TRANSPOSIÇÃO ANTERIOR SUBMUSCULAR DO NERVO ULNAR PARA O TRATAMENTO DA SÍNDROME DO TÚNEL CUBITAL SEGUNDA SEÇÃO ORTOPEDIA GERAL Transposição anterior submuscular do nervo ulnar para o tratamento da síndrome do túnel cubital* CARLOS HENRIQUE FERNANDES1, MARCELO HIDE MATSUMOTO2, PAULO KENJI HONMOTO3, MAGALI FERREIRA DE OLIVEIRA LIMA3, FLÁVIO FALOPPA4, WALTER MANNA ALBERTONI5, RONALDO CARNEIRO6 RESUMO SUMMARY Vinte pacientes (12 homens e 8 mulheres) com síndrome do túnel cubital foram tratados por meio da transposição anterior submuscular do nervo ulnar em 22 cotovelos. A média de idade foi de 44,9 anos (de 22 a 75 anos). O tempo médio de seguimento foi de 22,7 meses (de 2 a 47 meses). Na avaliação pré-operatória, foi usado o sistema de graduação de McGowan, baseado na sensibilidade e na motricidade. A técnica cirúrgica é descrita e ilustrada. Na avaliação pós-operatória foi utilizado o sistema de pontuação de Bishop, baseado em critérios objetivos e subjetivos. Obtivemos 81,9% de resultados excelentes ou bons; 13,6% de resultados regulares e 4,5% de ruins. Nenhum paciente apresentou recidiva no período de seguimento. Os piores resultados cirúrgicos foram obtidos nos pacientes operados mais tardiamente, após o início dos sintomas. Neste estudo, a transposição anterior submuscular mostrou-se satisfatória em descomprimir o nervo ulnar no cotovelo. Anterior submuscular transposition of the ulnar nerve for the treament of cubital tunnel syndrome Twenty patients with twenty-two elbows involved by cubital tunnel syndrome were submitted to an anterior submuscular transposition of the ulnar nerve. There were 12 men and 8 women and the mean age was 44.9 years (range: 22-75 years). Mean follow-up time was 22.7 months (range: 2-47 months). A preoperative grading system was used based on sensibility and motricity. The operative technique is described and illustrated in detail. Using a 12-point scale of objective and subjective parameters, there were 81.9% of good or excellent results; 13.6% were graded fair and 4.5% were graded poor after surgery. There were no recurrences in this series. Those patients who had a late operation usually presented worse results. Anterior submuscular transposition of the ulnar nerve in this series proved to be a good method of decompressing the ulnar nerve at the elbow. Key words – Ulnar nerve; compression syndrome Unitermos – Nervo ulnar; síndrome compressiva INTRODUÇÃO * Trab. realiz. na Disc. de Cir. da Mão e Mem. Sup. do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM. 1. Mestre; Pós-Graduando em nível de Doutorado em Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM. 2. Doutor; Resp. pelo subsetor de Cotov. da Disc. de Cir. da Mão e Mem. Sup. do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM. 3. Resid. R4 do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM. 4. Livre-Doc.; Chefe de Clín. da Disc. de Cir. da Mão e Mem. Sup. do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM. 5. Tit. e Chefe da Disc. de Cir. da Mão e Mem. Sup. do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM. 6. Chefe de Clín. de Cir. da Mão da Cleveland Clinic, Flórida, EUA. Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 6 – Junho, 1998 O nervo ulnar, em seu trajeto no membro superior, pode sofrer compressão em vários níveis e o cotovelo é a sede mais freqüente, recebendo a denominação de síndrome do túnel cubital. Essa é a segunda neuropatia compressiva mais comum no membro superior, após a síndrome do túnel do carpo(6). Apfelberg & Larson(4) relataram diversos fatores que podem ocasionar a neuropatia ulnar no cotovelo, seqüelas de fraturas-luxações no cotovelo, anomalias congênitas e alterações metabólicas, entre outros; porém, a causa primária da compressão é indeterminada em 10% a 30%. O quadro clínico é caracterizado por dor, parestesia e hipoestesia de caráter intermitente no território do nervo ulnar, 465 C.H. FERNANDES, M.H. MATSUMOTO, P.K. HONMOTO, M.F.O. LIMA, F. FALOPPA, W.M. ALBERTONI & R. CARNEIRO que se acentuam com a abdução do ombro, flexão do cotovelo e no período noturno. Quando o cotovelo é fletido, a origem do músculo flexor ulnar do carpo tensiona-se, alongando-se aproximadamente 5mm a cada 45º de flexão e o ligamento colateral medial projeta-se medialmente, diminuindo o túnel cubital, o que pode produzir sintomas de neuropatia ulnar(34). Adelaar et al.(1) demonstraram que, pela distribuição dos fascículos do nervo ulnar, o comprometimento sensitivo é precoce. Mais tarde, ocorre associação com a hipotrofia da musculatura intrínseca da mão e, somente nos casos avançados, a musculatura extrínseca é comprometida. A síndrome do túnel cubital deve ser diferenciada da compressão do nervo ulnar no canal de Guyon, lesão do disco cervical, costela cervical, síndrome do escaleno anterior, tumor de Pancoast, doenças metabólicas (como o diabetes melito) e neuropatias alcoólica e por Hansen. Utilizamos a transposição anterior submuscular descrita por Learmonth(22), para que o nervo fique protegido pela massa flexopronadora, diminuindo a desagradável sensação de choque à palpação da região anterior do cotovelo, como ocorre na transposição subcutânea. Liberamos todos os pontos possíveis de compressão: arcada de Struthers, septo intermuscular medial, epicôndilo medial, túnel cubital e aponeurose profunda dos flexopronadores(30). Nos pacientes com quadro avançado, a neurólise foi associada à transposição. O objetivo de nosso estudo é avaliar os resultados do tratamento cirúrgico, utilizando a técnica de transposição anterior submuscular do nervo ulnar, através da classificação clínica de McGowan(26), no pré-operatório, e do sistema de pontuação de Bishop(21), no pós-operatório. MATERIAL E MÉTODO O material deste trabalho é constituído de 20 pacientes, com 22 cotovelos operados (dois pacientes com acometimento bilateral), submetidos a 22 transposições anteriores submusculares do nervo ulnar, no período de setembro de 1992 a junho de 1996. Dos 20 pacientes, 8 (40%) eram do sexo feminino e 12 (60%), do masculino. Em relação à idade, nosso paciente mais jovem tinha 22 anos e o mais idoso, 75 anos, com mé- TABELA 1 Distribuição dos pacientes, segundo o nº de ordem, iniciais, sexo, idade, profissão, lado dominante, lado comprometido, tempo de sintomas, eletroneuromiografia, critério de classificação de McGowan, afecções associadas e tempo de seguimento pós-operatório (meses) Nº Iniciais Sexo Idade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 INJ INJ TA RJH JLG LSQ TJ TJ PS LSG JLG MFB FOS AP ESL KC LS TS TN PAH ER JS M M M M F F F F M F F M M M F F M F M M M M 57 57 75 72 51 37 34 34 74 30 51 38 25 36 37 22 71 47 48 35 24 34 466 Profissão Aposentado Aposentado Aposentado Aposentado Aposentado Metalúrgico Escriturário Escriturário Aposentado Escriturário Aposentado Administrador Metalúrgico Metalúrgico Metalúrgico Do lar Lavrador Do lar Prof. de judô Escriturário Taxista Ajudante geral Lado D Lado C Tempo de sintoma ENMG McGowan Afecções associadas Tempo de seguimento (meses) D D D D D D D D D D D D D D D E D D D D D D D E E E D D D E E E E D E D D D D D D D D D 8m 3m 60m 12m 2m 8m 10m 14m 180m 11m 8m 18m 24m 26m 24m 24m 120m 96m 48m 120m 24m 13m + + + – + + + + + + + + – + + + não fez não fez + não fez não fez + II I II I II II I I II II II II I I II I III III II III III I -x-x-x-x-x-xAnomalia muscular Anomalia muscular -x-x-xOssif. heterotópica -x-x-x-xPseudartrose Pseudartrose Ossif. heterotópica Pseudartrose -x-x- 47 42 43 42 39 27 38 31 26 26 33 10 16 14 5 2 23 9 4 2 8 12 Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 6 – Junho, 1998 TRANSPOSIÇÃO ANTERIOR SUBMUSCULAR DO NERVO ULNAR PARA O TRATAMENTO DA SÍNDROME DO TÚNEL CUBITAL Fig. 1 – Incisão longitudinal medial centrada entre o epicôndilo medial e o olécrano, tendo o cuidado de não lesar o nervo cutâneo medial do antebraço Fig. 2 – Liberação do septo intermuscular proximal e da aponeurose do músculo flexor ulnar do carpo QUADRO 1 Classificação de McGowan (1950)(26) QUADRO 2 Sistema de pontuação de Bishop (1989)(21) Grau Lesão III Lesão pequena, sensibilidade alterada, sem alterações motoras. III Lesão intermediária, sensibilidade alterada, fraqueza muscular. III Lesão grande, paralisia dos músculos intrínsecos, anestesia ou hipoestesia acentuada. dia de 44,9 anos. O tempo do início dos sintomas variou de 2 a 180 meses, com média de 91 meses (tabela 1). A eletroneuromiografia foi utilizada para o diagnóstico, sendo realizada em 16 pacientes, e apresentou alterações em 15. Esse exame não foi utilizado como parâmetro de evolução pós-operatório. O critério de avaliação utilizado no pré-operatório foi o de McGowan(26) (quadro 1). Para avaliação pós-operatória foi utilizado o sistema de pontuação de Bishop(21) (quadro 2). Técnica cirúrgica A transposição submuscular do nervo ulnar, descrita por Learmonth(22), foi utilizada nos 22 cotovelos. O paciente foi posicionado em decúbito dorsal horizontal, sob anestesia geral ou bloqueio regional. Utilizamos um garrote de Smarch, para esvaziamento sanguíneo do membro superior e um garrote pneumático no terço proximal do braço, para manutenção. Uma incisão longitudinal medial de 15 a 20cm, centrada entre o epicôndilo medial e o olécrano, foi realizada. O nervo cutâneo medial do antebraço (figura 1) e o nervo ulnar foram identificados e reparados; iniciou-se a liberação no septo inRev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 6 – Junho, 1998 Avaliação Nº de pontos Satisfação do paciente Satisfeito Satisfeito com restrições Insatisfeito 2 1 0 Melhora Melhor Sem alteração Pior 2 1 0 Intensidade dos sintomas residuais (dor, parestesia, fraqueza) Assintomático Ocasional Moderado Intenso 3 2 1 0 Atividade profissional Trabalhando ou capaz de retornar Não trabalhando 1 0 Intensidade de trabalho Limitada Ilimitada 0 1 Força de preensão e pinça ≥ 80% em ambos os lados ≥ 80% em um lado < 80% em ambos os lados 2 1 0 Sensibilidade estática e discriminação de dois pontos Normal (≤ 5mm) Anormal (> 5mm) Total 1 0 120 Resultado Pontos Excelente Bom Regular Mau 10-12 7-9 4-6 1-3 467 C.H. FERNANDES, M.H. MATSUMOTO, P.K. HONMOTO, M.F.O. LIMA, F. FALOPPA, W.M. ALBERTONI & R. CARNEIRO Fig. 3 – Os ramos articulares do nervo ulnar são “sacrificados” para a mobilização do nervo Fig. 5 – Sutura da musculatura flexopronadora, deixando o espaço de um dedo para permitir o livre deslizamento do nervo da com fio Mononylon® 3-0, deixando-se espaço suficiente para a passagem de um dedo (figura 5). Realizamos cuidadosamente a hemostasia, fechamento por planos, curativo oclusivo e imobilização com tala axilopalmar a 90º, com antebraço em posição neutra. A imobilização foi mantida por quatro semanas, sendo realizados movimentos passivos suaves assistidos a partir da primeira semana. Os movimentos ativos do cotovelo e punho foram liberados a partir da retirada definitiva da imobilização. RESULTADOS Fig. 4 – Transposição do nervo ulnar sob a musculatura flexopronadora, próxima ao nervo mediano termuscular proximal e na aponeurose do músculo flexor ulnar do carpo (figura 2). Para a mobilização do nervo unar, os pequenos ramos articulares são “sacrificados”, tomando-se o cuidado em preservar o ramo motor para o flexor ulnar do carpo (figura 3). O ligamento arqueado, a aponeurose profunda do flexor ulnar do carpo e o tendão comum do grupo muscular flexopronador foram liberados. O nervo ulnar, com sua vascularização, é transposto sob o grupo muscular flexopronador, próximo ao nervo mediano (figura 4). A aponeurose foi sutura- Em nosso estudo foram encontrados 8 cotovelos graus mínimos, 10 intermediários e 4 graves pelo critério adotado. Em relação às afecções associadas, encontramos, nos cotovelos 7 e 8, a presença de pronador redondo acessório. Nos cotovelos 17, 18 e 20, pseudartrose do côndilo lateral e, nos cotovelos 12 e 19, ossificação heterotópica do ligamento colateral medial por seqüela de traumatismo. O tempo de seguimento pós-operatório variou de 2 a 47 meses, com média de 22,7 meses. Os resultados obtidos, após o tratamento cirúrgico, foram analisados segundo o sistema de pontuação de Bishop(21). Obtivemos resultados excelentes em 12 cotovelos (54,6%), bons em 6 (27,3%), regulares em 3 (13,6%) e mau em 1 (4,5%) (tabela 2). TABELA 2 Avaliação dos pacientes, segundo o índice de Bishop Nº Pontos Resultados 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 11 11 8 10 11 7 11 11 7 8 10 11 10 9 8 12 5 3 10 4 5 10 exc exc bom exc exc bom exc exc bom bom exc exc exc bom bom exc reg mau exc reg reg exc exc – excelente; reg – regular 468 Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 6 – Junho, 1998 TRANSPOSIÇÃO ANTERIOR SUBMUSCULAR DO NERVO ULNAR PARA O TRATAMENTO DA SÍNDROME DO TÚNEL CUBITAL DISCUSSÃO O tratamento da síndrome cubital pode ser não-cirúrgico ou cirúrgico. O tratamento não-cirúrgico consiste da mudança das atividades, antiinflamatórios, infiltrações, imobilização noturna com flexão de 45º do cotovelo e fisioterapia(31). Utilizamos o tratamento não-cirúrgico nos pacientes com quadros de lesões mínimas segundo a classificação de McGowan(26); a infiltração com corticóides não foi usada, por abolirmos este método nas síndromes compressivas. Os pacientes com lesão mínima, que não melhoraram com o tratamento não-cirúrgico, e aqueles com lesões moderadas e graves foram submetidos à cirurgia precocemente, para evitar a progressão da lesão do nervo ulnar e piores resultados. A primeira descrição cirúrgica para a síndrome do túnel cubital (Earle, 1816)(1) indicava a ressecção do segmento comprometido do nervo. Após mais de 150 anos da primeira descrição cirúrgica, não há consenso na literatura sobre qual a técnica mais adequada a ser utilizada. Existem cinco principais técnicas cirúrgicas: descompressão in situ(25,28,29,33), epicondilectomia medial(15,17,19,32), transposições anteriores subcutânea(10,14), intramuscular(21) e submuscular(3,22,23,31). As transposições anteriores podem ser subcutânea, intramuscular e submuscular. Nelas, o nervo ulnar é levado a novo leito. Com isso, a tensão e a compressão no nervo são retiradas. Apresenta algumas desvantagens, como necessidade de incisões cirúrgicas mais extensas, risco de lesar os nervos cutâneos mediais do braço e antebraço e mediano, a manipulação e a mobilização do nervo ulnar para a região anterior, o que pode levar à lesão isquêmica endoneural, se o nervo for separado da artéria colateral ulnar(27). A transposição anterior submuscular, inicialmente descrita por Learmonth(22), consiste na liberação do nervo ulnar do septo intermuscular até a fáscia do flexor ulnar do carpo. A origem dos músculos flexopronadores é desinserida do epicôndilo medial e o nervo ulnar é colocado junto ao nervo mediano, que passa entre os dois ventres do músculo pronador redondo, tomando-se o cuidado de não lesá-lo. Em nosso estudo, a única complicação que tivemos foi a lesão do nervo mediano no cotovelo 18. Essa técnica tem a vantagem de identificar e liberar os múltiplos locais de compressão do nervo ulnar, arcada de Struthers, septo intermuscular medial, músculo anconeu epitroclear e aponeurose dos flexopronadores profundos(2). A principal desvantagem dessa técnica é a fibrose que se estabelece no novo leito, podendo levar a nova compressão(8). Em nossa opinião, essa possibilidade diminui muito quando o canal criado para o nervo permite a Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 6 – Junho, 1998 passagem de um dedo para seu livre deslizamento. Pasque & Rayan(31) sugerem o aumento desse canal através de um alongamento em “Z” da origem dos flexopronadores. Leffert(23) concluiu que, como os fatores patomecânicos potencialmente lesivos podem não ser identificados no ato cirúrgico e a transposição anterior submuscular permitir a liberação de todos os possíveis locais de compressão, obtêm-se bons resultados em todos os casos de síndrome do túnel cubital, sendo o método de escolha; porém, na presença de lesão intraneural, o resultado da cirurgia geralmente é ruim. Adelaar et al.(1) estudaram comparativamente as técnicas de liberação in situ e transposições anteriores subcutânea e submuscular, em 32 pacientes. Concluíram que os pacientes submetidos à descompressão simples obtiveram piores resultados, os que foram submetidos às técnicas de transposição cutânea e submuscular tiveram resultados semelhantes, excelentes e bons; os fatores que determinaram piores prognósticos foram a presença de atrofia e de potencial de fibrilação dos músculos intrínsecos da mão. Dellon(8) concluiu que a transposição anterior submuscular acompanhada de neurólise é a melhor técnica a ser indicada para os casos de neuropatia compressiva grave. Em nosso estudo, o grau de comprometimento inicial do nervo no pré-operatório foi um fator importante para o prognóstico. Os vasos endoneurais são normalmente impermeáveis ou têm pouca permeabilidade às proteínas, mas a irritação crônica pode aumentar a permeabilidade e desenvolverse edema endoneural. Tal edema pode interferir com a função nervosa primariamente, por desarranjo do metabolismo das fibras nervosas, e secundariamente, pela formação de fibrose(24). As forças compressivas e de tração, combinadas no cotovelo, interferem com a circulação intraneural no ulnar, resultando em hiperemia e edema(35), com subseqüente invasão de fibroblastos. Uma vez que a fibrose esteja estabelecida, o completo alívio dos sintomas, após a descompressão ou transposição, é improvável. Daí os piores resultados quando a cirurgia é postergada(8,25). A anomalia muscular congênita pode ser a causa da síndrome de compressão do nervo ulnar(5,11,16,18). Os cotovelos 7 e 8, que apresentaram anomalia muscular com comprometimento de grau I de McGowan, foram submetidos à ressecção do músculo pronador redondo acessório, associada à transposição anterior submuscular, e evoluíram com resultados excelentes. Acreditamos que esse resultado ocorreu devido ao tratamento cirúrgico precoce. Os cotovelos 17, 18 e 20, com pseudartrose do côndilo lateral e cúbito valgo, complicação não rara da fratura do 469 C.H. FERNANDES, M.H. MATSUMOTO, P.K. HONMOTO, M.F.O. LIMA, F. FALOPPA, W.M. ALBERTONI & R. CARNEIRO côndilo lateral(20), apresentaram arco de movimento funcional do cotovelo e quadro avançado de comprometimento do nervo ulnar. Esses pacientes foram submetidos à transposição anterior submuscular, associada à neurólise, por serem de grau III de McGowan. Houve resultados regular em dois cotovelos e mau em um. Apesar dos resultados não satisfatórios pelo sistema de classificação de Bishop, eles não apresentaram parestesia no antebraço, nem sensação de choque ao traumatismo externo; além do mais, a cirurgia preveniu a progressão da síndrome compressiva. Não foi realizado o tratamento da pseudartrose, pois não apresentavam queixas articulares e o arco de movimento do cotovelo era funcional, o que é relatado na literatura(7,12,13). O paciente L.S. (número de ordem 17) apresentou uma pseudartrose de mais de 60 anos de evolução, com atividade braçal intensa (lavrador). Evoluiu com resultado regular. A paciente T.S. (número de ordem 18), que sofreu grave complicação de lesão do nervo mediano, na transposição submuscular, evoluiu com mau resultado. A presença de fibrose intraneural, encontrada no intra-operatório, foi o fator mais importante que influenciou o resultado final. A técnica de transposição anterior submuscular permite a liberação de todos os locais de compressão do nervo ulnar no cotovelo, sendo um bom método de tratamento, principalmente nos casos em que a causa da síndrome do túnel cubital não é conhecida. A síndrome do túnel cubital deve ser submetida a tratamento cirúrgico precocemente, nos casos de lesões mínimas, que não melhorem com o tratamento não-cirúrgico, e nos pacientes com graus de lesões moderada e grave, para impedir a progressão da síndrome compressiva. REFERÊNCIAS 1. Adelaar, R.S., Foster, W.C. & McDowell, C.: The treatment of the cubital tunnel syndrome. J Hand Surg [Am] 9: 90-95, 1984. 2. Amadio, P.C.: Anatomical basic for a technique of ulnar nerve transposition. Surg Radiol Anat 8: 155-161, 1986. 3. Amadio, P.C., Beckenbaugh, R.D. & Rochester, M.: Entrapment of the ulnar nerve by the deep flexor-pronator aponeurosis. J Hand Surg [Am] 11: 83-87, 1986. 4. Apfelberg, D.B. & Larson, S.J.: Dynamic anatomy of the ulnar nerve at the elbow. Plast Reconstr Surg 51: 76-81, 1973. 5. Dahners, L.E. & Wood, F.M.; Anconeus epitrochlearis, a rare cause of cubital tunnel syndrome: a case report. J Hand Surg [Am] 9: 579-580, 1984. 6. Dawson, D.M., Hallet, M. & Millender, L.H.: Entrapment neuropathies, Boston, Little & Brown, 1983. p. 99-116. 7. De Boeck, H.: Surgery for nonunion of the lateral humeral condyle in children: 6 cases followed for 1-9 years. Acta Orthop Scand 66: 401402, 1995. 470 8. Dellon, A.L.: Review of treatment results for ulnar nerve entrapment at the elbow. J Hand Surg [Am] 14: 688-700, 1989. 9. Dellon, A.L., Hament, W. & Gittelshon, A.: Nonoperative management of cubital tunnel syndrome: an 8 year prospective study. Neurology 43: 1673-1677, 1993. 10. Eaton, R.G., Crowe, J.F. & James, C.: Anterior transposition of the ulnar nerve using a non-compressing fasciodermal sling. J Bone Joint Surg [Am] 62: 820-825, 1980. 11. Fernandes, C.H., Carneiro, R.S. & James, K.: Síndrome do túnel ulnar bilateral associada a músculo pronador redondo acessório: relato de caso. Rev Bras Ortop 30: 344-346, 1995. 12. Flynn, J.C.: Nonunion of slightly dislaced fractures of the lateral humeral condyle in children: an update. J Pediatr Orthop 9: 691-696, 1989. 13. Fontanetta, P., Mackenzie, D.A. & Rosman, M.: Missed, maluniting, and malunited fractures of the lateral humeral condyle in children. J Trauma 18: 329-335, 1978. 14. Foster, R.J. & Edshage, S.: Factors related to the outcome of surgically managed compressive ulnar neuropathy at the elbow level. J Hand Surg [Am] 6: 181-182, 1981. 15. Goldberg, B.J., Light, T.R., Blair, S.J. et al: Ulnar neuropathy at the elbow: results of medial epicondylectomy. J Hand Surg [Am] 14: 183187, 1989. 16. Hayashi, Y., Kojima, T. & Kohno, T.: A case of cubital tunnel syndrome caused by the snapping of the medial head of the triceps branchii muscle. J Hand Surg [Am] 9: 96-99, 1984. 17. Heithoff, S.J., Huron, P., Millender, L.H. et al: Medial epicondylectomy for the treatment of ulnar nerve compression at the elbow. J Hand Surg [Am] 15: 22-29, 1990. 18. Hirasawa, Y., Sawamura, H. & Sakakida, K.: Entrapment neuropathy due to bilateral epitrochleo anconeus muscles: a case report. J Hand Surg [Am] 4: 181-184, 1979. 19. Jones, R.E. & Gauntt, C.: Medial epicondylectomy for ulnar nerve compression syndrome at the elbow. Clin Orthop 139: 174-178, 1979. 20. Keon-Cohen, B.T.: Fractures of the elbow. J Bone Joint Surg [Am] 36: 1623, 1966. 21. Kleimman, W.B. & Bishop, A.T.: Anterior intramuscular transposition of the ulnar nerve. J Hand Surg [Am] 14: 972-979, 1989. 22. Learmonth, J.R.: A technique for transplanting the ulnar nerve. Surg Gynecol Obstet 75: 792-793, 1942. 23. Leffert, R.D.: Anterior submuscular transposition of the ulnar nerves by the Learmonth technique. J Hand Surg 74: 147-155, 1982. 24. Lundborg, G.: Structure and function of the intraneural microvessels as related to trauma, edema formation and nerve function. J Bone Joint Surg [Am] 57: 138-148, 1975. 25. MacNicol, M.F.: The results of operation for ulnar neuritis. J Bone Joint Surg [Br] 61: 159-164, 1979. 26. McGowan, A.J.: The results of transposition of the ulnar nerve for traumatic ulnar neuritis. J Bone Joint Surg [Br] 32: 293-301, 1950. 27. Messina, A. & Messina, J.C.: Transposition of the ulnar nerve and its vascular bundle for the entrapment syndrome at the elbow. J Hand Surg [Br] 20: 638-648, 1995. 28. Miller, R.G. & Hummel, E.E.: The cubital tunnel syndrome: treatment with simple decompression. Ann Neurol 7: 567-569, 1980. 29. Nathan, P.A., Keniston, R.C. & Meadows, D.: Outcome study of ulnar nerve compression at the elbow treated with simple decompression and Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 6 – Junho, 1998 TRANSPOSIÇÃO ANTERIOR SUBMUSCULAR DO NERVO ULNAR PARA O TRATAMENTO DA SÍNDROME DO TÚNEL CUBITAL an early programme of physical therapy. J Hand Surg [Br] 20: 628637, 1995. 30. Osborne, G.V.: The surgical treatment of tardy ulnar neuritis. J Bone Joint Surg [Br] 39: 782, 1957. 31. Pasque, C.B. & Rayan, G.M.: Anterior submuscular transposition of the ulnar nerve for cubital tunnel syndrome. J Hand Surg [Br] 20: 447453, 1995. 32. Richmond, C.J.: Superficial anterior transposition of the ulnar nerve at the elbow for ulnar neuritis. Clin Orthop 164: 42-44, 1982. Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 6 – Junho, 1998 33. Sokolow, C., Pariser, P. & Lemerle, J.P.: Atteintes du nerf cubital au coude: approche étiologique. A propos de quarante cas. Ann Chir Main 12: 12-18, 1993. 34. Vanderpool, D.W.: Chalmers, J. & Whiston, T.B.: Peripheral compression lesion of the ulnar nerve. J Bone Joint Surg [Br] 50: 792, 1968. 35. Weisl, H. & Osborne, G.V.: The pathological changes in rat’s nerves subjected to moderate compression. J Bone Joint Surg [Br] 46: 297306, 1964. 471