Ano Opcional em Cirurgia do Aparelho Digestivo – Transplante de Fígado e Pâncreas – Cirurgia do Aparelho Digestivo (Cód. 1235) 01. Descreva de forma sucinta a técnica de captação de múltiplos órgãos A captação de múltiplos órgãos se inicia, após checagem da documentação que comprove a morte encefálica, por uma incisão toraco-abdominal mediana. Realiza-se inspeção de todos as cavidades e órgãos, quanto as condições gerias e viabilidade para transplante dos mesmos. Uma vez decidido pela utilização de todos os órgãos, realiza-se o preparo cardíaco e pulmonar pelas respectivas equipes antes da perfusão. No abdômen, após rebater todo o intestino delgado acima dos grandes vasos, expondo-os, realiza-se a canulação da artéria aorta e da veia mesentérica superior, inferior ou ramos destas para a infusão de solução de preservação gelada (4º C). Neste momento, após consenso de todas as equipes e em sincronia com as mesmas, será iniciado o resfriamento dos órgãos e a troca do sangue por solução de preservação gelada. Para a preservação dos órgãos abdominais realiza-se o clampeamento da aorta torácica, infunde-se a solução de preservação pelos vasos já canulados e o sangue será drenado por uma abertura na veia cava inferior, acima do diafragma. Preenche a cavidade abdominal com gelo e espera a troca do sangue pela solução de preservação. Após todo o sangue substituído pela solução de preservação, iniciará a retirada dos órgãos, sendo primeiramente o coração, depois o pulmão, após o fígado, pâncreas e por último os rins. 02. Qual o método utilizado para analisar a prioridade dos pacientes que se encontram em fila de espera por um transplante de fígado no Brasil? Até metade de 2006 a prioridade para a distribuição de fígado no Brasil seguia apenas critérios cronológicos, independente da gravidade. Em julho de 2006 entrou em vigor a distribuição baseado em critério por gravidade, ou seja, quanto mais grave, maior a chance de receber um órgão. O critério de gravidade adotado foi o MELD (Model End Stage Liver Desease), onde utiliza-se exames como bilirrubina, atividade de protombina (RNI) e creatinina. Os resultados desses exames são colocados em fórmula que gera um número. Quanto maior o número, mais na frente da fila o paciente ocupa. Existem ainda situações chamadas de especiais, onde o paciente recebe uma pontuação extra, como os portadores de hepatocarcinoma. Além disso existem as prioridades, como em hepatites fulminantes, onde ocupa posições a frente de qualquer pontuação por MELD ou situação especial. No caso das crianças (menores de 13 anos), a distribuição é chamada de PELD, pois a fórmula entra outro parâmetro como a albumina. Nesta situação, o PELD (número final) é multiplicado por três, levando em geral os doentes desta faixa etária a ocupar as primeiras posições. 03. Hepatocarcinoma – como se faz o diagnóstico e qual o tratamento? Hepatocarcinoma é um tumor que costuma crescer em fígados doentes. Para se fazer o diagnóstico de um tumor, em geral utiliza-se a biópsia, porém nesses doentes não se faz necessário, pois muitas vezes são portadores de coagulopatia e ascite o que dificulta a realização da mesma, além de relatos de disseminação do tumor com a realização de biópsia. Portanto, para diagnóstico seguimos critérios de Barcelona Diagnóstico baseado, no critério de Barcelona: I - Critério anatomopatológico: biópsia; II - Critério radiológico: A - Duas imagens coincidentes entre quatro técnicas (ultrassonografia com Doppler ou com contraste por microbolhas, tomografia computadorizada, ressonância magnética e arteriografia) que demonstram lesão focal igual ou maior que 2 cm com hipervascularização arterial; no Opcional em Cirurgia do Aparelho Digestivo – Transplante de Fígado e Pâncreas – Cirurgia do Aparelho Digestivo (Cód. 1235) B - Um único método de imagem trifásico (tomografia computadorizada helicoidal multislice, ressonância magnética, ultrassonografia com contraste por microbolhas) que demonstre lesão focal igual ou maior que 2 cm com padrão hemodinâmico de hipervascularização arterial e depuração rápida do contraste na fase portal ou de equilíbrio (washout). III - Critério combinado Uma imagem técnica associada com alfa-fetoproteína (AFP) que demonstre lesão focal igual ou maior que 2 cm com hipervascularização arterial e níveis de AFP > 200 ng/ml. Uma vez feito o diagnóstico, o tratamento preferencial é a ressecção cirúrgica ou o transplante hepático. Pela carência de órgãos disponíveis, reserva-se o transplante aos pacientes que não podem ser submetidos a ressecção cirúrgica e estão dentro do Critério de Milão no estadiamento deste tumor. Estadiamento – Critério de Milão: Um nódulo hepático de até 5 cm Ou até três nódulos sendo o maior de 3 cm Ausência de trombose vascular tumoral Obs – Nódulos menores que 2 cm não são considerados para o critério de Milão. Ausência de metástases comprovada por tomografia computadorizada de tórax e mapeamento ósseo realizados até 12 meses antes. Serão considerados os seguintes critérios de irressecabilidade: MELD>10, Child B ou C, Na+ < 135, ressecções de mais de dois segmentos ou tumores múltiplos (mais de 1 nódulo em segmentos distintos). 04. Quando se indica e quais as modalidades de transplante de pâncreas? O transplante de pâncreas tem como finalidade substituir a função pancreática endócrina nos doentes que estejam diabéticos insulino-dependentes. Didaticamente poderíamos dividir esses receptores a pâncreas em dois grupos: 1 - Transplante de pâncreas solitário - os diabéticos puros, ou seja, que iriam deixar de receber insulina ao receber um transplante de pâncreas A – transplante isolado – diabético puro B – transplante de pâncreas pós rim – paciente diabético que já recebeu um transplante de rim no passado 2 – Transplante de pâncreas e rim – esse são os pacientes diabéticos que evoluíram com insuficiência renal crônica e que necessitam de receber também um rim. A indicação mais precisa para um transplante de pâncreas é quando um paciente insulino dependente, abaixo de 50 anos, evolui com insuficiência renal crônica. Nesse pacientes a melhor indicação é o transplante combinado rim-pâncreas. Essa é a modalidade mais realizada de transplante. No grupo de transplante de pâncreas isolado é mais complicado. Nos pacientes que já recebem imunossupressão por um transplante de rim previamente a indicação fica a critério dos grupos, pois o paciente terá o benefício do transplante, porém terá que se submeter a um novo risco cirúrgico. No caso do transplante isolado a indicação é muito mais restrita, reservando a casos isolados, aonde a adaptação a insulina não esta adequada, com quadros de graves hipoglicemias, evolução de complicações secundárias e descontrole total com os métodos tradicionais. Neste caso se faz obrigatório a avaliação de um endocrinologista experiente demonstrando a ineficiência da terapia convencional. EPM / UNIFESP - RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 2