Marmita no espaço Astronautas comem até lasanha, mas comida é desidratada; levar 1 kg de alimento até a órbita custa R$ 51 mil GINA MARQUES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ROMA Em 1961, durante o primeiro voo de um homem no espaço, o russo Yuri Gagarin se alimentou com purê de carne e creme de chocolate sugando três tubos parecidos com o de pasta de dente. Hoje, os astronautas podem optar por mais de 200 pratos fornecidos pela Nasa, além do "bonus food", prêmio semanal que inclui lasanha ou tiramisù. São receitas como essas que vão alimentar os três astronautas que chegaram na segunda passada (24) à Estação Espacial Internacional: o russo Anton Shklaperov, 42, o americano Terry Virts, 46, e a italiana Samantha Cristoforetti, 37. Eles integram a missão Futura, cuja finalidade é pesquisar alterações físicas do corpo na ausência de gravidade. Eles devem ficar quase seis meses em órbita --período que equivale a um envelhecimento de dez anos na Terra, pois os músculos e o esqueleto se atrofiam. Portanto, a alimentação deles é fundamental para a pesquisa. "As migalhas são proibidas porque, com a ausência de gravidade, ficariam flutuando com o risco de danificar os aparelhos e a saúde dos tripulantes", diz Davide Avino, diretor da Argotec, empresa de engenharia italiana especializada em comida para astronautas e fornecedora da Agência Espacial Europeia. "A comida deve permanecer compacta, embalada a vácuo, para se preparar acrescentando água ou esquentando no forno. Líquidos como café e sucos são sugados do pacotinho com um canudo." A bordo não tem geladeira, por isso os alimentos tem de se conservar até 24 meses mantendo as substâncias nutritivas. "O melhor método é liofilizar [desidratar em baixa temperatura] os alimentos a vácuo, congelando rapidamente a 40°C negativos e reduzindo a pressão. Assim, a água congelada passa diretamente do gelo ao vapor, sem a proliferação de bactérias", explica Stefano Polato, chef da Argotec. Esse processo preserva nutrientes, cor e gosto da comida, além de reduzir seu peso. O transporte de um quilo de material para uma estação orbital é caro --custa até US$ 20 mil (cerca de R$ 51 mil). As receitas, estudadas por dois anos, são preparadas sem sal para não sobrecarregar os rins, pois o corpo em órbita sofre forte retenção de líquidos. A sensibilidade das papilas gustativas e olfativas também é alterada. "Temos a sensação de resfriado, portanto sentimos menos os sabores e odores", contou Samantha Cristoforetti à Folha, por Skype, antes de partir. A primeira mulher italiana a ir para o espaço pediu um menu à base de legumes, peixe e carne branca, que estejam sob os princípios do Slow Food, movimento que defende o alimento bom, limpo e justo. REGRAS NO ESPAÇO O QUE PODE Alimentos pré-cozidos e desidratados Fruta fresca Água, chá, café, leite e suco de fruta Barras de cereal que não esfarelam O QUE NÃO PODE Alimentos que esfarelam, como bolachas Bebidas alcoólicas Bebidas gasosas Sal, açúcar e pimenta em grãos