Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores

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Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Análise da insegurança alimentar e nutricional e
fatores associados em domicílios com adolescentes de
municípios da área de abrangência da BR 163 –
Mato Grosso, Brasil
Lúcia Dias da Silva Guerra
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva do Instituto de
Saúde Coletiva – UFMT, como parte dos
requisitos para obtenção do Título de Mestre em
Saúde Coletiva
Área de concentração: Saúde Coletiva
Linha de Pesquisa: Alimentação, Nutrição e
Promoção da Saúde
Orientador: Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa
Co-orientadora: Profª Drª Aída Couto D. Bezerra
Cuiabá-MT
2011
Análise da insegurança alimentar e nutricional e
fatores associados em domicílios com adolescentes de
municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato
Grosso, Brasil
Lúcia Dias da Silva Guerra
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva do Instituto de
Saúde Coletiva – UFMT, como parte dos
requisitos para obtenção do Título de Mestre em
Saúde Coletiva
Área de concentração: Saúde Coletiva
Linha de Pesquisa: Alimentação, Nutrição e
Promoção da Saúde
Orientador: Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa
Co-orientadora: Profª Drª Aída Couto D. Bezerra
Cuiabá-MT
2011
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte
G934a Guerra, Lúcia Dias da Silva.
Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados
em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência
da BR 163 - Mato Grosso, Brasil / Lúcia Dias da Silva Guerra. -- 2011.
176 f. : il. color. ; 30 cm.
Orientador: Mariano Martínez Espinosa.
Co-orientadora: Aída Couto D. Bezerra.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso,
Instituto de Saúde Coletiva, Programa de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva, Cuiabá, 2011.
Inclui bibliografia.
1. Segurança alimentar. 2. Insegurança alimentar – Adolescentes. 3.
Insegurança alimentar – Mato Grosso. 4. Insegurança nutricional. 5.
Alimentação adequada – Direito humano. I. Título.
CDU 614.31:613.2-053.6(817.2)
Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099
Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte
É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma
impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida
exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a
identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação.
Dedico esta Dissertação,
Á Deus, Jesus e Maria, meu porto seguro, meu refúgio, fontes
de sabedoria, coragem e vitória! ao Espírito Santo pela
inspiração e dons recebidos...
Aos meus familiares, meus pais Sildiná e João, minha irmã
Bruna Íris.
Á todos que pelo caminho, decoraram o jardim da minha vida
até aqui...
AGRADECIMENTOS
Á Deus pelo zelo e cuidado, comigo e minha família, permitindo que eu construísse
esse caminho.
Á Universidade Federal de Mato Grosso, por ser para mim um celeiro de
oportunidades.
Ao Instituto de Saúde Coletiva, Professores e Secretários (Jurema e Hailton), pelo
acolhimento, pela dedicação, por me auxiliarem sempre.
Ao meu orientador Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa, pela dedicação, pelos
ensinamentos desde a iniciação científica, pela amizade e exemplo.
Á minha Co-orientadora Profª. Drª Aída Couto Dinucci Bezerra, pelos
ensinamentos desde a graduação, pela dedicação, amizade e exemplo.
Á minha turma de mestrado/2009 e a turma de mestrado/2010, pelo convívio, pelas
alegrias, partilhas e comemorações.
Ao Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional/NESAN,
professores, bolsistas, mestrandos, por terem me ensinado a ser também uma
pesquisadora.
Á Faculdade de Nutrição, pelos professores e técnicos, que nas visitas e convívios
esporádicos puderam partilhar comigo meus sonhos e o meu crescimento.
Á toda(o)s minha(o)s querida(o)s amiga(o)s que construí durante esses anos que
permaneci em Cuiabá-MT.
Não sei
Não sei ... se a vida é curta
ou longa demais pra nós.
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita.
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja curta,
nem longa demais.
Mas que seja intensa
Verdadeira, pura ...
Enquanto durar.
(Cora Coralina)
Guerra LDS. Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em
domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 –
Mato Grosso, Brasil [dissertação de mestrado]. Cuiabá/MT: Instituto de Saúde
Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso; 2011.
Resumo
Introdução - A insegurança alimentar e nutricional é uma questão multidimensional
que se configura como um problema de saúde mundial e está diretamente relacionada
com a luta pelo Direito Humano a Alimentação Adequada. Objetivo - Analisar a
situação de insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em domicílios
com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso.
Métodos - Estudo transversal, realizado por meio de inquérito domiciliar, com
amostra de 391 domicílios com 592 adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos,
pertencentes a famílias da área urbana dos municípios de Alta Floresta, Diamantino,
Sinop e Sorriso. A situação de insegurança alimentar dos domicílios foi investigada
através da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Na análise dos dados foram
utilizadas estatísticas descritivas e estatísticas inferenciais como razão de prevalência
com seus respectivos intervalos de confiança de 95% e por meio do teste de quiquadrado (χ2) de Pearson verificou-se a associação entre as variáveis, com nível de
significância de p<0,05. Para comparar em média a frequência de disponibilidade e
consumo de alimentos nos domicílios, uma análise da variância múltipla foi
utilizada, considerando um nível de significância de p<0,05. Posteriormente realizouse análise de regressão múltipla de Poisson. Resultados - Dos domicílios estudados
51,8% estavam em situação de insegurança alimentar e nutricional (28,7% em
insegurança leve, 14,3% insegurança moderada, 8,8% insegurança grave). Dos
adolecentes, 52,6% eram do sexo feminino, 50,7% tinham idade entre 10 e 14 anos,
64,7% eram de cor não branca, 50,0% tinha escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo.
Quanto ao estado nutricional: 82,3% estavam eutróficos, 10,5% em sobrepeso, 4,0%
baixo peso e 3,2% apresentaram obesidade. Nos domicílios em que estava presente a
situação de insegurança alimentar, houve maior disponibilidade de alimentos
energéticos (pães, cereais, raízes e tubérculos, óleos e gorduras, açúcar e doces) e
leguminosas. Sobre o consumo alimentar dos adolescentes, predominou alimentos
dos grupos: leguminosas, hortaliças, óleos e gorduras, açúcar e doces, refrigerantes,
sucos e infusões. Na análise da regressão múltipla de Poisson as variáveis que
mantiveram-se associadas a situação de insegurança alimentar foram: a renda
familiar per capita, a produção de alimentos no domicílio, o tempo de residência e
escolaridade do chefe da família. Conclusão – Os resultados sugerem a
implementação de políticas voltadas para a saúde pública, como políticas de
saneamento básico, ações educativas tanto no nível domiciliar, quanto individual
sobre alimentação e nutrição. É essencial a disceminação do conceito e o significado
da insegurança alimentar, bem como, informar o acesso a mecanismos sociais,
programas e serviços disponíveis à população, de forma que contribua para a
diminuição das desigualdades sociais e o combate a fome.
Descritores: insegurança alimentar, adolescentes, rodovia BR-163, consumo
alimentar, disponibilidade de alimentos.
Guerra LDS. Analysis of food and nutrition insecurity and factors associated with
adolescents in households of municipalities in the area of BR 163 - Mato Grosso,
Brazil [dissertation]. Cuiabá/MT: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade
Federal de Mato Grosso; 2011.
Abstract
Introduction – The food and nutrition insecurity is a multidimensional issue that is
configured as a global health problem and is directly related to the struggle for
Human Right to Adequate Food. Objective - To analyze the situation of food
insecurity and nutritional and factors associated with adolescents in households of
municipalities in the area of BR 163 – Mato Grosso, Brazil. Methods - Crosssectional study, conducted through a household survey with a sample of 391
households with 592 adolescents aged 10 to 19 years belonging to families of the
urban municipalities of Alta Floresta, Diamantino, Sinop and Sorriso. The food
insecure households was investigated by the Brazilian Food Insecurity Scale. In the
data analysis were used descriptive statistics and inferential statistics as prevalence
ratio with their respective confidence intervals of 95% and by the chi-square (χ2)
Pearson verified the association between variables, with level of significance of p
<0.05. To compare the average frequency of availability and food consumption in
households, a multiple analysis of variance was used, considering a significance level
of p<0,05. Subsequent analysis was performed using Poisson multiple regression.
Results - Of the households surveyed 51,8% were situation food and nutrition
insecurity (28,7% in mild insecurity, 14,3% insecurity moderate, 8,8% severe
insecurity). Among the adolescents, 52,6% were female, 50,7% were aged between
10 and 14 years, 64,7% were nonwhite, 50,0% had high school between 5 and 8
years of study, regarding nutritional status, 82,3% were eutrophic, 10,5% were
overweight, 4,0% underweight and 3,3% obese. In households where it was present
situation of food insecurity, was greater availability of energy foods (breads, cereals,
roots and tubers, oils and fats, sugar and sweets) and legumes. Of dietary intakes of
adolescents, between the consumption of legumes, vegetables, oils and fats, sugar
and sweets, soft drinks, juices and teas. In the analysis of Poisson multiple regression
10
the variables that were associated with food insecurity were: family income per
capita monthly, food production in households, duration of residence of head of
municipalities and schooling of household head. Conclusion - The results suggest
the implementation of policies for public health policies as sanitation, educational
activities both at household level, and individual food and nutrition. It is essential to
dissemination the concept and meaning of food insecurity, as well as informing the
access to social mechanisms, programs and services available to the population in
order to contribute to the reduction of social inequalities and fighting hunger.
Descriptors: hunger, public health, road BR-163, food consumption.
ÍNDICE
Pág.
1 INTRODUÇÃO
23
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
28
2.1 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA
28
(DHAA) E SEGURANÇA ALIMENTAR (SA)
2.2 ALIMENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR
37
2.3 INDICADORES PARA AVALIAR A SITUAÇÃO DE
40
INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
2.3.1 Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome
40
2.3.2 Pesquisas Antropométricas
42
2.3.3 Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos
43
2.4 ADOLESCÊNCIA
2.4.1 Estado Nutricional
2.5 CENÁRIO DOS MUNICÍPIOS ESTUDADOS – ÁREA DE
44
45
47
ABRANGÊNCIA DA RODOVIA BR-163
3 OBJETIVOS
51
3.1 OBJETIVO GERAL
51
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
51
4 MÉTODOS
53
4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
53
4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO
53
4.2.1 Municípios do estudo
55
4.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO
59
4.3.1 Critérios de Exclusão
59
4.4 PLANEJAMENTO AMOSTRAL
59
4.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO
62
4.5.1 Variável dependente
62
4.5.2 Variáveis independentes
64
4.5.2.1 Variáveis demográficas
64
4.5.2.2 Variáveis de migração
64
4.5.2.3 Variáveis socioeconômicas
64
4.5.2.4 Variáveis relacionadas às condições de moradia e
65
saneamento
4.5.2.5 Medidas antropométricas
65
4.5.2.6 Variáveis relacionadas à situação de insegurança alimentar
67
4.6 MODELO DE ANÁLISE
69
4.7 SELEÇÃO E TREINAMENTO DE ENTREVISTADORES, ESTUDO
71
PILOTO E TRABALHO DE CAMPO
4.8 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA A QUALIDADE DOS
71
DADOS
4.9 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS
72
4.10 ASPECTOS ÉTICOS
73
4.11 FINANCIAMENTO
73
5 RESULTADOS
5.1 PERFIL DA POPULAÇÃO DO ESTUDO SEGUNDO VARIÁVEIS
76
76
DEMOGRÁFICAS, SOCIOECONÔMICAS E VARIÁVEIS
RELACIONADAS AO DOMICÍLIO
5.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
79
DOS DOMICÍLIOS ESTUDADOS
5.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS,
85
CONSUMO ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL DOS
ADOLESCENTES
5.3.1 Disponibilidade de alimentos e consumo alimentar, comparando a
89
situação de segurança alimentar dos domicílios
5.4 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA
98
ALIMENTAR E NUTRICIONAL
5.4.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e
98
variáveis relativas ao domicílio
5.5 RESULTADOS DA REGRESSÃO MÚLTIPLA DE POISSON
101
6 DISCUSSÃO
104
6.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO
105
6.2 SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR NOS DOMICÍLIOS
108
6.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS,
113
CONSUMO E ESTADO NUTRICIONAL DOS ADOLESCENTES
6.4 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS E CONSUMO ALIMENTAR,
118
COMPARADO À SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR DOS
DOMICÍLIOS
6.5 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA
126
ALIMENTAR E NUTRICIONAL
6.5.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e
126
variáveis relativas ao domicílio
7 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES
134
7.1 CONCLUSÕES
134
7.2 RECOMENDAÇÕES
135
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
138
ANEXOS
Anexo 1 – Planejamento Amostral do Projeto Matriz
163
Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
172
Anexo 3 - Termo de Aprovação Ética do Projeto de Pesquisa
173
Anexo 4 - Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (2004)
174
Anexo 5 - Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (2010) e Pontuação para
175
classificação dos domicílios com e sem menores 18 anos de idade
Anexo 6 - Estágios da transição demográfica, epidemiológica e nutricional
176
Lista de Tabelas
Tabela 1 -
Número de domicílios com adolescentes segundo municípios
da área de abrangência da BR 163, considerando a perda de
domicílios por recusa ou ausência, Mato Grosso, 2006
Número de adolescentes, perdas por recusa ou ausência
segundo municípios da área de abrangência da BR 163, Mato
Grosso, 2006
Amostra de domicílios, indivíduos e amostra de adolescentes
entrevistados quanto ao consumo alimentar, segundo
municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso,
2006
Distribuição dos adolescentes e chefes das famílias, dos
municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso –
área de abrangência da BR-163 segundo variáveis
demográficas e socioeconômicas, Mato Grosso, 2007
Distribuição da renda, número de moradores, informações de
moradia e saneamento, produção de alimentos e participação
em programas sociais, dos domicílios com adolescentes de
municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso,
2007
Prevalência da situação de segurança alimentar em domicílios
dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso
- área de abrangência da BR 163 segundo a pontuação da
EBIA (2004) e da EBIA (2010)
60
Tabela 7 -
Freqüência de respostas positivas às perguntas da EBIA, em
domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino,
Sinop e Sorriso, Mato Grosso, 2007
81
Tabela 8 -
Distribuição da freqüência referida da disponibilidade de
alimentos nos domicílios segundo a situação de segurança
alimentar, em municípios da área de abrangência da BR 163,
Mato Grosso, 2007
Análise da variância do modelo linear da freqüência de
consumo por grupos de alimentos segundo a situação de
segurança alimenta dos domicílios
89
Distribuição da freqüência referida do consumo de alimentos
dos adolescentes, segundo a situação de segurança alimentar,
em municípios da área de abrangência da BR 163, Mato
Grosso, 2007.
93
Tabela 2 -
Tabela 3 -
Tabela 4 -
Tabela 5 -
Tabela 6 -
Tabela 9 -
Tabela 10 -
60
61
76
77
79
91
Tabela de análises da variância do modelo linear da
freqüência de consumo por grupo e por situação de segurança
alimentar
Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e pvalor da situação de segurança alimentar e nutricional
segundo informações dos adolescentes e informações do chefe
da família, de municípios da área de abrangência da BR-163,
Mato Grosso, 2007
95
Tabela 13 -
Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e pvalor da situação de segurança alimentar e nutricional
segundo variáveis sócio-demográficas e variáveis relacionadas
aos domicílios de municípios da área de abrangência da BR163, Mato Grosso, 2007
99
Tabela 14
Modelo final da regressão múltipla de Poisson: variáveis
associadas à situação de insegurança alimentar em domicílios
dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso
- Mato Grosso, 2007
101
Tabela 11 -
Tabela 12 -
98
Lista de Quadros e Figuras
Quadro 1 -
Pontuação para classificação dos domicílios com pelo menos
um morador menor de 18 anos de idade
63
Quadro 2 -
Pontuação para classificação dos domicílios com somente
moradores de 18 anos ou mais de idade
63
Quadro 3 -
Descrição da situação de segurança alimentar
63
Quadro 4 -
Pontos de corte de IMC por idade, estabelecidos para
adolescentes
67
Figura 1 -
Modelo esquemático dos níveis de determinação da
segurança alimentar e nutricional
29
Figura 2 -
O espaço social alimentar
38
Figura 3 -
Área de abrangência da BR 163
54
Figura 4 -
Localização geográfica do município de Alta Floresta - MT
55
Figura 5 -
Localização geográfica do município de Diamantino - MT
56
Figura 6 -
Localização geográfica do município de Sinop - MT
57
Figura 7 -
Localização geográfica do município de Sorriso - MT
58
Figura 8 -
Modelo de análise da situação de insegurança alimentar e
nutricional em domicílios com adolescentes
Representação da situação de segurança alimentar e
nutricional dos domicílios com adolescentes de municípios
da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007
Freqüência de respostas positivas para as 15 perguntas da
EBIA em domicílios dos municípios de Alta Floresta,
Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato Grosso, 2007
Freqüência de respostas positivas às perguntas 1, 3 e 4 da
EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência
da BR 163 - Mato Grosso, 2007
Freqüência de respostas positivas às perguntas 2, 5, 6, 7 e 8
da EBIA em domicílios de municípios da área de
abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007
Freqüência de respostas positivas às perguntas 9, 10, 11,12,
13, 14 e 15 da EBIA em domicílios de municípios da área de
abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007
Frequência da disponibilidade de alimentos em domicílios de
municípios da área de abrangência da BR 163, considerando
os principais grupos de alimentos, Mato Grosso, 2007
70
Figura 9 -
Figura 10 -
Figura 11 -
Figura 12 -
Figura 13 -
Figura 14 -
78
80
82
83
84
85
Figura 15 -
Frequência do consumo alimentar de adolescentes de
municípios da área de abrangência da BR 163, considerando
os principais grupos de alimentos, Mato Grosso, 2007
Frequência da disponibilidade de alimentos do Grupo 7
(óleos e gorduras) em domicílios de municípios da área de
abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007
Frequência do consumo alimentar para o Grupo 7 (óleos e
gorduras) de adolescentes de municípios da área de
abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007
Estado nutricional dos adolescentes de domicílios
pertencentes a municípios da área de abrangência da BR-163,
Mato Grosso, 2007
Frequência referida da disponibilidade de alimentos nos
domicílios em situação de insegurança e segurança alimentar
segundo os grupos de alimentos nos municípios da área de
abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007
86
Figura 20 -
Frequência referida do consumo alimentar dos adolescentes
de domicílios em situação de insegurança e segurança
alimentar segundo os grupos de alimentos, nos municípios da
área de abrangência da BR 163, 2007
94
Figura 21
Frequência da disponibilidade e consumo alimentar,
comparando os grupos de alimentos segundo a situação de
segurança alimentar dos domicílios de Alta Floresta,
Diamantino, Sinop e Sorriso, 2007
96
Figura 16 -
Figura 17 -
Figura 18 -
Figura 19 -
86
87
87
90
Lista de Siglas e Abreviaturas
ABEP
Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas
ABRANDH
Associação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos
AS
Plano Amazônia Sustentável
CCHIP
Community Childhood Hunger Identification Project
CEP
Comitê de Ética e Pesquisa
CEPROTEC/MT Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de
Mato Grosso
CNPq
Conselho Nacional
Tecnológico
de
Desenvolvimento
Científico
CNS
Conselho Nacional de Saúde
CONEP
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
CONSEA
Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
DECIT
Departamento de Ciência e Tecnologia
FANUT
Faculdade de Nutrição
FAO
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação
FMI
Fundo Monetário Internacional
HUJM
Hospital Universitário Júlio Miller
IA
Insegurança Alimentar
IAG
Insegurança Alimentar Grave
IAL
Insegurança Alimentar Leve
IAM
Insegurança Alimentar Moderada
IAN
Insegurança Alimentar e Nutricional
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
IDH
Índice de Desenvolvimento Humano
IMC
Índice de Massa Corporal
INAN
Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição
ISA/SP
Inquérito de Saúde no Estado de São Paulo
ISC
Instituto de Saúde Coletiva
LOSAN
Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional
e
MINITAB
Statistical and Process Management Software
MT
Mato Grosso
NESAN
Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional
OMS
Organização Mundial de Saúde
ONU
Organização das Nações Unidas
PA
Pará
PB
Paraíba
PE
Pernambuco
PIDESC
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais
PNAD
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNDR
Plano Nacional de Desenvolvimento Regional
PNSAN
Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
POF
Pesquisa de Orçamento Familiar
QFA
Questionário de Frequência Alimentar
SA
Segurança Alimentar
SAN
Segurança Alimentar e Nutricional
SES – MT
Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso
SES/SP
Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo
SINOP
Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná
SISAN
Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
SPSS
Statistical Package for the Social Sciencies
STATA
Stata Statistical Software
TCLE
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNB
Universidade de Brasília
UNED
União de Ensino de Diamantino
UNESP
Universidade Estadual Paulista
UNICAMP
Universidade Estadual de Campinas
UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância
USDA
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
USP
Universidade de São Paulo
WHO
World Health Organization
INTRODUÇÃO
23
1 INTRODUÇÃO
A insegurança alimentar e nutricional é uma questão multidimensional que se
configura também como um problema de saúde mundial e está diretamente
relacionada com a luta pelo Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA).
Atualmente é uma temática central de discussão dos órgãos internacionais
(PEREIRA e SANTOS, 2008), onde o primeiro objetivo de Desenvolvimento do
Milênio é erradicar a extrema pobreza e a fome no mundo até 2015, resultado do
acordo firmado entre os Estados-Membros da Organização das Nações Unidas –
ONU, na “Cúpula do Milênio”, em Nova Iorque, no ano 2000.
Segundo KINAZ (2010), as causas básicas dos problemas alimentares mundiais
são complexas. Pois, envolvem questões políticas, econômicas, sociais e aquelas
inerentes ao próprio indivíduo (cultura, hábito alimentar). Por tal motivo, têm
mobilizado a comunidade científica, organizações governamentais e não-governamentais
no combate à fome e à desnutrição, em geral ambas relacionadas à pobreza.
No entanto, a alimentação e a nutrição além de ser um direito humano,
constituem-se como requisitos básicos para a promoção e proteção da saúde. Porém,
de acordo com o Relatório sobre a situação da População Mundial em 2009,
publicado pelo Fundo de População das Nações Unidas, estima-se que
aproximadamente 1,02 bilhões de pessoas - 14,3% da população mundial, não
tenham alimentos suficientes para a satisfação das suas necessidades nutricionais
básicas ou vivem em situação de fome contínua, ou seja, em situação de insegurança
alimentar (FAO, 2009).
No Brasil, o tema insegurança alimentar tem ocupado de forma crescente a
agenda pública, no curso de um efervescente processo de construção, com impactos
diretos na estrutura político-institucional de distintos setores governamentais e
societários (BURLANDY, 2008; MDS, 2009).
Desta forma, um importante passo neste processo foi o reconhecimento da
alimentação como um direito humano na Constituição Brasileira no seu Art. 6º
(BRASIL, 1988), em fevereiro de 2010. Outro importante avanço, no que diz
respeito à política e monitoramento da situação de segurança alimentar da população
24
brasileira, foi a aprovação do Decreto nº 7.272, em agosto de 2010, que regulamenta
a Lei nº 11.346 de 2006, que institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional – PNSAN e estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASILb, 2010).
O principal problema de insegurança alimentar no Brasil é o de insuficiência
de acesso aos alimentos, causado basicamente pelas desigualdades na estrutura de
renda existentes no país e não a falta de alimentos (PESSANHA, 2004).
Na literatura nacional e internacional, diversos estudos têm se empenhado em
contribuir com a temática da insegurança alimentar, apontando os indicadores mais
utilizados para a sua avaliação, como: o Método da FAO, as Pesquisas de
Orçamentos Domésticos, as Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos, as
Pesquisas Antropométricas e Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome.
Tendo como, fatores associados à situação de insegurança alimentar: as
características demográficas e “biológicas” (sexo, idade, raça/cor, peso e altura dos
adolescentes), fatores socioeconômicos (número de moradores no domicílio, renda
familiar, escolaridade do chefe da família), fatores relacionados a condições de
moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, esgotamento sanitário,
tratamento de água), a disponibilidade e consumo de alimentos, e também a
participação em programas sociais do governo (DELLOHAN e SANJUR, 2000;
VEIGA e BURLANDY, 2001; MELGAR-QUIÑONEZ et al., 2005; COATES et al.,
2006; HACKETT et al., 2007; HOFFMANN, 2008; PANELLI-MARTINS et al.,
2008; PESSANHA et al., 2008; SALLES-COSTA et al., 2008; SEGALL-CORRÊA
et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2009; SANTOS et al., 2010).
A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios - PNAD 2004 revelou que
34,8% dos domicílios brasileiros viviam em situação de insegurança alimentar, sendo
que, em Mato Grosso esta prevalência foi de 33,1%. Neste mesmo estudo, verificouse maior prevalência de insegurança alimentar em domicílios que residiam menores
de 18 anos de idade (IBGE, 2006).
A PNAD 2009 mostrou uma diminuição da prevalência de insegurança
alimentar tanto nos municípios brasileiros (30,2%), quanto em Mato Grosso (22,1%).
No entanto, nos domicílios com pelo menos um morador menor de 18 anos de idade
25
registrou-se prevalências acima da verificada em domicílios onde só viviam adultos
(IBGE, 2010b).
No Estado de Mato Grosso em municípios pertencentes à área de abrangência
da BR-163, como Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, verificou-se uma
estrutura etária marcadamente jovem, típica de áreas de migração, correspondendo
entre 20,5% a 22,5% de adolescentes (MS-DATASUS, 2005).
Sabe-se que a adolescência é um período da vida marcado por profundas
mudanças
biopsicossociais,
pelo
início
da
definição
de
identidade,
do
estabelecimento de um sistema de valores pessoais, mostrando-se especialmente
vulnerável a determinados agravos enfrentados pela maioria das sociedades atuais,
tais como: fome, falta de acesso aos alimentos, sobrepeso e obesidade, dieta
desequilibrada, entre outros, tornando-se potencialmente um grupo de risco e um
importante objeto de investigação científica.
Tendo em vista, que domicílios com adolescentes em pesquisas nacionais
apresentaram maior vulnerabilidade à situação de insegurança alimentar e diante da
escassez de literatura publicada que abordasse esse tema na população de Mato
Grosso, particularmente nesta faixa etária.
Este estudo pretende analisar a insegurança alimentar em domicílios com
adolescentes e identificar fatores associados a esta situação, em municípios da área
de abrangência da rodovia BR-163.
Partindo do pressuposto que a situação de insegurança alimentar e nutricional
nos domicílios com adolescentes, dos municípios de Alta Floresta, Diamantino,
Sinop e Sorriso é gerada pela falta de renda - importante fator para aquisição de
alimentos, precárias condições de moradia, bens, serviços educacionais e de saúde também considerados indicadores sociais que possivelmente influenciam no
consumo e estado nutricional dos adolescentes destes domicílios.
Portanto, torna-se desafiador investigar a situação de insegurança alimentar
na dimensão domiciliar e a sua relação com a dimensão individual do adolescente,
considerando que foram encontrados estudos que investigaram a situação de IAN em
adolescentes na Etiópia (HADLEY et al. 2008), em Trinidad e Tobago
(GULLIFORD et al., 2005) e no Brasil em Pernambuco (OLIVEIRA et al., 2009).
26
Nesta perspectiva, este estudo reveste-se de importância científica e social
para saúde pública, não somente pela possibilidade de identificar fatores associados à
insegurança alimentar em alguns municípios de Mato Grosso e principalmente, uma
provável faixa etária em risco alimentar e nutricional. Mas também, porque pode
contribuir com políticas públicas, principalmente àquelas relacionadas aos programas
de alimentação e nutrição.
27
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
28
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA (DHAA) E
SEGURANÇA ALIMENTAR (SA)
A segurança alimentar e nutricional (SAN) inscreve-se no campo do direito
humano à alimentação, em que toda pessoa deve estar segura em relação ao acesso,
disponibilidade e consumo de alimentos e à alimentação nos aspectos da suficiência
(proteção contra a fome e a desnutrição), qualidade (prevenção de males associados
com a alimentação) e adequação - apropriação às circunstâncias sociais, ambientais e
culturais (VALENTE, 2002; MALUF, 2009). Seja no plano individual ou em escala
coletiva, esses atributos estão consignados na Declaração Universal dos Direitos
Humanos (ONU, 1948; ALVES e JUNIOR, 2005; CONSEA, 2007), os quais foram
reafirmados no Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais PIDESC (1966) e incorporados à legislação nacional brasileira em 1992 (VALENTE,
2002).
O tema segurança alimentar e nutricional enfoca a produção e a distribuição
dos alimentos, a análise do estado nutricional que, por sua vez, considera a
alimentação e a saúde das pessoas, incluindo, ainda, o acesso a outras condições que
contribuem para uma vida saudável (acesso aos serviços de saúde, moradia,
abastecimento de água, condições sanitárias e educação). Pressupõe a disponibilidade
de alimentos, sua acessibilidade pelos mecanismos de distribuição e condições de
renda das pessoas, além do aproveitamento biológico determinado pela situação de
saúde ou doença dos indivíduos. Portanto, a SAN no nível domiciliar ou individual é
influenciada por fatores locais, regionais, nacionais e internacionais, conforme
representado na Figura 1 (SAWAYA, 2003; PESSANHA, 2004).
O termo segurança alimentar originou-se na Europa, a partir da 1ª Guerra
Mundial (1914-1918) e seu conceito tinha estreita ligação com o de soberania e a
29
capacidade de cada país produzir sua própria alimentação, devido a razões políticas
ou militares (ABRANDH, 2010).
Esse conceito ganhou força com o advento da 2ª Guerra Mundial (19391945), especialmente quando a Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada.
No mesmo período, criou-se a Food and Agriculture Organization of the United
Nations (FAO) que entendia o acesso ao alimento de qualidade como um direito
humano.
Figura 1. Modelo esquemático dos níveis de determinação da segurança alimentar e
nutricional (Fonte: UNICEF – Frankenberg et al., 1997).
Com a Conferência de Bretton Woods, em 1944, surgiram o Fundo Monetário
Internacional – FMI e o Banco Mundial, que defendiam que a segurança alimentar
deveria ser garantida por mecanismos de mercado. Assim, a tensão existente tornouse um reflexo da disputa política entre os principais blocos inseridos na guerra em
busca de hegemonia (ABRANDH, 2010).
30
Após a 2ª Guerra Mundial a segurança alimentar foi tratada como uma
questão de insuficiente disponibilidade de alimentos e abastecimento. Foram, então,
instituídas iniciativas de promoção à assistência alimentar, feitas a partir dos
excedentes de produção dos países ricos (ABRANDH, 2010).
Nos países pobres, a insegurança alimentar era entendida como decorrência
de produção insuficiente. Visando aumentar a produção de alguns alimentos,
associada ao uso de novas variedades genéticas e fortemente dependentes de insumos
químicos, ocorreu na década de 60 e 70, a Revolução Verde, que tinha como modelo
agrícola, a monocultura, que posteriormente trouxe graves conseqüências ambientais,
econômicas e sociais, tais como: redução da biodiversidade, menor resistência a
pragas, êxodo rural e contaminação do solo e dos alimentos por agrotóxicos
(MOREIRA, 2000).
No início da década de 70, a crise mundial de produção de alimentos levou a
realização da Conferência Mundial de Alimentação com a discussão de que a
garantia da segurança alimentar teria que passar por uma política de armazenamento
estratégico e de oferta de alimentos, associada à proposta de aumento da produção.
Pois, não era suficiente só produzir alimentos, mas também garantir a regularidade
do abastecimento. Neste momento, o foco estava predominantemente no produto, e
não no ser humano, ficando em segundo plano a dimensão do direito humano à
alimentação (VALENTE, 2002).
Foram com essas características que a Revolução Verde intensificou-se,
inclusive no Brasil, com um enorme impulso na produção de soja. Houve um
aumento da produção, no entanto, isso não implicou no aumento do acesso aos
alimentos (ABRANDH, 2010).
No final da década de 80 e início de 90, incorporou-se a noção de alimentos
seguros (não contaminados biológica ou quimicamente), de qualidade (nutricional,
biológica, sanitária e tecnológica), produzidos de forma sustentável e culturalmente
aceitável, bem como, o acesso à informação. Ao mesmo tempo, entram em cena as
questões de equidade, justiça e relações éticas entre a geração atual e as futuras
(VALENTE, 2002).
A partir deste período, o direito à alimentação foi se inserindo no contexto do
direito à vida, à dignidade, à autodeterminação e à satisfação de outras necessidades
31
básicas. Essa visão foi consolidada nos compromissos assumidos pelos governos na
Conferência Internacional de Nutrição, realizada em Roma (1992) pela FAO e pela
Organização Mundial de Saúde (OMS). Portanto, agrega-se definitivamente o
aspecto nutricional e sanitário ao conceito, passando a ser denominado Segurança
Alimentar e Nutricional (VALENTE, 1997).
Assim, adotou-se o conceito de segurança alimentar domiciliar, que além do
componente de segurança alimentar, entendido como oferta e acesso à alimentação
de qualidade, incorpora-se a assistência básica à saúde (abastecimento de água,
saneamento, saúde pública) e o cuidado promovido no lar aos membros da família carinho, atenção, preparo do alimento, aleitamento materno, estimulação
psicossocial, informação e apoio educacional (MS, 2003).
Com isso, consolida-se um forte movimento para reafirmação do Direito
Humano à Alimentação Adequada. Um passo importante foi a realização da
Conferência Internacional de Direitos Humanos em Viena (1993) e a Cúpula
Mundial da Alimentação em Roma (MRE, 1996), organizada pela FAO, que
associou definitivamente o papel fundamental do Direito Humano à Alimentação
Adequada à garantia da Segurança Alimentar e Nutricional.
Verifica-se que o conceito de SAN evolui na medida em que avança a história
da humanidade e alteram-se a organização social e as relações de poder em uma
sociedade. Constituindo um campo em construção, seja no plano teórico-conceitual,
como no âmbito da formulação e implementação de políticas públicas, apresentando
diferentes possibilidades em termos de mensuração e análise (BURLANDY e
COSTA, 2007).
A diversidade de compreensões e os conflitos nesse campo envolvem
governos, organismos internacionais, representantes de setores produtivos,
organizações da sociedade civil, movimentos sociais, entre outros (MALUF, 2009).
No Brasil, os problemas alimentares da população remontam ao período
colonial, em decorrência do processo histórico, que priorizou o atendimento às
demandas do mercado externo, caracterizadas pelos ciclos de monocultura de
exportação. As poucas culturas de subsistência eram cultivadas, basicamente, para
prover as necessidades das propriedades rurais, gerando a necessidade da importação
32
de insumos de primeira necessidade, principalmente nas áreas urbanas (BELIK et al.,
2001; VASCONCELOS, 2005).
Na década de 30, surgiu uma figura relevante, o médico Josué de Castro que
trouxe importantes contribuições para as discussões sobre o direito à alimentação e
às ações de políticas públicas no combate à fome, bem como, à construção brasileira
do conceito de segurança alimentar (CASTRO, 2001; NASCIMENTO, 2004;
MALUF, 2009).
Contudo, as primeiras referências ao conceito de segurança alimentar no
Brasil, em nível documental, surgem no Ministério da Agricultura, no final de 1985,
quando foi elaborada uma proposta de Política Nacional de Segurança Alimentar,
intitulada: “Segurança alimentar – proposta de uma política contra a fome”, com o
objetivo de atender às necessidades alimentares da população e atingir a autosuficiência nacional na produção de alimentos, incluindo a criação de um Conselho
Nacional de Segurança Alimentar dirigido pelo Presidente da República e composto
por ministros de Estado e representantes da sociedade civil (VALENTE, 2002).
Cabe ressaltar, que em meados da década de 80, o Brasil vivia o processo de
reconstrução do Estado democrático, após vinte anos de governo militar (1964-1984)
e havia intensa movimentação na área da saúde pública (LEÃO e CASTRO, 2007).
O que levou a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde e da I Conferência
Nacional de Alimentação e Nutrição, sob a coordenação do Instituto Nacional de
Alimentação e Nutrição (INAN), vinculado ao Ministério da Saúde, espaço que a
alimentação foi reconhecida como direito de todos e responsabilidade do Estado em
assegurar a disponibilidade interna de alimentos, bem como, as condições de acesso
ao consumo, através de uma política de salários justos e promoção de pleno emprego
(MS, 2003).
Desta forma, é peculiar à formulação brasileira o acréscimo do adjetivo
“nutricional” a expressão consagrada internacionalmente como “segurança
alimentar”, gerando o termo: segurança alimentar e nutricional. Assim, o propósito
foi interligar os dois principais enfoques da evolução deste conceito no Brasil: o
socioeconômico e o de saúde – nutrição (MALUF, 2009).
33
Com a I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, iniciou-se a
formulação do conceito, segurança alimentar, que posteriormente consolidou-se na I
Conferência Nacional de Segurança Alimentar, em 1994:
“A garantia de todos, a condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em
quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras
necessidades básicas, com base em práticas alimentares que possibilitem a saudável
reprodução do organismo humano, contribuindo, assim, para uma existência digna”
(CONSEA, 2007, p. 7)
A definição apresentada acima articula três dimensões: a alimentar, a
nutricional e a social. Sendo que a primeira se refere aos processos de
disponibilidade (oferta de alimento, em quantidade suficiente), a segunda diz respeito
diretamente à escolha, ao preparo e consumo alimentar, bem como, a sua relação
com a saúde e a utilização biológica do alimento. A terceira está associada às outras
duas dimensões e engloba a educação, conhecimentos básicos de higiene, boas
condições de moradia, incluindo saneamento básico e o acesso aos serviços de saúde.
Na situação de pobreza, o indivíduo experimenta objetiva e subjetivamente carências
sociais, econômicas, políticas e culturais, passando por um processo de exclusão e
ruptura de laços sociais, no qual as noções de cidadania, igualdade e direitos sociais
ficam fragilizadas (SAWAYA et al., 2003).
Na II Conferência Nacional de Segurança Alimentar foram aprovados
princípios gerais que deveriam ser associados a SAN e, portanto, contemplados nas
ações e políticas públicas como: a promoção do direito humano à alimentação
saudável, a soberania alimentar, o acesso universal e permanente a alimentos de
qualidade por meio da geração de trabalho e renda, contemplando ações educativas,
o respeito e valorização das culturas alimentares, a promoção da agricultura familiar
sustentável e o reconhecimento da água como alimento essencial e patrimônio
público (CONSEA, 2004).
O artigo 3° da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional - LOSAN,
que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com
34
vistas a assegurar o direito à alimentação adequada, define Segurança Alimentar e
Nutricional como:
“realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de
qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como base, práticas alimentares promotoras da saúde,
que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, econômica e socialmente
sustentáveis” (BRASIL, 2006a, p. 4).
Esta definição foi primeiramente elaborada no Fórum Brasileiro de SAN, em
2003, posteriormente aprovada na II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional realizada em Olinda (2004) e reafirmada na III Conferência Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (2007). Nela estão envolvidos três aspectos:
disponibilidade, estabilidade e acesso (CONSEA, 2007).
Disponibilidade significa que, a oferta de alimentos deve ser suficiente para
atender às necessidades de consumo de toda a população. Estabilidade diante da
probabilidade mínima do consumo de alimentos estar abaixo do nível adequado de
abastecimento, como resultado de variações da oferta. O acesso está relacionado à
capacidade de produzir ou comprar os alimentos necessários considerando que,
mesmo em presença de abundância e estabilidade da oferta, muitos podem passar
fome por insuficiência de recursos (CARVALHO e SILVA, 2005).
Neste cenário, os grupos mais vulneráveis à falta de alimentos são os que não
dispõem de renda para adquiri-los ou que não têm acesso aos bens de produção
necessários. Esse grupo populacional é também privado de alimentos de boa
qualidade, dos equipamentos necessários para conservá-los e prepará-los, tendo
ainda menor acesso à informação sobre uma alimentação saudável (CONSEA,
2007).
A fome e a desnutrição são de ampla recorrência histórica, que constituem
problemas crônicos de insegurança alimentar e nutricional fortemente associados à
pobreza e à desigualdade distributiva estrutural da nossa sociedade (HOFFMANN,
1995; PESSANHA, 2004).
35
Sabe-se, ainda, que a IAN possivelmente seja uma condição que nem sempre
leva somente à desnutrição e ao baixo peso, mas pode ter como conseqüência o
sobrepeso e a obesidade (RADIMER et al., 1992), sendo resultados de uma dieta
desequilibrada, com possível qualidade comprometida e que em geral, apresenta um
padrão de alimentação monótono e densamente energético.
Situações de insegurança alimentar e nutricional podem ser detectadas a partir
de diferentes tipos de problemas como a fome, doenças e agravos associadas à má
alimentação (obesidade, desnutrição, anemia, hipovitaminoses), consumo de
alimentos de má qualidade higiênico-sanitária, inadequada qualidade nutricional dos
alimentos, bens essenciais com preços abusivos e imposição de padrões alimentares
que desrespeitam a diversidade cultural (ALVES e JUNIOR, 2005; CONSEA, 2007).
Quanto a sua mensuração, a IAN pode ser avaliada por meio dos seguintes
indicadores: indicador de segurança alimentar e graus de insegurança alimentar e
nutricional no domicílio (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA);
indicador de disponibilidade de alimentos; indicador de renda e condições de
moradia;
indicadores
antropométricos;
indicadores
do
consumo
alimentar;
indicadores do acesso a alimentos e tendências de consumo (MAXWELL, 1996;
FAO, 2002; PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005; CONSEA, 2007).
Na literatura existem diversos trabalhos que utilizam estes indicadores para
mensurar a IAN, incluindo pesquisas que tem como população de estudo famílias
com: crianças, adolescentes e adultos (BURLANDY e COSTA, 2007; SALLESCOSTA et al., 2008, SANTOS, 2008; OLIVEIRA et al., 2009), idosos (MARÍNLEÓN, 2005) e também realizadas com populações rurais (YUYAMA et al, 2007) e
indígenas (CORRÊA, 2005; OLIVEIRA e SILVA, 2008). Os principais resultados de
alguns destes estudos e de pesquisas realizadas em âmbito nacional, como por
exemplo, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) e a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) são apresentados a seguir.
A POF 2002-2003 mostrou que os gastos com alimentação ocupavam o
segundo lugar na participação da despesa total familiar. O que representava na
média nacional, 21% dos gastos com despesas de consumo e 17% dos gastos totais
das famílias, sendo superados apenas pelas despesas com habitação que alcançavam
35% dos gastos (IBGE, 2004). Na POF 2008-2009 foram observados resultados
36
semelhantes: 35,9% gastos familiares eram com habitação e 19,8% com alimentação
(IBGE, 2010a).
A PNAD 2004 foi a primeira pesquisa nacional a utilizar a Escala Brasileira
de Insegurança Alimentar – EBIA e observou-se maior prevalência de insegurança
alimentar nos domicílios em que residiam indivíduos menores de 18 anos de idade
(IBGE, 2006).
A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança, também
utilizou a EBIA e verificou que a prevalência de insegurança alimentar em
residências urbanas da região Centro-Oeste foi de 33,5%. Com destaque para os
domicílios em que a pessoa de referência apresentava baixa escolaridade, onde foi
encontrada maior prevalência de insegurança alimentar grave (IBGE, 2008a).
A maioria dos estudos encontrados é de base populacional e aborda a situação
de segurança alimentar, juntamente com os graus de insegurança alimentar e
nutricional. Os domicílios estudados geralmente são compostos por adolescentes,
como o realizado por SALLES-COSTA et al. (2008) em um distrito do município de
Duque de Caxias – RJ. Neste estudo foi aplicada a EBIA e verificou-se que 53,8%
dos domicílios viviam em insegurança alimentar (31,4% em insegurança alimentar
leve - IAL, 16,1% em insegurança alimentar moderada - IAM e 6,3% em
insegurança alimentar grave - IAG), 26,8% das famílias tinham renda per capita
acima de um salário mínimo e 83,4% foram classificadas nas classes C e D de acordo
com a classificação de nível socioeconômicos da Associação Brasileira de Empresas
e Pesquisas - ABEP.
Em 2009, um estudo avaliou a situação da insegurança alimentar e sua
relação com o estado nutricional de adolescentes e adultos, em duas localidades do
Nordeste brasileiro. Através desta pesquisa, verificou-se a prevalência de quase
90,0% de insegurança alimentar das famílias dos dois municípios, predominando a
situação de insegurança alimentar moderada (40,2%) em São João do Tigre (PB) e
grave (36,9%) em Gameleira (PE). Nas duas localidades, a IA prevaleceu nas
famílias com adolescentes, porém, não houve associação estatística significativa
entre a IA e o estado nutricional da população estudada (OLIVEIRA et al., 2009).
Em 2010, por meio de um estudo realizado em Pelotas – RS com crianças,
adolescentes e adultos, observou-se a prevalência de 11% de insegurança alimentar,
37
apresentando associação da IA entre a renda, a escolaridade, bem como, o número de
moradores por domicílio. Quanto à relação do estado nutricional e a situação de IA,
verificou-se a prevalência de excesso de peso em 18% dos adolescentes que viviam
em insegurança alimentar (SANTOS et al., 2010).
Em Mato Grosso, no ano de 2005, foi realizada uma pesquisa sobre a situação
de alimentação e nutrição de índios bororos e verificou-se que a maior parte da
população era composta por crianças e adolescentes (22,2%). Observou-se que a
renda familiar per capita era insuficiente (R$ 28,19) para manutenção de uma
alimentação adequada. No entanto, cabe ressaltar que havia criação de animais para
uso na alimentação (galinha e gado), caso faltasse carne de caça ou pescado e
também culturas de frutas. Quanto à freqüência de consumo alimentar, a população
estudada referiu ter maior consumo dos seguintes grupos de alimentos: pães, cereais,
raízes e tubérculos; frutas; leguminosas; carnes e ovos; açúcares e doces e baixo
consumo de leite, produtos lácteos e hortaliças. Das oito famílias entrevistadas, cinco
apresentaram situação de insegurança alimentar - três em IAL, uma em IAM e uma
em IAG (CORRÊA, 2005).
2.2 ALIMENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR
A alimentação é imprescindível para a vida e a sobrevivência humana, como
necessidade básica ela é modelada pela cultura e sofre efeitos da organização da
sociedade (CANESQUI e GARCIA, 2005).
A nutrição é um processo característico dos seres vivos e necessário para
assegurar a reprodução, o crescimento e desenvolvimento, a manutenção da vida e o
pleno exercício das funções vitais do organismo. No caso do homem e dos demais
organismos animais, o processo da nutrição consiste na ingestão e digestão dos
alimentos e na absorção, metabolismo e utilização dos nutrientes contidos nos
alimentos (MS, 2004).
No entanto, não comemos apenas quantidades de nutrientes e calorias para
manter o funcionamento corporal em nível adequado. O ato de comer envolve
38
seleção, escolhas, ocasiões e rituais, imbrica-se com a sociabilidade, com idéias e
significados, com as interpretações de experiências e situações (POULAIN e
PROENÇA, 2003; CANESQUI e GARCIA, 2005).
O comportamento relativo à comida liga-se diretamente tanto ao sentido
individual quanto ao coletivo. Nossos corpos podem ser considerados o produto do
que e como comemos (MINTZ, 2001).
POULAIN E PROENÇA (2003), considerando George Condominas (1980),
apresentam o conceito de espaço social alimentar para designar o espaço de
liberdade e a zona de interação entre o biológico e o cultural que envolve o ato de se
alimentar (Figura 2).
Figura 2. O espaço social alimentar (POULAIN e PROENÇA, 2003).
Conforme apresentado na Figura 2, verifica-se que na alimentação humana
existem diversas condicionantes, destacando-se: as condicionantes biológicas,
relativas aos mecanismos bioquímicos subjacentes à nutrição e às capacidades do
sistema digestivo e as condicionantes ecológicas que diz respeito ao meio no qual o
indivíduo está instalado, sendo que, este pode sofrer influência de condicionantes
39
econômicas que tendem a se reduzir conforme se controla tecnologicamente a
natureza (POULAIN PROENÇA, 2003).
A interação destas duas principais condicionantes gera as dimensões sociais
da alimentação:
A ordem do comestível ou espaço do comestível: é a escolha operada pelo
grupo humano no interior do conjunto de produtos vegetais e animais, colocado à sua
disposição pelo meio natural, ou que poderá ser implantada pela decisão do grupo.
O sistema alimentar: corresponde ao conjunto de estruturas tecnológicas e
sociais empregadas desde a coleta até a preparação culinária, passando por todas as
etapas de produção e de transformação. Ela constitui o sistema de ação que permite a
um alimento chegar ao consumidor.
O espaço culinário: é ao mesmo tempo, um espaço no sentido geográfico do
termo, de distribuição no interior dos lugares, um espaço no senso social, o qual
representa a repartição sexual e social das atividades de cozinha, mas também um
espaço no sentido lógico do termo, englobando relações formais e estruturadas.
O espaço dos hábitos de consumo: envolve a definição de uma refeição, sua
organização estrutural, a forma da jornada alimentar (número de refeições, formas,
horários, contextos sociais), as modalidades de consumo (comer com garfo e faca,
com a mão, com o pão), a localização dos comensais e outros aspectos variam de
uma cultura à outra e no interior de uma mesma cultura, de acordo com os grupos
sociais.
O espaço de diferenciação social: assinala a conexão bioantropológica de
um grupo humano ao seu meio. No interior de uma mesma sociedade, a alimentação
desenha os contornos dos grupos sociais. Um alimento pode ser atribuído a um grupo
social e rejeitado por outro.
A temporalidade alimentar: a alimentação se inscreve dentro de uma série
de ciclos temporais socialmente determinados, como o ciclo de vida dos homens,
com uma alimentação de lactente, de criança, de adolescente, de adulto e de idoso.
Assim, além de comermos por necessidade vital e conforme o meio e a
sociedade em que vivemos, a forma como ela se organiza e se estrutura, produz e
distribui os alimentos; comemos também de acordo com a distribuição da riqueza na
40
sociedade, os grupos e classes de pertencimento, marcados por diferenças,
hierarquias, estilos e modos de comer (CANESQUI e GARCIA, 2005).
2.3 INDICADORES PARA AVALIAR A SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA
ALIMENTAR E NUTRCIONAL
De acordo com a literatura, os métodos mais utilizados para a avaliar a
insegurança alimentar, são: (1) Método da FAO – mensura a disponibilidade
alimentar, (2) Pesquisas de Orçamentos Domésticos e (3) Pesquisas de Ingestão
Individual de Alimentos – investiga o acesso aos alimentos, (4) Pesquisas
Antropométricas – mensura a utilização dos alimentos e (5) Pesquisas de Insegurança
Alimentar e Fome – investiga a estabilidade de acesso ou vulnerabilidade (PÉREZ –
ESCAMILLA, 2005). Nesta pesquisa serão utilizados três métodos: Pesquisas de
Insegurança Alimentar e Fome (5); Pesquisas Antropométricas (4); Pesquisas
de Ingestão Individual de Alimentos (3).
PESSANHA
et
al.
(2008)
destaca
que
nenhum
desses
métodos
individualmente, é capaz de captar todas as dimensões da insegurança alimentar e
recomenda a adoção de um conjunto de indicadores para o monitoramento da
situação de IAN, pois, quanto maior o número de aspectos analisados, mais completa
e abrangente tenderá a ser a visão obtida da situação de insegurança alimentar.
2.3.1 Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome
Em diversas localidades do mundo, estudos têm se empenhado em realizar
pesquisas de insegurança alimentar e fome (KAISER et al., 2004; PÉREZESCAMILLA et al., 2004; ÁLVAREZ et al., 2006; COATES et al., 2006;
MELGAR-QUINONEZ et al., 2006; HACKETT et al., 2008; GONZÁLEZ et al.,
2008; HACKETT et al., 2009), no entanto é importante ressaltar que as escalas
41
aplicadas nesses estudos, além de conter um diverso número de perguntas, diferem
entre si por serem adaptadas às realidade locais.
A maioria delas é baseada no estudo que surgiu na década de 80, após a
comprovação em muitos países, de que o rendimento domiciliar ou outros
indicadores indiretos eram insuficientes para identificar populações sob risco de IA.
Assim, desenvolveu-se uma escala de medida direta de Insegurança Alimentar e
Fome pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA, por
pesquisadores da Universidade de Cornell. Na elaboração da escala utilizaram-se
métodos qualitativos para abordar e compreender a insegurança alimentar e a fome.
Este estudo qualitativo, permitiu a proposição de uma escala de medida quantitativa,
composta por dez perguntas, que cobriam tanto a percepção da preocupação com a
insuficiência futura de alimentos quanto os problemas relativos à quantidade de
calorias disponíveis, bem como, a qualidade da dieta (IBGE, 2006; BURLANDY e
COSTA, 2007).
Nos anos de 1990, a partir dessa escala de Cornell e outras, como a do
Community Childhood Hunger Identification Project – CCHIP, pesquisadores
reunidos pelo USDA desenvolveram uma escala válida para aplicação em âmbito
nacional nos EUA. Isto resultou em uma escala de quinze itens e três subitens que
passou a ser aplicada, a partir de 1995 (IBGE, 2006).
O processo de adaptação do método no Brasil resultou na elaboração e
validação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA, pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e pelo Observatório de Políticas de Segurança
Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (Unb) , além de outras instituições
(Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Mato Grosso e Instituto
de Pesquisas da Amazônia) com apoio técnico e financeiro dos Ministérios da Saúde,
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e da Organização Pan-Americana da
Saúde – OPAS (BURLANDY e COSTA, 2007).
A EBIA consiste em um questionário contendo quinze perguntas que medem
níveis diferentes de IA e utilizando o somatório do número de respostas afirmativas
às questões, resulta em um escore que categoriza as famílias (PÉREZ-ESCAMILLA,
2004).
42
A principal vantagem deste método provém do fato de possibilitar o
diagnóstico rápido, medir diretamente o fenômeno de interesse, permitindo captar
não só as dimensões físicas, mas também as dimensões psicológicas da IA e ainda,
classificar os domicílios de acordo com sua vulnerabilidade ou nível de exposição
(PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005).
Pois, a insegurança alimentar é percebida em seus vários níveis, desde a
preocupação de que o alimento venha a acabar antes que haja dinheiro para comprar
mais, o que configura insegurança psicológica, passando, em seguida, pela
insegurança relativa ao comprometimento da qualidade da dieta, porém ainda sem
restrição quantitativa, até chegar ao ponto mais severo, que é a insegurança
quantitativa, situação em que a família passa por períodos concretos de restrição na
disponibilidade de alimentos para seus membros (PANIGASSI, 2005).
Quanto às desvantagens desse método, cabe destacar que, por ser uma medida
“subjetiva” da situação de IA, torna-se suscetível a vieses de “prestígio’ ou
“benefício” se os entrevistados imaginam que, dependendo das respostas que derem,
eles próprios, seus domicílios e /ou suas comunidades poderão receber ajuda em
alimentos ou benefícios sociais (PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005).
2.3.2 Pesquisas Antropométricas
Os indicadores antropométricos mais comumente empregados nas pesquisas
nacionais apóiam-se nas medidas de peso e estatura. Desta forma, a subnutrição é
diagnosticada quando as medidas antropométricas dos indivíduos estão abaixo dos
padrões internacionais de referência. Isso pode ser conseqüência tanto de uma
ingestão alimentar insuficiente, como de uma absorção deficiente dos alimentos –
causada por fatores ambientais como infecções, o que requer informações
complementares de saúde e saneamento para confronto (PESSANHA et al., 2008).
Esse método permite o acompanhamento do estado nutricional desde o nível
nacional até o nível individual, a um custo relativamente baixo quando comparado ao
das avaliações dietéticas. O fato de a antropometria ser uma medida de resultado, a
43
torna muito apropriada para o controle e a avaliação de intervenções (PÉREZSCAMILLA e CABALLERO, 2005).
Como desvantagens, esse método tem o fato de que os dados antropométricos
não refletem, exclusivamente, a adequação do consumo alimentar ou a suficiência da
ingestão energética uma vez que outros fatores ambientais influem no estado
nutricional. Assim, ainda que os indicadores antropométricos sejam excelentes
sinalizadores do risco nutricional e do estado de saúde, eles não são,
necessariamente, indicadores diretos de IA (FAO, 2002).
2.3.3 Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos
As Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos conseguem medir de forma
muito próxima o fenômeno da IA, uma vez que pergunta diretamente aos indivíduos
sobre seu consumo de alimentos e/ou de outros membros da família (PÉREZSCAMILLA e CABALLERO, 2005; PÉREZ - ESCAMILLA e SEGALL CORRÊA, 2008).
Todos os métodos que medem o consumo de alimentos no nível individual
precisam utilizar um tempo de referência (dia anterior, semana anterior, mês anterior
etc.). O consumo de alimentos pode ser medido por meio de questionários (ex.:
Questionário de Freqüência Alimentar) ou de formulários de registro onde os
indivíduos anotam o que consomem a cada dia - ex.: Histórico alimentar e
Recordatório 24h (PÉREZ-SCAMILLA e CABALLERO, 2005).
Uma vantagem deste método é que ele se fundamenta na avaliação direta da
ingestão de alimentos, apresenta menor subnotificação, pois a lista previamente
elaborada de itens auxilia o entrevistado a se lembrar de alimentos que,
espontaneamente, poderia se esquecer. Outra vantagem, é que o mesmo possibilita
detectar problemas na alimentação de âmbito individual e dessa forma ajudar a
identificar não apenas domicílios, mas indivíduos pertencentes a estes, que possam
estar em risco de insegurança alimentar e nutricional (PESSANHA et al., 2008).
44
Uma limitação deste método é requerer que os indivíduos recordem e
informem, com precisão, todos os alimentos ingeridos durante o período de
referência, por isso, os procedimentos devem ser muito bem padronizados e os
entrevistadores devidamente capacitados (FAO, 2002), e este método também limita
a abordagem do consumo quantitativo de energia e nutrientes (DOMENE, 2011).
2.4 ADOLESCÊNCIA
Os riscos nutricionais de diferentes categorias e magnitudes permeiam todo o
ciclo da vida humana, desde a concepção até a senectude, assumindo diversas
configurações epidemiológicas em função do processo saúde/doença de cada
população (MS, 2003).
A adolescência é a fase da vida que compreende a faixa etária entre 10 e 19
anos. Trata-se de um período de transição da infância para a vida adulta,
caracterizado por transformações físicas (rápido e intenso crescimento físico),
psíquicas e sociais, que podem se manifestar de diversas formas e em períodos
diferentes para cada indivíduo (WHO, 1995).
Na fase inicial (10 a 14 anos) chamada de puberdade, ocorre o estirão de
crescimento, o aumento rápido das secreções de diversos hormônios e o
aparecimento dos caracteres sexuais secundários (maturação sexual). A fase final (15
a 19 anos) caracteriza-se pela desaceleração destes processos (WHO, 1995). Essas
transformações têm efeito sobre o comportamento alimentar do adolescente, pois há
uma maior demanda de energia e nutrientes nessa fase da vida, resultando na
necessidade de uma dieta balanceada (FARIA et al., 2006).
Além dos fatores biológicos, várias situações do âmbito domiciliar e
individuais, podem influenciar o estado nutricional nesse período da vida e se
entrelaçar,
formando
uma
rede
complexa
de
riscos
tais
como
fatores
socioeconômicos e pobreza, ingestão inadequada de produtos alimentares
apresentados através da mídia, conflitos psicossociais, falta de horários e tempo para
o preparo e a escolha adequada dos alimentos, desagregações sociais ou mesmo o
abandono e a omissão dos pais e familiares “ocupados” com outros afazeres e a
45
própria sobrevivência no dia-a-dia (DIETZ, 1998; EISENSTEIN et al., 2000;
GIULIANO e CARNEIRO, 2004; TORAL et al., 2006; VEIGA e SICHIERI, 2007).
2.4.1 Estado Nutricional
O estado nutricional dos indivíduos é caracterizado por grande dinamismo e
decorre essencialmente do equilíbrio entre três fatores: composição da alimentação
(tipo e quantidade dos alimentos ingeridos), necessidades do organismo em energia e
nutrientes e eficiência do aproveitamento biológico dos alimentos (VEIGA e
SICHIERI, 2007).
Combinações ótimas destes três fatores, considerando razoáveis margens de
variação para cada fator, propiciam ao indivíduo um estado nutricional compatível
com o pleno exercício de todas as suas funções vitais. Enquanto, o desequilíbrio
produz à má-nutrição, que pode ser oriunda de variações extremas em um único fator
ou alterações simultâneas e aditivas nos três fatores que determinam o estado
nutricional (VEIGA e SICHIERI, 2007).
A alimentação inadequada pode ser iniciada em qualquer fase da vida e ser
desencadeada por fatores como o desmame precoce, a inadequada introdução de
alimentos, distúrbios no comportamento alimentar e na relação familiar
(MONTEIRO et al., 2000; GIUGLIANO e CARNEIRO, 2004), repercutindo no
estado nutricional.
Uma das maneiras de diagnosticar a situação alimentar e nutricional de um
indivíduo é a avaliação do estado nutricional por meio da antropometria.
A antropometria tem por objetivo verificar o crescimento e as proporções
corporais em um indivíduo ou em uma comunidade através da mensuração das
dimensões físicas e da composição global do corpo humano (SIGULEM et al., 2000).
Foi a partir das publicações de Jellife, editadas pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), na década de 60, baseadas em estudos que haviam se iniciado nos
anos 50, que a antropometria foi sistematizada como método de avaliação do estado
nutricional. A partir desses estudos a antropometria desenvolveu-se rapidamente nos
46
países industrializados, o que nos países em desenvolvimento só ocorreu a partir da
metade da década de 70 (SIGULEM et al., 2000).
A antropometria tem se revelado como o método isolado mais utilizado para
o diagnóstico nutricional, sobretudo na infância e na adolescência, pela facilidade de
execução, baixo custo e inocuidade. Ainda que haja limitações, tem sido um método
utilizado universalmente proposto pela Organização Mundial de Saúde (1995).
A falta de curvas de referência de valores de P/E (peso/estatura) e a
reconhecida importância de avaliar a relação destas medidas na adolescência
motivaram estudos sobre a aplicabilidade dos diferentes índices de peso e estatura
nesta faixa etária (VEIGA e SICHIERI, 2007).
Sabe-se que cerca de 50% do peso e 20 a 25% da estatura de um indivíduo
são adquiridos na adolescência e o papel da nutrição em nível populacional serve
como determinante altamente significativo da variabilidade desse processo
(JOHNSTON, 1981).
Um dos índices mais populares para avaliação nutricional é o Índice de Massa
Corporal (IMC) que consiste na relação do peso em quilograma, dividido pelo
quadrado da estatura em metro (ANJOS, 1992).
Para a classificação do estado nutricional de adolescentes, segundo SICHIERI
e ALLAM (1996), deve-se considerar o sexo, a idade, o peso, a altura e o estágio de
maturação sexual.
Neste estudo serão analisados o sexo, a idade, o peso e a altura dos
adolescentes para o diagnóstico do estado nutricional, surgindo como uma limitação
da pesquisa o fato de não ter as informações sobre a maturação sexual dos
adolescentes, que segundo a OMS essa informação baseada na idade cronológica
deve ser coletada sempre que possível e considerada para interpretar o significado de
indicadores antropométricos do estado nutricional e de saúde (WHO, 1995).
No processo de crescimento nesta fase da vida, muitos fatores estão
associados, como por exemplo, os fatores genéticos que são responsáveis pela
variação individual dos fenômenos pubertários, necessários para que o adolescente
possa alcançar a expressão máxima de seu potencial genético. Assim, é importante
que os fatores ambientais sejam favoráveis, e a nutrição destaca-se nesse processo
(SIGULEM et al., 2000).
47
Além disso, observa-se que os problemas nutricionais se modificam entre as
regiões geográficas, entre as áreas de ocupação, entre as famílias de uma mesma
localidade e entre os membros de uma mesma família. Essas alterações podem ser
explicadas pelo grau de desenvolvimento socioeconômico e pelo nível sociocultural
da população (MONTEIRO et al., 2000).
2.5
CENÁRIO
DOS
MUNICÍPIOS
ESTUDADOS
-
ÁREA
DE
ABRANGÊNCIA DA RODOVIA BR-163
O estado de Mato Grosso é cortado transversalmente pela rodovia BR-163,
perfazendo um total de 280.550km2, o que representa 31,06% da sua área total. Um
total de 73 municípios compõe a área de abrangência desta rodovia, dos quais 39
municípios fazem parte de Mato Grosso (BRASIL, 2006b).
Sua construção levou ao aumento no crescimento, principalmente econômico,
dos municípios ao seu entorno, sendo um atrativo para migração de pessoas das
várias regiões do país, totalizando cerca de dois milhões de habitantes. Há uma
projeção de crescimento demográfico na área de abrangência da BR-163 variando
entre 2,73 a 2,97 milhões de habitantes em 2015 e 3,49 a 4,12 milhões em 2025
(BRASIL, 2006).
Desde a década de 40, no governo Getúlio Vargas, há uma preocupação
nacional com a ocupação do Centro-Oeste e da Amazônia que teve início com o
processo de ocupação da fronteira, conhecido como a Marcha para o Oeste
(BRASIL, 2006b).
A rodovia BR-163, trecho que liga Cuiabá a Santarém, foi iniciada somente
na década de 70, inserida no contexto do Programa de Integração Nacional (PIN),
visando acelerar a conclusão dos circuitos de integração econômica e garantir o
controle do território em termos geopolíticos (BRASIL, 2006b).
No início da construção, o Estado de Mato Grosso era cortado por esta
estrada apenas nos municípios de Nobres, Diamantino e Chapada dos Guimarães,
48
apresentando um vazio demográfico e econômico na maioria de sua extensão
territorial, ocupada basicamente pelo extrativismo e pela auto-suficiência das
populações locais (FERREIRA, 2001).
Desta forma, na área mato-grossense de abrangência da BR-163, à exceção
do Município de Diamantino, oriundo do garimpo no século XVIII, o processo de
ocupação é recente, vinculado a diferentes políticas governamentais e atendendo aos
objetivos de ocupação do território, concedidos à atuação de empresa privada em
parceria com o Estado (BRASIL, 2006b).
A atividade econômica na área de influência da BR-163 está fortemente
assentada no setor primário. Há um predomínio da agricultura (principalmente soja,
milho, arroz e algodão), da pecuária bovina e da exploração madeireira. A indústria é
menos
expressiva,
embora
crescente,
e
concentra-se
principalmente
no
processamento da madeira, e em menor escala, de grãos e carne bovina. A pecuária
de médio e pequeno porte (suinocultura e avicultura) só recentemente passou a ter
alguma expressão na região, principalmente no Norte de Mato Grosso (FERREIRA,
2001; BRASIL, 2006b).
O comércio e os serviços estão concentrados em cidades como Sinop, Alta
Floresta e Sorriso e são diretamente associadas às atividades primárias
predominantes. O destaque maior fica com o comércio e os serviços voltados
principalmente para o suporte à atividade agrária, incluindo fornecimento de
maquinaria e implementos agrícolas, sementes, inseticidas e outros insumos, serviços
de transportes e armazenagem, serviços de crédito, etc (BRASIL, 2006b).
O norte de Mato Grosso esteve entre as principais regiões produtoras de ouro
do País. Começou a ser explorado em meados da década de 70 e a produção atingiu o
ponto máximo no início dos anos 80, principalmente em Alta Floresta. O garimpo se
constituiu tanto em importante fonte de emprego e renda para os migrantes, como em
foco de violência, degradação ambiental e disseminação de doenças. Nos anos 90,
cidades no norte de Mato Grosso, como Sinop e Alta Floresta, cresceram com a
expansão do agronegócio no cerrado, destacando a produção de soja, gerando uma
nova configuração territorial em processo de consolidação (BRASIL, 2006b).
No entanto, o estado precário das rodovias na região tem sido um grave
obstáculo para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de sua população.
49
Por essa razão, a pavimentação deste trecho da BR-163 tem sido requerida pelos
segmentos sociais e empresariais, visando o escoamento dos seus produtos e o
atendimento às suas demandas básicas (BRASIL, 2006b).
A partir de 2004, referenciada no Plano Amazônia Sustentável (PAS),
inserido no Plano Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), a pavimentação
da BR-163 passou a fazer parte de um planejamento estratégico específico de
desenvolvimento da macrorregião amazônica (BRASIL, 2006b). Assim, o PNDR
teve como principais objetivos: a ocupação desta região que no momento era pouco
povoada e o escoamento da crescente produção agrícola e bovina que se destacava
neste período (BRASIL, 2006b).
Segundo este plano, os quatros setores da infra-estrutura (transportes, energia,
comunicações e armazenagem) têm entre si um nexo comum que é o fato de
promoverem bens de acesso universal, de uso generalizado, e são considerados
estratégicos ao desenvolvimento, seja por gerarem externalidades positivas que
favorecem a competitividade de produtores da região beneficiada, seja porque sua
disponibilidade se traduz em melhores condições de vida para a população, entre
outros, através do atendimento pelos programas do Ministério de Desenvolvimento
Social (BRASIL, 2006b).
Não obstante a seus potenciais benefícios sociais e econômicos, a
pavimentação da rodovia BR-163 poderia agravar os impactos sociais e ambientais
indesejáveis na sua área de influência. Esses impactos se relacionam ao aumento de
migrações desordenadas, grilagem e ocupação irregular de terras públicas,
concentração fundiária, desmatamento, queimadas, incêndios florestais e exploração
não-sustentável dos recursos naturais, aumento da criminalidade e agravamento das
condições de saúde pública (BRASIL, 2006b).
As condições sociais dos municípios de Mato Grosso quando comparadas às
dos municípios do Pará e do Amazonas são melhores. No entanto, as cidades matogrossenses apresentam problemas recorrentes, tais como, escassez de saneamento
básico, insuficiência (ou inexistência) dos serviços públicos, escassez de moradias
planejadas e criminalidade elevada, onde a disponibilidade e o acesso aos alimentos
podem estar comprometidos (BRASIL, 2006b). O que contribui para um cenário de
vulnerabilidade à insegurança alimentar das famílias residentes nesta região.
50
OBJETIVOS
51
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Analisar a prevalência de insegurança alimentar e fatores associados em
domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 – MT.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Caracterizar os domicílios com adolescentes segundo variáveis demográficas,
socioeconômicas, condições de moradia/saneamento, produção e disponibilidade de
alimento, participação em programas sociais do governo;
- Estimar a prevalência de insegurança alimentar nos domicílios estudados;
- Analisar a associação entre a situação de insegurança alimentar dos domicílios e
variáveis demográficas, socioeconômicas, condições de moradia/saneamento,
produção e disponibilidade de alimento, participação em programas sociais do
governo, o estado nutricional e o consumo alimentar dos adolescentes.
52
MÉTODOS
53
4 MÉTODOS
Este estudo faz parte da pesquisa “Segurança Alimentar e Nutricional da
população residente na área urbana de influência da BR 163”, realizada em 2007, por
pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) e da Faculdade de Nutrição
(FANUT), no Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional –
NESAN, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em parceria com a
Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES - MT) e Secretarias de Saúde
dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso.
4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo secundário, observacional do tipo transversal, de base
populacional em domicílios com adolescentes da zona urbana de municípios da área
de abrangência da BR-163, realizado por meio de inquérito domiciliar.
4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO
Os municípios estudados (Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso)
localizam-se no Estado de Mato Grosso, área de abrangência da rodovia BR-163,
modal rodoviário que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA (Figura 3).
Estes municípios foram selecionados por possuírem escritórios regionais de
saúde, exceto Sorriso que foi escolhido por proximidade geográfica do município de
Sinop, além de questões políticas e de apoio logístico.
Os municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, têm como
principais atividades econômicas: a agroindústria, a agricultura, a pecuária, o
comércio, a indústria, o eco-turismo, o extrativismo mineral e vegetal (FERREIRA,
2001).
54
Na Figura 3 pode-se observar a delimitação da área de abrangência da BR163, que possui a extensão de 974 mil Km2. Esta delimitação foi realizada de acordo
com os conceitos de regionalização do PAS (Plano Amazônia Sustentável) e da
Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR). Este plano é baseado num
conjunto de políticas públicas com destaque para a pavimentação da BR-163, a
conservação dos recursos naturais e a inclusão social, observando a diversidade
socioeconômica e ambiental (BRASIL, 2006b). A rodovia BR-163 localiza-se em
uma das áreas mais importantes da Amazônia, tanto do ponto de vista econômico
quanto ecológico e associada a outras rodovias é um elemento de conectividade entre
o Norte-Sul do Brasil.
Figura 3. Área de abrangência da BR-163.
Fonte: Ministério dos Transportes, 2009.
55
4.2.1. Municípios do estudo
Alta Floresta
Figura 4. Localização geográfica do município de Alta Floresta – MT.
Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009.
O município de Alta Floresta localiza-se no extremo norte de Mato Grosso,
está distante da capital 720,3 Km (FERREIRA, 2001). Possui uma área geográfica de
8.982 Km2, população estimada de 47.236 habitantes, sendo que 9.845 hab. (20,8%)
são adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Apresenta densidade demográfica de 5,25
hab/Km2 e taxa de crescimento de 5,2% (MS-DATASUS, 2005). A renda per capita
média é de R$ 264,66, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) igual a 0,779
(MS-DATASUS, 2005) e o índice de Gini 0,44 (IBGE, 2003). A taxa de
alfabetização é de 88,1% e a de mortalidade geral/1000 hab. alcança 4,9, com taxa de
mortalidade infantil/1000nv de 14 (MS-DATASUS, 2005).
Neste município 62,8% da população apresentava cobertura do Programa Saúde da
Família (MS-DATASUS, 2005). Em relação ao saneamento básico, 27,7% dos
domicílios contavam com água tratada canalizada, 0,3% com sistema de tratamento
de esgoto e 72,3% com coleta pública de lixo (IBGE, 2000).
56
Diamantino
Figura 5. Localização geográfica do município de Diamantino – MT.
Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009.
O município de Diamantino localiza-se no médio norte de Mato Grosso
(FERREIRA, 2001), sendo distante de Cuiabá 199,6 Km (MS-DATASUS, 2005).
Tem uma área geográfica de 7.764,4 Km2, a população é estimada em 20.198 hab.,
sendo sua densidade demográfica igual a 2,4 hab/km2 (MS-DATASUS, 2005). Do
total de habitantes, 4.544 hab. (22,5%) são adolescentes (MS-DATASUS, 2005).
Apresenta taxa de crescimento anual estimada de 4,8%, renda per capita de
R$ 291,13, IDH igual a 0,788 (MS-DATASUS, 2005), índice de Gini de 0,46 (IBGE,
2003), taxa de alfabetização de 88,8%, taxa de mortalidade geral/1000 hab. de 4,4,
taxa de mortalidade infantil/1000nv de 5,9 (MS-DATASUS, 2005).
A cobertura do Programa Saúde da Família da população no município era de
93,4% (MS-DATASUS, 2005). Em relação ao saneamento básico: o atendimento de
água tratada canalizada era de 67,2%, o sistema de tratamento de esgoto atendia
1,2% dos domicílios e a coleta pública de lixo alcançava 69% (IBGE, 2000).
57
Sinop
Figura 6. Localização geográfica do município de Sinop – MT.
Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009.
O município de Sinop está localizado no norte do Estado Mato Grosso, sendo
que a distância entre Cuiabá e Sinop é de 472,4 Km. O nome do município é
derivado do acrônimo de Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, empresa
responsável pela colonização do norte de Mato Grosso, por agricultores do estado do
Paraná (FERREIRA, 2001). Este município possui uma área geográfica de 3.206,8
Km2, com população estimada de 99.121 habitantes, sendo que 20.451 (20,6%) são
adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Apresenta densidade demográfica de 23,4
hab/km2, IDH igual a 0,746 (MS-DATASUS, 2005) e índice de Gini de 0,43 (IBGE,
2003). A renda per capita média é em torno de R$ 340,38 (MS-DATASUS, 2005). A
taxa de crescimento é de 8,3%, a taxa de alfabetização de 91,5%, a taxa de
mortalidade geral/1000 hab. é de 3,3 e a taxa de mortalidade infantil/1000nv de 17
(MS-DATASUS, 2005).
A cobertura do Programa Saúde da Família da população em Sinop era de
69% (MS-DATASUS, 2005). Quanto ao acesso de saneamento básico, 19,5% dos
domicílios possuíam água tratada canalizada, 0,2% tinham tratamento de esgoto e
83,6% coleta pública de lixo (IBGE, 2000).
58
Sorriso
Figura 7. Localização geográfica do município de Sorriso – MT.
Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009.
O município de Sorriso localiza-se no norte do Estado Mato Grosso, sendo
que a distância de Cuiabá é de 393,2 Km (FERREIRA, 2001). Possui uma área
geográfica de 9.328 Km2, com população estimada de 48.325 habitantes, destes
9.905 (20,5%) são adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Sua densidade demográfica
é de 3,8 hab/km2. Apresenta IDH igual a 0,805, renda per capita média de R$ 442,37
(MS-DATASUS, 2005), índice de Gini de 0,43 (IBGE, 2003), 7,4% de taxa de
crescimento e taxa de alfabetização de 92,5% (MS-DATASUS, 2005). A taxa de
mortalidade geral/1000 hab. é de 3,8 e a de mortalidade infantil/1000nv de 14,4 (MSDATASUS, 2005).
De acordo com dados do Ministério Saúde, a cobertura do Programa Saúde da
Família da população em Sorriso era de 99,9% (MS-DATASUS, 2005). Quanto ao
acesso a saneamento básico: 76% dos domicílios tinham água tratada canalizada,
0,2% contavam com tratamento de esgoto e 86,8% com coleta pública de lixo
(IBGE, 2000).
59
4.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO
A população de estudo compreende em domicílios com adolescentes na faixa
etária de 10 a 19 anos, de ambos os sexos, pertencentes à área urbana dos municípios
de Alta Floresta, Diamantino, Sinop, Sorriso - Mato Grosso.
4.3.1 Critérios de Exclusão
Foram
excluídos
do
estudo
adolescentes
gestantes,
adolescentes
institucionalizados (hospitais, prisões, etc) e aqueles com incapacidade mental para
responder o questionário ou incapacidade física que impossibilitasse ou
comprometesse a realização da antropometria.
4.4 PLANEJAMENTO AMOSTRAL
O planejamento amostral deste estudo seguiu o do projeto matriz, apresentado
no Anexo 1. Adotou-se o tipo de amostragem probabilística, considerando os
métodos de amostragem aleatória simples e por conglomerado em dois estágios
(BOLFARINE e BUSSAB, 2005), característica de um delineamento amostral
complexo (PESSOA e SILVA, 1998; SZWARCWALD e DAMACENA, 2008),
onde os setores censitários foram considerados unidades primárias de amostragem e
os domicílios foram considerados as unidades secundárias.
Na amostragem por conglomerado, o sorteio em dois estágios com
probabilidade proporcional ao tamanho dos conglomerados é um processo que
controla o tamanho da amostra de elementos, além de mantê-la auto-ponderada. É
fundamentado nos princípios básicos de eficiência, sendo amplamente usado em
inquéritos populacionais (KISH, 1965; SILVA, 2001).
60
Abaixo nas Tabelas 1 e 2, é apresentada a amostra de domicílios e de
adolescentes com as respectivas perdas, por motivo de recusa ou ausência.
Tabela 1 – Número de domicílios com adolescentes segundo municípios da área de
abrangência da BR 163, considerando a perda de domicílios por recusa ou ausência,
Mato Grosso, 2006.
Amostra
Nº de domicílios
Nº recusa
Nº ausência
Alta Floresta
88
5
3
Municípios
Diamantino Sinop Sorriso
109
95
99
3
4
2
4
1
6
Total
391
14
14
De acordo com o número total de domicílios com adolescentes (n= 391), a
perda foi de 28 domicílios, o que equivale a 7,2% do total da amostra (Tabela 1).
A seguir é apresentada na Tabela 2, a amostra de adolescentes obtida (n=
592), sendo que, a perda de indivíduos por recusa ou ausência não ultrapassou os
10%, totalizando 9,8 % da amostra.
Tabela 2 – Número de adolescentes, perdas por recusa ou ausência segundo
municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006.
Amostra
Nº de adolescentes
Nº recusa
Nº ausência
Alta Floresta
130
7
6
Municípios
Diamantino Sinop Sorriso
170
141
151
6
10
4
13
2
10
Total
592
27
31
Considerando que a amostragem do projeto matriz, trata-se de uma
amostragem complexa, ou seja, foram utilizados vários métodos de amostragem
probabilística.
Assim, buscou-se a obtenção da validade externa do estudo e na medida do
possível, procurou-se generalizar os achados para populações similares à populaçãobase estudada.
Para isto, os dados deste estudo foram ponderados, para compensar as
probabilidades desiguais de seleção e para isto, foram atribuídas ponderações
61
diferenciadas aos elementos da amostra, chamados de fatores naturais de expansão, o
que corresponde ao inverso do produto das probabilidades de inclusão, nos diversos
estágios da seleção (SZWARCWALD e DAMACENA, 2008).
Realizou-se a calibração dos fatores naturais de expansão, que consiste em
estimar pesos para cada elemento da amostra, através dos ajustes de pesos naturais
do desenho segundo informações das variáveis desta mesma amostra (PESSOA e
SILVA, 1998; SZWARCWALD e DAMACENA, 2008).
Com isso, a cada domicílio da amostra e a cada adolescente foi associado um
peso amostral ou fator de expansão, de tal maneira que ambos fossem equivalentes às
respectivas projeções populacionais (IBGE, 2010b) obtidas para o ano de 20051.
Cabe destacar, que a determinação destes pesos, exige a utilização de pacotes
estatísticos devido à complexidade dos cálculos. Neste estudo utilizou-se o pacote
estatístico STATA versão 10.0, pois este pacote apresenta um conjunto de funções ou
procedimentos para dados amostrais complexos (STATA, 2005).
Para definição da amostra de consumo alimentar foi utilizada amostragem
aleatória simples, considerando 20% do número total dos domicílios do projeto
matriz (Tabela 2 - Anexo 1), obtendo-se os dados apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 – Amostra de domicílios, indivíduos e amostra de adolescentes
entrevistados quanto ao consumo alimentar segundo municípios da área de
abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006.
Município
1
Nº domicílio
entrevistado
Nº indivíduo
entrevistado
Amostra
adolescente
Alta Floresta
38
99
23
Sinop
54
137
26
Sorriso
45
116
23
Diamantino
43
121
23
180
473
95
IBGE – Censos Demográficos e Contagem Populacional; para os anos intercensitários, estimas
preliminares dos totais populacionais, estratificado por idade pelo MS/SE/DATASUS, 2005.
62
4.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO
A seguir, são apresentadas as variáveis utilizadas na análise deste estudo.
Investigou-se variáveis demográficas (sexo, idade, raça/cor, naturalidade do
chefe da família, tempo de residência no município e número de indivíduos no
domicílio), variáveis socioeconômicas (renda familiar mensal per capita,
escolaridade do chefe da família e escolaridade dos adolescentes), variáveis relativas
às condições de moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, coleta de lixo,
abastecimento e tratamento de água, esgoto sanitário), medidas antropométricas
(peso e estatura do adolescente para cálculo do IMC) e de segurança alimentar e
nutricional (disponibilidade de alimentos, consumo alimentar, produção de alimentos
no domicílio para consumo próprio e participação em programas sociais do governo
de transferência direta de renda).
4.5.1 Variável dependente
Considerou-se como variável dependente a situação de insegurança alimentar,
medida em escala categórica: segurança alimentar e a insegurança alimentar,
considerando seus níveis de intensidade - leve, moderada e grave (IBGE, 2006).
Para mensurar a IAN aplicou-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar
– EBIA para identificação e classificação dos domicílios (Anexo 4). A EBIA é
composta por 15 perguntas centrais dicotômicas - Sim ou Não, nos últimos três
meses (IBGE, 2006; SEGALL-CORRÊA, 2007a), sendo que cada resposta
afirmativa representa um ponto e a somatória desses pontos avalia a insuficiência
alimentar em diferentes níveis de intensidade, com pontuações diferentes para
domicílios com pelo menos um morador de menos de 18 anos de idade e domicílios
com somente moradores de 18 anos ou mais de idade, conforme apresentado nos
Quadros 1 e 2 (IBGE, 2006).
63
Quadro 1 - Pontuação para classificação dos domicílios com pelo menos um
morador menor de 18 anos de idade.
Pontuação
0 pontos
1 a 5 pontos
6 a 10 pontos
11 a 15 pontos
Categorias
Segurança Alimentar
Insegurança Alimentar leve
Insegurança Alimentar moderada
Insegurança Alimentar grave
Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006).
Quadro 2 - Pontuação para classificação dos domicílios com somente moradores de
18 anos ou mais de idade.
Pontuação
0 pontos
1 a 3 pontos
4 a 6 pontos
7 a 9 pontos
Categorias
Segurança Alimentar
Insegurança Alimentar leve
Insegurança Alimentar moderada
Insegurança Alimentar grave
Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006).
No Quadro 3 apresenta-se a descrição da situação de segurança alimentar, ou
seja, o significado da situação encontrada no domicílio, segundo os níveis de
severidade da IAN.
Quadro 3 – Descrição da situação de segurança alimentar.
Situação de segurança alimentar
Segurança alimentar
Insegurança alimentar leve
Insegurança alimentar moderada
Insegurança alimentar grave
Fonte: PNAD 2009 (IBGE, 2010).
Descrição
Os moradores dos domicílios têm acesso regular
e permanente a alimentos de qualidade, em
quantidade suficiente, sem comprometer o
acesso a outras necessidades essenciais
Preocupação ou incerteza quanto acesso aos
alimentos no futuro; qualidade inadequada dos
alimentos resultante de estratégias que visam
não comprometer a quantidade de alimentos
Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura
nos padrões de alimentação resultante da falta
de alimentos
Redução quantitativa de alimentos entre as
crianças e/ou ruptura nos padrões de
alimentação resultante da falta de alimentos
entre as crianças; fome (quando alguém fica o
dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para
comprar alimentos)
64
4.5.2 Variáveis independentes
4.5.2.1 Variáveis demográficas
- sexo: masculino; feminino (IBGE, 2006);
- idade: em anos completos; serão consideradas as duas fases da adolescência, a
primeira de 10 a 14 anos (fase inicial) e a segunda de 15 a 19 anos (fase final)
(IBGE, 2000);
- raça/cor: branca; não branca (cor da pele parda, negra, indígena e amarela). Autoreferida pelo entrevistado (BURLANDY e COSTA, 2007).
4.5.2.2 Variáveis de migração
- tempo de residência do chefe da família no município, obtido em anos: 0-19; 20-39;
> 40;
- naturalidade do chefe da família: Mato Grosso; outros estados (IBGE, 2008b).
- naturalidade do chefe da família por grandes regiões: Centro-oeste; Norte;
Nordeste; Sudeste; Sul (IBGE, 2006).
4.5.2.3 Variáveis socioeconômicas
- renda familiar per capita mensal: a partir da razão entre a estimativa do rendimento
mensal e o total de pessoas que compõem a unidade de consumo, será obtida a renda
familiar per capita considerando o valor do salário mínimo de R$ 350,00 (vigência:
01 de abril de 2006 a 30 de março de 2007) e R$ 380,00 (vigência: 01 de abril de
2007 a 29 de fevereiro de 2008) vigente no período da pesquisa (MTE, 2010) e
analisada em salários mínimos cateorizados em: < 2; 2–3; >3;
65
- escolaridade do adolescente: 0–4 anos; 5–8 anos; 9-11 anos; 12 ou mais (IBGE,
2008a; VINHOLES et al., 2009);
- escolaridade do chefe da família : 0-4 anos; 5-8 anos; 9-11 anos; 12 ou mais (IBGE,
2008a; VINHOLES et al., 2009);
- número de moradores no domicílio: até 4; de 5 – 6; 7 ou mais (IBGE, 2008a).
4.5.2.4 Variáveis relacionadas às condições de moradia e saneamento
- tipo de construção da moradia: alvenaria acabada; outro tipo – alvenaria com
acabamento incompleto, madeira, material aproveitado (VIANNA e SEGALLCORRÊA, 2008; PANIGASSI et al., 2008);
- coleta de lixo: pública; outra – coletado indiretamente (colocado ou despejado pelo
morador em caçamba ou containers), queimado, enterrado, colocado a céu aberto
(VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008);
- abastecimento de água: rede pública; outro sistema – poço ou nascente, carro-pipa
(VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008);
- tratamento da água: com tratamento – água para beber e cozinhar é tratada (fervida,
clorada), água para beber é mineral; sem tratamento – não tem filtro e nem trata a
água (IBGE, 2002);
- esgoto sanitário: rede pública; outro – fossa séptica, fossa rudimentar, céu aberto
(VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008).
4.5.2.5 Medidas antropométricas
- peso: verificado pela entrevistadora em quilogramas (Kg);
- estatura: medida pela entrevistadora em centímetros (cm).
66
Segundo o projeto matriz, as medidas antropométricas dos adolescentes
foram realizadas nos próprios domicílios, com instrumentos devidamente aferidos
por entrevistadores treinados e padronizados, segundo as recomendações de
JELLIFER (1968).
O peso foi obtido com a balança eletrônica marca Tanita, modelo UM 080
com capacidade de até 150 Kg e variação de 0,1 kg. Durante a pesagem, os
entrevistados mantiveram-se em posição ortostática, braços estendidos ao longo do
corpo, sem sapatos, usando roupas leves, sem adornos e acessórios e, ainda, olhando
para frente. Os participantes foram pesados uma vez e os valores registrados em
quilogramas, na Ficha de Antropometria.
A estatura foi obtida com os indivíduos descalços, sem qualquer penteado ou
adorno na cabeça, mantendo-se em posição ereta, com a coluna vertebral e
calcanhares encostados na parede ou portal, joelhos esticados, pés juntos e braços
estendidos ao longo do corpo. A cabeça foi posicionada de modo que os olhos
mirassem um plano horizontal, de acordo com o plano de Frankfurt. A estatura foi
medida no momento da inspiração. O instrumento utilizado foi o Estadiômetro
Portátil, marca Seca com escala milimétrica até 220 cm.
A medida de estatura foi realizada em duplicata por dois examinadores, sendo
os valores registrados atentamente na Ficha de Antropometria. Para a altura não foi
permitida diferença maior que 0,5 cm entre as duas medidas. Quando a diferença
entre as duas medidas era maior, realizava-se uma nova aferição em duplicata para
substituição da medida inadequada, ao final considerou-se a média das medidas.
Nesta pesquisa, o estado nutricional dos adolescentes foi avaliado pelo Índice
de Massa Corporal – IMC por idade, por meio da equação abaixo (3) e será
classificado (Quadro 4) conforme o critério proposto pela World Health Organization
(2007).
IMC  peso(kg) / estatura 2(m)
(3)
67
Quadro 4 - Pontos de corte de IMC por idade, estabelecidos para adolescentes.
Valores críticos
< Percentil 3
≥ Percentil 3 e <
< Escore-z -2
≥ Escore-z -2 e <
Percentil 85
≥ Percentil 85 e <
Escore-z +1
≥ Escore-z +1 e <
Percentil 97
≥ Percentil 97
Escore-z +2
≥ Escore-z +2
Diagnóstico nutricional
Baixo IMC para idade
IMC adequado ou Eutrófico
Sobrepeso
Obesidade
Fonte: WHO - World Health Organization, 2007.
4.5.2.6 Variáveis relacionadas à situação de insegurança alimentar
- disponibilidade de alimentos (freqüência de disponibilidade por grupos de
alimentos): 1-pães, cereais, raízes e tubérculos (arroz, macarrão, milho e derivados,
pão, bolachas, biscoitos, mandioca, batata doce, cará, beterraba, inhame); 2leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, soja); 3-carnes e ovos (carne bovina, de
frango, porco, peixe, miúdos em geral, salsicha, mortadela, lingüiça, salame,
presunto e ovos); 4-leite e produtos lácteos (leite, queijo, iogurte, coalhada,
requeijão,nata); 5-frutas (frutas, suco natural de fruta); 6-hortaliças (verduras:
folhosos, legumes); 7-óleos e gorduras (margarina, manteiga, banha, óleo, azeite);
8-açúcares e doces (mel, melado, açúcar, rapadura, doces); 9- refrigerantes; 10sucos artificiais e infusões (sucos industrializados, café, chimarrão, chá) (PHILIPPI,
1999; VOCI et al., 2008; UNICAMP, 2003).
- consumo alimentar: freqüência do consumo de acordo com os grupos de alimentos:
1-pães,cereais, raízes e tubérculos (arroz, macarrão, milho e derivados, pão,
bolachas, biscoitos, mandioca, batata doce, cará, beterraba, inhame); 2-leguminosas
(feijão, lentilha, ervilha, soja); 3-carnes e ovos (carne bovina, de frango, porco,
peixe, miúdos em geral, salsicha, mortadela, lingüiça, salame, presunto e ovos); 4leite e produtos lácteos (leite, queijo, iogurte, coalhada, requeijão,nata); 5-frutas
(frutas, suco natural de fruta); 6-hortaliças (verduras: folhosos, legumes); 7-óleos e
68
gorduras (margarina, manteiga, banha, óleo, azeite); 8-açúcares e doces (mel,
melado, açúcar, rapadura, doces); 9- refrigerantes; 10- sucos artificiais e infusões
(sucos industrializados, café, chimarrão, chá) (PHILIPPI, 1999; VOCI et al., 2008).
- produção de alimentos no domicílio para consumo próprio: sim; não;
- participação em programas sociais do governo de transferência direta de renda
(Bolsa Família): sim; não (IBGE, 2006);
As informações das variáveis independentes foram obtidas através do projeto
matriz que utilizou questionários estruturados, conforme descrito no item 1.3.2 do
Anexo 1.
Para verificar a disponibilidade de alimentos dos domicílios e o consumo de
alimentos dos adolescentes foi utilizado o Questionário de Freqüência Alimentar QFA (SICHIERI e EVERHART, 1998; CAVALCANTE, 2004; VOCI et al., 2008).
O QFA, comumente utilizado em estudos epidemiológicos para a obtenção de
informações qualitativa, semi-quantitativa ou quantitativa sobre o consumo
alimentar, é um questionário que permite registrar, descrever e classificar a ingestão
de populações e indivíduos segundo o seu consumo usual de alimentos (WILLETT,
1994; SALVO e GIMENO, 2002; SLATER et al., 2003; FISBERG et al., 2005).
Em geral, o objetivo do QFA não é de obter, de forma exata, a ingestão
quantitativa de algum nutriente, mas sim de identificar, sob a forma de triagem,
grupos de indivíduos que apresentam ingestão inadequada de um determinado
alimento (ANJOS, 2009). Possui basicamente dois componentes: uma lista de
alimentos e um espaço, no qual o indivíduo tem liberdade para responder com que
freqüência consome cada alimento. A lista é constituída pelo maior número possível
de alimentos que aportam nutrientes à dieta (FISBERG et al., 2005).
Segundo KEPPLE e SEGALL-CORRÊA (2011) é um instrumento de
mensuração de um dos indicadores da SAN, o consumo alimentar. O QFA tem como
vantagens: ser um instrumento de fácil aplicação, baixo custo operacional, boa
reprodutibilidade e validade aceitável, o que permite sua aplicação em estudos
epidemiológicos, com elevado número de participantes, sendo possível distinguir os
diferentes padrões de consumo entre os indivíduos (SALVO e GIMENO, 2002). Por
ser um instrumento que requer esforço e tempo, bem como, hábitos do passado, tem
como limitação a aplicação em analfabetos e idosos (FISBERG et al., 2008).
69
Para investigar a disponibilidade de alimentos nos domicílios utilizou-se o
QFA, considerando que na pesquisa do processo de adaptação, elaboração e
validação da EBIA (UNICAMP, 2003) e semelhante a pesquisa realizada por
OSÓRIO et al. (2009) este instrumento foi utilizado para esta finalidade.
Lembrando que a literatura também apresenta como instrumento de
mensuração da disponibilidade de alimentos, as Pesquisas de Orçamento Familiar –
POFs (LEVY-COSTA et al., 2005; YOKOO et al., 2008).
4.6 MODELO DE ANÁLISE
Visto que, a situação de segurança alimentar se apresenta dentro uma
multicausalidade foi construído o modelo de análise para este estudo (Figura 8), que
tem como base os modelos propostos por VIEIRA (2007), BARROSO et al. (2008) e
SANTOS (2008), bem como, os indicadores de insegurança alimentar (PÉREZ ESCAMILLA e SEGALL - CORRÊA, 2008), os determinantes da SAN
apresentados na PNAD 2010 e os determinantes sociais da situação de segurança
alimentar, bem como, suas dimensões2.
Assim, VICTORIA et al. (1997) propõe que a escolha das variáveis para
inclusão no modelo não dependam puramente da associação estatística na análise
bivariada, mas também, do conhecimento acerca da determinação social e biológica
do evento de interesse. Pois, a epidemiologia, como todas as outras ciências, acha-se
profundamente inserida na vida social e está sujeita aos condicionantes e pressões
existentes na sociedade (COSTA et al, 1990).
2
Para informações complementares, consultar Equity, social determinants and public health
programmes. Food safety: equity and social determinants (WHO, 2010). Conceituando e medindo a
segurança alimentar e nutricional (KEPPLE e SEGALL-CORRÊA, 2011). Nutrição e Saúde Pública
(TADDEI et al., 2011), Rio de Janeiro: Editora Rubio.
70
Figura 8. Modelo de análise da situação de insegurança alimentar e nutricional em
domicílios com adolescentes.
É importante a construção do modelo de análise, porque ele possibilita a
avaliação de fatores de risco (FRISS e SELLES, 2003; SZKLO e NIETO, 2007) que
na investigação da situação de insegurança alimentar em domicílios com
adolescentes, estão inseridos em duas dimensões: a Dimensão Domiciliar e a
Dimensão Individual, conforme apresentado na Figura 8.
Na Dimensão Domiciliar, encontram-se informações do chefe da família, do
domicílio e características familiares. Nesta dimensão tem-se como possíveis fatores
distais da insegurança alimentar e nutricional: as características das condições de
moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, tratamento do esgoto
sanitário, coleta de lixo, abastecimento e tratamento da água), as características de
migração (naturalidade e tempo de residência do chefe da família no município),
participação em programas sociais do governo de transferência direta de renda (Bolsa
Família); e como fatores que atuam diretamente no evento tem-se os fatores
proximais: as características socioeconômicas (número de moradores no domicílio,
renda familiar per capita mensal, escolaridade do chefe da família), a disponibilidade
de alimentos e produção de alimentos no domicílio para consumo próprio.
71
Na Dimensão Individual, encontram-se às informações individuais dos
adolescentes sobre o estado nutricional e o consumo alimentar. Nesta dimensão estão
os fatores que possivelmente podem sofrer influência da situação de insegurança
alimentar e nutricional, bem como, dos fatores da Dimensão Domiciliar.
Por meio do modelo de análise anteriormente apresentado, pode-se observar
tanto a prevalência de domicílios em situação de IA (útil na confecção de mapas de
risco nos níveis nacional, regional e local), quanto à relação de causalidade entre os
diversos aspectos (que permitem especificar medidas de redução da IA) podendo ser
utilizadas na formulação, avaliação e monitoramento de políticas, e programas de
alimentação e combate à pobreza (PESSANHA et al., 2008).
4.7 SELEÇÃO E TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES, ESTUDO
PILOTO E TRABALHO DE CAMPO
A seleção e treinamento dos entrevistadores, o estudo piloto e o trabalho de
campo desta pesquisa estão apresentados no Anexo 1, conforme o projeto matriz.
4.8 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA A QUALIDADE DOS
DADOS
Os procedimentos utilizados para garantir a qualidade dos dados coletados,
incluíram supervisão contínua e sistemática do trabalho de campo do projeto matriz,
bem como, reuniões semanais com a equipe de entrevistadores para avaliação dos
trabalhos realizados e reuniões com os coordenadores da pesquisa. Os dados foram
digitados em duplicata no programa Epi Info 2000, por estudantes do Curso de
Nutrição da UFMT, utilizando-se o recurso Data Compare do programa para
correção das diferenças entre os bancos de dados.
72
As informações contidas nos questionários e no banco de dados utilizadas
neste estudo foram conferidas para a verificação de possíveis falhas e inconsistências
e visando a confiabilidade psicométricada da Escala Brasileira de Insegurança
aplicada nesse estudo, foi calculado o Alpha de Crombach3.
4.9 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS
Para análise foram utilizados o programa Statistical Package for the Social
Sciencies – SPSS versão 15.0 (SPSSTM, 2006), MINITAB versão 15.0 (MINITAB,
2007), WHO Anthro Plus versão 3 (WHO, 2010b) e STATA versão 10.0 (STATA,
2005).
Utilizou-se estatísticas descritivas: tabelas, gráficos, medidas de posição e
variação e estatísticas inferenciais: razão de prevalência com seus respectivos
intervalos de 95% de confiança e a associação entre as variáveis, verificada por meio
do teste de qui-quadrado (χ2) de Pearson, com nível de significância de p<0,05.
Efetuo-se uma análise da variância múltipla com duas entradas para comparar
em média a frequência de disponibilidade e consumo de alimentos nos domicílios,
considerando um nível de significância de p<0,05.
Realizou-se a análise de regressão múltipla de Poisson e para introdução das
variáveis independentes no modelo da regressão, foi considerado o processo passo a
passo para frente (stepwise forward). As variáveis que apresentaram p<0,20 na
análise bivariada, foram introduzidas na análise múltipla conforme o modelo
apresentado anteriormente na Figura 8 e permaneceu segundo o seu nível
significância.
Permaneceram no modelo final da regressão as variáveis que apresentarem
nível de significância menor que 0,05 (p<0,05).
3
Trata-se de um índice que verifica a consistência interna, que toma valores entre 0 e 1, serve para
comprovar se o instrumento é confiável, se ele faz medições estáveis e consistentes. O Alpha de
Crombach, entre 0,70 e 0,90 indica uma boa consistência interna (OVIEDO & CAMPO-ARIAS,
2005).
73
A literatura apresenta como alternativas de análise de dados para estudos de
corte tranversal os modelos de regressão log-binomial, Poisson e entre outros. No
entanto, optou-se por utilizar neste estudo a regressão múltipla de Poisson,
considerando a alta prevalência do desfecho (52,8% IAN), critério este, importante
para o uso deste modelo (SPIEGELMAN e HERTZMARK, 2005; SZKLO e NIETO,
2007; COUTINHO et al, 2008; HIRAKATA, 2009).
Cabe destacar, que para todas as inferências utilizadas, os dados foram
ponderados, utilizando o pacote estatístico STATA 10.0.
4.10 ASPECTOS ÉTICOS
De acordo com o projeto matriz, os entrevistados dos quais foram utilizados
os dados para este estudo, não sofreram nenhum tipo de risco à saúde. Apenas foram
submetidos ao exame antropométrico e a entrevista. Foi solicitado aos pais/
responsáveis pelos adolescentes e aos maiores de 18 anos, a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que continha todos os procedimentos a
serem desenvolvidos (Anexo 2).
O projeto matriz do qual esta pesquisa faz parte foi submetido ao Comitê de
Ética e Pesquisa envolvendo seres humanos do Hospital Universitário Júlio Muller,
com aprovação sob o número de protocolo 230/CEP-HUJM/06 (Anexo 3), sendo
respeitadas as normas regulamentadoras expressas na Resolução CNS/CONEP
196/96 do Ministério da Saúde.
4.11 FINANCIAMENTO
O projeto matriz, do qual esta pesquisa faz parte foi financiado pelo
Ministério de Ciência e Tecnologia/Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico- CNPq/Ministério da Saúde/Secretaria de Ciência
74
Tecnologia e Insumos Estratégicos- DECIT (Proc 402879/2005-8), e também teve
apoio da bolsa de mestrado do CNPq (Proc 060645/2009-1).
75
RESULTADOS
76
5 RESULTADOS
5.1 PERFIL DA POPULAÇÃO DO ESTUDO SEGUNDO VARIÁVEIS
DEMOGRÁFICAS,
SOCIOECONÔMICAS
E
VARIÁVEIS
RELACIONADAS AO DOMICÍLIO
Da amostra de domicílios com adolescentes (n= 391), foram estudados 363
domicílios, havendo 7,2% (n= 28) de perda por recusa.
O número de adolescentes pesquisados foi de 592, com uma perda de 9,2%
(n= 58) por motivo de recusa ou ausência no momento da visita ao domicílio,
totalizando 534 adolescentes estudados.
Ocorreram exclusões por deficiência física (n=1), deficiência mental (n=1),
incapacidade física que impossibilitasse ou comprometesse a realização da
antropometria (n=1)4, gravidez (n=5) e dois indivíduos sem informação
antropométrica – por erro durante a coleta de dados. Totalizando 10 adolescentes que
não participaram da antropometria.
Na Tabela 4 observou-se um predomínio de adolescentes do sexo feminino
(52,6%), com idade entre 10 e 14 anos (50,7%), de cor não branca - preta, parda,
amarela ou indígena (64,7%), com escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo (50%).
Ainda na Tabela 4, observou-se que 45,7% dos chefes de família, tinham até
quatro anos de estudo e apenas 4,7% tinha 12 anos ou mais de estudo.
Quanto às informações de migração 71,4% dos chefes da família eram
naturais de outros estados do Brasil e quando observado por grandes regiões houve
predomínio da região Sul (41,6%), seguido da região Centro-Oeste com 32,5%. Dos
363 chefes de família, 53,4% informaram residir a até 19 anos nos municípios
estudados, enquanto, 8,6% residiam a mais de 40 anos.
4
Adolescente encontrava-se engessado com lesão na perna.
77
Tabela 4 – Distribuição dos adolescentes e chefes das famílias, dos municípios de
Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso – área de abrangência da BR-163 segundo
variáveis demográficas e socioeconômicas, Mato Grosso, 2007.
N
%
(n= 534)
masculino
feminino
253
281
47,38
52,62
Idade
10 – 14
15 – 19
271
263
50,75
49,25
*1
branca
não branca
188
345
35,27
64,73
Escolaridade (anos de estudo)
0-4
5-8
9-11
12 ou mais
(n= 363)
0-4
5-8
9-11
12 ou mais
153
267
103
11
28,65
50,00
19,29
2,06
166
118
59
17
45,73
32,51
16,25
4,68
*3Naturalidade
Mato Grosso
outros estados
98
259
27,00
71,35
*4Naturalidade por grandes regiões
Centro-oeste
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
118
7
37
44
151
32,51
1,93
10,19
12,12
41,60
Tempo de residência no município
(em anos)
0-19
20-39
> 40
194
138
31
53,44
38,02
8,54
Variáveis
Categorias
Informações do Adolescente
Sexo
Cor/raça
Informações do chefe da família
*2Escolaridade (em anos de estudo)
*1(n – perda = 533); *2(n – NR = 360); *3, 4(n – NR = 357). Sendo que, NR significa que o indivíduo
não respondeu.
Por meio da Tabela 5, observa-se que foi predominante em 93,1% dos
domicílios a renda familiar per capita mensal menor que dois salários mínimos e
58,1% das famílias eram constituídas por até quatro moradores.
78
Tabela 5 – Distribuição da renda, número de moradores, informações de moradia e
saneamento, produção de alimentos e participação em programas sociais, dos
domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato
Grosso, 2007.
N
%
(n= 361)
<2
2-3
>3
338
17
8
93,11
4,68
2,20
Nº de moradores no domicílio
até 4
5-6
7 ou mais
211
122
30
58,13
33,61
8,26
Tipo de construção da moradia
alvenaria acabada
outro tipo
126
237
34,71
65,29
Abastecimento de água
rede pública
outro sistema
303
60
83,47
16,53
Tratamento de água
com tratamento
sem tratamento
213
150
58,68
41,32
Produção de alimentos para consumo
próprio
sim
não
210
153
57,85
42,15
Participação em programas sociais do
governo (Bolsa família)
sim
não
72
291
19,83
80,17
Variáveis
Categorias
Renda familiar per capita mensal
(salário mínimo)
Em relação às características de moradia e saneamento, a maior parte dos
domicílios (65,3%) respondeu ter a moradia de alvenaria, mas, com acabamento
incompleto, de madeira ou de material aproveitado.
Dos 363 domicílios 99,4% eram atendidos pela coleta pública de lixo, 98,6%
não apresentavam rede pública de esgoto sanitário, sendo a destinação realizada
através de fossa séptica, fossa rudimentar ou a céu aberto.
O abastecimento de água era distribuído por meio da rede pública (83,5%) e
16,6% tinham outro tipo de abastecimento (poço ou nascente, carro-pipa).
Apesar de 58,7% utilizar água tratada (fervida, clorada ou mineral) para beber
ou cozinhar, um percentual considerável 41,3% consumiam água sem nenhum tipo
de tratamento.
79
Das famílias pesquisadas, 57,9% produziam alimentos no domicílio para
consumo próprio e 80,2% não participavam de programas sociais de transferência de
renda do governo, como o Bolsa família.
5.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DOS
DOMICÍLIOS ESTUDADOS
A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) evidenciou uma
consistência interna muito boa, visto que o Alpha de Crombach foi de 0,87.
Conforme apresentado na Figura 9, observou-se que 51,8% dos domicílios
estavam em situação de insegurança alimentar e nutricional, e segundo os seus níveis
de severidade: 28,7% estavam em insegurança leve, 14,3% insegurança moderada e
8,8% em insegurança grave. Desta forma a situação de segurança alimentar foi
identificada em 48,2% dos domicílios estudados.
Figura 9 – Representação da situação de segurança alimentar e nutricional dos
domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR-163, Mato
Grosso, 2007.
SAN: segurança alimentar e nutricional; IAL: insegurança alimentar leve; IAM:
insegurança alimentar moderada; IAG: insegurança alimentar grave.
80
Cabe ressaltar, que em novembro de 2010 foi publicada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios
– PNAD, após uma Oficina Técnica para Análise da EBIA realizada em agosto de
2010. Na recente publicação houve modificações na EBIA e na sua pontuação, que
passou a contar com 14 perguntas e novos pontos de corte5 (Anexo 5).
Considerando essa nova pontuação, realizou-se a reclassificação da situação
de segurança alimentar dos domicílios para verificar eventuais alterações na
prevalência de SAN e IAN.
Observou-se que a prevalência de segurança (48,2 %) e insegurança alimentar
(51,8%) foi mantida. No entanto, para os níveis da IAN houve alterações na
prevalência de IAM (11,3%) e IAG (11,8%), sendo que, a IAL manteve-se com
28,7% conforme apresentado na Tabela 6.
Tabela 6 - Prevalência da situação de segurança alimentar em domicílios dos
municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - área de abrangência da
BR 163 segundo a pontuação da EBIA (2004) e da EBIA (2010).
Classificação
EBIA 2004
EBIA 2010
Segurança Alimentar
48,2%
48,2%
Insegurança Alimentar leve
28,7%
28,7%
Insegurança Alimentar moderada
14,3%
11,3%
Insegurança Alimentar grave
8,8%
11,8%
Quando observada a frequência de respostas positivas para as perguntas da
EBIA, obteve-se maior frequência para as perguntas 1 “teve preocupação que a
comida acabasse antes que pudesse comprar mais”, 4 “teve que se arranjar com
apenas alguns alimentos para adolescentes menores de 18 anos porque o
dinheiro acabou” e 3 “ficou sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e
variada” e menores freqüências para as perguntas 14 “menores de 18 anos
(crianças ou adolescentes) tiveram fome” e 15 “menores de 18 anos (crianças ou
adolescentes) ficaram sem comer por um dia inteiro”, conforme a Figura 10.
5
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Segurança Alimentar – Aspectos sobre segurança:
alimentar instrumentos legal, conceitual e metodológico (PNAD, 2010).
81
Figura 10 – Freqüência de respostas positivas para as 15 perguntas da EBIA em
domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato
Grosso, 2007.
Considerando os componentes que a EBIA é capaz de mensurar (componente
psicológico, redução na qualidade dos alimentos, diminuição quantitativa dos
alimentos e fome) e os graus de severidade da insegurança alimentar (IAL, IAM e
IAG), subdividiu-se a escala em três blocos: Bloco1 - perguntas 1, 3,4; Bloco 2 perguntas 2, 5, 6, 7, 8 e o Bloco 3 - perguntas 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, onde as
freqüências de respostas positivas são apresentadas na Tabela 7 e nas Figuras 11,12,
13).
Em relação a cada bloco de perguntas, destaca-se: no Bloco 1, a pergunta 1
com aproximadamente 50% de respostas positivas, ou seja, dos 363 domicílios
estudados, 173 responderam ter “preocupação que a comida acabasse antes que
pudesse comprar” expressando assim, a preocupação de que pudesse faltar alimento
no futuro próximo.
82
Tabela 7 – Freqüência de respostas positivas às perguntas da EBIA em domicílios
dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, Mato Grosso, 2007.
Perguntas da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA
N
%
1. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve a preocupação que a comida acabasse antes
que pudesse comprar mais comida?
173
47,7
3. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ficou sem dinheiro para ter uma alimentação
saudável e variada?
140
38,6
4. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve que se arranjar com apenas alguns
alimentos para sua(s)/ adolescente(s), menores de 18 anos, porque o dinheiro acabou?
149
41,0
2. Nos últimos 3 meses, a comida acabou antes que o a(o) Sra. (Sr.) tivesse dinheiro
para comprar mais?
88
24,2
5. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) não pôde oferecer à(s) criança(s)/adolescente(s),
menores de 18 anos, uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro?
95
26,2
50
13,8
74
20,4*
75
20,7*
9. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez sentiu fome mas não comeu porque
não podia comprar comida suficiente?
30
8,3*
10. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) perdeu peso porque não tinha dinheiro suficiente
para comprar comida?
29
8,0*
11. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou qualquer outro adulto em sua casa ficou,
alguma vez, um dia inteiro sem comer ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não
havia dinheiro para comprar comida?
36
9,9*
12. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez diminuiu a quantidade de
alimentos das refeições de sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos,
porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida?
56
15,4
13. Nos últimos 3 meses, alguma vez, a (o) Sra. (Sr.) teve que deixar de fazer uma
refeição da(s) sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não
havia dinheiro para comprar comida?
34
9,4
14. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, teve
(tiveram) fome, mas a(o) Sra. (Sr.) simplesmente não podia comprar mais comida?
23
6,4
Bloco 1
Bloco 2
6. Nos últimos 3 meses, a(s) criança(s)/o(s) adolescente(s), menores de 18 anos, não
comeu (comeram) quantidade suficiente porque não havia dinheiro suficiente para
comprar comida?
7. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou algum adulto em sua casa diminuiu, alguma
vez, a quantidade de alimentos nas refeições ou pularam refeições, porque não havia
dinheiro suficiente para comprar a comida?
8. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez comeu menos do que achou que
devia porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida?
Bloco 3
15. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos,
ficou (ficaram) sem comer por um dia inteiro porque não havia dinheiro para comprar 11
3,0
comida?
*O responsável pelo domicílio se recusou a responder essas perguntas (perda das informações de 1
domicílio).
83
No Bloco 2, observou-se que 26,2% dos domicílios informaram que “não
pôde oferecer uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro”
(pergunta 5) e 24,2% dos domicílios responderam “acabar comida antes que tivesse
dinheiro para comprar mais” (pergunta 2) ressaltando a restrição qualitativa e
quantitativa na alimentação da família.
No Bloco 3 destacou-se a pergunta 12, pois, 56 domicílios (15,4%)
responderam que “diminuiu a quantidade de alimentos das refeições, porque não
havia dinheiro suficiente para comprar comida”, expressando a deficiência
quantitativa e mesmo fome entre os membros da família.
Figura 11 – Freqüência de respostas positivas às perguntas 1, 3 e 4 da EBIA em
domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007.
Na Figura 11 é apresentado Bloco1, no qual se observou uma maior
freqüência de respostas positivas para os domicílios em situação de IAL. Sugerindo
que as perguntas do Bloco 1 são capazes de expressar a insegurança alimentar leve
– “Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade
84
inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a
quantidade de alimentos”.
Na Figura 12 está apresentado o Bloco 2, no qual verificou-se que os
domicílios que responderam positivamente para as perguntas deste bloco, estavam
em IAM. Assim, o Bloco 2 permitiu destacar a situação de insegurança alimentar
moderada – “Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de
alimentação resultante da falta de alimentos”, exceto para a pergunta 6, pois a
maioria dos domicílios que a responderam positivamente estavam em situação de
IAG.
Figura 12 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 2, 5, 6, 7 e 8 da EBIA em
domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007.
Na Figura 13, estão representadas as perguntas do Bloco 3 e para todas elas,
os domicílios em IAG responderam positivamente. Portanto, as perguntas que
compõe este bloco expressaram a situação de insegurança alimentar grave “Redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou ruptura nos padrões de
alimentação resultante da falta de alimentos entre as crianças; fome (quando
alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para comprar alimentos)”.
85
Figura 13 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 9, 10, 11,12, 13, 14 e 15
da EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato
Grosso, 2007.
Ainda no Bloco 3, observou-se que nas perguntas 12 e 13 houve respostas
positivas dos domicílios em situação de insegurança alimentar leve, no entanto, isso
representa no máximo 5% dos domicílios estudados (Figura 13).
5.3
DISPONIBILIDADE
CONSUMO
ALIMENTAR
DE
E
ALIMENTOS
ESTADO
NOS
DOMICÍLIOS,
NUTRICIONAL
DOS
ADOLESCENTES
A seguir, é apresentado o resultado da análise da disponibilidade dos
alimentos nos 363 domicílios e a freqüência do consumo alimentar dos 95
adolescentes estudados segundo os grupos de alimentos.
O grupo de alimentos G1, composto por pães, cereais, raízes e tubérculos,
esteve disponível todos os dias nos domicílios e os adolescentes confirmaram
86
consumí-lo diariamente. Ocorrendo o mesmo com o grupo G2 (leguminosas), G8
(açúcar e doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), conforme Figura 14 e 15.
Os grupos G3 (carnes e ovos), G5 (frutas), G6 (hortaliças) e G9
(refrigerantes) embora disponíveis nos domicílios, estes eram consumidos de 1 a 3
vezes na semana pelos adolescentes.
Gráfico 14 - Freqüência da disponibilidade de alimentos em domicílios de
municípios da área de abrangência da BR 163, considerando os principais grupos de
alimentos, Mato Grosso, 2007.
G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos
lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;
G10- Sucos artificiais e infusões.
O grupo G4 (leites e produtos lácteos) esteve disponível todos os dias nos
domicílios, no entanto, os adolescentes disseram não ter consumido nenhum
alimento deste grupo na semana anterior a pesquisa (Figura 15).
Ainda nas Figuras 14 e 15, observou-se que no grupo G7 (óleos e gorduras)
predominou a não disponibilidade nos domicílios, e portanto, o não consumo pelos
adolescentes naquela semana.
87
Figura 15 - Frequência do consumo alimentar de adolescentes de municípios da área
de abrangência da BR 163, considerando os principais grupos de alimentos, Mato
Grosso, 2007.
G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos
lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;
G10- Sucos artificiais e infusões.
Cabe destacar que, neste grupo G7 estão alimentos como: manteiga, banha e azeite
(Figuras 16 e 17).
Figura 16 - Freqüência da disponibilidade de alimentos do Grupo 7 (óleos e
gorduras) em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato
Grosso, 2007.
88
Figura 17 - Freqüência do consumo alimentar para o Grupo 7 (óleos e gorduras) de
adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007.
Assim, não ter disponível e não consumir esse grupo, refere-se a estes
alimentos, conforme apresentado nas Figuras 16 e 17.
De acordo com a frequência de cada alimento pertencente a este grupo,
observou-se que o óleo e a margarina estiveram disponíveis nos domicílios e os
adolescentes informaram ter consumido.
Na Figura 18 a seguir, é representada a avaliação do estado nutricional dos
adolescentes, no qual observou-se a prevalência de 82,3% de eutrofia, 4,0% de baixo
peso, 10,5% de sobrepeso, e 3,2% de obesidade.
Figura 18 – Estado nutricional dos adolescentes de domicílios pertencentes a
municípios da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007.
89
5.3.1 Disponibilidade de alimentos e consumo alimentar, comparando a
situação de segurança alimentar dos domicílios
Outro enfoque importante deste estudo foi analisar a disponibilidade de
alimentos nos domicílios e o consumo alimentar dos adolescentes segundo a situação
de segurança alimentar encontrada nos domicílios, por meio das frequências
referidas.
Assim, na Tabela 8 encontram-se detalhadas as freqüências referidas da
disponibilidade de alimentos nos domicílios, distribuída por grupos e por tipos de
alimentos, segundo a situação de segurança alimentar.
Considerando a freqüência diária de disponibilidade por tipo de alimentos que
compõe cada grupo, observou-se que nos domicílios em IAN, houve maior
disponibilidade de arroz, macarrão, milho e derivados (G1), óleo e margarina (G7),
açúcar, mel, melado, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão, chá (Grupo 10).
Embora os domicílios em SAN tenham apresentado a mesma ordem da
freqüência de disponibilidade dos alimentos citados anteriormente, as freqüências
foram menores para os grupos G1 (175), G8 (174), G10 (171).
Para o grupo G7 quando observada a freqüência de disponibilidade diária de
alimentos como a margarina, verificou-se maior freqüência em domicílios em SAN
que em domicílios em IAN. Inversamente, o óleo, esteve disponível em maior
freqüência nos domicílios que estavam em situação de IAN, comparado aos que
estava em situação de SAN (Tabela 8).
O grupo de leguminosas (G2) apresentou uma freqüência de disponibilidade
nos domicílios em IAN muito próxima àqueles que estavam em situação de SAN,
179 e 175, respectivamente.
Ainda nos domicílios em insegurança alimentar, para os grupos G3 e G4, os
alimentos que apresentaram maior freqüência de disponibilidade foram: as carnes
(133) e leites (116), respectivamente. O mesmo observou-se nos domicílios em SAN,
porém, nesses domicílios a freqüência desses alimentos foi maior (173) e (152).
90
Tabela 8 - Distribuição da freqüência referida da disponibilidade de alimentos nos
domicílios segundo a situação de segurança alimentar, em municípios da área de
abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007.
Grupos de Alimentos (n= 363 domicílios)
Grupo1 (Pães, cereais, raízes e tubérculos)
Arroz, macarrão,, milho e derivados
Pão, bolachas, biscoitos
Mandioca, batata, batata doce, cará
beterraba, inhame
Total
Grupo2 (Leguminosas)
Feijão, lentilha, ervilha, soja
Total
Grupo3 (Carnes e Ovos)
Ovos
Carne (bovina, frango, porco, peixe,
miúdos)
Salsicha, mortadela, lingüiça, salame
presunto
Total
Grupo4 (Leite e produtos lácteos)
Leite
Queijo, iogurte, coalhada, requeijão,
nata
Total
Grupo5 (Frutas)
Frutas, suco natural de fruta
Total
Grupo6 (Hortaliças)
Verduras (folhosos)
Legumes
Total
Grupo7 (Óleos e Gorduras)
Margarina
Manteiga
Banha
Óleo
Azeite
Total
Grupo8 (Açúcar e doces)
Mel, melado, açúcar, rapadura
Doces
Total
Grupo9 (Refrigerantes)
Refrigerante
Total
Grupo10 (Sucos artificiais e infusões)
Sucos industrializados
Café, chimarrão, chá
Total
IAN
SAN
2 3
4
175
169
113
0
2
38
0
3
13
0
1
11
108
457
40
16
12
2
2
4
4
175
175
0
0
0
0
0
0
25
31
9
16
54
8
154
173
8
1
4
1
8
0
28
42
5
113
64
45
7
59
259
98
30
175
391
54
12
67
116
38
27
24
4
0
41
126
152
87
10
23
3
9
10
56
154
51
4
167
239
33
12
66
65
65
30
30
13
13
80
80
119
119
17
17
16
16
23
23
57
63
120
51
54
105
18
9
27
62
62
124
132
123
155
18
23
41
15
18
33
10
11
21
134
18
18
182
20
372
8
1
1
0
3
13
1
1
0
0
0
2
45
168
169
6
165
553
165
29
33
173
57
457
0
3
2
0
3
8
0
1
0
0
1
2
10
142
140
2
114
408
180
48
228
1
18
19
1
6
7
6
116
122
174
86
260
0
28
28
0
8
8
1
53
54
19
19
82
82
3
3
84
84
33
33
94
94
12
12
36
36
63
175
238
33
2
35
10
3
13
82
8
90
90
171
261
20
1
21
12
0
12
53
3
56
1
2
3
4
1
184
120
58
1
28
38
1
9
17
2
31
75
362
67
27
179
179
3
3
98
133
*1= todos os dias; 2= 1 a 3 vezes/semana; 3= 4 a 6 vezes/semana; 4= não teve disponível.
91
As frutas e sucos naturais de frutas (G5) estavam disponíveis com maior
freqüência nos domicílios em SAN, bem como, doces (G8), os refrigerantes (G9) e
os sucos industrializados (G10).
Os folhosos e os legumes, alimentos pertencentes ao grupo das hortaliças
(G6) esteve mais disponível nos domicílios em situação de segurança alimentar.
Prevaleceu a pouca ou nenhuma disponibilidade de alguns alimentos nos
domicílios em IAN, destacando-se: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e
inhame (G1); embutidos - salsicha, mortadela, lingüiça, salame e presunto (G3);
queijo, iogurte, coalhada, requeijão e nata (G4).
Por meio da Figura 19, observou-se que os domicílios em IAN tiveram maior
disponibilidade de alimentos como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), óleos e
gorduras (G7), açúcares e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10) e
leguminosas (G2), comparado aos domicílios em SAN.
Os domicílios em segurança alimentar apresentaram maior disponibilidade
dos alimentos como: carnes e ovos (G3), leites e produtos lácteos (G4), frutas (G5) e
hortaliças (G6), bem como, refrigerantes (G9), comparado aos domicílios em IAN.
Figura 19 - Freqüência referida da disponibilidade de alimentos nos domicílios em
situação de insegurança e segurança alimentar segundo os grupos de alimentos, nos
municípios da área de abrangência da BR 163, 2007.
G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos
lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;
G10- Sucos artificiais e infusões.
92
As diferenças acima também podem ser verificadas em média, por meio de
uma análise da variância múltipla com duas entradas. Esta análise é resumida na
Tabela 13, na qual apresenta a análise de variância do modelo linear geral da
frequência por grupo de alimentos e pela situação de segurança alimentar dos
domicílios, bem como, os valores do desvio padrão (S) e o coeficiente de
determinação do modelo (R2). Para verificar a adequação deste modelo foi realizada
uma análise residual.
Na Tabela 9 observou-se que a freqüência de disponibilidade depende do
grupo de alimento e da situação de segurança alimentar do domicílio, sendo que estes
efeitos são estatisticamente significantes (p<0,01).
Tabela 9 - Análise da variância do modelo linear da freqüência de consumo por
grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimenta dos domicílios.
Fonte de
variação.
Grupo
Situação de
segurança
alimentar
Resíduos.
Total
p
SQ
gl
QM
284426
9
31602,90
26,55 0,000
21190
1
21190,00
17,80 0,002
10712
316329
F
9
1190,30
19
S = 34,50 R2 = 96,60%
SQ: soma de quadrados, gl: graus de liberdade, QM: quadrado médio, F: Razão F, p: p-valor.
Cabe destacar que, a diferença que existe entre os grupos de alimentos em
média é estatisticamente significante (p<0,01). Assim, para comparar a diferença
média entre os grupos foi utilizado o teste de comparações pareadas de TUKEY,
considerando um nível de significância de 0,05. Mostrando que em média os grupos
G2, G4, G5, G6, G8, G9 e G10 são estatisticamente diferentes do grupo G1; os
grupos G3, G7 e G9 são diferentes do grupo G2; os grupos G5 e G9 são diferentes do
grupo G3; os grupos G7 e G9 do grupo G4 e G6; os grupos G7, G8 e G10 do grupo
G5; os grupos G8, G9 e G10 do grupo G7; o grupo G9 do grupo G8 e o grupo G10
do grupo G9.
93
Também se observou que, em média individualmente, a freqüência da
disponibilidade de alimentos nos domicílios em SAN é superior que a encontrada nos
domicílios em IAN, sendo esta diferença estatisticamente significante (p<0,01).
Na Tabela 10, é apresentada a freqüência referida do consumo alimentar dos
adolescentes, distribuída por grupos de alimentos segundo a situação de segurança
alimentar.
Assim, considerando a freqüência diária do consumo alimentar, de acordo
com os alimentos que compõe cada grupo, verificou-se que os adolescentes de
domicílios em situação de IAN informaram consumir com maior freqüência
diariamente, alimentos como: arroz, macarrão, milho e derivados (Grupo 1), feijão,
lentilha, ervilha e soja (Grupo 2), carne (Grupo 3), leite (Grupo 4), óleo (Grupo 7),
mel, melado, açúcar, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão, chá (Grupo 10).
Quando observado o consumo alimentar de 1 a 3 vezes na semana, os
adolescentes de domicílio em situação de IAN informaram consumir alimentos
como: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e inhame (G1), doces (G8),
margarina (G7), refrigerantes (G9) e sucos industrializados (G10).
Nos grupos G5 (frutas) e G6 (hortaliças) tanto para os adolescentes de
domicílios em IAN, como, para os em SAN as freqüências do consumo diário foram
baixas, conforme os dados da Tabela 10.
Os alimentos como: ovos e embutidos – salsicha, mortadela, lingüiça, salame,
presunto (G3), leite e derivados (G4) foram aqueles que os adolescentes de
domicílios em IAN informaram não consumirem com uma maior frequência,
seguidos, dos alimentos - manteiga, banha e azeite (G7).
Igualmente aos adolescentes em IAN, os adolescentes dos domicílios em
SAN informaram consumir todos os dias com maior freqüência: arroz, macarrão,
milho e derivados, pão, bolachas, biscoitos (G1), leguminosas (G2), carnes (G3),
leite (G4), óleo e margarina (G7), mel melado, açúcar, rapadura (G8) e café,
chimarrão, chá (G10).
Os adolescentes dos domicílios em segurança alimentar, informaram não
terem consumido na semana anterior a pesquisa, alimentos como: manteiga, banha e
azeite (G7), ovos (G3) e queijo, iogurte, coalhada, requeijão, nata (G4), conforme
apresenta a Tabela 10.
94
Tabela 10 - Distribuição da freqüência referida do consumo de alimentos dos
adolescentes, segundo a situação de segurança alimentar, em municípios da área de
abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007.
Grupos de Alimentos (n= 95 adolescentes)
Grupo1 (Pães, cereais, raízes e tubérculos)
Arroz, macarrão, milho e derivados
Pão, bolachas, biscoitos
Mandioca, batata, batata doce, cará
beterraba, inhame
Total
Grupo2 (Leguminosas)
Feijão, lentilha, ervilha, soja
Total
Grupo3 (Carnes e Ovos)
Ovos
Carne (bovina, frango, porco, peixe,
miúdos)
Salsicha, mortadela, lingüiça, salame
Presunto
Total
Grupo4 (Leite e produtos lácteos)
Leite
Queijo, iogurte, coalhada, requeijão,
Nata
Total
Grupo5 (Frutas)
Frutas, suco natural de fruta
Total
Grupo6 (Hortaliças)
Verduras (folhosos)
Legumes
Total
Grupo7 (Óleos e Gorduras)
Margarina
Manteiga
Banha
Óleo
Azeite
Total
Grupo8 (Açúcar e doces)
Mel, melado, açúcar, rapadura
Doces
Total
Grupo9 (Refrigerantes)
Refrigerante
Total
Grupo10 (Sucos artificiais e infusões)
Sucos industrializados
Café, chimarrão, chá
Total
1
2
IAN
3
4
1
SAN
2
3
4
57
28
0
1
19
39
5
12
1
0
4
23
30
25
2
0
5
25
2
2
3
0
0
2
85
59
18
27
57
30
7
2
41
41
7
7
14
14
1
1
16
16
6
6
9
9
1
1
2
41
23
8
8
13
30
1
0
26
13
2
2
4
17
0
3
26
2
32
2
21
5
4
46
57
23
63
28
36
11
21
15
0
16
16
10
4
22
43
14
4
7
10
4
4
7
14
15
32
14
65
18
17
8
21
3
3
24
24
15
15
21
21
8
8
10
10
12
12
2
2
4
2
6
26
26
52
14
8
22
19
27
46
2
0
2
9
18
27
16
8
24
5
6
11
10
3
6
63
1
83
21
6
0
0
1
28
15
1
0
0
1
17
17
53
57
0
60
187
12
0
3
30
0
45
7
4
1
1
1
14
7
0
0
0
2
9
6
28
28
1
29
92
55
6
61
2
30
32
6
9
15
0
18
18
26
7
33
3
17
20
3
7
10
0
1
1
5
5
28
28
9
9
21
21
1
1
17
17
9
9
5
5
6
37
43
25
11
36
10
8
18
22
7
29
7
16
23
8
7
15
10
6
16
7
3
10
*1= todos os dias; 2= 1 a 3 vezes/semana; 3= 4 a 6 vezes/semana; 4= não consumiu.
95
Na Figura 20, verificou-se que os adolescentes de domicílios em IAN
informaram consumir com maior freqüência os alimentos do grupo de óleos e
gorduras (G7), açúcar e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10), leguminosas
(G2), hortaliças (G6) e refrigerantes (G9), comparados aos adolescentes de
domicílios em SAN.
Os adolescentes pertencentes aos domicílios em situação de SAN referiram
consumir todos os dias com maior freqüência, alimentos como: pães, raízes e
tubérculos (G1), leite e produtos lácteos (G4), frutas (G5), carnes e ovos (G3), sendo
que este último, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN, quanto em SAN, a
freqüência de consumo esteve próxima, conforme apresentado na Figura 20.
Figura 20 - Freqüência referida do consumo alimentar dos adolescentes de
domicílios em situação de insegurança e segurança alimentar segundo os grupos de
alimentos, nos municípios da área de abrangência da BR 163, 2007.
G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos
lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;
G10- Sucos artificiais e infusões.
Por meio de uma análise da variância múltipla com duas entradas,
verificaram-se diferenças entre o consumo de alimentos dos adolescentes de
domicílios em SAN e IAN, sendo que, estas diferenças foram verificadas em média.
96
As diferenças entre as freqüências anteriormente descritas, também podem
ser verificadas em média, por meio de uma análise da variância múltipla com duas
entradas.
A análise está resumida na Tabela 11, na qual se apresenta a análise de
variância do modelo linear geral segundo as freqüências dos grupos de alimentos e a
situação de segurança alimentar dos domicílios, assim como, os valores do desvio
padrão (S) e do coeficiente de determinação do modelo (R2). Cabe ressaltar que,
também foi verificada a adequação deste modelo, utilizando-se uma análise residual.
Na Tabela 15 observou-se que a freqüência do consumo depende do grupo de
alimentos e da situação de segurança alimentar domiciliar, sendo que estes efeitos
são estatisticamente significantes (p<0,01).
Tabela 11 - Tabela de análises da variância do modelo linear da freqüência de
consumo por grupo e por situação de segurança alimentar.
Fonte de
variação.
Grupo
Situação de
segurança
alimentar
Resíduos.
Total
F0
p
SQ
g.l.
QM
10729,50
9
1192,16
10,94 0,001
1232,40
1
1221,40
11,31 0,008
981,10
9
109,01
12943,00
19
S = 10,44 R2 = 92,42%
SQ: soma de quadrados, gl: graus de liberdade, QM: quadrado médio, F: Razão F, p: p-valor.
A diferença que existe entre os grupos de alimentos, em média é
estatisticamente significante (p<0,01). Assim para comparar a diferença média entre
os grupos foi utilizado o teste de comparações pareadas de TUKEY, considerando um
nível de significância de 0,05. Por meio do teste, verificou-se que em média as
freqüências observados dos grupos G5, G6 e G9 são estatisticamente diferentes do
grupo G1 e o grupo G6 é estatisticamente diferente do grupo G7.
Na Tabela 11, também verifica-se que, em média, intragrupos, a freqüência
de consumo dos adolescentes de domicílios em IAN é superior que a observada no
domicílios em SAN, sendo que, esta diferença é estatisticamente significante
(p<0,01).
97
Na Figura 21 também pôde-se comparar a disponibilidade de alimentos no
domicílio e o consumo alimentar dos adolescentes segundo a situação de segurança
alimentar domiciliar.
Embora a maioria dos grupos de alimentos estivesse disponível em maior
freqüência nos domicílios em SAN, com destaque para G1 (pães, cereais, raízes e
tubérculos), G3 (carnes e ovos) e G7 (óleos e gorduras), foram os adolescentes de
domicílios em IAN que disseram consumir estes grupos de alimentos com maior
freqüência, predominando também o consumo de G2 (leguminosas), G8 (açúcar e
doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), comparado aos adolescentes de domicílios
em situação de SAN.
Figura 21 - Freqüência da disponibilidade e consumo alimentar, comparando os
grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimentar dos domicílios de
Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, 2007.
G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos
lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;
G10- Sucos artificiais e infusões.
98
5.4 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA
ALIMENTAR E NUTRICIONAL
5.4.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e variáveis
relativas ao domicílio
Os resultados a seguir, tratam da relação entre a situação de segurança
alimentar nos domicílios e variáveis demográficas, socioeconômicas, o estado
nutricional dos adolescentes e variáveis relativas ao domicílio, considerando os
dados ponderados.
Conforme apresentado na Tabela 12, verificou-se relação entre a cor da pele e
a escolaridade do adolescente com a situação de insegurança alimentar.
A prevalência de IAN foi de 60% (p<0,0001) em adolescentes que
informaram ser de cor não branca (preta, parda, amarela ou indígena) e
aproximadamente 61% para aqueles que tinham até quatro anos de estudo (p=0,002).
Assim, adolescentes de cor não branca apresentaram ter 48% de chance a mais de
estar em situação de insegurança alimentar, quando comprado aos adolescentes de
cor branca.
Quanto ao estado nutricional, os adolescentes com baixo peso e obesidade,
apresentaram prevalência de insegurança alimentar de 76% (p=0,006) e de 58,8%,
respectivamente. Sendo que, adolescentes em baixo peso apresentaram 43% de
chance maior de estar em insegurança alimentar que aqueles com estado nutricional
normal/eutrófico.
A escolaridade do chefe da família e o tempo de residência no município
também mostrou estar associados à situação de insegurança alimentar, para os chefes
de família com escolaridade menor que oito anos. A prevalência foi de 64,5% para os
chefes com até 4 anos de estudos (p=0,038), sendo um possível fator de risco para
insegurança alimentar (IC95%=1,00-1,30.
99
Quanto às variáveis relacionadas a migração, a prevalência de IAN foi de
aproximadamente 67,7% (p=0,039) para os chefes de família com mais de 40 anos de
residência no município.
Tabela 12 – Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e p-valor da
situação de segurança alimentar e nutricional segundo informações dos adolescentes
e informações do chefe da família, de municípios da área de abrangência da BR-163,
Mato Grosso, 2007.
Variáveis
Categorias
IAN
SAN
RP
IC
(95%)
p-valor
(χ2)
46,6
45,6
1,00
0,96
0,80-1,15
0,694
133
113
50,6
41,7
1,00
1,07
0,90-1,28
0,407
42,6
60,0
108
138
57,4
40,0
1,00
1,48
1,20-1,83
0,000
42
153
93
36,8
57,3
60,8
72
114
60
63,2
42,7
39,2
1,00
1,50
1,61
1,11-2,02
1,18-2,20
0,007
0,002
230
16
23
10
53,4
76,2
41,8
58,8
201
5
32
7
46,6
23,8
58,2
41,2
1,00
1,43
0,70
1,26
1,11-1,85
0,47-1,05
0,89-1,79
0,006
0,086
0,181
9 ou mais
5-8
0-4
23
57
107
30,3
48,3
64,5
53
61
59
69,7
51,7
35,5
1,00
0,86
1,14
0,75-0,98
1,00-1,30
0,028
0,038
*3Naturalidade
Outros estados
Mato Grosso
129
56
49,8
57,1
130
42
50,2
42,9
1,00
0,99
0,99-1,00
0,963
*4Naturalidade por
grandes regiões
Outros estados
Centro-Oeste
122
63
51,0
53,4
117
55
49,0
46,6
1,00
0,99
0,99-1,00
0,954
Tempo de residência
no município
(em anos)
0-19
20-39
> 40
91
76
21
46,9
55,1
67,7
103
62
10
53,1
44,9
32,3
1,00
1,10
1,35
0,88-1,38
1,01-1,80
0,379
0,039
N
%
N
%
masculino
feminino
135
153
53,4
54,4
118
128
Idade
15 – 19
10 – 14
130
158
49,4
58,3
*1
branca
não branca
80
207
Escolaridade
(anos de estudo)
9 ou mais
5-8
0-4
Estado Nutricional
(n= 524)
Eutrófico
Baixo peso
Sobrepeso
Obesidade
Informações do
Adolescente
Sexo
Cor/raça
Informações do
chefe da família
*2Escolaridade
(em anos de estudo)
(n= 534)
(n= 363)
*1(n – perda = 533); *2(n – NR = 360); *3, 4(n – NR = 357). Sendo que, NR significa que o indivíduo
não respondeu. IAN: insegurança alimentar e nutricional; SAN: segurança alimentar e nutricional; RP: razão de
prevalência; IC: intervalo de confiança; p-valor: Qui-quadrado de Pearson.
100
Por meio da Tabela 13, observou-se uma relação entre a insegurança
alimentar e a renda familiar per capita mensal, o tipo de construção da moradia, o
tratamento da água e a participação em programas sociais do governo.
Tabela 13 – Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e p-valor da
situação de segurança alimentar e nutricional segundo variáveis sócio-demográficas e
variáveis relacionadas aos domicílios de municípios da área de abrangência da BR163, Mato Grosso, 2007.
Variáveis
Categorias
IAN
SAN
RP
IC
(95%)
p-valor
(χ2)
78,6
43,7
26,5
1,00
2,65
3,59
1,71-4,10
2,37-5,41
0,000
0,000
106
56
13
50,2
45,9
43,3
1,00
1,14
1,30
0,90-1,44
0,93-1,81
0,262
0,122
33,3
61,6
84
91
66,7
38,4
1,00
1,88
1,39-2,56
0,000
155
33
51,2
55,0
148
27
48,8
45,0
1,00
1,01
0,76-1,33
0,942
com tratamento
sem tratamento
92
96
43,2
64,0
121
54
56,8
36,0
1,00
1,58
1,27-1,96
0,000
sim
102
48,6
108
51,4
1
-
-
não
86
56,2
67
43,8
1,15
0,92-1,43
0,193
não
134
46,0
157
54,0
1,00
-
-
sim
54
75,0
18
25,0
1,60
1,31-1,95
0,000
N
%
N
%
(n= 363)
1 ou mais
1
/2 < salário ≤ 1
≤ 1/2
24
67
97
21,4
56,3
73,5
88
52
35
Nº de moradores no
domicílio
até 4
5-6
7 ou mais
105
66
17
49,8
54,1
56,7
Tipo de construção
da moradia
alvenaria acabada
outro tipo
42
146
Abastecimento de
água
rede pública
outro sistema
Tratamento de água
Renda familiar
per capita mensal
(salário mínimo)
Produção de
alimentos para
consumo próprio
Participação em
programas sociais do
governo
IAN: insegurança alimentar e nutricional; SAN: segurança alimentar e nutricional; RP: razão de prevalência; IC:
intervalo de confiança; p-valor: Qui-quadrado de Pearson.
A prevalência de IAN foi de 73,5% em domicílios com renda menor ou igual
a 1/2 salário mínimo, sendo que, ter uma renda familiar per capita mensal menor ou
igual a 1 salário mínimo, caracteriza ser um possível fator de risco para a insegurança
alimentar no domicílio (p<0,0001).
101
Em domicílios com a construção da moradia em alvenaria, no entanto, com
acabamento incompleto, madeira ou material aproveitado a prevalência de IAN foi
de 61,6% (IC95%=1,39-2,56).
Não ter tratamento da água para beber ou cozinhar apresentou uma
prevalência de 64% (IC95%=1,27-1,96) de IAN nos domicílios. Portanto, domicílios
com tais características apresentaram-se como maiores fatores de risco para situação
de insegurança alimentar.
Para os domicílios que informaram participar de programas sociais do
governo, a prevalência de IAN foi igual a 75% (IC95%=1,31-1,95).
As estimativa das razões de prevalência (RP), comparadas as variáveis que se
mostraram associadas à insegurança alimentar (Tabela 13), mostrou que a renda
familiar per capita mensal, a participação em programas sociais do governo, o tipo
de construção da moradia e o tratamento da água, foram os indicadores que melhor
discriminaram as famílias em risco de insegurança alimentar. Pois, todas essas
variáveis apresentaram p-valor menor que 0,0001.
5.5 RESULTADOS DA REGRESSÃO MÚLTIPLA DE POISSON
A regressão múltipla de Poisson foi composta por todas as variáveis que na
análise bivariada apresentaram p< 0,20 (renda familiar per capita mensal, tipo de
construção da moradia, tratamento de água, produção de alimento para consumo
próprio, participação em programas sociais do governo; informações dos
adolescentes: cor/raça, escolaridade, estado nutricional; informações do chefe da
família: escolaridade e tempo de residência no município) e a entrada das variáveis
seguiu o modelo apresentado na Figura 8.
Na Tabela 14 é apresentado o modelo final da análise da regressão de
Poisson, com as variáveis que se mantiveram associadas de maneira estatisticamente
significante à situação de insegurança (renda, produção de alimentos no domicílio
para consumo próprio, tempo de residência no município e escolaridade do chefe da
família).
102
Tabela 14 – Modelo final da regressão múltipla de Poisson: variáveis associadas à
situação de insegurança alimentar em domicílios dos municípios de Alta Floresta,
Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato Grosso, 2007.
Variáveis
Categorias
RP
IC
(95%)
p-valor
(χ2)
Renda familiar
per capita mensal
(salário mínimo)
1 ou mais
1
/2 < salário ≤ 1
≤ 1/2
1,00
2,68
3,54
1,53-4,70
2,43-5,15
0,004
0,000
Produção de alimentos
para consumo próprio
sim
não
1,00
1,17
1,01-1,36
0,034
Tempo de residência
No município (em anos)
0-19
20-39
>40
1,00
1,08
1,33
0,90-1,29
1,08-1,63
0,313
0,012
Escolaridade do chefe
(anos de estudo)
9 ou mais
5-8
0-4
1,00
1,25
1,25
1,00-1,55
0,94-1,65
0,046
0,096
Modelo Final
103
DISCUSSÃO
104
6 DISCUSSÃO
Antes de discutir os resultados, é importante considerar algumas limitações
deste trabalho. Por se tratar de um estudo de delineamento transversal, não foi
possível identificar o tempo de exposição aos fatores de risco ou de proteção para a
insegurança alimentar encontrada. Outra limitação se refere à temporalidade das
observações da situação de insegurança alimentar nos domicílios (“nos últimos 3
meses”) e a disponibilidade e consumo dos alimentos (“na última semana”). Além
de não existir uma escala que avaliasse a insegurança alimentar do indivíduo
adolescente, somente do domicílio.
No entanto, dada a multidimensionalidade da insegurança alimentar, estudos
de corte transversal têm sido os mais utilizados na Epidemiologia Nutricional para
investigar a situação de insegurança alimentar nos domicílios (KEPPLE, GUBERT,
SEGALL-CORRÊA, 2011). Sendo que, no Brasil ainda são escassos os estudos de
acompanhamento (coorte) e intervenção (experimentais) sobre a situação de IAN,
especialmente nos grupos etários menores de 18 anos – crianças e adolescentes.
Na literatura não foram encontrados estudos que avaliassem conjuntamente a
situação de insegurança alimentar, a disponibilidade de alimentos nos domicílios, o
consumo alimentar e o estado nutricional de adolescentes. Embora, estejam
disponíveis resultados de pesquisas que abordam estes temas separadamente, e às
vezes, um ou outro em conjunto, como por exemplo, o estudo realizado por
OLIVEIRA et al. (2009) que investigou o estado nutricional e a insegurança
alimentar de adolescentes e adultos em duas localidades de baixo índice de
desenvolvimento humano em Pernambuco.
Assim, pesquisar a situação de insegurança alimentar em municípios com
características e condições diferentes, pode contribuir na identificação de
experiências comuns entre os domicílios estudados, como a baixa escolaridade do
chefe da família, a insuficiência de renda e as precárias condições de moradia e
saneamento, sendo estes, possíveis fatores de risco para criar uma situação de IAN
nos domicílios com adolescentes, o que gerou as discussões a seguir apresentadas.
105
6.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO
Dos adolescentes pesquisados, observou-se um predomínio do sexo feminino
(52,6%), com idade entre 10 e 14 anos - fase inicial da adolescência (50,7%), de cor
não branca - preta, parda, amarela ou indígena (64,7%), com escolaridade entre 5 e 8
anos de estudo (50%). Na literatura, VIEIRA et al. (2008) verificaram que 57,3% dos
adolescentes entrevistados eram do sexo feminino e os resultados mostraram que na
medida em que diminuía a idade, aumentava a proporção de insegurança alimentar
nos domicílios, corroborando com os resultados encontrados neste estudo.
A escolaridade é um fator importante na determinação da situação de
segurança alimentar em que se encontram os moradores dos domicílios. No Brasil,
tanto na área urbana ou rural, quanto maior o nível de escolaridade dos moradores
menor a prevalência de insegurança alimentar moderada e grave. Dos 363 chefes de
família, observou-se que 45,7% tinham baixa escolaridade e apenas 4,7% tinham 12
anos ou mais de estudo. Sinalizando uma semelhança com os resultados encontrados
em pesquisa realizada por SALLES-COSTA et al. (2008) na Região metropolitana
do Rio de Janeiro, na qual verificou-se que 52,3% dos chefes de família
apresentaram escolaridade inferior a 8 anos de estudo e 22,2% tinham mais de 11
anos de estudo.
Os resultados obtidos sobre a migração dos chefes da família (naturalidade e
tempo de residência no município) remetem a intensa migração gerada pela
construção da rodovia BR 163 na década de 70, com destaque para a presença
marcante de migrantes da região sul (BRASIL, 2006b). Seguido da região CentroOeste, da qual 32,5% dos chefes de família informaram ser oriundos. De acordo com
RIGOTTI (2006) houve uma diminuição na migração da região Sudeste e Sul para a
região Centro-Oeste, permanecendo a migração de pessoas pertencentes aos estados
vizinhos dentro da mesma região.
Típico de áreas de migração, a maioria dos chefes informou residir a até 19
anos no município, mostrando uma rotatividade freqüente de pessoa que geralmente
vão à procura de trabalho e melhores condições de vida para estas regiões.
106
Assim, a renda per capita mensal das famílias estudadas foi menor que dois
salários mínimos em 93,1% dos domicílios, sendo que, destes 69% tinham renda
menor que um salário mínimo (< R$ 380,00), semelhante ao observado por
SALLES-COSTA et al. (2008) que em 73,2% dos domicílios investigados, verificou
que a renda familiar per capita mensal era menor que um salário mínimo.
De acordo com a POF 2008-2009, o rendimento é um dos determinantes
principais na construção do orçamento familiar e segundo a PNAD-2010, quanto
menor a classe de rendimento mensal domiciliar per capita, maior a proporção de
domicílios em situação de IAN moderada ou grave.
Das famílias pesquisadas verificou-se que 58,1% eram constituídas por até
quatro membros, semelhante ao observado por SALLES-COSTA et al. (2008) em
que 55,9% dos domicílios apresentaram até quatro moradores. Enquanto, VEIGA e
BURLANDY (2001) verificaram que 53,8% dos domicílios tinham entre 4 e 6
moradores.
Em relação às características de moradia e saneamento, a maior parte dos
domicílios (65,3%) informou ter a moradia de alvenaria com acabamento
incompleto, de madeira ou de material aproveitado. Este resultado foi superior ao
observado no estudo sobre a insegurança alimentar de famílias da Paraíba realizado
por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008), onde o percentual de domicílios com
essa característica foi de 19,0%.
Dos domicílios pesquisados, 57,9% informaram produzir alimentos no
domicílio para consumo próprio e 19,83% participavam de programas sociais de
transferência de renda do governo, como o Bolsa família ou Bolsa escola. Resultados
inferiores foram obtidos na PNAD no ano de 2006 para o estado de Mato Grosso
com percentual de 13,8%, sendo que na região Centro-Oeste o percentual de
domicílios que receberam dinheiro de programa social do governo foi de 14,0% e
18,0%, respectivamente, nos anos de 2004 e 2006.
Ao compararmos os resultados deste estudo com os da Paraíba, encontrados
por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008) verificou-se que 35,3% das famílias
informaram participar de programas de complementação de renda, percentual
superior ao encontrado neste estudo.
107
Cabe ressaltar, ainda, que, segundo o PNAD (2006) parte considerável da
população beneficiada pela transferência de renda no Brasil são crianças e
adolescentes (31,6%).
Dos 363 domicílios estudados, 99,4% eram atendidos pela coleta pública de
lixo, percentual superior ao encontrado por SALLES-COSTA et al. (2008) e por
VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008), que foi igual a 89,5% e 58,5%,
respectivamente.
Destes domicílios, 98,6% não apresentavam rede pública de esgoto sanitário,
a destinação era realizada através de fossa séptica, fossa rudimentar ou a céu aberto.
Situações precárias de serviço de esgoto sanitário também foram encontradas por
SALLES-COSTA et al. (2008) em 80,4% dos domicílios na região metropolitana do
Rio de Janeiro, Nos domicílios estudados por VIANNA e SEGALL-CORRÊA
(2008) 71,4% eram atendido por este serviço público e VEIGA e BURLANDY
(2001) verificaram que 100% dos domicílios onde viviam crianças e adolescentes
não tinham cobertura de serviço de esgoto.
Assim, os resultados observados neste estudo confirmam os dados
encontrados na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico onde o esgotamento
sanitário foi o serviço que apresentava menor presença nos municípios brasileiros
(IBGE, 2002). Na região Centro-Oeste em 82,1% dos municípios não tinham esse
tipo serviço, que segundo dados da PNAD 2010, para a mesma região apenas 39,2%
dos domicílios eram assistidos pela rede de esgoto.
De acordo com PIGNATTI (2005), a distribuição do saneamento básico não é
homogênea por regiões do estado de Mato Grosso. Não há em todas as cidades um
sistema de tratamento de esgoto. Além disso, o destino de lixo para a maioria das
cidades é em lixões a céu aberto, com exceção de alguns municípios como Alta
Floresta.
Em relação ao abastecimento de água nos municípios estudados, 83,5% dos
domicílios eram atendidos por meio da rede pública e 16,6% tinham outro tipo de
abastecimento (poço ou nascente, carro-pipa). SALLES-COSTA et al. (2008)
observaram que nos domicílios investigados 64,3% eram assistidos pela rede pública
de abastecimento de água, enquanto, VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008)
108
verificaram que um percentual de 45% e 53,7% dos domicílios, respectivamente,
tinham outro sistema.
Apesar de 58,7% dos domicílios estudados utilizarem água tratada (fervida,
clorada ou mineral) para beber ou cozinhar, um percentual considerável 41,3%
consumiam água sem nenhum tipo de tratamento. Resultados semelhantes foram
encontrados por VEIGA e BURLANDY (2001), no qual 39,6% das famílias com
crianças e adolescentes de um assentamento do Rio de Janeiro ingeriam água sem
tratamento.
O abastecimento de água é uma questão essencial para as populações, a ser
resolvida, pelos riscos que sua ausência ou seu fornecimento inadequado pode causar
à saúde pública, como morbidades infecciosas - doenças diarréicas e verminoses
(HACKETT et al., 2009; WHO, 2009; WHO, 2010a; WHO, 2010c), podendo afetar
o estado nutricional principalmente de crianças e adolescentes.
Nesta perspectiva, a situação de saneamento básico inadequado está ligada a
uma das dimensões de mensuração da SAN - a utilização dos nutrientes, que é
entendida como o efetivo aproveitamento biológico dos alimentos, sendo
influenciado pelas condições de saúde das pessoas, com morbidades tanto crônicas
quanto agudas e infecciosas (KEPPLE, GUBET e SEGALL-CORRÊA, 2011).
6.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR NOS DOMICÍLIOS
Estudos internacionais demonstram que a escala de insegurança alimentar é
um instrumento eficaz para a investigação da situação de insegurança alimentar e
fome (MELGAR-QUINONEZ e HACKETT, 2008), sendo que, nos EUA é
mensurada pela Escala Domiciliar de Segurança Alimentar Americana (HFSSM) e
nos países da América Latina e Caribe pela Escala de Segurança Alimentar da
América Latina e Caribe (ELCSA) com versões ligeiramente diferentes, pois se
considera as peculiaridades de cada região (IBGE, 2010b).
No Brasil, um estudo realizado inicialmente em Campinas (PÉREZESCAMILLA et al., 2004) contribuiu para a validação da Escala Brasileira de
Insegurança Alimentar (UNICAMP, 2003).
109
Após este estudo, a EBIA também foi utilizada na PNAD, o que contribuiu
para a realização de pesquisas sobre a situação de insegurança alimentar nas diversas
regiões do Brasil: no Amazonas em comunidades indígenas (YUYAMA et al., 2008),
no Pará em comunidades quilombolas (OLIVEIRA e SILVA et al, 2008), em Mato
Grosso (GUIMARÃES e LIMA-LOPES, 2005), na Bahia (PANELLI-MARTINS et
al., 2008; SANTOS, 2008, 2010), na Paraíba e em Pernambuco (VIANNA e
SEGALL-CORRÊA, 2008; OLIVEIRA et al., 2009), no Rio de Janeiro e São Paulo
(SALLES-COSTA et al., 2008; CARDOSO, 2010), em Porto Alegre e Pelotas
(FRAGA et al., 2007; SANTOS et al., 2010).
Quanto à confiabilidade e consistência interna das escalas utilizadas em
pesquisas que avaliaram a situação de insegurança alimentar em diversos em países
como: Venezuela (DELLOHAIN e SANJUR, 2000), México (MELGARQUIÑONEZ et al., 2005), Colômbia (ÁLVAREZ et al., 2006), Bolívia e Filipinas
(MELGAR-QUIÑONEZ et al., 2006), Equador (HACKETT et al., 2007), e Costa
Rica (GOZÁLEZ et al., 2008), elas foram consideradas instrumentos confiáveis para
esse tipo de investigação, apresentando um Alpha de Cronbach entre 0,87 e 0,95.
Nos estudos brasileiros foi obtido um Alpha de Cronbach maior que 0,85
para consistência interna da EBIA aplicada em uma população da Paraíba (VIANNA
e SEGALL-CORRÊA, 2008) e valores entre 0,91-0,93 segundo OLIVEIRA et al.
(2009).
Assim, neste estudo foi utilizada para a investigação da situação de
insegurança alimentar nos domicílios, a EBIA. A aplicação deste instrumento nos
quatro municípios da região da rodovia BR-163 – Alta Floresta, Diamantino, Sinop e
Sorriso, mostrou uma adequada consistência interna, com Alpha de Combrach igual
a 0,87, concordando este valor com a literatura citada no parágrafo anterior.
Dentre as metas a serem alcançadas até 2015, estão os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio, com destaque para o primeiro objetivo que é a
erradicação da extrema pobreza e da fome no mundo (BRASIL, 2010c). Uma
maneira de investigar esta situação é avaliar a IAN dos domicílios de diferentes
regiões e países.
SOBRINHO (1982) em seu livro sobre a Fome, agricultura e política no
Brasil escreveu: “não conhecemos dados sobre a situação alimentar em Mato
110
Grosso”. Atualmente, já existem resultados importantes de pesquisas nacionais e
locais, dessa região. No entanto, efetuar pesquisas aprofundadas e que atualize as
informações sobre a situação alimentar das famílias de municípios de Mato Grosso,
reveste-se de grande importância. Uma vez que, fatores políticos, sociais,
econômicos e culturais precisam ser considerados na análise da segurança alimentar
(ADAS, 1988), pois são causas básicas da fome (VALENTE, 1986).
Neste estudo, a prevalência de insegurança alimentar nos domicílios foi de
51,8% e segundo os seus níveis de severidade: 8,8% estavam em insegurança grave,
14,3% em insegurança moderada e 28,7% em insegurança leve. Sendo que, 48,2%
dos domicílios foram classificados em situação de segurança alimentar e nutricional.
Estes resultados são superiores aos encontrados na PNAD- 2004 e 2010 onde
as prevalências de insegurança alimentar encontradas foram de 34,9% e 30,2%,
respectivamente. Sendo que, em 2010 para Mato grosso a prevalência foi de 22,1%
(IBGE, 2010b).
Considerando os níveis de severidade da IAN, o presente estudo também
apresentou valores superiores aos da PNAD-2010, na qual a prevalência nacional
estimada de domicílios em situação de IAG foi de 5,0%, 6,5% de IAM e 18,7% IAL;
e para o estado de Mato Grosso essas prevalências foram de 2,7%, 4,7% e 14,7%,
respectivamente.
Os domicílios pesquisados eram compostos por pelo menos um indivíduo na
faixa etária de 10 a 19 anos. Assim, as prevalências observadas para IAG e IAM,
foram inferiores as encontradas por OLIVEIRA et al. (2009), que verificaram a
prevalência de 48,8% de IAG em famílias com adolescentes nesta faixa etária no
município de Gameleira-PE, enquanto que, em São João do Tigre-PB a prevalência
de IAM foi de 41,4%.
No entanto, comparado aos valores observados na PNAD-2010, pode-se
verificar que os resultados do presente estudo foram superiores aos observados
nacionalmente, em que a prevalência de IAG foi igual a 2,8%, a IAM de 6,0% e
18,7% de IAL nos domicílios com pelo menos um morador de 18 anos ou menos
(IBGE, 2010b).
Dados semelhantes aos encontrados neste estudo para a situação de
insegurança alimentar, também foram observados por SALLES-COSTA et al.
111
(2008), bem como, por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008). No primeiro estudo
observou-se a prevalência de 53,8% de IAN em famílias de uma região do Rio de
Janeiro, que segundo os seus níveis: 6,3% estavam em IAG, 16,1% em IAM e 31,4%
em IAL. No segundo estudo verificou-se que 52,5% das famílias entrevistadas
estavam em situação de IAN e a prevalência de IAG foi igual a 11,3%, a IAM de
17,6% e 23,6% foram classificados em IAL.
Em estudo realizado em Pelotas, SANTOS et al. (2010) observou uma
prevalência de insegurança alimentar familiar de 11%, resultado inferior ao
encontrado em trabalhos anteriores e neste estudo.
A alta prevalência de insegurança alimentar e nutricional encontrada nos
domicílios de municípios da área de abrangência da rodovia BR-163, pode ser
resultado da influência de fatores como: o acesso desigual a alimentação, habitação,
educação, água e serviços de saúde (VALENTE, 1986), e também conseqüência do
contexto de desigualdade mais acentuada, gerado pela localização das famílias
(BURLANDY e COSTA, 2007).
As famílias do presente estudo, localizavam-se na zona urbana dos
municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, que segundo
BURLANDY e COSTA (2007) mesmo no âmbito municipal, não impede que haja
diferenças no acesso a bens e serviços públicos entre famílias de baixa renda. De
acordo com os autores, famílias residentes nas áreas urbanas, ou em determinados
bairros do município, tendem a ter mais acesso a bens e serviços, mesmo sendo tão
pobres quantas outras que residem em áreas onde há menor disponibilidade destes
bens.
Assim, outros fatores descritos por VALENTE (1986) também se explicam a
essa situação. De acordo com o autor a produção, a distribuição e consumo de todas
estas mercadorias e serviços são determinados pela estrutura sócio-econômica da
sociedade, incluindo sua superestrutura ideológica e política.
Portanto, cabe ressaltar que em 2006, ano anterior ao da pesquisa, esses
municípios sofreram as conseqüências de uma crise econômica - o desemprego, a
instabilidade e preocupação com acesso e consumo de alimentos, que gerou um
recuo na produção agrícola e pecuária, acarretando a diminuição de 4,6% no
crescimento econômico do estado (CORECON-MT, 2007).
112
Para KEPPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) a EBIA capta a
dimensão do acesso a uma alimentação de qualidade e quantidade suficientes vivida
pela família, inclusive a preocupação relativa ao acesso a alimentos no futuro
próximo.
A freqüência observada de respostas positivas às quinze perguntas da EBIA
foi semelhante a encontrada por SEGALL-CORRÊA (2007b) quando comparou a
percepção de insegurança alimentar de pessoas em Brasília e Campinas. De acordo
com a autora, as pessoas entrevistadas mostraram ter consciência da questão da
segurança do alimento e também, de uma condição de insegurança alimentar, quando
responderam as perguntas da escala.
No inquérito realizado em Brasília e Campinas, com famílias que tinham
crianças e adolescentes em sua composição, verificou-se que as pessoas responderam
a escala da mesma forma e com a mesma consistência (PANIGASSI, 2005; LEÃO,
2005).
Nesta perspectiva, o presente estudo verificou por meio de cada bloco de
perguntas, os níveis de IAN, no Bloco1 – a insegurança alimentar leve (Figura 11):
no Bloco 2 – a insegurança alimentar moderada (Figura 12), no Bloco 3 – a
insegurança grave (Figura 13). De acordo com SEGALL-CORRÊA, (2007) na
insegurança leve, o aspecto mais afetado é a qualidade da alimentação, juntamente
com a preocupação de que possa faltar alimento no futuro próximo. Na insegurança
moderada, começa a haver restrição quantitativa na alimentação da família. Por
último, na insegurança grave, aparece deficiência quantitativa e até mesmo fome
entre os membros da família.
CASTRO (1995) em seu livro Vigilância Alimentar e nutricional, afirma que
quatro problemas alimentares embasam a segurança alimentar: - desequilíbrios
conjunturais de disponibilidade dos alimentos, relacionados com lacunas cíclicas
entre produção e demanda de alimentos; - desequilíbrios estruturais de
disponibilidade dos alimentos, ligados a lacunas persistentes entre produção e
demanda; - desequilíbrios cíclicos e sazonais de acesso aos alimentos, devido à
ocorrência de dificuldades ocasionais, que impedem determinadas famílias de
satisfazerem suas demandas nutricionais básicas; e por último - restrições estruturais
113
de acesso, que se referem a uma lacuna sistemática, em determinados setores sociais,
entre as necessidades nutricionais e a renda disponível para o consumo alimentar.
Em estudo realizado por COATES et al. (2006), as análises confirmaram que
existiam experiências comuns entre as famílias, sendo que, a quantidade insuficiente
de alimentos, a qualidade alimentar inadequada, a incerteza e preocupação sobre a
alimentação foram parte importante da experiência de insegurança alimentar em
todas as culturas amostradas (15 países), com a peculiaridade de todos os relatos
etnográficos emergirem preocupações de inaceitabilidade social.
6.3
DISPONIBILIDADE
DE
ALIMENTOS
NOS
DOMICÍLIOS,
CONSUMO E ESTADO NUTRICIONAL DOS ADOLESCENTES
Josué de Castro em Geografia da Fome (2003) escreve que promover o
desenvolvimento econômico-social autêntico será antes de tudo, procurar atenuar os
desníveis existentes nas diferentes regiões do país, através de uma melhor
distribuição de riquezas e de um critério mais justo de investimento nessas regiões e
diferentes setores das atividades econômicas do país. Segue, apontando que não é
possível saltar esse fosso com um povo faminto, um povo que não disponha do
mínimo essencial para suas necessidades básicas de vida: um mínimo de
alimentação.
A alimentação e a nutrição são imprescindíveis para a vida e a sobrevivência
humana. Como necessidade básica, a alimentação é modelada pela cultura e sofre
efeitos da organização da sociedade (CANESQUI e GARCIA, 2005). A nutrição
consiste na ingestão e digestão dos alimentos e na absorção, metabolismo e utilização
dos seus nutrientes, é um processo característico dos seres vivos e necessário para
assegurar a reprodução, o crescimento, desenvolvimento e o pleno exercício das
funções vitais do organismo (MS, 2004).
No entanto, o ato de comer envolve ocasiões, rituais, idéias e significados,
experiências que estão ligados fortemente com a seleção e escolhas dos alimentos
(POULAIN e PROENÇA, 2003; CANESQUI e GARCIA, 2005) que por sua vez,
dependem do acesso e da disponibilidade.
114
No presente estudo esteve disponível todos os dias nos domicílios, alimentos
como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), e os adolescentes confirmaram
consumí-lo diariamente. Ocorre o mesmo com o grupo das leguminosas (G2), dos
açúcares e doces (G8) e dos sucos artificiais e infusões (G10). Dados semelhantes ao
encontrado neste estudo foi observado por OLIVEIRA et al. (2009) em famílias dos
municípios de Gameleira-PE e São João do Tigre-PB: os alimentos do grupo G1,
foram os que estavam mais disponíveis entre as famílias. Segundo SANTOS et al.
(2005), estes mesmos alimentos foram considerados de consumo habitual dos
adolescentes estudados em Teixeira de Freitas-BA.
Sabe-se que o grupo de alimentos G1 é uma importante fonte de energia para
o corpo – o carboidrato complexo, e que se não estiver presente em quantidades
adequadas, outros nutrientes desempenharão seu papel, prejudicando o crescimento e
desenvolvimento dos indivíduos. Cabe destacar, ainda, que nesta faixa etária a
atividade física pode estar presente, sendo o carboidrato, o principal nutriente para o
exercício (KAZAPI et al., 2001).
Os grupos G3 (carnes e ovos), G5 (frutas) e G6 (hortaliças) embora
disponíveis nos domicílios, não eram consumidos diariamente, mas, de 1 a 3 vezes
na semana pelos adolescentes. De acordo com o Guia Alimentar (MS, 2008) o
consumo desses alimentos no Brasil é tradicionalmente baixo. No entanto, o
consumo regular de uma variedade de frutas, legumes e verduras, juntamente com
alimentos ricos em carboidratos pouco processados, oferece garantia contra a
deficiência da maior parte de vitaminas e minerais, isoladamente ou em conjunto,
aumentando a resistência às infecções (KATONA e KATONA, 2008).
O presente estudo tem como limitação, os resultados do consumo alimentar
expressos em frequência absoluta ou em média e não em porção ou calorias (Kcal), o
que dificulta a comparação quantitativa com os estudos de disponibilidade e
consumo.
Ainda assim, é possível analisar que, semelhante aos dados encontrados neste
estudo, LEAL et al. (2010) avaliando consumo alimentar e padrão de refeições de
adolescentes de São Paulo, também verificaram um baixo consumo de frutas,
verduras e legumes.
115
Em adição, LEVY-COSTA et al. (2005), em estudo sobre a disponibilidade
domiciliar de alimentos no Brasil, verificaram que os produtos de origem animal
(carnes, ovos, leite e derivados), frutas, verduras e legumes corresponderam a 18% e
2,3%, respectivamente, das calorias totais recomendadas para consumo, enquanto os
alimentos básicos de origem vegetal (cereais, raízes e tubérculos e leguminosas)
representaram cerca de 50%.
O grupo G4 (leites e produtos lácteos) esteve disponível todos os dias nos
domicílios. No entanto, os adolescentes disseram não ter consumido nenhum
alimento deste grupo na semana anterior a pesquisa, concordando com estudos que
apontam para a baixa ingestão de produtos lácteos (ALVES e BOOG, 2007; FRAGA
et al., 2007; SANTOS et al. 2005), frutas, hortaliças, alimentos fontes de proteína e
ferro, à exceção do feijão, concomitante ao elevado consumo de açúcar e gordura
(GAMBARDELLA et al., 1999).
Observou-se que no grupo G7 (óleos e gorduras) predominou a
disponibilidade nos domicílios, embora, tenha predominado o não consumo pelos
adolescentes naquela semana. Cabe destacar que, neste grupo estão alimentos como:
manteiga, banha e azeite, que nem sempre estão disponíveis ou são consumidos por
adolescentes nos domicílios.
Assim, não ter disponível e não consumir esse grupo, refere-se a esses
alimentos. De acordo com SLATER et al. (2003), quando se tem um ou mais
alimento de maior disponibilidade e consumo pela população em um mesmo grupo, a
presença de outros alimentos pode ser confundida, sendo necessária a análise de cada
alimento que compõe o grupo. Cabe ressaltar que, na interpretação do consumo
alimentar deve-se considerar as inter-relações que derivam dos padrões de
comportamento dos indivíduos ou de uma população.
A frequência observada de cada alimento pertencente a esse grupo, mostrou
que o óleo e a margarina estiveram disponíveis nos domicílios e os adolescentes
informaram ter consumido. Assim, OLIVEIRA et al. (2009) também observou que
nos domicílios da Zona da Mata e Semi-árido do Nordeste, o óleo foi o alimento que
apresentou maior disponibilidade entre esse grupo.
Os refrigerantes (G9) apresentaram uma frequencia predominante entre 1 a 3
vezes por semana. Estudos com adolescentes na Bahia e em São Paulo observaram
116
um consumo elevado de refrigerantes e bebidas com adição de açúcar (COSTA et al.,
2004; CARMO et al., 2006). De acordo com o Guia alimentar para a população
brasileira: refrigerantes, bebidas industrializadas, doces e produtos de confeitaria
contêm muito açúcar e favorecem o aparecimento de cáries, além de sobrepeso e
obesidade, e possuem calorias vazias, ou seja, têm calorias, mas não são nutritivos
(MS, 2008).
De acordo com a POF-2010, 32% das famílias da Região Centro-Oeste
avaliaram insuficiência de quantidade de alimentos e 50,4% declararam não
consumirem sempre alimentos do tipo preferido (IBGE, 2010). É importante
salientar, que na disponibilidade e consumo de alimentos o efeito do rendimento
familiar é substancial (LEVY-COSTA et al., 2005).
As pesquisas de orçamento familiar revelam a tendência nas mudanças dos
padrões de alimentação, havendo uma crescente substituição de alimentos básicos e
tradicionais na dieta, como arroz, feijão e hortaliças, por refrigerantes, biscoitos,
carnes processadas e comida pronta, implicando aumento na densidade energética
das refeições e padrões de alimentação capazes de comprometer a auto-regularão do
balanço energético e aumentar o risco de obesidade, expressando o desequilíbrio
entre ingestão e utilização de calorias (IBGE, 2010a).
Ao comprometer o estado nutricional dos indivíduos, principalmente os da
faixa etária estudada, esse desequilíbrio na ingestão energética, como reflexo da
situação de IAN no domicílio, pode levar tanto a desnutrição, quanto ao sobrepeso e
a obesidade na adolescência e na fase adulta.
Na adolescência ocorre o chamado estirão do crescimento, consequentemente
um aumento das necessidades nutricionais, requerendo uma dieta equilibrada, em
decorrência do aumento da massa muscular, da expansão do volume sanguíneo e
aumento da massa óssea (VEIGA e SICHIERI, 2007; EISENSTEIN et al., 2000).
Somadas às exigências fisiológicas oriundas do período de estirão, o estágio
da maturação sexual característico nessa fase da vida, também pode influenciar no
estado nutricional dos adolescentes entre 10 e 14 anos (SICHIERI e ALLAM, 1996).
Apesar de CONDE e MONTEIRO (2006) afirmarem que a maturação sexual
dos adolescentes pode se tornar um fator complicador para a avaliação nutricional
baseada no IMC para idade, método utilizado neste estudo, estes autores têm
117
considerado que, no caso brasileiro, a variação observada na fase de maturação
sexual do indivíduo é pequena.
Em relação ao estado nutricional, observou-se que 4,0% dos adolescentes
apresentaram baixo peso, 10,5% sobrepeso, e 3,3% obesidade. Resultados
semelhantes foram encontrados por OLIVEIRA et al. (2009) em estudo sobre estado
nutricional e insegurança alimentar de adolescente e adultos da Paraíba e
Pernambuco. Estes autores verificaram que 3,6% dos adolescentes apresentaram
baixo peso, 10,0% sobrepeso e 2,4% obesidade. A Pesquisa de Orçamentos
Familiares de 2002-2003 mostrou que na região Centro-Oeste a prevalência foi de
4,7% para baixo peso, 10,6% sobrepeso e 2,4% obesidade para adolescentes entre 10
e 19 anos.
A prevalência de sobrepeso obtida neste estudo (10,5%) foi superior a
observada por ABRANTES et al. (2002) em adolescentes da região Nordeste (1,7%)
e Sudeste (4,2%). A prevalência de obesidade encontrada (3,3%) foi inferior a
observada pelo mesmo autor, que variou entre 6,6% e 8,4%.
Dados obtidos por VEIGA e BURLANDY (2001) mostram que a prevalência
de sobrepeso em adolescentes do Rio de Janeiro foi de 13,3%. ALBANO e SOUZA
(2001) verificaram que, em uma escola pública de São Paulo, 5,5% dos adolescentes
apresentaram baixo peso e 10,9% sobrepeso, semelhante a prevalência encontrada
nos adolescentes de municípios de Mato Grosso. FERNANDES et al. (2007)
observaram uma prevalência de baixo peso em 2,7% dos adolescentes de escolas do
município de Presidente Prudente, prevalência menor a encontrada neste estudo.
Sabe-se que em crianças maiores de 5 anos e adolescentes a freqüência do
excesso de peso, que vinha aumentando modestamente até o final dos anos 80,
triplicou nos últimos 20 anos, alcançando entre um quinto e um terço dos jovens
(MONTEIRO, 2010; IBGE, 2010). Este fato evidencia o processo de transição
nutricional que tem ocorrido de modo concomitante ou posteriormente aos processos
de transição demográfica e epidemiológica (POPKIN, 2002)6.
Quanto à desnutrição, análises realizadas sobre a sua tendência secular,
principalmente a desnutrição infantil indicam que o excepcional declínio do
6
Anexo 6 – Estágios da transição demográfica, epidemiológica e nutricional (POPKIN, 2002).
118
problema na década de 2000 ocorreu devido a melhorias no poder aquisitivo das
famílias de menor renda, na escolaridade das mães e na cobertura de serviços básicos
de saúde e saneamento. Tais melhorias decorreram de várias políticas públicas,
incluindo a valorização do salário mínimo e programas de transferência de renda,
bem como, a universalização do ensino fundamental e a expansão da Estratégia de
Saúde da Família (MONTEIRO, 2010).
6.4 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS E CONSUMO ALIMENTAR
COMPARADO À SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR DOS
DOMICÍLIOS
A disponibilidade, o acesso e a utilização dos alimentos são alguns dos
elementos básicos da segurança alimentar e nutricional (ROSE, 1999) e segundo
KEPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) são seus determinantes. No nível
domiciliar, a disponibilidade está ligada a proximidade aos pontos de venda e
abastecimento de alimentos, bem como, a produção para auto-consumo. O acesso diz
respeito à renda/estabilidade financeira e a participação em programas assistenciais.
A utilização está relacionada à saúde dos moradores, às práticas de higiene, ao acesso
ao saneamento e água potável, e à educação alimentar e nutricional.
Tanto no nível domiciliar, quanto individual RADIMER (1992) constatou que
a insegurança alimentar se revela como um processo progressivo, gerenciado por
meio de táticas presentes nestes dois níveis. Inicialmente, a insegurança é sentida em
nível do domicílio e depois, quando a situação piora, em nível individual.
Assim, o autor apresenta quatro componentes que atuam associados a IAN,
nos níveis domiciliar e individual: 1) a quantidade revelada no “esvaziamento das
prateleiras” dos domicílios e refletindo o consumo insuficiente pelo indivíduo; 2) a
qualidade, que demonstra a presença de alimentos não apropriados (nível
domiciliar) e conteúdo nutricional inadequado dos alimentos para consumo
individual; 3) o componente psicológico, relacionado ao receio ou medo de sofrer
IA no futuro próximo no nível domiciliar, refletindo a falta de escolhas e a sensação
de privação no nível individual; e 4) o componente social, que corresponde a
119
aquisição de alimentos de maneira socialmente inaceitável, resultando em padrões de
alimentação rompidos pelos indivíduos.
Observa-se que, no Brasil, não há problemas de indisponibilidade de
alimentos. A quantidade de alimentos é suficiente para atender às necessidades
energéticas de toda a população brasileira e essa evidência vem corroborar a tese de
que os problemas relacionados à insegurança alimentar e nutricional, que atinge
contingentes importantes de nossa população, são devidos à desigualdade de acesso à
alimentação adequada (PESSANHA, 2004; MS, 2008).
Assim, neste estudo foi investigada a disponibilidade de alimentos no nível
domiciliar e observou-se que os alimentos que estiveram disponíveis todos os dias,
com maior freqüência nos domicílios em IAN, foram os mesmo para os domicílios
em SAN: os óleos e gorduras (G7) e pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), seguido
dos grupos G3 (carnes e ovos), G10 (sucos artificiais) e G8 (açúcar e doces). Porém,
verificou-se que, as freqüências foram diferentes para cada situação.
Em estudo realizado por MELGAR-QUIÑONEZ et al. (2005) em Sierra de
Manantlán - Jalisco, região do México, a disponibilidade de alimentos e a variedade
da dieta sofreram influência da situação de insegurança alimentar encontrada nos
domicílios.
Embora a comparação intergrupos de alimentos tenha mostrado que as
hortaliças (G6), frutas (G5) e refrigerantes (G9) foram os menos disponíveis nos
domicílios em IAN e SAN; as freqüências observadas de G5 e G9 nos domicílios em
SAN foram maiores que as encontradas nos domicílios em IAN.
Portanto, o fato destes alimentos estarem menos disponíveis nos domicílios
em IAN, possivelmente reflita no baixo consumo dos mesmos pelos adolescentes.
Assim, estes resultados convergem com a pesquisa realizada por PÉREZESCAMILLA et al. (2005) na Cidade do México, na qual verificaram uma relação
significativa e inversa entre a IAN e o consumo diário de frutas, verduras, carnes e
produtos lácteos.
Quando se observou os alimentos que compõe cada grupo, considerando a
freqüência diária de disponibilidade, verificou-se que nos domicílios em IAN, houve
maior disponibilidade de alimentos como: arroz, macarrão, milho e derivados (G1),
120
óleo e margarina (G7), açúcar, mel, melado, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão,
chá (Grupo 10), o mesmo para os domicílios em SAN.
Assim, verificou-se maior disponibilidade de alimentos densamente
energéticos, que de acordo com o Guia Alimentar para a população brasileira (MS,
2008) a maior disponibilidade e consumo de alimentos com alta densidade
energética, aumenta o risco de doenças, especialmente das doenças crônicas nãotransmissíveis (DCNT) – obesidade, diabetes, hipertensão (BORGES et al., 2009).
Quanto à maior disponibilidade de óleo e margarina (G7) nos domicílios em
IAN, o Guia Alimentar permite verificar uma tendência de aumento na
disponibilidade e consumo de ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados,
possivelmente em decorrência da substituição das gorduras animais pelos óleos
vegetais (MS, 2008).
Ainda nos domicílios em insegurança alimentar, para os grupos G3 (carnes e
ovos) e G4 (leite e produtos lácteos), os alimentos que apresentaram maior
freqüência de disponibilidade foram: as carnes (133) e leites (116), respectivamente.
O mesmo observou-se nos domicílios em SAN, porém, nestes domicílios a
freqüência desses alimentos foi maior (173) e (152). Estes resultado, sinalizam para a
influência do hábito alimentar, da cultura e o fato da região estudada apresentar
maior disponibilidade deste alimento, pela sua produção local.
As frutas e sucos naturais de frutas (G5) estavam disponíveis com maior
freqüência nos domicílios em SAN, bem como, doces (G8), os refrigerantes (G9) e
os sucos industrializados (G10). Estes resultados são semelhantes ao encontrados por
MELGAR-QUIÑONEZ et al. (2005), em estudo realizado na região do México,
sobre a disponibilidade de alimentos nos domicílios. Os autores verificaram que a
IAN esteve inversamente correlacionada com alguns dos itens do questionário de
alimentos, tais como os alimentos processados, frutas e verduras.
Entre os alimentos que apresentaram pouca ou nenhuma disponibilidade, nos
domicílios em IAN, destacam-se: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e
inhame (G1), geralmente alimentos que podem ser produzidos em hortas caseiras;
embutidos - salsicha, mortadela, lingüiça, salame e presunto (G3); queijo, iogurte,
coalhada, requeijão e nata (G4). Estes resultados corroboram os encontrados por
121
PANIGASSI et al. (2008), que verificaram o não consumo de embutidos nos
domicílios em IAN.
Assim, não ter estes alimentos disponíveis nos domicílios, pode refletir o não
consumo por estas famílias. Destaca-se que, nos grupo G3 e G4 estão alimentos de
custo mais elevado, o que pode explicar a não aquisição destes alimentos, e
consequentemente não estarem disponíveis para consumo nos domicílios, visto que a
maioria das famílias estudadas apresentou renda de até um salário mínimo.
Quando comparada a disponibilidade entre os domicílios em situação de IAN
e SAN: observou-se que os domicílios em IAN tiveram maior disponibilidade de
alimentos como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), óleos e gorduras (G7),
açúcares e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10) e leguminosas (G2); e os
domicílios em SAN apresentaram maior disponibilidade de alimentos como: carnes e
ovos (G3), leites e produtos lácteos (G4), frutas (G5) e hortaliças (G6), bem como,
refrigerantes (G9).
Resultados semelhantes aos observados neste estudo foi encontrado por
PANIGASSI et al. (2008). Os autores verificaram que em Campinas-SP, as famílias
em situação de SAN tinham maior tendência de consumo de alimentos como: carnes,
leite e derivados, frutas, verduras/legumes, ou seja, componentes de uma dieta
variada, comparada aos alimentos disponíveis nos domicílios em IAN - a presença de
componentes de uma dieta monótona e densamente energética, com exceção das
leguminosas.
O presente estudo encontrou limitação na comparação do consumo alimentar
dos adolescentes, pois na literatura são escassas as publicações sobre consumo
alimentar de adolescentes quando comparada à situação de insegurança alimentar
vivenciada nos domicílios. Optou-se, então, por comparar os resultados obtidos com
as publicações encontradas sobre o consumo alimentar de adolescentes, porém,
considerando que a situação de insegurança alimentar das famílias pode influenciar
no consumo alimentar dos mesmos.
Assim, no nível individual, observou-se que os itens alimentares de maior
contribuição para o consumo energético diário dos adolescentes de domicílios em
IAN e SAN, foram: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1) e óleos e gorduras (G7),
açúcar e doces (G8), seguido dos grupos de carnes e ovos (G3), sucos artificiais e
122
infusões (G10), nos domicílios em IAN acrescentam-se as leguminosas (G2) e nos
domicílios em SAN: leites e produtos lácteos (G4). Cabe destacar que, as freqüências
observadas nos domicílios em IAN e SAN, apresentaram diferenças para cada grupo.
Portanto, os resultados observados, tanto na disponibilidade, quanto no
consumo alimentar para os domicílios em IAN, corroboram com os dados
encontrado por PANIGASSI et al. (2008) sobre a insegurança alimentar intrafamiliar
e o perfil do consumo de alimentos. Os autores verificaram que a maioria das
famílias em IAN consumiam diariamente cereais, óleo, açúcar e feijão; e leites e
produtos lácteos (G4) foram mais consumidos por famílias em SAN.
Os alimentos menos consumidos pelos adolescentes de domicílios em IAN e
SAN foram aqueles pertencentes aos grupos: frutas (G5), hortaliças (G6) e
refrigerantes (G9), exceto o grupo de leite e produtos lácteos (G4), para os
adolescentes dos domicílios em SAN, com destaque para a diferença entre as
freqüências observadas nas situações de IAN e SAN.
Em relação ao consumo diário dos grupos G5 (frutas) e G6 (hortaliças), as
freqüências foram baixas, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN, como
para os de domicílios em SAN. Dados semelhantes foram observados no estudo
realizado por TORAL et al. (2006) sobre o comportamento alimentar de adolescentes
de São Paulo, cujo consumo de frutas e verduras, foi inferior ao recomendado pela
Pirâmide Alimentar. NEUTZLING et al. (2007) observaram que a maioria dos
adolescentes de Pelotas-RS consumia uma dieta pobre em fibras (83,9 e mais de um
terço deles (36,6%) consumiam dieta rica em gordura.
Sabe-se que as frutas, legumes e verduras, por suas propriedades decorrentes
do seu conteúdo em fibras, minerais e vitaminas, são agentes importantes na
prevenção das doenças crônicas não transmissíveis. Portanto, a diminuição desses
alimentos nas dietas, conforme descrito anteriormente representaria um risco
potencial de maior freqüência dessas morbidades (MS, 2008).
Além do grupo de óleos e gorduras (G7), os adolescentes de domicílios em
IAN informaram consumir, com maior freqüência, também açúcar e doces (G8),
sucos artificiais e infusões (G10), leguminosas (G2), hortaliças (G6) e refrigerantes
(G9), comparados aos adolescentes de domicílios em SAN. De acordo com o Guia
Alimentar para a população brasileira, há evidências de que o consumo de açúcares
123
tenha se deslocado para o consumo de refrigerantes, sucos e bebidas adoçadas, cuja
oferta no mercado aumentou, consideravelmente, nos últimos anos.
Quanto à maior freqüência observada no consumo de leguminosas e
hortaliças pelos adolescentes de domicílios em IAN, as famílias podem ter sofrido a
influência das iniciativas realizadas pelo governo federal quanto ao acesso à
alimentação e desenvolvimento agrário, como por exemplo, o Programa de
Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar - PAA, o Programa Bolsa Família PBF, voltados às famílias em vulnerabilidade alimentar.
Os adolescentes pertencentes aos domicílios em situação de segurança
alimentar consumiram todos os dias com maior freqüência, alimentos como: pães,
raízes e tubérculos (G1), leite e produtos lácteos (G4), frutas (G5), carnes e ovos
(G3), sendo que neste último, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN,
quanto em SAN, as freqüências de consumo estiveram próximas.
Estes dados convergem com os resultados observados por PANIGASSI et al.
(2008), em que a maioria das famílias em SAN informaram consumir, diariamente,
alimentos construtores (carnes, leite e derivados), energéticos (pães, raízes e
tubérculos) e reguladores (frutas, verduras e legumes), mas, mesmo assim, havia uma
parcela considerável que não possuía o hábito de consumir frutas e derivados do
leite.
Considerando os alimentos que compõe cada grupo e a freqüência diária do
consumo alimentar, verificou-se que os adolescentes de domicílios em situação de
IAN e SAN informaram consumir com maior freqüência: arroz, macarrão, milho e
derivados (G1), feijão, lentilha, ervilha e soja (G2), carne (G3), leite (G4), óleo (G7),
mel, melado, açúcar, rapadura (G8) e café, chimarrão, chá (G10), sendo que, os
domicílios em SAN responderam consumir margarina, componente do grupo G7.
Cabe destacar, no entanto, que as freqüências observadas foram diferentes para os
adolescentes de domicílios em IAN e SAN.
Dados semelhantes foram encontrados no consumo alimentar de adolescentes
em Teresina - PI, onde se observou maior freqüência no consumo de arroz, milho,
mel, açúcar, rapadura (CARVALHO et al., 2001).
Embora na literatura, o consumo de café comparado a situação de IAN, foi
observado por ANTUNES et al. (2010) somente em crianças menores de três anos, é
124
importante destacar que esse consumo foi mais elevado entre crianças de famílias
com situação de IAN, corroborando com a freqüência de consumo observada entre os
adolescentes do presente estudo.
Dados do Guia Alimentar (MS, 2008) mostram que houve crescimento de
16% na participação das gorduras vegetais, na dieta da população brasileira. Tanto o
óleo de soja como a margarina apresentaram crescimento, o que converge com o
consumo encontrado deste alimento em domicílios em SAN.
No entanto, cabe ressaltar que, se por um lado a substituição de gorduras
animais por vegetais é mais saudável, é importante estabelecer estratégias que
mantenham o consumo de gorduras vegetais dentro das faixas de consumo
recomendadas; bem como, manter alerta para a diminuição do consumo de gorduras
hidrogenadas (trans), das quais alguns tipos de margarinas e de gorduras vegetais são
representantes.
Quando se observou o consumo de 1 a 3 vezes por semana (Tabela 14) os
adolescentes dos domicílios em IAN informaram, consumir com maior freqüência
alimentos como: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e inhame (G1), doces
(G8), margarina (G7), refrigerantes (G9) e sucos industrializados (G10). Este dado
sinaliza para o estado nutricional observado entre os adolescentes desses domicílios
(baixo peso e obesidade). De acordo com VIEIRA et al. (2008), adolescentes em
baixo peso geralmente consomem menos alimentos energéticos (pães, cereais, raízes
e tubérculos), enquanto os de sobrepeso e obesidade apresentam baixo consumo de
alimentos reguladores (frutas, verduras e legumes). Observa-se um consumo de
alimentos densamente energéticos e em sua maioria de baixo valor nutricional
A maioria dos grupos dos alimentos esteve disponível em maior freqüência
nos domicílios em situação de SAN, destacando os grupos G1 (pães, cereais, raízes e
tubérculos), G3 (carnes e ovos) e G7 (óleos e gorduras). Os adolescentes de
domicílios em IAN consumiram em maior freqüência, os grupos de alimentos G1
(pães, cereais, raízes e tubérculos), G2 (leguminosas), G3 (carnes e ovos), G7 (óleos
e gorduras), G8 (açúcar e doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), comparado aos
adolescentes de domicílios em situação de SAN.
Portanto, nos domicílios em situação de IAN observou-se disponibilidade e
consumo dos alimentos do grupo de leguminosas (G2), quando comparado aos
125
domicílios em SAN. Este fato pode ser devido ao incentivo do governo em aumentar
o consumo desse tipo de alimento (rico em proteína e ferro), uma vez que, foi
observada na Pesquisa de Orçamento Familiar a diminuição da ingestão de feijão em
domicílios da área urbana, e aos programas de transferência de renda como o PBF.
De acordo com Chico Menezes, o PBF tem conseguido ajudar as famílias se
alimentarem “de maneira mais suficiente” e de forma mais variada, mas isso não
significa que elas estejam se alimentando melhor: “Elas se alimentam com maior
frequência, provavelmente em maiores quantidades, e aumentou a variedade de
alimentos no prato. Nesse sentido, a variedade nem sempre corresponde a uma
melhor alimentação - há famílias que passaram a consumir mais frutas, verduras,
legumes e carne e, ao mesmo tempo, famílias que aumentaram acentuadamente a
quantidade de alimentos, mas sem uma condição nutricional mais adequada. De
acordo com o autor, isso ocorre porque as famílias organizam seu cardápio com base
em produtos mais baratos, e não necessariamente mais saudáveis (TORRES, 2009).
A POF 2002-2003 observou que 73% das famílias brasileiras declaram algum
tipo de insatisfação com o tipo de alimento que consome. Quando considerada esta
avaliação para as áreas urbanas e rurais, verificou-se que 71,3% das famílias,
residentes em áreas urbanas, informaram nem sempre ou raramente consumir
alimentos do tipo preferido. A razão principal alegada, em todo o País, foi a
insuficiência de rendimento (93% das famílias).
A mesma pesquisa procurou medir se a disponibilidade de alimentos nos
pontos de venda (ex.: supermercados) poderia funcionar como um limitador do
consumo de produtos desejados. Os resultados mostraram que somente em alguns
estados da Região Norte – Acre, Roraima e Amapá, foram registrados percentuais de
famílias com esta alegação (todos abaixo de 10%). Tal resultado confirma que, tanto
na disponibilidade, quanto no consumo de alimentos, estão associados também
fatores culturais, hábitos e práticas alimentares. Além disso, o padrão de consumo de
alimentos é fortemente influenciado por condicionantes socioeconômicos – renda,
escolaridade e as condições de trabalho e habitação (DOMENE, 2011).
126
6.5 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA
ALIMENTAR E NUTRICIONAL
6.5.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e variáveis
relativas ao domicílio
Os resultados da PNAD 2004 e da PNDS 2006 confirmaram que a
insegurança alimentar está diretamente relacionada a outros fatores socioeconômicos
e de composição da unidade domiciliar como, por exemplo, a presença de moradores
menores de 18 anos de idade, o número de moradores e a renda domiciliar (IBGE,
2010b).
Assim, neste estudo analisou-se a relação da situação de insegurança
alimentar com informações demográficas, socioeconômicas dos adolescentes e dos
chefes de família, informações relativas aos domicílios - características de moradia e
saneamento; renda familiar per capita mensal, produção de alimento no domicílio
para consumo próprio e a participação em programas sociais do governo.
Apesar do interesse generalizado em investigar os determinantes da
insegurança alimentar domiciliar, pouco se sabe sobre a situação dos jovens quanto a
IAN (HADLEY et al., 2008). Os autores apresentam a dificuldade de analisar a
insegurança alimentar de adolescentes, uma vez que, não existe uma escala que
mensure a situação de IAN dos indivíduos, particularmente dessa faixa etária.
Existe escalas que avaliam a insegurança alimentar do domicílio como a
Escala Domiciliar de Segurança Alimentar Americana (HFSSM) nos EUA, a Escala
de Segurança Alimentar da América Latina e Caribe (ELCSA) nos países da
América Latina e Caribe que, quando aplicadas juntamente com outros indicadores
(PÉREZ – ESCAMILLA, 2005; PÉREZ – ESCAMILLA e SEGALL – CORRÊA,
2008), permitem uma observação multidimensional da situação de insegurança
alimentar do domicílio e dos fatores de risco para os indivíduos que o compõem
(ROSE, 2008). Trata-se, então, de uma experiência vivenciada pelos indivíduos,
127
pelas famílias e até mesmo por comunidades (KEPPLE, GUBERT, SEGALLCORRÊA, 2011).
No Brasil, KEPPLE e SEGALL-CORREA (2011) sugerem que a Escala
Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA seja aplicada juntamente com outros
indicadores da SAN, pois aplicada isoladamente não é adequada para medir a
complexidade de um fenômeno multidimensional e interdisciplinar como a segurança
alimentar.
No presente estudo verificou-se a associação entre a cor da pele (p<0,0001), a
escolaridade (p=0,002) e o estado nutricional (p=0,006) dos adolescentes com a
situação de insegurança alimentar dos domicílios (Tabela 12).
HADLEY et al. (2008) analisou a insegurança alimentar de adolescentes
etíopes e verificou associação da IAN com o gênero, a saúde e o bem estar dos
adolescentes. GULLIFORD et al. (2005) em estudo realizado com adolescentes de
Trinidad e Tobago observou que o estado nutricional foi um dos fatores associados a
IAN.
No Brasil, OLIVEIRA et al. (2009) não observou associação significativa
entre a situação de insegurança alimentar e o estado nutricional de adolescentes de
duas localidades do nordeste com baixo Índice de Desenvolvimento Humano.
Os adolescentes de domicílios que estavam em situação de insegurança
alimentar apresentaram um nível de escolaridade inferior aqueles que pertenciam a
domicílios em SAN, no primeiro caso 60,8% tinham até 4 anos de estudo, enquanto,
no segundo 63,2% tinham 9 anos de estudo ou mais. Isso pode ter ocorrido devido ao
maior número de adolescentes de domicílios em IAN terem apresentado idade entre
10 e 14 anos (58,3%), quando 50,6% dos adolescentes de domicílios em SAN tinham
idade entre 15 e 19 anos.
Quanto ao estado nutricional, apesar de 82,3% dos adolescentes de domicílios
em IAN estarem com peso normal para a idade, observou-se alta prevalência de
baixo peso (76,2%) e obesidade (58,8%). A prevalência de sobrepeso observada
entre os adolescentes domicílios em SAN foi elevada (58,2%), apesar de 69,7% dos
chefes de família destes domicílios apresentarem escolaridade de 9 anos de estudos
ou mais.
128
Diversos estudos apresentam a associação entre o estado nutricional e o nível
de escolaridade dos pais (VEUGELERS e FITZGERALD, 2005; LIEN et al., 2007;
ARAUJO et al., 2010). No estudo de revisão sistemática realizado por CARDOSO et
al. (2009) observou-se que nos países em desenvolvimento, existia uma relação
direta entre o excesso de peso dos adolescentes e variáveis socioeconômicas como: a
renda e a escolaridade dos pais.
O número de moradores pode ser também, um indicador que possivelmente
influencie na disponibilidade e consumo de alimentos, refletindo no estado
nutricional do indivíduo. No presente estudo 56,7% dos domicílios em IAN tinham
sete moradores ou mais e a prevalência de baixo peso em adolescentes pertencentes a
esses domicílios foi de 76,2%. GOMES et al. (2009) observaram que 49,7% dos
adolescentes que pertenciam a domicílios com mais de sete moradores, apresentaram
baixo peso.
Quanto à obesidade, GOMES et al. (2009) apresenta que os seres humanos
desenvolveram mecanismos fisiológicos contra a perda de massa corporal em
períodos de escassez de alimentos, mas ainda não existe nenhum mecanismo capaz
de prevenir o ganho de peso na presença de alimentos abundantes e/ou inapropriados.
PEÑA e BACALLAO (2002) reconhecem que deve existir uma interação entre a
susceptibilidade biológica, fatores ambientais e sociais que influenciem no quadro de
obesidade que a população mundial tem enfrentado.
Estudos sugerem que pode haver associação entre obesidade de adolescentes
e a situação sócio-econômica desprivilegiada das famílias (MATIJASEVICH et al.,
2009; VIEWEG et al., 2007; GOODMAN et al., 2003), geralmente situação
encontrada nos membros das famílias em insegurança alimentar.
Em estudo de revisão realizado por SOUZA et al. (2007) os dados obtidos
demonstraram que os principais fatores responsáveis pelo aumento da incidência de
obesidade na população mais jovem foram: a pré-disposição genética, o estilo de
vida moderno que ocasiona o sedentarismo, hábitos alimentares inadequados e
influência da mídia no consumo de alimentos hipercalóricos. FONSECA et al. (1998)
alerta que a obesidade na adolescência é uma fator preditivo da obesidade no adulto,
o que retrata o processo de transição nutricional vivido no Brasil (BATISTA FILHO
e RISSIN, 2003).
129
Em relação aos chefes das famílias estudadas, observou-se associação entre a
insegurança alimentar, a escolaridade e o tempo de residência nos municípios
(Tabela 16). No estudo realizado por SALLES-COSTA et al. (2008), em Campos
Elíseos no município de Duque de Caxias –RJ, os autores também verificaram
associação entre a IAN e a escolaridade do chefe da família (p=0,004).
Em estudo sobre a geografia dos fluxos populacionais e os níveis de
escolaridade dos migrantes, verificou-se que o fluxo migratório de mão-de-obra
qualificada principalmente do estado de São Paulo para a região Centro-Oeste
diminuiu e essa região tornou-se área de recepção de migrantes pertencentes a
localidades ao seu entorno e com escolaridade de até 4 anos (RIGOTTI, 2006).
A grande expansão urbana no Brasil, como um componente fundamental das
mudanças estruturais na sociedade brasileira, ocorreu na segunda metade do século
XX, entre os anos 1950 e 1970. No início do século XX, entre as cidades mais
importantes estavam: Belém e Manaus, na Região Norte do país; Salvador, Recife e
Fortaleza, no Nordeste; Porto Alegre e Curitiba, no Sul; e apenas Cuiabá, no CentroOeste, fugia à tendência litorânea (BRITO, 2006), destacando a construção da
rodovia BR 163 que teve início no de 1970.
Neste contexto, a rápida urbanização do território brasileiro não foi um
processo estritamente demográfico, ela teve dimensões muito mais amplas. As
cidades, além de concentrarem uma parcela crescente da população do país,
converteram-se no locus privilegiado das atividades econômicas mais relevantes e
transformam-se em difusoras dos novos padrões de relações sociais – incluindo as de
produção – e de estilos de vida (BRITO e SOUZA, 2005). Essa enorme
transformação da sociedade brasileira tinha como um dos seus principais vetores a
grande expansão das migrações internas (BRITO, 2006).
No presente estudo, observou-se também a associação entre a insegurança
alimentar e a renda familiar per capita mensal, o tipo de construção da moradia, o
tratamento da água e a participação em programas sociais do governo, com p-valor
menor que 0,0001 para todas essas variáveis.
Estudos realizados no Brasil observaram associação com a renda familiar
(SANTOS et al., 2010; VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008; SALLES-COSTA et
al., 2008). Dos 132 domicílios com renda familiar per capita mensal de até 1/2
130
salário mínimo, observou-se que 73,5% estavam em IAN. Sendo que, ter uma renda
familiar per capita mensal menor ou igual a 1 salário mínimo apresentou ser um
possível fator de risco para a insegurança alimentar no domicílio (IC=1,71-4,10).
Entre os domicílios que informaram participar de programas sociais do
governo verificou-se que a insegurança alimentar esteve presente em 75% dos
domicílios. Assim, pode-se confirmar por este resultado que essas famílias em
vulnerabilidade de IAN estão participando do programa que a elas foi destinado.
No estudo sobre transferência condicionada de renda e segurança alimentar
BURLANDY (2007) mostra que, comparado a outros tipos de programa, a
transferência condicionada de renda apresenta vários aspectos positivos, tais como o
fortalecimento da economia local, os baixos custos operacionais (que se situam em
torno de 5 a 10% dos custos totais dos programas), a autonomia dos usuários na
utilização dos recursos, dentre outros.
Por outro lado, BURLANDY (2007) apresenta que alguns desafios são
colocados, como por exemplo, os riscos de que os recursos transferidos em forma
monetária sofram a perda com inflação, as diferenças no custo de vida, no preço de
venda dos alimentos, o montante transferido pode ser baixo, além das características
das famílias, incluindo o número de pessoas que vivem no domicílio.
Atualmente, os maiores programas de transferência de renda brasileiros são o
Programa Bolsa-Família (PBF) e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O
PBF é um programa que faz uma transferência incondicional de renda para as
famílias extremamente pobres, e transferências condicionais para famílias pobres ou
extremamente pobres que tenham em sua composição crianças e jovens de até 18
anos de idade, gestantes e nutrizes (BRASIL, 2010c).
Implantado em 2004, o PBF unificou os programas já existentes na época:
Auxílio-Gás, Bolsa-Alimentação, Bolsa-Escola e Cartão-Alimentação. Por esta
razão, quando entrevistados sobre o tipo de transferência de renda recebida, os
informantes podem ter declarado ser beneficiários de programas não mais vigentes,
nos quais, anteriormente, haviam sido cadastrados (SEGALL-CORRÊA et al., 2008).
É relevante destacar, que a promoção do acesso à rede de serviços públicos, o
combate à fome, a promoção da segurança alimentar e nutricional e o estímulo à
emancipação das famílias pobres estavam entre os objetivos básicos do PBF, de
131
acordo com o decreto 5.209, que regulamentou o programa em 2004 (TORRES,
2009).
Em estudo realizado por SEGALL-CORRÊA et al. (2008) sobre transferência
de renda e segurança alimentar no Brasil, os autores observaram que a situação de
IAN foi mais freqüente nos domicílios que algum morador era beneficiário de
programas de transferência de renda. Além disso, os resultados obtidos indicaram
associação positiva da transferência de renda, com a segurança alimentar,
independente do efeito de outras condições.
Os autores apontaram que residir em áreas urbanas aumenta a chance de
insegurança alimentar, pois o custo dos itens não alimentares, possivelmente,
compete com outras necessidades básicas das famílias, comparado as famílias de
áreas rurais.
Cabe ressaltar que, os municípios analisados neste estudo, apresentam
características culturais, econômicas, de produção e localização diferentes, sendo
necessário observar o que SEGALL-CORRÊA et al. (2008) ressaltam, que o impacto
relativo de um mesmo valor de transferência de renda será diferente conforme a
realidade local.
Sobre as condições de moradia e saneamento, a prevalência de IAN em
domicílios com outro tipo de construção da moradia - alvenaria com acabamento
incompleto, madeira ou material aproveitado foi de 61,6% (IC=1,39-2,56) e 64%
(IC=1,27-1,96) para aqueles que responderam não ter tratamento da água para beber
ou cozinhar.
Resultados semelhantes foram observados por VIANNA e SEGALLCORRÊA (2008) quanto à prevalência de outro tipo da construção de moradia em
70,7% dos domicílios investigados no estado da Paraíba; e SALLES-COSTA et al.
(2008) que verificou em 63,6% dos domicílios na região metropolitana do Rio de
Janeiro, a ausência de filtro para tratamento da água (p=0,003).
Segundo KEPPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) a situação de
segurança é fortemente determinada pelas condições sociais e econômicas as quais as
pessoas, as comunidades e mesmo os países são submetidos.
Assim as estimativa das razões de prevalência (RP), comparadas as variáveis
que se mostraram associadas à insegurança alimentar, mostrou que a renda familiar
132
per capita mensal, a participação em programas sociais do governo, o tipo de
construção da moradia e o tratamento da água foram os indicadores que melhor
discriminaram as famílias em risco de insegurança alimentar (p-valor < 0,0001) na
análise bivariada.
Após a análise de regressão múltipla de Poisson, verificou-se que a renda
familiar per capita mensal, a produção de alimentos no domicílio para consumo
próprio, o tempo de residência no município e a escolaridade do chefe da família
mantiveram-se associadas à situação de insegurança alimentar (Tabela 14).
O estudo piloto realizado por CIRINO et al. (2010), sobre a situação de
segurança alimentar domiciliar, na comunidade Campo da Tuca –RS, permitiu
verificar, após análise da regressão múltipla de Poisson, que a renda familiar esteve
associada a situação de IAN (p=0,046).
133
CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES
134
7 CONCLUSÕES / RECOMENDAÇÕES
7.1 CONCLUSÕES
Neste estudo conclui-se que:

Houve alta prevalência (51,8%) de insegurança alimentar nos domicílios com
adolescentes nos municípios estudados e segundo os seus níveis de severidade:
8,8% estavam em insegurança grave, 14,3% em insegurança moderada e 28,7%
em insegurança leve.

Mais da metade dos adolescentes dos municípios estudadas eram do sexo
feminino (52,6%), com idade entre 10 e 14 anos (50,7%), de cor não branca
(64,7%) e tinham escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo (50%).

Os chefes de família apresentaram baixa escolaridade (78,2% tinham menos de
8 anos de estudo) e em sua maioria havia migrado de outros estados e residiam
há menos de 20anos nos municípios.

Em 93,1% das famílias foi verificada baixa renda (menor que dois salários
mínimos per capita mensal).

Apesar de 99,4% dos domicílios serem atendidos pela coleta pública de lixo,
83,5% ter abastecimento de água atendido por meio da rede pública, cabe
destacar que, as condições de moradia e saneamento eram insuficientes, pois:
65,3% dos domicílios era alvenaria com acabamento incompleto, de madeira
ou de material aproveitado; 98,6% não apresentavam rede pública de esgoto
sanitário; e ainda que, 58,7% utilizavam água tratada (fervida, clorada ou
mineral) para beber ou cozinhar, um percentual considerável (41,3%)
consumiam água sem nenhum tipo de tratamento.

Dos domicílios pesquisados, 57,9% famílias produziam alimentos para
consumo próprio e 19,83% participavam de programas sociais de transferência
de renda do governo, como o Bolsa família.
135

Quando comparada a disponibilidade e o consumo de alimentos em relação a
situação de segurança alimentar das famílias, nos domicílios em IAN houve
maior disponibilidade de alimentos energéticos (pães, cereais, raízes e
tubérculos, óleos e gorduras, açúcar e doces) e leguminosas; e os adolescentes
destes domicílios informaram consumir diarimente em maior frequência
alimentos como: leguminosas, hortaliças, óleos e gorduras, açúcar e doces,
refrigerantes, sucos e infusões. Embora leite e produtos lácteos, frutas e
hortaliças estivessem disponíveis nos domicícilios, os resultados alertam para o
baixo consumo desses alimentos, identificado entre os adolescentes.

Destaca-se a elevada prevalência de sobrepeso entre os adolescentes, superior
as encontradas em outras regiões brasileiras, como Sudeste e Nordeste,
apontando para um possível risco nutricional.

A situação de insegurança alimentar pode ser verificada como resultado da
interação de uma multiplicidade de variáveis socioeconômicas, nutricionais,
variáveis relacionadas ao domicílio e a migração, sendo que, permaneceram
associadas: a renda familiar per capita mensal, a produção de alimentos no
domicílio, o tempo de residência no município e a escolaridade do chefe da
família.
7.2 RECOMENDAÇÕES
Diante destas conclusões, recomenda-se a expansão de políticas públicas de
saneamento básico e de qualificação de recursos humanos, visando à geração de
emprego e renda para população. Importante, também, a criação ou o fortalecimento
de programas de incentivo às feiras livres de abastecimento de alimentos, de criação
de hortas domésticas e comunitárias, que contribuam para a disponibilidade e acesso
a legumes, frutas e verduras. A realização de ações educativas que contribuam para o
acesso à informação sobre insegurança alimentar e alimentação saudável, tanto no
nível domiciliar, quanto no nível individual. Tais medidas, sinalizam e estimulam o
conhecimento da população sobre o conceito e significado da insegurança alimentar,
136
bem como, o acesso aos mecanismos sociais, programas e serviços disponíveis à
população, para a diminuição e o combate a desigualdade social.
Este estudo aponta também, para a necessária intervenção nutricional na
população, com atividades de educação visando a escolha e consumo dos alimentos,
bem como, a avaliação continuada das ações, resultados e idéias dos programas de
alimentação e nutrição desenvolvidos nesses municípios. De modo que se tenha
bases para uma reinterpretação dos resultados e um ajustamento da orientação dos
programas realizados para a população.
Desta forma, são necessários investimentos no sentido de manter políticas de
alimentação e nutrição, que visem melhorar os padrões nutricionais tanto domiciliar,
quanto individual, não somente como bases humanitárias e de bem-estar social, mas
também como estimulantes para o crescimento econômico, para o aumento da
eficiência e melhoria da utilização de recursos em saúde e educação nessa região.
137
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ANEXOS
163
ANEXO 1 - PLANEJAMENTO AMOSTRAL DO PROJETO MATRIZ
1.1 DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA AMOSTRA
Por meio do tipo de amostragem aleatória simples, foi determinado o
tamanho da amostra, ou seja, o número de indivíduos em cada município, utilizando
as informações contidas no Quadro 1.
Quadro 1 – População total dos municípios, Mato Grosso, 2006.
Município
Total
Alta Floresta
Diamantino
Sinop
Sorriso
Total
47236
20198
99121
48325
214880
Fonte: IBGE – Censos Demográficos e Contagem Populacional; para os anos intercensitários,
estimas preliminares dos totais populacionais, estratificado por idade pelo MS/SE/DATASUS, 2005.
Considerando-se que as estimativas da pesquisa são prevalências,
determinou-se o tamanho da amostra pela utilização da seguinte expressão
(BOLFARINE e BUSSAB, 2005; SCHEAFFER et al., 1987; LEVY e LEMESHOW,
2008):
n
Np 1  p 
2
N  1 d2  p1  p 
z / 2
onde,
n = tamanho aproximado da amostra;
N = nº de unidades na população em cada município;
p = proporção populacional por município;
d = limite para o erro de estimação;
(1)
164
z2 / 2 = obtido da tabela da distribuição normal padronizada, o qual representa o nível
confiança.
O tamanho da amostra em cada município, considerando o nível de confiança
de 95%, isto é, z
α/2
= 1,96 e uma proporção de 50% (p=0,5), com um erro de
estimação de 3,5% (d=0,035), é apresentado no Quadro 2 , obtendo-se um número
total de 3075indivíduos.
Quadro 2 – Número de indivíduos (amostra) em cada município, Mato Grosso,
2006.
Município
Total
Alta Floresta
771
Diamantino
755
Sinop
778
Sorriso
771
Total
3075
Considerando-se que os indivíduos são identificados no espaço geográfico
por meio de seus domicílios, para cada município foi determinado o número de
domicílios a serem sorteados no projeto matriz.
Assim, o número total de domicílios a serem entrevistados em cada
município foi obtido dividindo-se o número de indivíduos da amostra pelo número
médio de moradores por domicílio (IBGE, 2005), conforme apresentado na tabela a
seguir.
Tabela 1 – Número total de domicílios a serem considerados na pesquisa, segundo
municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006.
Nº de
Média de moradores por
Nº total de
indivíduos
domicílio
domicílios
Alta Floresta
771
3,70
210
Diamantino
755
3,81
200
Sinop
778
3,81
205
Sorriso
771
3,73
210
Total
3075
Municípios
825
165
Considerando possíveis perdas na etapa de coleta de dados, estipulou-se um
acréscimo de 20% no número total de domicílios, acarretando assim, um aumento de
165 domicílios conforme apresentado na Tabela 2.
Tabela 2 – Número total de domicílios corrigidos com acréscimo de 20%, de
municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006.
Municípios
Nº total de domicílios
Acréscimo
Nº total de domicílios
(20%)
corrigidos
Alta Floresta
210
42
252
Diamantino
200
40
240
Sinop
205
41
246
Sorriso
210
42
252
Total
825
165
990
Para definição dos conglomerados (setores), foi utilizada a grade de setores
censitários do Censo Populacional Brasileiro do ano 2000, realizado pelo IBGE e
considerou-se a distribuição dos setores existentes em cada município, de acordo
com o número de domicílios por setor, conforme procedimento do IBGE (IBGE,
2005). Este procedimento de distribuição de setores do IBGE considera uma
classificação com três categorias: setores com 200 domicílios ou mais; setores com
100 ou menos de 200 domicílios; e setores com menos de 100 domicílios.
Assim, considerando esta classificação e o total de setores, foram selecionados
cerca de 50% dos setores censitários, com o propósito de minimizar o custo e tempo
da pesquisa, conforme apresentado na Tabela 3.
Cabe destacar que, para o sorteio aletório dos setores definidos na Tabela 3
em cada município foi utilizando o pacote estatístico MINITAB versão 15.0.
Visando a obtenção de um cadastro atualizado para proceder à seleção dos
domicílios ocupados, foram realizadas visitas in locu para certificar a existência e
ocupação dos setores sorteados e os seus respectivos domicílios.
166
Tabela 3 – Distribuição do número de setores censitários selecionados, segundo o
número de domicílios por setor, de municípios da área de abrangência da BR 163,
Mato Grosso, 2006.
Nº de domicílios
por setor
Nº de setores censitários
Alta Floresta
Diamantino
Sinop
Sorriso
Total
≥200 domicílios
11
7
26
12
56
100≤ domicílios<200
8
3
5
4
20
<100 domicílios
1
2
0
4
7
Total
20
12
31
20
83
Com base na listagem de todos os setores e com os respectivos números de
domicílios atualizados, a determinação do número de domicílios estimado em cada
setor (ndecs) foi feita multiplicando o número de domicílios no setor (nds), pelo
número estimado de domicílios na amostra (nedena) e dividido pelo total de
domicílios ocupados em todos os setores do município (tdotsm).
Por exemplo, no setor 3 de Alta Floresta, o número de domicílios no setor é
de 187, o número estimado de domicílios na amostra é de 252 e o número total de
domicílios ocupados em todos os setores do município é 4901. Isto é,
ndecs 
nds  nedena 187  252 47124


 9,6  10 domicílios
tdotsm
4901
4901
(2)
O sorteio aleatório dos domicílios por setor para cada município, foi realizado
considerando a relação com todos os setores sorteados em cada município e o total
de domicílios a serem sorteados por setor, sendo que, respeitou-se a proporção do
número de domicílios em cada setor e foi utilizando o pacote estatístico MINITAB
versão 15.0 (MINITAB, 2007).
Para que o tamanho da amostra em cada município atingisse o número
mínimo determinado, estabeleceu-se que na coleta de dados após três visitas sem
sucesso de realização da entrevista ou no caso de não existir uma pessoa capacitada
167
para responder o questionário no domicílio sorteado. O mesmo seria substituído pelo
domicílio particular seguinte à direita, ou seja, o domicílio localizado a direita do
domicílio de referência, não a direita do entrevistador (a). Não existindo domicílios à
direita, considerou-se o próximo domicílio da quadra, a direita do domicílio de
referência.
1.2 SELEÇÃO E TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES E ESTUDO
PILOTO
1.2.1 Seleção e Treinamento dos entrevistadores
No projeto matriz, os entrevistadores foram selecionadas e posteriormente
treinados para realização das entrevistas domiciliares.
O treinamento dos entrevistadores teve como finalidade padronizar os
procedimentos de obtenção das informações (preenchimento do questionário e ficha
antropométrica) e o modo de formulação das perguntas. O treinamento incluiu a
apresentação dos objetivos e importância do estudo, esclarecimentos sobre as
técnicas de abordagem domiciliar e de entrevistas, e também a relevância do sigilo
das informações obtidas.
Os entrevistadores foram compostos por duplas de profissionais nutricionistas
previamente treinados em Cuiabá no período de 7 a 12 de dezembro de 2006, no
Instituto de Saúde Coletiva/UFMT, com a carga horária teórico-prática de 35 horas,
submetidos posteriormente à uma supervisão de trabalho de campo.
Para melhor fixação dos conteúdos ministrados, ao final do treinamento os
entrevistadores aplicaram os questionários entre si, bem como, praticaram a aferição
de medidas antropométricas. Além disso, antes do início da coleta de dados, os
nutricionistas realizaram entrevistas em domicílios vizinhos à sua residência. Os
168
entrevistadores tiveram disponível o Manual do Entrevistador com as orientações
sobre como proceder em cada item da entrevista.
Em cada município estudado também foram realizados seleção e treinamento
com auxiliares de pesquisa de ambos os sexos (feminino e masculino). Para seleção
dos auxiliares de pesquisa os aspectos avaliados foram:
- Comportamento e habilidades (raciocínio lógico/coerência; iniciativa/bom senso;
capacidade de decisão; criatividade; resposabilidade);
- Características pessoais (postura física; aparência; voz - dicção/entonação;
clareza/objetividade; tranquilidade; pontualidade).
Em Sinop foram selecionados 13 auxiliares, no período de 29 de janeiro a 9
de fevereiro de 2007, no Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de
Mato Grosso – CEPROTEC/MT.
No município de Alta Floresta, foram selecionados 7 auxiliares. O
treinamento foi realizado no Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica
de Mato Grosso - CEPROTEC/MT, no período de 16 a 18 de maio de 2007.
Em Sorriso foi selecionada apenas uma auxiliar. O treinamento foi realizado,
nos dias 11 e 12 de julho de 2007.
No município de Diamantino foi selecionado uma entrevistadora estudante de
Educação Física da União de Ensino de Diamantino (UNED). O treinamento foi
realizado nos dias 4 e 5 de setembro de 2007.
As duplas de entrevistadores foram formadas por uma nutricionista e por uma
técnica em enfermagem. A supervisora do trabalho de campo também era
nutricionista. A seleção dos auxiliares de pesquisa foi realizada por meio de
entrevista e análise de currículo realizada pela coordenação do projeto de pesquisa.
169
1.2.2 Estudo Piloto
O estudo piloto foi realizado nos dias 18 e 19 de dezembro de 2006, com o
objetivo de verificar e aprimorar a habilidade dos auxiliares de pesquisa em aplicar
os questionários, testar e adequar os questionários, fichas, manual e outros
procedimentos propostos.
Cada entrevistador realizou entrevistas com cinco famílias residentes em três
bairros do município de Cuiabá: Jardim Amperco, Novo Tempo e Jardim Imperial.
Os dois primeiros eram campos de estágio dos alunos do Curso de Graduação em
Nutrição da UFMT e o último foi escolhido por apresentar nível socioeconômico
diferente dos outros.
Após a realização do estudo piloto houve a reformulação de algumas questões
e também reestruturação da sequência das questões que faziam parte dos
questionários.
1.3 TRABALHO DE CAMPO
1.3.1 Coleta de dados
Inicialmente, foi mantido contato com os Secretários de Saúde dos
Municípios, por intermédio da Secretaria de Estado de Saúde - SES/MT, para
apresentação, discussão do projeto de investigação e assinatura da Carta de Anuência
pelo gestor de saúde do município.
A coordenação da pesquisa esteve em cada município no início da
investigação, apresentando os supervisores de campo e definindo o apoio logístico
dos gestores municipais para o melhor andamento do trabalho de campo.
170
A divulgação da pesquisa para a população de cada município foi feita por
meio de televisão, rádio, jornal impresso e cartazes fixados em escolas, creches e
unidades básicas de saúde.
O trabalho de campo foi realizado nos domicílios conforme consentimento
dos responsáveis, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
– TCLE (Anexo 2). A coleta de dados foi realizada no período de fevereiro a outubro
de 2007.
As informações relativas às variáveis do estudo foram registradas em um
questionário previamente estruturado, codificado e testado, contendo módulos
específicos para cada faixa etária. Na aplicação dos módulos constituintes do
questionário foram investigadas informações demográficas, socioeconômicas,
condições de moradia e saneamento, de segurança alimentar e medidas
antropométricas.
Os entrevistadores e auxiliares de pesquisa foram identificados com
uniformes, crachás e carta de apresentação assinada pela coordenação do projeto.
1.3.2 Entrevista
As entrevistas foram realizadas utilizando formulários pré-codificados, por
uma dupla de entrevistadores composta por um profissional nutricionista e um
auxiliar de pesquisa de nível médio, técnico ou superior incompleto. As entrevistas
ocorreram no domicílio com todos os membros que deram consentimento para
participar da pesquisa.
Após o estudo piloto, os questionários utilizados na investigação resultaram
em um instrumento subdivido em nove módulos: 1) Informações sobre o domicílio,
família e segurança alimentar; 2) Informações sobre morbidade referida e uso de
serviço de saúde; 3) Informações sobre consumo alimentar; 4) Informações sobre
crianças menores de 12 meses; 5) Informações sobre crianças de 12 a 24 meses
incompletos; 6) Informações sobre crianças de 2 a 4 anos; 7) Informações sobre
171
estilo de vida e antropometria de crianças de 5 a 9 anos; 8) Informações sobre estilo
de vida, antropometria e pressão arterial de adolescentes de 10 a 14 anos; 9)
Informações sobre estilo de vida, antropometria e pressão arterial de adolescentes
maiores de 14 anos.
Para a construção destes questionários, foram utilizados os modelos da
pesquisa: Avaliação da insegurança alimentar de famílias residentes no estado da
Paraíba, realizada em 2005, pelo Centro de Ciências da Saúde, da Universidade
Federal da Paraíba; o Inquérito de Saúde no Estado de São Paulo: Estudo
multicêntrico – ISA/SP, coordenado pela USP, UNICAMP, UNESP e SES/SP; e
também a Pesquisa sobre saúde e consumo alimentar em Duque de Caxias, realizada
em 2005: Avaliação do estado nutricional, hábitos alimentares e insegurança
alimentar no município de Duque de Caxias, RJ.
172
ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO
173
ANEXO 3 - TERMO DE APROVAÇÃO ÉTICA DO PROJETO DE
PESQUISA
174
ANEXO 4 - ESCALA BRASILEIRA DE INSEGURANÇA
ALIMENTAR – EBIA (2004)
1. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve a preocupação que a comida acabasse antes que pudesse
comprar mais comida?
2. Nos últimos 3 meses, a comida acabou antes que o a(o) Sra. (Sr.) tivesse dinheiro a para compra
mais?
3. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ficou sem dinheiro para ter uma ter uma alimentação saudável
e variada?
4. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve que se arranjar com apenas alguns alimentos para sua(s)/
adolescente(s), menores de 18 anos, porque o dinheiro acabou?
5. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) não pôde oferecer à(s) criança(s)/adolescente(s), menores de
18 anos, uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro?
6. Nos últimos 3 meses, a(s) criança(s)/o(s) adolescente(s), menores de 18 anos, não comeu
(comeram) quantidade suficiente porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida?
7. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou algum adulto em sua casa diminuiu, alguma vez, a
quantidade de alimentos nas refeições ou pularam refeições, porque não havia dinheiro suficiente para
comprar a comida?
8. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez comeu menos do que achou que devia porque não
havia dinheiro suficiente para comprar comida?
9. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez sentiu fome mas não comeu porque não podia
comprar comida suficiente?
10. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) perdeu peso porque não tinha dinheiro suficiente para
comprar comida?
11. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou qualquer outro adulto em sua casa ficou, alguma vez, um
dia inteiro sem comer ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não havia dinheiro para comprar
comida?
12. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez diminuiu a quantidade de alimentos das refeições
de sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não havia dinheiro suficiente
para comprar comida?
13. Nos últimos 3 meses, alguma vez, a (o) Sra. (Sr.) teve que deixar de fazer uma refeição da(s)
sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não havia dinheiro para comprar
comida?
14. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, teve (tiveram)
fome, mas a(o) Sra. (Sr.) simplesmente não podia comprar mais comida?
15. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, ficou (ficaram)
sem comer por um dia inteiro porque não havia dinheiro para comprar comida?
Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006).
175
ANEXO 5 - ESCALA BRASILEIRA DE INSEGURANÇA
ALIMENTAR – EBIA (2010)
1. Nos últimos 3 meses, os moradores deste domicílio tiveram a preocupação de que a comida
acabasse antes que tivessem dinheiro para comprar mais comida?
2. Nos últimos 3 meses, os alimentos acabaram antes que os moradores desse domicílio tivessem
dinheiro para comprar mais comida?
3. Nos últimos 3 meses, os moradores desse domicílio ficaram sem dinheiro para ter uma uma
alimentação saudável e variada?
4. Nos últimos 3 meses, os moradores desse domicílio comeram apenas alguns poucos tipos de
alimentos que ainda tinham, porque o dinheiro acabou?
5. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade deixou de fazer alguma refeição
porque não havia dinheiro para comprar a comida?
6. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade comeu menos do que achou que
devia, porque não havia dinheiro para comprar comida?
7. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade sentiu fome, mas não comeu,
porque não tinha dinheiro para comprar comida?
8. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade ficou um dia inteiro sem comer
ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não tinha dinheiro para comprar a comida?
9. Nos últimos 3 meses, os moradores com menos de 18 anos de idade não puderam ter uma
alimentação saudável e variada, porque não havia dinheiro para comprar comida?
10. Nos últimos 3 meses, os moradores menores de 18 anos de idade comeram apenas alguns poucos
tipos de alimentos que ainda havia neste domicílio, porque o dinheiro acabou?
11. Nos últimos 3 meses, algum morador com menos de 18 anos de idade comeu menos do que você
achou que devia, porque não havia dinheiro para comprar a comida?
12. Nos últimos 3 meses, foi diminuída a quantidade de alimentos das refeições de algum morador
com menos de 18 anos de idade, porque não havia dinheiro suficiente para comprar a comida?
13. Nos últimos 3 meses, alguma morador com menos de 18 anos de idade deixou de fazer alguma
refeição, porque não havia dinheiro para comprar a comida?
14. Nos últimos 3 meses, algum morador com menos de 18 anos de idade sentiu fome, mas não comeu
porque não havia dinheiro para comprar mais comida?
Fonte: PNAD 2010 (IBGE, 2010).
Pontuação para classificação dos domicílios com e sem menores 18 anos de idade
Classificação
Segurança Alimentar
Insegurança Alimentar leve
Insegurança Alimentar moderada
Insegurança Alimentar grave
Fonte: PNAD 2010 (IBGE, 2010).
Pontos de corte para domicílios
Sem menores de 18 anos
Com menores de 18 anos
0
0
1-5
1-3
6-9
4-5
10 - 14
6-8
176
ANEXO 6 - ESTÁGIOS DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA,
EPIDEMIOLÓGICA E NUTRICIONAL.
Fonte: POPKIN, 2002.
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