eventos? Em vista dos acontecimentos, quais podem ser as consequências para a economia do país ou da região? E se isso lhe parecer difícil, lembre-se de que você não tem de saber tudo – se você tem bons contatos, você certamente vai conhecer alguém que sabe. Faça perguntas “burras” enquanto você constrói a sua matéria ao invés de parecer burro quando ela estiver impressa. E não publique nada que você não entenda. 3. Decida sobre que detalhes você vai precisar para o lead. Dê à matéria uma consistência real sem carregar no lead. Você precisa apenas daquilo que seja realmente necessário para situar o leitor sobre aquilo que está sendo tratado, mas não faça com que o leitor se sinta sobrecarregado com tanta informação. Leitores especialistas, bem-informados, não acham irritantes quando todos os nomes e números não estão no topo da matéria. Eles lêem "escaneado" através dos pedaços da matéria que são simples ou que eles já conhecem até que encontrem os detalhes que procuram. 4. Diga ao leitor porque a história é importante Esse é a porção de maior valor agregado na redação da matéria. Isso é o elemento “e daí?” da matéria que tenta dizer ao leitor o seu significado num sub-lead. É a justificativa para que a matéria seja publicada. É a ajuda, o guia e a interpretação que você oferece para o leitor ocupado que tem todas aquelas perguntas chacoalhando na cabeça, mas que não tem tempo bastante para ordená-las, estando à deriva para encontrar as respostas. Esse é justamente o seu trabalho, e trata-se de um trabalho importante. Mas não pense que você é a pessoa que tem que saber o significado. Se você fizer o seu trabalho direito, vai conseguir sabê-lo através dos especialistas. Por exemplo: “Essa é a primeira vez que o déficit ultrapassa 3% do PIB e os analistas dizem que isso reflete a perda de controle por parte do governo sobre as finanças públicas. A cifra também será vista com reservas pelo FMI, que está tentando negociar um pacote de empréstimo com o governo.” 5. Forneça um pano de fundo Muitos leitores de uma reportagem são aquilo que chamamos “novos leitores” – aqueles que só agora começaram a ler notícias financeiras, ou que começaram a viajar ao redor do mundo, ou que tiveram um bebê, e assim por diante. Ajude-os. Desenvolva uma percepção a respeito daquilo que pode tornar os leitores confusos ou perdidos porque eles não sabem o que aconteceu anteriormente. O jeito é mencionar a informação que você obteve em arquivos e de sua própria apuração em sentenças e parágrafos que “refresquem” a cabeça dos leitores sobre o que aconteceu. É importante que você pense nisso como uma lembrança, porque muitos leitores já saberão o que aconteceu ontem ou na semana passada. Você não vai querer que esses parágrafos soem paternalistas. Isso significa que você deve incluir esse pano de fundo na história à medida em que ela é contada, frequentemente como orações dentro das sentenças que estão fornecendo a informação mais quente, às vezes como sentenças bem compassadas, às vezes como parágrafos inteiros. 6/22/2010 2:08 PM 3 of 4 http://www2.gsb.columbia.edu/ipd/j_writingtips2_por.html 6. Forneça o contexto. Isso é tão importante quanto os “entornos.” Decisões econômicas não são tomadas no vácuo. Frequentemente elas tem como objetivo abordar um problema em particular ou para ceder a uma pressão política, ou como uma reação a algum acontecimento. Conte ao leitor sobre todas essas coisas, ou do contrário ele não compreenderá todas as implicações sobre aquilo que aconteceu. Por exemplo, “O índice de desemprego, mais alto do que esperado, surge no momento em que a coalizão no poder prepara a sua estratégia eleitoral. A oposição já atacou o governo por seu fraco desempenho econômico, e existem sinais vindos das pesquisas eleitorais de que o governo tem tido uma avaliação baixa sobre sua política econômica entre os eleitores.” 7. Seja equilibrado. Ninguém conhece todas as respostas para todas as questões econômicas - nem mesmo uma fração delas. Então telefone, pergunte a diferentes especialistas, siga as suas próprias dúvidas e ponderações. E quando você tiver uma boa variedade de opiniões e interpretações sobre o significado de algo, coloque os mais representativos na sua matéria. A melhor forma de informar não é tentar "marcar uma posição." Leitores inteligentes podem farejar uma matéria enviesada a uma distância de mil passos, e acabar desconsiderando a coisa por inteiro. 8. Use bem os números. Os números são uma parte essencial do contexto e do pano de fundo. Todo bom jornalismo econômico precisa de uma boa quantidade de informação estatística sólida e adequadamente mensurada para calçá-lo. Nada em demasia, mas alguns blocos construtivos para qualquer matéria. Faça com que os números sirvam à matéria e não o inverso. Pense: do que trata a matéria? E então, primeiro, responda sem usar nenhum número. Mesmo se a matéria for sobre os mais recentes indicadores econômicos, você será forçado a dizer que a matéria é sobre o por quê a economia cresceu ou por que a inflação subiu. Dessa maneira, você vai deixar de ser escravizado pelos números. Em outras palavras, pense nos números como instrumentos para narrar a sua história, não como a substância dela. Aqui vão algumas linhas mestras: Se você pensa que os números são essenciais ao entendimento da matéria não inclua mais do que dois deles no lead. Talvez até mesmo um número seja demais. Distribua os números ao longo da matéria. Não os embole. Tente facilitar a sua vida separando os números uns dos outros com as aspas de alteração de ritmo (veja abaixo). Mantenha próximos os números que fazem parte do mesmo conjunto. Relembre que números são apenas um fator de “desligamento” dos leitores. Outros são sentenças longas, nomes desconhecido e linguagem técnica. Mantenha as coisas separadas o máximo possível. Quando você tiver alguma dessas coisas anteriores, tente usar números o mínimo possível. Considere cortar alguns desses números ou incluí-los numa tabela ou gráfico para que a informação possa fluir ao longo do texto. Cheque, re-cheque, e cheque todos eles novamente. 9. Infunda vida à matéria através das aspas. Matérias sem aspas são mortas. Encontre uma declaração para colocar lá em cima, possivelmente no segundo parágrafo, logo depois do lead, ou pelo menos no terceiro ou quarto parágrafos. Se você tiver feito alguma pesquisa ou apuração adequada, você terá fatalmente um bom número de aspas em seu bloco de notas – de fato o problema deve ser o que você deixa de for a e não de dentro. Aspas dão um sentido de autenticidade (realidade) à matéria porque elas são o diálogo de gente de verdade numa estória de não-ficção. Elas mudam o ritmo e dão cor à matéria. Elas capturam coisas no discurso cotidiano, o que frequentemente é raro de se conseguir em economia e finanças. 10. Defina e explique. 6/22/2010 2:08 PM 4 of 4 http://www2.gsb.columbia.edu/ipd/j_writingtips2_por.html São muitos os jornalistas econômicos que ainda acreditam que seus leitores sabem tudo aquilo que os termos técnicos significam. Mas eles não sabem. Muitos leitores compram e "desnatam" a imprensa de finanças em busca de notícias que afetam diretamente aquilo que fazem. O resto eles não lêem, mesmo se eles tivessem mais tempo para fazê-lo. Isso acontece porque eles podem ser especialistas bem pagos na indústria, finanças ou governo, mas apenas especialistas em uma única coisa. Um bom contador ou banqueiro não sabe necessariamente nada sobre o que se passa - ou o jargão usado - em políticas comerciais. Um bom economista agrícola não sabe necessariamente nada sobre aonde os fundos de pensão investem o seu dinheiro. E um bom gerente do setor de varejo não sabe necessariamente nada sobre como o mercado de câmbio funciona. Logo, somos nós que precisamos definir e explicar isso. Ajudar o leitor com termos técnicos não precisa ser um processo difícil e ostensivo. Existem várias maneiras de fazê-lo: É melhor interromper a matéria e insertar uma definição, usar a frase que define o termo técnico como uma parte da sentença no fluxo normal da apuração. Por exemplo: O déficit comercial subiu 65% para um recorde de 271 bilhões de dólares, em consequência da forte economia do país, cujas importações aumentaram numa velocidade maior do que a exportações.. Use o termo técnico numa sentença normal e então, na sentença seguinte, use uma frase definidora como uma alternativa enquanto mais informação é fornecida. Por exemplo: A inflação foi de 6% no ano passado. Essa é a primeira vez que a medida do governo na alteração nos preços de produtos e serviços ultrapassou a casa dos 5% na última década. Inserte uma definição afiada, clara e limpa bem no ponto da matéria em que você acredita que há o risco dos leitores virarem a página porque a ignorância deles faz com que eles se tornem desconfortáveis ou irritados. Pare então a matéria e defina o termo. Por exemplo: Um empréstimo em mora é aquele em que nem o principal nem os juros têm sido pagos por um período determinado – tal como dois trimestres consecutivos. Dê uma míni-aula. Às vezes o que leitor precisa não apenas uma palavra técnica, mas um processo de entedimento. Um exemplo é quando as ações caem porque existe um risco de alta de juros. Mesmo esse razoável e amplamente conhecido processo poderia ser explicado, como por exemplo: Investidores não gostam de aumento na taxa de juros porque isso torna os empréstimos mais caros para as empresas e encarece também o crédito, derrubando a demanda – e ao final, os lucros. Pode ser que os seus chefes ou colegas mais velhos venham a lhe dizer que você não tem que fazer todas essas coisas - e que os seus leitores sabem disso tudo. Isso vai tornar a sua tarefa ainda mais difícil, mas continue trabalhando nela. Porque se você pode explicar com clareza algo que os outros já sabem que é importante mas que não compreendem, certamente você será ouvido com tanta avidez quanto um fascinante repórter policial ou um repórter de política amante de teorias conspiratórias. O importante é a comunicação, e não o assunto. 6/22/2010 2:08 PM