DOENÇAS DA PUPUNHEIRA NO BRASIL Edna Dora Martins Newman Luz1 José Luiz Bezerra2 (1Ceplac/Cepec/Sefit, Cx. Postal 07, 45600-970, Itabuna-BA; 2UESC/DCAA, Campus Soane Nazaré, Ilhéus-BA) Introdução: A pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) tem como provável centro de origem o sopé dos Andes desde a Bolívia até o Panamá (CLEMENT, 2000), porém, a espécie hoje conhecida é resultante do processo de domesticação pelos ameríndios a partir do período pré-colombiano. No Brasil, é encontrada em toda a bacia Amazônica e os povos indígenas brasileiros também deram a sua contribuição tanto na disseminação do seu plantio, com suas migrações pela região, como no processo de sua domesticação e utilização de seus frutos na culinária amazônica. Sendo uma palmeira rústica e adaptada à região amazônica, e, sempre plantada em baixa densidade, entre outras espécies da floresta, em função de sua domesticação ter se processado por tribos nômades, lá, no seu habitat, ela sofre menos o ataque de pragas e doenças. No entanto, quando plantada em condições de mono-cultivo, tornou-se suscetível a vários patógenos (JÖHR, 1999). Em função das suas excelentes características, a pupunheira tem-se destacado como um dos cultivos mais promissores para regiões de clima tropical úmido, requerendo temperaturas acima de 22°C e uma pluviosidade bem distribuída ao longo do ano. Essa é uma das principais razões pelas quais se considera a região Sul da Bahia como uma das mais privilegiadas no Brasil para o cultivo comercial da pupunheira, sem o uso de irrigação (GOMES, 1996). A produção de palmito de pupunheira cultivada tem contribuído para reduzir a pressão sobre as espécies nativas ameaçadas pelo extrativismo predatório (GUERREIRO, 2002). No sul da Bahia o interesse pelo cultivo da pupunheira aumentou com a crise da lavoura cacaueira decorrente do advento da vassoura-de-bruxa, motivando os produtores a buscar novas alternativas para diversificar sua atividade agrícola, com ênfase em cultivos precoces, rentáveis e com mercado em expansão. Mais de 600 empresas rurais na Bahia diversificaram suas atividades agrícolas com o cultivo da pupunheira para produção de palmito, com uma área cultivada estimada em 4500 ha, com mais de 3000 ha em produção. Com a sua expansão, o cultivo da pupunheira começou a apresentar a incidência de diversas pragas, destacando-se a podridão-do-estipe, doença causada por Phytophthora palmivora (Butler) Butler. São aqui mencionadas algumas das doenças já registradas no Brasil, sendo discutida a sua etiologia, disseminação e sugeridas medidas de controle para as mesmas. Podridão do estipe da pupunheira - Phytophthora palmivora (Butler) Butler Pode ser também conhecida como podridão do broto ou podridão do colo da pupunheira. Plantas infectadas exibem, inicialmente, amarelecimento da folha bandeira, seguido do amarelecimento e seca das demais folhas. A base do estipe apresenta lesão com uma coloração pardo-escura e ao efetuar cortes transversais e longitudinais observa-se o escurecimento dos tecidos internos. Com a evolução dos sintomas ocorre a podridão generalizada do estipe e a morte das plantas (BENCHIMOL et al., 2001; SANTOS et al., 2004). A enfermidade já foi relatada nos Estados do Pará, Tocantins, Goiás, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Paraná e Santa Catarina (SANTOS e LUZ, 2007). Segundo Benchimol et al., (2001), perdas de 30% de mudas enviveiradas, e 10% de plantas adultas foram relatados no Pará e 15% em Mogi-Mirim, no Vale do Ribeira em São Paulo (PIZZINATO et al., 2002). Na Bahia, a podridão-do-estipe tem causado problemas sérios em decorrência da morte de plantas em viveiros e no campo (PARADA, acesso 2009). Em viveiro de uma propriedade agrícola no sudeste do estado aproximadamente 90% das mudas foram dizimadas pelo ataque de P. palmivora (SANTOS e LUZ, 2007). Phytophthora palmivora, o agente causal da podridão-do-estipe da pupunheira, é amplamente distribuído em áreas tropicais e subtropicais do mundo, infectando várias plantas economicamente importantes, como, Cocos nucifera L., Hevea brasiliense Muel. Arg., Theobroma cacao L., Carica papaya L., Piper nigrum L., além de diversas espécies do gênero Citrus, várias plantas ornamentais e fruteiras. Pertence ao reino Straminipila, filo Oomycota, classe Oomycetes, ordem Pythiales e família Pythicaceae, é uma espécie heterotálica, só formando oogônio, anterídio e oósporos quando pareada com talos de tipos morfologicamente compatíveis. Produz esporangióforos delgados, simples ou pouco ramificados, com esporângios papilados, caducos, com pedicelos curtos (> 5µm), ovóides a limoniformes medindo entre 36,8 x 18,4 µm. Os zoósporos biflagelados, produzidos no interior dos esporângios, são os principais responsáveis pelas infecções. Clamidósporos, sempre presentes na espécie, são os esporos de resistência e podem permanecer viáveis no solo ou em restos de culturas hospedeiras por vários meses (LUZ e MATSUOKA, 2001; PAIM, 2005). Normalmente, em ambientes saturados de umidade, é que os esporângios são produzidos e os zoósporos liberados em presença de água livre. Sendo assim, fatores ambientais, tais como umidade e temperatura, são de importância primordial para a ocorrência da podridãodo-estipe, que, segundo BECHIMOL et al. (2001), é mais freqüente em locais úmidos, condição que também favorece o desenvolvimento do hospedeiro, principalmente quando predominam temperaturas em torno de 24-25oC, comuns na Bahia nos meses de maio a setembro. Chuva e vento são os principais fatores de disseminação da doença. Os respingos de chuva são importantes na liberação dos esporângios de P. palmivora tanto da superfície dos tecidos infectados quanto do solo sendo então dispersos pelo vento. Períodos de 24 horas ou mais de saturação do solo favorecem a infecção. Plantas mais jovens parecem ser mais suscetíveis ao patógeno. Santos et al. (2004) relataram a ocorrência da doença em Paranaguá, Paraná, em plantios com idades entre seis e 12 meses; Tavares et al. (1998) na região do submédio São Francisco, Pernambuco, em plantas com cerca de um ano de idade; Pizzinato et al. (2002) em plantas adultas com dois anos de idade em São Paulo e Benchimol et al (1998), em mudas e plantas adultas no Estado do Pará. Todos os autores são unânimes ao mencionar a maior severidade da doença em áreas mais úmidas sendo ou não o plantio irrigado. Na amazônica a doença ocorre de forma endêmica, porém, no sul da Bahia, podem ocorrer epidemias, principalmente em viveiros. Cuidados especiais devem ser dispensados na formação dos viveiros com sementes selecionadas e pré-germinadas em condições o mais livre de contaminação possível, utilizando para a irrigação água de boa procedência, tendo sido ajustada previamente a quantidade a ser utilizada diariamente, para que não seja ultrapassada a capacidade de campo. O substrato a ser utilizado deve ser adequado para as necessidades nutricionais da pupunheira e esterilizado, assim como o solo a ser misturado ao mesmo, na proporção recomendada por especialistas em solos e nutrição das plantas. Não utilizar solo onde tenham sido cultivadas outras plantas que são hospedeiras de P. palmivora como o cacaueiro, a seringueira e o mamoeiro para evitar possíveis infecções (PIMENTA NETO et al., 2009). Facilitar a aeração entre plantas, o que não é possível quando se tem alta densidade de plantas no viveiro, causando retenção de umidade ou secamente rápido de algumas plantas, condições que favorecem o aparecimento da doença e a sua disseminação. Proporcionar uma adubação adequada sempre ajuda a manter as plantas menos suscetíveis ao ataque de patógenos em geral. Após o plantio no campo evitar ferimentos nas plantas, pois estes são portas abertas a infecção por qualquer patógeno. Embora P. palmivora não necessite especificamente deles para causar infecção, a sua presença acelera o processo infeccioso e a morte das plantas (VAZ, 2010). O controle de pragas, especialmente insetos perfuradores e sugadores deve ser feito rigorosamente. Evitar plantar em áreas de baixada sujeitas a inundação ou retenção de umidade o que facilita o ataque do patógeno. No caso do aparecimento de plantas com sintomas da podridão-do-estipe, toda a touceira deve ser removida e aplicada cal virgem no local, evitando replantar em menos de um ano. OUTRAS DOENÇAS DA PUPUNHEIRA Além das enfermidades causadas à pupunheira por espécies de Phytophthora que são pseudomicetos do Reino Straminipila e Filo Oomycota (na moderna concepção dos taxonomistas), existem patógenos do Reino Fungi que causam danos a esta planta, porém menos importantes que os infligidos pelo gênero Phythophthora. As doenças fúngicas que ocorrem com maior freqüência na região cacaueira do sudeste baiano são: a antracnose, provocada por Colletotrichum gloesporioides; as manchas foliares, causadas por Dreschlera incurvata, Phomopsis sp. e Curvularia spp.; a podridão mole do palmito, atribuida a Fusarium sp.; e a necrose da espata jovem induzida por Lasiodiplodia theobromae. Antracnose – Colletotrichum gloesporioides Penz Afeta as folhas das plantas mais jovens, caracterizando-se por manchas necróticas, de coloração castanha a negra e sinais concêntricos (acérvulos) com massas de conídios alaranjados (em condições de alta umidade). Em plantas com um a três anos, pode causar secamento e queda das folhas novas. Como medidas profiláticas de controle recomenda-se propiciar condições adequadas de irrigação e adubação e, nos viveiros, remover as folhas ou plantas doentes e queimar. Alguns autores recomendam o uso de fungicidas. Manchas foliares – espécies de Curvularia, Phomopsis e Dreschlera. Doença conhecida por helminthosporiose devido ao emprego equivocado do nome Helminthosporium para um dos agentes da enfermidade. Os sintomas são lesões claras elíticas a alongadas nas folhas as quais coalescem causam queima foliar. Prejudica o desenvolvimento da plantas e é favorecida por condições de umidade excessiva. É mais séria em condições de viveiro. A identificação dos agentes causais exige exame laboratorial. Existem fungicidas eficazes, porém sem registro para a cultura. Podridão do palmito – Fusarium spp. A podridão da medula causada por Fusarium pode ser semelhante aquelas causadas pela bacteria Erwinia chrysanthemi ou pelo Oomycota Phytophthora palmivora só sendo possível distingui-las através de pesquisa microscópica. A bactéria E. chrisanthemi não tem relato no Sudeste da Bahia. A incidência de Fusarium em pupunheira na Bahia ainda é controversa. Seus sintomas seriam: podridão do palmito na base da planta, clorose, murchamento e seca das folhas. No lado interno da bainha das folhas pode se observar o micélio do patógeno o qual é disseminado pela chuva, pelo vento e por insetos. Como medida de controle da podridão da medula, causada por Fusarium, recomendase: propiciar condições de irrigação e adubação adequadas; remover as plantas doentes; e combater os insetos capazes de veicular o patógeno. Necrose da espata jovem – Lasiodiplodia theobromae Pat. Enfermidade relatada no município de Una – BA e referida na literatura para Costa Rica. É considerada como de menor expressão no Sudeste baiano, não exigindo práticas de controle. De modo geral para evitar doenças nos plantios de pupunheira o produtor deve adquirir sementes de fonte segura, tratadas, e com certificação fitossanitária. As mudas devem ser levadas ao campo quando estiverem bem desenvolvidas e livres de sintomas de doenças e o solo deve estar bem preparado para o plantio. As condições climáticas devem estar favoráveis ao pegamento das mudas na época em que o plantio for feito. Literatura Consultada BENCHIMOL, R. L., ALBUQUERQUE, F. C., MULLER, C. H., Podridão da base do estipe da pupunheira, causada por Phytophthora palmivora. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 23, n. 2, p. 184, 1998. BENCHIMOL, R. L., ALBUQUERQUE, F. C., POLTRONIERI, L.S., TRINDADE, D. R., MULLER, C. H. Podridão-do-estipe da pupunheira. 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