Discurso aniversário de Pe. Menezes

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SAUDAÇÃO AO PADRE PAULO MENESES.
Reunidos nesta luminosa tarde de verão nordestino, no ano novo, 2009,
aqui nos encontramos para celebrar uma data memorável: os 85 anos de vida do
querido Pe. Paulo Meneses.
De acordo com o seu estilo e gosto, tudo será feito, não obstante o esmero
e beleza, com simplicidade, recheado de carinho e afeto.
O convite para proceder a esta saudação me fez sentir emocionada e
honrada com a tarefa e a oportunidade de mergulhar na releitura dos seus
brilhantes textos para, tomando-os como referência, contar-lhes um pouco da
história de um menino nascido no Nordeste brasileiro, em Maranguape, Ceará,
no seio de uma família de intensa espiritualidade, e que se tornou um sacerdote
erudito, eminente pensador, notável filósofo e pesquisador, escritor, poeta, um
ser iluminado, por nós amado e admirado e com quem temos o privilégio de
conviver.
Retrocedendo no tempo, vamos acompanhar parte de sua trajetória de
vida. “O homem é travessia”, segundo Guimarães Rosa. Vejamos, pois, como
Pe. Paulo contornou obstáculos, ultrapassou horizontes, traçou e seguiu seu
caminho. E tornou-se um ser singular que, em sua particularidade, realizou de
modo original e único a plenitude e riqueza do universal.
Nasceu em 11 de janeiro de 1924 e já aos 10 anos de idade, o Pe. Tabosa,
o Santo do Ceará, profetizava para sua mãe que aquele menino viria a ser “um
santo padre jesuíta”. Desde então, o sacerdócio tornou-se o sonho, o ideal, de
sua vida, tendo cursado o noviciado na década de 1940, a partir dos 16 anos de
idade. Aos 29, em 1953, ordenou-se.
Sua formação “básica” se deu no período de 1940 a 1955, ao realizar, no
Recife, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, os cursos de Humanidades,
Letras Clássicas, Bacharelado e Licenciatura em Filosofia e Teologia.
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Em 1959, obteve o título de doutor em Filosofia, no Recife, e na década
de 1960, o Diplome de L’Institute d’Etudes Politiques, em Paris.
Posteriormente, sua vasta e sólida formação intelectual e universitária foi
posta a serviço da educação, da formação e difusão de seus conhecimentos e
idéias, tendo exercido atividades no magistério, lecionando: Filosofia Social,
História da Filosofia, Antropologia Cultural e Ciência Política, na UNICAP
(Recife); Economia e Ciência Política, no Chile (ILADES); Ciência Política e
Pesquisa e Antropologia, no Rio de Janeiro (IBRADES); Economia, no Instituto
de Estudos Superiores de Évora (Portugal); e Filosofia Hegeliana, no Mestrado
da UFPE.
No âmbito de suas publicações, destacam-se artigos em revistas nacionais
e estrangeiras sobre um dos temas de sua especialidade, Política e Filosofia,
publicados na França, em Portugal, no Chile e no Brasil.
Dentre os livros, citam-se:
PARA LER A FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO DE HEGEL
(ROTEIRO), ED. LOYOLA, 1a EDIÇÃO, 1985; 2a EDIÇÃO, 1992;
TRADUÇÃO DA FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO, DE HEGEL (2
VOLUMES), ED. VOZES, 1992;
TRADUÇÃO DA ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS FILOSÓFICAS, DE
HEGEL (1º VOLUME): LÓGICA, (2º VOLUME): FILOSOFIA DA NATUREZA,
(3º VOLUME): FILOSOFIA DO ESPÍRITO. ED. LOYOLA;
HEGEL E A FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO, ED. JORGE ZAHAR,
AGOSTO, 2003;
HOMILIAS DE ALDEIA, ED. FASA, 2003;
NOVAS HOMILIAS DE ALDEIA, ED. FASA, 2006;
ABORDAGENS HEGELIANAS, ED. VIEIRA E LENT, RIO DE JANEIRO,
2006.
Ocupou vários cargos acadêmicos, entre os quais:
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Diretor do curso de Mestrado no ILADES, Chile;
Diretor do Centro de Pesquisas João XXIII (IBRADES), Rio de Janeiro;
Na UNICAP: Diretor da Biblioteca, Chefe do Departamento de
Sociologia, Decano do CTCH, Pró-Reitor de Pesquisa, Presidente da Comissão
Editorial, Coordenador do Núcleo de Estudos para a América Latina (NEAL).
Atualmente é assessor especial do Magnífico Reitor da UNICAP e
pesquisador de Filosofia (Hegel).
Ao completar cinqüenta anos de sacerdócio, em 2003, Pe. Paulo fez
importante revelação acerca da sua forte motivação e força criadora: atribuiu à
sede de conhecimentos, à vontade de superar limites e desafios, à “necessidade
íntima de estar sempre querendo ir ver as coisas do outro lado, esse interesse
pelo que nos defronta e confronta, nos nega e questiona”.
De fato, pode-se constatar que esse hábito perpassou sua formação e sua
existência. Assim, foi no noviciado, quando a empolgação pela espiritualidade
inaciana atiçou sua sede de conhecer outras espiritualidades.
O mesmo se deu com as línguas e a literatura, na medida em que a leitura
voraz dos clássicos, sobretudo dos poetas latinos, da literatura francesa e russa, o
levou a abrir a mente para a diversidade de contextos culturais e de outros
universos.
No âmbito da filosofia, enquanto aprendia a montar silogismos e
aproximações às teses escolásticas, ansiava por conhecer as grandes escolas
filosóficas de Platão e de Plotino, de Descartes, Kant, Bérgson e Blondel, bem
como, a filosofia do espírito e o existencialismo francês.
Deslumbrou-se, também, com a física moderna e a epistemologia
científica.
No campo da Teologia, Pe. Paulo assinalou que, enquanto fazia a leitura
dos textos fundamentais de sua formação teológica, foi tomado de paixão por
Santo Agostinho e de muito interesse pelo diálogo ecumênico e até para além
dos cristãos, com as grandes religiões da Humanidade. Autores, por ele
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considerados “gurus e santos padroeiros” do ateísmo contemporâneo, como
Nietzche, Marx e Freud, foram, também, objetos de suas leituras.
Um outro campo do saber que lhe despertou interesse foi motivado pela
leitura da obra de Levi Strauss, que o levou a conviver, por um tempo, com
índios do Norte do Brasil. Esta experiência lhe permitiu conhecer uma sociedade
e cultura bem diversa da nossa.
Interesse e curiosidade permanentes também tem demonstrado por
movimentos de questionamentos da sociedade, nacionais ou estrangeiros, desde
a onda de descolonização do pós-guerra, passando pelo socialismo operário,
movimentos camponeses, causas indígenas, Women’s Lib, Black Power,
minorias, contra-cultura etc.
Nos últimos anos, tem se dedicado com invulgar entusiasmo à filosofia
hegeliana. É notável a sua contribuição, através da publicação de artigos e
livros, para que esse sistema seja compreendido, na contemporaneidade, por
leitores de língua portuguesa. Suas traduções são aclamadas nacionalmente e
além-mar. Desde 1970, dirige um grupo de estudos, verdadeiro núcleo de
formação e desenvolvimento de “hegelianistas” e de difusão do sistema
filosófico do pensador alemão. O reconhecimento desta sua importante
contribuição o fez receber o título de Presidente de Honra da Sociedade Hegel
do Brasil.
Pe. Paulo, este ser múltiplo, é dotado de notável sensibilidade que o leva
a escrever poesias, apreciar óperas, ballet, música erudita e popular, cinema,
artes plásticas etc. É um verdadeiro esteta e tudo o que o cerca, nos ambientes
em que vive, tem a sua marca, seu estilo. É capaz de transformar peças e objetos
abandonados em atraentes e belos elementos de decoração. Dotado também de
apurado paladar, aprecia bons vinhos e a boa gastronomia, acompanhados,
sempre, de amigos e de animadas conversas.
Sabe cultivar amizades, cativa as pessoas com gestos solidários, palavras
de incentivo e gratidão.
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Porém, a história da vida de Pe. Paulo, sua rica trajetória, que pretendi
apresentar, não se encerra aqui: atravessará o tempo e servirá de exemplo de
como um ser pode alcançar a felicidade, busca de todo existente. O seu ímpeto
de realizações, sua ânsia de ser mais, de se expandir até os limites de sua própria
pessoa e, até mesmo, superá-los, quando possível, o tornam um homem virtuoso
que sabe viver sabiamente e ser feliz.
Nós, seus familiares e amigos, o saudamos com emoção e alegria e nos
jubilamos por podermos partilhar de sua brilhante existência.
Recife, 12 de janeiro de 2009.
Evânia Pincovsky.
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