efeito da microcorrente associada ao ácido glicólico no tratamento

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EFEITO DA MICROCORRENTE ASSOCIADA AO ÁCIDO GLICÓLICO NO
TRATAMENTO DA ACNE: RELATOS DE CASOS
EFFECT OF MICROCURRENT ASSOCIATED WITH GLYCOLACID IN THE
TREATMENT OF ACNE: REPORT CASES
Carolina Maria Pires Cunha* , Renata Ferreira Lobo*, Ângela Lôbo Barbosa Andrade de Araújo*
Mirelle Parente Soares **.
* Especialistas
** Graduada em Fisioterapia
Local de Trabalho: Moderna Fisio – Consultório Especializado em Fisioterapia
Autor Correspondente: Carolina Maria Pires Cunha
Endereço: Rua Francisco Alves, 325, Torre B, sala 404, Ilha do Leite. Recife-PE
Telefone: (81) 3231.6925/ 88572061
Email: [email protected]
Resumo
A acne é uma patologia encontrada em 27% das mulheres e 34% dos homens, entre 15 e
44 anos; por seus efeitos e alta prevalência, é uma doença que afeta o psicossocial e
pode evoluir para lesões cicatriciais. O uso da microcorrente é indicado para acelerar o
processo de cicatrização epitelial, além de possuir ação antibactericida e auxiliar no
crescimento das células em todo o organismo. O ácido glicólico vem sendo amplamente
utilizado, pois sua eficácia no tratamento de alterações dermocosméticas tem mostrado
bons resultados. O presente trabalho tem como objetivo comprovar a eficácia do uso da
microcorrente associada ao ácido glicólico no tratamento da acne. Foram estudados 10
voluntários, ambos os sexos, divididos em 2 grupos: experimental e controle. Verificouse que, das 4 voluntárias que finalizaram o tratamento, as 2 do grupo controle
apresetaram diminuição de comedões e pápulas e as voluntárias do grupo experimental
apresentaram melhora da acne com consequente diminuição de comedões, pápulas,
pústulas e vermelhidão características da acne. Conclui-se que a associação da
microcorrente com o ácido glicólico é uma opção eficaz e que pode ser utilizada no
tratamento da acne do grau II, com o objetivo de diminuir comedões, pápulas e pústulas,
características da acne.
Palavras-chave: Acne. Ácido Glicólico. Microcorrentes.
Abstract
Acne is a disease found in 27% of women and 34% of men between 15 and 44 years,
for its effects and high prevalence, is a disease that affects the psychosocial and may
lead to scarring. The use of microcurrent is indicated to accelerate the process of
epithelial healing, also has antibacterial action and assist in the growth of cells
throughout the body. Glycolic acid has been widely used because its efficacy in the
treatment of changes dermocosmetics has shown good results.This paper aims to
demonstrate the effectiveness of the use of microcurrent associated with glycolic acid in
the treatment of acne. We studied 10 volunteers, both sexes, divided into 2 groups:
experimental and control.It was found that 4 of the volunteers have finished the
treatment, control group 2 showed reduction of comedones and papules and volunteers
in the experimental group showed improvement of acne with consequent reduction of
comedones, papules, pustules and redness characteristic of acne. We conclude that the
combination of microcurrent with glycolic acid is an effective option and can be used to
treat acne grade II, with the aim of reducing comedones, papules and pustules are
characteristic of acne.
Keywords : Acne. Glycolic Acid. Microcurrent.
Introdução
A Fisioterapia Dermato-funcional tem por objetivo tratar eficazmente os
distúrbios endócrino-metabólicos, dermatológicos, circulatórios e/ou musculares,
através da prevenção, promoção e recuperação do indivíduo [1,2].
A acne é uma doença muito conhecida desde a antiguidade e afeta 70 a 87% das
pessoas entre 15 e 25 anos de idade nos países ocidentais. O correto conhecimento da
etiologia da acne possibilita uma melhor compreensão da doença e uma abordagem
terapêutica mais adequada. Essa dermatose é de fácil diagnóstico que, mesmo não
comprometendo a saúde geral do paciente, leva a um prejuízo do bem-estar do mesmo
[3,4,5,6]
.
Há quatro níveis de classificação clínica para a acne. O grau 1 é a forma mais
leve, com características não inflamatórias, apresentando comedões fechados e abertos.
O grau 2 é denominado acne inflamatória ou pápulo-pustulosa, nesse caso há presença
de comedões associados a pápulas (lesões sólidas) e a pústulas (lesões líquidas de
conteúdo purulento). No grau 3, a acne é chamada de nódulo-abscedante, quando se
agrupam a nódulos (lesões sólidas mais visíveis). Por último, o grau 4, conhecido por
acne conglobata, no qual há formação de abscessos e fístulas [5].
A microcorrente é uma terapia com corrente elétrica com a sensação da corrente
abaixo do limiar, utilizando a intensidade em microampéres [7]. A corrente elétrica
gerada pela microcorrente estimula a cura, a regeneração e o crescimento das células em
todo o organismo, no plano cutâneo e subcutâneo, através da bioeletricidade
(eletricidade endógena) existente dentro da célula. A microcorrente apresenta dois
efeitos: o antibacteriano e o da exarcebação da reepitelização, sendo realizados,
sequencialmente, pelos pólos negativo e positivo [8].
A microcorrente possui uma corrente elétrica compatível ao campo
eletromagnético do corpo humano e trata tecidos vivos sem deixar cicatrizes. Sabe–se
que em tratamentos de úlceras com estimulação elétrica o resultado é positivo, pois a
microcorrente em tecidos infectados retarda o crescimento das bactérias e aumenta a
circulação local através da abertura dos capilares, permitindo, assim, que as células de
defesa atuem no local [9,10].
O ácido glicólico (AG) é derivado da cana de açúcar, tem baixo peso molecular
e, consequentemente, tem uma melhor penetração com rápida absorção. O AG tem
baixo poder de fotossensibilização, baixa capacidade de desencadear alergias e
capacidade de penetrar e induzir alterações dérmicas.
O AG aumenta em 30 a 50% a espessura da epiderme, em 20 a 50% a espessura
da derme e aumenta as concentrações de colágeno possuindo, assim, ótimas
propriedades para ser usado na dermatologia. Este ácido é comumente utilizado para
obter um peeling suave, fazendo com que o estrato córneo da pele se afine e
consequentemente haja a renovação da mesma [11,12,13].
Um estudo realizado na República da China verificou que o efeito do AG, com
35 a 50% do ácido no peeling e 15% em produtos para tratamento domiciliar,
proporcionou uma diminuição nas lesões e poros foliculares menores [14].
A acne é a patologia dérmica inflamatória mais comum em adolescentes e
alguns adultos jovens. Atualmente vários recursos terapêuticos vem sendo utilizados
para o tratamento desta dermatose, dentre eles, a microcorrente e o ácido glicólico. A
corrente elétrica, gerada pela microcorrente, tem ação antiinflamatória, cicatrizante,
bactericida e antiedematosa estimulando a cura de células epitelias e o ácido glicólico
que é comumente utilizado em peelings químicos, fazendo com que o estrato córneo da
pele se afine levando a renovação da mesma. Diante do exposto, o objetivo desta
pesquisa é verificar o efeito da microcorrente associado ao ácido glicólico no tratamento
da acne.
Materiais e métodos
O presente estudo foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade
Maurício de Nassau, no período de maio a julho de 2009. Trata-se de um estudo
analítico experimental onde, inicialmente, a amostra constou de 10 voluntários de
ambos sexos, na faixa etária de 15 a 30 anos.
Após a aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Agamenon
Magalhães e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foi realizada a
triagem dos voluntários através do Protocolo de Avaliação Facial (PAF), segundo
Micussi [15], no qual consta de dados como: hábitos de vida, uso de medicamento,
cosméticos, protetor solar, tipo e características da menstrução no caso de voluntárias,
cor e tipo de pele, classificação do fototipo e graus da acne.
Foram adotados como critérios de inclusão a idade entre 15 a 30 anos e não estar
realizando tratamento para a acne, e como critérios de exclusão alergia ou irritação a
corrente elétrica e ao ácido glicólico, portadores de marcapasso, pinos ou placas e
gravidez. Em seguida, foi realizada a divisão dos grupos, onde: 5 voluntários realizaram
tratamento com a microcorrente e 5 voluntários associaram este último tratamento com
o ácido glicólico.
A avaliação dos voluntários foi realizada através do PAF e do registro do grau
da acne através da máquina digital Sony Cyber Shot (DSC W110 7.2 megapixels), as
fotos foram realizadas em vista anterior e lateral, enfatizando a face, sendo tiradas a
trinta centímetros (30 cm) de distância e a uma altura de um metro e trinta centímetros
(1.30 m).
Antes dos procedimentos, a pele foi higienizada com gel de limpeza. Em
seguida, a microcorrente foi aplicada, utilizando – se o aparelho da marca Tone Derm®
(modelo 6C), e aplicando-se os seguintes parâmetros: polaridade invertida, forma
retangular, 30 min, 100 Hz, intensidade 200 µA.
No grupo experimental, além da microcorrentes, foi aplicado o ácido glicólico a
30% por 10 minutos. A microcorrente era aplicada ao voluntário através de um eletrodo
facial oval de 54mm e pino 2mm, nas regiões malar e orbicular dos olhos, com gel a
base de água e em seguida colocava-se a solução de ácido glicólico a 30% com um pH
de 3,5.
No total foram realizadas 15 sessões em cada voluntário, com uma freqüência de
duas vezes por semana. Após as sessões foram realizadas as reavaliações, seguindo o
mesmo protocolo citado anteriormente. A análise estatística foi realizada com o
programa Microsoft Excel/Windows XP, com o cálculo da média aritmética das
variáveis obtidas no protocolo de avaliação facial.
Resultados
O presente estudo foi iniciado com 10 voluntários, sendo 8 destes do sexo
feminino (80%), os quais apresentaram diferentes causas para a acne. A idade variou de
15 a 30 anos (22,4 anos). Dos voluntários iniciais apenas 4 finalizaram a pesquisa, 2 do
grupo controle e 2 do grupo experimental. Houve abandono do tratamento por 6 (60%)
voluntários: 3 (30%) deles por hipersensibilidade ao ácido glicólido e os outros 3 (30%)
iniciaram e depois não frequentaram assiduamente o tratamento.
Em relação ao grupo final, as suas idades variaram entre 20 e 27 anos, e o grau
da acne predominante foi o II, essas características bem como uso de cosméticos,
protetor solar, tratamento facial, a idade da menarca e características sobre a
menstruação, entre outros, encontram-se na Tabela I.
__________________________________________________________
Voluntária 1
Voluntária 2
Voluntária 3
Voluntária 4
20
27
24
23
Idade
Não
Sim
Sim
Não
Cosméticos
N. Usa
7x
2x
N. Usa
Freq. de Uso
Não
Sim
Sim
Não
Prot. Solar
N. Usa
Diária
Diária
N. Usa
Freq. de Uso
Regular
Regular
Irregular
Irregular
Menstruação
11
13
15
14
Menarca
Sim
Não
Sim
Sim
Trat. Facial Ant.
Paliativo
Melhora
Significativa
Result. Obtidos
Branca
Branca
Amarela
Negra
Cor da Pele
Oleosa
Mista
Mista
Mista
Tipo de Pele
Tipo I
Tipo I
Tipo I
Tipo III
Fototipo
Grau II
Grau II
Grau II
Grau II
Acne
Tabela I. Características das 4 voluntárias que finalizaram o tratamento
As figuras 1 e 2 mostram a face de uma das voluntárias do grupo experimental
antes e após o tratamento, respectivamente. As fotos foram tiradas com vista anterior e
laterais, enfatizando a face. A voluntária 1, 20 anos, não faz uso de cosméticos nem de
protetor solar, sua menstruação é regular, a idade da menarca foi aos 11 anos e realizou
tratamento facial anterior, obtendo resultados paliativos, sua cor de pele é branca, tipo
de pele eudérmica, fototipo Tipo I (muito sensível, queima facilmente e nunca
pigmenta) e seu grau de acne é o II.
A voluntária 2, 27 anos, faz uso de cosméticos e protetor solar diariamente, sua
menstruação é regular, a idade da menarca foi aos 13 anos e não realizou tratamento
facial anterior, sua pele é branca e mista, seu fototipo Tipo I e seu grau de acne também
é o II. As voluntárias 1 e 2 pertenciam ao grupo experimental.
Figura
1.
Vista
anterior da voluntária
do grupo experimental,
antes do início do
tratamento
Figura
2.
Vista
anterior da voluntária
2, grupo experimental,
depois do tratamento
No grupo controle a voluntária 3, 24 anos, faz uso de cosméticos durante o fim
de semana e usa o protetor solar diariamente, sua menstruação é irregular, idade da
menarca aos 15 anos e realizou tratamento facial anterior com ácido, obtendo uma
melhora, sua cor de pele é amarela, de acordo com o PAF, e seu tipo é mista, fototipo
Tipo I e grau de acne II.
Por fim, a voluntária 4, 23 anos, não faz uso de cosméticos e protetor solar, sua
menstruação é irregular, tendo a menarca aos 14 anos, realizou tratamento facial
anterior com ácido e notou bastante melhora, sua cor de pele é negra, seu tipo de pele é
mista, fototipo Tipo III (moderadamente sensível, queima levemente e pigmenta
facilmente) e seu grau de acne é o tipo II. As figuras 3 e 4 representam a face de uma
das voluntárias do grupo controle, antes e após o tratamento respectivaemente.
Figura 3. Vista anterior
da voluntária do grupo
controle, antes do início
do tratamento
Figura 4. Vista anterior
da voluntária do grupo
controle, depois do
tratamento
Após 15 sessões, realizadas com a frequência de 2 a 3 vezes por semana, foi
observada uma melhora clínica devido a redução da quantidade de comedões, pápulas,
pústulas no grupo controle e redução das mesmas juntamente com diminuição da
vermelhidão no grupo experimental.
A utilização da microcorrente associada ao ácido glicólico obteve sucesso na
diminuição do grau da acne em 2 pacientes (20%) e somente o uso da microcorrente,
também em 2 pacientes (20%).
Discussão
A média de idade dos 10 voluntários foi de 22,4 anos. Estes resultados
corroboram com Schmitt et al. [16] onde relatam que a idade média para o aparecimento
da acne é entre 21,7, mais ou menos 7,3 anos.
O uso de cosméticos foi relatado por 50% dos voluntários. López e Pérez [17]
relatam que a acne exógena aparece por uso de cosméticos, corroborando com Vaz [18] e
Schmitt et al. [16], os quais afirmam que o uso de cosméticos e protetores solares com
características comedogênicas são fatores que predispõem a aparição da acne.
Dentre as voluntárias 40% relataram ter uma menstruação regular e as outras
40% relataram ser irregular, percebendo-se que a alteração no ciclo menstrual leva a
uma alteração no aparecimento de acne. Segundo Herane [19], o aumento do sebo
decorre do aumento dos andrógenos ou por alterações na circulação desses hormônios
concluindo que os antiandrógenos podem inibir a produção de sebo. De acordo com
Khanna [20], nas mulheres, a ação da progesterona sobre as glândulas sebáceas mantemse controversa.
Quanto à variável cor da pele, observou-se predominância da cor branca (40%),
sendo 10% da cor parda, 20% da cor negra e 30% da cor amarela, esses achados estão
de acordo com Ribas et al. [21] e Vaz [18] que confirmam os achados do estudo relatando
que a acne apresenta menor incidência em asiáticos e negros.
De acordo com o resultado encontrado nas duas voluntárias do grupo
experimental, houve clareamento da epiderme, juntamente com a diminuição dos
comedões, pústulas e pápulas. Estes dados estão de acordo com Guterres e Nardin [22]
relatando que as concentrações elevadas de ácido glicólico (40% a 70%) agem na
epiderme e também na derme, apresentando maior penetração, causando epidermólise,
aumento da biosíntese do colágeno e possivelmente de fibras elásticas.
Segundo Vera et al. [23], utilizando-se o ácido glicólico por 15 min, considerando
a relação tempo-concentração-profundidade, tendo a porcentagem de 50%, o ácido
prenetrará na pele a uma profundidade de 0,202 mm, proporcionando-se uma
diminuição da coesão dos corneócitos e se a concentração for em torno de 30 a 70%
usualmente as lesões inflamatórias e pustulosas iram clarear.
De acordo com Coro-Antich et al. [24], o estrato córneo diminui
significativamente após 6 aplicações de ácido glicólico a 35% ou 3 aplicações com
concetração 50%. A aplicação aumenta consideravelmente o conteúdo de colágeno da
derme papilar, sugerindo, portanto, que o tratamento mais adequado é o com ácido
glicólico a 35% com 6 aplicações, pois aumenta significativamente a espessura da
epiderme e diminui a espessura do estrato córneo.
Diminuição do número de comedões e de pápulas, além de melhora na
velocidade de cicatrização da acne, foram verificados nas voluntárias do grupo controle.
Estes resultados são concordantes com o da literatura de Watson [25] quando afirma que
o intracrescimento do fibroblastos e o alinhamento das fibras de colágeno foram
estimulados pela microcorrentes com corrente contínua direta (20 – 100 microamperes).
Os autores Kirsch et al. [7] e Robinson e Snyder-Mackler [26] concordam que a excitação
elétrica em uma ferida aumenta a concentração de receptores do fator de crescimento,
aumentando consequentemente a formação de colágeno.
Considerações finais
Os resultados deste estudo analítico e experimental, mostraram que a associação
da microcorrente com o ácido glicólico é uma boa opção no tratamento de pacientes
com acne tipo II, objetivando a redução no número de comedões, pápulas e pústulas,
além da vermelhidão causada pela presença da acne.
No entanto, não podem ser conclusivos devido ao número reduzido da amostra e
falta de métodos mais eficazes de avaliação. Este trabalho pretendeu também estimular
outros profissionais a aprofundar mais este assunto, buscando uma amostra maior e uma
metodologia de avaliação com mais acurácia.
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