Histórico O cádmio foi descoberto em 1817, por Friedrich Strohmeyer (1776 - 1835), a partir de impurezas do mineral calamina (Zn2CO3), dando origem ao nome do elemento. A etimologia deste mineral deriva do vocábulo grego kadmeia, ou cadmia, em latim, significando “originário do leste”. Este nome remonta à história do herói lendário Cádmio, que chegou à Grécia vindo da Fenícia e fundou a cidade de Tebas, coroando a si próprio como Rei. O cádmio encontra-se no mesmo subgrupo da Tabela Periódica que o zinco e o mercúrio, sendo mais similar ao primeiro. A maior parte do cádmio é produzida como subproduto da fusão do zinco, já que os dois usualmente ocorrem juntos. Friedrich Strohmeyer (1776 - 1835). O cádmio é um elemento comparativamente novo, com uma bibliografia de utilização bastante recente. Toxicologia e Propriedades Não obstante o uso modesto, a toxidade do cádmio tem sido objeto de diversos problemas ambientais. Alguns de seus compostos, mesmo em baixas concentrações, são extremamente tóxicos e bioacumulativos nos organismos e nos ecossistemas. A exposição de fumaça contendo cádmio provoca rapidamente problemas pulmonares e respiratórios. Contatos mais breves levam a sintomas como dores-de-cabeça, resfriados ou dores musculares. O contato prolongado conduz a danos mais severos, como pneumonia, bronquite ou edemas pulmonares. A contaminação com o cádmio afeta especialmente os rins, comprometendo irreversivelmente a habilidade de remover ácidos do sangue. Essa disfunção provoca a diminuição da concentração de fosfatos no sangue (hipofosfatemia), fraqueza muscular e, por vezes, coma. Pode levar também ao acumulo de ácido úrico nas articulações (gota), entre outras perturbações. Os ossos também se tornam enfraquecidos, levando a doenças como a osteoporose. Muitos compostos de cádmio são também cancerígenos. O Caso Ingá Leia o texto sobre o Projeto Emergencial Ingá, para recuperação do meio ambiente devastado por metais pesados. Professor João Alfredo Medeiros, Um combatente imprescindível (http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materias/0333.html), entrevistado por Karla Hansen. Como o cádmio contamina o ambiente? A produção do cádmio até os dias atuais deve-se a um subproduto do processamento de minérios de outros elementos, como chumbo e cobre, mas principalmente do sulfeto de zinco (ZnS, esfalerita). Nas vizinhanças das fábricas onde há liberação de cádmio como poluente, as árvores e plantas incorporam este elemento à madeira, tal como ocorre com outros metais pesados (chumbo, zinco, cobre). Ao serem incineradas, as madeiras liberam o elemento que passa a se redispersar no ambiente. O cádmio é um elemento raro e com aplicações comparativamente reduzidas. O uso mais conhecido e o mais importantes, cerca de 70% de seu consumo, está como constituinte de baterias ou pilhas recarregáveis conhecidas como "nicad" (ou Ni-Cd, níquel-cádmio). O funcionamento baseia-se na hidroxilação do cádmio metálico, gerando o hidróxido e a liberação de dois elétrons, conforme a (meia-)reação que segue: Cd(s) + 2OH- → Cd(OH)2 + 2 eNo processo de recarga da bateria a reação ocorre no sentido inverso, com o depósito de cádmio sobre o eletrodo. Para um estudo mais completo, sugerimos a leitura do excelente artigo: Pilhas e Baterias: Funcionamento e Impacto Ambiental, Química Nova na Escola, no 11, maio de 2000. Bateria recarregável "nicad" de um telefone sem fio. Uma pilha recarregável do tipo "nicad" contém cerca de cinco gramas de cádmio, sendo facilmente volatilizada quando incinerada com o lixo. Contabilizando o montante de pilhas contendo cádmio descartadas irregularmente, a quantidade de contaminação é uma questão de alerta. As pilhas alcalinas, geralmente, apresentam menor risco ambiental, pois estas não contem metais pesados tóxicos, como o cádmio, zinco e chumbo. Em diversas cidades, como o Rio de Janeiro, existem distribuídas nas ruas lixeiras especiais para a coleta de pilhas e baterias. Segundo a Prefeitura, esse lixo vai para um serviço de reciclagem especial destinado somente aos produtos eletrônicos. Lixeira coletora de pilhas e baterias na cidade do Rio de Janeiro. Alguns pescadores, alheios às conseqüências, utilizam pilhas, recarregáveis ou "comuns", como peso para o anzol. Muitas dessas pilhas possuem elementos nocivos ao ambiente, e uma vez corroídas no insalubre meio aquático, passam a poluir a água e também ao seu principal agressor: a nossa espécie. Os vistosos tons de amarelo das flores e das paisagens dos nos quadros de Van Gogh devem-se à segunda aplicação histórica mais importante do cádmio: os pigmentos. "Vaso com 12 Girassóis", de Vincent van Gogh (1853-1890). Fonte: Wikipedia - http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:VanGogh-still-lifevase_with_12_sunflowers.jpg Os principais pigmentos de cádmio eram o sulfato (CdSO4) e o seleneto (CdSe) de cádmio. Em proporções adequadas ou adicionando outros compostos, produziam cores do amarelo ao vermelho, todas de excelente qualidade. No entanto, os problemas advinham, por exemplo, da lenta carbonatação do cádmio, desprendendo-se da pintura e iniciando o seu ciclo de contaminação no ambiente. Hoje em dia os pigmentos de cádmio ainda são vendidos, mas com uma série de restrições na embalagem. Alternativas semelhantes e mais ecológicas envolvem compostos orgânicos, como os azo-pigmentos. Cigarros de maconha ou tabaco são meios de intoxicação por cádmio. Em verdade, geralmente a quantidade é muito pequena, menor do que a naturalmente encontrada nos alimentos. Porém a fumaça contendo o metal pesado é absorvida com muito mais eficiência nos pulmões do que pela digestão. Os fumantes passivos são também vítimas desta contaminação, uma vez que cerca de 85% da fumaça é liberada para o ambiente. Azo-pigmentos São "azo-compostos", ou seja, possuem a fórmula molecular RN=N-R´, sendo que R pode ser tanto um radical aromático como alifático. O grupo diimida (N=N) é também chamado de grupo funcional azo, sendo responsável pelas colorações especiais dos azocompostos. Fumantes passivos São os que inalam não intencionalmente a fumaça de tabaco (cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo) dos fumadores, especialmente em ambientes fechados. A fumaça contem mais de 300 substâncias prejudiciais à saúde, principalmente a nicotina, o monóxido de carbono e o cádmio. O fumo ou tabagismo passivo é a 3a maior causa de morte "evitável" no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), só perdendo para o tabagismo voluntário e o consumo de álcool.* Anúncio "machista" de cigarros da década de 70. Nos dizeres: "Bafore em sua face e ela irá segui-lo para qualquer parte". Outras utilizações importantes do cádmio são: revestimentos eletrolíticos contra corrosão, semicondutores, estabilizantes para plásticos (PVC) e pigmentos (especialmente o sulfeto de cádmio, CdS - amarelo). Estes materiais podem eventualmente ser fontes de contaminação e já foram banidos em alguns países. Ficha técnica do "mau elemento" Massa atômica: 112,40 u Configuração eletrônica: [Kr] 4d10 5s2 Propriedades: Densidade: 8,65 g/cm3 Temperatura de fusão/ebulição: 320,9ºC / 765ºC Poluição em áreas próximas às fundições de zinco, cobre e chumbo. Principais fontes poluidoras: Alimentos irrigados com água contaminada. Cigarros. Fertilizantes. Dores-de-cabeça, resfriados, pneumonia, bronquite ou edemas pulmonares. Principais acusações: Fraqueza muscular, hipofosfatemia, gota, osteoporose. Padrões aceitáveis para a EPA EUA - 5 ppb; OMS - 3 ppb; Ministério água potável: da Saúde do Brasil - 5 ppb.