Nosso mundo ontem e hoje

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Sociologia Volume Único | Unidade 1 | Avaliação Capítulo 3
Nosso mundo ontem e hoje
1. Tema: A transição feudo-capitalista
Leia o texto atentamente:
“Segue-se daí que esse conflito básico deve ter existido entre os produtores diretos e seus suseranos feudais
que extraíam seu tempo-trabalho excedente ou seu produto excedente por meio do direito feudal ou do poder
feudal. Esse conflito, ao irromper em antagonismo aberto, expressou-se em revolta camponesa (individual ou
coletiva, por exemplo, na fuga da terra ou em ação ou força ilegal organizada), que Rodney Hilton demonstrou
ter sido endêmica na Inglaterra nos séculos XIII e XIV. Foi essa a luta de classe crucial no feudalismo, e não qualquer choque direto de elementos urbanos burgueses (comerciantes) com senhores feudais. Este último ocorreu,
naturalmente (como o testemunho da luta das comunidades urbanas pela autonomia política e o controle dos
mercados locais). Todavia, os comerciantes burgueses, na medida em que eram apenas comerciantes e intermediários, viviam em geral como parasitas do feudalismo e tendiam à conciliação com o mesmo; em muitos casos,
eram verdadeiros aliados da aristocracia feudal. De qualquer maneira, creio que este antagonismo permaneceu
secundário, pelo menos até uma etapa muito mais tardia.”
(DOBB, Maurice. “Do feudalismo para o capitalismo”. In: Vários, A transição do feudalismo para o capitalismo – Um debate. RJ: Editora Paz e
Terra, 1977. pp. 209 e 210)
a)Maurice Dobb dispõe três importantes classes sociais neste período, dando-lhes relevância nas
transformações sociais decorrentes. Aponte o papel de cada uma destas classes sociais na visão de
Dobb.
b)Qual o tipo de abordagem sociológica Dobb realiza neste texto? Justifique sua resposta.
2. Tema: A dicotomia entre mundo rural e mundo urbano
A eclosão das Cruzadas e da retomada da atividade comercial entre Constantinopla e a Europa, até
então voltada à autossuficiência, promoveu mudanças significativas nos hábitos da população europeia. Não que esta população automaticamente tivesse se deslocado em massa para os centros
urbanos, mas o número foi significativo a ponto de ampliar a importância econômica destes. A vida
em um novo ambiente, distinto do feudo, gerou uma série de novos costumes que passaram a influir
na sociedade levando ao questionamento dos valores em voga.
Enumere alguns dos novos hábitos urbanos nascidos nas cidades medievais e aponte as diferenças
com o mundo rural.
Coleção particular
Westfälisches Schulmuseum,
Dortmund. Foto: AKG Images/Latinstock
3. Tema: A Revolução Industrial
As duas imagens acima destacam aspectos distintos da Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra,
em que modernidade e exploração do trabalho se misturam. Utilizando as informações disponíveis
nas imagens, procure descrever a dinâmica do quadro social e de seus respectivos agentes sociais.
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4. Tema: A meritocracia substituindo os privilégios do nascimento
“Em todas as sociedades, a transmissão hereditária constituiu sempre um mecanismo normal de reprodução de determinadas relações sociais. As próprias sociedades modernas que aboliram juridicamente os privilégios de sangue dividem os indivíduos em classes baseando-se antes de tudo em suas condições familiares (v.
CLASSE). Nas sociedades pré-modernas e sobretudo nas mais arcaicas, caracterizadas por escassa mobilidade,
esse mecanismo tem um papel decisivo na determinação do lugar social dos indivíduos, sendo normal nelas
a presença de elites ‘definidas’, ou seja de grupos de famílias que de geração em geração mantêm posições de
privilégio em termos de poder, de riqueza e de status.”
(GIULIANO MARTIGNETTI. “NOBREZA”. IN: BOBBIO, Norberto (org.) Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 1998. p. 827)
“Em geral, por meritocracia se entende o poder da inteligência que, nas sociedades industriais, estaria substituindo o poder baseado no nascimento ou na riqueza, em virtude da função exercida pela escola. De acordo
com esta definição, os méritos dos indivíduos, decorrentes principalmente das aptidões intelectivas que são
confirmadas no sistema escolar mediante diplomas e títulos, viriam a constituir a base indispensável, conquanto nem sempre suficiente, do poder das novas classes dirigentes, obrigando também os tradicionais grupos
dominantes a amoldarem-se.”
Lorenzo Fischer. “Meritocracia”. IN: BOBBIO, Norberto (org.) Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 1998. p. 748)
A partir destas duas definições, procure enumerar suas principais diferenças.
Coleção particular. Foto: Archivo SM/ID/ES
5. Tema: As características do mundo burguês
A imagem acima retrata o cotidiano de uma família burguesa do século XIX. A partir desta imagem,
aponte três características do mundo burguês.
6. Tema: Os conflitos de classe na sociedade moderna do século XIX.
“Os estudiosos do movimento operário inglês sabem que o ’costume da classe’, ou da profissão, pode representar não uma tradição antiga, mas qualquer direito, mesmo recente, adquirido pelos operários na prática,
que eles agora procuram ampliar ou defender através da sanção da perenidade. O ‘costume’ não pode se dar
ao luxo de ser invariável, porque a vida não é assim nem mesmo nas sociedades tradicionais. O direito comum
ou consuetudinário ainda exibe esta combinação de flexibilidade implícita e comprometimento formal com o
passado. Nesse aspecto, aliás, a diferença entre ‘tradição’ e ’costume’ fica bem clara. ‘Costume’ é o que fazem os
juízes; ‘tradição’ (no caso, tradição inventada) é a peruca, a toga e outros acessórios e rituais formais que cercam
a substância, que é a ação do magistrado. A decadência do ‘costume’ inevitavelmente modifica a ‘tradição’ à qual
ele geralmente está associado.”
(HOBSBAWM, Eric. A invenção das tradições. RJ: Paz e Terra. 1984. p. 10)
A partir do texto acima, responda:
a)Retire do texto o trecho que identifica a diferença entre costume e tradição.
b)Por que, para o proletariado, não apenas a burguesia, mas também a nobreza podem ser consideradas uma inimiga de sua classe social?
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7. Tema: O progresso, a vida nas cidades e os novos costumes urbanos
“E por toda a parte, entre os jovens da classe média, identificamos sonhos vagos de uma nova Alemanha
unida, de uma vida ‘natural’ –, ‘natural’ em contraste com a vida ‘antinatural’ da sociedade de corte –, e frequentemente um irresistível deleite com sua própria exuberância de sentimentos.
Pensamentos, sentimentos – mas nada que pudesse, em qualquer sentido, culminar em ação política concreta. A estrutura desta sociedade absolutista de pequenos Estados não proporcionava uma abertura a ela.
Elementos burgueses adquiriram autoconfiança, mas o arcabouço dos Estados absolutistas permaneceu inabalado. Os elementos burgueses foram excluídos de toda e qualquer atividade. Na melhor das hipóteses, podiam
‘pensar e escrever’ independentemente, mas não agir da mesma forma.”
(ELIAS, Norbert. O processo civilizador – vol. 1. RJ: Jorge Zahar Editor. 1994. p. 36)
O texto acima retrata os conflitos entre os valores aristocráticos e burgueses na Alemanha dos séculos XVIII e XIX, que marcam a consolidação da modernidade europeia.
a)Por que o autor considera “antinatural” a vida na corte?
b)Cite dois hábitos aristocráticos ridicularizados pela burguesia.
8. Tema: O desenvolvimento científico modificando os valores éticos e morais da sociedade burguesa
“Naquela época muitos projetos foram submetidos ao governo. Este determinou que fossem examinados por
um conselho de engenheiros civis, visto que os engenheiros de pontes e estradas só passaram a existir de 1889
em diante, data da supressão da Escola politécnica; mas esses senhores permaneceram divididos por muito
tempo em torno da questão; uns queriam instalar uma ferrovia de superfície nas principais ruas de Paris; os
outros preconizavam as redes subterrâneas imitadas do railway londrino; (...)”
(VERNE, Julio. Paris no século XX. SP: Editora Ática. 1995. p. 45)
O desenvolvimento científico acompanhou a Revolução Industrial a partir do século XIX, dinamizando o
espaço e alterando as atitudes individuais. Comente sobre o impacto da ferrovia no cotidiano europeu.
9. Tema: Secularização e racionalização
“Segundo o sociólogo D. Hervieu-Léger, a secularização é o impacto da modernidade – em diferentes níveis:
econômico, social, político, intelectual, simbólico, etc. – sobre a religião ou, mais exatamente, sobre a configuração tradicional das relações entre a religião e a sociedade.
Ela envia, primeiramente, a um fenômeno jurídico-político: a separação das Igrejas e do Estado. Com todas
as transformações, o Estado moderno, temendo perder a soberania, não tolera o domínio da instância religiosa,
mas quer estreitar juridicamente suas relações com ela, a fim de proteger sua independência. A secularização
designa igualmente a localização da religião fora da esfera pública e seu limite ao domínio privado. Enfim,
ela remete a um processo de laicização pelo qual as diversas instituições sociais conquistam sua autonomia
dotando-se de ideologias, referências e regras próprias.
Não importa em que domínio, a religião entra em concorrência com uma nova visão do lugar do homem num
mundo a conquistar e a organizar. Como a Igreja, que era a peça mestra do dispositivo de socialização e do controle social das sociedades do passado, perde essa função, aí, o conceito de secularização pode, extensivamente,
designar a perda de influência da religião na sociedade.”
(Extraído de http://www.espacoacademico.com.br/048/48damasio.htm, acesso em 1º de outubro de 2010)
Os processos de secularização e racionalização são tratados, no texto, como sinônimos de modernidade, contrapondo-se aos princípios religiosos.
a)Segundo o texto, qual o efeito da laicização e da secularização sobre a religião?
b)Dê um exemplo prático do processo de secularização.
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10. Tema: Burocratização, racionalização e eficiência
A composição da burocracia dentro de um Estado laico é elemento essencial para seu funcionamento.
De acordo com Max Weber:
“3. A nomeação por contrato, portanto, a livre seleção, é um elemento essencial da burocracia moderna.
Quando trabalham funcionários não livres (escravos, ministeriais) dentro de estruturas hierárquicas, com competências objetivas, portanto, do modo burocrático formal, falamos de ‘burocracia patrimonial’.
4. O grau de qualificação profissional cresce continuamente na burocracia. Também os funcionários dos partidos e sindicatos precisam de conhecimento específico (empiricamente adquirido). A circunstância de os ‘ministros’ e ’presidentes do Estado’ modernos serem os únicos ‘funcionários’ dos quais não se exige qualificação
profissional alguma demonstra que eles são funcionários apenas no sentido formal da palavra, não material, do
mesmo modo que o ‘diretor geral’ de uma grande sociedade anônima privada. (...)”
(WEBER, Max. Economia e sociedade – vol. 1. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 2009. p. 145)
A partir do texto, utilize argumentos para justificar qual é a melhor opção para um Estado laico: o funcionário pertencente a uma burocracia moderna ou um funcionário pertencente à burocracia patrimonial?
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Respostas
1. a)Maurice Dobb enumera três classes importantes: o produtor direto (ou artesão), o senhor feudal
ou suserano e a massa camponesa. O conflito entre os dois primeiros, com o primeiro procurando
maior autonomia, impulsiona também as revoltas do último, motivadas principalmente pelas imposições do direito feudal e exploração da produção agrícola.
b)Sua abordagem é marxista, uma vez que Dobb analisa a evolução e choque entre as classes sociais
do período de transição feudo-capitalista.
2. Dentre as mudanças existentes, a mais óbvia é a inexistência de qualquer restrição feudal à população
que vive nas cidades, já que esta, neste ambiente, se encontra livre das obrigações servis impostas
pelo senhor feudal; por outro lado, a cidade possui maior especialização e conjunto de atividades, com
destaque para o comércio e a produção de manufaturados pelas corporações de ofício, o que gera o
surgimento de estratos sociais com certa importância na sociedade.
3. A Revolução Industrial pode ser analisada a partir de seu duplo sentido: em um primeiro momento,
como retrata a imagem à esquerda, a revolução impulsiona a industrialização e o desenvolvimento
tecnológico, alterando a percepção da realidade do homem moderno. O rápido deslocamento providenciado pela máquina a vapor é exemplo claro deste fenômeno, que gera uma percepção distinta do
tempo, que passa a acelerar.
Por outro lado, a Revolução Industrial amplia as diferenças sociais entre as classes existentes, já que
promove em seu início um processo de proletarização da sociedade, com o deslocamento da massa
rural para a cidade, aumentando o desemprego e a miséria.
4. Os dois textos nos permitem observar algumas distinções entre a meritocracia e o tradicionalismo no-
biliárquico, dentre as quais: enquanto nas sociedades tradicionais é a hereditariedade que determina
as relações sociais e posição do indivíduo na sociedade, nas sociedades meritocráticas é o poder da
inteligência que permite tal ascensão, já que a mesma está relacionada ao mérito de vencer neste tipo
de sociedade. Outra diferença significativa, decorrente desta inicial, faz referência ao nível de escolaridade da população, que tende a ser maior nas sociedades meritocráticas, condição necessária para
sua organização e forma de funcionamento.
5. A família burguesa se encontra reunida para uma refeição em um mesmo ambiente, o que mostra o
grau de intimidade entre seus integrantes, que utilizam a refeição como forma de aprofundar os laços
familiares; também pode-se observar a existência de um patriarca, que se senta à cabeceira da mesa
de jantar e que é o provedor da residência, havendo, portanto, hierarquia dentro da família burguesa;
por fim, o chefe de família é um homem de negócios, um empreendedor, o que caracteriza o espírito
burguês voltado para o sucesso no capitalismo.
6. a)“’Costume’ é o que fazem os juízes; ‘tradição’ (no caso, tradição inventada) é a peruca, a toga e ou-
tros acessórios e rituais formais que cercam a substância, que é a ação do magistrado.”
b)Ao defender uma sociedade estamental e de privilégios, a nobreza determina que o proletariado,
que faz parte do povo, permanece no estrato inferior da sociedade, reproduzindo a exploração promovida pela burguesia e impedindo-o de alcançar a igualdade socialista pregada pelo movimento
operário no século XIX.
7. a)Antinatural porque a vida na corte se desenvolve a partir de valores distintos de uma sociedade
meritocrática onde cada um, através de seu próprio esforço, deveria alçar posições sociais mais relevantes. Na corte, a nobreza é protegida em seus privilégios por seu direito de nascença, não importando sua capacidade em transformar sua realidade a partir de seus próprios esforços, mas sobrevivendo a partir da exploração dos demais grupos pertencentes à sociedade de privilégios.
b)O direito de nascença é um desses hábitos além da rigidez da sociedade, atada aos privilégios de
uma classe que privilegiava o ócio, outro elemento que passa a ser ridicularizado e relacionado à
preguiça e valores negativos na nova sociedade que surgia.
8. O surgimento da ferrovia, primeiro na Inglaterra, espalhando-se no século XIX para o restante da Eu-
ropa, promoveu uma mudança na sensação de tempo do europeu; as altas velocidades da ferrovia
permitiam aos europeus viajar muito mais rapidamente distâncias maiores, afetando sua percepção
do espaço e agilizando os negócios, impulsionando a sociedade em direção à Segunda Revolução Industrial e ao surgimento de novas tecnologias.
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Respostas
9. a)A secularização gera um enfraquecimento da Igreja já que esta deixa de participar ativamente da
esfera pública para se resguardar na esfera privada, tendo de conviver com a liberdade religiosa, o
que significa a existência de outras religiões e cultos.
b)A implantação da República no Brasil implica o processo de secularização, com a separação entre
Estado e Igreja, cabendo ao primeiro a exclusiva tarefa de educar a população de forma laica; outro
exemplo é a autocoroação de Napoleão Bonaparte, que submete a Igreja ao seu domínio, excluindoa do controle de segmentos do Estado francês.
10. A burocracia moderna, para Weber, guarda vantagens com relação à burocracia patrimonial, seja pela
sua maior profissionalização e eficiência, seja pelo fato de que os funcionários não possuem ligação direta com a elite no poder, o que permite maior objetividade por parte do Estado e do corpo burocrático.
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