CORRELAÇÃO ENTRE AS LIMITAÇÕES E A QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES COM DOENÇA RENAL CRÔNICA DA HEMODIÁLISE DE PARACATU-MG Nathália Gonçalves Dias1 Andréia do Couto Morais2 Emerson Alexandre de Sales Junior 3 Isabela Cristina Roriz Franco 4 Talitha Araújo Faria5 Helvécio Bueno6 RESUMO A Doença Renal Crônica é uma síndrome onde há perda funcional gradual e irreversível dos rins. A partir do momento em que a filtração glomerular é prejudicada e os rins não conseguem mais manter a homeostase, muitos pacientes passam a necessitar de tratamentos alternativos como hemodiálise ou transplante. Assim, nessa síndrome, as alterações fisiológicas e o prolongado tratamento e procedimento de hemodiálise, acaba por privar o paciente em suas atividades físicas, sociais e nutricionais diárias. Além disso, acarreta a perda da força muscular e alterações psicológicas, que interferem diretamente na qualidade de vida do paciente. Assim, este projeto será desenvolvido para um maior conhecimento acerca da realidade do paciente renal crônico em tratamento hemodialítico, atendido na Hemodiálise de Paracatu-MG, para identificar suas limitações diárias e correlacioná-las com sua qualidade de vida. Caracterizada por uma pesquisa descritiva transversal, que pretende trabalhar com todos os assistidos na unidade de Hemodiálise de Paracatu-MG, e que estejam dispostos a participar do estudo, por meio da coleta da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Como instrumento de coleta será utilizado o questionário Kidney Disease and Quality-of-Life Short Form (KDQOL-SF), genérico do SF-36, composto por 36 itens que 1 Graduanda do 2º ano do Curso de Medicina da Faculdade Atenas (FA). Paracatu, MG, Brasil,Rua Paracatu, nº250, bairro Alto São João. Montes Claros – MG, Brasil, [email protected], Telefone: (38) 91908321 2 Graduanda do 2º ano do Curso de Medicina da Faculdade Atenas (FA). Paracatu, MG, Brasil, [email protected],Telefone: (38) 8836-2626, 3 Graduando do 2º ano do Curso de Medicina da Faculdade Atenas (FA). Paracatu, MG, Brasil [email protected], 4 Graduanda do 2º ano do Curso de Medicina da Faculdade Atenas (FA). Paracatu, MG, Brasil, [email protected], Telefone: (38) 9212-1065 5 Professora Orientadora do Curso de Medicina da Faculdade Atenas (FA). Paracatu, MG, Brasil, 6 Professor Orientador do Curso de Medicina da Faculdade Atenas (FA). Paracatu, MG, Brasil. avaliam oito domínios, que são: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. O questionário será aplicado em forma de entrevista entre agosto e setembro de 2014, para que, posteriormente, seus dados sejam tabulados e inseridos no programa Microsoft Excel (2013). Palavras-chave: hemodiálise, qualidade de vida, limitações. ABSTRACT Chronic Kidney Disease is a syndrome where there is gradual and irreversible loss of function of the kidneys. From the moment that is impaired glomerular filtration and kidneys can no longer maintain homeostasis, many patients are in need of alternative treatments such as hemodialysis or transplantation. Thus, in this syndrome, physiological changes and prolonged treatment and hemodialysis procedure, ultimately deprive the patient in their physical activities, social and daily nutritional. It also entails the loss of muscle strength and psychological changes that directly affect the quality of life of the patient. This project will be developed to increase knowledge about the reality of chronic renal patients on hemodialysis, served in Hemodialysis Paracatu-MG, to identify their daily limitations and correlate them with their quality of life. Characterized by a cross-sectional descriptive study, which aims to work with all assisted in Hemodialysis unit Paracatu-MG, and who are willing to participate in the study by collecting the signature of the Informed Consent Form (ICF). As collection instrument will use the questionnaire Kidney Disease and Quality-of-Life Short Form (SFKDQOL), generic SF-36, composed of 36 items that evaluate eight domains, which are: physical functioning, bodily pain, general state of health, vitality, social functioning, emotional and mental health. The questionnaire will be an interview in August and September 2014, so that, later, your data is tabulated and entered into the Microsoft Excel program (2013). Keywords: hemodialysis, quality of life, limitations. INTRODUÇÃO A Doença Renal Crônica diz respeito a uma síndrome de perda funcional gradual e irreversível dos rins. Entretanto, a partir do momento em que os rins não conseguem manter a homeostase do indivíduo, a doença passa a ser caracterizada como Insuficiência Renal Crônica (IRC) (JUNIOR, 2004). Nessa síndrome, a filtração glomerular é prejudicada limitando o paciente em suas atividades diárias e acarretando mudanças e privações em fatores biológicos, psicológicos e sociais. (LOPES, 2009; SANTOS, ROCHA E BERARDINELLI, 2011). Em virtude desta má filtração, há o acúmulo de substâncias tóxicas no organismo, ocasionando a uremia, que é descrita como o aglomerado de elementos nocivos no sangue que deveriam ser eliminados pelos rins (MESQUITA et al., 2000). Devido a essa irreversibilidade, a maior parte desses pacientes progride necessitando de um tratamento alternativo, como hemodiálise ou transplante renal (KAMIMURA et al., 2004). Os pacientes em diálise quase sempre passam por um período de negação, além do convívio contínuo do desenvolvimento da doença, refletindo assim em sua qualidade de vida (CASTRO, 2003). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a qualidade de vida é definida como a forma do indivíduo em perceber sua posição na vida, agrupando a cultura e o sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus propósitos, expectativas, padrões e preocupações (THE WHOQOL GROUP, 1995 apud FLECK, 2000). Atualmente, mesmo com progressos tecnológicos e terapêuticos em relação à diálise prolongando a vida desses pacientes, esse tratamento não é capaz de proporcionar a vida que possuía anterior a esta moléstia (SILVA, 2007). Mesmo tratando adequadamente, podem apresentar fadiga, perda acentuada de apetite, perda de peso, enjoos, insônia e prejuízos mentais (BARROS, 1999). A IRC tem efeito que emerge a qualquer momento da vida do paciente, modificando a sua saúde e a dos que estão a sua volta. E a forma como os renais crônicos irão encarar a doença diz respeito ao próprio indivíduo (BARBOSA E VALADARES, 2009). Pacientes crônicos apresentam muitas dificuldades, pois acarretam variações na alimentação e exercícios físicos, medicamentos regulares assim como a dependência de outras pessoas. Com o aumento da idade também aumentam as dificuldades encontradas, principalmente devido a perda parcial das suas funções, deixando-os com ainda mais restrições (KUSUMOTO et al., 2008; BARBOSA E VALADARES, 2009). É comum no paciente em hemodiálise, o estado de depressão e impotência frente a um tratamento tão complicado. Mas lentamente percebem a real importância do tratamento aceitando o tratamento a que serão submetidos. Esse processo de aceitação envolve tentar retomar as atividades que eram feitas normalmente antes de se iniciar o tratamento. Os exercícios físicos são um dos principais fatores que contribuem para essa aceitação do paciente (BARBOSA E VALADARES, 2009). Além dessa importante contribuição, exercícios físicos feitos de maneira adequada durante a hemodiálise trazem inúmeros outros benefícios para o paciente. A diminuição da pressão arterial, a melhora da função cardíaca, o aumento de força e resistência relacionados ao sistema muscular e o aumento da capacidade funcional são exemplos desses benefícios. Através disso há a melhora da qualidade e expectativa de vida dos pacientes (KIRCHNER, 2011). Em síntese, frente a essa doença irreversível, o paciente em tratamento hemodialítw.gico se vê refém de um programa demorado, desconfortável e angustiante que gera ainda maiores modificações fisiológicas e limitações nas suas ações físicas, sociais e nutricionais diárias; e influencia tanto na própria qualidade de vida quanto na da sua família, pois se sentem pessoas suscetíveis a quaisquer incidentes, inclusive, à morte (HIGA et al., 2007). E em meio a isso, este trabalho tem por objetivo identificar e correlacionar tais limitações com a qualidade de vida dos pacientes com Doença Renal Crônica da Hemodiálise de Paracatu-MG, para, além disso, apresentar e estimular estes a prática de alguns exercícios físicos que visão melhorar sua capacidade funcional. MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo, transversal que, segundo Castro (2009), é uma pesquisa realizada para dimensionar, avaliar e observar as variáveis reunidas em um dado momento pelos entrevistadores, ou seja, trabalhar in loco. Após o levantamento dos pacientes com Doença Renal Crônica que realizam tratamento na Hemodiálise (HD) de Paracatu-MG, teve a pretensão trabalhar com todos os assistidos na unidade e que estavam dispostos a participar do estudo, por meio do questionário, após a coleta da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sem distinção de faixa etária. Havia na totalidade 51 pacientes renais crônicos, com quem foram realizados a pesquisa. Como instrumento de medida de qualidade de vida foi utilizado o questionário Kidney Disease Quality of Life Short Form - KDQOL-SF, contendo 80 itens incluindo o Short Form-36 (SF-36) mais 43 itens sobre a DRC. O SF-36 avaliam oito domínios subdivididos em: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde que representa o componente de saúde física (CSF) e o componente de saúde mental (CSM) que engloba: vitalidade, aspectos sociais, limitações por aspectos emocionais e saúde mental. O módulo sobre a DRC inclui 11 dimensões: sintomas/problema, consequências e sobrecarga da doença, função cognitiva e sexual, a interação social e o sono. São incluídas também o suporte social, o incentivo da equipe de HD e o contentamento do paciente. Os escores dos itens desse questionário variam entre 0 e 100; os valores menores correspondem à qualidade de vida relacionada à saúde menos favorável, enquanto que os escores mais elevados refletem melhor qualidade de vida relacionada à saúde (HAYS et al., 1994). O questionário foi aplicado em forma de entrevista entre agosto e setembro de 2014. Dentre os componentes do grupo, foram formadas duplas que iam ao início de cada sessão, de todos os turnos, para realizar a entrevista. Pretendeu-se assim fazer a coleta na unidade de HD nos horários em que os pacientes estavam realizando o tratamento dialítico, que, de acordo com a Hemodiálise de Paracatu-MG, estão distribuídos em três turnos, sendo o primeiro de 7:00 às 11:30hs e os seguintes nos horários de 12:00 às 16:30hs e 17:00 às 21:30. Os turnos são organizados em dois grupos de dias: Segunda-Quarta-Sexta e Terça-Quinta-Sábado. O projeto de pesquisa foi passado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Atenas. Os dados do projeto foram tabulados e inseridos no programa Microsoft Excel (2013). RESULTADO E DISCUSSÃO A partir da aplicação do questionário em 46 pacientes hemodialíticos, que se dispuseram a participar da pesquisa, foi possível levantar dados e quantifica-los quanto à qualidade de vida e, em cima disso, fazer as devidas correlações. Um dado muito importante avaliado no questionário foi em relação ao estado de saúde geral do paciente. Dos 46 entrevistados, 60,87% diz ter uma saúde boa. Ainda em relação ao estado de saúde geral, 34,78% do total, afirma que sua saúde está melhor que há 1 ano atrás e 30,44% que sua saúde está pior que 1 ano atrás. Conforme a tabela 1, das dificuldades mais comuns em pacientes da Hemodiálise, 86,95% se referiam a atividades que requeriam muito esforço, 58,69% em levantar ou carregar compras de supermercado, subir vários lances de escadas e sentiam dificuldades ao caminhar vários quarteirões. No último mês, 54,34% das pessoas relatam ter feito menos coisas que gostaria. Os pacientes homodialíticos convivem com diversas limitações no dia a dia e alterações biológias, sociais e psicológicas que interferem diretamente no estilo de vida, sao elas: desemprego, mudança visual, limitação alimentar e de líquidos (MARTINS E CESARINO, 2005 apud SHILDER, PETERSON E KIMEL, 1998; LAW, 2002). Tabela 1. Dificuldades mais comuns e em que interferem Estado de saúde atual Atividades que requerem muito esforço Atividades moderadas Levantar compras de supermercado Subir vários lances de escada Subir um lance de escada Inclinar-se ou curvar-se Caminhar vários quarteirões Caminhar um quarteirão Tomar banho ou vestir-se Ultimas 4 semanas Reduziu o tempo de trabalho ou outras atividades Fez menos coisas que gostaria Dificuldade no trabalho ou outra atividade Realizou mais esforço ao trabalhar Devido a problemas emocionais nas 4 ultimas semanas Reduziu o tempo de trabalho ou outras atividades Fez menos coisas que gostaria Trabalhou com menos atenção que de costume Sim 86,95% 41,30% 58,69% 58,69% 15,21% 52,17% 58,69% 26,80% 15,21% Não Branco 13,04% 0% 58,69% 0% 41,30% 0% 36,95% 4,34% 82,60% 2,17% 47,82% 0% 41,30% 0% 73,91% 0% 82,60% 2,17% 36,95% 54,34% 32,60% 45,65% 60,86% 43,47% 65,21% 54,34% 2,17% 2,17% 2,17% 0% 32,60% 65,21% 43,47% 56,53% 28,26% 67,39% 2,17% 0% 4,34% Doentes renais crônicos sofrem várias modificações no meio social, no emprego, na aliemntação e na sexualidade, que trazem mudanças no equilíbrio corpóreo e emotivo. O distanciamento dos doentes das pessoas ao seu redor causa danos no corpo e restrições. Defronte isso, o paciente se sente prejudicado porque sua vida irá mudar (OLIVEIRA E MARQUES, 2011). No que diz respeito a quanto o estado de saúde dos pacientes interferiu, durante as 4 últimas semanas, nas atividades sociais normais com família, amigos ou vizinhos e no seu trabalho habitual, pode-se encontrar na tabela 2 os valores percentuais atribuídos à interferência dos problemas com a saúde física ou emocional e à interferência da dor nessas atividades, respectivamente. Tabela 2. Interferência da doença nas atividades sociais Interferência por problemas de saúde física e mental Interferência de dor nos trabalhos habituais Nada Moderadamente Bastante 56,50% 28,30% 15,20% 45,70% 43,50% 10,90% A maioria dos pacientes encara a hemodiálise como um tratamento doloroso, sofrido, angustiante, com limitações físicas, sociais e nutricionais, dificultando a interação paciente-sociedade-familia (HIGA et al., 2008). Embora, no presente estudo, os resultados evidenciarem que para tal demanda, tais problemas pouco interferem nas atividades sociais ou nos trabalhos habituais. Mas, deve-se ressaltar e levar em consideração que, para muitos dos entrevistados, os problemas de saúde físicos ou emocionais e a dor nada interferem nas suas atividades, porque há muito tempo eles já deixaram de realizá-las e, portanto, não as veem como incômodo ou empecilho. Dentre os 46 pacientes entrevistados 19,56% relatam não sentir dor alguma, 47,82% sentiu dores leves e 32,60% sentiram dores intensas nas 4 últimas semanas. Em relação a saúde física ou emocional 50% dizem não terem interferido em suas atividades sociais, 32,61% e 17,39% dizem terem interferido as vezes e todo o tempo, respectivamente, em suas atividades sociais. A grande maioria de pacientes submetidos a hemodiálise se queixam de dores musculares. Essas dores podem ser devido às cãibras, bastante comum durante o tratamento. Ainda não se sabe ao certo sua patogenia, porém acredita-se que esteja relacionada com a ultrafiltração, hipotensão e a baixa de sódio no sangue. Além de cãibras, é possível relacionar essa manifestação muscular à hiperparatireoidismo secundário, intoxicação por alumínio e gota (AJZEN E SCHOR, 2002; NASCIMENTO E ISAAC, 2005; VIEIRA et al., 2005). A tabela 3 mostra que 73,91% acham que a doença renal interfere demais em sua vida. Apesar dessa interferência, 89,13% se sentiram calmos e tranquilos e 82,61% se sentiram felizes nessas 4 últimas semanas. Tabela 3.Saúde dos hemodialíticos Como se se sentem no dia a dia Fica mais doente Tão saudável quanto qualquer pessoa Acredita que a saúde vai piorar A saúde está excelente A doença interfere demais na sua vida Muito tempo é gasto com a doença Se sente decepcionado em lidar com a doença Se sente um peso para a família Durante as 4 últimas semanas Se sentiu muito nervoso Se sentiu "para baixo" Se sentiu calmo e tranquilo Teve muita energia Se sentiu desanimado e deprimido Se sentiu esgotado Se sentiu feliz Se isolou das pessoas ao redor Se irritou com pessoas próximas Teve dificuldade em concentrar Se relacionou bem com as pessoas Se sentiu confuso Sim 28,26% 50% 23,91% 30,43% 73,91% 67,39% 39,13% 34,78% 43,48% 34,78% 89,13% 36,96% 36,96% 54,35% 82,61% 8,70% 39,13% 28,26% 91,30% 28,26% Não Branco 69,57% 2,17% 50% 76,09% 69,57% 26,09% 32,61% 60,87% 65,22% 56,52% 65,22% 10,87% 63,04% 63,04% 45,65% 17,39% 91,30% 60,87% 71,74% 8,70% 71,74% Muitos pacientes submetidos à hemodiálise podem desenvolver depressão, se isolar e encontrar dificuldades no tratamento. Ao cuidar da saúde emocional, muitas vezes é dada a oportunidade de compartilhar as dificuldades, ajudando a enfrentar a doença de forma mais positiva, contribuindo para um tratamento mais eficaz (KOEPE E ARAÚJO, 2008; RODRIGUES E BOTTI, 2009). Os pacientes que fazem hemodiálise enfrentam muitos problemas no seu dia-adia. Pode-se perceber na tabela 4, que 63% dos pacientes se queixam de dores musculares e que 69,6% eles se sentem incomodados com a diminuição de líquido. Além disso, podemos ver que 50% deles tem dificuldade para voltar a dormir quando acordam durante a noite. Tabela 4. Nível de incômodo da doença Nas 4 últimas semanas Dor muscular Dor no peito Cãimbras Coceira na pele Pele seca Sim 63% 28,30% 45,60% 43,50% 67,40% Não 37% 71,10% 54,40% 56,50% 32,60% Falta de ar Fraqueza ou tontura Falta de apetite Esgotamento Formigamento Indisposição estomacal Problemas com a fístula Principal incômodo dos pacientes Diminuição de líquido Diminuição alimentar Capacidade de trabalhar em casa Capacidade de viajar Depender de médicos e outros profissionais de saúde Estresse ou preocupação por causa da doença renal Vida sexual Aparência pessoal Em relação ao sono do paciente Acordou durante a noite e teve dificuldade em voltar a dormir Dormiu pelo tempo necessário Teve dificuldade em se manter acordado durante o dia 23,90% 60,90% 39,10% 52,20% 37% 47,80% 19,60% 76,10% 39,10% 60,90% 47,80% 63% 52,20% 80,40% 69,60% 45,60% 54,40% 54,40% 37% 45,60% 54,40% 43,50% 30,40% 54,40% 45,60% 45,60% 63% 54,40% 45,60% 56,50% 50% 50% 60,90% 39,10% 19,60% 80,40% Outros estudos mostraram que as principais complicações durante a realização da hemodiálise são as seguintes: hipotensão (20% a 30% das diálises), câimbras (5% a 20%), náuseas e vômitos (5% a 15%), cefaleia (5%), dor no peito (2% a 5%), dor lombar (2% a 5%), prurido (5%), febre e calafrios (menos que 1%) (DAUGIRDAS E ING, 1999). Esses resultados são condizentes entre os dois trabalhos, mostrando que grande parte dos pacientes sentem câimbras, náuseas e vômitos. Pode-se perceber que a grande maioria dos pacientes se sentem satisfeitos com a quantidade de tempo que passam com suas famílias e com o apoio que recebem das mesmas, o que pode contribuir para a melhora da qualidade de vida desses pacientes. Em relação a qualidade do sono dos pacientes, 30,43% relataram ter uma qualidade muito boa. Já 19,56% relataram possuir uma qualidade mediana enquanto apenas 4,34% relatam sono muito ruim. Gráfico 1 – Avaliação da qualidade do sono 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Após a aplicação e tabulação sobre a questão de realização de trabalho remunerado, foi possível evidenciar que, durante as 4 últimas semanas, 86,9% dos pacientes não receberam dinheiro para trabalhar, contrastando com os 13,1% que declararam o contrário. Ao passo que, quando questionados se o estado de saúde os impossibilitou de ter um trabalho pago, foi possível constatar que 58,7% afirmaram que sim e 41,3% afirmaram que não houve essa interferência. Sabe-se que cerca de 2/3 dos pacientes em diálise não retornam para o emprego que exerciam antes do diagnóstico. Visto que, a condição física do paciente está bastante comprometida, impedindo que essa população realize atividades funcionais primordiais ao trabalho. Tal situação provoca conflitos psicológicos, que prejudicam na evolução do quadro clínico desses pacientes, por não mais conseguirem realizar atividades remuneradas (FRAZÃO, RAMOS E LIRA, 2011; THOMÉ et al., 2006). Dentre os vários questionamentos feitos aos pacientes da Hemodiálise de Paracatu - MG foi solicitado que estes avaliassem seu estado de saúde geral atribuindo uma nota, numa escala de zero a dez, onde 0 era “a pior possível” e 10 “a melhor possível”. Como visto no gráfico 2, foi possível quantificar o quão bom ou ruim os pacientes consideram sua saúde, levando-se em consideração que dois pacientes responderam em branco. Gráfico 2 - Avaliação geral do estado de saúde 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 A partir dele, então, inferiu-se que 38,63% dos pacientes, que responderam a essa pergunta, julgaram que sua saúde está em um meio termo entre pior e melhor. Segundo Lima 2000, em um estudo onde se avaliou a qualidade de vida de pacientes no serviço de hemodiálise, os pacientes relataram que o tratamento lhes possibilita o bem-estar físico e o prolongamento da vida4. Portanto, ainda que tenham conhecimento dos benefícios do tratamento e que estado de saúde geral desses pacientes tenha melhorado, evidencia-se a presença de sentimentos quanto ao quadro irreversível da doença, a dependência do tratamento e as dificuldades habituais, além dos diferentes significados que a hemodiálise tem para cada entrevistado, os quais interferem na consideração particular de cada paciente sobre seu estado de saúde. Um importante item avaliado foi a relação dos pacientes com suas famílias. Entre todos os entrevistados, 91,3% disseram estar satisfeitos com a quantidade de tempo que passam com seus familiares e amigos. Entretanto, 10,9% revelou estar insatisfeito com o apoio que recebe desses familiares e amigos. Sabe-se que a hemodiálise é um tratamento que debilita muito o paciente. Essa debilitação não se restringe apenas às questões físicas, englobando também muitos problemas psicológicos. É comprovada a importância da participação da família no amparo do paciente com IRC, pois como são eles que estão em maior contato com esses pacientes durante o dia, eles conseguem de maneira mais afetiva que o paciente se sinta menos inseguro e sozinho e se sinta mais otimista (RAMOS et al., 2008). Pode-se perceber que a grande maioria dos pacientes se sentem satisfeitos com a quantidade de tempo que passam com suas famílias e com o apoio que recebem das mesmas, o que pode contribuir para a melhora da qualidade de vida desses pacientes. Ao questionarmos se as pessoas que trabalham na hemodiálise os encorajam a ser mais independentes, 84,8% dos pacientes responderam que sim. Já ao indagarmos se as pessoas que trabalham na hemodiálise os ajudam a lidar com a doença renal, apenas 6,5% dos pacientes responderam que não sentem essa ajuda. Cuidar do paciente vai muito além e exercer as técnicas necessárias para o seu tratamento, envolve também uma relação de confiança entre paciente e os profissionais, principalmente se levarmos em conta todas as complicações resultantes da hemodiálise (RODRIGUES E BOTTI, 2009). Por isso é muito importante que os profissionais que trabalham na hemodiálise estabeleçam uma boa relação com os pacientes, para que esses se sintam acolhidos e tenham uma possível melhora na sua qualidade de vida. Os pacientes foram interrogados sobre como eles classificariam a amizade e o interesse dos profissionais que trabalham na hemodiálise. Pode-se ver no gráfico 3 que 50% dos pacientes classificaram como excelente e que apenas 2% classificaram como ruim. Gráfico 3 - Satisfação com o atendimento dos proficionais da Hemodiálise 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Ruim Regular Boa Ótima Excelente O estudo ainda contou com algumas perdas por motivos de não adesão e paciente em procedimento cirúrgico no momento da coleta, o que contabilizou 5 perdas amostrais. CONCLUSÃO Esta pesquisa analisou o estilo de vida dos pacientes atendidos na Hemodiálise de Paracatu-MG. Identificou as dificuldades em conciliar outras atividades como trabalho, estudos, viagens e atividades rotineiras, com o tratamento. Além disso, identificou limitações corriqueiras como dores musculares, câimbras, náuseas e vômitos, diminuição de líquido e cansaço. Mas um fato relevante neste estudo foi perceber que muito dos itens questionados, mesmo os relacionados à saúde emocional que comumente são os mais conflituosos, trouxeram respostas positivas, apesar do quadro de debilidade do paciente. Portanto, concluise que para muitos hemodialíticos os problemas de saúde físicos ou emocionais já pouco interferem nas suas atividades habituais, porque há muito tempo deixaram de realizá-las ou não as veem como incômodo e/ou empecilho. Assim concluímos o trabalho, vendo que os pacientes hemodialíticos são instruídos e tem consciência das suas restrições. Mas faz-se necessário a realização de mais estudos e atividades que possam auxiliar e amenizar alguns efeitos do tratamento. Por exemplo, estudos que tragam um plano alimentar adequado a sua condição de saúde e vida, para uma maior aceitação e satisfação do paciente. Assim como, estudos que avaliem o principal desconforto durante o procedimento de hemodiálise, para a partir disso desenvolver ações que possam amenizá-lo da melhor forma. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AJZEN, Horácio, SCHOR Nestor. Nefrologia. São Paulo: Manole; 2002. BARBOSA, Genesis de Souza; VALADARES, Glaucia Valente. Hemodiálise: estilo de vida e adaptação do paciente. Acta Paulista de Enfermagem 2009, v.22, pp. 524-7. BARROS, Elvino; MANFRO, Roberto; THOMÉ, Fernando; GONÇALVES, Luis Felipe. Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. 2 ed., Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1999. CASTRO, Mônica de; CAIUBY, Andrea Vannini Santesso; DRAIBE, Sergio Antonio; CANZIANI, Maria Eugênia Fernandes. Qualidade de vida de pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise avaliada através do instrumento genérico SF- 36. Rev Assoc Med Bras 2003, v.49, n.3, pp. 245-9. CASTRO, Renata da Nóbrega Souza de. Correlação entre a força de preensão palmar e a força da musculatura respiratória em mulheres asmáticas e não asmáticas. 2009, Dissertação (Pós-Graduação). Universidade Católica de Brasília. DAUGIRDAS, John T.; ING, Todd S. Manual de diálise. 2 ed, Rio de Janeiro: Medsi; 1999. FLECK, Marcelo Pio de Almeida. O instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-100): características e perspectivas. Ciênc. Saúde Coletiva 2000, v.5, n.1, pp. 33-8. FRAZÃO, Cecília Maria Farias de Queiroz; RAMOS, Vânia Pinheiro; LIRA, Ana Luisa Brandão Carvalho. Qualidade de vida de pacientes submetidos a hemodiálise. Ver. Enferm. UERJ 2011, v.19, n.4, pp. 577-82. HAYS, R. D.; KALLICH, J. D.; MAPES, D. L.; COONS, S. J.; CARTER, W. B. Development of the Kidney Disease Quality of Life (KDQOLTM) Instrument. Quality of Life Research 1994, v.3, pp. 329-38. HIGA, Karina; KOST, Michele Tavares, Soares; SOARES Dora Mian; MORAIS, Marcos César de; POLINS, Bianca Regina Guarino. Qualidade de vida de pacientes portadores de insuficiência renal crônica em tratamento de hemodiálise. Acta Paul. Enferm 2008, v.21(Número Especial), pp. 203-6. JUNIOR, João Egidio Romão. Doença Renal Crônica: Definição, Epidemiologia e Classificação. J Bras Nefrol. 2004, v.26, n.3, pp. 1-3. KAMIMURA, Maria Ayako; DRAIBE, Sergio Antônio; SIGULEM, Dirce Maria; CUPPARI, Lílian. Métodos de avaliação da composição corporal em pacientes submetidos à hemodiálise. Rev Nutr. 2004, v.1, n.17, pp. 97-105. KIRCHNER, Rosane Maria; MACHADO, Renata Figueira; LÖBLER, Lisiane; STUMM, Eniva Miladi Fernandes. Análise do estilo de vida de renais crônicos em hemodiálise. O Mundo da Saúde 2011, v.35, n.4, pp. 415-21. KUSUMOTO, Luciana; MARQUES, Sueli; HAAS, Vanderlei José; RODRIGUES, Aparecida Paterzani. Adultos e idosos em hemodiálise: avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde. Acta Paul. Enferm 2008, v.21(Número Especial), pp.152-9. LAW, Mary. Participation in the occupations everyday life. Am J Occup Ther 2002 February; v.56, n.6, pp. 640-9. LIMA, Antônio Fernandes Costa. O significado da hemodiálise para o paciente renal crônico: a busca por uma melhor qualidade de vida [tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo 2000. LOPES, Antônio Carlos. Tratado de clínica médica. 2. ed., vol. 2, São Paulo: Rocca, 2009. MARTINS, Marielza R. Ismael; CESARINO, Claudia Bernardi. Qualidade de vida de pessoas com doença renal crônica em tratamento hemodialítico. Rev. Latino-am Enfermagem 2005, v.13, n.5, pp. 670-6. MESQUITA, Ricardo Alves de; CARVALHO, Artur Aburad de; PEREIRA, Aymann Nassif; ARAÚJO, Ney Soares de; MAGALHÃES, Maria Helena Cury Gallottyni. Considerações odontológicas no atendimento ambulatorial de pacientes com insuficiência renal crônica. Rev Pós-Grad 2000, v.7, pp.369-75. NASCIMENTO, Cristiano Dias; MARQUES, Isaac Rosa. Intervenções de enfermagem nas complicações mais freqüentes durante a sessão de hemodiálise: revisão da literatura. Rev Bras Enferm 2005, v.58, n.6, pp. 719-22. OLIVEIRA, Silvania Geremias; MARQUES, Isaac Rosa. Sentimentos do paciente portador de Doença Renal Crônica sobre a autoimagem. Rev Enferm UNISA 2011; v.12, n.1, pp. 38-42. RAMOS, Islane Costa; QUEIROZ, Maria Veraci Oliveira; JORGE, Maria Salete Bessa; SANTOS, Maria Lígia de Oliveira. Portador de insuficiência renal crônica em hemodiálise: significados da experiência vivida na implementação do cuidado. Maringá 2008, v.30, n.1, pp. 73-79. RODRIGUES, Tatiana Aparecida; BOTTI, Nadja Cristiane Lappann. Cuidar e o ser cuidado na hemodiálise. Acta Paul Enferm. 2009, v.22(Especial-Nefrologia), pp. 528-30. SANTOS, Iraci dos; ROCHA, Renata de Paula Faria; BERARINELLI, Lina Márcia Miguéis. Qualidade de vida de clientes em hemodiálise e necessidades de orientação de enfermagem para o autocuidado. Esc Anna Nery Enferm 2011, v.15, n.1, pp. 31-8. SILVA, Fabiana Almeida da; SALIMENA, Anna Maria de Oliveira; MELO, Maria Carmem Simões Caroso de. Conhecendo as práticas do autocuidado nos portadores de insuficiência renal crônica em hemodiálise: implicações para a enfermagem. Enferm Atual 2007, v.41, pp.25-9. THOMÉ, Fernando Saldanha; GONCALVES, Luis Felipe Santos; MANFRO, Roberto Ceratti; BARROS, Elvino. Doença renal crônica. Nefrologia: rotinas, diagnósticos e tratamento. 3a ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas Sul 2006. p. 381-404. VIEIRA, Walber Pinto; GOMES, Kirla Wagner Poti; FROTA, Niedja Bezerra; ANDRADE, José Eyorand Castelo Branco; VIEIRA, Rejane Maria Rodrigues Abreu; MOURA, Fracisca Edwiges Araújo; VIEIRA, Francisco José Fernades. Manifestações musculoesqueléticas em pacientes submetidos à hemodiálise. Rev Bras Reumatol 2005, v.45, n.6, pp. 357-364.