PARTE 1 Conceitos gerais 1 As principais psicoterapias: fundamentos teóricos, técnicas, indicações e contra-indicações Aristides Volpato Cordioli O presente capítulo apresenta um breve panorama das psicoterapias na atualidade, incluindo a origem, a evolução, o conceito e os elementos que caracterizam esse importante método de tratamento dos problemas emocionais e dos transtornos mentais. Serão descritos os principais modelos, seus fundamentos teóricos e técnicas, bem como suas indicações e contra-indicações. Originalmente chamada de cura pela fala, a psicoterapia tem suas origens na medicina antiga, na religião, na cura pela fé e no hipnotismo. Foi, entretanto, ao final do século XIX que passou a ser utilizada no tratamento das assim denominadas doenças nervosas e mentais, tornando-se uma atividade médica inicialmente restrita aos psiquiatras. No decorrer do século XX, outros profissionais passaram a exercê-la: médicos clínicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros, ultrapassando as fronteiras do “modelo médico”. Houve uma grande proliferação de modelos e métodos apoiados em diferentes concepções sobre os sintomas e o funcionamento mentais, muitas vezes conflitantes e até antagônicas. Escolas surgiram, especialmente no pós-guerra, e sociedades científicas organizaram-se promovendo seus congressos, cursos de formação e estabelecendo regras para a prática do modelo que preconizavam, em uma convivência nem sempre pacífica. Uma babel de linguagens e métodos instalou-se na área, confundindo tanto os profissionais como as pessoas necessitadas de tratamento. Conservaram-se, contudo, na maioria das vezes, os termos relacionados com sua origem médica: paciente, diagnóstico, doença, etiologia, plano de tratamento, prognóstico, indicações e contra-indicações (Wampold, 2001). A proliferação de teorias nem sempre foi acompanhada da correspondente preocupação em comprová-las e em avaliar a efetividade dos métodos propostos, seus alcances e limites. Essa preocupação começou a surgir a partir da década de 1950, em particular, a partir da propo- 20 Cordioli e cols. sição do psicólogo inglês Eysenck de que os efeitos das psicoterapias eram devidos à simples passagem do tempo, e não decorrentes das técnicas utilizadas, o que acabou representando um desafio para os praticantes dos diversos modelos. Na mesma época, Carl Rogers afirmava, ainda, que os efeitos da terapia não eram devidos às técnicas específicas de cada modelo, e sim decorrentes de fatores intrínsecos à relação humana que se estabelecia em qualquer terapia. Esses e outros desafios, além da competição entre os diferentes modelos, representaram um forte estímulo para a realização, a partir da década de 1960, de pesquisas de grande porte, como o Projeto Menninger e outros, com a finalidade de comprovar a efetividade das diferentes modalidades de terapia. De qualquer forma, existe, na atualidade, um relativo consenso de que as terapias são efetivas. Há uma concordância, também, de que boa parte dos seus efeitos devem-se a um conjunto de fatores que envolvem as técnicas específicas utilizadas, próprias de cada modelo, e, ainda, um complexo conjunto de elementos que inclui, além das referidas técnicas, os chamados fatores não específicos, comuns a todas as psicoterapias. Tais fatores abrangem o próprio contexto interpessoal da terapia: a pessoa do terapeuta e, em particular, algumas qualidades, como empatia, calor humano e interesse genuíno; a qualidade da relação terapêutica (a aliança terapêutica e o vínculo); além de fatores pessoais do próprio paciente, como a capacidade de vincular-se ao terapeuta, seu nível educacional, sua cultura, suas crenças, suas expectativas, sua motivação para efetuar mudanças em sua vida, e a maior ou menor flexibilidade para adaptar-se a cada método específico. Parece complexo e, de fato, é. O quanto cada um desses fatores influencia os resultados é uma questão que gera muito debate. E, apesar das inúmeras tentativas de explicar o que leva o paciente a realizar mudanças em psicoterapia, e qual a verdadeira natureza dessas mudanças, ainda são grandes as controvérsias sobre essas questões. De qualquer forma, os avanços foram notáveis. Novos modelos e técnicas têm sido propostos; muitos deles com protocolos (manuais), permitindo a padronização e, conseqüentemente, a reprodução das pesquisas. Instrumentos mais acurados foram desenvolvidos tanto para o estabelecimento do diagnóstico como para a avaliação da gravidade dos sintomas e a aferição dos resultados. Por outro lado, a maior especificidade e confiabilidade dos diagnósticos psiquiátricos permitiram reunir amostras mais homogêneas de pacientes, diminuindo a quantidade de fatores que podem influenciar os resultados e criando um cenário promissor para testar a efetividade de diferentes protocolos de psicoterapia, procurando responder à pergunta: qual o melhor método de tratamento para cada paciente? Esses avanços permitiram ainda a comparação da eficácia relativa entre as diferentes psicoterapias e em relação aos psicofármacos. Como conseqüência, temos métodos mais padronizados e um panorama bem mais definido da eficácia, dos alcances e dos limites das diversas modalidades de psicoterapia. Na atualidade, existem mais de 250 modalidades distintas de psicoterapias, descritas de uma ou de outra forma em mais de 10 mil livros e em milhares de artigos científicos relatando pesquisas realizadas com a finalidade de compreender a natureza do processo psicoterápico e os mecanismos de mudança e de comprovar a sua efetividade, especificando em que condições devem ser usados e para quais pacientes. Apesar de todo esse esforço, evidências convergentes são escassas. A controvérsia ainda é grande, e o reconhecimento da psicoterapia como ciência é tênue (Wampold, 2001). Como é um campo pertencente a várias profissões, inexiste qualquer tipo de fiscalização oficial ou de exigência mínima para quem a pratica. Psicoterapia O que é a psicoterapia: um conceito Existe uma grande controvérsia sobre até que ponto a psicoterapia se distingue de outras relações humanas, nas quais uma pessoa ajuda Psicoterapias outra a resolver problemas pessoais. Apesar disso, há um consenso de que a psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um profissional treinado, valendo-se de meios psicológicos, especialmente a comunicação verbal e a relação terapêutica, realiza, deliberadamente, uma variedade de intervenções, com o intuito de influenciar um cliente ou paciente, auxiliando-o a modificar problemas de natureza emocional, cognitiva e comportamental, já que ele o procurou com essa finalidade (Strupp, 1978). O termo “paciente” está relacionado ao modelo médico e é o mais utilizado, particularmente em serviços de saúde. Levando-se em conta essas características, poderíamos dizer que a psicoterapia é um tratamento primariamente interpessoal, baseado em princípios psicológicos, que envolve um profissional treinado e um paciente ou cliente portador de transtorno mental, problema ou queixa, o qual solicita ajuda. O tratamento é planejado pelo terapeuta com o objetivo de modificar o transtorno, problema ou queixa e é adaptado a cada paciente ou cliente em particular (Wampold, 2001). A psicoterapia envolve, portanto, uma interação face a face. Outras formas de ajuda, como a biblioterapia, a exposição virtual, o uso de computador, a conversa de amigos ou o aconselhamento por telefone ou virtual, quando utilizadas fora de um contexto interpessoal e de uma relação profissional, não são consideradas psicoterapia no sentido estrito. Métodos baseados em crenças religiosas (cura pela fé, rituais mágicos, etc.) também são excluídos, mesmo que provoquem alívio de sintomas. Na verdade, a psicoterapia distingue-se de outras modalidades de tratamento por ser muito mais uma atividade colaborativa entre o paciente e o terapeuta do que uma ação predominantemente unilateral, exercida por alguém sobre outra pessoa, como ocorre com outros tratamentos médicos (p. ex., cirurgia). CARACTERÍSTICAS DA PSICOTERAPIA • É um método de tratamento realizado por um profissional treinado, com o objetivo de reduzir ou remover um problema, queixa ou • • • • 21 transtorno definido de um paciente ou cliente que deliberadamente busca ajuda O terapeuta utiliza meios psicológicos como forma de influenciar o cliente ou paciente É realizada em um contexto primariamente interpessoal (a relação terapêutica) Utiliza a comunicação verbal como principal recurso É uma atividade eminentemente colaborativa entre paciente e terapeuta As psicoterapias distinguem-se quanto aos seus objetivos e fundamentos teóricos, bem como quanto à freqüência das sessões, ao tempo de duração, ao treinamento exigido dos terapeutas e às condições pessoais que cada método exige de seus eventuais candidatos. O termo abrange desde as psicoterapias breves de apoio ou intervenções em crise, destinadas a auxiliar o paciente a superar dificuldades momentâneas, até formas mais complexas, como a psicanálise ou a terapia de orientação analítica, que se propõem a modificar aspectos mais ou menos amplos da personalidade. Embora todas utilizem a comunicação verbal no contexto de uma relação interpessoal, os diferentes modelos divergem quanto ao racional ou quanto à explicação que oferecem para as mudanças que almejam obter com seus pacientes. Para as terapias psicodinâmicas, o insight é considerado o principal ingrediente terapêutico; para as terapias comportamentais, são as novas aprendizagens; para as terapias cognitivas, é a correção de pensamentos ou as crenças disfuncionais; para as terapias familiares, é a mudança de fatores ambientais ou sistêmicos; e, para as terapias de grupo, é o uso de fatores grupais, para mencionar alguns exemplos. Elementos comuns às psicoterapias Embora exista toda essa pluralidade de modelos e concepções, as psicoterapias têm alguns elementos em comum. De acordo com Jerome Frank (1973), três componentes seriam comuns a todas as psicoterapias. 22 Cordioli e cols. ELEMENTOS COMUNS A TODAS AS PSICOTERAPIAS • A psicoterapia ocorre no contexto de uma relação de confiança emocionalmente carregada em relação ao terapeuta • A psicoterapia ocorre em um contexto terapêutico, no qual o paciente acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que esse objetivo será alcançado • Existe um racional, um esquema conceitual ou um mito que provê uma explicação plausível para o desconforto (sintoma ou problema) e um procedimento ou um ritual para ajudar o paciente a resolvê-lo (Frank, 1973) O que é um modelo de psicoterapia consolidado? Apesar das grandes dificuldades e da confusão preponderante, alguns modelos de terapia vêm se consolidando, inicialmente, através da prática clínica e, mais recentemente, pela comprovação de sua efetividade mediante a realização de pesquisas empíricas bem conduzidas. CRITÉRIOS PARA QUE UM MODELO PSICOTERÁPICO SEJA CONSIDERADO CONSOLIDADO • Deve estar embasado em uma teoria abrangente, que ofereça uma explicação coerente (um racional) sobre a origem, a manutenção dos sintomas e a forma de eliminá-los • Os objetivos a que se propõe modificar devem ser claramente especificados • Devem existir evidências empíricas da efetividade da técnica proposta • Deve haver comprovação de que as mudanças observadas são decorrentes das técnicas utilizadas e não de outros fatores • Os resultados devem ser mantidos a longo prazo • Deve apresentar uma relação custo/efetividade favorável na comparação com outros modelos ou alternativas de tratamento (Marks, 2002; Wright; Beck; Thase, 2003) As psicoterapias são efetivas? A terapia é eficaz e custo-efetiva (CritsChristoph, 1992; Wampold, 2001; Lambert; Archer, 2006). Smith e Glass (1977), em uma das primeiras utilizações da metanálise como recurso estatístico para aumentar o tamanho da amostra, agruparam os dados de 375 estudos, publicados e não-publicados, e encontraram um tamanho de efeito de 0,68. Em uma segunda metanálise, na qual foram incluídos 475 estudos, Smith, Glass e Miller (1980) encontraram um tamanho de efeito de 0,85. No tratamento psicoterápico dos transtornos de personalidade, uma outra metanálise que incluiu 15 estudos, dentre os quais três eram randomizados, encontrou tamanhos de efeito que variaram de 1,11 a 1,29, calculando que a melhora obtida com a psicoterapia era sete vezes maior do que a obtida com a evolução natural da doença, na ausência de tratamento (Perry; Banon; Ianni, 1999). Wampold (2001) afirma que as várias revisões de metanálises encontraram tamanhos de efeito que, na maioria das vezes, variaram entre 0,75 e 0,85, e que uma média razoável do tamanho do efeito das psicoterapias seria de 0,80. Portanto, a afirmativa de Eysenck de que os efeitos da psicoterapia não seriam maiores do que os obtidos com a simples passagem do tempo não se sustenta. Em mais de um século de existência, a psicoterapia vem conquistando cada vez mais a credibilidade da população em geral, dos pacientes e dos profissionais em particular. A psicoterapia como arte Como atividade humana, a psicoterapia é também uma arte, na medida em que depende das características pessoais do terapeuta, das habilidades adquiridas em prolongados treinamentos e supervisões e do tipo de par paciente-terapeuta que se estabelece em cada psicoterapia. Além do conhecimento do instrumental próprio de cada modelo de terapia, o bom senso e o timming são essenciais para o uso otimizado de tais recursos. Utilizá-los é uma arte. Psicoterapias A seguir, são descritos os fundamentos teóricos, as técnicas, as indicações e as contra-indicações das psicoterapias mais comuns. Psicoterapias baseadas na teoria psicanalítica: psicanálise, psicoterapia de orientação analítica e psicoterapias de apoio Várias modalidades de psicoterapia fundamentam-se na teoria psicanalítica: a psicanálise, a psicoterapia de orientação analítica, a psicoterapia de apoio, a psicoterapia breve dinâmica, além da terapia de grupo e de algumas formas de terapia familiar. A psicoterapia psicodinâmica é freqüentemente referida como psicoterapia expressiva-suportiva, dependendo de cada situação específica ou de cada paciente. É mais exploratória e expressiva quando seu objetivo preferencial é a análise das defesas, da transferência e a obtenção de insight sobre conflitos inconscientes; é mais suportiva (de apoio) quando se propõe a fortalecer as defesas e a suprimir os conflitos inconscientes. Em um extremo expressivo, situa-se a psicanálise, e, no extremo oposto (suportivo), a terapia de apoio, embora ambas tenham por base a mesma teoria do desenvolvimento da personalidade e da formação dos sintomas. Psicanálise e psicoterapia de orientação analítica Fundamentos teóricos O termo “psicanálise”, literalmente, significa dividir a mente em seus elementos constitutivos e nos seus processos dinâmicos. Na prática, ele é utilizado com, pelo menos, três significados diferentes: • Um conjunto de teorias psicológicas sobre o funcionamento mental, sobre a formação da personalidade e de aspectos • • 23 do caráter, tanto aqueles considerados normais como os psicopatológicos (sexualidade infantil, inconsciente dinâmico, conflito psíquico, mecanismos de defesa e formação dos sintomas são alguns dos conceitos-chave); Um método ou procedimento de investigação dos conteúdos mentais, especialmente os inconscientes (livre associação, análise dos sonhos, análise da transferência); Um método psicoterápico que se propõe a efetuar modificações no caráter (ou em aspectos focais do caráter) por meio da obtenção de insight mediante a análise sistemática das defesas, na chamada neurose de transferência. A psicanálise teve seu início nas experiências de Breuer e Freud que, ao tratar pacientes com sintomas conversivos por meio de hipnose, observaram o desaparecimento dos sintomas durante o transe hipnótico. Eles propuseram, como hipótese explicativa, que o afastamento de impulsos inaceitáveis da consciência, por meio da repressão, era o responsável pelo seu caráter patogênico, e o fato de trazê-los à consciência fazia com que perdessem tal característica e desaparecessem. Freud desenvolveu outras formas de acessar os conteúdos mentais inconscientes: a livre associação, também chamada de regra fundamental da psicanálise, a interpretação dos sonhos e a análise da transferência, até hoje utilizadas para tal fim. No campo teórico, as idéias iniciais de Freud tiveram inúmeros desdobramentos, destacando-se a chamada psicologia do ego, liderada por Anna Freud; a teoria das relações de objeto, liderada por Melanie Klein; a psicologia do self, desenvolvida por Heins Kohut; a teoria do apego, de Bowlby e Bion; o processo de separação e individuação, de Margareth Mahler, entre outras (Gabbard, 2005). De acordo com a psicologia do ego, o mundo intrapsíquico é caracterizado por conflitos entre três instâncias: o ego, o id e o superego. O conflito se manifesta pela ansiedade que, por sua vez, mobiliza os mecanismos de defesa do ego. Os sintomas representam soluções de compromisso entre a expressão plena dos impulsos 24 Cordioli e cols. (ou sentimentos) e sua repressão ou manejo pelos mecanismos de defesa e moldam o caráter da pessoa. A análise das defesas que surgem como resistência ao tratamento é o foco da psicoterapia à luz da psicologia do ego (Gabbard, 2005). A teoria das relações de objeto parte do princípio de que as relações são internalizadas muito precocemente, a partir dos primeiros meses de vida, e envolvem as representações do self, do objeto e dos afetos que ligam essas representações. Dissociação e projeção são os mecanismos de defesa mais utilizados nessa fase primitiva do desenvolvimento (Gabbard, 2005). Para Kohut (psicologia do self), os pacientes narcisistas, em vez de conflitos, teriam déficits de uma relação empática com a mãe, o que os deixaria muito vulneráveis em questões de autoestima. Em sua formação, o self começaria sob a forma de núcleos fragmentados que adquiririam coesão como conseqüência de respostas empáticas dos pais (Gabbard, 2005). Além desses, outros teóricos fizeram importantes contribuições para a teoria psicanalítica, como Bion, Winnicott, Margaret Mahler, entre outros. Dependendo da orientação teórica à qual é afiliado o analista, pode ser dada uma ênfase maior ou menor a cada um desses enfoques. A técnica da psicanálise Na psicanálise, o analista adota uma atitude neutra, sentando-se às costas do paciente, não havendo, portanto, um contato visual direto. O paciente é orientado a expressar livremente e sem censura seus pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos, imagens, assim como as associações que lhe ocorrem, sem prejulgar sua relevância ou significado (regra fundamental da livre associação). O terapeuta senta atrás do divã, mantendo uma atitude de curiosidade e de ouvinte atento. De tempos em tempos, interrompe as associações do paciente, fazendoo observar determinadas conexões entre fatos de sua vida mental (interpretação), particularmente emoções ou fantasias relacionadas com a pessoa do terapeuta (transferência), que passam despercebidas, e refletir sobre o seu significado subjacente (inconsciente). Em virtude da neutralidade, da repetição freqüente das sessões e do divã, se estabelece uma regressão e uma relação transferencial por parte do paciente, que passa a deslocar para a pessoa do terapeuta pensamentos e sentimentos voltados, originariamente, para pessoas importantes do seu passado, repetindo padrões primitivos de relacionamento. Dessa forma, o passado se torna presente, na chamada neurose de transferência. Por intermédio das interpretações, centradas na análise e na resolução da referida neurose transferencial, o paciente poderá obter insight sobre tais padrões primitivos e desadaptados de relações interpessoais, compreender a origem de traços patológicos de seu caráter, reviver emoções perturbadoras associadas a figuras do passado (pai, mãe, irmãos), modificá-las e livrar-se dos sintomas. Um princípio básico da psicanálise é a elaboração. A interpretação repetitiva, a observação, a confrontação e a verbalização permitirão ao paciente elaborar seus conflitos, isto é, adquirir domínio sobre conflitos internos e sobre emoções avassaladoras a eles associadas. O terapeuta é neutro na medida em que evita fazer julgamentos sobre os pensamentos, desejos e sentimentos do paciente, procurando compreendê-los. É abstinente na medida em que evita gratificar os desejos transferenciais do paciente, de que se comporte como pessoas do seu passado. Não revela detalhes de sua vida pessoal ou de sua família. A proposição tradicional de que o terapeuta deveria ser uma tela em branco evolui para a proposição atual, segundo a qual ele deve ser natural e espontâneo, facilitando a relação terapêutica, e não frio, distante e silencioso (Gabbard, 2005; Person; Cooper; Gabbard, 2007). A psicanálise utiliza habitualmente quatro sessões por semana, podendo variar para três ou até cinco sessões semanais, que duram de 45 a 50 minutos. As sessões ocorrem sempre em horários preestabelecidos, podendo o tratamento durar vários anos. Psicoterapias A técnica da psicoterapia de orientação analítica Na terapia de orientação analítica, as associações não são tão livres como na psicanálise, pois habitualmente são dirigidas pelo terapeuta para questões-chave da terapia, a qual, a princípio, busca intervir em áreas circunscritas ou problemas delimitados. Dentro da área selecionada (foco), o paciente é estimulado a explorar seus sentimentos, suas idéias e suas atitudes por meio de suas relações com figuras importantes de sua vida atual, do seu passado, e com o próprio terapeuta, com vistas ao insight. São interpretadas as defesas, mas as interpretações transferenciais são menos freqüentes. É feito um uso maior de esclarecimento, sugestão e, até mesmo, de técnicas comportamentais (sugestão e reforços), do que na psicanálise. Sem a utilização do divã, com o uso menor da associação livre e com sessões menos freqüentes, a regressão é menor, e a transferência não se desenvolve com a mesma intensidade, primitivismo e rapidez que a psicanálise (Ursano; Silberman, 2003; Person; Cooper; Gabbard, 2007). A psicoterapia de orientação analítica utiliza de uma a três sessões semanais, com o paciente sentando-se em uma poltrona de frente para o terapeuta, podendo o tratamento durar vários meses ou até anos. Como ocorrem as mudanças na psicoterapia psicodinâmica? As terapias psicodinâmicas buscam a mudança essencialmente por meio do insight e da relação terapêutica. O insight é obtido em conseqüência das interpretações, tornando conscientes impulsos, sentimentos, medos, fantasias e desejos, especialmente quando se manifestam na relação transferencial. Além do insight, algumas mudanças podem ser consideradas conseqüência da própria relação terapêutica. Em um tratamento prolongado como a psicanálise, com vários encontros semanais, é inevitável que o paciente internalize, na relação com o terapeuta, aspectos reais de 25 sua pessoa, especialmente os aspectos idealizados e com os quais se identifica, e, como conseqüência, sejam modificadas representações (de objeto e do self) das figuras parentais internalizadas na infância. Um outro efeito do tratamento é o aumento da capacidade de refletir sobre si mesmo, de identificar sentimentos ligados a pessoas do passado e deslocados para pessoas da vida presente, adquirida com a ajuda do terapeuta (internalização de uma capacidade do terapeuta), permitindo distinguir melhor os fatos do seu mundo interno, as interpretações desses fatos e a realidade externa. É inevitável que, em uma relação prolongada, atitudes como dar atenção a certos temas e demonstrar satisfação em razão de progressos obtidos acabem funcionando como reforçadores, assim como a correção de pensamentos e de crenças distorcidas em razão do uso de confrontações e de clarificações. É inevitável, portanto, a utilização de estratégias, mesmo que de forma não deliberada, que na verdade são típicas de outros modelos de terapia. Objetivos e indicações das terapias psicodinâmicas As terapias psicodinâmicas destinam-se ao tratamento de problemas de natureza crônica, cuja origem situa-se em dificuldades ocorridas na infância, em especial nas relações com os pais. Podem ser úteis, em princípio, para pessoas com traços ou transtornos da personalidade que causam prejuízo a suas relações interpessoais, familiares ou profissionais, ou para tratar problemas caracterológicos mais graves ou com atrasos em tarefas evolutivas, como, por exemplo, aquisição e consolidação de identidade própria, independência e autonomia. Seus objetivos, portanto, são a reorganização da estrutura do caráter ou a modificação de traços de personalidade desadaptativos em pacientes com transtornos leves ou moderados da personalidade. Pacientes mais ambiciosos, com uma boa motivação para efetuar mudanças mais profun- 26 Cordioli e cols. das e mais amplas, com interesse e boa capacidade para um trabalho introspectivo e para pensar psicologicamente, além de disposição de tempo, de recursos financeiros e um ego razoavelmente preservado, são candidatos à psicanálise. Se o desejo é tratar problemas mais focais, resolver conflitos delimitados ou circunstanciais, ou se o paciente tem problemas mais graves, e, mesmo assim, mantém uma boa capacidade para trabalhar introspectivamente, ou, ainda, se não existe motivação para efetuar mudanças mais profundas e não há disponibilidade de tempo e de recursos financeiros necessários, a opção pode ser uma terapia de orientação analítica ou, até mesmo, uma psicoterapia breve dinâmica. Esta última modalidade pode ser indicada em situações de crises vitais ou acidentais, transtornos de ajustamento nos quais um foco de natureza psicodinâmica foi facilmente identificado e o paciente apresenta as condições necessárias para um trabalho introspectivo e interpretativo. Independentemente da modalidade de terapia psicodinâmica adotada, o paciente deve atender a alguns pré-requisitos. É indispensável que o paciente: 1. Seja capaz de comunicar-se de forma honesta com o terapeuta, predominantemente por meio de palavras, e não por ações; 2. Experimente conflitos internos; 3. Tenha uma razoável capacidade de introspecção e queira utilizá-la para aumentar a compreensão sobre si mesmo; 4. Consiga experimentar afetos intensos sem externalizá-los na sua conduta; 5. Possa desenvolver um bom vínculo com o terapeuta e uma aliança terapêutica; 6. Seja capaz de, junto com o terapeuta, estabelecer algumas metas como, por exemplo, um melhor controle de impulsos, um melhor controle de condutas destrutivas, etc. (Ursano; Silberman, 2003, p. 1181). Aparentemente, não existem mais contraindicações em razão da idade, embora, em prin- cípio, a psicanálise não seja recomendada para pacientes com mais de 50 anos. Indicações da psicanálise e da psicoterapia de orientação analítica • Traços de personalidade ou problemas caracterológicos desadaptativos • Transtornos leves ou moderados de personalidade • Atrasos ou lacunas em tarefas evolutivas • Conflitos internos, predominantemente de natureza edípica, que interferem nas relações interpessoais atuais As terapias de orientação analítica, em princípio, são contra-indicadas • Quando há ausência de um ego razoavelmente integrado e cooperativo (psicóticos, transtornos graves de personalidade, dependentes químicos, transtornos mentais orgânicos) • Na presença de problemas de natureza aguda, que exigem solução urgente • Em transtornos mentais para os quais existem outros tratamentos efetivos de menor custo (transtornos de ansiedade, transtornos do humor, transtornos alimentares, depressão, etc.) • Para pacientes impulsivos que não toleram níveis, mesmo que pequenos, de frustração, como ocorre com pacientes borderline, altamente narcisistas e centrados em si mesmos ou voluntariosos • Para pacientes com transtornos da personalidade que dificultam o estabelecimento de um vínculo (esquizóides, esquizotípicos, anti-sociais) e que dificilmente se enquadram dentro da estrutura do tratamento analítico • Para pacientes com problemas agudos (psicoses, transtornos do humor e de ansiedade, etc.) • Para pacientes gravemente comprometidos e, portanto, sem condições cognitivas para trabalhar na busca de insight • Para pacientes comprometidos cognitivamente (retardo mental, demência) Psicoterapias • Para pacientes com pouca capacidade para introspecção (alexitimia) ou com pouca sofisticação psicológica • Na ausência de motivação para uma terapia de insight ou de interesse em um trabalho introspectivo Psicoterapias de apoio A expressão “terapia de apoio” refere-se a um tipo de terapia que é menos ambicioso, menos intensivo e menos provocador de ansiedade do que as terapias designadas psicanalíticas, orientadas ao insight, exploratórias ou expressivas. Entretanto, esse tipo de terapia fundamenta-se, também, nas teorias psicanalíticas da personalidade. O apoio, na verdade, é visto como elemento essencial em todas as formas de psicoterapia, as quais diferem-se mais em função do grau do que propriamente da presença ou ausência de técnicas de apoio. Essa modalidade de terapia pode ser melhor entendida se for vista como situada em um dos pólos do continuum suportivo-expressivo que caracteriza as psicoterapias psicodinâmicas, com diferenças relativas no que se refere aos objetivos, às indicações, ao embasamento teórico, às estratégias e às técnicas. OBJETIVOS DAS PSICOTERAPIAS DE APOIO • Redução ou a eliminação dos sintomas • Manutenção ou o restabelecimento do nível de funcionamento anterior a uma crise • Melhora da auto-estima • Melhora da capacidade de lidar com os estresses internos e externos, eventualmente por meio do afastamento das pressões ambientais ou da adoção de medidas que visam ao alívio dos sintomas • Diminuição de déficits de funcionamento do EGO por meio do reforço de defesas consideradas adaptativas • Desenvolvimento de capacidades de lidar com déficits provocados por doenças físicas ou suas seqüelas 27 As psicoterapias de apoio podem ser de longo prazo ou breves, também chamadas de intervenções em crise ou terapias breves de apoio. As terapias de apoio de longo prazo destinamse a pacientes com déficits crônicos de ego, com o funcionamento geral comprometido, enquanto as intervenções breves de apoio destinam-se a pessoas psiquiatricamente saudáveis e bem adaptadas que, momentaneamente, estão atravessando situações de crise, trauma ou desastre natural, e com uma resposta à crise abaixo de sua capacidade, ou que não estão utilizando os recursos de que dispõem. Seus objetivos são o alívio dos sintomas, a manutenção ou a restauração de uma função, o aumento da autoestima e a melhora da adaptação a estresses internos e externos (Ursano; Silberman, 2003). Fundamentação teórica As psicoterapias de apoio fundamentam-se na teoria psicodinâmica do funcionamento mental: nos conceitos de força de ego, nos mecanismos de defesa (adaptativos e não adaptativos), no terapeuta assumindo temporariamente as funções de ego auxiliar e de holding, e nos mecanismos de identificação introjetiva. No caso específico das intervenções em crise, baseiam-se ainda na teoria das crises de Caplan, no princípio epigenético e no conceito de fases e tarefas evolutivas ao longo do ciclo vital, de Erickson. Além do embasamento na teoria psicodinâmica, a terapia de apoio utiliza os princípios da aprendizagem (reforço, aprendizagem social) da teoria comportamental e a correção de crenças e pensamentos disfuncionais, técnicas de solução de problemas da terapia cognitiva. Leva ainda em conta os recursos e as pressões do meio social em que o paciente vive e com o qual interage e a necessidade de mobilizá-los ou afastá-los. A estratégia básica da terapia de apoio é mapear as principais áreas de dificuldade na vida do paciente e melhorá-las da maneira que for possível, em vez de tentar descobrir suas causas, como seria a preocupação da terapia de orientação analítica (Ursano; Silberman, 2003). Central a essa estratégia é ajudar o pa- 28 Cordioli e cols. ciente a fortalecer as defesas adaptativas, diminuir o uso de defesas imaturas ou mal-adaptativas e melhorar o equilíbrio entre impulsos e defesas. Por exemplo, pode ser sugerido o afastamento de situações demasiadamente estressoras ou ser proposto o objetivo de reduzir a autocrítica quando demasiadamente severa ou melhorar o autocontrole sobre impulsos demasiadamente intensos ou destrutivos. O foco é nos pensamentos e sentimentos conscientes – e não no inconsciente, em fortalecer em vez de diminuir as defesas e em conter em vez de mobilizar afetos. O objetivo mais imediato é o alívio dos sintomas e a restauração do nível de funcionamento anterior à crise. A relação com o terapeuta tem uma função fundamental na terapia de apoio. Enquanto na terapia de orientação analítica as interpretações transferenciais são o principal recurso para corrigir as projeções e distorções do paciente, na terapia de apoio o terapeuta exerce uma função de suporte, semelhante ao que ocorre em uma boa relação mãe-filho. Nessas condições, a presença constante, o apoio empático, o interesse autêntico, a ausência de crítica e o vínculo afetivo reduzem a ansiedade e aumentam a auto-estima do paciente, além de permitirem a internalização de aspectos positivos e capacidades do terapeuta por meio de mecanismos introjetivos. Usando sua capacidade de avaliar a realidade, sua capacidade de introspecção, sua percepção mais realista das potencialidades e limites do paciente (tanto atuais como futuros) e sua capacidade de analisar os problemas e visualizar alternativas, temporariamente (e, eventualmente, por longos períodos), o terapeuta assume as funções de um ego auxiliar do paciente. Nesse contexto, ocorrem ainda novas aprendizagens sob a forma de estímulos (reforços) para comportamentos desejáveis ou adaptativos, além da correção de pensamentos e crenças distorcidas ou erradas que o paciente tem sobre si mesmo. É inevitável que, em um convívio de longa duração com uma pessoa estimada e admirada, o paciente se identifique e acabe internalizando muitos aspectos da personalidade do terapeuta ou simplesmente tenda a imitá-lo em outros tantos (aprendizagem social por imitação). Técnica A prática da terapia de apoio pode ser, eventualmente, mais difícil do que a prática da terapia voltada para o insight, pois ela envolve um julgamento criterioso, por parte do terapeuta, das potencialidades e das vulnerabilidades do paciente. Há o risco de o terapeuta subestimar as potencialidades do paciente e manter uma relação de excessiva dependência, impedindo ou retardando o processo de separação/individuação, o funcionamento autônomo e o desenvolvimento de uma identidade própria por parte do paciente. Por outro lado, a superestimação das potencialidades pode expô-lo a riscos de desequilíbrios que podem resultar em regressões ou retrocessos. Como regra, o terapeuta adota uma postura ativa e se apresenta de forma mais real e disponível do que na terapia de orientação analítica: responde questões, faz aconselhamentos, dá sugestões, faz reasseguramentos e educa o paciente. O estilo é mais conversacional, focado nos problemas. São utilizadas diferentes intervenções: psicoeducação, sugestão, clarificação, aconselhamento, técnicas de autocontrole e de resolução de problemas, treino de habilidades, além de técnicas cognitivas e comportamentais como a exposição gradual, os reforços, a correção de pensamentos e crenças disfuncionais, o estabelecimento de limites e o manejo ambiental. O estabelecimento de um bom vínculo e uma boa aliança de trabalho com o terapeuta, juntamente com a manutenção de uma transferência positiva, são elementos cruciais na terapia de apoio. A transferência raramente é interpretada, a não ser que ela implique resistência e dificuldades para o prosseguimento da terapia. Eventualmente, são aceitas manifestações transferenciais que envolvem algum grau de idealização e dependência, sem procurar modificá-las pela interpretação. Não é utilizada a livre associação. A terapia é focal, centrada nos problemas, no relato e na discussão das tarefas programadas para os intervalos das sessões, assim como no exame das eventuais dificuldades do paciente. Os objetivos são o fortalecimento das defesas (adaptativas), e não a sua remoção, e a regulação dos afetos, procurando provocar o mínimo de Psicoterapias regressão. O foco é, portanto, no aqui e agora e nos acontecimentos da vida atual. A freqüência das sessões varia desde sessões mensais e quinzenais até sessões diárias. O tempo de duração do tratamento varia de dias a semanas, podendo, eventualmente, estender-se por muitos anos. É comum o eventual envolvimento de outros membros da família, particularmente no caso de pacientes gravemente comprometidos. Também é muito comum a associação de medicamentos, especialmente em portadores de transtornos psiquiátricos graves (psicoses, transtorno bipolar). Psicoterapias de apoio de longa duração não devem ser propostas para pacientes com boas condições de ego, capazes de se beneficiar com algumas das terapias dinâmicas de insight, mais efetivas, e para os quais uma terapia de apoio implicaria regressões desnecessárias. Indicações da terapia de apoio de longo prazo • Déficits crônicos de ego e com o funcionamento comprometido • Teste de realidade comprometido (psicoses, transtorno bipolar, retardo mental) • Controle dos impulsos deficiente (transtornos de personalidade borderline, problemas cerebrais orgânicos, TDAH) • Relações interpessoais pobres • Dificuldades para experimentar e controlar os afetos (ansiedade, raiva) • Dificuldades para sublimar • Pouca capacidade para introspecção (retardo mental) • Pouca capacidade de verbalizar pensamentos e sentimentos • Problemas físicos crônicos e incapacitantes (Ursano; Silberman, 2003) Indicações das intervenções em crise ou psicoterapias breves de apoio • Pacientes psiquiatricamente saudáveis, bem adaptados, com bom suporte social e com boas relações interpessoais • Pacientes com predomínio de defesas mais maduras e flexíveis, com teste de realidade 29 preservado e com boas expectativas em relação ao futuro • Pacientes capazes de utilizar os recursos de que dispõem • Pacientes momentaneamente atravessando situações de crise, trauma ou desastre natural • Pacientes que, em resposta à crise, funcionam abaixo de sua capacidade Terapia interpessoal A terapia interpessoal (TIP) é uma psicoterapia de tempo limitado desenvolvida por Gerald Klerman e Myrna Weissmann, na década de 1970, para o tratamento da depressão. Esses autores tiveram sua atenção despertada para o fato de que a maioria das depressões ocorria em mulheres e que, além dos fatores de ordem biológica, deveriam interferir os de ordem interpessoal, que complicavam o curso e a recuperação. Suas origens situam-se no enfoque interpessoal e psicossocial de Adolf Meyer e Harry Stack Sullivan, que valorizavam a relação do paciente com o grupo social e com as pessoas mais próximas como determinantes dos problemas mentais, contrastando com o enfoque intrapsíquico e com a valorização de experiências do passado da psicanálise. Fundamenta-se, ainda, na teoria do apego, de John Bowlby (Klerman et al., 1984; Weissman et al., 1994; Weissman; Markovitz; Klerman, 2000; Blanco; Weissman, 2005). Fundamentos teóricos A idéia subjacente à TIP é muito simples: os transtornos psiquiátricos, embora multideterminados em suas causas, sempre surgem em um contexto social ou interpessoal: mudanças em alguma relação interpessoal importante (divórcio, separação, início de um novo relacionamento), mudanças em papéis sociais (novo cargo, casamento, nascimento de um filho), perda de uma pessoa muito próxima por morte (luto), isolamento social. De fato, há evidências muito fortes de que as pessoas ficam deprimi- 30 Cordioli e cols. das quando passam por situações de luto complicado, situações de conflitos interpessoais ou mudanças de vida. Os sintomas podem ocorrer particularmente quando há mudanças de papéis, na ausência de apoio social. Técnica O objetivo da TIP é obter alívio dos sintomas, abordando os problemas interpessoais que possam estar contribuindo para a origem ou manutenção destes. A TIP tenta intervir na influência dos sintomas no ajustamento social e nas relações interpessoais, focando os problemas atuais conscientes e pré-conscientes. Tipicamente, esses problemas envolvem conflitos com pessoas significativas do presente ou com familiares, frustrações, ansiedades ou desejos experimentados nas relações interpessoais. A ênfase é conseguir que o paciente faça mudanças e não apenas compreenda e aceite as suas atuais condições de vida. Embora a TIP reconheça a importância do inconsciente, ele não é abordado na terapia. A influência de experiências passadas, particularmente daquelas ocorridas na infância, é reconhecida, mas o enfoque é no aqui e agora, não sendo feitas tentativas de ligar as experiências atuais com as do passado. A depressão é vista como uma doença médica, com os fatores etiológicos sendo levados em conta, inclusive os de natureza biológica, e a ênfase é no tratamento dos sintomas e na melhoria das condições sociais (Blanco; Weissman, 2005). Muitas vezes, a terapia é realizada em associação com psicofármacos. FOCO DA TERAPIA INTERPESSOAL • Perdas complicadas (luto) • Transições de papéis ou mudanças de vida (p. ex., casamento, formatura, aposentadoria, diagnóstico de uma doença médica incapacitante, perda de status) • Disputas por papéis ou conflitos interpessoais (conflitos conjugais) • Déficits interpessoais (isolamento, falta de apoio social) Na avaliação do paciente, é feito um levantamento dos sintomas e é estabelecido o diagnóstico do transtorno. Na depressão, por exemplo, são identificados problemas interpessoais e sua possível relação com o quadro depressivo. A seguir, são explicados o enfoque interpessoal e os procedimentos da terapia (foco nos problemas interpessoais como forma de vencer a depressão). É feito o contrato psicoterápico envolvendo a estrutura e a duração do tratamento. Na fase final, são consolidados os ganhos, estimulada a independência e abordados os riscos de recaídas. Uma terapia de manutenção é proposta, se necessária (Blanco; Weissman, 2005; Markowitz, 2003). A TIP é uma terapia breve focal, de tempo limitado, de 12 a 20 sessões, sendo o paciente estimulado a identificar as emoções (raiva, frustração) sentidas em suas relações e a expressálas no contexto social. São também trabalhadas as dificuldades de comunicação (p. ex., entre o casal). São abordadas as dificuldades nas relações interpessoais atuais, e não as intrapsíquicas ou do passado. Embora o terapeuta dê atenção a pensamentos distorcidos, isso não é feito de uma forma sistemática, como na terapia cognitiva. O terapeuta é ativo e, às vezes, diretivo. Utiliza um conjunto de técnicas cognitivas, comportamentais, psicoeducacionais, de apoio e psicodinâmicas. Usa a clarificação, o roleplaying, estimula a expressão de emoções, aconselha, sugere e levanta alternativas para as interpretações do paciente sobre o que acontece nas interações sociais. O objetivo é mudar padrões de relações interpessoais e dar menor ênfase à mudança de cognições. Não são utilizadas interpretações transferenciais, e o objetivo maior é o alívio dos sintomas. As sessões são semanais, e o foco é no presente, nas dificuldades atuais que aparecem no contexto social e nas disfunções sociais decorrentes da depressão. Se o problema é um luto complicado, o terapeuta estimula o paciente a enfrentar o luto e a reassumir suas atividades. Se o problema são disputas de papéis (com o cônjuge ou com outras pessoas significativas), o terapeuta procura explorar a natureza do conflito e auxilia na busca de alternativas. Em ques- Psicoterapias tões que envolvem transições de papéis, como início ou fim de carreira, promoção, aposentadoria, término de uma relação ou diagnóstico de uma doença grave, o paciente é auxiliado a enfrentar as mudanças e a perceber seus aspectos positivos e negativos. Quando os problemas são déficits em habilidades sociais, podem ser utilizadas técnicas comportamentais e de apoio (treino de assertividade, role-playing) ou sugestão de busca de recursos existentes na comunidade (Weissman; Markovitz, 1994). Evidências de eficácia e indicações A eficácia da TIP foi bem estabelecida no tratamento da depressão maior (Di Mascio et al., 1979; Weissman et al., 1979). Um estudo posterior verificou que a TIP era tão efetiva quanto medicamentos em casos de depressão leve, mas não de depressão grave (Klein; Ross, 1993). Também foi observado um efeito modesto na prevenção de recaídas, menor do que o da imipramina (Frank et al., 1990). A terapia interpessoal está sendo testada em adolescentes e pacientes geriátricos com depressão, em HIV-positivos com depressão, na distimia e como coadjuvante no tratamento do transtorno bipolar, sendo, neste caso, chamada de terapia interpessoal e de ritmo social. Adaptações da TIP estão sendo feitas, ainda, para tratamento de pacientes com ansiedade social, estresse pós-traumático, bulimia e fobia social, mas seu papel nesses transtornos não está bem estabelecido (Markowitz, 2003). Indicações da terapia interpessoal Evidências consistentes • Depressão maior • Profilaxia de depressão maior recorrente • Depressão em pacientes geriátricos e adolescentes • Depressão em pacientes HIV-positivos • Terapia conjunta (de casal) em mulheres depressivas • Depressão pré e pós-parto (Markowitz, 2003) 31 Evidências incompletas • Como coadjuvante no tratamento do transtorno bipolar • Bulimia • Fobia social, pânico e estresse pós-traumático • Distimia (Markowitz, 2003) É necessário que os pacientes tenham uma boa capacidade de introspecção, algum grau de sofisticação psicológica e motivação para examinar padrões de relacionamento, bem como que consigam estabelecer um bom vínculo com o terapeuta. A TIP não é recomendada em pacientes com depressão psicótica ou quando não são identificados padrões disfuncionais de relações interpessoais. Terapia comportamental Fundamentos teóricos A terapia comportamental (TC) baseia-se nas teorias e nos princípios da aprendizagem para explicar o surgimento, a manutenção e a eliminação dos sintomas. Dentre esses princípios, destacam-se o condicionamento clássico (Pavlov), o condicionamento operante (Skinner), a aprendizagem social (Bandura) e a habituação. De acordo com o condicionamento clássico, estímulos neutros (uma sineta) repetitivamente pareados com um estímulo incondicionado (comida) acabam provocando a mesma resposta obtida pelo estímulo incondicionado: a sineta passa a produzir salivação, tornandose um estímulo condicionado, e a salivação, ao toque da sineta, uma resposta condicionada. Acredita-se que esse fenômeno possa explicar o surgimento de sintomas como as reações de medo a estímulos neutros nas fobias específicas, a agorafobia em pacientes com pânico, particularmente, as revivescências, os sintomas fóbicos e sua generalização no estresse pós-traumático, a “fissura” em drogaditos, entre outros. No condicionamento operante, os efeitos de um comportamento podem determinar o aumento ou a diminuição de sua freqüência. 32 Cordioli e cols. Como exemplo, a esquiva fóbica alivia sintomas de ansiedade, e acredita-se que, por esse motivo, seja adotada sistematicamente. Eventualmente, os sintomas de ansiedade podem ter seu início por um condicionamento clássico (fobias, estresse pós-traumático), sendo posteriormente mantidos por um condicionamento operante (esquiva fóbica). Essa é a teoria dos dois estágios, dos irmãos Mowrer, proposta como uma teoria mais geral para a ansiedade. Na aprendizagem social, o comportamento pode ser adquirido pela simples observação de outros indivíduos (uso de drogas, perder certos medos). A habituação é um fenômeno natural que ocorre em praticamente todos os seres vivos (insetos, moluscos, animais, homem) em razão do qual as reações de ansiedade ou desconforto diminuem com o passar do tempo se o indivíduo permanece em contato com o estímulo (não nocivo) que as provoca. A neurofisiologia da habituação foi bem estabelecida por Kandel em seus estudos com o molusco Aplysia califórnica. A exposição é a principal estratégia psicoterápica utilizada pela terapia comportamental e a sua principal contribuição para o tratamento dos transtornos mentais. O fenômeno da habituação, bem como a extinção, constituem a base teórica e empírica para explicar o desaparecimento dos sintomas. Os primeiros comportamentalistas eram partidários do chamado behaviorismo radical. Watson, Skinner e Wolpe foram alguns dos seus representantes. A eles interessava apenas o comportamento observável, incluindo nesse conceito a atividade muscular voluntária, a atividade verbal e as alterações fisiológicas. Mais recentemente, a escola comportamental passou a se interessar pelos processos cognitivos, aceitando que eles possam influenciar o comportamento. Bandura foi um autor importante nessa transição, ao propor que crenças de autoeficácia eram cruciais para o indivíduo iniciar ou não um comportamento. A tendência atual é a de integrar a terapia comportamental com a cognitiva, e o termo “terapia cognitivocomportamental” vem sendo cada vez mais empregado para designar uma modalidade de te- rapia que utiliza esses dois tipos de abordagens. Por razões didáticas, vamos apresentar separadamente os dois enfoques. Técnica A terapia comportamental preocupa-se inicialmente em realizar uma avaliação detalhada dos problemas do paciente: quais os sintomas, as condições que determinam o seu aparecimento, seus antecedentes e suas conseqüências, bem como eventuais desencadeantes. São avaliadas, ainda, as situações nas quais se manifestam os fatores que auxiliam a mantê-los (atitudes reforçadoras do ambiente familiar), as cognições (pensamentos automáticos) que os acompanham e os mecanismos desenvolvidos pelo paciente para diminuir a ansiedade (p. ex., esquiva fóbica e realização de rituais). É a chamada análise comportamental. A partir da identificação dos sintomas, é proposto o tratamento, que é entendido como uma nova aprendizagem. A terapia comportamental utiliza uma variedade de técnicas: • • • • • Exposição: também chamada de prática programada, pode ser in vivo ou na imaginação. Pode ser gradual ou instantânea (inundação), assistida pelo terapeuta ou em grupo. Tem sido utilizada a exposição virtual quando a exposição in vivo é difícil ou impossível Prevenção de respostas: abster-se de realizar rituais (verificações, lavação das mãos) Modelação: demonstração de um comportamento desejável pelo terapeuta Reforço positivo: tornar um evento agradável contingente a um comportamento desejável (dar atenção, elogiar, premiar, etc.) Reforço negativo: remoção de algo desagradável como forma de estimular o comportamento desejável (p. ex., remoção da sonda nasogástrica em anoréxicas ou imobilização em pacientes agitados) Psicoterapias • • • • • • Extinção: a remoção de reforços positivos pode levar ao enfraquecimento e desaparecimento de um comportamento Terapia aversiva: pareamento de um estímulo aversivo com um comportamento indesejável (dissulfiram e álcool) Relaxamento muscular e treino da respiração Biofeedback Reversão de hábitos Treino de habilidades sociais A TC exige do paciente alta motivação para aderir ao tratamento, boa capacidade de tolerar o aumento da ansiedade e o desconforto inerentes ao fato de se expor a situações provocadoras de ansiedade e boa aliança de trabalho para levar adiante as tarefas estabelecidas em comum acordo com o terapeuta. Evidências de eficácia e indicações A eficácia da terapia comportamental está bem estabelecida no tratamento de: • • • • • • • Fobias específicas Agorafobia com ou sem pânico Ansiedade ou fobia social Transtorno obsessivo-compulsivo (especialmente os rituais) Transtornos alimentares e compulsão alimentar periódica Disfunções sexuais: em especial ejaculação precoce e vaginismo Dependência de drogas (alcoolismo, tabagismo e demais drogas de abuso) (Berkowitz, 2003) A terapia comportamental é utilizada como coadjuvante no tratamento de: • Depressão maior, particularmente na fase inicial de pacientes gravemente deprimidos • Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade 33 • Estresse pós-traumático • Transtornos de impulsos (tricotilomania, comprar compulsivo, jogo patológico) • Déficits em habilidades sociais (transtornos da personalidade, esquizofrenia, deficiência mental, autismo) • Deficiências de controle esfincteriano • Obesidade, hipertensão, insônia, asma, dor crônica, cefaléia, câncer, insônia primária, etc. Contra-indicações da terapia comportamental • Níveis de ansiedade muito elevados ou incapacidade de tolerar aumento dos níveis de ansiedade (transtornos da personalidade bordeline, histriônica) • Problemas caracterológicos graves, incapacidade de estabelecer um vínculo com o terapeuta (personalidade esquizóide ou esquizotípica) • Incapacidade de estabelecer um relacionamento honesto com o terapeuta (personalidade anti-social) • Ausência de motivação Terapia cognitiva A terapia cognitiva foi proposta inicialmente por Aaron T. Beck, no início da década de 1960, para tratamento da depressão. Beck teve sua atenção despertada pela visão negativa que os pacientes deprimidos tinham de si mesmos, do mundo à sua volta e do seu futuro (tríade de Beck). Ele sugeriu que essa visão negativa era responsável pelos sintomas depressivos e propôs o uso de estratégias para corrigir tais distorções que se revelaram efetivas no tratamento dos quadros depressivos. Posteriormente, a terapia cognitiva foi estendida, com as devidas adaptações, para o tratamento de transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, transtornos da personalidade, dependência química, entre outros. Seu foco de atenção é a atividade mental consciente ou pré-consciente (pensamentos automáticos, crenças subjacentes e suas 34 Cordioli e cols. conseqüências: emoções, comportamentos ou reações físicas). Teoria A terapia cognitiva tem fortes ligações com várias escolas filosóficas, como o estoicismo grego, o racionalismo, o empirismo e a fenomenologia, e com as escolas orientais de pensamento, como o budismo e o taoísmo. Sua premissa básica é a de que a maneira como as pessoas interpretam suas experiências determina como elas se sentem e se comportam. A afirmativa do filósofo estóico Epictetus (60-117 d.C.), de que “os homens se perturbam não pelas coisas, mas pela visão que têm delas”, expressa a idéia central do modelo cognitivo. Fundamenta-se nas teorias do processamento patológico das informações. De acordo com o modelo, existem erros (de lógica) no processamento da informação sob a forma de pensamentos disfuncionais e distorções cognitivas típicas: na depressão, nos transtornos de ansiedade, nos transtornos de personalidade, nos transtornos alimentares, entre outros. Na depressão, há uma visão negativa de si mesmo, da realidade à sua volta e do seu futuro (tríade de Beck); na mania, uma visão exageradamente otimista de si mesmo, da realidade e do futuro; no pânico e nas fobias, antecipações e interpretações catastróficas; no transtorno obsessivo-compulsivo, avaliação irreal do risco e da responsabilidade. Há ainda esquemas disfuncionais nos transtornos de personalidade, nas relações conjugais e familiares. Essas distorções cognitivas, associadas a erros de lógica, como avaliações e interpretações distorcidas, provocam alterações no humor, reações físicas e comportamento desadaptativo, que acabam criando e perpetuando um círculo vicioso. O modelo não sugere que a patologia cognitiva seja a única causa de síndromes específicas, assumindo que, na maioria das vezes, fatores como predisposição genética, alterações bioquímicas ou conflitos interpessoais estão envolvidos e que a patologia cognitiva contribui para agravar ou perpetuar um determinado transtorno. Por exemplo, no transtorno do pânico, um transtorno para o qual concorrem fatores biológicos, as interpretações distorcidas ou erradas dos sintomas físicos contribuem para o agravamento do quadro e podem até desencadear novos ataques (Wright; Beck; Thase, 2003). Dentre as distorções cognitivas, destacam-se a inferência arbitrária (concluir o contrário do que apontam as evidências ou sem o necessário suporte de evidências), a abstração seletiva ou filtro mental (concluir baseando-se apenas em uma pequena parte dos dados), a magnificação e a minimização (avaliar distorcidamente a importância relativa dos eventos, de um atributo pessoal ou de uma possibilidade futura), a personalização (relacionar eventos externos à própria pessoa quando não há base suficiente para tanto), o pensamento dicotômico ou absolutista (classificar as pessoas ou a si mesmo em categorias rígidas e estanques: bom ou mau, tudo ou nada, preto ou branco) e o pensamento catastrófico (prever o pior desfecho possível, ignorando as alternativas). Dentre os autores responsáveis pelo seu desenvolvimento destacam-se Beck, Ellis, Mahoney, Lazarus, Freeman, entre outros. Técnica A terapia cognitiva geralmente é breve, com duração entre 10 e 20 sessões. Em algumas situações, como no tratamento de transtornos de personalidade, pode ser estendida por mais tempo. A terapia é uma descoberta guiada por um trabalho colaborativo entre paciente e terapeuta (empiricismo colaborativo). A função do terapeuta é auxiliar o paciente a usar seus próprios recursos para identificar erros de lógica, pensamentos e crenças distorcidos e posteriormente corrigi-los por meio do exame das evidências e da geração de pensamentos alternativos. No início da terapia, o paciente é treinado para identificar e registrar seus pensamentos automáticos e suas crenças subjacentes para, em um segundo momento, utilizar diversas intervenções destinadas a corrigi-los mediante o exame de evidências feito por técnicas como o Psicoterapias questionamento socrático, a “descatrastrofização”, o exame das vantagens e desvantagens, a reatribuição ou ressignificação, a geração de pensamentos alternativos, entre outras. A terapia cognitiva também utiliza técnicas tipicamente comportamentais, como exposição, prevenção de rituais, modelação, role-playing, treino de assertividade, técnicas de relaxamento muscular e controle respiratório, planilhas de atividades e ensaio de comportamentos. Por esse motivo, a tendência atual é denominá-la terapia cognitivo-comportamental (TCC). As sessões da terapia cognitiva são estruturadas e seguem quase invariavelmente uma mesma seqüência: revisão do humor ou dos sintomas no início da sessão, ponte para a sessão anterior, agenda, discussão dos tópicos da agenda, revisão dos temas para casa, pequenas sumarizações sobre cada tópico da agenda, nas quais o terapeuta sublinha os aspectos mais importantes, pequenos resumos da sessão quando um tópico se estende, tarefas para casa e, no final, avaliação da sessão por parte do paciente. São comuns o uso de registros de pensamentos disfuncionais e a avaliação constante do curso da terapia mediante a aplicação de escalas ou folhas de automonitoramento. A TCC utiliza ainda a psicoeducação, com explanações sobre os mecanismos que perpetuam a doença, e estimula a leitura e a busca do conhecimento sobre o transtorno do qual o paciente é portador. Comenta-se que o terapeuta cognitivo substituiu o divã do psicanalista pelo quadro negro do professor. É comum, na sessão, o uso de caneta e papel, desenhos, figuras e esquemas como forma de ilustrar o modelo cognitivo e a inter-relação entre os diferentes elementos cognitivos e comportamentais: situação ativadora, pensamentos disfuncionais e conseqüências (humor, comportamento, reações físicas – modelo ABC). É indispensável uma boa relação terapêutica, na qual o terapeuta seja ativo e o paciente seja um colaborador. Mais do que formular explicações, o terapeuta permanentemente estimula o paciente a questionar-se pelas evidências nas quais apóia seus pensamentos e crenças distorcidas, auxiliando-o a mudar sua forma de pensar. As reações transferenciais não são o foco 35 da terapia. São abordadas apenas para identificar esquemas disfuncionais e é comum que ocorram quando a terapia se estende por mais tempo, como no tratamento dos transtornos de personalidade. A experiência clínica sugere que pacientes que não tenham problemas caracterológicos graves (personalidade anti-social ou borderline), que, no passado, tenham tido vínculos afetivos fortes e de confiança com pessoas significativas, que são curiosos e inquisitivos sobre si mesmos, com uma boa capacidade de introspecção (boa capacidade de identificar pensamentos disfuncionais e comunicá-los), com disfunções cognitivas claramente identificadas, são os pacientes ideais para a terapia cognitiva. Também é de grande ajuda ter uma inteligência média ou acima da média. Em pacientes que não apresentam essas características, a terapia cognitiva pode ser flexibilizada, adaptando-se ao nível social e cultural e à linguagem do paciente. Evidências de eficácia e indicações A eficácia da terapia cognitiva está sendo testada no tratamento de vários transtornos, geralmente em conjunto com outras estratégias de tratamento, e está bem estabelecida nos seguintes transtornos: • • • • Depressão unipolar de intensidade leve ou moderada, não-psicótica Transtornos de ansiedade (associados à terapia comportamental e a drogas) Transtornos alimentares Transtornos somatoformes (hipocondria, transtorno dismórfico corporal) Indicações da terapia cognitiva como tratamento coadjuvante • Abuso de substâncias e de álcool • Transtornos de personalidade • Transtornos psicóticos (esquizofrenia, transtorno delirante) • Transtorno bipolar 36 Cordioli e cols. • Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade • Dor crônica A terapia cognitiva, em princípio, é contra-indicada para pacientes com: • Doença mental orgânica, que implique comprometimento cognitivo (demência) • Retardo mental • Pouca capacidade para trabalhar introspectivamente (identificar pensamentos, emoções, crenças, e expressá-los em palavras) • Psicose aguda • Patologia grave do caráter borderline ou anti-social • Ausência de motivação Terapia familiar e de casal Fundamentos teóricos A terapia familiar originou-se da insatisfação de muitos clínicos com a evolução muito lenta de pacientes quando tratados individualmente ou frustrados com o fato de que, muitas vezes, tais progressos eram neutralizados por outros membros da família. A partir dessas constatações, passaram a considerar não apenas o indivíduo, mas a família, como o foco para compreender o surgimento e a manutenção da psicopatologia. Nesse novo marco conceitual, a atenção é voltada para o contexto familiar no qual um problema individual ocorre, para as conseqüências desse problema sobre os demais indivíduos, e para a maneira pela qual cada membro influencia os demais e é por eles influenciado. Os problemas psicopatológicos individuais devem ser entendidos no contexto familiar, que pode reforçá-los, criando verdadeiros círculos viciosos, ou pelo fato de o referido contexto ter um papel importante na sua solução. O terapeuta de família dá atenção à estrutura familiar (como ela se constitui, se organiza e se mantém) e aos seus processos (como ela se adapta e evolui ao longo do tempo) simultaneamente. É um sistema vivo em evolução, orga- nizado de forma complexa e durável, cujo todo é mais do que a simples soma de suas partes. A terapia de família tem seus fundamentos na teoria geral dos sistemas, do biólogo alemão Bertallanffy, na teoria da comunicação, dos pequenos grupos, na teoria psicodinâmica (relações de objeto) e na teoria cognitivo-comportamental, entre outras. Bowen introduziu conceitos da teoria dos sistemas em seu trabalho com famílias. Por sistema compreende-se um conjunto de elementos, direta ou indiretamente relacionados, que funcionam como uma unidade em um determinado ambiente. Dentro desse enfoque, uma família pode ser considerada um sistema parcialmente aberto que interage com seus ambientes biológico e sociocultural (Bloch; Harari, 2005). Diversos enfoques teóricos embasam a terapia de família. Ackerman foi quem cunhou o termo terapia familiar, na década de 1950, e introduziu a idéia de trabalhar com a família nuclear, utilizando métodos psicodinâmicos. O enfoque desse autor era predominantemente psicodinâmico, com ênfase nos mecanismos de defesa grupais (projeção, identificação projetiva, dissociação) e nos conceitos da teoria das relações de objeto. O objetivo era a obtenção de insight, ou a abordagem dos conflitos transgeneracionais (Bowen): diferenciação, triangulação, rupturas; ou experiencial (Satir, Whitaker), com a proposição de envolver duas ou mais gerações na terapia. Ao longo do tempo, diversos outros enfoques foram sendo propostos: estrutural/sistêmico (Minuchin), a partir do estudo de jovens delinqüentes provenientes de famílias hierarquicamente desorganizadas e com problemas de limites generacionais entre os vários subsistemas; estratégico (Haley, Ackerman), para os problemas decorrentes de arranjos hierárquicos e papéis, bem como as reações em suas mudanças; comportamental (Patterson, Margolin), para problemas que podem ser mantidos ou estimulados pelas atitudes da família, em padrões de relações simétricas ou complementares e nas disfunções de comunicação (Bateson); psicoeducacional (Anderson, Goldstein), informativo, envolvendo o manejo de doenças crônicas, redução do estresse e manejo de crises. Mais recentemente, Psicoterapias tem sido, ainda, proposta a terapia familiar com enfoque cognitivo-comportamental (Bloch; Harari, 2005). As sessões são semanais, com todos ou com parte dos membros presentes, podendo, posteriormente, passarem a ser quinzenais ou até mensais (subsistema). Têm por objetivos gerais melhorar a comunicação entre os membros da família, desenvolver a autonomia e a individualização dos diferentes indivíduos, descentralizar e tornar mais flexíveis os padrões de liderança e de tomada de decisões, reduzir os conflitos interpessoais e os sintomas, além de melhorar o desempenho individual. Da mesma forma que a terapia familiar, a terapia de casal considera que existem possibilidades e vantagens de se resolver os conflitos que surgem na vida de um casal na abordagem conjunta de forma mais rápida do que na abordagem individual. Baseia-se na teoria psicodinâmica (relações de objeto), na teoria da comunicação e na teoria dos contratos conjugais. Indicações da terapia familiar • Quando é solicitada terapia de casal ou familiar • Doença física ou mental grave em adultos, gerando um alto grau de disfunção familiar (esquizofrenia, transtorno bipolar, TOC, transtorno do pânico com agorafobia, dependência a drogas ou ao álcool, transtornos alimentares, etc.) • O problema atual envolve dois ou mais membros da família • A família enfrenta uma crise de transição que pode levá-la à ruptura (mudanças de papéis) • Uma criança ou adolescente é o problema presente (autismo, TDAH, abuso de drogas, transtorno alimentar, obesidade, transtornos de impulsos, depressão) • Ruptura da harmonia familiar em razão de conflitos interpessoais (Fields; Morrison; Beels, 2003) Indicações da terapia de casal • Insatisfação sexual ou um problema sexual presente (disfunção erétil, ejaculação preco- ce, vaginismo, dispareunia, disfunção orgástica feminina, perda do interesse sexual) • Dificuldades na intimidade, envolvendo comunicação de afetos e sentimentos, companheirismo, planejamento da vida em comum, troca de papéis Contra-indicações da terapia familiar e de casal • A família nega que estejam ocorrendo problemas familiares • Um dos membros da família é muito paranóide, psicótico, agressivo ou agitado • Em situações nas quais membros importantes da família não poderão estar presentes (doença física ou mental, falta de motivação, etc.) • Tendência irreversível à ruptura familiar (divórcio, separação) • Crenças religiosas ou culturais muito fortes impedem intervenções externas na família • A intervenção familiar não teria qualquer efeito no atual problema • O equilíbrio familiar é tão precário que a terapia familiar pode provocar a descompensação de um ou mais membros (confrontar um adulto que abusou sexualmente de uma criança com sua vítima) • Os problemas conjugais são egossintônicos • Quando a individuação de um ou mais membros ficaria comprometida caso a terapia fosse levada adiante, ou exige tratamento separado • Existem problemas individuais que necessitam, previamente, de outros tratamentos (desintoxicação) • Quando a terapia familiar é usada para encobrir responsabilidades individuais • Em situações nas quais um ou ambos os cônjuges não podem ser honestos, mentem, têm segredos (infidelidade, homossexualidade, desonestidade nos negócios) que, se revelados, determinariam imediata ruptura da família • Quando um dos cônjuges tem transtorno grave de caráter, especialmente em caso de conduta anti-social ou desvio sexual (Fields; Morrison; Beels, 2003) 37 38 Cordioli e cols. Psicoterapia de grupo As psicoterapias de grupo surgiram a partir da necessidade de se estender a um número maior de pessoas as possibilidades de atendimento psicoterápico. Os primeiros grupos de que se têm notícias foram os organizados por Pratt, por volta de 1922, em que ele reunia de 20 a 30 pacientes portadores de turberculose para os quais fazia palestras uma ou duas vezes por semana. Entre outros, Addler, Bion, Foulkes e Moreno se destacaram no estudo dos grupos. Mas foi particularmente durante a Segunda Grande Guerra, quando os problemas psiquiátricos eram avassaladores e as equipes hospitalares eram limitadas, que o tratamento em grupo teve um grande desenvolvimento. Além das vantagens de uma relação custo/benefício mais favorável, a terapia em grupo faz uso de ingredientes terapêuticos próprios, que inexistem na terapia individual, os chamados fatores grupais (Vinogradov; Cox; Yalom, 2003). Fatores terapêuticos na terapia de grupo Yalom propôs um conjunto de 11 fatores, que seriam os fatores terapêuticos na terapia de grupo (Vinogradov; Cox; Yalom, 2003). • • • Instilação da esperança. Ter esperança de melhorar é crucial para qualquer terapia. Perceber a melhora de outras pessoas que têm os mesmos problemas faz com que os pacientes acreditem que também são capazes de vencer suas dificuldades. A universalidade do problema. Perceber outras pessoas com o mesmo problema diminui o isolamento, a vergonha e o estigma associados aos sintomas de muitos transtornos mentais. Compartilhamento de informações. Ocorre sempre que o terapeuta dá informações, ou quando há troca de informações entre os membros, em grupos de • • • • • • • • problemas específicos (obesidade, trauma, tabagistas, drogaditos, pacientes com problemas médicos em comum). Altruísmo. O grupo estimula a possibilidade de ajudar os outros, um desejo inerente ao ser humano. Socialização. Desenvolvimento de habilidades sociais em decorrência do próprio convívio em grupo (contato visual, apertar as mãos, ouvir os outros). Comportamento imitativo. Pela simples observação do comportamento saudável das outras pessoas. Catarse. Possibilidade de obtenção de alívio pela ventilação de emoções. Está ligada à universalidade e à coesão. Recapitulação corretiva. Possibilidade de reviver e recapitular no grupo padrões de comportamento semelhantes aos que apresenta em seu grupo familiar primário, ao interagir com os demais membros do grupo, havendo a oportunidade de corrigi-los (submissão, competição, dependência). Fatores existenciais. A abordagem dos grandes temas ou problemas existenciais (doença, morte, luto, isolamento) auxilia as pessoas a lidar com essas questões. Coesão grupal. O sentido de pertencer a um grupo e ter afinidade com seus membros facilita a aceitação dos demais e dos aspectos inaceitáveis de si próprio, além de possibilitar o estabelecimento de relacionamentos mais profundos com os outros. Aprendizagem interpessoal. Em grupos de longa duração, o ambiente grupal permite o surgimento da psicopatologia individual, que, na interação com os demais, pode ser identificada e corrigida. Técnica Os grupos podem distinguir-se quanto ao setting: podem ser de pacientes internos ou externos a uma clínica; podem, também, ter uma Psicoterapias duração limitada ou serem abertos e permanentes. Distinguem-se quanto aos objetivos, que podem ser ambiciosos, como a modificação de aspectos do caráter, ou mais limitados, como o treino de habilidades sociais, a manutenção do funcionamento psicossocial ou a informação sobre o uso de medicamentos (grupo de bipolares). Podem ser especializados em doenças médicas (diabéticos, colostomizados, paraplégicos, vigilantes do peso, drogaditos, alcoólicos anônimos) ou, ainda, ter um objetivo de curto prazo, como parar de fumar. Os grupos variam também quanto à orientação teórica. Na orientação psicodinâmica, o objetivo é melhorar o funcionamento do ego dos pacientes, sendo que o terapeuta focaliza suas intervenções na análise dos fenômenos transferenciais e na interpretação das defesas e da resistência, que podem ser grupais. Já os grupos de orientação cognitivo-comportamental se voltam para o tratamento de problemas ou transtornos definidos: fobia social, transtorno do pânico, dor, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias específicas, entre outros. A técnica utilizada nos grupos é muito variada e depende do setting, dos objetivos, da duração, da forma como é feito o agrupamento, de o grupo ser aberto ou fechado e da orientação teórica que é seguida. Os grupos de orientação psicanalítica podem seguir distintos enfoques: psicanálise no grupo, na qual o psicanalista trabalha de forma muito semelhante à da psicanálise individual; psicanálise do grupo, na qual o grupo é visto como um todo e são trabalhados os chamados supostos básicos de Bion (dependência, luta, fuga e acasalamento); psicanálise por meio do grupo, que enfoca as comunicações inconscientes ou conscientes, verbais ou não-verbais dos participantes; ou, eventualmente, ter um enfoque mais eclético. Como regra, o terapeuta utiliza-se de interpretações destinadas a assinalar diferentes fenômenos grupais: mecanismos de defesa individuais ou grupais (identificações, projeções, dissociações, racionalizações, fantasias inconscientes, manifestações transferenciais) e a forma como são manejados impulsos amorosos ou agressi- 39 vos, com a finalidade de obtenção do insight sobre os aspectos inconscientes como fator de mudança. Ele procura também auxiliar os participantes a compreender suas interações no grupo, como repetições de padrões primitivos de relacionamento familiar, e a mudar tais padrões. Grupos com enfoque cognitivo-comportamental têm objetivos claros e são estruturados à semelhança das sessões da terapia individual, voltados para o tratamento de determinados problemas ou sintomas ou para o manejo de determinadas situações médicas. Em tais grupos costuma haver a verificação inicial do humor ou dos sintomas, a revisão das tarefas de casa, o uso da psicoeducação, de exercícios, de tarefas para casa e do estímulo ao registro e ao automonitoramento, além da aprendizagem social por meio da troca de experiências e de depoimentos. As sessões podem ser semanais, quinzenais ou até mensais. No quadro a seguir, há um sumário das indicações das terapias de grupo. Os grupos de auto-ajuda têm por objetivo prestar ajuda psicológica a pacientes ou aos familiares de pacientes que têm um problema ou situação em comum e oferecer apoio mútuo para superar sentimentos de angústia, depressão e desadaptações provocadas pela doença. O objetivo é a difusão de informações sobre cuidados gerais e alternativas para lidar com limitações ou complicações decorrentes da doença ou situação, divulgando os recursos existentes na comunidade. Utilizam psicoeducação, técnicas comportamentais, cognitivas, aconselhamento, sugestão, catarse, depoimento de outros pacientes ou familiares e, sobretudo, os chamados fatores grupais. Os candidatos à terapia de grupo devem ter um bom nível de motivação para participar e envolver-se emocionalmente, capacidade de se revelar (ter uma história anterior de serem capazes de se envolver em grupos de forma positiva), capacidade de se solidarizar e empatizar com os problemas de outras pessoas e capacidade de se comprometer em comparecer regularmente às sessões. 40 Cordioli e cols. Indicações das psicoterapias de grupo Psicoterapias de grupo de orientação dinâmica • Padrões de relacionamento interpessoal considerados desadaptativos • Aspectos do caráter desadaptativos Psicoterapias cognitivo-comportamentais • • • • • • • • • Ansiedade ou fobia social Transtorno obsessivo-compulsivo Ansiedade generalizada Insônia Transtorno do pânico, como terapia complementar Fobias específicas Estresse pós-traumático Dor crônica Síndrome do intestino irritável Grupos de auto-ajuda • Pacientes agudos internados em hospitais psiquiátricos: na preparação da alta, no uso de medicações psiquiátricas (manejo dos efeitos colaterais, doses), no acompanhamento de egressos • Em situações de crise ou estresse agudo (vítimas de desastres naturais) ou em eventos vitais (luto, divórcio, aposentadoria, etc.) • Manejo de condições médicas: diabete, obesidade, hipertensão, tabagismo, transplante, preparação para cirurgia cardíaca, pósinfarto, colostomia, mastectomia, próteses, uso de aparelhos médicos de reabilitação ou outras amputações, transtornos alimentares, etc. • Condições psiquiátricas: controle do peso e reeducação alimentar nos transtornos alimentares, auxílio para cessar o tabagismo, prevenção de recaídas em drogaditos, etc. Contra-indicações da terapia de grupo • Incompatibilidades com as normas do grupo • Pacientes que não toleram o setting grupal (fóbicos sociais) • Incompatibilidade grave com um ou mais membros do grupo • Tendência a assumir um papel desviante dos demais membros do grupo • Ausência de controle de impulsos agressivos, fortes tendências destrutivas e de expressar na conduta suas ansiedades (transtorno borderline, histriônico, anti-social) • Ansiedade, depressão ou sintomas psicóticos graves (bipolar em fase aguda, esquizofrênicos delirantes, ou com alucinações) • Dificuldades sérias de empatizar ou de se expor (transtorno da personalidade esquizotípica, narcísica ou paranóide) • Incapacidade de estabelecer uma relação honesta, de laços afetivos e de lealdade para com o grupo (personalidade anti-social) Considerações finais Contestadas quanto à sua efetividade, em meados do século passado, as psicoterapias vêm adquirindo credibilidade junto aos profissionais, aos pacientes e à comunidade em geral. Na atualidade, fazem parte do planejamento terapêutico de praticamente todos os transtornos mentais, seja como tratamento de primeira escolha ou como coadjuvantes de tratamentos biológicos. Embora as controvérsias e disputas sejam ainda comuns, um panorama mais claro vem gradualmente se delineando, com alguns modelos consolidando-se em razão de sua efetividade comprovada em pesquisas, da manutenção dos seus resultados a longo prazo, de uma relação custo/benefício mais favorável, da satisfação dos seus clientes e da aceitação pela comunidade. Em um contexto no qual modelos tradicionais deixaram de ser hegemônicos e novas abordagens de menor custo e igualmente efetivas se tornaram disponíveis, cabe aos profissionais da saúde mental conhecê-los, habilitarem-se a utilizá-los e saberem indicar a melhor abordagem para cada paciente. Referências Berkowitz RI. Behavior therapies. In: Hales RE, Yudofsky SC. Textbook of clinical psychiatry. 4th ed. 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