Humanização hospitalar: o estudo do espaço de internação

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Humanização hospitalar: o estudo do espaço de internação psiquiátricas
Dezembro/2016
Humanização hospitalar: o estudo do espaço de internação
psiquiátricas
Carine Rech Farias- [email protected]
Pós- Graduação em Master Arquitetura
Instituto de Pós Graduação IPOG
Florianópolis/SC, 24 de Fevereiro de 2016
Resumo
O presente artigo possui como objeto de estudo a humanização dosespaços de internação
psiquiátrica em ambientes hospitalares. A falta de qualidade em ambientes hospitalares, assim
como a crescente demanda nos serviços de saúde,ocasionam a carência de infraestrutura
adequada para a recuperação dos pacientes e impactam negativamente na qualidade de vida
dos trabalhadores que atuam nesses espaços. Este artigo, portanto,buscaexpor como a
humanização hospitalar atua com grande importância na saúde e recuperação de pacientes.
Para a confecção do presente artigo utilizou-se como metodologia a revisão bibliográfica, com
referências literáriase informações buscadas junto a livros, trabalhos de conclusão de curso
eoutros artigos. No que se refere à conclusão, ao final do presente estudo foi possível constatar
que o tema tem sido discutido e tratado com maior atenção nos últimos anos, sendo possível
encontrar teses e estudos que demonstram como espaços bem projetados e humanizados dentro
dos hospitais - especialmente nos setores de internação psiquiátrica - têm trazido benefícios
efetivos para os seus usuários.
Palavras- chave: Humanização. Hospital. Psiquiatria.
1. Introdução
No que se diz respeito a humanização hospitalar ainda estão começando estudo que revelam as
melhorias no espaço com a relação da cura. O espaço arquitetônico tem grande influencia em
seus usuários, e se tratando de ambientes hospitalares essa concepção vem tornando outras
formas com o maior comprometimento que se tem hoje com os usuários dos espaços, as
sensações que se causa e o bem estar físico e emocional. A arquitetura hospitalar trata essa
preocupação com o conforto do paciente, pois encontra-se em estados debilitados.
As pessoas querem mais que um atendimento médico.Acima de tudo, desejam
maior atenção e amparo. Procuram entender sua doença e como fazer para
curarem-se. Essa nova forma no tratamento se reflete no ambiente hospitalar que
precisa acompanhar essa evolução conceitual de tratamento. (GÓES, 2010, p. 48)
A ideia central para a humanização tem como principal foco a necessidade de um melhor
atendimento, junção de espaços tecnológicos com o acolhimento, além de um melhor
atendimento para pacientes, melhor espaço de trabalho para funcionários.
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Os valores mais importantes para uma humanização de qualidade que podemos analisar
considerando os usuários do espaço que tem o direito de serem bem atendidos, a relação com o
profissional da saúde com o paciente que tem o compromisso de interagir e se comunicar com o
paciente afim de amenizar o sofrimento, o trabalhador da saúde que deve ter formação e
capacitação para manter a qualidade de vida do paciente no ambiente hospitalar, a gestão das
organizações e o estado.
Quando falamos de espaços destinados a tratamento psiquiátrico analisamos na maioria espaços
adaptados para tal função. Somente a partir da década de 70 no Brasil baseados em experiências
italianas constitui-se o Movimento dos Trabalhadores em Saúde mental e posteriormente tornouse o Movimento Nacional na Luta Antimanicomial, quando o doente mental começou a ser
tratado com mais humanidade.
O movimento antimanicomial italiano é considerado como uma referência no
conjunto de iniciativas de reforma psiquiátrica do cenário ocidental, desde o final
dos anos 60, por significar a radicalização de toda uma tendência do pós-guerra
de reforma humanizadora das instituições psiquiátricas. [...] o movimento se
guiou pela promoção da justiça e da liberdade. (GOULART, p. 20, 2007)
Inicia-se as discuções sobre a saúde do paciente com transtornos mentais e sobre a humanização
dos espaços de atendimento, principalmente nos espaços fora do ambiente hospitalar, que são
mais comuns nos dias de hoje, como espaços adaptados para tal função.
2. Humanização hospitalar
Não existe um conceito básico para humanização hospitalar, esse conceito é utilizado para
abordar uma melhoria nos espaços de atendimento hospitalar, que deve-se tanto a arquitetos que
desenvolvem projetos para tais fins, com conceitos mais definidos sobre conforto acústico,
iluminação, uso de cores e texturas, fala-se também de gestores que estão diretamente ligados ao
ambiente hospitalar, fazendo o uso do espaço assim como pacientes, que teriam uma
preocupação direta com a melhoria do atendimento com a relação de um maior bem estar dos
pacientes.
Alguns conceitos ou tentativas de definição de humanização encontrados na literatura são:



Humanização é o ato de humanizar, ou seja, dar estado ou condições de homem, no
sentido de ser humano (Grande Biblioteca Larousse Cultural, 1998).
Humanização é o aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e
de sujeitos (Ministério da Saúde, Política Nacional de Humanização Hospitalar,
2003).
Humanização diz respeito à mudança na cultura da atenção dos usuários e da gestão
dos processos de trabalho (Ministério da Saúde, Política Nacional de Humanização
Hospitalar, 2003).
Nos últimos anos, tem-se visto que um hospital, com uma boa direção e uma boa equipe,
funciona bem. Com condições idênticas de trabalho, um hospital consegue melhores resultados
que outro se houver compromisso da liderança, qualidade na gestão, competência e criatividade
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da equipe. Os bons resultados dependem, em grande medida, da capacidade de o hospital
oferecer um atendimento humanizado à população. Para tanto, é necessário cuidar dos próprios
profissionais da área da saúde, constituindo equipes de trabalho saudáveis e, por isso mesmo,
capazes de promover a humanização do serviço. E, por profissionais de saúde, consideram-se
aqui todas as pessoas que trabalham nas unidades de saúde e não apenas médicos e paramédicos.
(Ministério da Saúde, Programa Nacional de Humanização Hospitalar, 2001).
Segundo o Manual PNHAH do Ministério da Saúde humanizar é garantir a palavra a sua
dignidade ética. O sofrimento e as percepções do corpo, para serem humanizadas, precisam que
as palavras que o expressam sejam reconhecidas pelo outro. Pela linguagem fazemos descobertas
pessoas de comunicação com o outro, sem que nos desumanizamos. Sem comunicação não há
humanização, que depende da nossa capacidade de falar e ouvir, do nosso diálogo com nossos
semelhantes.
O Manual PNHAH do Ministério de saúde cria parâmetros para humanização de atendimento
aos usuários:
-
Condições de acesso e presteza de serviços;
Qualidade das instalações, equipamentos e condições ambientais do hospital;
Clareza das informações oferecidas ao usuário;
Qualidade da relação do usuário com o profissional;
Gestão hospitalar e participação dos profissionais;
Condições de trabalho na instituição;
Condições de apoio aos profissionais;
Qualidade da comunicação entre profissionais;
Relacionamento interpessoal no trabalho;
Valorização do trabalho e motivação profissional.
Humanizar é o cuidado que temos com a qualidade da relação entre o paciente e o profissional da
saúde. PESSINI 2006, fala em seu livro da presença solidária do profissional com a habilidade
humana e cientifica. Diante do cotidiano desafiador ser sensível com o outro, criar vínculos, ter
diálogos, criando uma relação de confiança, mostrando a competência com responsabilidade
ética.
No campo da saúde, o conceito de humanização surge como um principio
vinculado ao paradigma de direitos humanos – expressos individual e
socialmente – e referidos a pacientes, usuários, consumidores, clientes e cidadãos
como sujeitos. A fonte mais recente dos princípios da humanização pode ser
buscada na Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1948), que se
funda nas noção de dignidade e igualdade de todos os seres humanos: Em outras
palavras, o que é devido ao paciente como um ser humano, pelos médicos e pelo
Estado, se conformou em grande parte devido a esta compreensão dos direitos
básicos da pessoa <www.who.int/entity/genomic/elsi/en>. (VAITSMAN,2005,
pag. 608).
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A discussão sobre humanização vai além do próprio conceito de cura dos pacientes em relação
ao espaço, tem a relação com a satisfação do usuário com o espaço que está utilizando, na área
da saúde tem-se desenvolvido pesquisas a esse respeito.
Essas pesquisas vieram focalizar as distintas dimensões que envolvem o cuidado a saúde, desde a
relação médico-paciente até a qualidade das instalações, passando pela qualidade técnica dos
profissionais da saúde (VAITSMAN,2005).
Aimportância da relação equipe de saúde e usuário que, quando satisfatória, tem grande
influência na satisfação e evolução do tratamento do paciente. A equipe deve saber lidar com as
emoções e as dimensões subjetiva e social da pessoa, além de adquirir sensibilidade para a
escuta. Sugere algumas medidas fundamentais para incrementar politicas de humanização em
saúde:
- Publicação de normas e portarias para fornecer o suporte legal;
- Investimento nas organizações, criando ambientes mais propícios e acolhedores;
- Difusão de novos protocolos, visando à sensibilização e capacitação de uma cultura
institucional menos autoritária e voltada para as necessidades do usuário;
- Divulgação ampla de conteúdos e praticas que deem oportunidades ao usuário de escolher com
maior autonomia e esclarecimento e o prepare para estabelecer relaçõessimétricas com o
profissional de saúde;
- Combinação da abordagem de saúdepublica com a médica e social;
- Criação de programas e politicas melhores desenhados que possibilitem a gestão das
organizações caminhar em direção à humanização e inclusão social. (BOARETO 2014).
Outro ponto citado em algumas referências é a humanização dos espaços, e a arquitetura pode
contribuir com a criação desses espaços, que trazem maior conforto ambiental, na utilização de
cores, texturas e iluminação.
Segundo (CAVALCANTI,2002) as soluções possíveis para garantir a qualidade desejadas ao
ambiente hospitalar são:
-
Proporcionar conforto visual, sonoro e higrotérmico no interior do edifício;
Possibilitar ao paciente realizar escolhas e controlar as condições ambientais;
Promover a estimulação sensorial (equilíbrio, tato, visão, audição, e paladar-olfato) dos
usuários do espaço, o qual deve apresentar características como dinamismo e interesse;
Assegurar a integração interior-exterior, possibilitando a visualização e o contato com a
natureza;
Incorporar elementos artísticos e decorativos ao espaço;
Conferir a privacidade necessária ao paciente;
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Permitir a manutenção do contato com os familiares.
Miquelin (1992) ressalta os aspectos básicos que devem ser analisados acerca da iluminação:
níveis de iluminação de acordo com as exigências do conforto humano; sistemas de iluminação
que podem ser direto, indireto ou misto; tipo de fonte de luz; eficiência luminosa; reprodução da
cor. No caso dos hospitais, os diferentes tipos de usuários e as diversas atividades requerem
estudos específicos para que proporcionem o bem-estar visual.
No ambiente hospitalar, o padecimento dos pacientes que afeta aos seus
visitantes e familiares, e a exaustiva rotina do corpo médico e de enfermagem
também devem ser levados em consideração na proposta de iluminação. A luz
não elimina o sofrimento do paciente, mas pode ameniza-lo através da criação de
um ambiente saudável e aconchegante. Ao colaborar com a saúde mental e
psicológica dos funcionários o espaço também favorece a otimização da sua
produtividade o que inclui o melhor atendimento aos paciente. Como
consequência do bem-estar dos usuários do espaço, e da melhoria da imagem da
instituição, a adequada proposta de iluminação contribui para que a mesma
assegure sua competitividade no mercado. (PATRICIA, 2002, pag. 57).
No conceito de conforto acústico deve-se, observar que alguns sons produzidos podem
caracterizar conforto: o barulho de uma cascata num jardim interno, o barulho da chuva, canto
dos pássaros etc. Esses sons benéficos devem ser, sempre que possível aproveitados nos E.S.
Neste sentido as aberturas de um espaço voltado à saúde, em especial das áreas de internação,
por exemplo, deverão estar voltadas para locais menos ruidosos. As aberturas normalmente são
os pontos mais frágeis à penetração do ruído. (Sistema de Controle das Condições Ambientais de
Conforto. Anvisa).
A importância da humanização hospitalar deve ser ressaltada nas instituições, tendo a em vista
cada vez mais o conforto das pessoas que utilizam o espaço, a exigência das pessoas em um
mundo competitivo, a utilização obrigatória de normas técnicas atualizadas e a contratação de
profissionais da área da arquitetura, profissionais capacitados para a melhoria desses espaços.
3.Os espaços de tratamento psiquiátrico
A busca da conquista da saúde enquanto direito, com um novo modelo de assistência às pessoas,
foi, e ainda é articulada por trabalhadores da Saúde Mental, usuários e seus familiares, que
reivindicaram, principalmente a partir dos anos 1980, a garantia dos direitos das pessoas com
sofrimento psíquico, e que, agora amparados pelos princípios e diretrizes do SUS, de
universalidade, integralidade, igualdade, equidade, descentralização e participação da
comunidade, têm mais argumentos legais para enfrentar este desafio (Coga&Vizzotto, 1997).
Acerca dos obstáculos ao processo de desinstitucionalização da loucura, destacase o risco da redução da reforma a ações de desospitalização. Autores como
Dimenstein e Amorim (2009); Amarante (2003); Antunes e Queiroz (2007),
Rotelli (2001), entre outros trabalham com a possibilidade de que tal redução se
resumiria à saída dos usuários dos hospitais psiquiátricos, sem a real
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desmontagem desses. Nesse caso, não se trata apenas do deslocamento da
atenção em saúde mental para serviços substitutivos territoriais integrados à rede
de saúde mais ampla, mas sim o desmantelamento completo de uma cultura
manicomial, que institucionaliza a loucura, esteja esta dentro ou fora do
hospital.(RODRIGUES, 2010).
Segundo Rotelli (2001), para que ocorra a desinstitucionalização, é necessária a desmontagem da
cultura e da estrutura psiquiátrica que separou a doença da existência do sujeito, dando maior
ênfase ao diagnóstico e ao sintoma, do que a sua experiência concreta e as relações que
estabelece no corpo social. Ele afirma que o primeiro passo para a desmontagem desta lógica de
exclusão é a renuncia à perseguição da cura, tendo como objeto da atenção a sua existênciasofrimento em suas possibilidades de vivenciar novos papéis sociais, novas oportunidades e
possibilidades.
No texto de Acioly (2009), fala que ao longo do século XX, o hospital psiquiátrico ocupa a
dimensão de espaço de tratamento aos socialmente reconhecidos como loucos. Nesse sentido,
não representa exatamente o resultado de avançoscientíficos nos modos de “lidar” com o
fenômeno loucura ou com a questão da “doença mental”. Do ponto de vista histórico,
essencialmente, o hospital psiquiátrico oferece respostas a determinadas demandas sociais,
institucionaliza necessidades da sociedade.
A suposta finalidade terapêutica seria aquela que se apresenta como a mais explicita dessas
demandas sociais em relação ao hospital psiquiátrico, objetivando a supressão do que é estranho
no sujeito, isto é, a supressão do conflito como forma de tratamento. Acerca desta questão,
GOFFMAN (2001), em Manicômios, prisões e conventos, ao apresentar a noção de instituições
totais, destaca que estas se configuram como estufas para mudar pessoas, o que se relaciona à
noção de “tratamento” com base na extinção do conflito.
A mudança de estratégia do tratamento de doenças mentais exige que seja criada uma rede de
cuidados, objetivando o tratamento e a reinserção deste paciente no âmbito social. A articulação
dos diversos serviços com os múltiplos espaços da cidade, que substituem o espaço manicomial é
de suma importância para o sucesso da emancipação dos doentes mentais. (GONZATTI, 2010).
A palavra "manicômio" deriva do grego: "manía" significa loucura e "komêin" quer dizer curar.
Portanto, a partir do seu significado, se infere que o manicômio seja um instituto destinado ao
tratamento das pessoas com transtornos mentais. O termo se refere aos dois tipos de hospital
psiquiátrico, a instituição destinada à "cura" de tais pessoas.
No Brasil a rede de atendimento aos pacientes com transtornos metais na rede publica são
chamados de CAPS, espaços destinados a acolherer pacientes e familiares. Esses espaços
buscam a integração dos pacientes com a ambiente social, esses espaços fazem parte da principal
estratégia da reforma psiquiátrica no Brasil.Também existem os espaços de atendimento
particular, clínicas especializadas em tratamento de pessoas com algum distúrbiopsicológico,
espaços melhores adaptados para permanência prolongada dos paciente.
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Pode ser temerário afirmar que a era asilar tenha sido suplantada no Brasil,
considerando que, em muitos casos, o internamento psiquiátrico como ato de
exclusão e isolamento ainda persiste em muitas localidades. O que se pode
afirmar é que a assistência à saúde mental no Brasil apresenta uma clara
tendência para a perda de hegemonia institucional do hospital psiquiátrico e
aponta para uma nova convergência no modelo assistencial. Mas, o fato de um
serviço ser externo não garante sua natureza não-manicomial e sua qualidade.
Uma das críticas mais contundentes da Reforma Psiquiátrica diz respeito à
identificação de certo processo de “reinstitucionalização” nas políticas de saúde
mental, que é demonstrado pela configuração de uma “CAPScização” do modelo
assistencial, na forma como os CAPS são colocados como “centro do sistema”
(AMARANTE e TORRE, 2010, p. 130).
A rede do CAPSatuam como espaços de cuidado intermediário entre o regime ambulatorial e a
internação hospitalar. Esses espaços oferecem atendimento diário às pessoas com algum
transtorno mental, realizando acompanhamento clínico e a reinserção social através do acesso ao
lazer e trabalho.
Os CAPS podem ser de tipo I, II, III, Álcool e Drogas (CAPS AD) e Infanto- Juvenil (CAPSi), e
são implantados conforme os parâmetros populacionais, mas levando em consideração as
necessidades locais.
CAPS I - serviços para municípios de pequeno porte, disponibiliza rede básica de assistência à
saúde mental para todos os públicos; CAPS II – serviços para municípios de médio porte,
disponibiliza rede básica de assistência à saúde mental juntamente com o CAPs I para o público
adulto, atendendo somente durante o dia;
CAPS – serviços para municípios de médio porte, disponibiliza serviços assistenciais para o
público infantil e adolescente, funcionam no turno diurno; CAPSad – serviços para municípios
de médio porte, disponibiliza serviços assistenciais para pessoas com problemas causados pelo
álcool e drogas, funcionam durante o dia.
CAPS III – serviços para municípios de grande porte, disponibiliza serviços assistenciais 24h,
atendendo o público adulto. Obrigatoriamente todas as unidades devem ser compostas por
equipes multiprofissionais, com psiquiatra, enfermeiro, psicólogo e assistente social, entre
outros.
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Rede de atenção à saúde mental
Disponível
em:http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/SM_Sus.pdf
Os CAPS devem contar com espaçopróprio e adequadamente preparado para atender à
suademanda especifica, sendo capazes de oferecer um ambiente adequado e estruturado.
Deverão contar, no mínimo, com os seguintes recursos físicos:







consultórios para atividades individuais (consultas, entrevistas, terapias);
salas para atividades grupais;
espaço de convivência;
oficinas;
refeitório (o CAPS deve ter capacidade para oferecer refeições de acordo com o
tempo de permanência de cada paciente na unidade);
sanitários;
área externa para oficinas, recreação e esportes.
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Embora os primeiros CAPS tenham surgido no país em meados da década de 1980, só a partir de
2002 passaram a receber uma linha específica de financiamento do Ministério da Saúde, quando
se observa uma grande expansão desses serviços. Com o cadastramento de 122 novos CAPS em
2011, entre eles cinco CAPSad 24h, a cobertura nacional em saúde mental chegou a 72%, com
1.742 CAPS em funcionamento (BRASIL, 2012). Apesar do crescimento numérico
extraordinário dessas unidades de serviço, esses números ainda estão aquém do parâmetro
estabelecido pelo Ministério da Saúde, que é de um CAPS para cada 100.000 habitantes. Além
disso, a distribuição espacial desses serviços no território nacional também é bastante desigual
(BRASIL, 2010). Embora o perfil populacional seja um dos principais critérios para o
planejamento da rede de atenção à saúde mental nas cidades, esse é apenas um critério orientador
para o planejamento das ações.
3. A saúde mental
A questão da saúde mental pode ser compreendida a partir da formação socioeconômica e
cultural da cada sociedade, considerando-se sua dinâmica processual em determinados
momentos históricos. O binômio saúde/doença tem que ser entendido a partir de um contexto no
qual qualidade e modo de vida são determinantes. A doença mental tem muitos fatores, sua
etiologia é biológica, psicológica, social e de outros fatores desconhecidos que participam de sua
formação (GÓES,2010).
Kaplan (1998, p.12) define os transtornos mentais como:
Psicóticos: perda do teste de realidade com delírios e alucinações;
Neuróticos: sem perda do teste da realidade, baseados principalmente em conflitos intrapsíquicos
ou acontecimentos vitais ansiogênicos; aparecem como um sintoma, na forma de uma obsessão,
fobia ou compulsão;
Funcionais: ausência de um dano estrutural ou fator etiológico claro que explique o
comprometimento;
Orgânicos: doença causada por um agente especifico que causa uma alteração estrutural no
cérebro, geralmente associados com o comprometimento cognitivo.
Para se tornar mais fácil o diagnóstico, o tratamento e o reconhecimento desses transtornos, foi
criada a Classificação Internacional de Doenças (CID) pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) afim de promover a comparação internacional das doenças. Desde 1992 o CID encontrase em sua décima revisão, que classifica os transtornos mentais da seguinte forma:
- Transtornos mentais orgânicos inclusive os sintomáticos.
– Transtornos mentais e comportamentais devido a uso de substancias psicoativas.
– Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes.
– Transtornos de humor (afetivos)
– Transtornos neuróticos, transtornos relacionados aos stress e transtornos somatoformes.
– Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e fatores físicos.
– Distorções da personalidade e do comportamento adulto.
– Retardo mental.
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– Transtornos do desenvolvimento psicológico.
– Transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente
durante a infância ou a adolescência.
– Transtorno mental nãoespecificado.
O transtorno mental vem crescendo nessas últimas décadas, ela atinge de 6 a 16 % do sexo
masculino e de 2 a 9% do sexo feminino, esse risco é maior no meio urbano que na zona rural.
Essas pessoas não são doentes mentais, mas se não forem vigiadas podem cair em estado
delirante, não são portadores da doença “construída” mas precisam de um apoio que os permita
inserir-se no meio social e na realidade, quando são jovens são rejeitados na escola, ajudando-os
a fechar-se no mundo deles criando um isolamento. A população de portadores de transtornos
mentais desenvolvem-se notavelmente por diversos fatores sociais.
PESSINI 2006, diz que é a dimensão do sofrimento, que pode ter múltiplos fatores causais num
capítulo de alta complexidade na área da saúde mental. Entre inúmeras situações críticas que
podem desencadear sofrimento psíquico, lembramos o enfrentamento da própria morte. Brotam
sentimentos caracterizados por mudanças de humor, sentimento de perda do controle sobre o
processo de morrer, perda de esperanças e sonhos ou necessidade de redefinir-se perante o
mundo.
A população que sofre de algum transtorno mental é reconhecida como uma das mais excluídas
socialmente. Essas pessoas apresentam redes sociais menores do que a média das outras pessoas.
Para Fernandes e Moura (2009) a segregação não é apenas fisicamente, permeia o corpo social
numa espécie de barreira invisível que impede a quebra de velhos paradigmas.
Vários estudos demonstram que a pessoa que sofre de transtorno mental severo e persistente,
quando inserido em redes fortes de troca e suporte apresentam maior probabilidade de êxitos
positivos no tratamento (MANGUIA e MURAMOTO, 2007).
Instalado forçosamente na periferia do espaço social, nos confins do espaço urbano, nos limites
da cidade e da razão, o louco como um não sujeito e como um quase sujeito seria ativamente
convertido em sujeito da razão e da vontade, mediante as técnicas de sociabilidade asilar
impostas pelo tratamento moral (BIRMAN, 1992, p. 75).
Acioly fala em seu texto que as formas atuais de tratamentos psiquiátricos visam que o paciente
seja razoável e sociável. Os discursos terapêuticos tem uma perspectiva de restaurar ou preencher
uma certa lacuna, tornando o paciente um cidadão moderno.
Na busca de promover a convivência do paciente, o tratar ele inclui uma perspectiva de adequar
suas ações e seu comportamento para que seja aceito na sociedade. Nesse sentido a autora
concorda com COSTA (2003) de que os serviços de atenção em saúde mental que visam
substituir o hospital psiquiátrico, tais como os CAPS, devem ter a capacidade de se relacionar
com a experiência da loucura em suas diferentes formas de expressão sem a intenção de moldála, discipliná-la.
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Ainda segundo ela énecessário que esses serviços possam ir além da aplicação de psicofarmacos
e terapias, enfim, fomentar - e, algumas vezes, viabilizar - o diálogo entre a chamada loucura e a
cidade. De acordo com COSTA (2003), a arte pode ser um meio para isso, não no sentido de
possibilitar interpretações da loucura, mas da convivência entre os ditos não-loucos e os
chamados loucos.
A exclusão social dos portadores de transtorno mental fomenta e perpetua o dualismo
segregacionista entre “normais” e “anormais”, limitando ou mesmo aniqui- lando a subjetividade
e o individualismo daqueles cidadãos que nãosão produtivos ou nãosãohomogêneos diante da
sociedade estruturada no sistema neoliberal.
Essa legalização da exclusão, edificada durante séculos nas políticaspúblicas de saúde no tocante
a minorias, perdeu espaço depois da reforma psiquiátrica e de outros movimentos como a luta
antimanicomial.
5.Conclusão
O estudo feito sobre a humanização hospitalar conclui-se que para um bom resultado em
atendimento aos pacientes, assim como ambiente de trabalho hospitalar, deve-se estar atendo a
algumas normas, devemos como profissional ter o cuidado de atender esse público conforme a
necessidade de cada um, tornando os espaços mais agradáveis possíveis. Espaços humanizados
pensados por profissionais da arquitetura podem fazer a diferença no tratamento de pessoas
dentro de hospitais. Estudos mostram que através de algumas ações pode-se obter uma cura mais
rápida de pacientes, essas ações podem ser feitas em conjunto com profissionais e instituições,
que preocupam-se com a qualidade do atendimento. A conscientização das instituições de que a
humanização deve ser levada a sério e que os benefícios para saúde dos pacientes é o primeiro
passo para que tenhamos melhores espaços de atendimento que contribuam efetivamente para a
melhora no tratamento e recuperação de pacientes.
Ao examinar os espaços destinados a saúde mental no Brasil nota-se que vem se modificando
com a reforma psiquiátrica, espaços que poderiam ser melhores para um atendimento de
qualidade estão divididos conforme a necessidade. Não se veem espaços humanizados conforme
deveriam ser para que déssemos mais atenção para essas pessoas.A reforma psiquiátrica vem
trazendo novas ideias para o atendimento de pessoas com algum transtorno mental, propondo
novos modos de atenção a esses pacientes, acompanhando novas tendências mundiais para
alguns tipos de tratamentos psiquiátricos. A forma de como são tratadas essas pessoas e o local
destinados a esses tratamentos estão se adaptando a evolução do mundo moderno.
A população mundial com algum tipo de transtorno psicológico vem crescendo, doenças mentais
ou algum tipo de transtorno que necessitam de tratamentos especiais estão mais comuns.
Refletindo a forma de vida atual do ser humano, a relação dos pessoas e a forma de como vive a
nossa sociedade. Pessoas com algum tipo de transtorno mental devem ser tratadas
adequadamente por profissionais capacitados e em locais específicos para isso, pois requerem
cuidados maiores e não devem ser esquecidas pelasfamílias e amigos, para poderem se recuperar
da melhor forma para que não sejam vistos como um problema para a nossa sociedade.
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Referências
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loucura?Seminário Nacional Sociologia e Política UFPR 2009
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência a Saúde. Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar. Brasília.
BRASIL, Ministério da Saúde. Manual do Programa Nacional de Humanização da
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