Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 – Mato Grosso, Brasil Lúcia Dias da Silva Guerra Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva – UFMT, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva Área de concentração: Saúde Coletiva Linha de Pesquisa: Alimentação, Nutrição e Promoção da Saúde Orientador: Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa Co-orientadora: Profª Drª Aída Couto D. Bezerra Cuiabá-MT 2011 Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, Brasil Lúcia Dias da Silva Guerra Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva – UFMT, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva Área de concentração: Saúde Coletiva Linha de Pesquisa: Alimentação, Nutrição e Promoção da Saúde Orientador: Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa Co-orientadora: Profª Drª Aída Couto D. Bezerra Cuiabá-MT 2011 Dados Internacionais de Catalogação na Fonte G934a Guerra, Lúcia Dias da Silva. Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, Brasil / Lúcia Dias da Silva Guerra. -- 2011. 176 f. : il. color. ; 30 cm. Orientador: Mariano Martínez Espinosa. Co-orientadora: Aída Couto D. Bezerra. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Saúde Coletiva, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Cuiabá, 2011. Inclui bibliografia. 1. Segurança alimentar. 2. Insegurança alimentar – Adolescentes. 3. Insegurança alimentar – Mato Grosso. 4. Insegurança nutricional. 5. Alimentação adequada – Direito humano. I. Título. CDU 614.31:613.2-053.6(817.2) Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099 Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação. Dedico esta Dissertação, Á Deus, Jesus e Maria, meu porto seguro, meu refúgio, fontes de sabedoria, coragem e vitória! ao Espírito Santo pela inspiração e dons recebidos... Aos meus familiares, meus pais Sildiná e João, minha irmã Bruna Íris. Á todos que pelo caminho, decoraram o jardim da minha vida até aqui... AGRADECIMENTOS Á Deus pelo zelo e cuidado, comigo e minha família, permitindo que eu construísse esse caminho. Á Universidade Federal de Mato Grosso, por ser para mim um celeiro de oportunidades. Ao Instituto de Saúde Coletiva, Professores e Secretários (Jurema e Hailton), pelo acolhimento, pela dedicação, por me auxiliarem sempre. Ao meu orientador Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa, pela dedicação, pelos ensinamentos desde a iniciação científica, pela amizade e exemplo. Á minha Co-orientadora Profª. Drª Aída Couto Dinucci Bezerra, pelos ensinamentos desde a graduação, pela dedicação, amizade e exemplo. Á minha turma de mestrado/2009 e a turma de mestrado/2010, pelo convívio, pelas alegrias, partilhas e comemorações. Ao Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional/NESAN, professores, bolsistas, mestrandos, por terem me ensinado a ser também uma pesquisadora. Á Faculdade de Nutrição, pelos professores e técnicos, que nas visitas e convívios esporádicos puderam partilhar comigo meus sonhos e o meu crescimento. Á toda(o)s minha(o)s querida(o)s amiga(o)s que construí durante esses anos que permaneci em Cuiabá-MT. Não sei Não sei ... se a vida é curta ou longa demais pra nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita. Alegria que contagia, Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja curta, nem longa demais. Mas que seja intensa Verdadeira, pura ... Enquanto durar. (Cora Coralina) Guerra LDS. Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 – Mato Grosso, Brasil [dissertação de mestrado]. Cuiabá/MT: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso; 2011. Resumo Introdução - A insegurança alimentar e nutricional é uma questão multidimensional que se configura como um problema de saúde mundial e está diretamente relacionada com a luta pelo Direito Humano a Alimentação Adequada. Objetivo - Analisar a situação de insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso. Métodos - Estudo transversal, realizado por meio de inquérito domiciliar, com amostra de 391 domicílios com 592 adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos, pertencentes a famílias da área urbana dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso. A situação de insegurança alimentar dos domicílios foi investigada através da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Na análise dos dados foram utilizadas estatísticas descritivas e estatísticas inferenciais como razão de prevalência com seus respectivos intervalos de confiança de 95% e por meio do teste de quiquadrado (χ2) de Pearson verificou-se a associação entre as variáveis, com nível de significância de p<0,05. Para comparar em média a frequência de disponibilidade e consumo de alimentos nos domicílios, uma análise da variância múltipla foi utilizada, considerando um nível de significância de p<0,05. Posteriormente realizouse análise de regressão múltipla de Poisson. Resultados - Dos domicílios estudados 51,8% estavam em situação de insegurança alimentar e nutricional (28,7% em insegurança leve, 14,3% insegurança moderada, 8,8% insegurança grave). Dos adolecentes, 52,6% eram do sexo feminino, 50,7% tinham idade entre 10 e 14 anos, 64,7% eram de cor não branca, 50,0% tinha escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo. Quanto ao estado nutricional: 82,3% estavam eutróficos, 10,5% em sobrepeso, 4,0% baixo peso e 3,2% apresentaram obesidade. Nos domicílios em que estava presente a situação de insegurança alimentar, houve maior disponibilidade de alimentos energéticos (pães, cereais, raízes e tubérculos, óleos e gorduras, açúcar e doces) e leguminosas. Sobre o consumo alimentar dos adolescentes, predominou alimentos dos grupos: leguminosas, hortaliças, óleos e gorduras, açúcar e doces, refrigerantes, sucos e infusões. Na análise da regressão múltipla de Poisson as variáveis que mantiveram-se associadas a situação de insegurança alimentar foram: a renda familiar per capita, a produção de alimentos no domicílio, o tempo de residência e escolaridade do chefe da família. Conclusão – Os resultados sugerem a implementação de políticas voltadas para a saúde pública, como políticas de saneamento básico, ações educativas tanto no nível domiciliar, quanto individual sobre alimentação e nutrição. É essencial a disceminação do conceito e o significado da insegurança alimentar, bem como, informar o acesso a mecanismos sociais, programas e serviços disponíveis à população, de forma que contribua para a diminuição das desigualdades sociais e o combate a fome. Descritores: insegurança alimentar, adolescentes, rodovia BR-163, consumo alimentar, disponibilidade de alimentos. Guerra LDS. Analysis of food and nutrition insecurity and factors associated with adolescents in households of municipalities in the area of BR 163 - Mato Grosso, Brazil [dissertation]. Cuiabá/MT: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso; 2011. Abstract Introduction – The food and nutrition insecurity is a multidimensional issue that is configured as a global health problem and is directly related to the struggle for Human Right to Adequate Food. Objective - To analyze the situation of food insecurity and nutritional and factors associated with adolescents in households of municipalities in the area of BR 163 – Mato Grosso, Brazil. Methods - Crosssectional study, conducted through a household survey with a sample of 391 households with 592 adolescents aged 10 to 19 years belonging to families of the urban municipalities of Alta Floresta, Diamantino, Sinop and Sorriso. The food insecure households was investigated by the Brazilian Food Insecurity Scale. In the data analysis were used descriptive statistics and inferential statistics as prevalence ratio with their respective confidence intervals of 95% and by the chi-square (χ2) Pearson verified the association between variables, with level of significance of p <0.05. To compare the average frequency of availability and food consumption in households, a multiple analysis of variance was used, considering a significance level of p<0,05. Subsequent analysis was performed using Poisson multiple regression. Results - Of the households surveyed 51,8% were situation food and nutrition insecurity (28,7% in mild insecurity, 14,3% insecurity moderate, 8,8% severe insecurity). Among the adolescents, 52,6% were female, 50,7% were aged between 10 and 14 years, 64,7% were nonwhite, 50,0% had high school between 5 and 8 years of study, regarding nutritional status, 82,3% were eutrophic, 10,5% were overweight, 4,0% underweight and 3,3% obese. In households where it was present situation of food insecurity, was greater availability of energy foods (breads, cereals, roots and tubers, oils and fats, sugar and sweets) and legumes. Of dietary intakes of adolescents, between the consumption of legumes, vegetables, oils and fats, sugar and sweets, soft drinks, juices and teas. In the analysis of Poisson multiple regression 10 the variables that were associated with food insecurity were: family income per capita monthly, food production in households, duration of residence of head of municipalities and schooling of household head. Conclusion - The results suggest the implementation of policies for public health policies as sanitation, educational activities both at household level, and individual food and nutrition. It is essential to dissemination the concept and meaning of food insecurity, as well as informing the access to social mechanisms, programs and services available to the population in order to contribute to the reduction of social inequalities and fighting hunger. Descriptors: hunger, public health, road BR-163, food consumption. ÍNDICE Pág. 1 INTRODUÇÃO 23 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 28 2.1 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA 28 (DHAA) E SEGURANÇA ALIMENTAR (SA) 2.2 ALIMENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR 37 2.3 INDICADORES PARA AVALIAR A SITUAÇÃO DE 40 INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL 2.3.1 Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome 40 2.3.2 Pesquisas Antropométricas 42 2.3.3 Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos 43 2.4 ADOLESCÊNCIA 2.4.1 Estado Nutricional 2.5 CENÁRIO DOS MUNICÍPIOS ESTUDADOS – ÁREA DE 44 45 47 ABRANGÊNCIA DA RODOVIA BR-163 3 OBJETIVOS 51 3.1 OBJETIVO GERAL 51 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 51 4 MÉTODOS 53 4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO 53 4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO 53 4.2.1 Municípios do estudo 55 4.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO 59 4.3.1 Critérios de Exclusão 59 4.4 PLANEJAMENTO AMOSTRAL 59 4.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO 62 4.5.1 Variável dependente 62 4.5.2 Variáveis independentes 64 4.5.2.1 Variáveis demográficas 64 4.5.2.2 Variáveis de migração 64 4.5.2.3 Variáveis socioeconômicas 64 4.5.2.4 Variáveis relacionadas às condições de moradia e 65 saneamento 4.5.2.5 Medidas antropométricas 65 4.5.2.6 Variáveis relacionadas à situação de insegurança alimentar 67 4.6 MODELO DE ANÁLISE 69 4.7 SELEÇÃO E TREINAMENTO DE ENTREVISTADORES, ESTUDO 71 PILOTO E TRABALHO DE CAMPO 4.8 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA A QUALIDADE DOS 71 DADOS 4.9 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS 72 4.10 ASPECTOS ÉTICOS 73 4.11 FINANCIAMENTO 73 5 RESULTADOS 5.1 PERFIL DA POPULAÇÃO DO ESTUDO SEGUNDO VARIÁVEIS 76 76 DEMOGRÁFICAS, SOCIOECONÔMICAS E VARIÁVEIS RELACIONADAS AO DOMICÍLIO 5.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL 79 DOS DOMICÍLIOS ESTUDADOS 5.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS, 85 CONSUMO ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL DOS ADOLESCENTES 5.3.1 Disponibilidade de alimentos e consumo alimentar, comparando a 89 situação de segurança alimentar dos domicílios 5.4 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA 98 ALIMENTAR E NUTRICIONAL 5.4.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e 98 variáveis relativas ao domicílio 5.5 RESULTADOS DA REGRESSÃO MÚLTIPLA DE POISSON 101 6 DISCUSSÃO 104 6.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO 105 6.2 SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR NOS DOMICÍLIOS 108 6.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS, 113 CONSUMO E ESTADO NUTRICIONAL DOS ADOLESCENTES 6.4 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS E CONSUMO ALIMENTAR, 118 COMPARADO À SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR DOS DOMICÍLIOS 6.5 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA 126 ALIMENTAR E NUTRICIONAL 6.5.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e 126 variáveis relativas ao domicílio 7 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES 134 7.1 CONCLUSÕES 134 7.2 RECOMENDAÇÕES 135 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 138 ANEXOS Anexo 1 – Planejamento Amostral do Projeto Matriz 163 Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 172 Anexo 3 - Termo de Aprovação Ética do Projeto de Pesquisa 173 Anexo 4 - Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (2004) 174 Anexo 5 - Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (2010) e Pontuação para 175 classificação dos domicílios com e sem menores 18 anos de idade Anexo 6 - Estágios da transição demográfica, epidemiológica e nutricional 176 Lista de Tabelas Tabela 1 - Número de domicílios com adolescentes segundo municípios da área de abrangência da BR 163, considerando a perda de domicílios por recusa ou ausência, Mato Grosso, 2006 Número de adolescentes, perdas por recusa ou ausência segundo municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006 Amostra de domicílios, indivíduos e amostra de adolescentes entrevistados quanto ao consumo alimentar, segundo municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006 Distribuição dos adolescentes e chefes das famílias, dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso – área de abrangência da BR-163 segundo variáveis demográficas e socioeconômicas, Mato Grosso, 2007 Distribuição da renda, número de moradores, informações de moradia e saneamento, produção de alimentos e participação em programas sociais, dos domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007 Prevalência da situação de segurança alimentar em domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - área de abrangência da BR 163 segundo a pontuação da EBIA (2004) e da EBIA (2010) 60 Tabela 7 - Freqüência de respostas positivas às perguntas da EBIA, em domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, Mato Grosso, 2007 81 Tabela 8 - Distribuição da freqüência referida da disponibilidade de alimentos nos domicílios segundo a situação de segurança alimentar, em municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007 Análise da variância do modelo linear da freqüência de consumo por grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimenta dos domicílios 89 Distribuição da freqüência referida do consumo de alimentos dos adolescentes, segundo a situação de segurança alimentar, em municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007. 93 Tabela 2 - Tabela 3 - Tabela 4 - Tabela 5 - Tabela 6 - Tabela 9 - Tabela 10 - 60 61 76 77 79 91 Tabela de análises da variância do modelo linear da freqüência de consumo por grupo e por situação de segurança alimentar Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e pvalor da situação de segurança alimentar e nutricional segundo informações dos adolescentes e informações do chefe da família, de municípios da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007 95 Tabela 13 - Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e pvalor da situação de segurança alimentar e nutricional segundo variáveis sócio-demográficas e variáveis relacionadas aos domicílios de municípios da área de abrangência da BR163, Mato Grosso, 2007 99 Tabela 14 Modelo final da regressão múltipla de Poisson: variáveis associadas à situação de insegurança alimentar em domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato Grosso, 2007 101 Tabela 11 - Tabela 12 - 98 Lista de Quadros e Figuras Quadro 1 - Pontuação para classificação dos domicílios com pelo menos um morador menor de 18 anos de idade 63 Quadro 2 - Pontuação para classificação dos domicílios com somente moradores de 18 anos ou mais de idade 63 Quadro 3 - Descrição da situação de segurança alimentar 63 Quadro 4 - Pontos de corte de IMC por idade, estabelecidos para adolescentes 67 Figura 1 - Modelo esquemático dos níveis de determinação da segurança alimentar e nutricional 29 Figura 2 - O espaço social alimentar 38 Figura 3 - Área de abrangência da BR 163 54 Figura 4 - Localização geográfica do município de Alta Floresta - MT 55 Figura 5 - Localização geográfica do município de Diamantino - MT 56 Figura 6 - Localização geográfica do município de Sinop - MT 57 Figura 7 - Localização geográfica do município de Sorriso - MT 58 Figura 8 - Modelo de análise da situação de insegurança alimentar e nutricional em domicílios com adolescentes Representação da situação de segurança alimentar e nutricional dos domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007 Freqüência de respostas positivas para as 15 perguntas da EBIA em domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato Grosso, 2007 Freqüência de respostas positivas às perguntas 1, 3 e 4 da EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007 Freqüência de respostas positivas às perguntas 2, 5, 6, 7 e 8 da EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007 Freqüência de respostas positivas às perguntas 9, 10, 11,12, 13, 14 e 15 da EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007 Frequência da disponibilidade de alimentos em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163, considerando os principais grupos de alimentos, Mato Grosso, 2007 70 Figura 9 - Figura 10 - Figura 11 - Figura 12 - Figura 13 - Figura 14 - 78 80 82 83 84 85 Figura 15 - Frequência do consumo alimentar de adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, considerando os principais grupos de alimentos, Mato Grosso, 2007 Frequência da disponibilidade de alimentos do Grupo 7 (óleos e gorduras) em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007 Frequência do consumo alimentar para o Grupo 7 (óleos e gorduras) de adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007 Estado nutricional dos adolescentes de domicílios pertencentes a municípios da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007 Frequência referida da disponibilidade de alimentos nos domicílios em situação de insegurança e segurança alimentar segundo os grupos de alimentos nos municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007 86 Figura 20 - Frequência referida do consumo alimentar dos adolescentes de domicílios em situação de insegurança e segurança alimentar segundo os grupos de alimentos, nos municípios da área de abrangência da BR 163, 2007 94 Figura 21 Frequência da disponibilidade e consumo alimentar, comparando os grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimentar dos domicílios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, 2007 96 Figura 16 - Figura 17 - Figura 18 - Figura 19 - 86 87 87 90 Lista de Siglas e Abreviaturas ABEP Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas ABRANDH Associação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos AS Plano Amazônia Sustentável CCHIP Community Childhood Hunger Identification Project CEP Comitê de Ética e Pesquisa CEPROTEC/MT Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de Mato Grosso CNPq Conselho Nacional Tecnológico de Desenvolvimento Científico CNS Conselho Nacional de Saúde CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional DECIT Departamento de Ciência e Tecnologia FANUT Faculdade de Nutrição FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação FMI Fundo Monetário Internacional HUJM Hospital Universitário Júlio Miller IA Insegurança Alimentar IAG Insegurança Alimentar Grave IAL Insegurança Alimentar Leve IAM Insegurança Alimentar Moderada IAN Insegurança Alimentar e Nutricional IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas IDH Índice de Desenvolvimento Humano IMC Índice de Massa Corporal INAN Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição ISA/SP Inquérito de Saúde no Estado de São Paulo ISC Instituto de Saúde Coletiva LOSAN Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional e MINITAB Statistical and Process Management Software MT Mato Grosso NESAN Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional OMS Organização Mundial de Saúde ONU Organização das Nações Unidas PA Pará PB Paraíba PE Pernambuco PIDESC Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNDR Plano Nacional de Desenvolvimento Regional PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional POF Pesquisa de Orçamento Familiar QFA Questionário de Frequência Alimentar SA Segurança Alimentar SAN Segurança Alimentar e Nutricional SES – MT Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso SES/SP Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo SINOP Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SPSS Statistical Package for the Social Sciencies STATA Stata Statistical Software TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNB Universidade de Brasília UNED União de Ensino de Diamantino UNESP Universidade Estadual Paulista UNICAMP Universidade Estadual de Campinas UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância USDA Departamento de Agricultura dos Estados Unidos USP Universidade de São Paulo WHO World Health Organization INTRODUÇÃO 23 1 INTRODUÇÃO A insegurança alimentar e nutricional é uma questão multidimensional que se configura também como um problema de saúde mundial e está diretamente relacionada com a luta pelo Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA). Atualmente é uma temática central de discussão dos órgãos internacionais (PEREIRA e SANTOS, 2008), onde o primeiro objetivo de Desenvolvimento do Milênio é erradicar a extrema pobreza e a fome no mundo até 2015, resultado do acordo firmado entre os Estados-Membros da Organização das Nações Unidas – ONU, na “Cúpula do Milênio”, em Nova Iorque, no ano 2000. Segundo KINAZ (2010), as causas básicas dos problemas alimentares mundiais são complexas. Pois, envolvem questões políticas, econômicas, sociais e aquelas inerentes ao próprio indivíduo (cultura, hábito alimentar). Por tal motivo, têm mobilizado a comunidade científica, organizações governamentais e não-governamentais no combate à fome e à desnutrição, em geral ambas relacionadas à pobreza. No entanto, a alimentação e a nutrição além de ser um direito humano, constituem-se como requisitos básicos para a promoção e proteção da saúde. Porém, de acordo com o Relatório sobre a situação da População Mundial em 2009, publicado pelo Fundo de População das Nações Unidas, estima-se que aproximadamente 1,02 bilhões de pessoas - 14,3% da população mundial, não tenham alimentos suficientes para a satisfação das suas necessidades nutricionais básicas ou vivem em situação de fome contínua, ou seja, em situação de insegurança alimentar (FAO, 2009). No Brasil, o tema insegurança alimentar tem ocupado de forma crescente a agenda pública, no curso de um efervescente processo de construção, com impactos diretos na estrutura político-institucional de distintos setores governamentais e societários (BURLANDY, 2008; MDS, 2009). Desta forma, um importante passo neste processo foi o reconhecimento da alimentação como um direito humano na Constituição Brasileira no seu Art. 6º (BRASIL, 1988), em fevereiro de 2010. Outro importante avanço, no que diz respeito à política e monitoramento da situação de segurança alimentar da população 24 brasileira, foi a aprovação do Decreto nº 7.272, em agosto de 2010, que regulamenta a Lei nº 11.346 de 2006, que institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – PNSAN e estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASILb, 2010). O principal problema de insegurança alimentar no Brasil é o de insuficiência de acesso aos alimentos, causado basicamente pelas desigualdades na estrutura de renda existentes no país e não a falta de alimentos (PESSANHA, 2004). Na literatura nacional e internacional, diversos estudos têm se empenhado em contribuir com a temática da insegurança alimentar, apontando os indicadores mais utilizados para a sua avaliação, como: o Método da FAO, as Pesquisas de Orçamentos Domésticos, as Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos, as Pesquisas Antropométricas e Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome. Tendo como, fatores associados à situação de insegurança alimentar: as características demográficas e “biológicas” (sexo, idade, raça/cor, peso e altura dos adolescentes), fatores socioeconômicos (número de moradores no domicílio, renda familiar, escolaridade do chefe da família), fatores relacionados a condições de moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, esgotamento sanitário, tratamento de água), a disponibilidade e consumo de alimentos, e também a participação em programas sociais do governo (DELLOHAN e SANJUR, 2000; VEIGA e BURLANDY, 2001; MELGAR-QUIÑONEZ et al., 2005; COATES et al., 2006; HACKETT et al., 2007; HOFFMANN, 2008; PANELLI-MARTINS et al., 2008; PESSANHA et al., 2008; SALLES-COSTA et al., 2008; SEGALL-CORRÊA et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2009; SANTOS et al., 2010). A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios - PNAD 2004 revelou que 34,8% dos domicílios brasileiros viviam em situação de insegurança alimentar, sendo que, em Mato Grosso esta prevalência foi de 33,1%. Neste mesmo estudo, verificouse maior prevalência de insegurança alimentar em domicílios que residiam menores de 18 anos de idade (IBGE, 2006). A PNAD 2009 mostrou uma diminuição da prevalência de insegurança alimentar tanto nos municípios brasileiros (30,2%), quanto em Mato Grosso (22,1%). No entanto, nos domicílios com pelo menos um morador menor de 18 anos de idade 25 registrou-se prevalências acima da verificada em domicílios onde só viviam adultos (IBGE, 2010b). No Estado de Mato Grosso em municípios pertencentes à área de abrangência da BR-163, como Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, verificou-se uma estrutura etária marcadamente jovem, típica de áreas de migração, correspondendo entre 20,5% a 22,5% de adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Sabe-se que a adolescência é um período da vida marcado por profundas mudanças biopsicossociais, pelo início da definição de identidade, do estabelecimento de um sistema de valores pessoais, mostrando-se especialmente vulnerável a determinados agravos enfrentados pela maioria das sociedades atuais, tais como: fome, falta de acesso aos alimentos, sobrepeso e obesidade, dieta desequilibrada, entre outros, tornando-se potencialmente um grupo de risco e um importante objeto de investigação científica. Tendo em vista, que domicílios com adolescentes em pesquisas nacionais apresentaram maior vulnerabilidade à situação de insegurança alimentar e diante da escassez de literatura publicada que abordasse esse tema na população de Mato Grosso, particularmente nesta faixa etária. Este estudo pretende analisar a insegurança alimentar em domicílios com adolescentes e identificar fatores associados a esta situação, em municípios da área de abrangência da rodovia BR-163. Partindo do pressuposto que a situação de insegurança alimentar e nutricional nos domicílios com adolescentes, dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso é gerada pela falta de renda - importante fator para aquisição de alimentos, precárias condições de moradia, bens, serviços educacionais e de saúde também considerados indicadores sociais que possivelmente influenciam no consumo e estado nutricional dos adolescentes destes domicílios. Portanto, torna-se desafiador investigar a situação de insegurança alimentar na dimensão domiciliar e a sua relação com a dimensão individual do adolescente, considerando que foram encontrados estudos que investigaram a situação de IAN em adolescentes na Etiópia (HADLEY et al. 2008), em Trinidad e Tobago (GULLIFORD et al., 2005) e no Brasil em Pernambuco (OLIVEIRA et al., 2009). 26 Nesta perspectiva, este estudo reveste-se de importância científica e social para saúde pública, não somente pela possibilidade de identificar fatores associados à insegurança alimentar em alguns municípios de Mato Grosso e principalmente, uma provável faixa etária em risco alimentar e nutricional. Mas também, porque pode contribuir com políticas públicas, principalmente àquelas relacionadas aos programas de alimentação e nutrição. 27 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 28 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA (DHAA) E SEGURANÇA ALIMENTAR (SA) A segurança alimentar e nutricional (SAN) inscreve-se no campo do direito humano à alimentação, em que toda pessoa deve estar segura em relação ao acesso, disponibilidade e consumo de alimentos e à alimentação nos aspectos da suficiência (proteção contra a fome e a desnutrição), qualidade (prevenção de males associados com a alimentação) e adequação - apropriação às circunstâncias sociais, ambientais e culturais (VALENTE, 2002; MALUF, 2009). Seja no plano individual ou em escala coletiva, esses atributos estão consignados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948; ALVES e JUNIOR, 2005; CONSEA, 2007), os quais foram reafirmados no Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais PIDESC (1966) e incorporados à legislação nacional brasileira em 1992 (VALENTE, 2002). O tema segurança alimentar e nutricional enfoca a produção e a distribuição dos alimentos, a análise do estado nutricional que, por sua vez, considera a alimentação e a saúde das pessoas, incluindo, ainda, o acesso a outras condições que contribuem para uma vida saudável (acesso aos serviços de saúde, moradia, abastecimento de água, condições sanitárias e educação). Pressupõe a disponibilidade de alimentos, sua acessibilidade pelos mecanismos de distribuição e condições de renda das pessoas, além do aproveitamento biológico determinado pela situação de saúde ou doença dos indivíduos. Portanto, a SAN no nível domiciliar ou individual é influenciada por fatores locais, regionais, nacionais e internacionais, conforme representado na Figura 1 (SAWAYA, 2003; PESSANHA, 2004). O termo segurança alimentar originou-se na Europa, a partir da 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e seu conceito tinha estreita ligação com o de soberania e a 29 capacidade de cada país produzir sua própria alimentação, devido a razões políticas ou militares (ABRANDH, 2010). Esse conceito ganhou força com o advento da 2ª Guerra Mundial (19391945), especialmente quando a Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada. No mesmo período, criou-se a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) que entendia o acesso ao alimento de qualidade como um direito humano. Figura 1. Modelo esquemático dos níveis de determinação da segurança alimentar e nutricional (Fonte: UNICEF – Frankenberg et al., 1997). Com a Conferência de Bretton Woods, em 1944, surgiram o Fundo Monetário Internacional – FMI e o Banco Mundial, que defendiam que a segurança alimentar deveria ser garantida por mecanismos de mercado. Assim, a tensão existente tornouse um reflexo da disputa política entre os principais blocos inseridos na guerra em busca de hegemonia (ABRANDH, 2010). 30 Após a 2ª Guerra Mundial a segurança alimentar foi tratada como uma questão de insuficiente disponibilidade de alimentos e abastecimento. Foram, então, instituídas iniciativas de promoção à assistência alimentar, feitas a partir dos excedentes de produção dos países ricos (ABRANDH, 2010). Nos países pobres, a insegurança alimentar era entendida como decorrência de produção insuficiente. Visando aumentar a produção de alguns alimentos, associada ao uso de novas variedades genéticas e fortemente dependentes de insumos químicos, ocorreu na década de 60 e 70, a Revolução Verde, que tinha como modelo agrícola, a monocultura, que posteriormente trouxe graves conseqüências ambientais, econômicas e sociais, tais como: redução da biodiversidade, menor resistência a pragas, êxodo rural e contaminação do solo e dos alimentos por agrotóxicos (MOREIRA, 2000). No início da década de 70, a crise mundial de produção de alimentos levou a realização da Conferência Mundial de Alimentação com a discussão de que a garantia da segurança alimentar teria que passar por uma política de armazenamento estratégico e de oferta de alimentos, associada à proposta de aumento da produção. Pois, não era suficiente só produzir alimentos, mas também garantir a regularidade do abastecimento. Neste momento, o foco estava predominantemente no produto, e não no ser humano, ficando em segundo plano a dimensão do direito humano à alimentação (VALENTE, 2002). Foram com essas características que a Revolução Verde intensificou-se, inclusive no Brasil, com um enorme impulso na produção de soja. Houve um aumento da produção, no entanto, isso não implicou no aumento do acesso aos alimentos (ABRANDH, 2010). No final da década de 80 e início de 90, incorporou-se a noção de alimentos seguros (não contaminados biológica ou quimicamente), de qualidade (nutricional, biológica, sanitária e tecnológica), produzidos de forma sustentável e culturalmente aceitável, bem como, o acesso à informação. Ao mesmo tempo, entram em cena as questões de equidade, justiça e relações éticas entre a geração atual e as futuras (VALENTE, 2002). A partir deste período, o direito à alimentação foi se inserindo no contexto do direito à vida, à dignidade, à autodeterminação e à satisfação de outras necessidades 31 básicas. Essa visão foi consolidada nos compromissos assumidos pelos governos na Conferência Internacional de Nutrição, realizada em Roma (1992) pela FAO e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Portanto, agrega-se definitivamente o aspecto nutricional e sanitário ao conceito, passando a ser denominado Segurança Alimentar e Nutricional (VALENTE, 1997). Assim, adotou-se o conceito de segurança alimentar domiciliar, que além do componente de segurança alimentar, entendido como oferta e acesso à alimentação de qualidade, incorpora-se a assistência básica à saúde (abastecimento de água, saneamento, saúde pública) e o cuidado promovido no lar aos membros da família carinho, atenção, preparo do alimento, aleitamento materno, estimulação psicossocial, informação e apoio educacional (MS, 2003). Com isso, consolida-se um forte movimento para reafirmação do Direito Humano à Alimentação Adequada. Um passo importante foi a realização da Conferência Internacional de Direitos Humanos em Viena (1993) e a Cúpula Mundial da Alimentação em Roma (MRE, 1996), organizada pela FAO, que associou definitivamente o papel fundamental do Direito Humano à Alimentação Adequada à garantia da Segurança Alimentar e Nutricional. Verifica-se que o conceito de SAN evolui na medida em que avança a história da humanidade e alteram-se a organização social e as relações de poder em uma sociedade. Constituindo um campo em construção, seja no plano teórico-conceitual, como no âmbito da formulação e implementação de políticas públicas, apresentando diferentes possibilidades em termos de mensuração e análise (BURLANDY e COSTA, 2007). A diversidade de compreensões e os conflitos nesse campo envolvem governos, organismos internacionais, representantes de setores produtivos, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, entre outros (MALUF, 2009). No Brasil, os problemas alimentares da população remontam ao período colonial, em decorrência do processo histórico, que priorizou o atendimento às demandas do mercado externo, caracterizadas pelos ciclos de monocultura de exportação. As poucas culturas de subsistência eram cultivadas, basicamente, para prover as necessidades das propriedades rurais, gerando a necessidade da importação 32 de insumos de primeira necessidade, principalmente nas áreas urbanas (BELIK et al., 2001; VASCONCELOS, 2005). Na década de 30, surgiu uma figura relevante, o médico Josué de Castro que trouxe importantes contribuições para as discussões sobre o direito à alimentação e às ações de políticas públicas no combate à fome, bem como, à construção brasileira do conceito de segurança alimentar (CASTRO, 2001; NASCIMENTO, 2004; MALUF, 2009). Contudo, as primeiras referências ao conceito de segurança alimentar no Brasil, em nível documental, surgem no Ministério da Agricultura, no final de 1985, quando foi elaborada uma proposta de Política Nacional de Segurança Alimentar, intitulada: “Segurança alimentar – proposta de uma política contra a fome”, com o objetivo de atender às necessidades alimentares da população e atingir a autosuficiência nacional na produção de alimentos, incluindo a criação de um Conselho Nacional de Segurança Alimentar dirigido pelo Presidente da República e composto por ministros de Estado e representantes da sociedade civil (VALENTE, 2002). Cabe ressaltar, que em meados da década de 80, o Brasil vivia o processo de reconstrução do Estado democrático, após vinte anos de governo militar (1964-1984) e havia intensa movimentação na área da saúde pública (LEÃO e CASTRO, 2007). O que levou a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde e da I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, sob a coordenação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), vinculado ao Ministério da Saúde, espaço que a alimentação foi reconhecida como direito de todos e responsabilidade do Estado em assegurar a disponibilidade interna de alimentos, bem como, as condições de acesso ao consumo, através de uma política de salários justos e promoção de pleno emprego (MS, 2003). Desta forma, é peculiar à formulação brasileira o acréscimo do adjetivo “nutricional” a expressão consagrada internacionalmente como “segurança alimentar”, gerando o termo: segurança alimentar e nutricional. Assim, o propósito foi interligar os dois principais enfoques da evolução deste conceito no Brasil: o socioeconômico e o de saúde – nutrição (MALUF, 2009). 33 Com a I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, iniciou-se a formulação do conceito, segurança alimentar, que posteriormente consolidou-se na I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, em 1994: “A garantia de todos, a condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades básicas, com base em práticas alimentares que possibilitem a saudável reprodução do organismo humano, contribuindo, assim, para uma existência digna” (CONSEA, 2007, p. 7) A definição apresentada acima articula três dimensões: a alimentar, a nutricional e a social. Sendo que a primeira se refere aos processos de disponibilidade (oferta de alimento, em quantidade suficiente), a segunda diz respeito diretamente à escolha, ao preparo e consumo alimentar, bem como, a sua relação com a saúde e a utilização biológica do alimento. A terceira está associada às outras duas dimensões e engloba a educação, conhecimentos básicos de higiene, boas condições de moradia, incluindo saneamento básico e o acesso aos serviços de saúde. Na situação de pobreza, o indivíduo experimenta objetiva e subjetivamente carências sociais, econômicas, políticas e culturais, passando por um processo de exclusão e ruptura de laços sociais, no qual as noções de cidadania, igualdade e direitos sociais ficam fragilizadas (SAWAYA et al., 2003). Na II Conferência Nacional de Segurança Alimentar foram aprovados princípios gerais que deveriam ser associados a SAN e, portanto, contemplados nas ações e políticas públicas como: a promoção do direito humano à alimentação saudável, a soberania alimentar, o acesso universal e permanente a alimentos de qualidade por meio da geração de trabalho e renda, contemplando ações educativas, o respeito e valorização das culturas alimentares, a promoção da agricultura familiar sustentável e o reconhecimento da água como alimento essencial e patrimônio público (CONSEA, 2004). O artigo 3° da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional - LOSAN, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com 34 vistas a assegurar o direito à alimentação adequada, define Segurança Alimentar e Nutricional como: “realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base, práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, econômica e socialmente sustentáveis” (BRASIL, 2006a, p. 4). Esta definição foi primeiramente elaborada no Fórum Brasileiro de SAN, em 2003, posteriormente aprovada na II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional realizada em Olinda (2004) e reafirmada na III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (2007). Nela estão envolvidos três aspectos: disponibilidade, estabilidade e acesso (CONSEA, 2007). Disponibilidade significa que, a oferta de alimentos deve ser suficiente para atender às necessidades de consumo de toda a população. Estabilidade diante da probabilidade mínima do consumo de alimentos estar abaixo do nível adequado de abastecimento, como resultado de variações da oferta. O acesso está relacionado à capacidade de produzir ou comprar os alimentos necessários considerando que, mesmo em presença de abundância e estabilidade da oferta, muitos podem passar fome por insuficiência de recursos (CARVALHO e SILVA, 2005). Neste cenário, os grupos mais vulneráveis à falta de alimentos são os que não dispõem de renda para adquiri-los ou que não têm acesso aos bens de produção necessários. Esse grupo populacional é também privado de alimentos de boa qualidade, dos equipamentos necessários para conservá-los e prepará-los, tendo ainda menor acesso à informação sobre uma alimentação saudável (CONSEA, 2007). A fome e a desnutrição são de ampla recorrência histórica, que constituem problemas crônicos de insegurança alimentar e nutricional fortemente associados à pobreza e à desigualdade distributiva estrutural da nossa sociedade (HOFFMANN, 1995; PESSANHA, 2004). 35 Sabe-se, ainda, que a IAN possivelmente seja uma condição que nem sempre leva somente à desnutrição e ao baixo peso, mas pode ter como conseqüência o sobrepeso e a obesidade (RADIMER et al., 1992), sendo resultados de uma dieta desequilibrada, com possível qualidade comprometida e que em geral, apresenta um padrão de alimentação monótono e densamente energético. Situações de insegurança alimentar e nutricional podem ser detectadas a partir de diferentes tipos de problemas como a fome, doenças e agravos associadas à má alimentação (obesidade, desnutrição, anemia, hipovitaminoses), consumo de alimentos de má qualidade higiênico-sanitária, inadequada qualidade nutricional dos alimentos, bens essenciais com preços abusivos e imposição de padrões alimentares que desrespeitam a diversidade cultural (ALVES e JUNIOR, 2005; CONSEA, 2007). Quanto a sua mensuração, a IAN pode ser avaliada por meio dos seguintes indicadores: indicador de segurança alimentar e graus de insegurança alimentar e nutricional no domicílio (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA); indicador de disponibilidade de alimentos; indicador de renda e condições de moradia; indicadores antropométricos; indicadores do consumo alimentar; indicadores do acesso a alimentos e tendências de consumo (MAXWELL, 1996; FAO, 2002; PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005; CONSEA, 2007). Na literatura existem diversos trabalhos que utilizam estes indicadores para mensurar a IAN, incluindo pesquisas que tem como população de estudo famílias com: crianças, adolescentes e adultos (BURLANDY e COSTA, 2007; SALLESCOSTA et al., 2008, SANTOS, 2008; OLIVEIRA et al., 2009), idosos (MARÍNLEÓN, 2005) e também realizadas com populações rurais (YUYAMA et al, 2007) e indígenas (CORRÊA, 2005; OLIVEIRA e SILVA, 2008). Os principais resultados de alguns destes estudos e de pesquisas realizadas em âmbito nacional, como por exemplo, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) são apresentados a seguir. A POF 2002-2003 mostrou que os gastos com alimentação ocupavam o segundo lugar na participação da despesa total familiar. O que representava na média nacional, 21% dos gastos com despesas de consumo e 17% dos gastos totais das famílias, sendo superados apenas pelas despesas com habitação que alcançavam 35% dos gastos (IBGE, 2004). Na POF 2008-2009 foram observados resultados 36 semelhantes: 35,9% gastos familiares eram com habitação e 19,8% com alimentação (IBGE, 2010a). A PNAD 2004 foi a primeira pesquisa nacional a utilizar a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA e observou-se maior prevalência de insegurança alimentar nos domicílios em que residiam indivíduos menores de 18 anos de idade (IBGE, 2006). A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança, também utilizou a EBIA e verificou que a prevalência de insegurança alimentar em residências urbanas da região Centro-Oeste foi de 33,5%. Com destaque para os domicílios em que a pessoa de referência apresentava baixa escolaridade, onde foi encontrada maior prevalência de insegurança alimentar grave (IBGE, 2008a). A maioria dos estudos encontrados é de base populacional e aborda a situação de segurança alimentar, juntamente com os graus de insegurança alimentar e nutricional. Os domicílios estudados geralmente são compostos por adolescentes, como o realizado por SALLES-COSTA et al. (2008) em um distrito do município de Duque de Caxias – RJ. Neste estudo foi aplicada a EBIA e verificou-se que 53,8% dos domicílios viviam em insegurança alimentar (31,4% em insegurança alimentar leve - IAL, 16,1% em insegurança alimentar moderada - IAM e 6,3% em insegurança alimentar grave - IAG), 26,8% das famílias tinham renda per capita acima de um salário mínimo e 83,4% foram classificadas nas classes C e D de acordo com a classificação de nível socioeconômicos da Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas - ABEP. Em 2009, um estudo avaliou a situação da insegurança alimentar e sua relação com o estado nutricional de adolescentes e adultos, em duas localidades do Nordeste brasileiro. Através desta pesquisa, verificou-se a prevalência de quase 90,0% de insegurança alimentar das famílias dos dois municípios, predominando a situação de insegurança alimentar moderada (40,2%) em São João do Tigre (PB) e grave (36,9%) em Gameleira (PE). Nas duas localidades, a IA prevaleceu nas famílias com adolescentes, porém, não houve associação estatística significativa entre a IA e o estado nutricional da população estudada (OLIVEIRA et al., 2009). Em 2010, por meio de um estudo realizado em Pelotas – RS com crianças, adolescentes e adultos, observou-se a prevalência de 11% de insegurança alimentar, 37 apresentando associação da IA entre a renda, a escolaridade, bem como, o número de moradores por domicílio. Quanto à relação do estado nutricional e a situação de IA, verificou-se a prevalência de excesso de peso em 18% dos adolescentes que viviam em insegurança alimentar (SANTOS et al., 2010). Em Mato Grosso, no ano de 2005, foi realizada uma pesquisa sobre a situação de alimentação e nutrição de índios bororos e verificou-se que a maior parte da população era composta por crianças e adolescentes (22,2%). Observou-se que a renda familiar per capita era insuficiente (R$ 28,19) para manutenção de uma alimentação adequada. No entanto, cabe ressaltar que havia criação de animais para uso na alimentação (galinha e gado), caso faltasse carne de caça ou pescado e também culturas de frutas. Quanto à freqüência de consumo alimentar, a população estudada referiu ter maior consumo dos seguintes grupos de alimentos: pães, cereais, raízes e tubérculos; frutas; leguminosas; carnes e ovos; açúcares e doces e baixo consumo de leite, produtos lácteos e hortaliças. Das oito famílias entrevistadas, cinco apresentaram situação de insegurança alimentar - três em IAL, uma em IAM e uma em IAG (CORRÊA, 2005). 2.2 ALIMENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR A alimentação é imprescindível para a vida e a sobrevivência humana, como necessidade básica ela é modelada pela cultura e sofre efeitos da organização da sociedade (CANESQUI e GARCIA, 2005). A nutrição é um processo característico dos seres vivos e necessário para assegurar a reprodução, o crescimento e desenvolvimento, a manutenção da vida e o pleno exercício das funções vitais do organismo. No caso do homem e dos demais organismos animais, o processo da nutrição consiste na ingestão e digestão dos alimentos e na absorção, metabolismo e utilização dos nutrientes contidos nos alimentos (MS, 2004). No entanto, não comemos apenas quantidades de nutrientes e calorias para manter o funcionamento corporal em nível adequado. O ato de comer envolve 38 seleção, escolhas, ocasiões e rituais, imbrica-se com a sociabilidade, com idéias e significados, com as interpretações de experiências e situações (POULAIN e PROENÇA, 2003; CANESQUI e GARCIA, 2005). O comportamento relativo à comida liga-se diretamente tanto ao sentido individual quanto ao coletivo. Nossos corpos podem ser considerados o produto do que e como comemos (MINTZ, 2001). POULAIN E PROENÇA (2003), considerando George Condominas (1980), apresentam o conceito de espaço social alimentar para designar o espaço de liberdade e a zona de interação entre o biológico e o cultural que envolve o ato de se alimentar (Figura 2). Figura 2. O espaço social alimentar (POULAIN e PROENÇA, 2003). Conforme apresentado na Figura 2, verifica-se que na alimentação humana existem diversas condicionantes, destacando-se: as condicionantes biológicas, relativas aos mecanismos bioquímicos subjacentes à nutrição e às capacidades do sistema digestivo e as condicionantes ecológicas que diz respeito ao meio no qual o indivíduo está instalado, sendo que, este pode sofrer influência de condicionantes 39 econômicas que tendem a se reduzir conforme se controla tecnologicamente a natureza (POULAIN PROENÇA, 2003). A interação destas duas principais condicionantes gera as dimensões sociais da alimentação: A ordem do comestível ou espaço do comestível: é a escolha operada pelo grupo humano no interior do conjunto de produtos vegetais e animais, colocado à sua disposição pelo meio natural, ou que poderá ser implantada pela decisão do grupo. O sistema alimentar: corresponde ao conjunto de estruturas tecnológicas e sociais empregadas desde a coleta até a preparação culinária, passando por todas as etapas de produção e de transformação. Ela constitui o sistema de ação que permite a um alimento chegar ao consumidor. O espaço culinário: é ao mesmo tempo, um espaço no sentido geográfico do termo, de distribuição no interior dos lugares, um espaço no senso social, o qual representa a repartição sexual e social das atividades de cozinha, mas também um espaço no sentido lógico do termo, englobando relações formais e estruturadas. O espaço dos hábitos de consumo: envolve a definição de uma refeição, sua organização estrutural, a forma da jornada alimentar (número de refeições, formas, horários, contextos sociais), as modalidades de consumo (comer com garfo e faca, com a mão, com o pão), a localização dos comensais e outros aspectos variam de uma cultura à outra e no interior de uma mesma cultura, de acordo com os grupos sociais. O espaço de diferenciação social: assinala a conexão bioantropológica de um grupo humano ao seu meio. No interior de uma mesma sociedade, a alimentação desenha os contornos dos grupos sociais. Um alimento pode ser atribuído a um grupo social e rejeitado por outro. A temporalidade alimentar: a alimentação se inscreve dentro de uma série de ciclos temporais socialmente determinados, como o ciclo de vida dos homens, com uma alimentação de lactente, de criança, de adolescente, de adulto e de idoso. Assim, além de comermos por necessidade vital e conforme o meio e a sociedade em que vivemos, a forma como ela se organiza e se estrutura, produz e distribui os alimentos; comemos também de acordo com a distribuição da riqueza na 40 sociedade, os grupos e classes de pertencimento, marcados por diferenças, hierarquias, estilos e modos de comer (CANESQUI e GARCIA, 2005). 2.3 INDICADORES PARA AVALIAR A SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRCIONAL De acordo com a literatura, os métodos mais utilizados para a avaliar a insegurança alimentar, são: (1) Método da FAO – mensura a disponibilidade alimentar, (2) Pesquisas de Orçamentos Domésticos e (3) Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos – investiga o acesso aos alimentos, (4) Pesquisas Antropométricas – mensura a utilização dos alimentos e (5) Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome – investiga a estabilidade de acesso ou vulnerabilidade (PÉREZ – ESCAMILLA, 2005). Nesta pesquisa serão utilizados três métodos: Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome (5); Pesquisas Antropométricas (4); Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos (3). PESSANHA et al. (2008) destaca que nenhum desses métodos individualmente, é capaz de captar todas as dimensões da insegurança alimentar e recomenda a adoção de um conjunto de indicadores para o monitoramento da situação de IAN, pois, quanto maior o número de aspectos analisados, mais completa e abrangente tenderá a ser a visão obtida da situação de insegurança alimentar. 2.3.1 Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome Em diversas localidades do mundo, estudos têm se empenhado em realizar pesquisas de insegurança alimentar e fome (KAISER et al., 2004; PÉREZESCAMILLA et al., 2004; ÁLVAREZ et al., 2006; COATES et al., 2006; MELGAR-QUINONEZ et al., 2006; HACKETT et al., 2008; GONZÁLEZ et al., 2008; HACKETT et al., 2009), no entanto é importante ressaltar que as escalas 41 aplicadas nesses estudos, além de conter um diverso número de perguntas, diferem entre si por serem adaptadas às realidade locais. A maioria delas é baseada no estudo que surgiu na década de 80, após a comprovação em muitos países, de que o rendimento domiciliar ou outros indicadores indiretos eram insuficientes para identificar populações sob risco de IA. Assim, desenvolveu-se uma escala de medida direta de Insegurança Alimentar e Fome pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA, por pesquisadores da Universidade de Cornell. Na elaboração da escala utilizaram-se métodos qualitativos para abordar e compreender a insegurança alimentar e a fome. Este estudo qualitativo, permitiu a proposição de uma escala de medida quantitativa, composta por dez perguntas, que cobriam tanto a percepção da preocupação com a insuficiência futura de alimentos quanto os problemas relativos à quantidade de calorias disponíveis, bem como, a qualidade da dieta (IBGE, 2006; BURLANDY e COSTA, 2007). Nos anos de 1990, a partir dessa escala de Cornell e outras, como a do Community Childhood Hunger Identification Project – CCHIP, pesquisadores reunidos pelo USDA desenvolveram uma escala válida para aplicação em âmbito nacional nos EUA. Isto resultou em uma escala de quinze itens e três subitens que passou a ser aplicada, a partir de 1995 (IBGE, 2006). O processo de adaptação do método no Brasil resultou na elaboração e validação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pelo Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (Unb) , além de outras instituições (Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Mato Grosso e Instituto de Pesquisas da Amazônia) com apoio técnico e financeiro dos Ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e da Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS (BURLANDY e COSTA, 2007). A EBIA consiste em um questionário contendo quinze perguntas que medem níveis diferentes de IA e utilizando o somatório do número de respostas afirmativas às questões, resulta em um escore que categoriza as famílias (PÉREZ-ESCAMILLA, 2004). 42 A principal vantagem deste método provém do fato de possibilitar o diagnóstico rápido, medir diretamente o fenômeno de interesse, permitindo captar não só as dimensões físicas, mas também as dimensões psicológicas da IA e ainda, classificar os domicílios de acordo com sua vulnerabilidade ou nível de exposição (PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005). Pois, a insegurança alimentar é percebida em seus vários níveis, desde a preocupação de que o alimento venha a acabar antes que haja dinheiro para comprar mais, o que configura insegurança psicológica, passando, em seguida, pela insegurança relativa ao comprometimento da qualidade da dieta, porém ainda sem restrição quantitativa, até chegar ao ponto mais severo, que é a insegurança quantitativa, situação em que a família passa por períodos concretos de restrição na disponibilidade de alimentos para seus membros (PANIGASSI, 2005). Quanto às desvantagens desse método, cabe destacar que, por ser uma medida “subjetiva” da situação de IA, torna-se suscetível a vieses de “prestígio’ ou “benefício” se os entrevistados imaginam que, dependendo das respostas que derem, eles próprios, seus domicílios e /ou suas comunidades poderão receber ajuda em alimentos ou benefícios sociais (PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005). 2.3.2 Pesquisas Antropométricas Os indicadores antropométricos mais comumente empregados nas pesquisas nacionais apóiam-se nas medidas de peso e estatura. Desta forma, a subnutrição é diagnosticada quando as medidas antropométricas dos indivíduos estão abaixo dos padrões internacionais de referência. Isso pode ser conseqüência tanto de uma ingestão alimentar insuficiente, como de uma absorção deficiente dos alimentos – causada por fatores ambientais como infecções, o que requer informações complementares de saúde e saneamento para confronto (PESSANHA et al., 2008). Esse método permite o acompanhamento do estado nutricional desde o nível nacional até o nível individual, a um custo relativamente baixo quando comparado ao das avaliações dietéticas. O fato de a antropometria ser uma medida de resultado, a 43 torna muito apropriada para o controle e a avaliação de intervenções (PÉREZSCAMILLA e CABALLERO, 2005). Como desvantagens, esse método tem o fato de que os dados antropométricos não refletem, exclusivamente, a adequação do consumo alimentar ou a suficiência da ingestão energética uma vez que outros fatores ambientais influem no estado nutricional. Assim, ainda que os indicadores antropométricos sejam excelentes sinalizadores do risco nutricional e do estado de saúde, eles não são, necessariamente, indicadores diretos de IA (FAO, 2002). 2.3.3 Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos As Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos conseguem medir de forma muito próxima o fenômeno da IA, uma vez que pergunta diretamente aos indivíduos sobre seu consumo de alimentos e/ou de outros membros da família (PÉREZSCAMILLA e CABALLERO, 2005; PÉREZ - ESCAMILLA e SEGALL CORRÊA, 2008). Todos os métodos que medem o consumo de alimentos no nível individual precisam utilizar um tempo de referência (dia anterior, semana anterior, mês anterior etc.). O consumo de alimentos pode ser medido por meio de questionários (ex.: Questionário de Freqüência Alimentar) ou de formulários de registro onde os indivíduos anotam o que consomem a cada dia - ex.: Histórico alimentar e Recordatório 24h (PÉREZ-SCAMILLA e CABALLERO, 2005). Uma vantagem deste método é que ele se fundamenta na avaliação direta da ingestão de alimentos, apresenta menor subnotificação, pois a lista previamente elaborada de itens auxilia o entrevistado a se lembrar de alimentos que, espontaneamente, poderia se esquecer. Outra vantagem, é que o mesmo possibilita detectar problemas na alimentação de âmbito individual e dessa forma ajudar a identificar não apenas domicílios, mas indivíduos pertencentes a estes, que possam estar em risco de insegurança alimentar e nutricional (PESSANHA et al., 2008). 44 Uma limitação deste método é requerer que os indivíduos recordem e informem, com precisão, todos os alimentos ingeridos durante o período de referência, por isso, os procedimentos devem ser muito bem padronizados e os entrevistadores devidamente capacitados (FAO, 2002), e este método também limita a abordagem do consumo quantitativo de energia e nutrientes (DOMENE, 2011). 2.4 ADOLESCÊNCIA Os riscos nutricionais de diferentes categorias e magnitudes permeiam todo o ciclo da vida humana, desde a concepção até a senectude, assumindo diversas configurações epidemiológicas em função do processo saúde/doença de cada população (MS, 2003). A adolescência é a fase da vida que compreende a faixa etária entre 10 e 19 anos. Trata-se de um período de transição da infância para a vida adulta, caracterizado por transformações físicas (rápido e intenso crescimento físico), psíquicas e sociais, que podem se manifestar de diversas formas e em períodos diferentes para cada indivíduo (WHO, 1995). Na fase inicial (10 a 14 anos) chamada de puberdade, ocorre o estirão de crescimento, o aumento rápido das secreções de diversos hormônios e o aparecimento dos caracteres sexuais secundários (maturação sexual). A fase final (15 a 19 anos) caracteriza-se pela desaceleração destes processos (WHO, 1995). Essas transformações têm efeito sobre o comportamento alimentar do adolescente, pois há uma maior demanda de energia e nutrientes nessa fase da vida, resultando na necessidade de uma dieta balanceada (FARIA et al., 2006). Além dos fatores biológicos, várias situações do âmbito domiciliar e individuais, podem influenciar o estado nutricional nesse período da vida e se entrelaçar, formando uma rede complexa de riscos tais como fatores socioeconômicos e pobreza, ingestão inadequada de produtos alimentares apresentados através da mídia, conflitos psicossociais, falta de horários e tempo para o preparo e a escolha adequada dos alimentos, desagregações sociais ou mesmo o abandono e a omissão dos pais e familiares “ocupados” com outros afazeres e a 45 própria sobrevivência no dia-a-dia (DIETZ, 1998; EISENSTEIN et al., 2000; GIULIANO e CARNEIRO, 2004; TORAL et al., 2006; VEIGA e SICHIERI, 2007). 2.4.1 Estado Nutricional O estado nutricional dos indivíduos é caracterizado por grande dinamismo e decorre essencialmente do equilíbrio entre três fatores: composição da alimentação (tipo e quantidade dos alimentos ingeridos), necessidades do organismo em energia e nutrientes e eficiência do aproveitamento biológico dos alimentos (VEIGA e SICHIERI, 2007). Combinações ótimas destes três fatores, considerando razoáveis margens de variação para cada fator, propiciam ao indivíduo um estado nutricional compatível com o pleno exercício de todas as suas funções vitais. Enquanto, o desequilíbrio produz à má-nutrição, que pode ser oriunda de variações extremas em um único fator ou alterações simultâneas e aditivas nos três fatores que determinam o estado nutricional (VEIGA e SICHIERI, 2007). A alimentação inadequada pode ser iniciada em qualquer fase da vida e ser desencadeada por fatores como o desmame precoce, a inadequada introdução de alimentos, distúrbios no comportamento alimentar e na relação familiar (MONTEIRO et al., 2000; GIUGLIANO e CARNEIRO, 2004), repercutindo no estado nutricional. Uma das maneiras de diagnosticar a situação alimentar e nutricional de um indivíduo é a avaliação do estado nutricional por meio da antropometria. A antropometria tem por objetivo verificar o crescimento e as proporções corporais em um indivíduo ou em uma comunidade através da mensuração das dimensões físicas e da composição global do corpo humano (SIGULEM et al., 2000). Foi a partir das publicações de Jellife, editadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na década de 60, baseadas em estudos que haviam se iniciado nos anos 50, que a antropometria foi sistematizada como método de avaliação do estado nutricional. A partir desses estudos a antropometria desenvolveu-se rapidamente nos 46 países industrializados, o que nos países em desenvolvimento só ocorreu a partir da metade da década de 70 (SIGULEM et al., 2000). A antropometria tem se revelado como o método isolado mais utilizado para o diagnóstico nutricional, sobretudo na infância e na adolescência, pela facilidade de execução, baixo custo e inocuidade. Ainda que haja limitações, tem sido um método utilizado universalmente proposto pela Organização Mundial de Saúde (1995). A falta de curvas de referência de valores de P/E (peso/estatura) e a reconhecida importância de avaliar a relação destas medidas na adolescência motivaram estudos sobre a aplicabilidade dos diferentes índices de peso e estatura nesta faixa etária (VEIGA e SICHIERI, 2007). Sabe-se que cerca de 50% do peso e 20 a 25% da estatura de um indivíduo são adquiridos na adolescência e o papel da nutrição em nível populacional serve como determinante altamente significativo da variabilidade desse processo (JOHNSTON, 1981). Um dos índices mais populares para avaliação nutricional é o Índice de Massa Corporal (IMC) que consiste na relação do peso em quilograma, dividido pelo quadrado da estatura em metro (ANJOS, 1992). Para a classificação do estado nutricional de adolescentes, segundo SICHIERI e ALLAM (1996), deve-se considerar o sexo, a idade, o peso, a altura e o estágio de maturação sexual. Neste estudo serão analisados o sexo, a idade, o peso e a altura dos adolescentes para o diagnóstico do estado nutricional, surgindo como uma limitação da pesquisa o fato de não ter as informações sobre a maturação sexual dos adolescentes, que segundo a OMS essa informação baseada na idade cronológica deve ser coletada sempre que possível e considerada para interpretar o significado de indicadores antropométricos do estado nutricional e de saúde (WHO, 1995). No processo de crescimento nesta fase da vida, muitos fatores estão associados, como por exemplo, os fatores genéticos que são responsáveis pela variação individual dos fenômenos pubertários, necessários para que o adolescente possa alcançar a expressão máxima de seu potencial genético. Assim, é importante que os fatores ambientais sejam favoráveis, e a nutrição destaca-se nesse processo (SIGULEM et al., 2000). 47 Além disso, observa-se que os problemas nutricionais se modificam entre as regiões geográficas, entre as áreas de ocupação, entre as famílias de uma mesma localidade e entre os membros de uma mesma família. Essas alterações podem ser explicadas pelo grau de desenvolvimento socioeconômico e pelo nível sociocultural da população (MONTEIRO et al., 2000). 2.5 CENÁRIO DOS MUNICÍPIOS ESTUDADOS - ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA RODOVIA BR-163 O estado de Mato Grosso é cortado transversalmente pela rodovia BR-163, perfazendo um total de 280.550km2, o que representa 31,06% da sua área total. Um total de 73 municípios compõe a área de abrangência desta rodovia, dos quais 39 municípios fazem parte de Mato Grosso (BRASIL, 2006b). Sua construção levou ao aumento no crescimento, principalmente econômico, dos municípios ao seu entorno, sendo um atrativo para migração de pessoas das várias regiões do país, totalizando cerca de dois milhões de habitantes. Há uma projeção de crescimento demográfico na área de abrangência da BR-163 variando entre 2,73 a 2,97 milhões de habitantes em 2015 e 3,49 a 4,12 milhões em 2025 (BRASIL, 2006). Desde a década de 40, no governo Getúlio Vargas, há uma preocupação nacional com a ocupação do Centro-Oeste e da Amazônia que teve início com o processo de ocupação da fronteira, conhecido como a Marcha para o Oeste (BRASIL, 2006b). A rodovia BR-163, trecho que liga Cuiabá a Santarém, foi iniciada somente na década de 70, inserida no contexto do Programa de Integração Nacional (PIN), visando acelerar a conclusão dos circuitos de integração econômica e garantir o controle do território em termos geopolíticos (BRASIL, 2006b). No início da construção, o Estado de Mato Grosso era cortado por esta estrada apenas nos municípios de Nobres, Diamantino e Chapada dos Guimarães, 48 apresentando um vazio demográfico e econômico na maioria de sua extensão territorial, ocupada basicamente pelo extrativismo e pela auto-suficiência das populações locais (FERREIRA, 2001). Desta forma, na área mato-grossense de abrangência da BR-163, à exceção do Município de Diamantino, oriundo do garimpo no século XVIII, o processo de ocupação é recente, vinculado a diferentes políticas governamentais e atendendo aos objetivos de ocupação do território, concedidos à atuação de empresa privada em parceria com o Estado (BRASIL, 2006b). A atividade econômica na área de influência da BR-163 está fortemente assentada no setor primário. Há um predomínio da agricultura (principalmente soja, milho, arroz e algodão), da pecuária bovina e da exploração madeireira. A indústria é menos expressiva, embora crescente, e concentra-se principalmente no processamento da madeira, e em menor escala, de grãos e carne bovina. A pecuária de médio e pequeno porte (suinocultura e avicultura) só recentemente passou a ter alguma expressão na região, principalmente no Norte de Mato Grosso (FERREIRA, 2001; BRASIL, 2006b). O comércio e os serviços estão concentrados em cidades como Sinop, Alta Floresta e Sorriso e são diretamente associadas às atividades primárias predominantes. O destaque maior fica com o comércio e os serviços voltados principalmente para o suporte à atividade agrária, incluindo fornecimento de maquinaria e implementos agrícolas, sementes, inseticidas e outros insumos, serviços de transportes e armazenagem, serviços de crédito, etc (BRASIL, 2006b). O norte de Mato Grosso esteve entre as principais regiões produtoras de ouro do País. Começou a ser explorado em meados da década de 70 e a produção atingiu o ponto máximo no início dos anos 80, principalmente em Alta Floresta. O garimpo se constituiu tanto em importante fonte de emprego e renda para os migrantes, como em foco de violência, degradação ambiental e disseminação de doenças. Nos anos 90, cidades no norte de Mato Grosso, como Sinop e Alta Floresta, cresceram com a expansão do agronegócio no cerrado, destacando a produção de soja, gerando uma nova configuração territorial em processo de consolidação (BRASIL, 2006b). No entanto, o estado precário das rodovias na região tem sido um grave obstáculo para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de sua população. 49 Por essa razão, a pavimentação deste trecho da BR-163 tem sido requerida pelos segmentos sociais e empresariais, visando o escoamento dos seus produtos e o atendimento às suas demandas básicas (BRASIL, 2006b). A partir de 2004, referenciada no Plano Amazônia Sustentável (PAS), inserido no Plano Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), a pavimentação da BR-163 passou a fazer parte de um planejamento estratégico específico de desenvolvimento da macrorregião amazônica (BRASIL, 2006b). Assim, o PNDR teve como principais objetivos: a ocupação desta região que no momento era pouco povoada e o escoamento da crescente produção agrícola e bovina que se destacava neste período (BRASIL, 2006b). Segundo este plano, os quatros setores da infra-estrutura (transportes, energia, comunicações e armazenagem) têm entre si um nexo comum que é o fato de promoverem bens de acesso universal, de uso generalizado, e são considerados estratégicos ao desenvolvimento, seja por gerarem externalidades positivas que favorecem a competitividade de produtores da região beneficiada, seja porque sua disponibilidade se traduz em melhores condições de vida para a população, entre outros, através do atendimento pelos programas do Ministério de Desenvolvimento Social (BRASIL, 2006b). Não obstante a seus potenciais benefícios sociais e econômicos, a pavimentação da rodovia BR-163 poderia agravar os impactos sociais e ambientais indesejáveis na sua área de influência. Esses impactos se relacionam ao aumento de migrações desordenadas, grilagem e ocupação irregular de terras públicas, concentração fundiária, desmatamento, queimadas, incêndios florestais e exploração não-sustentável dos recursos naturais, aumento da criminalidade e agravamento das condições de saúde pública (BRASIL, 2006b). As condições sociais dos municípios de Mato Grosso quando comparadas às dos municípios do Pará e do Amazonas são melhores. No entanto, as cidades matogrossenses apresentam problemas recorrentes, tais como, escassez de saneamento básico, insuficiência (ou inexistência) dos serviços públicos, escassez de moradias planejadas e criminalidade elevada, onde a disponibilidade e o acesso aos alimentos podem estar comprometidos (BRASIL, 2006b). O que contribui para um cenário de vulnerabilidade à insegurança alimentar das famílias residentes nesta região. 50 OBJETIVOS 51 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Analisar a prevalência de insegurança alimentar e fatores associados em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 – MT. 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Caracterizar os domicílios com adolescentes segundo variáveis demográficas, socioeconômicas, condições de moradia/saneamento, produção e disponibilidade de alimento, participação em programas sociais do governo; - Estimar a prevalência de insegurança alimentar nos domicílios estudados; - Analisar a associação entre a situação de insegurança alimentar dos domicílios e variáveis demográficas, socioeconômicas, condições de moradia/saneamento, produção e disponibilidade de alimento, participação em programas sociais do governo, o estado nutricional e o consumo alimentar dos adolescentes. 52 MÉTODOS 53 4 MÉTODOS Este estudo faz parte da pesquisa “Segurança Alimentar e Nutricional da população residente na área urbana de influência da BR 163”, realizada em 2007, por pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) e da Faculdade de Nutrição (FANUT), no Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional – NESAN, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES - MT) e Secretarias de Saúde dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso. 4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO Trata-se de um estudo secundário, observacional do tipo transversal, de base populacional em domicílios com adolescentes da zona urbana de municípios da área de abrangência da BR-163, realizado por meio de inquérito domiciliar. 4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO Os municípios estudados (Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso) localizam-se no Estado de Mato Grosso, área de abrangência da rodovia BR-163, modal rodoviário que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA (Figura 3). Estes municípios foram selecionados por possuírem escritórios regionais de saúde, exceto Sorriso que foi escolhido por proximidade geográfica do município de Sinop, além de questões políticas e de apoio logístico. Os municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, têm como principais atividades econômicas: a agroindústria, a agricultura, a pecuária, o comércio, a indústria, o eco-turismo, o extrativismo mineral e vegetal (FERREIRA, 2001). 54 Na Figura 3 pode-se observar a delimitação da área de abrangência da BR163, que possui a extensão de 974 mil Km2. Esta delimitação foi realizada de acordo com os conceitos de regionalização do PAS (Plano Amazônia Sustentável) e da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR). Este plano é baseado num conjunto de políticas públicas com destaque para a pavimentação da BR-163, a conservação dos recursos naturais e a inclusão social, observando a diversidade socioeconômica e ambiental (BRASIL, 2006b). A rodovia BR-163 localiza-se em uma das áreas mais importantes da Amazônia, tanto do ponto de vista econômico quanto ecológico e associada a outras rodovias é um elemento de conectividade entre o Norte-Sul do Brasil. Figura 3. Área de abrangência da BR-163. Fonte: Ministério dos Transportes, 2009. 55 4.2.1. Municípios do estudo Alta Floresta Figura 4. Localização geográfica do município de Alta Floresta – MT. Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009. O município de Alta Floresta localiza-se no extremo norte de Mato Grosso, está distante da capital 720,3 Km (FERREIRA, 2001). Possui uma área geográfica de 8.982 Km2, população estimada de 47.236 habitantes, sendo que 9.845 hab. (20,8%) são adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Apresenta densidade demográfica de 5,25 hab/Km2 e taxa de crescimento de 5,2% (MS-DATASUS, 2005). A renda per capita média é de R$ 264,66, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) igual a 0,779 (MS-DATASUS, 2005) e o índice de Gini 0,44 (IBGE, 2003). A taxa de alfabetização é de 88,1% e a de mortalidade geral/1000 hab. alcança 4,9, com taxa de mortalidade infantil/1000nv de 14 (MS-DATASUS, 2005). Neste município 62,8% da população apresentava cobertura do Programa Saúde da Família (MS-DATASUS, 2005). Em relação ao saneamento básico, 27,7% dos domicílios contavam com água tratada canalizada, 0,3% com sistema de tratamento de esgoto e 72,3% com coleta pública de lixo (IBGE, 2000). 56 Diamantino Figura 5. Localização geográfica do município de Diamantino – MT. Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009. O município de Diamantino localiza-se no médio norte de Mato Grosso (FERREIRA, 2001), sendo distante de Cuiabá 199,6 Km (MS-DATASUS, 2005). Tem uma área geográfica de 7.764,4 Km2, a população é estimada em 20.198 hab., sendo sua densidade demográfica igual a 2,4 hab/km2 (MS-DATASUS, 2005). Do total de habitantes, 4.544 hab. (22,5%) são adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Apresenta taxa de crescimento anual estimada de 4,8%, renda per capita de R$ 291,13, IDH igual a 0,788 (MS-DATASUS, 2005), índice de Gini de 0,46 (IBGE, 2003), taxa de alfabetização de 88,8%, taxa de mortalidade geral/1000 hab. de 4,4, taxa de mortalidade infantil/1000nv de 5,9 (MS-DATASUS, 2005). A cobertura do Programa Saúde da Família da população no município era de 93,4% (MS-DATASUS, 2005). Em relação ao saneamento básico: o atendimento de água tratada canalizada era de 67,2%, o sistema de tratamento de esgoto atendia 1,2% dos domicílios e a coleta pública de lixo alcançava 69% (IBGE, 2000). 57 Sinop Figura 6. Localização geográfica do município de Sinop – MT. Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009. O município de Sinop está localizado no norte do Estado Mato Grosso, sendo que a distância entre Cuiabá e Sinop é de 472,4 Km. O nome do município é derivado do acrônimo de Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, empresa responsável pela colonização do norte de Mato Grosso, por agricultores do estado do Paraná (FERREIRA, 2001). Este município possui uma área geográfica de 3.206,8 Km2, com população estimada de 99.121 habitantes, sendo que 20.451 (20,6%) são adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Apresenta densidade demográfica de 23,4 hab/km2, IDH igual a 0,746 (MS-DATASUS, 2005) e índice de Gini de 0,43 (IBGE, 2003). A renda per capita média é em torno de R$ 340,38 (MS-DATASUS, 2005). A taxa de crescimento é de 8,3%, a taxa de alfabetização de 91,5%, a taxa de mortalidade geral/1000 hab. é de 3,3 e a taxa de mortalidade infantil/1000nv de 17 (MS-DATASUS, 2005). A cobertura do Programa Saúde da Família da população em Sinop era de 69% (MS-DATASUS, 2005). Quanto ao acesso de saneamento básico, 19,5% dos domicílios possuíam água tratada canalizada, 0,2% tinham tratamento de esgoto e 83,6% coleta pública de lixo (IBGE, 2000). 58 Sorriso Figura 7. Localização geográfica do município de Sorriso – MT. Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009. O município de Sorriso localiza-se no norte do Estado Mato Grosso, sendo que a distância de Cuiabá é de 393,2 Km (FERREIRA, 2001). Possui uma área geográfica de 9.328 Km2, com população estimada de 48.325 habitantes, destes 9.905 (20,5%) são adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Sua densidade demográfica é de 3,8 hab/km2. Apresenta IDH igual a 0,805, renda per capita média de R$ 442,37 (MS-DATASUS, 2005), índice de Gini de 0,43 (IBGE, 2003), 7,4% de taxa de crescimento e taxa de alfabetização de 92,5% (MS-DATASUS, 2005). A taxa de mortalidade geral/1000 hab. é de 3,8 e a de mortalidade infantil/1000nv de 14,4 (MSDATASUS, 2005). De acordo com dados do Ministério Saúde, a cobertura do Programa Saúde da Família da população em Sorriso era de 99,9% (MS-DATASUS, 2005). Quanto ao acesso a saneamento básico: 76% dos domicílios tinham água tratada canalizada, 0,2% contavam com tratamento de esgoto e 86,8% com coleta pública de lixo (IBGE, 2000). 59 4.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO A população de estudo compreende em domicílios com adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos, de ambos os sexos, pertencentes à área urbana dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop, Sorriso - Mato Grosso. 4.3.1 Critérios de Exclusão Foram excluídos do estudo adolescentes gestantes, adolescentes institucionalizados (hospitais, prisões, etc) e aqueles com incapacidade mental para responder o questionário ou incapacidade física que impossibilitasse ou comprometesse a realização da antropometria. 4.4 PLANEJAMENTO AMOSTRAL O planejamento amostral deste estudo seguiu o do projeto matriz, apresentado no Anexo 1. Adotou-se o tipo de amostragem probabilística, considerando os métodos de amostragem aleatória simples e por conglomerado em dois estágios (BOLFARINE e BUSSAB, 2005), característica de um delineamento amostral complexo (PESSOA e SILVA, 1998; SZWARCWALD e DAMACENA, 2008), onde os setores censitários foram considerados unidades primárias de amostragem e os domicílios foram considerados as unidades secundárias. Na amostragem por conglomerado, o sorteio em dois estágios com probabilidade proporcional ao tamanho dos conglomerados é um processo que controla o tamanho da amostra de elementos, além de mantê-la auto-ponderada. É fundamentado nos princípios básicos de eficiência, sendo amplamente usado em inquéritos populacionais (KISH, 1965; SILVA, 2001). 60 Abaixo nas Tabelas 1 e 2, é apresentada a amostra de domicílios e de adolescentes com as respectivas perdas, por motivo de recusa ou ausência. Tabela 1 – Número de domicílios com adolescentes segundo municípios da área de abrangência da BR 163, considerando a perda de domicílios por recusa ou ausência, Mato Grosso, 2006. Amostra Nº de domicílios Nº recusa Nº ausência Alta Floresta 88 5 3 Municípios Diamantino Sinop Sorriso 109 95 99 3 4 2 4 1 6 Total 391 14 14 De acordo com o número total de domicílios com adolescentes (n= 391), a perda foi de 28 domicílios, o que equivale a 7,2% do total da amostra (Tabela 1). A seguir é apresentada na Tabela 2, a amostra de adolescentes obtida (n= 592), sendo que, a perda de indivíduos por recusa ou ausência não ultrapassou os 10%, totalizando 9,8 % da amostra. Tabela 2 – Número de adolescentes, perdas por recusa ou ausência segundo municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006. Amostra Nº de adolescentes Nº recusa Nº ausência Alta Floresta 130 7 6 Municípios Diamantino Sinop Sorriso 170 141 151 6 10 4 13 2 10 Total 592 27 31 Considerando que a amostragem do projeto matriz, trata-se de uma amostragem complexa, ou seja, foram utilizados vários métodos de amostragem probabilística. Assim, buscou-se a obtenção da validade externa do estudo e na medida do possível, procurou-se generalizar os achados para populações similares à populaçãobase estudada. Para isto, os dados deste estudo foram ponderados, para compensar as probabilidades desiguais de seleção e para isto, foram atribuídas ponderações 61 diferenciadas aos elementos da amostra, chamados de fatores naturais de expansão, o que corresponde ao inverso do produto das probabilidades de inclusão, nos diversos estágios da seleção (SZWARCWALD e DAMACENA, 2008). Realizou-se a calibração dos fatores naturais de expansão, que consiste em estimar pesos para cada elemento da amostra, através dos ajustes de pesos naturais do desenho segundo informações das variáveis desta mesma amostra (PESSOA e SILVA, 1998; SZWARCWALD e DAMACENA, 2008). Com isso, a cada domicílio da amostra e a cada adolescente foi associado um peso amostral ou fator de expansão, de tal maneira que ambos fossem equivalentes às respectivas projeções populacionais (IBGE, 2010b) obtidas para o ano de 20051. Cabe destacar, que a determinação destes pesos, exige a utilização de pacotes estatísticos devido à complexidade dos cálculos. Neste estudo utilizou-se o pacote estatístico STATA versão 10.0, pois este pacote apresenta um conjunto de funções ou procedimentos para dados amostrais complexos (STATA, 2005). Para definição da amostra de consumo alimentar foi utilizada amostragem aleatória simples, considerando 20% do número total dos domicílios do projeto matriz (Tabela 2 - Anexo 1), obtendo-se os dados apresentados na Tabela 3. Tabela 3 – Amostra de domicílios, indivíduos e amostra de adolescentes entrevistados quanto ao consumo alimentar segundo municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006. Município 1 Nº domicílio entrevistado Nº indivíduo entrevistado Amostra adolescente Alta Floresta 38 99 23 Sinop 54 137 26 Sorriso 45 116 23 Diamantino 43 121 23 180 473 95 IBGE – Censos Demográficos e Contagem Populacional; para os anos intercensitários, estimas preliminares dos totais populacionais, estratificado por idade pelo MS/SE/DATASUS, 2005. 62 4.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO A seguir, são apresentadas as variáveis utilizadas na análise deste estudo. Investigou-se variáveis demográficas (sexo, idade, raça/cor, naturalidade do chefe da família, tempo de residência no município e número de indivíduos no domicílio), variáveis socioeconômicas (renda familiar mensal per capita, escolaridade do chefe da família e escolaridade dos adolescentes), variáveis relativas às condições de moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, coleta de lixo, abastecimento e tratamento de água, esgoto sanitário), medidas antropométricas (peso e estatura do adolescente para cálculo do IMC) e de segurança alimentar e nutricional (disponibilidade de alimentos, consumo alimentar, produção de alimentos no domicílio para consumo próprio e participação em programas sociais do governo de transferência direta de renda). 4.5.1 Variável dependente Considerou-se como variável dependente a situação de insegurança alimentar, medida em escala categórica: segurança alimentar e a insegurança alimentar, considerando seus níveis de intensidade - leve, moderada e grave (IBGE, 2006). Para mensurar a IAN aplicou-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA para identificação e classificação dos domicílios (Anexo 4). A EBIA é composta por 15 perguntas centrais dicotômicas - Sim ou Não, nos últimos três meses (IBGE, 2006; SEGALL-CORRÊA, 2007a), sendo que cada resposta afirmativa representa um ponto e a somatória desses pontos avalia a insuficiência alimentar em diferentes níveis de intensidade, com pontuações diferentes para domicílios com pelo menos um morador de menos de 18 anos de idade e domicílios com somente moradores de 18 anos ou mais de idade, conforme apresentado nos Quadros 1 e 2 (IBGE, 2006). 63 Quadro 1 - Pontuação para classificação dos domicílios com pelo menos um morador menor de 18 anos de idade. Pontuação 0 pontos 1 a 5 pontos 6 a 10 pontos 11 a 15 pontos Categorias Segurança Alimentar Insegurança Alimentar leve Insegurança Alimentar moderada Insegurança Alimentar grave Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006). Quadro 2 - Pontuação para classificação dos domicílios com somente moradores de 18 anos ou mais de idade. Pontuação 0 pontos 1 a 3 pontos 4 a 6 pontos 7 a 9 pontos Categorias Segurança Alimentar Insegurança Alimentar leve Insegurança Alimentar moderada Insegurança Alimentar grave Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006). No Quadro 3 apresenta-se a descrição da situação de segurança alimentar, ou seja, o significado da situação encontrada no domicílio, segundo os níveis de severidade da IAN. Quadro 3 – Descrição da situação de segurança alimentar. Situação de segurança alimentar Segurança alimentar Insegurança alimentar leve Insegurança alimentar moderada Insegurança alimentar grave Fonte: PNAD 2009 (IBGE, 2010). Descrição Os moradores dos domicílios têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos Redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre as crianças; fome (quando alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para comprar alimentos) 64 4.5.2 Variáveis independentes 4.5.2.1 Variáveis demográficas - sexo: masculino; feminino (IBGE, 2006); - idade: em anos completos; serão consideradas as duas fases da adolescência, a primeira de 10 a 14 anos (fase inicial) e a segunda de 15 a 19 anos (fase final) (IBGE, 2000); - raça/cor: branca; não branca (cor da pele parda, negra, indígena e amarela). Autoreferida pelo entrevistado (BURLANDY e COSTA, 2007). 4.5.2.2 Variáveis de migração - tempo de residência do chefe da família no município, obtido em anos: 0-19; 20-39; > 40; - naturalidade do chefe da família: Mato Grosso; outros estados (IBGE, 2008b). - naturalidade do chefe da família por grandes regiões: Centro-oeste; Norte; Nordeste; Sudeste; Sul (IBGE, 2006). 4.5.2.3 Variáveis socioeconômicas - renda familiar per capita mensal: a partir da razão entre a estimativa do rendimento mensal e o total de pessoas que compõem a unidade de consumo, será obtida a renda familiar per capita considerando o valor do salário mínimo de R$ 350,00 (vigência: 01 de abril de 2006 a 30 de março de 2007) e R$ 380,00 (vigência: 01 de abril de 2007 a 29 de fevereiro de 2008) vigente no período da pesquisa (MTE, 2010) e analisada em salários mínimos cateorizados em: < 2; 2–3; >3; 65 - escolaridade do adolescente: 0–4 anos; 5–8 anos; 9-11 anos; 12 ou mais (IBGE, 2008a; VINHOLES et al., 2009); - escolaridade do chefe da família : 0-4 anos; 5-8 anos; 9-11 anos; 12 ou mais (IBGE, 2008a; VINHOLES et al., 2009); - número de moradores no domicílio: até 4; de 5 – 6; 7 ou mais (IBGE, 2008a). 4.5.2.4 Variáveis relacionadas às condições de moradia e saneamento - tipo de construção da moradia: alvenaria acabada; outro tipo – alvenaria com acabamento incompleto, madeira, material aproveitado (VIANNA e SEGALLCORRÊA, 2008; PANIGASSI et al., 2008); - coleta de lixo: pública; outra – coletado indiretamente (colocado ou despejado pelo morador em caçamba ou containers), queimado, enterrado, colocado a céu aberto (VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008); - abastecimento de água: rede pública; outro sistema – poço ou nascente, carro-pipa (VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008); - tratamento da água: com tratamento – água para beber e cozinhar é tratada (fervida, clorada), água para beber é mineral; sem tratamento – não tem filtro e nem trata a água (IBGE, 2002); - esgoto sanitário: rede pública; outro – fossa séptica, fossa rudimentar, céu aberto (VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008). 4.5.2.5 Medidas antropométricas - peso: verificado pela entrevistadora em quilogramas (Kg); - estatura: medida pela entrevistadora em centímetros (cm). 66 Segundo o projeto matriz, as medidas antropométricas dos adolescentes foram realizadas nos próprios domicílios, com instrumentos devidamente aferidos por entrevistadores treinados e padronizados, segundo as recomendações de JELLIFER (1968). O peso foi obtido com a balança eletrônica marca Tanita, modelo UM 080 com capacidade de até 150 Kg e variação de 0,1 kg. Durante a pesagem, os entrevistados mantiveram-se em posição ortostática, braços estendidos ao longo do corpo, sem sapatos, usando roupas leves, sem adornos e acessórios e, ainda, olhando para frente. Os participantes foram pesados uma vez e os valores registrados em quilogramas, na Ficha de Antropometria. A estatura foi obtida com os indivíduos descalços, sem qualquer penteado ou adorno na cabeça, mantendo-se em posição ereta, com a coluna vertebral e calcanhares encostados na parede ou portal, joelhos esticados, pés juntos e braços estendidos ao longo do corpo. A cabeça foi posicionada de modo que os olhos mirassem um plano horizontal, de acordo com o plano de Frankfurt. A estatura foi medida no momento da inspiração. O instrumento utilizado foi o Estadiômetro Portátil, marca Seca com escala milimétrica até 220 cm. A medida de estatura foi realizada em duplicata por dois examinadores, sendo os valores registrados atentamente na Ficha de Antropometria. Para a altura não foi permitida diferença maior que 0,5 cm entre as duas medidas. Quando a diferença entre as duas medidas era maior, realizava-se uma nova aferição em duplicata para substituição da medida inadequada, ao final considerou-se a média das medidas. Nesta pesquisa, o estado nutricional dos adolescentes foi avaliado pelo Índice de Massa Corporal – IMC por idade, por meio da equação abaixo (3) e será classificado (Quadro 4) conforme o critério proposto pela World Health Organization (2007). IMC peso(kg) / estatura 2(m) (3) 67 Quadro 4 - Pontos de corte de IMC por idade, estabelecidos para adolescentes. Valores críticos < Percentil 3 ≥ Percentil 3 e < < Escore-z -2 ≥ Escore-z -2 e < Percentil 85 ≥ Percentil 85 e < Escore-z +1 ≥ Escore-z +1 e < Percentil 97 ≥ Percentil 97 Escore-z +2 ≥ Escore-z +2 Diagnóstico nutricional Baixo IMC para idade IMC adequado ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade Fonte: WHO - World Health Organization, 2007. 4.5.2.6 Variáveis relacionadas à situação de insegurança alimentar - disponibilidade de alimentos (freqüência de disponibilidade por grupos de alimentos): 1-pães, cereais, raízes e tubérculos (arroz, macarrão, milho e derivados, pão, bolachas, biscoitos, mandioca, batata doce, cará, beterraba, inhame); 2leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, soja); 3-carnes e ovos (carne bovina, de frango, porco, peixe, miúdos em geral, salsicha, mortadela, lingüiça, salame, presunto e ovos); 4-leite e produtos lácteos (leite, queijo, iogurte, coalhada, requeijão,nata); 5-frutas (frutas, suco natural de fruta); 6-hortaliças (verduras: folhosos, legumes); 7-óleos e gorduras (margarina, manteiga, banha, óleo, azeite); 8-açúcares e doces (mel, melado, açúcar, rapadura, doces); 9- refrigerantes; 10sucos artificiais e infusões (sucos industrializados, café, chimarrão, chá) (PHILIPPI, 1999; VOCI et al., 2008; UNICAMP, 2003). - consumo alimentar: freqüência do consumo de acordo com os grupos de alimentos: 1-pães,cereais, raízes e tubérculos (arroz, macarrão, milho e derivados, pão, bolachas, biscoitos, mandioca, batata doce, cará, beterraba, inhame); 2-leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, soja); 3-carnes e ovos (carne bovina, de frango, porco, peixe, miúdos em geral, salsicha, mortadela, lingüiça, salame, presunto e ovos); 4leite e produtos lácteos (leite, queijo, iogurte, coalhada, requeijão,nata); 5-frutas (frutas, suco natural de fruta); 6-hortaliças (verduras: folhosos, legumes); 7-óleos e 68 gorduras (margarina, manteiga, banha, óleo, azeite); 8-açúcares e doces (mel, melado, açúcar, rapadura, doces); 9- refrigerantes; 10- sucos artificiais e infusões (sucos industrializados, café, chimarrão, chá) (PHILIPPI, 1999; VOCI et al., 2008). - produção de alimentos no domicílio para consumo próprio: sim; não; - participação em programas sociais do governo de transferência direta de renda (Bolsa Família): sim; não (IBGE, 2006); As informações das variáveis independentes foram obtidas através do projeto matriz que utilizou questionários estruturados, conforme descrito no item 1.3.2 do Anexo 1. Para verificar a disponibilidade de alimentos dos domicílios e o consumo de alimentos dos adolescentes foi utilizado o Questionário de Freqüência Alimentar QFA (SICHIERI e EVERHART, 1998; CAVALCANTE, 2004; VOCI et al., 2008). O QFA, comumente utilizado em estudos epidemiológicos para a obtenção de informações qualitativa, semi-quantitativa ou quantitativa sobre o consumo alimentar, é um questionário que permite registrar, descrever e classificar a ingestão de populações e indivíduos segundo o seu consumo usual de alimentos (WILLETT, 1994; SALVO e GIMENO, 2002; SLATER et al., 2003; FISBERG et al., 2005). Em geral, o objetivo do QFA não é de obter, de forma exata, a ingestão quantitativa de algum nutriente, mas sim de identificar, sob a forma de triagem, grupos de indivíduos que apresentam ingestão inadequada de um determinado alimento (ANJOS, 2009). Possui basicamente dois componentes: uma lista de alimentos e um espaço, no qual o indivíduo tem liberdade para responder com que freqüência consome cada alimento. A lista é constituída pelo maior número possível de alimentos que aportam nutrientes à dieta (FISBERG et al., 2005). Segundo KEPPLE e SEGALL-CORRÊA (2011) é um instrumento de mensuração de um dos indicadores da SAN, o consumo alimentar. O QFA tem como vantagens: ser um instrumento de fácil aplicação, baixo custo operacional, boa reprodutibilidade e validade aceitável, o que permite sua aplicação em estudos epidemiológicos, com elevado número de participantes, sendo possível distinguir os diferentes padrões de consumo entre os indivíduos (SALVO e GIMENO, 2002). Por ser um instrumento que requer esforço e tempo, bem como, hábitos do passado, tem como limitação a aplicação em analfabetos e idosos (FISBERG et al., 2008). 69 Para investigar a disponibilidade de alimentos nos domicílios utilizou-se o QFA, considerando que na pesquisa do processo de adaptação, elaboração e validação da EBIA (UNICAMP, 2003) e semelhante a pesquisa realizada por OSÓRIO et al. (2009) este instrumento foi utilizado para esta finalidade. Lembrando que a literatura também apresenta como instrumento de mensuração da disponibilidade de alimentos, as Pesquisas de Orçamento Familiar – POFs (LEVY-COSTA et al., 2005; YOKOO et al., 2008). 4.6 MODELO DE ANÁLISE Visto que, a situação de segurança alimentar se apresenta dentro uma multicausalidade foi construído o modelo de análise para este estudo (Figura 8), que tem como base os modelos propostos por VIEIRA (2007), BARROSO et al. (2008) e SANTOS (2008), bem como, os indicadores de insegurança alimentar (PÉREZ ESCAMILLA e SEGALL - CORRÊA, 2008), os determinantes da SAN apresentados na PNAD 2010 e os determinantes sociais da situação de segurança alimentar, bem como, suas dimensões2. Assim, VICTORIA et al. (1997) propõe que a escolha das variáveis para inclusão no modelo não dependam puramente da associação estatística na análise bivariada, mas também, do conhecimento acerca da determinação social e biológica do evento de interesse. Pois, a epidemiologia, como todas as outras ciências, acha-se profundamente inserida na vida social e está sujeita aos condicionantes e pressões existentes na sociedade (COSTA et al, 1990). 2 Para informações complementares, consultar Equity, social determinants and public health programmes. Food safety: equity and social determinants (WHO, 2010). Conceituando e medindo a segurança alimentar e nutricional (KEPPLE e SEGALL-CORRÊA, 2011). Nutrição e Saúde Pública (TADDEI et al., 2011), Rio de Janeiro: Editora Rubio. 70 Figura 8. Modelo de análise da situação de insegurança alimentar e nutricional em domicílios com adolescentes. É importante a construção do modelo de análise, porque ele possibilita a avaliação de fatores de risco (FRISS e SELLES, 2003; SZKLO e NIETO, 2007) que na investigação da situação de insegurança alimentar em domicílios com adolescentes, estão inseridos em duas dimensões: a Dimensão Domiciliar e a Dimensão Individual, conforme apresentado na Figura 8. Na Dimensão Domiciliar, encontram-se informações do chefe da família, do domicílio e características familiares. Nesta dimensão tem-se como possíveis fatores distais da insegurança alimentar e nutricional: as características das condições de moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, tratamento do esgoto sanitário, coleta de lixo, abastecimento e tratamento da água), as características de migração (naturalidade e tempo de residência do chefe da família no município), participação em programas sociais do governo de transferência direta de renda (Bolsa Família); e como fatores que atuam diretamente no evento tem-se os fatores proximais: as características socioeconômicas (número de moradores no domicílio, renda familiar per capita mensal, escolaridade do chefe da família), a disponibilidade de alimentos e produção de alimentos no domicílio para consumo próprio. 71 Na Dimensão Individual, encontram-se às informações individuais dos adolescentes sobre o estado nutricional e o consumo alimentar. Nesta dimensão estão os fatores que possivelmente podem sofrer influência da situação de insegurança alimentar e nutricional, bem como, dos fatores da Dimensão Domiciliar. Por meio do modelo de análise anteriormente apresentado, pode-se observar tanto a prevalência de domicílios em situação de IA (útil na confecção de mapas de risco nos níveis nacional, regional e local), quanto à relação de causalidade entre os diversos aspectos (que permitem especificar medidas de redução da IA) podendo ser utilizadas na formulação, avaliação e monitoramento de políticas, e programas de alimentação e combate à pobreza (PESSANHA et al., 2008). 4.7 SELEÇÃO E TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES, ESTUDO PILOTO E TRABALHO DE CAMPO A seleção e treinamento dos entrevistadores, o estudo piloto e o trabalho de campo desta pesquisa estão apresentados no Anexo 1, conforme o projeto matriz. 4.8 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA A QUALIDADE DOS DADOS Os procedimentos utilizados para garantir a qualidade dos dados coletados, incluíram supervisão contínua e sistemática do trabalho de campo do projeto matriz, bem como, reuniões semanais com a equipe de entrevistadores para avaliação dos trabalhos realizados e reuniões com os coordenadores da pesquisa. Os dados foram digitados em duplicata no programa Epi Info 2000, por estudantes do Curso de Nutrição da UFMT, utilizando-se o recurso Data Compare do programa para correção das diferenças entre os bancos de dados. 72 As informações contidas nos questionários e no banco de dados utilizadas neste estudo foram conferidas para a verificação de possíveis falhas e inconsistências e visando a confiabilidade psicométricada da Escala Brasileira de Insegurança aplicada nesse estudo, foi calculado o Alpha de Crombach3. 4.9 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS Para análise foram utilizados o programa Statistical Package for the Social Sciencies – SPSS versão 15.0 (SPSSTM, 2006), MINITAB versão 15.0 (MINITAB, 2007), WHO Anthro Plus versão 3 (WHO, 2010b) e STATA versão 10.0 (STATA, 2005). Utilizou-se estatísticas descritivas: tabelas, gráficos, medidas de posição e variação e estatísticas inferenciais: razão de prevalência com seus respectivos intervalos de 95% de confiança e a associação entre as variáveis, verificada por meio do teste de qui-quadrado (χ2) de Pearson, com nível de significância de p<0,05. Efetuo-se uma análise da variância múltipla com duas entradas para comparar em média a frequência de disponibilidade e consumo de alimentos nos domicílios, considerando um nível de significância de p<0,05. Realizou-se a análise de regressão múltipla de Poisson e para introdução das variáveis independentes no modelo da regressão, foi considerado o processo passo a passo para frente (stepwise forward). As variáveis que apresentaram p<0,20 na análise bivariada, foram introduzidas na análise múltipla conforme o modelo apresentado anteriormente na Figura 8 e permaneceu segundo o seu nível significância. Permaneceram no modelo final da regressão as variáveis que apresentarem nível de significância menor que 0,05 (p<0,05). 3 Trata-se de um índice que verifica a consistência interna, que toma valores entre 0 e 1, serve para comprovar se o instrumento é confiável, se ele faz medições estáveis e consistentes. O Alpha de Crombach, entre 0,70 e 0,90 indica uma boa consistência interna (OVIEDO & CAMPO-ARIAS, 2005). 73 A literatura apresenta como alternativas de análise de dados para estudos de corte tranversal os modelos de regressão log-binomial, Poisson e entre outros. No entanto, optou-se por utilizar neste estudo a regressão múltipla de Poisson, considerando a alta prevalência do desfecho (52,8% IAN), critério este, importante para o uso deste modelo (SPIEGELMAN e HERTZMARK, 2005; SZKLO e NIETO, 2007; COUTINHO et al, 2008; HIRAKATA, 2009). Cabe destacar, que para todas as inferências utilizadas, os dados foram ponderados, utilizando o pacote estatístico STATA 10.0. 4.10 ASPECTOS ÉTICOS De acordo com o projeto matriz, os entrevistados dos quais foram utilizados os dados para este estudo, não sofreram nenhum tipo de risco à saúde. Apenas foram submetidos ao exame antropométrico e a entrevista. Foi solicitado aos pais/ responsáveis pelos adolescentes e aos maiores de 18 anos, a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que continha todos os procedimentos a serem desenvolvidos (Anexo 2). O projeto matriz do qual esta pesquisa faz parte foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo seres humanos do Hospital Universitário Júlio Muller, com aprovação sob o número de protocolo 230/CEP-HUJM/06 (Anexo 3), sendo respeitadas as normas regulamentadoras expressas na Resolução CNS/CONEP 196/96 do Ministério da Saúde. 4.11 FINANCIAMENTO O projeto matriz, do qual esta pesquisa faz parte foi financiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq/Ministério da Saúde/Secretaria de Ciência 74 Tecnologia e Insumos Estratégicos- DECIT (Proc 402879/2005-8), e também teve apoio da bolsa de mestrado do CNPq (Proc 060645/2009-1). 75 RESULTADOS 76 5 RESULTADOS 5.1 PERFIL DA POPULAÇÃO DO ESTUDO SEGUNDO VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS, SOCIOECONÔMICAS E VARIÁVEIS RELACIONADAS AO DOMICÍLIO Da amostra de domicílios com adolescentes (n= 391), foram estudados 363 domicílios, havendo 7,2% (n= 28) de perda por recusa. O número de adolescentes pesquisados foi de 592, com uma perda de 9,2% (n= 58) por motivo de recusa ou ausência no momento da visita ao domicílio, totalizando 534 adolescentes estudados. Ocorreram exclusões por deficiência física (n=1), deficiência mental (n=1), incapacidade física que impossibilitasse ou comprometesse a realização da antropometria (n=1)4, gravidez (n=5) e dois indivíduos sem informação antropométrica – por erro durante a coleta de dados. Totalizando 10 adolescentes que não participaram da antropometria. Na Tabela 4 observou-se um predomínio de adolescentes do sexo feminino (52,6%), com idade entre 10 e 14 anos (50,7%), de cor não branca - preta, parda, amarela ou indígena (64,7%), com escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo (50%). Ainda na Tabela 4, observou-se que 45,7% dos chefes de família, tinham até quatro anos de estudo e apenas 4,7% tinha 12 anos ou mais de estudo. Quanto às informações de migração 71,4% dos chefes da família eram naturais de outros estados do Brasil e quando observado por grandes regiões houve predomínio da região Sul (41,6%), seguido da região Centro-Oeste com 32,5%. Dos 363 chefes de família, 53,4% informaram residir a até 19 anos nos municípios estudados, enquanto, 8,6% residiam a mais de 40 anos. 4 Adolescente encontrava-se engessado com lesão na perna. 77 Tabela 4 – Distribuição dos adolescentes e chefes das famílias, dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso – área de abrangência da BR-163 segundo variáveis demográficas e socioeconômicas, Mato Grosso, 2007. N % (n= 534) masculino feminino 253 281 47,38 52,62 Idade 10 – 14 15 – 19 271 263 50,75 49,25 *1 branca não branca 188 345 35,27 64,73 Escolaridade (anos de estudo) 0-4 5-8 9-11 12 ou mais (n= 363) 0-4 5-8 9-11 12 ou mais 153 267 103 11 28,65 50,00 19,29 2,06 166 118 59 17 45,73 32,51 16,25 4,68 *3Naturalidade Mato Grosso outros estados 98 259 27,00 71,35 *4Naturalidade por grandes regiões Centro-oeste Norte Nordeste Sudeste Sul 118 7 37 44 151 32,51 1,93 10,19 12,12 41,60 Tempo de residência no município (em anos) 0-19 20-39 > 40 194 138 31 53,44 38,02 8,54 Variáveis Categorias Informações do Adolescente Sexo Cor/raça Informações do chefe da família *2Escolaridade (em anos de estudo) *1(n – perda = 533); *2(n – NR = 360); *3, 4(n – NR = 357). Sendo que, NR significa que o indivíduo não respondeu. Por meio da Tabela 5, observa-se que foi predominante em 93,1% dos domicílios a renda familiar per capita mensal menor que dois salários mínimos e 58,1% das famílias eram constituídas por até quatro moradores. 78 Tabela 5 – Distribuição da renda, número de moradores, informações de moradia e saneamento, produção de alimentos e participação em programas sociais, dos domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007. N % (n= 361) <2 2-3 >3 338 17 8 93,11 4,68 2,20 Nº de moradores no domicílio até 4 5-6 7 ou mais 211 122 30 58,13 33,61 8,26 Tipo de construção da moradia alvenaria acabada outro tipo 126 237 34,71 65,29 Abastecimento de água rede pública outro sistema 303 60 83,47 16,53 Tratamento de água com tratamento sem tratamento 213 150 58,68 41,32 Produção de alimentos para consumo próprio sim não 210 153 57,85 42,15 Participação em programas sociais do governo (Bolsa família) sim não 72 291 19,83 80,17 Variáveis Categorias Renda familiar per capita mensal (salário mínimo) Em relação às características de moradia e saneamento, a maior parte dos domicílios (65,3%) respondeu ter a moradia de alvenaria, mas, com acabamento incompleto, de madeira ou de material aproveitado. Dos 363 domicílios 99,4% eram atendidos pela coleta pública de lixo, 98,6% não apresentavam rede pública de esgoto sanitário, sendo a destinação realizada através de fossa séptica, fossa rudimentar ou a céu aberto. O abastecimento de água era distribuído por meio da rede pública (83,5%) e 16,6% tinham outro tipo de abastecimento (poço ou nascente, carro-pipa). Apesar de 58,7% utilizar água tratada (fervida, clorada ou mineral) para beber ou cozinhar, um percentual considerável 41,3% consumiam água sem nenhum tipo de tratamento. 79 Das famílias pesquisadas, 57,9% produziam alimentos no domicílio para consumo próprio e 80,2% não participavam de programas sociais de transferência de renda do governo, como o Bolsa família. 5.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DOS DOMICÍLIOS ESTUDADOS A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) evidenciou uma consistência interna muito boa, visto que o Alpha de Crombach foi de 0,87. Conforme apresentado na Figura 9, observou-se que 51,8% dos domicílios estavam em situação de insegurança alimentar e nutricional, e segundo os seus níveis de severidade: 28,7% estavam em insegurança leve, 14,3% insegurança moderada e 8,8% em insegurança grave. Desta forma a situação de segurança alimentar foi identificada em 48,2% dos domicílios estudados. Figura 9 – Representação da situação de segurança alimentar e nutricional dos domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007. SAN: segurança alimentar e nutricional; IAL: insegurança alimentar leve; IAM: insegurança alimentar moderada; IAG: insegurança alimentar grave. 80 Cabe ressaltar, que em novembro de 2010 foi publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios – PNAD, após uma Oficina Técnica para Análise da EBIA realizada em agosto de 2010. Na recente publicação houve modificações na EBIA e na sua pontuação, que passou a contar com 14 perguntas e novos pontos de corte5 (Anexo 5). Considerando essa nova pontuação, realizou-se a reclassificação da situação de segurança alimentar dos domicílios para verificar eventuais alterações na prevalência de SAN e IAN. Observou-se que a prevalência de segurança (48,2 %) e insegurança alimentar (51,8%) foi mantida. No entanto, para os níveis da IAN houve alterações na prevalência de IAM (11,3%) e IAG (11,8%), sendo que, a IAL manteve-se com 28,7% conforme apresentado na Tabela 6. Tabela 6 - Prevalência da situação de segurança alimentar em domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - área de abrangência da BR 163 segundo a pontuação da EBIA (2004) e da EBIA (2010). Classificação EBIA 2004 EBIA 2010 Segurança Alimentar 48,2% 48,2% Insegurança Alimentar leve 28,7% 28,7% Insegurança Alimentar moderada 14,3% 11,3% Insegurança Alimentar grave 8,8% 11,8% Quando observada a frequência de respostas positivas para as perguntas da EBIA, obteve-se maior frequência para as perguntas 1 “teve preocupação que a comida acabasse antes que pudesse comprar mais”, 4 “teve que se arranjar com apenas alguns alimentos para adolescentes menores de 18 anos porque o dinheiro acabou” e 3 “ficou sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e variada” e menores freqüências para as perguntas 14 “menores de 18 anos (crianças ou adolescentes) tiveram fome” e 15 “menores de 18 anos (crianças ou adolescentes) ficaram sem comer por um dia inteiro”, conforme a Figura 10. 5 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Segurança Alimentar – Aspectos sobre segurança: alimentar instrumentos legal, conceitual e metodológico (PNAD, 2010). 81 Figura 10 – Freqüência de respostas positivas para as 15 perguntas da EBIA em domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato Grosso, 2007. Considerando os componentes que a EBIA é capaz de mensurar (componente psicológico, redução na qualidade dos alimentos, diminuição quantitativa dos alimentos e fome) e os graus de severidade da insegurança alimentar (IAL, IAM e IAG), subdividiu-se a escala em três blocos: Bloco1 - perguntas 1, 3,4; Bloco 2 perguntas 2, 5, 6, 7, 8 e o Bloco 3 - perguntas 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, onde as freqüências de respostas positivas são apresentadas na Tabela 7 e nas Figuras 11,12, 13). Em relação a cada bloco de perguntas, destaca-se: no Bloco 1, a pergunta 1 com aproximadamente 50% de respostas positivas, ou seja, dos 363 domicílios estudados, 173 responderam ter “preocupação que a comida acabasse antes que pudesse comprar” expressando assim, a preocupação de que pudesse faltar alimento no futuro próximo. 82 Tabela 7 – Freqüência de respostas positivas às perguntas da EBIA em domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, Mato Grosso, 2007. Perguntas da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA N % 1. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve a preocupação que a comida acabasse antes que pudesse comprar mais comida? 173 47,7 3. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ficou sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e variada? 140 38,6 4. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve que se arranjar com apenas alguns alimentos para sua(s)/ adolescente(s), menores de 18 anos, porque o dinheiro acabou? 149 41,0 2. Nos últimos 3 meses, a comida acabou antes que o a(o) Sra. (Sr.) tivesse dinheiro para comprar mais? 88 24,2 5. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) não pôde oferecer à(s) criança(s)/adolescente(s), menores de 18 anos, uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro? 95 26,2 50 13,8 74 20,4* 75 20,7* 9. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez sentiu fome mas não comeu porque não podia comprar comida suficiente? 30 8,3* 10. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) perdeu peso porque não tinha dinheiro suficiente para comprar comida? 29 8,0* 11. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou qualquer outro adulto em sua casa ficou, alguma vez, um dia inteiro sem comer ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não havia dinheiro para comprar comida? 36 9,9* 12. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez diminuiu a quantidade de alimentos das refeições de sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida? 56 15,4 13. Nos últimos 3 meses, alguma vez, a (o) Sra. (Sr.) teve que deixar de fazer uma refeição da(s) sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não havia dinheiro para comprar comida? 34 9,4 14. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, teve (tiveram) fome, mas a(o) Sra. (Sr.) simplesmente não podia comprar mais comida? 23 6,4 Bloco 1 Bloco 2 6. Nos últimos 3 meses, a(s) criança(s)/o(s) adolescente(s), menores de 18 anos, não comeu (comeram) quantidade suficiente porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida? 7. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou algum adulto em sua casa diminuiu, alguma vez, a quantidade de alimentos nas refeições ou pularam refeições, porque não havia dinheiro suficiente para comprar a comida? 8. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez comeu menos do que achou que devia porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida? Bloco 3 15. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, ficou (ficaram) sem comer por um dia inteiro porque não havia dinheiro para comprar 11 3,0 comida? *O responsável pelo domicílio se recusou a responder essas perguntas (perda das informações de 1 domicílio). 83 No Bloco 2, observou-se que 26,2% dos domicílios informaram que “não pôde oferecer uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro” (pergunta 5) e 24,2% dos domicílios responderam “acabar comida antes que tivesse dinheiro para comprar mais” (pergunta 2) ressaltando a restrição qualitativa e quantitativa na alimentação da família. No Bloco 3 destacou-se a pergunta 12, pois, 56 domicílios (15,4%) responderam que “diminuiu a quantidade de alimentos das refeições, porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida”, expressando a deficiência quantitativa e mesmo fome entre os membros da família. Figura 11 – Freqüência de respostas positivas às perguntas 1, 3 e 4 da EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007. Na Figura 11 é apresentado Bloco1, no qual se observou uma maior freqüência de respostas positivas para os domicílios em situação de IAL. Sugerindo que as perguntas do Bloco 1 são capazes de expressar a insegurança alimentar leve – “Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade 84 inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos”. Na Figura 12 está apresentado o Bloco 2, no qual verificou-se que os domicílios que responderam positivamente para as perguntas deste bloco, estavam em IAM. Assim, o Bloco 2 permitiu destacar a situação de insegurança alimentar moderada – “Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos”, exceto para a pergunta 6, pois a maioria dos domicílios que a responderam positivamente estavam em situação de IAG. Figura 12 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 2, 5, 6, 7 e 8 da EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007. Na Figura 13, estão representadas as perguntas do Bloco 3 e para todas elas, os domicílios em IAG responderam positivamente. Portanto, as perguntas que compõe este bloco expressaram a situação de insegurança alimentar grave “Redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre as crianças; fome (quando alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para comprar alimentos)”. 85 Figura 13 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 9, 10, 11,12, 13, 14 e 15 da EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007. Ainda no Bloco 3, observou-se que nas perguntas 12 e 13 houve respostas positivas dos domicílios em situação de insegurança alimentar leve, no entanto, isso representa no máximo 5% dos domicílios estudados (Figura 13). 5.3 DISPONIBILIDADE CONSUMO ALIMENTAR DE E ALIMENTOS ESTADO NOS DOMICÍLIOS, NUTRICIONAL DOS ADOLESCENTES A seguir, é apresentado o resultado da análise da disponibilidade dos alimentos nos 363 domicílios e a freqüência do consumo alimentar dos 95 adolescentes estudados segundo os grupos de alimentos. O grupo de alimentos G1, composto por pães, cereais, raízes e tubérculos, esteve disponível todos os dias nos domicílios e os adolescentes confirmaram 86 consumí-lo diariamente. Ocorrendo o mesmo com o grupo G2 (leguminosas), G8 (açúcar e doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), conforme Figura 14 e 15. Os grupos G3 (carnes e ovos), G5 (frutas), G6 (hortaliças) e G9 (refrigerantes) embora disponíveis nos domicílios, estes eram consumidos de 1 a 3 vezes na semana pelos adolescentes. Gráfico 14 - Freqüência da disponibilidade de alimentos em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163, considerando os principais grupos de alimentos, Mato Grosso, 2007. G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes; G10- Sucos artificiais e infusões. O grupo G4 (leites e produtos lácteos) esteve disponível todos os dias nos domicílios, no entanto, os adolescentes disseram não ter consumido nenhum alimento deste grupo na semana anterior a pesquisa (Figura 15). Ainda nas Figuras 14 e 15, observou-se que no grupo G7 (óleos e gorduras) predominou a não disponibilidade nos domicílios, e portanto, o não consumo pelos adolescentes naquela semana. 87 Figura 15 - Frequência do consumo alimentar de adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, considerando os principais grupos de alimentos, Mato Grosso, 2007. G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes; G10- Sucos artificiais e infusões. Cabe destacar que, neste grupo G7 estão alimentos como: manteiga, banha e azeite (Figuras 16 e 17). Figura 16 - Freqüência da disponibilidade de alimentos do Grupo 7 (óleos e gorduras) em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007. 88 Figura 17 - Freqüência do consumo alimentar para o Grupo 7 (óleos e gorduras) de adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007. Assim, não ter disponível e não consumir esse grupo, refere-se a estes alimentos, conforme apresentado nas Figuras 16 e 17. De acordo com a frequência de cada alimento pertencente a este grupo, observou-se que o óleo e a margarina estiveram disponíveis nos domicílios e os adolescentes informaram ter consumido. Na Figura 18 a seguir, é representada a avaliação do estado nutricional dos adolescentes, no qual observou-se a prevalência de 82,3% de eutrofia, 4,0% de baixo peso, 10,5% de sobrepeso, e 3,2% de obesidade. Figura 18 – Estado nutricional dos adolescentes de domicílios pertencentes a municípios da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007. 89 5.3.1 Disponibilidade de alimentos e consumo alimentar, comparando a situação de segurança alimentar dos domicílios Outro enfoque importante deste estudo foi analisar a disponibilidade de alimentos nos domicílios e o consumo alimentar dos adolescentes segundo a situação de segurança alimentar encontrada nos domicílios, por meio das frequências referidas. Assim, na Tabela 8 encontram-se detalhadas as freqüências referidas da disponibilidade de alimentos nos domicílios, distribuída por grupos e por tipos de alimentos, segundo a situação de segurança alimentar. Considerando a freqüência diária de disponibilidade por tipo de alimentos que compõe cada grupo, observou-se que nos domicílios em IAN, houve maior disponibilidade de arroz, macarrão, milho e derivados (G1), óleo e margarina (G7), açúcar, mel, melado, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão, chá (Grupo 10). Embora os domicílios em SAN tenham apresentado a mesma ordem da freqüência de disponibilidade dos alimentos citados anteriormente, as freqüências foram menores para os grupos G1 (175), G8 (174), G10 (171). Para o grupo G7 quando observada a freqüência de disponibilidade diária de alimentos como a margarina, verificou-se maior freqüência em domicílios em SAN que em domicílios em IAN. Inversamente, o óleo, esteve disponível em maior freqüência nos domicílios que estavam em situação de IAN, comparado aos que estava em situação de SAN (Tabela 8). O grupo de leguminosas (G2) apresentou uma freqüência de disponibilidade nos domicílios em IAN muito próxima àqueles que estavam em situação de SAN, 179 e 175, respectivamente. Ainda nos domicílios em insegurança alimentar, para os grupos G3 e G4, os alimentos que apresentaram maior freqüência de disponibilidade foram: as carnes (133) e leites (116), respectivamente. O mesmo observou-se nos domicílios em SAN, porém, nesses domicílios a freqüência desses alimentos foi maior (173) e (152). 90 Tabela 8 - Distribuição da freqüência referida da disponibilidade de alimentos nos domicílios segundo a situação de segurança alimentar, em municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007. Grupos de Alimentos (n= 363 domicílios) Grupo1 (Pães, cereais, raízes e tubérculos) Arroz, macarrão,, milho e derivados Pão, bolachas, biscoitos Mandioca, batata, batata doce, cará beterraba, inhame Total Grupo2 (Leguminosas) Feijão, lentilha, ervilha, soja Total Grupo3 (Carnes e Ovos) Ovos Carne (bovina, frango, porco, peixe, miúdos) Salsicha, mortadela, lingüiça, salame presunto Total Grupo4 (Leite e produtos lácteos) Leite Queijo, iogurte, coalhada, requeijão, nata Total Grupo5 (Frutas) Frutas, suco natural de fruta Total Grupo6 (Hortaliças) Verduras (folhosos) Legumes Total Grupo7 (Óleos e Gorduras) Margarina Manteiga Banha Óleo Azeite Total Grupo8 (Açúcar e doces) Mel, melado, açúcar, rapadura Doces Total Grupo9 (Refrigerantes) Refrigerante Total Grupo10 (Sucos artificiais e infusões) Sucos industrializados Café, chimarrão, chá Total IAN SAN 2 3 4 175 169 113 0 2 38 0 3 13 0 1 11 108 457 40 16 12 2 2 4 4 175 175 0 0 0 0 0 0 25 31 9 16 54 8 154 173 8 1 4 1 8 0 28 42 5 113 64 45 7 59 259 98 30 175 391 54 12 67 116 38 27 24 4 0 41 126 152 87 10 23 3 9 10 56 154 51 4 167 239 33 12 66 65 65 30 30 13 13 80 80 119 119 17 17 16 16 23 23 57 63 120 51 54 105 18 9 27 62 62 124 132 123 155 18 23 41 15 18 33 10 11 21 134 18 18 182 20 372 8 1 1 0 3 13 1 1 0 0 0 2 45 168 169 6 165 553 165 29 33 173 57 457 0 3 2 0 3 8 0 1 0 0 1 2 10 142 140 2 114 408 180 48 228 1 18 19 1 6 7 6 116 122 174 86 260 0 28 28 0 8 8 1 53 54 19 19 82 82 3 3 84 84 33 33 94 94 12 12 36 36 63 175 238 33 2 35 10 3 13 82 8 90 90 171 261 20 1 21 12 0 12 53 3 56 1 2 3 4 1 184 120 58 1 28 38 1 9 17 2 31 75 362 67 27 179 179 3 3 98 133 *1= todos os dias; 2= 1 a 3 vezes/semana; 3= 4 a 6 vezes/semana; 4= não teve disponível. 91 As frutas e sucos naturais de frutas (G5) estavam disponíveis com maior freqüência nos domicílios em SAN, bem como, doces (G8), os refrigerantes (G9) e os sucos industrializados (G10). Os folhosos e os legumes, alimentos pertencentes ao grupo das hortaliças (G6) esteve mais disponível nos domicílios em situação de segurança alimentar. Prevaleceu a pouca ou nenhuma disponibilidade de alguns alimentos nos domicílios em IAN, destacando-se: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e inhame (G1); embutidos - salsicha, mortadela, lingüiça, salame e presunto (G3); queijo, iogurte, coalhada, requeijão e nata (G4). Por meio da Figura 19, observou-se que os domicílios em IAN tiveram maior disponibilidade de alimentos como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), óleos e gorduras (G7), açúcares e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10) e leguminosas (G2), comparado aos domicílios em SAN. Os domicílios em segurança alimentar apresentaram maior disponibilidade dos alimentos como: carnes e ovos (G3), leites e produtos lácteos (G4), frutas (G5) e hortaliças (G6), bem como, refrigerantes (G9), comparado aos domicílios em IAN. Figura 19 - Freqüência referida da disponibilidade de alimentos nos domicílios em situação de insegurança e segurança alimentar segundo os grupos de alimentos, nos municípios da área de abrangência da BR 163, 2007. G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes; G10- Sucos artificiais e infusões. 92 As diferenças acima também podem ser verificadas em média, por meio de uma análise da variância múltipla com duas entradas. Esta análise é resumida na Tabela 13, na qual apresenta a análise de variância do modelo linear geral da frequência por grupo de alimentos e pela situação de segurança alimentar dos domicílios, bem como, os valores do desvio padrão (S) e o coeficiente de determinação do modelo (R2). Para verificar a adequação deste modelo foi realizada uma análise residual. Na Tabela 9 observou-se que a freqüência de disponibilidade depende do grupo de alimento e da situação de segurança alimentar do domicílio, sendo que estes efeitos são estatisticamente significantes (p<0,01). Tabela 9 - Análise da variância do modelo linear da freqüência de consumo por grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimenta dos domicílios. Fonte de variação. Grupo Situação de segurança alimentar Resíduos. Total p SQ gl QM 284426 9 31602,90 26,55 0,000 21190 1 21190,00 17,80 0,002 10712 316329 F 9 1190,30 19 S = 34,50 R2 = 96,60% SQ: soma de quadrados, gl: graus de liberdade, QM: quadrado médio, F: Razão F, p: p-valor. Cabe destacar que, a diferença que existe entre os grupos de alimentos em média é estatisticamente significante (p<0,01). Assim, para comparar a diferença média entre os grupos foi utilizado o teste de comparações pareadas de TUKEY, considerando um nível de significância de 0,05. Mostrando que em média os grupos G2, G4, G5, G6, G8, G9 e G10 são estatisticamente diferentes do grupo G1; os grupos G3, G7 e G9 são diferentes do grupo G2; os grupos G5 e G9 são diferentes do grupo G3; os grupos G7 e G9 do grupo G4 e G6; os grupos G7, G8 e G10 do grupo G5; os grupos G8, G9 e G10 do grupo G7; o grupo G9 do grupo G8 e o grupo G10 do grupo G9. 93 Também se observou que, em média individualmente, a freqüência da disponibilidade de alimentos nos domicílios em SAN é superior que a encontrada nos domicílios em IAN, sendo esta diferença estatisticamente significante (p<0,01). Na Tabela 10, é apresentada a freqüência referida do consumo alimentar dos adolescentes, distribuída por grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimentar. Assim, considerando a freqüência diária do consumo alimentar, de acordo com os alimentos que compõe cada grupo, verificou-se que os adolescentes de domicílios em situação de IAN informaram consumir com maior freqüência diariamente, alimentos como: arroz, macarrão, milho e derivados (Grupo 1), feijão, lentilha, ervilha e soja (Grupo 2), carne (Grupo 3), leite (Grupo 4), óleo (Grupo 7), mel, melado, açúcar, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão, chá (Grupo 10). Quando observado o consumo alimentar de 1 a 3 vezes na semana, os adolescentes de domicílio em situação de IAN informaram consumir alimentos como: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e inhame (G1), doces (G8), margarina (G7), refrigerantes (G9) e sucos industrializados (G10). Nos grupos G5 (frutas) e G6 (hortaliças) tanto para os adolescentes de domicílios em IAN, como, para os em SAN as freqüências do consumo diário foram baixas, conforme os dados da Tabela 10. Os alimentos como: ovos e embutidos – salsicha, mortadela, lingüiça, salame, presunto (G3), leite e derivados (G4) foram aqueles que os adolescentes de domicílios em IAN informaram não consumirem com uma maior frequência, seguidos, dos alimentos - manteiga, banha e azeite (G7). Igualmente aos adolescentes em IAN, os adolescentes dos domicílios em SAN informaram consumir todos os dias com maior freqüência: arroz, macarrão, milho e derivados, pão, bolachas, biscoitos (G1), leguminosas (G2), carnes (G3), leite (G4), óleo e margarina (G7), mel melado, açúcar, rapadura (G8) e café, chimarrão, chá (G10). Os adolescentes dos domicílios em segurança alimentar, informaram não terem consumido na semana anterior a pesquisa, alimentos como: manteiga, banha e azeite (G7), ovos (G3) e queijo, iogurte, coalhada, requeijão, nata (G4), conforme apresenta a Tabela 10. 94 Tabela 10 - Distribuição da freqüência referida do consumo de alimentos dos adolescentes, segundo a situação de segurança alimentar, em municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007. Grupos de Alimentos (n= 95 adolescentes) Grupo1 (Pães, cereais, raízes e tubérculos) Arroz, macarrão, milho e derivados Pão, bolachas, biscoitos Mandioca, batata, batata doce, cará beterraba, inhame Total Grupo2 (Leguminosas) Feijão, lentilha, ervilha, soja Total Grupo3 (Carnes e Ovos) Ovos Carne (bovina, frango, porco, peixe, miúdos) Salsicha, mortadela, lingüiça, salame Presunto Total Grupo4 (Leite e produtos lácteos) Leite Queijo, iogurte, coalhada, requeijão, Nata Total Grupo5 (Frutas) Frutas, suco natural de fruta Total Grupo6 (Hortaliças) Verduras (folhosos) Legumes Total Grupo7 (Óleos e Gorduras) Margarina Manteiga Banha Óleo Azeite Total Grupo8 (Açúcar e doces) Mel, melado, açúcar, rapadura Doces Total Grupo9 (Refrigerantes) Refrigerante Total Grupo10 (Sucos artificiais e infusões) Sucos industrializados Café, chimarrão, chá Total 1 2 IAN 3 4 1 SAN 2 3 4 57 28 0 1 19 39 5 12 1 0 4 23 30 25 2 0 5 25 2 2 3 0 0 2 85 59 18 27 57 30 7 2 41 41 7 7 14 14 1 1 16 16 6 6 9 9 1 1 2 41 23 8 8 13 30 1 0 26 13 2 2 4 17 0 3 26 2 32 2 21 5 4 46 57 23 63 28 36 11 21 15 0 16 16 10 4 22 43 14 4 7 10 4 4 7 14 15 32 14 65 18 17 8 21 3 3 24 24 15 15 21 21 8 8 10 10 12 12 2 2 4 2 6 26 26 52 14 8 22 19 27 46 2 0 2 9 18 27 16 8 24 5 6 11 10 3 6 63 1 83 21 6 0 0 1 28 15 1 0 0 1 17 17 53 57 0 60 187 12 0 3 30 0 45 7 4 1 1 1 14 7 0 0 0 2 9 6 28 28 1 29 92 55 6 61 2 30 32 6 9 15 0 18 18 26 7 33 3 17 20 3 7 10 0 1 1 5 5 28 28 9 9 21 21 1 1 17 17 9 9 5 5 6 37 43 25 11 36 10 8 18 22 7 29 7 16 23 8 7 15 10 6 16 7 3 10 *1= todos os dias; 2= 1 a 3 vezes/semana; 3= 4 a 6 vezes/semana; 4= não consumiu. 95 Na Figura 20, verificou-se que os adolescentes de domicílios em IAN informaram consumir com maior freqüência os alimentos do grupo de óleos e gorduras (G7), açúcar e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10), leguminosas (G2), hortaliças (G6) e refrigerantes (G9), comparados aos adolescentes de domicílios em SAN. Os adolescentes pertencentes aos domicílios em situação de SAN referiram consumir todos os dias com maior freqüência, alimentos como: pães, raízes e tubérculos (G1), leite e produtos lácteos (G4), frutas (G5), carnes e ovos (G3), sendo que este último, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN, quanto em SAN, a freqüência de consumo esteve próxima, conforme apresentado na Figura 20. Figura 20 - Freqüência referida do consumo alimentar dos adolescentes de domicílios em situação de insegurança e segurança alimentar segundo os grupos de alimentos, nos municípios da área de abrangência da BR 163, 2007. G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes; G10- Sucos artificiais e infusões. Por meio de uma análise da variância múltipla com duas entradas, verificaram-se diferenças entre o consumo de alimentos dos adolescentes de domicílios em SAN e IAN, sendo que, estas diferenças foram verificadas em média. 96 As diferenças entre as freqüências anteriormente descritas, também podem ser verificadas em média, por meio de uma análise da variância múltipla com duas entradas. A análise está resumida na Tabela 11, na qual se apresenta a análise de variância do modelo linear geral segundo as freqüências dos grupos de alimentos e a situação de segurança alimentar dos domicílios, assim como, os valores do desvio padrão (S) e do coeficiente de determinação do modelo (R2). Cabe ressaltar que, também foi verificada a adequação deste modelo, utilizando-se uma análise residual. Na Tabela 15 observou-se que a freqüência do consumo depende do grupo de alimentos e da situação de segurança alimentar domiciliar, sendo que estes efeitos são estatisticamente significantes (p<0,01). Tabela 11 - Tabela de análises da variância do modelo linear da freqüência de consumo por grupo e por situação de segurança alimentar. Fonte de variação. Grupo Situação de segurança alimentar Resíduos. Total F0 p SQ g.l. QM 10729,50 9 1192,16 10,94 0,001 1232,40 1 1221,40 11,31 0,008 981,10 9 109,01 12943,00 19 S = 10,44 R2 = 92,42% SQ: soma de quadrados, gl: graus de liberdade, QM: quadrado médio, F: Razão F, p: p-valor. A diferença que existe entre os grupos de alimentos, em média é estatisticamente significante (p<0,01). Assim para comparar a diferença média entre os grupos foi utilizado o teste de comparações pareadas de TUKEY, considerando um nível de significância de 0,05. Por meio do teste, verificou-se que em média as freqüências observados dos grupos G5, G6 e G9 são estatisticamente diferentes do grupo G1 e o grupo G6 é estatisticamente diferente do grupo G7. Na Tabela 11, também verifica-se que, em média, intragrupos, a freqüência de consumo dos adolescentes de domicílios em IAN é superior que a observada no domicílios em SAN, sendo que, esta diferença é estatisticamente significante (p<0,01). 97 Na Figura 21 também pôde-se comparar a disponibilidade de alimentos no domicílio e o consumo alimentar dos adolescentes segundo a situação de segurança alimentar domiciliar. Embora a maioria dos grupos de alimentos estivesse disponível em maior freqüência nos domicílios em SAN, com destaque para G1 (pães, cereais, raízes e tubérculos), G3 (carnes e ovos) e G7 (óleos e gorduras), foram os adolescentes de domicílios em IAN que disseram consumir estes grupos de alimentos com maior freqüência, predominando também o consumo de G2 (leguminosas), G8 (açúcar e doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), comparado aos adolescentes de domicílios em situação de SAN. Figura 21 - Freqüência da disponibilidade e consumo alimentar, comparando os grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimentar dos domicílios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, 2007. G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes; G10- Sucos artificiais e infusões. 98 5.4 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL 5.4.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e variáveis relativas ao domicílio Os resultados a seguir, tratam da relação entre a situação de segurança alimentar nos domicílios e variáveis demográficas, socioeconômicas, o estado nutricional dos adolescentes e variáveis relativas ao domicílio, considerando os dados ponderados. Conforme apresentado na Tabela 12, verificou-se relação entre a cor da pele e a escolaridade do adolescente com a situação de insegurança alimentar. A prevalência de IAN foi de 60% (p<0,0001) em adolescentes que informaram ser de cor não branca (preta, parda, amarela ou indígena) e aproximadamente 61% para aqueles que tinham até quatro anos de estudo (p=0,002). Assim, adolescentes de cor não branca apresentaram ter 48% de chance a mais de estar em situação de insegurança alimentar, quando comprado aos adolescentes de cor branca. Quanto ao estado nutricional, os adolescentes com baixo peso e obesidade, apresentaram prevalência de insegurança alimentar de 76% (p=0,006) e de 58,8%, respectivamente. Sendo que, adolescentes em baixo peso apresentaram 43% de chance maior de estar em insegurança alimentar que aqueles com estado nutricional normal/eutrófico. A escolaridade do chefe da família e o tempo de residência no município também mostrou estar associados à situação de insegurança alimentar, para os chefes de família com escolaridade menor que oito anos. A prevalência foi de 64,5% para os chefes com até 4 anos de estudos (p=0,038), sendo um possível fator de risco para insegurança alimentar (IC95%=1,00-1,30. 99 Quanto às variáveis relacionadas a migração, a prevalência de IAN foi de aproximadamente 67,7% (p=0,039) para os chefes de família com mais de 40 anos de residência no município. Tabela 12 – Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e p-valor da situação de segurança alimentar e nutricional segundo informações dos adolescentes e informações do chefe da família, de municípios da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007. Variáveis Categorias IAN SAN RP IC (95%) p-valor (χ2) 46,6 45,6 1,00 0,96 0,80-1,15 0,694 133 113 50,6 41,7 1,00 1,07 0,90-1,28 0,407 42,6 60,0 108 138 57,4 40,0 1,00 1,48 1,20-1,83 0,000 42 153 93 36,8 57,3 60,8 72 114 60 63,2 42,7 39,2 1,00 1,50 1,61 1,11-2,02 1,18-2,20 0,007 0,002 230 16 23 10 53,4 76,2 41,8 58,8 201 5 32 7 46,6 23,8 58,2 41,2 1,00 1,43 0,70 1,26 1,11-1,85 0,47-1,05 0,89-1,79 0,006 0,086 0,181 9 ou mais 5-8 0-4 23 57 107 30,3 48,3 64,5 53 61 59 69,7 51,7 35,5 1,00 0,86 1,14 0,75-0,98 1,00-1,30 0,028 0,038 *3Naturalidade Outros estados Mato Grosso 129 56 49,8 57,1 130 42 50,2 42,9 1,00 0,99 0,99-1,00 0,963 *4Naturalidade por grandes regiões Outros estados Centro-Oeste 122 63 51,0 53,4 117 55 49,0 46,6 1,00 0,99 0,99-1,00 0,954 Tempo de residência no município (em anos) 0-19 20-39 > 40 91 76 21 46,9 55,1 67,7 103 62 10 53,1 44,9 32,3 1,00 1,10 1,35 0,88-1,38 1,01-1,80 0,379 0,039 N % N % masculino feminino 135 153 53,4 54,4 118 128 Idade 15 – 19 10 – 14 130 158 49,4 58,3 *1 branca não branca 80 207 Escolaridade (anos de estudo) 9 ou mais 5-8 0-4 Estado Nutricional (n= 524) Eutrófico Baixo peso Sobrepeso Obesidade Informações do Adolescente Sexo Cor/raça Informações do chefe da família *2Escolaridade (em anos de estudo) (n= 534) (n= 363) *1(n – perda = 533); *2(n – NR = 360); *3, 4(n – NR = 357). Sendo que, NR significa que o indivíduo não respondeu. IAN: insegurança alimentar e nutricional; SAN: segurança alimentar e nutricional; RP: razão de prevalência; IC: intervalo de confiança; p-valor: Qui-quadrado de Pearson. 100 Por meio da Tabela 13, observou-se uma relação entre a insegurança alimentar e a renda familiar per capita mensal, o tipo de construção da moradia, o tratamento da água e a participação em programas sociais do governo. Tabela 13 – Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e p-valor da situação de segurança alimentar e nutricional segundo variáveis sócio-demográficas e variáveis relacionadas aos domicílios de municípios da área de abrangência da BR163, Mato Grosso, 2007. Variáveis Categorias IAN SAN RP IC (95%) p-valor (χ2) 78,6 43,7 26,5 1,00 2,65 3,59 1,71-4,10 2,37-5,41 0,000 0,000 106 56 13 50,2 45,9 43,3 1,00 1,14 1,30 0,90-1,44 0,93-1,81 0,262 0,122 33,3 61,6 84 91 66,7 38,4 1,00 1,88 1,39-2,56 0,000 155 33 51,2 55,0 148 27 48,8 45,0 1,00 1,01 0,76-1,33 0,942 com tratamento sem tratamento 92 96 43,2 64,0 121 54 56,8 36,0 1,00 1,58 1,27-1,96 0,000 sim 102 48,6 108 51,4 1 - - não 86 56,2 67 43,8 1,15 0,92-1,43 0,193 não 134 46,0 157 54,0 1,00 - - sim 54 75,0 18 25,0 1,60 1,31-1,95 0,000 N % N % (n= 363) 1 ou mais 1 /2 < salário ≤ 1 ≤ 1/2 24 67 97 21,4 56,3 73,5 88 52 35 Nº de moradores no domicílio até 4 5-6 7 ou mais 105 66 17 49,8 54,1 56,7 Tipo de construção da moradia alvenaria acabada outro tipo 42 146 Abastecimento de água rede pública outro sistema Tratamento de água Renda familiar per capita mensal (salário mínimo) Produção de alimentos para consumo próprio Participação em programas sociais do governo IAN: insegurança alimentar e nutricional; SAN: segurança alimentar e nutricional; RP: razão de prevalência; IC: intervalo de confiança; p-valor: Qui-quadrado de Pearson. A prevalência de IAN foi de 73,5% em domicílios com renda menor ou igual a 1/2 salário mínimo, sendo que, ter uma renda familiar per capita mensal menor ou igual a 1 salário mínimo, caracteriza ser um possível fator de risco para a insegurança alimentar no domicílio (p<0,0001). 101 Em domicílios com a construção da moradia em alvenaria, no entanto, com acabamento incompleto, madeira ou material aproveitado a prevalência de IAN foi de 61,6% (IC95%=1,39-2,56). Não ter tratamento da água para beber ou cozinhar apresentou uma prevalência de 64% (IC95%=1,27-1,96) de IAN nos domicílios. Portanto, domicílios com tais características apresentaram-se como maiores fatores de risco para situação de insegurança alimentar. Para os domicílios que informaram participar de programas sociais do governo, a prevalência de IAN foi igual a 75% (IC95%=1,31-1,95). As estimativa das razões de prevalência (RP), comparadas as variáveis que se mostraram associadas à insegurança alimentar (Tabela 13), mostrou que a renda familiar per capita mensal, a participação em programas sociais do governo, o tipo de construção da moradia e o tratamento da água, foram os indicadores que melhor discriminaram as famílias em risco de insegurança alimentar. Pois, todas essas variáveis apresentaram p-valor menor que 0,0001. 5.5 RESULTADOS DA REGRESSÃO MÚLTIPLA DE POISSON A regressão múltipla de Poisson foi composta por todas as variáveis que na análise bivariada apresentaram p< 0,20 (renda familiar per capita mensal, tipo de construção da moradia, tratamento de água, produção de alimento para consumo próprio, participação em programas sociais do governo; informações dos adolescentes: cor/raça, escolaridade, estado nutricional; informações do chefe da família: escolaridade e tempo de residência no município) e a entrada das variáveis seguiu o modelo apresentado na Figura 8. Na Tabela 14 é apresentado o modelo final da análise da regressão de Poisson, com as variáveis que se mantiveram associadas de maneira estatisticamente significante à situação de insegurança (renda, produção de alimentos no domicílio para consumo próprio, tempo de residência no município e escolaridade do chefe da família). 102 Tabela 14 – Modelo final da regressão múltipla de Poisson: variáveis associadas à situação de insegurança alimentar em domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato Grosso, 2007. Variáveis Categorias RP IC (95%) p-valor (χ2) Renda familiar per capita mensal (salário mínimo) 1 ou mais 1 /2 < salário ≤ 1 ≤ 1/2 1,00 2,68 3,54 1,53-4,70 2,43-5,15 0,004 0,000 Produção de alimentos para consumo próprio sim não 1,00 1,17 1,01-1,36 0,034 Tempo de residência No município (em anos) 0-19 20-39 >40 1,00 1,08 1,33 0,90-1,29 1,08-1,63 0,313 0,012 Escolaridade do chefe (anos de estudo) 9 ou mais 5-8 0-4 1,00 1,25 1,25 1,00-1,55 0,94-1,65 0,046 0,096 Modelo Final 103 DISCUSSÃO 104 6 DISCUSSÃO Antes de discutir os resultados, é importante considerar algumas limitações deste trabalho. Por se tratar de um estudo de delineamento transversal, não foi possível identificar o tempo de exposição aos fatores de risco ou de proteção para a insegurança alimentar encontrada. Outra limitação se refere à temporalidade das observações da situação de insegurança alimentar nos domicílios (“nos últimos 3 meses”) e a disponibilidade e consumo dos alimentos (“na última semana”). Além de não existir uma escala que avaliasse a insegurança alimentar do indivíduo adolescente, somente do domicílio. No entanto, dada a multidimensionalidade da insegurança alimentar, estudos de corte transversal têm sido os mais utilizados na Epidemiologia Nutricional para investigar a situação de insegurança alimentar nos domicílios (KEPPLE, GUBERT, SEGALL-CORRÊA, 2011). Sendo que, no Brasil ainda são escassos os estudos de acompanhamento (coorte) e intervenção (experimentais) sobre a situação de IAN, especialmente nos grupos etários menores de 18 anos – crianças e adolescentes. Na literatura não foram encontrados estudos que avaliassem conjuntamente a situação de insegurança alimentar, a disponibilidade de alimentos nos domicílios, o consumo alimentar e o estado nutricional de adolescentes. Embora, estejam disponíveis resultados de pesquisas que abordam estes temas separadamente, e às vezes, um ou outro em conjunto, como por exemplo, o estudo realizado por OLIVEIRA et al. (2009) que investigou o estado nutricional e a insegurança alimentar de adolescentes e adultos em duas localidades de baixo índice de desenvolvimento humano em Pernambuco. Assim, pesquisar a situação de insegurança alimentar em municípios com características e condições diferentes, pode contribuir na identificação de experiências comuns entre os domicílios estudados, como a baixa escolaridade do chefe da família, a insuficiência de renda e as precárias condições de moradia e saneamento, sendo estes, possíveis fatores de risco para criar uma situação de IAN nos domicílios com adolescentes, o que gerou as discussões a seguir apresentadas. 105 6.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO Dos adolescentes pesquisados, observou-se um predomínio do sexo feminino (52,6%), com idade entre 10 e 14 anos - fase inicial da adolescência (50,7%), de cor não branca - preta, parda, amarela ou indígena (64,7%), com escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo (50%). Na literatura, VIEIRA et al. (2008) verificaram que 57,3% dos adolescentes entrevistados eram do sexo feminino e os resultados mostraram que na medida em que diminuía a idade, aumentava a proporção de insegurança alimentar nos domicílios, corroborando com os resultados encontrados neste estudo. A escolaridade é um fator importante na determinação da situação de segurança alimentar em que se encontram os moradores dos domicílios. No Brasil, tanto na área urbana ou rural, quanto maior o nível de escolaridade dos moradores menor a prevalência de insegurança alimentar moderada e grave. Dos 363 chefes de família, observou-se que 45,7% tinham baixa escolaridade e apenas 4,7% tinham 12 anos ou mais de estudo. Sinalizando uma semelhança com os resultados encontrados em pesquisa realizada por SALLES-COSTA et al. (2008) na Região metropolitana do Rio de Janeiro, na qual verificou-se que 52,3% dos chefes de família apresentaram escolaridade inferior a 8 anos de estudo e 22,2% tinham mais de 11 anos de estudo. Os resultados obtidos sobre a migração dos chefes da família (naturalidade e tempo de residência no município) remetem a intensa migração gerada pela construção da rodovia BR 163 na década de 70, com destaque para a presença marcante de migrantes da região sul (BRASIL, 2006b). Seguido da região CentroOeste, da qual 32,5% dos chefes de família informaram ser oriundos. De acordo com RIGOTTI (2006) houve uma diminuição na migração da região Sudeste e Sul para a região Centro-Oeste, permanecendo a migração de pessoas pertencentes aos estados vizinhos dentro da mesma região. Típico de áreas de migração, a maioria dos chefes informou residir a até 19 anos no município, mostrando uma rotatividade freqüente de pessoa que geralmente vão à procura de trabalho e melhores condições de vida para estas regiões. 106 Assim, a renda per capita mensal das famílias estudadas foi menor que dois salários mínimos em 93,1% dos domicílios, sendo que, destes 69% tinham renda menor que um salário mínimo (< R$ 380,00), semelhante ao observado por SALLES-COSTA et al. (2008) que em 73,2% dos domicílios investigados, verificou que a renda familiar per capita mensal era menor que um salário mínimo. De acordo com a POF 2008-2009, o rendimento é um dos determinantes principais na construção do orçamento familiar e segundo a PNAD-2010, quanto menor a classe de rendimento mensal domiciliar per capita, maior a proporção de domicílios em situação de IAN moderada ou grave. Das famílias pesquisadas verificou-se que 58,1% eram constituídas por até quatro membros, semelhante ao observado por SALLES-COSTA et al. (2008) em que 55,9% dos domicílios apresentaram até quatro moradores. Enquanto, VEIGA e BURLANDY (2001) verificaram que 53,8% dos domicílios tinham entre 4 e 6 moradores. Em relação às características de moradia e saneamento, a maior parte dos domicílios (65,3%) informou ter a moradia de alvenaria com acabamento incompleto, de madeira ou de material aproveitado. Este resultado foi superior ao observado no estudo sobre a insegurança alimentar de famílias da Paraíba realizado por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008), onde o percentual de domicílios com essa característica foi de 19,0%. Dos domicílios pesquisados, 57,9% informaram produzir alimentos no domicílio para consumo próprio e 19,83% participavam de programas sociais de transferência de renda do governo, como o Bolsa família ou Bolsa escola. Resultados inferiores foram obtidos na PNAD no ano de 2006 para o estado de Mato Grosso com percentual de 13,8%, sendo que na região Centro-Oeste o percentual de domicílios que receberam dinheiro de programa social do governo foi de 14,0% e 18,0%, respectivamente, nos anos de 2004 e 2006. Ao compararmos os resultados deste estudo com os da Paraíba, encontrados por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008) verificou-se que 35,3% das famílias informaram participar de programas de complementação de renda, percentual superior ao encontrado neste estudo. 107 Cabe ressaltar, ainda, que, segundo o PNAD (2006) parte considerável da população beneficiada pela transferência de renda no Brasil são crianças e adolescentes (31,6%). Dos 363 domicílios estudados, 99,4% eram atendidos pela coleta pública de lixo, percentual superior ao encontrado por SALLES-COSTA et al. (2008) e por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008), que foi igual a 89,5% e 58,5%, respectivamente. Destes domicílios, 98,6% não apresentavam rede pública de esgoto sanitário, a destinação era realizada através de fossa séptica, fossa rudimentar ou a céu aberto. Situações precárias de serviço de esgoto sanitário também foram encontradas por SALLES-COSTA et al. (2008) em 80,4% dos domicílios na região metropolitana do Rio de Janeiro, Nos domicílios estudados por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008) 71,4% eram atendido por este serviço público e VEIGA e BURLANDY (2001) verificaram que 100% dos domicílios onde viviam crianças e adolescentes não tinham cobertura de serviço de esgoto. Assim, os resultados observados neste estudo confirmam os dados encontrados na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico onde o esgotamento sanitário foi o serviço que apresentava menor presença nos municípios brasileiros (IBGE, 2002). Na região Centro-Oeste em 82,1% dos municípios não tinham esse tipo serviço, que segundo dados da PNAD 2010, para a mesma região apenas 39,2% dos domicílios eram assistidos pela rede de esgoto. De acordo com PIGNATTI (2005), a distribuição do saneamento básico não é homogênea por regiões do estado de Mato Grosso. Não há em todas as cidades um sistema de tratamento de esgoto. Além disso, o destino de lixo para a maioria das cidades é em lixões a céu aberto, com exceção de alguns municípios como Alta Floresta. Em relação ao abastecimento de água nos municípios estudados, 83,5% dos domicílios eram atendidos por meio da rede pública e 16,6% tinham outro tipo de abastecimento (poço ou nascente, carro-pipa). SALLES-COSTA et al. (2008) observaram que nos domicílios investigados 64,3% eram assistidos pela rede pública de abastecimento de água, enquanto, VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008) 108 verificaram que um percentual de 45% e 53,7% dos domicílios, respectivamente, tinham outro sistema. Apesar de 58,7% dos domicílios estudados utilizarem água tratada (fervida, clorada ou mineral) para beber ou cozinhar, um percentual considerável 41,3% consumiam água sem nenhum tipo de tratamento. Resultados semelhantes foram encontrados por VEIGA e BURLANDY (2001), no qual 39,6% das famílias com crianças e adolescentes de um assentamento do Rio de Janeiro ingeriam água sem tratamento. O abastecimento de água é uma questão essencial para as populações, a ser resolvida, pelos riscos que sua ausência ou seu fornecimento inadequado pode causar à saúde pública, como morbidades infecciosas - doenças diarréicas e verminoses (HACKETT et al., 2009; WHO, 2009; WHO, 2010a; WHO, 2010c), podendo afetar o estado nutricional principalmente de crianças e adolescentes. Nesta perspectiva, a situação de saneamento básico inadequado está ligada a uma das dimensões de mensuração da SAN - a utilização dos nutrientes, que é entendida como o efetivo aproveitamento biológico dos alimentos, sendo influenciado pelas condições de saúde das pessoas, com morbidades tanto crônicas quanto agudas e infecciosas (KEPPLE, GUBET e SEGALL-CORRÊA, 2011). 6.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR NOS DOMICÍLIOS Estudos internacionais demonstram que a escala de insegurança alimentar é um instrumento eficaz para a investigação da situação de insegurança alimentar e fome (MELGAR-QUINONEZ e HACKETT, 2008), sendo que, nos EUA é mensurada pela Escala Domiciliar de Segurança Alimentar Americana (HFSSM) e nos países da América Latina e Caribe pela Escala de Segurança Alimentar da América Latina e Caribe (ELCSA) com versões ligeiramente diferentes, pois se considera as peculiaridades de cada região (IBGE, 2010b). No Brasil, um estudo realizado inicialmente em Campinas (PÉREZESCAMILLA et al., 2004) contribuiu para a validação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (UNICAMP, 2003). 109 Após este estudo, a EBIA também foi utilizada na PNAD, o que contribuiu para a realização de pesquisas sobre a situação de insegurança alimentar nas diversas regiões do Brasil: no Amazonas em comunidades indígenas (YUYAMA et al., 2008), no Pará em comunidades quilombolas (OLIVEIRA e SILVA et al, 2008), em Mato Grosso (GUIMARÃES e LIMA-LOPES, 2005), na Bahia (PANELLI-MARTINS et al., 2008; SANTOS, 2008, 2010), na Paraíba e em Pernambuco (VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008; OLIVEIRA et al., 2009), no Rio de Janeiro e São Paulo (SALLES-COSTA et al., 2008; CARDOSO, 2010), em Porto Alegre e Pelotas (FRAGA et al., 2007; SANTOS et al., 2010). Quanto à confiabilidade e consistência interna das escalas utilizadas em pesquisas que avaliaram a situação de insegurança alimentar em diversos em países como: Venezuela (DELLOHAIN e SANJUR, 2000), México (MELGARQUIÑONEZ et al., 2005), Colômbia (ÁLVAREZ et al., 2006), Bolívia e Filipinas (MELGAR-QUIÑONEZ et al., 2006), Equador (HACKETT et al., 2007), e Costa Rica (GOZÁLEZ et al., 2008), elas foram consideradas instrumentos confiáveis para esse tipo de investigação, apresentando um Alpha de Cronbach entre 0,87 e 0,95. Nos estudos brasileiros foi obtido um Alpha de Cronbach maior que 0,85 para consistência interna da EBIA aplicada em uma população da Paraíba (VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008) e valores entre 0,91-0,93 segundo OLIVEIRA et al. (2009). Assim, neste estudo foi utilizada para a investigação da situação de insegurança alimentar nos domicílios, a EBIA. A aplicação deste instrumento nos quatro municípios da região da rodovia BR-163 – Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, mostrou uma adequada consistência interna, com Alpha de Combrach igual a 0,87, concordando este valor com a literatura citada no parágrafo anterior. Dentre as metas a serem alcançadas até 2015, estão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, com destaque para o primeiro objetivo que é a erradicação da extrema pobreza e da fome no mundo (BRASIL, 2010c). Uma maneira de investigar esta situação é avaliar a IAN dos domicílios de diferentes regiões e países. SOBRINHO (1982) em seu livro sobre a Fome, agricultura e política no Brasil escreveu: “não conhecemos dados sobre a situação alimentar em Mato 110 Grosso”. Atualmente, já existem resultados importantes de pesquisas nacionais e locais, dessa região. No entanto, efetuar pesquisas aprofundadas e que atualize as informações sobre a situação alimentar das famílias de municípios de Mato Grosso, reveste-se de grande importância. Uma vez que, fatores políticos, sociais, econômicos e culturais precisam ser considerados na análise da segurança alimentar (ADAS, 1988), pois são causas básicas da fome (VALENTE, 1986). Neste estudo, a prevalência de insegurança alimentar nos domicílios foi de 51,8% e segundo os seus níveis de severidade: 8,8% estavam em insegurança grave, 14,3% em insegurança moderada e 28,7% em insegurança leve. Sendo que, 48,2% dos domicílios foram classificados em situação de segurança alimentar e nutricional. Estes resultados são superiores aos encontrados na PNAD- 2004 e 2010 onde as prevalências de insegurança alimentar encontradas foram de 34,9% e 30,2%, respectivamente. Sendo que, em 2010 para Mato grosso a prevalência foi de 22,1% (IBGE, 2010b). Considerando os níveis de severidade da IAN, o presente estudo também apresentou valores superiores aos da PNAD-2010, na qual a prevalência nacional estimada de domicílios em situação de IAG foi de 5,0%, 6,5% de IAM e 18,7% IAL; e para o estado de Mato Grosso essas prevalências foram de 2,7%, 4,7% e 14,7%, respectivamente. Os domicílios pesquisados eram compostos por pelo menos um indivíduo na faixa etária de 10 a 19 anos. Assim, as prevalências observadas para IAG e IAM, foram inferiores as encontradas por OLIVEIRA et al. (2009), que verificaram a prevalência de 48,8% de IAG em famílias com adolescentes nesta faixa etária no município de Gameleira-PE, enquanto que, em São João do Tigre-PB a prevalência de IAM foi de 41,4%. No entanto, comparado aos valores observados na PNAD-2010, pode-se verificar que os resultados do presente estudo foram superiores aos observados nacionalmente, em que a prevalência de IAG foi igual a 2,8%, a IAM de 6,0% e 18,7% de IAL nos domicílios com pelo menos um morador de 18 anos ou menos (IBGE, 2010b). Dados semelhantes aos encontrados neste estudo para a situação de insegurança alimentar, também foram observados por SALLES-COSTA et al. 111 (2008), bem como, por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008). No primeiro estudo observou-se a prevalência de 53,8% de IAN em famílias de uma região do Rio de Janeiro, que segundo os seus níveis: 6,3% estavam em IAG, 16,1% em IAM e 31,4% em IAL. No segundo estudo verificou-se que 52,5% das famílias entrevistadas estavam em situação de IAN e a prevalência de IAG foi igual a 11,3%, a IAM de 17,6% e 23,6% foram classificados em IAL. Em estudo realizado em Pelotas, SANTOS et al. (2010) observou uma prevalência de insegurança alimentar familiar de 11%, resultado inferior ao encontrado em trabalhos anteriores e neste estudo. A alta prevalência de insegurança alimentar e nutricional encontrada nos domicílios de municípios da área de abrangência da rodovia BR-163, pode ser resultado da influência de fatores como: o acesso desigual a alimentação, habitação, educação, água e serviços de saúde (VALENTE, 1986), e também conseqüência do contexto de desigualdade mais acentuada, gerado pela localização das famílias (BURLANDY e COSTA, 2007). As famílias do presente estudo, localizavam-se na zona urbana dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, que segundo BURLANDY e COSTA (2007) mesmo no âmbito municipal, não impede que haja diferenças no acesso a bens e serviços públicos entre famílias de baixa renda. De acordo com os autores, famílias residentes nas áreas urbanas, ou em determinados bairros do município, tendem a ter mais acesso a bens e serviços, mesmo sendo tão pobres quantas outras que residem em áreas onde há menor disponibilidade destes bens. Assim, outros fatores descritos por VALENTE (1986) também se explicam a essa situação. De acordo com o autor a produção, a distribuição e consumo de todas estas mercadorias e serviços são determinados pela estrutura sócio-econômica da sociedade, incluindo sua superestrutura ideológica e política. Portanto, cabe ressaltar que em 2006, ano anterior ao da pesquisa, esses municípios sofreram as conseqüências de uma crise econômica - o desemprego, a instabilidade e preocupação com acesso e consumo de alimentos, que gerou um recuo na produção agrícola e pecuária, acarretando a diminuição de 4,6% no crescimento econômico do estado (CORECON-MT, 2007). 112 Para KEPPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) a EBIA capta a dimensão do acesso a uma alimentação de qualidade e quantidade suficientes vivida pela família, inclusive a preocupação relativa ao acesso a alimentos no futuro próximo. A freqüência observada de respostas positivas às quinze perguntas da EBIA foi semelhante a encontrada por SEGALL-CORRÊA (2007b) quando comparou a percepção de insegurança alimentar de pessoas em Brasília e Campinas. De acordo com a autora, as pessoas entrevistadas mostraram ter consciência da questão da segurança do alimento e também, de uma condição de insegurança alimentar, quando responderam as perguntas da escala. No inquérito realizado em Brasília e Campinas, com famílias que tinham crianças e adolescentes em sua composição, verificou-se que as pessoas responderam a escala da mesma forma e com a mesma consistência (PANIGASSI, 2005; LEÃO, 2005). Nesta perspectiva, o presente estudo verificou por meio de cada bloco de perguntas, os níveis de IAN, no Bloco1 – a insegurança alimentar leve (Figura 11): no Bloco 2 – a insegurança alimentar moderada (Figura 12), no Bloco 3 – a insegurança grave (Figura 13). De acordo com SEGALL-CORRÊA, (2007) na insegurança leve, o aspecto mais afetado é a qualidade da alimentação, juntamente com a preocupação de que possa faltar alimento no futuro próximo. Na insegurança moderada, começa a haver restrição quantitativa na alimentação da família. Por último, na insegurança grave, aparece deficiência quantitativa e até mesmo fome entre os membros da família. CASTRO (1995) em seu livro Vigilância Alimentar e nutricional, afirma que quatro problemas alimentares embasam a segurança alimentar: - desequilíbrios conjunturais de disponibilidade dos alimentos, relacionados com lacunas cíclicas entre produção e demanda de alimentos; - desequilíbrios estruturais de disponibilidade dos alimentos, ligados a lacunas persistentes entre produção e demanda; - desequilíbrios cíclicos e sazonais de acesso aos alimentos, devido à ocorrência de dificuldades ocasionais, que impedem determinadas famílias de satisfazerem suas demandas nutricionais básicas; e por último - restrições estruturais 113 de acesso, que se referem a uma lacuna sistemática, em determinados setores sociais, entre as necessidades nutricionais e a renda disponível para o consumo alimentar. Em estudo realizado por COATES et al. (2006), as análises confirmaram que existiam experiências comuns entre as famílias, sendo que, a quantidade insuficiente de alimentos, a qualidade alimentar inadequada, a incerteza e preocupação sobre a alimentação foram parte importante da experiência de insegurança alimentar em todas as culturas amostradas (15 países), com a peculiaridade de todos os relatos etnográficos emergirem preocupações de inaceitabilidade social. 6.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS, CONSUMO E ESTADO NUTRICIONAL DOS ADOLESCENTES Josué de Castro em Geografia da Fome (2003) escreve que promover o desenvolvimento econômico-social autêntico será antes de tudo, procurar atenuar os desníveis existentes nas diferentes regiões do país, através de uma melhor distribuição de riquezas e de um critério mais justo de investimento nessas regiões e diferentes setores das atividades econômicas do país. Segue, apontando que não é possível saltar esse fosso com um povo faminto, um povo que não disponha do mínimo essencial para suas necessidades básicas de vida: um mínimo de alimentação. A alimentação e a nutrição são imprescindíveis para a vida e a sobrevivência humana. Como necessidade básica, a alimentação é modelada pela cultura e sofre efeitos da organização da sociedade (CANESQUI e GARCIA, 2005). A nutrição consiste na ingestão e digestão dos alimentos e na absorção, metabolismo e utilização dos seus nutrientes, é um processo característico dos seres vivos e necessário para assegurar a reprodução, o crescimento, desenvolvimento e o pleno exercício das funções vitais do organismo (MS, 2004). No entanto, o ato de comer envolve ocasiões, rituais, idéias e significados, experiências que estão ligados fortemente com a seleção e escolhas dos alimentos (POULAIN e PROENÇA, 2003; CANESQUI e GARCIA, 2005) que por sua vez, dependem do acesso e da disponibilidade. 114 No presente estudo esteve disponível todos os dias nos domicílios, alimentos como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), e os adolescentes confirmaram consumí-lo diariamente. Ocorre o mesmo com o grupo das leguminosas (G2), dos açúcares e doces (G8) e dos sucos artificiais e infusões (G10). Dados semelhantes ao encontrado neste estudo foi observado por OLIVEIRA et al. (2009) em famílias dos municípios de Gameleira-PE e São João do Tigre-PB: os alimentos do grupo G1, foram os que estavam mais disponíveis entre as famílias. Segundo SANTOS et al. (2005), estes mesmos alimentos foram considerados de consumo habitual dos adolescentes estudados em Teixeira de Freitas-BA. Sabe-se que o grupo de alimentos G1 é uma importante fonte de energia para o corpo – o carboidrato complexo, e que se não estiver presente em quantidades adequadas, outros nutrientes desempenharão seu papel, prejudicando o crescimento e desenvolvimento dos indivíduos. Cabe destacar, ainda, que nesta faixa etária a atividade física pode estar presente, sendo o carboidrato, o principal nutriente para o exercício (KAZAPI et al., 2001). Os grupos G3 (carnes e ovos), G5 (frutas) e G6 (hortaliças) embora disponíveis nos domicílios, não eram consumidos diariamente, mas, de 1 a 3 vezes na semana pelos adolescentes. De acordo com o Guia Alimentar (MS, 2008) o consumo desses alimentos no Brasil é tradicionalmente baixo. No entanto, o consumo regular de uma variedade de frutas, legumes e verduras, juntamente com alimentos ricos em carboidratos pouco processados, oferece garantia contra a deficiência da maior parte de vitaminas e minerais, isoladamente ou em conjunto, aumentando a resistência às infecções (KATONA e KATONA, 2008). O presente estudo tem como limitação, os resultados do consumo alimentar expressos em frequência absoluta ou em média e não em porção ou calorias (Kcal), o que dificulta a comparação quantitativa com os estudos de disponibilidade e consumo. Ainda assim, é possível analisar que, semelhante aos dados encontrados neste estudo, LEAL et al. (2010) avaliando consumo alimentar e padrão de refeições de adolescentes de São Paulo, também verificaram um baixo consumo de frutas, verduras e legumes. 115 Em adição, LEVY-COSTA et al. (2005), em estudo sobre a disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil, verificaram que os produtos de origem animal (carnes, ovos, leite e derivados), frutas, verduras e legumes corresponderam a 18% e 2,3%, respectivamente, das calorias totais recomendadas para consumo, enquanto os alimentos básicos de origem vegetal (cereais, raízes e tubérculos e leguminosas) representaram cerca de 50%. O grupo G4 (leites e produtos lácteos) esteve disponível todos os dias nos domicílios. No entanto, os adolescentes disseram não ter consumido nenhum alimento deste grupo na semana anterior a pesquisa, concordando com estudos que apontam para a baixa ingestão de produtos lácteos (ALVES e BOOG, 2007; FRAGA et al., 2007; SANTOS et al. 2005), frutas, hortaliças, alimentos fontes de proteína e ferro, à exceção do feijão, concomitante ao elevado consumo de açúcar e gordura (GAMBARDELLA et al., 1999). Observou-se que no grupo G7 (óleos e gorduras) predominou a disponibilidade nos domicílios, embora, tenha predominado o não consumo pelos adolescentes naquela semana. Cabe destacar que, neste grupo estão alimentos como: manteiga, banha e azeite, que nem sempre estão disponíveis ou são consumidos por adolescentes nos domicílios. Assim, não ter disponível e não consumir esse grupo, refere-se a esses alimentos. De acordo com SLATER et al. (2003), quando se tem um ou mais alimento de maior disponibilidade e consumo pela população em um mesmo grupo, a presença de outros alimentos pode ser confundida, sendo necessária a análise de cada alimento que compõe o grupo. Cabe ressaltar que, na interpretação do consumo alimentar deve-se considerar as inter-relações que derivam dos padrões de comportamento dos indivíduos ou de uma população. A frequência observada de cada alimento pertencente a esse grupo, mostrou que o óleo e a margarina estiveram disponíveis nos domicílios e os adolescentes informaram ter consumido. Assim, OLIVEIRA et al. (2009) também observou que nos domicílios da Zona da Mata e Semi-árido do Nordeste, o óleo foi o alimento que apresentou maior disponibilidade entre esse grupo. Os refrigerantes (G9) apresentaram uma frequencia predominante entre 1 a 3 vezes por semana. Estudos com adolescentes na Bahia e em São Paulo observaram 116 um consumo elevado de refrigerantes e bebidas com adição de açúcar (COSTA et al., 2004; CARMO et al., 2006). De acordo com o Guia alimentar para a população brasileira: refrigerantes, bebidas industrializadas, doces e produtos de confeitaria contêm muito açúcar e favorecem o aparecimento de cáries, além de sobrepeso e obesidade, e possuem calorias vazias, ou seja, têm calorias, mas não são nutritivos (MS, 2008). De acordo com a POF-2010, 32% das famílias da Região Centro-Oeste avaliaram insuficiência de quantidade de alimentos e 50,4% declararam não consumirem sempre alimentos do tipo preferido (IBGE, 2010). É importante salientar, que na disponibilidade e consumo de alimentos o efeito do rendimento familiar é substancial (LEVY-COSTA et al., 2005). As pesquisas de orçamento familiar revelam a tendência nas mudanças dos padrões de alimentação, havendo uma crescente substituição de alimentos básicos e tradicionais na dieta, como arroz, feijão e hortaliças, por refrigerantes, biscoitos, carnes processadas e comida pronta, implicando aumento na densidade energética das refeições e padrões de alimentação capazes de comprometer a auto-regularão do balanço energético e aumentar o risco de obesidade, expressando o desequilíbrio entre ingestão e utilização de calorias (IBGE, 2010a). Ao comprometer o estado nutricional dos indivíduos, principalmente os da faixa etária estudada, esse desequilíbrio na ingestão energética, como reflexo da situação de IAN no domicílio, pode levar tanto a desnutrição, quanto ao sobrepeso e a obesidade na adolescência e na fase adulta. Na adolescência ocorre o chamado estirão do crescimento, consequentemente um aumento das necessidades nutricionais, requerendo uma dieta equilibrada, em decorrência do aumento da massa muscular, da expansão do volume sanguíneo e aumento da massa óssea (VEIGA e SICHIERI, 2007; EISENSTEIN et al., 2000). Somadas às exigências fisiológicas oriundas do período de estirão, o estágio da maturação sexual característico nessa fase da vida, também pode influenciar no estado nutricional dos adolescentes entre 10 e 14 anos (SICHIERI e ALLAM, 1996). Apesar de CONDE e MONTEIRO (2006) afirmarem que a maturação sexual dos adolescentes pode se tornar um fator complicador para a avaliação nutricional baseada no IMC para idade, método utilizado neste estudo, estes autores têm 117 considerado que, no caso brasileiro, a variação observada na fase de maturação sexual do indivíduo é pequena. Em relação ao estado nutricional, observou-se que 4,0% dos adolescentes apresentaram baixo peso, 10,5% sobrepeso, e 3,3% obesidade. Resultados semelhantes foram encontrados por OLIVEIRA et al. (2009) em estudo sobre estado nutricional e insegurança alimentar de adolescente e adultos da Paraíba e Pernambuco. Estes autores verificaram que 3,6% dos adolescentes apresentaram baixo peso, 10,0% sobrepeso e 2,4% obesidade. A Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2002-2003 mostrou que na região Centro-Oeste a prevalência foi de 4,7% para baixo peso, 10,6% sobrepeso e 2,4% obesidade para adolescentes entre 10 e 19 anos. A prevalência de sobrepeso obtida neste estudo (10,5%) foi superior a observada por ABRANTES et al. (2002) em adolescentes da região Nordeste (1,7%) e Sudeste (4,2%). A prevalência de obesidade encontrada (3,3%) foi inferior a observada pelo mesmo autor, que variou entre 6,6% e 8,4%. Dados obtidos por VEIGA e BURLANDY (2001) mostram que a prevalência de sobrepeso em adolescentes do Rio de Janeiro foi de 13,3%. ALBANO e SOUZA (2001) verificaram que, em uma escola pública de São Paulo, 5,5% dos adolescentes apresentaram baixo peso e 10,9% sobrepeso, semelhante a prevalência encontrada nos adolescentes de municípios de Mato Grosso. FERNANDES et al. (2007) observaram uma prevalência de baixo peso em 2,7% dos adolescentes de escolas do município de Presidente Prudente, prevalência menor a encontrada neste estudo. Sabe-se que em crianças maiores de 5 anos e adolescentes a freqüência do excesso de peso, que vinha aumentando modestamente até o final dos anos 80, triplicou nos últimos 20 anos, alcançando entre um quinto e um terço dos jovens (MONTEIRO, 2010; IBGE, 2010). Este fato evidencia o processo de transição nutricional que tem ocorrido de modo concomitante ou posteriormente aos processos de transição demográfica e epidemiológica (POPKIN, 2002)6. Quanto à desnutrição, análises realizadas sobre a sua tendência secular, principalmente a desnutrição infantil indicam que o excepcional declínio do 6 Anexo 6 – Estágios da transição demográfica, epidemiológica e nutricional (POPKIN, 2002). 118 problema na década de 2000 ocorreu devido a melhorias no poder aquisitivo das famílias de menor renda, na escolaridade das mães e na cobertura de serviços básicos de saúde e saneamento. Tais melhorias decorreram de várias políticas públicas, incluindo a valorização do salário mínimo e programas de transferência de renda, bem como, a universalização do ensino fundamental e a expansão da Estratégia de Saúde da Família (MONTEIRO, 2010). 6.4 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS E CONSUMO ALIMENTAR COMPARADO À SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR DOS DOMICÍLIOS A disponibilidade, o acesso e a utilização dos alimentos são alguns dos elementos básicos da segurança alimentar e nutricional (ROSE, 1999) e segundo KEPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) são seus determinantes. No nível domiciliar, a disponibilidade está ligada a proximidade aos pontos de venda e abastecimento de alimentos, bem como, a produção para auto-consumo. O acesso diz respeito à renda/estabilidade financeira e a participação em programas assistenciais. A utilização está relacionada à saúde dos moradores, às práticas de higiene, ao acesso ao saneamento e água potável, e à educação alimentar e nutricional. Tanto no nível domiciliar, quanto individual RADIMER (1992) constatou que a insegurança alimentar se revela como um processo progressivo, gerenciado por meio de táticas presentes nestes dois níveis. Inicialmente, a insegurança é sentida em nível do domicílio e depois, quando a situação piora, em nível individual. Assim, o autor apresenta quatro componentes que atuam associados a IAN, nos níveis domiciliar e individual: 1) a quantidade revelada no “esvaziamento das prateleiras” dos domicílios e refletindo o consumo insuficiente pelo indivíduo; 2) a qualidade, que demonstra a presença de alimentos não apropriados (nível domiciliar) e conteúdo nutricional inadequado dos alimentos para consumo individual; 3) o componente psicológico, relacionado ao receio ou medo de sofrer IA no futuro próximo no nível domiciliar, refletindo a falta de escolhas e a sensação de privação no nível individual; e 4) o componente social, que corresponde a 119 aquisição de alimentos de maneira socialmente inaceitável, resultando em padrões de alimentação rompidos pelos indivíduos. Observa-se que, no Brasil, não há problemas de indisponibilidade de alimentos. A quantidade de alimentos é suficiente para atender às necessidades energéticas de toda a população brasileira e essa evidência vem corroborar a tese de que os problemas relacionados à insegurança alimentar e nutricional, que atinge contingentes importantes de nossa população, são devidos à desigualdade de acesso à alimentação adequada (PESSANHA, 2004; MS, 2008). Assim, neste estudo foi investigada a disponibilidade de alimentos no nível domiciliar e observou-se que os alimentos que estiveram disponíveis todos os dias, com maior freqüência nos domicílios em IAN, foram os mesmo para os domicílios em SAN: os óleos e gorduras (G7) e pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), seguido dos grupos G3 (carnes e ovos), G10 (sucos artificiais) e G8 (açúcar e doces). Porém, verificou-se que, as freqüências foram diferentes para cada situação. Em estudo realizado por MELGAR-QUIÑONEZ et al. (2005) em Sierra de Manantlán - Jalisco, região do México, a disponibilidade de alimentos e a variedade da dieta sofreram influência da situação de insegurança alimentar encontrada nos domicílios. Embora a comparação intergrupos de alimentos tenha mostrado que as hortaliças (G6), frutas (G5) e refrigerantes (G9) foram os menos disponíveis nos domicílios em IAN e SAN; as freqüências observadas de G5 e G9 nos domicílios em SAN foram maiores que as encontradas nos domicílios em IAN. Portanto, o fato destes alimentos estarem menos disponíveis nos domicílios em IAN, possivelmente reflita no baixo consumo dos mesmos pelos adolescentes. Assim, estes resultados convergem com a pesquisa realizada por PÉREZESCAMILLA et al. (2005) na Cidade do México, na qual verificaram uma relação significativa e inversa entre a IAN e o consumo diário de frutas, verduras, carnes e produtos lácteos. Quando se observou os alimentos que compõe cada grupo, considerando a freqüência diária de disponibilidade, verificou-se que nos domicílios em IAN, houve maior disponibilidade de alimentos como: arroz, macarrão, milho e derivados (G1), 120 óleo e margarina (G7), açúcar, mel, melado, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão, chá (Grupo 10), o mesmo para os domicílios em SAN. Assim, verificou-se maior disponibilidade de alimentos densamente energéticos, que de acordo com o Guia Alimentar para a população brasileira (MS, 2008) a maior disponibilidade e consumo de alimentos com alta densidade energética, aumenta o risco de doenças, especialmente das doenças crônicas nãotransmissíveis (DCNT) – obesidade, diabetes, hipertensão (BORGES et al., 2009). Quanto à maior disponibilidade de óleo e margarina (G7) nos domicílios em IAN, o Guia Alimentar permite verificar uma tendência de aumento na disponibilidade e consumo de ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados, possivelmente em decorrência da substituição das gorduras animais pelos óleos vegetais (MS, 2008). Ainda nos domicílios em insegurança alimentar, para os grupos G3 (carnes e ovos) e G4 (leite e produtos lácteos), os alimentos que apresentaram maior freqüência de disponibilidade foram: as carnes (133) e leites (116), respectivamente. O mesmo observou-se nos domicílios em SAN, porém, nestes domicílios a freqüência desses alimentos foi maior (173) e (152). Estes resultado, sinalizam para a influência do hábito alimentar, da cultura e o fato da região estudada apresentar maior disponibilidade deste alimento, pela sua produção local. As frutas e sucos naturais de frutas (G5) estavam disponíveis com maior freqüência nos domicílios em SAN, bem como, doces (G8), os refrigerantes (G9) e os sucos industrializados (G10). Estes resultados são semelhantes ao encontrados por MELGAR-QUIÑONEZ et al. (2005), em estudo realizado na região do México, sobre a disponibilidade de alimentos nos domicílios. Os autores verificaram que a IAN esteve inversamente correlacionada com alguns dos itens do questionário de alimentos, tais como os alimentos processados, frutas e verduras. Entre os alimentos que apresentaram pouca ou nenhuma disponibilidade, nos domicílios em IAN, destacam-se: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e inhame (G1), geralmente alimentos que podem ser produzidos em hortas caseiras; embutidos - salsicha, mortadela, lingüiça, salame e presunto (G3); queijo, iogurte, coalhada, requeijão e nata (G4). Estes resultados corroboram os encontrados por 121 PANIGASSI et al. (2008), que verificaram o não consumo de embutidos nos domicílios em IAN. Assim, não ter estes alimentos disponíveis nos domicílios, pode refletir o não consumo por estas famílias. Destaca-se que, nos grupo G3 e G4 estão alimentos de custo mais elevado, o que pode explicar a não aquisição destes alimentos, e consequentemente não estarem disponíveis para consumo nos domicílios, visto que a maioria das famílias estudadas apresentou renda de até um salário mínimo. Quando comparada a disponibilidade entre os domicílios em situação de IAN e SAN: observou-se que os domicílios em IAN tiveram maior disponibilidade de alimentos como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), óleos e gorduras (G7), açúcares e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10) e leguminosas (G2); e os domicílios em SAN apresentaram maior disponibilidade de alimentos como: carnes e ovos (G3), leites e produtos lácteos (G4), frutas (G5) e hortaliças (G6), bem como, refrigerantes (G9). Resultados semelhantes aos observados neste estudo foi encontrado por PANIGASSI et al. (2008). Os autores verificaram que em Campinas-SP, as famílias em situação de SAN tinham maior tendência de consumo de alimentos como: carnes, leite e derivados, frutas, verduras/legumes, ou seja, componentes de uma dieta variada, comparada aos alimentos disponíveis nos domicílios em IAN - a presença de componentes de uma dieta monótona e densamente energética, com exceção das leguminosas. O presente estudo encontrou limitação na comparação do consumo alimentar dos adolescentes, pois na literatura são escassas as publicações sobre consumo alimentar de adolescentes quando comparada à situação de insegurança alimentar vivenciada nos domicílios. Optou-se, então, por comparar os resultados obtidos com as publicações encontradas sobre o consumo alimentar de adolescentes, porém, considerando que a situação de insegurança alimentar das famílias pode influenciar no consumo alimentar dos mesmos. Assim, no nível individual, observou-se que os itens alimentares de maior contribuição para o consumo energético diário dos adolescentes de domicílios em IAN e SAN, foram: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1) e óleos e gorduras (G7), açúcar e doces (G8), seguido dos grupos de carnes e ovos (G3), sucos artificiais e 122 infusões (G10), nos domicílios em IAN acrescentam-se as leguminosas (G2) e nos domicílios em SAN: leites e produtos lácteos (G4). Cabe destacar que, as freqüências observadas nos domicílios em IAN e SAN, apresentaram diferenças para cada grupo. Portanto, os resultados observados, tanto na disponibilidade, quanto no consumo alimentar para os domicílios em IAN, corroboram com os dados encontrado por PANIGASSI et al. (2008) sobre a insegurança alimentar intrafamiliar e o perfil do consumo de alimentos. Os autores verificaram que a maioria das famílias em IAN consumiam diariamente cereais, óleo, açúcar e feijão; e leites e produtos lácteos (G4) foram mais consumidos por famílias em SAN. Os alimentos menos consumidos pelos adolescentes de domicílios em IAN e SAN foram aqueles pertencentes aos grupos: frutas (G5), hortaliças (G6) e refrigerantes (G9), exceto o grupo de leite e produtos lácteos (G4), para os adolescentes dos domicílios em SAN, com destaque para a diferença entre as freqüências observadas nas situações de IAN e SAN. Em relação ao consumo diário dos grupos G5 (frutas) e G6 (hortaliças), as freqüências foram baixas, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN, como para os de domicílios em SAN. Dados semelhantes foram observados no estudo realizado por TORAL et al. (2006) sobre o comportamento alimentar de adolescentes de São Paulo, cujo consumo de frutas e verduras, foi inferior ao recomendado pela Pirâmide Alimentar. NEUTZLING et al. (2007) observaram que a maioria dos adolescentes de Pelotas-RS consumia uma dieta pobre em fibras (83,9 e mais de um terço deles (36,6%) consumiam dieta rica em gordura. Sabe-se que as frutas, legumes e verduras, por suas propriedades decorrentes do seu conteúdo em fibras, minerais e vitaminas, são agentes importantes na prevenção das doenças crônicas não transmissíveis. Portanto, a diminuição desses alimentos nas dietas, conforme descrito anteriormente representaria um risco potencial de maior freqüência dessas morbidades (MS, 2008). Além do grupo de óleos e gorduras (G7), os adolescentes de domicílios em IAN informaram consumir, com maior freqüência, também açúcar e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10), leguminosas (G2), hortaliças (G6) e refrigerantes (G9), comparados aos adolescentes de domicílios em SAN. De acordo com o Guia Alimentar para a população brasileira, há evidências de que o consumo de açúcares 123 tenha se deslocado para o consumo de refrigerantes, sucos e bebidas adoçadas, cuja oferta no mercado aumentou, consideravelmente, nos últimos anos. Quanto à maior freqüência observada no consumo de leguminosas e hortaliças pelos adolescentes de domicílios em IAN, as famílias podem ter sofrido a influência das iniciativas realizadas pelo governo federal quanto ao acesso à alimentação e desenvolvimento agrário, como por exemplo, o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar - PAA, o Programa Bolsa Família PBF, voltados às famílias em vulnerabilidade alimentar. Os adolescentes pertencentes aos domicílios em situação de segurança alimentar consumiram todos os dias com maior freqüência, alimentos como: pães, raízes e tubérculos (G1), leite e produtos lácteos (G4), frutas (G5), carnes e ovos (G3), sendo que neste último, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN, quanto em SAN, as freqüências de consumo estiveram próximas. Estes dados convergem com os resultados observados por PANIGASSI et al. (2008), em que a maioria das famílias em SAN informaram consumir, diariamente, alimentos construtores (carnes, leite e derivados), energéticos (pães, raízes e tubérculos) e reguladores (frutas, verduras e legumes), mas, mesmo assim, havia uma parcela considerável que não possuía o hábito de consumir frutas e derivados do leite. Considerando os alimentos que compõe cada grupo e a freqüência diária do consumo alimentar, verificou-se que os adolescentes de domicílios em situação de IAN e SAN informaram consumir com maior freqüência: arroz, macarrão, milho e derivados (G1), feijão, lentilha, ervilha e soja (G2), carne (G3), leite (G4), óleo (G7), mel, melado, açúcar, rapadura (G8) e café, chimarrão, chá (G10), sendo que, os domicílios em SAN responderam consumir margarina, componente do grupo G7. Cabe destacar, no entanto, que as freqüências observadas foram diferentes para os adolescentes de domicílios em IAN e SAN. Dados semelhantes foram encontrados no consumo alimentar de adolescentes em Teresina - PI, onde se observou maior freqüência no consumo de arroz, milho, mel, açúcar, rapadura (CARVALHO et al., 2001). Embora na literatura, o consumo de café comparado a situação de IAN, foi observado por ANTUNES et al. (2010) somente em crianças menores de três anos, é 124 importante destacar que esse consumo foi mais elevado entre crianças de famílias com situação de IAN, corroborando com a freqüência de consumo observada entre os adolescentes do presente estudo. Dados do Guia Alimentar (MS, 2008) mostram que houve crescimento de 16% na participação das gorduras vegetais, na dieta da população brasileira. Tanto o óleo de soja como a margarina apresentaram crescimento, o que converge com o consumo encontrado deste alimento em domicílios em SAN. No entanto, cabe ressaltar que, se por um lado a substituição de gorduras animais por vegetais é mais saudável, é importante estabelecer estratégias que mantenham o consumo de gorduras vegetais dentro das faixas de consumo recomendadas; bem como, manter alerta para a diminuição do consumo de gorduras hidrogenadas (trans), das quais alguns tipos de margarinas e de gorduras vegetais são representantes. Quando se observou o consumo de 1 a 3 vezes por semana (Tabela 14) os adolescentes dos domicílios em IAN informaram, consumir com maior freqüência alimentos como: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e inhame (G1), doces (G8), margarina (G7), refrigerantes (G9) e sucos industrializados (G10). Este dado sinaliza para o estado nutricional observado entre os adolescentes desses domicílios (baixo peso e obesidade). De acordo com VIEIRA et al. (2008), adolescentes em baixo peso geralmente consomem menos alimentos energéticos (pães, cereais, raízes e tubérculos), enquanto os de sobrepeso e obesidade apresentam baixo consumo de alimentos reguladores (frutas, verduras e legumes). Observa-se um consumo de alimentos densamente energéticos e em sua maioria de baixo valor nutricional A maioria dos grupos dos alimentos esteve disponível em maior freqüência nos domicílios em situação de SAN, destacando os grupos G1 (pães, cereais, raízes e tubérculos), G3 (carnes e ovos) e G7 (óleos e gorduras). Os adolescentes de domicílios em IAN consumiram em maior freqüência, os grupos de alimentos G1 (pães, cereais, raízes e tubérculos), G2 (leguminosas), G3 (carnes e ovos), G7 (óleos e gorduras), G8 (açúcar e doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), comparado aos adolescentes de domicílios em situação de SAN. Portanto, nos domicílios em situação de IAN observou-se disponibilidade e consumo dos alimentos do grupo de leguminosas (G2), quando comparado aos 125 domicílios em SAN. Este fato pode ser devido ao incentivo do governo em aumentar o consumo desse tipo de alimento (rico em proteína e ferro), uma vez que, foi observada na Pesquisa de Orçamento Familiar a diminuição da ingestão de feijão em domicílios da área urbana, e aos programas de transferência de renda como o PBF. De acordo com Chico Menezes, o PBF tem conseguido ajudar as famílias se alimentarem “de maneira mais suficiente” e de forma mais variada, mas isso não significa que elas estejam se alimentando melhor: “Elas se alimentam com maior frequência, provavelmente em maiores quantidades, e aumentou a variedade de alimentos no prato. Nesse sentido, a variedade nem sempre corresponde a uma melhor alimentação - há famílias que passaram a consumir mais frutas, verduras, legumes e carne e, ao mesmo tempo, famílias que aumentaram acentuadamente a quantidade de alimentos, mas sem uma condição nutricional mais adequada. De acordo com o autor, isso ocorre porque as famílias organizam seu cardápio com base em produtos mais baratos, e não necessariamente mais saudáveis (TORRES, 2009). A POF 2002-2003 observou que 73% das famílias brasileiras declaram algum tipo de insatisfação com o tipo de alimento que consome. Quando considerada esta avaliação para as áreas urbanas e rurais, verificou-se que 71,3% das famílias, residentes em áreas urbanas, informaram nem sempre ou raramente consumir alimentos do tipo preferido. A razão principal alegada, em todo o País, foi a insuficiência de rendimento (93% das famílias). A mesma pesquisa procurou medir se a disponibilidade de alimentos nos pontos de venda (ex.: supermercados) poderia funcionar como um limitador do consumo de produtos desejados. Os resultados mostraram que somente em alguns estados da Região Norte – Acre, Roraima e Amapá, foram registrados percentuais de famílias com esta alegação (todos abaixo de 10%). Tal resultado confirma que, tanto na disponibilidade, quanto no consumo de alimentos, estão associados também fatores culturais, hábitos e práticas alimentares. Além disso, o padrão de consumo de alimentos é fortemente influenciado por condicionantes socioeconômicos – renda, escolaridade e as condições de trabalho e habitação (DOMENE, 2011). 126 6.5 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL 6.5.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e variáveis relativas ao domicílio Os resultados da PNAD 2004 e da PNDS 2006 confirmaram que a insegurança alimentar está diretamente relacionada a outros fatores socioeconômicos e de composição da unidade domiciliar como, por exemplo, a presença de moradores menores de 18 anos de idade, o número de moradores e a renda domiciliar (IBGE, 2010b). Assim, neste estudo analisou-se a relação da situação de insegurança alimentar com informações demográficas, socioeconômicas dos adolescentes e dos chefes de família, informações relativas aos domicílios - características de moradia e saneamento; renda familiar per capita mensal, produção de alimento no domicílio para consumo próprio e a participação em programas sociais do governo. Apesar do interesse generalizado em investigar os determinantes da insegurança alimentar domiciliar, pouco se sabe sobre a situação dos jovens quanto a IAN (HADLEY et al., 2008). Os autores apresentam a dificuldade de analisar a insegurança alimentar de adolescentes, uma vez que, não existe uma escala que mensure a situação de IAN dos indivíduos, particularmente dessa faixa etária. Existe escalas que avaliam a insegurança alimentar do domicílio como a Escala Domiciliar de Segurança Alimentar Americana (HFSSM) nos EUA, a Escala de Segurança Alimentar da América Latina e Caribe (ELCSA) nos países da América Latina e Caribe que, quando aplicadas juntamente com outros indicadores (PÉREZ – ESCAMILLA, 2005; PÉREZ – ESCAMILLA e SEGALL – CORRÊA, 2008), permitem uma observação multidimensional da situação de insegurança alimentar do domicílio e dos fatores de risco para os indivíduos que o compõem (ROSE, 2008). Trata-se, então, de uma experiência vivenciada pelos indivíduos, 127 pelas famílias e até mesmo por comunidades (KEPPLE, GUBERT, SEGALLCORRÊA, 2011). No Brasil, KEPPLE e SEGALL-CORREA (2011) sugerem que a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA seja aplicada juntamente com outros indicadores da SAN, pois aplicada isoladamente não é adequada para medir a complexidade de um fenômeno multidimensional e interdisciplinar como a segurança alimentar. No presente estudo verificou-se a associação entre a cor da pele (p<0,0001), a escolaridade (p=0,002) e o estado nutricional (p=0,006) dos adolescentes com a situação de insegurança alimentar dos domicílios (Tabela 12). HADLEY et al. (2008) analisou a insegurança alimentar de adolescentes etíopes e verificou associação da IAN com o gênero, a saúde e o bem estar dos adolescentes. GULLIFORD et al. (2005) em estudo realizado com adolescentes de Trinidad e Tobago observou que o estado nutricional foi um dos fatores associados a IAN. No Brasil, OLIVEIRA et al. (2009) não observou associação significativa entre a situação de insegurança alimentar e o estado nutricional de adolescentes de duas localidades do nordeste com baixo Índice de Desenvolvimento Humano. Os adolescentes de domicílios que estavam em situação de insegurança alimentar apresentaram um nível de escolaridade inferior aqueles que pertenciam a domicílios em SAN, no primeiro caso 60,8% tinham até 4 anos de estudo, enquanto, no segundo 63,2% tinham 9 anos de estudo ou mais. Isso pode ter ocorrido devido ao maior número de adolescentes de domicílios em IAN terem apresentado idade entre 10 e 14 anos (58,3%), quando 50,6% dos adolescentes de domicílios em SAN tinham idade entre 15 e 19 anos. Quanto ao estado nutricional, apesar de 82,3% dos adolescentes de domicílios em IAN estarem com peso normal para a idade, observou-se alta prevalência de baixo peso (76,2%) e obesidade (58,8%). A prevalência de sobrepeso observada entre os adolescentes domicílios em SAN foi elevada (58,2%), apesar de 69,7% dos chefes de família destes domicílios apresentarem escolaridade de 9 anos de estudos ou mais. 128 Diversos estudos apresentam a associação entre o estado nutricional e o nível de escolaridade dos pais (VEUGELERS e FITZGERALD, 2005; LIEN et al., 2007; ARAUJO et al., 2010). No estudo de revisão sistemática realizado por CARDOSO et al. (2009) observou-se que nos países em desenvolvimento, existia uma relação direta entre o excesso de peso dos adolescentes e variáveis socioeconômicas como: a renda e a escolaridade dos pais. O número de moradores pode ser também, um indicador que possivelmente influencie na disponibilidade e consumo de alimentos, refletindo no estado nutricional do indivíduo. No presente estudo 56,7% dos domicílios em IAN tinham sete moradores ou mais e a prevalência de baixo peso em adolescentes pertencentes a esses domicílios foi de 76,2%. GOMES et al. (2009) observaram que 49,7% dos adolescentes que pertenciam a domicílios com mais de sete moradores, apresentaram baixo peso. Quanto à obesidade, GOMES et al. (2009) apresenta que os seres humanos desenvolveram mecanismos fisiológicos contra a perda de massa corporal em períodos de escassez de alimentos, mas ainda não existe nenhum mecanismo capaz de prevenir o ganho de peso na presença de alimentos abundantes e/ou inapropriados. PEÑA e BACALLAO (2002) reconhecem que deve existir uma interação entre a susceptibilidade biológica, fatores ambientais e sociais que influenciem no quadro de obesidade que a população mundial tem enfrentado. Estudos sugerem que pode haver associação entre obesidade de adolescentes e a situação sócio-econômica desprivilegiada das famílias (MATIJASEVICH et al., 2009; VIEWEG et al., 2007; GOODMAN et al., 2003), geralmente situação encontrada nos membros das famílias em insegurança alimentar. Em estudo de revisão realizado por SOUZA et al. (2007) os dados obtidos demonstraram que os principais fatores responsáveis pelo aumento da incidência de obesidade na população mais jovem foram: a pré-disposição genética, o estilo de vida moderno que ocasiona o sedentarismo, hábitos alimentares inadequados e influência da mídia no consumo de alimentos hipercalóricos. FONSECA et al. (1998) alerta que a obesidade na adolescência é uma fator preditivo da obesidade no adulto, o que retrata o processo de transição nutricional vivido no Brasil (BATISTA FILHO e RISSIN, 2003). 129 Em relação aos chefes das famílias estudadas, observou-se associação entre a insegurança alimentar, a escolaridade e o tempo de residência nos municípios (Tabela 16). No estudo realizado por SALLES-COSTA et al. (2008), em Campos Elíseos no município de Duque de Caxias –RJ, os autores também verificaram associação entre a IAN e a escolaridade do chefe da família (p=0,004). Em estudo sobre a geografia dos fluxos populacionais e os níveis de escolaridade dos migrantes, verificou-se que o fluxo migratório de mão-de-obra qualificada principalmente do estado de São Paulo para a região Centro-Oeste diminuiu e essa região tornou-se área de recepção de migrantes pertencentes a localidades ao seu entorno e com escolaridade de até 4 anos (RIGOTTI, 2006). A grande expansão urbana no Brasil, como um componente fundamental das mudanças estruturais na sociedade brasileira, ocorreu na segunda metade do século XX, entre os anos 1950 e 1970. No início do século XX, entre as cidades mais importantes estavam: Belém e Manaus, na Região Norte do país; Salvador, Recife e Fortaleza, no Nordeste; Porto Alegre e Curitiba, no Sul; e apenas Cuiabá, no CentroOeste, fugia à tendência litorânea (BRITO, 2006), destacando a construção da rodovia BR 163 que teve início no de 1970. Neste contexto, a rápida urbanização do território brasileiro não foi um processo estritamente demográfico, ela teve dimensões muito mais amplas. As cidades, além de concentrarem uma parcela crescente da população do país, converteram-se no locus privilegiado das atividades econômicas mais relevantes e transformam-se em difusoras dos novos padrões de relações sociais – incluindo as de produção – e de estilos de vida (BRITO e SOUZA, 2005). Essa enorme transformação da sociedade brasileira tinha como um dos seus principais vetores a grande expansão das migrações internas (BRITO, 2006). No presente estudo, observou-se também a associação entre a insegurança alimentar e a renda familiar per capita mensal, o tipo de construção da moradia, o tratamento da água e a participação em programas sociais do governo, com p-valor menor que 0,0001 para todas essas variáveis. Estudos realizados no Brasil observaram associação com a renda familiar (SANTOS et al., 2010; VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008; SALLES-COSTA et al., 2008). Dos 132 domicílios com renda familiar per capita mensal de até 1/2 130 salário mínimo, observou-se que 73,5% estavam em IAN. Sendo que, ter uma renda familiar per capita mensal menor ou igual a 1 salário mínimo apresentou ser um possível fator de risco para a insegurança alimentar no domicílio (IC=1,71-4,10). Entre os domicílios que informaram participar de programas sociais do governo verificou-se que a insegurança alimentar esteve presente em 75% dos domicílios. Assim, pode-se confirmar por este resultado que essas famílias em vulnerabilidade de IAN estão participando do programa que a elas foi destinado. No estudo sobre transferência condicionada de renda e segurança alimentar BURLANDY (2007) mostra que, comparado a outros tipos de programa, a transferência condicionada de renda apresenta vários aspectos positivos, tais como o fortalecimento da economia local, os baixos custos operacionais (que se situam em torno de 5 a 10% dos custos totais dos programas), a autonomia dos usuários na utilização dos recursos, dentre outros. Por outro lado, BURLANDY (2007) apresenta que alguns desafios são colocados, como por exemplo, os riscos de que os recursos transferidos em forma monetária sofram a perda com inflação, as diferenças no custo de vida, no preço de venda dos alimentos, o montante transferido pode ser baixo, além das características das famílias, incluindo o número de pessoas que vivem no domicílio. Atualmente, os maiores programas de transferência de renda brasileiros são o Programa Bolsa-Família (PBF) e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O PBF é um programa que faz uma transferência incondicional de renda para as famílias extremamente pobres, e transferências condicionais para famílias pobres ou extremamente pobres que tenham em sua composição crianças e jovens de até 18 anos de idade, gestantes e nutrizes (BRASIL, 2010c). Implantado em 2004, o PBF unificou os programas já existentes na época: Auxílio-Gás, Bolsa-Alimentação, Bolsa-Escola e Cartão-Alimentação. Por esta razão, quando entrevistados sobre o tipo de transferência de renda recebida, os informantes podem ter declarado ser beneficiários de programas não mais vigentes, nos quais, anteriormente, haviam sido cadastrados (SEGALL-CORRÊA et al., 2008). É relevante destacar, que a promoção do acesso à rede de serviços públicos, o combate à fome, a promoção da segurança alimentar e nutricional e o estímulo à emancipação das famílias pobres estavam entre os objetivos básicos do PBF, de 131 acordo com o decreto 5.209, que regulamentou o programa em 2004 (TORRES, 2009). Em estudo realizado por SEGALL-CORRÊA et al. (2008) sobre transferência de renda e segurança alimentar no Brasil, os autores observaram que a situação de IAN foi mais freqüente nos domicílios que algum morador era beneficiário de programas de transferência de renda. Além disso, os resultados obtidos indicaram associação positiva da transferência de renda, com a segurança alimentar, independente do efeito de outras condições. Os autores apontaram que residir em áreas urbanas aumenta a chance de insegurança alimentar, pois o custo dos itens não alimentares, possivelmente, compete com outras necessidades básicas das famílias, comparado as famílias de áreas rurais. Cabe ressaltar que, os municípios analisados neste estudo, apresentam características culturais, econômicas, de produção e localização diferentes, sendo necessário observar o que SEGALL-CORRÊA et al. (2008) ressaltam, que o impacto relativo de um mesmo valor de transferência de renda será diferente conforme a realidade local. Sobre as condições de moradia e saneamento, a prevalência de IAN em domicílios com outro tipo de construção da moradia - alvenaria com acabamento incompleto, madeira ou material aproveitado foi de 61,6% (IC=1,39-2,56) e 64% (IC=1,27-1,96) para aqueles que responderam não ter tratamento da água para beber ou cozinhar. Resultados semelhantes foram observados por VIANNA e SEGALLCORRÊA (2008) quanto à prevalência de outro tipo da construção de moradia em 70,7% dos domicílios investigados no estado da Paraíba; e SALLES-COSTA et al. (2008) que verificou em 63,6% dos domicílios na região metropolitana do Rio de Janeiro, a ausência de filtro para tratamento da água (p=0,003). Segundo KEPPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) a situação de segurança é fortemente determinada pelas condições sociais e econômicas as quais as pessoas, as comunidades e mesmo os países são submetidos. Assim as estimativa das razões de prevalência (RP), comparadas as variáveis que se mostraram associadas à insegurança alimentar, mostrou que a renda familiar 132 per capita mensal, a participação em programas sociais do governo, o tipo de construção da moradia e o tratamento da água foram os indicadores que melhor discriminaram as famílias em risco de insegurança alimentar (p-valor < 0,0001) na análise bivariada. Após a análise de regressão múltipla de Poisson, verificou-se que a renda familiar per capita mensal, a produção de alimentos no domicílio para consumo próprio, o tempo de residência no município e a escolaridade do chefe da família mantiveram-se associadas à situação de insegurança alimentar (Tabela 14). O estudo piloto realizado por CIRINO et al. (2010), sobre a situação de segurança alimentar domiciliar, na comunidade Campo da Tuca –RS, permitiu verificar, após análise da regressão múltipla de Poisson, que a renda familiar esteve associada a situação de IAN (p=0,046). 133 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES 134 7 CONCLUSÕES / RECOMENDAÇÕES 7.1 CONCLUSÕES Neste estudo conclui-se que: Houve alta prevalência (51,8%) de insegurança alimentar nos domicílios com adolescentes nos municípios estudados e segundo os seus níveis de severidade: 8,8% estavam em insegurança grave, 14,3% em insegurança moderada e 28,7% em insegurança leve. Mais da metade dos adolescentes dos municípios estudadas eram do sexo feminino (52,6%), com idade entre 10 e 14 anos (50,7%), de cor não branca (64,7%) e tinham escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo (50%). Os chefes de família apresentaram baixa escolaridade (78,2% tinham menos de 8 anos de estudo) e em sua maioria havia migrado de outros estados e residiam há menos de 20anos nos municípios. Em 93,1% das famílias foi verificada baixa renda (menor que dois salários mínimos per capita mensal). Apesar de 99,4% dos domicílios serem atendidos pela coleta pública de lixo, 83,5% ter abastecimento de água atendido por meio da rede pública, cabe destacar que, as condições de moradia e saneamento eram insuficientes, pois: 65,3% dos domicílios era alvenaria com acabamento incompleto, de madeira ou de material aproveitado; 98,6% não apresentavam rede pública de esgoto sanitário; e ainda que, 58,7% utilizavam água tratada (fervida, clorada ou mineral) para beber ou cozinhar, um percentual considerável (41,3%) consumiam água sem nenhum tipo de tratamento. Dos domicílios pesquisados, 57,9% famílias produziam alimentos para consumo próprio e 19,83% participavam de programas sociais de transferência de renda do governo, como o Bolsa família. 135 Quando comparada a disponibilidade e o consumo de alimentos em relação a situação de segurança alimentar das famílias, nos domicílios em IAN houve maior disponibilidade de alimentos energéticos (pães, cereais, raízes e tubérculos, óleos e gorduras, açúcar e doces) e leguminosas; e os adolescentes destes domicílios informaram consumir diarimente em maior frequência alimentos como: leguminosas, hortaliças, óleos e gorduras, açúcar e doces, refrigerantes, sucos e infusões. Embora leite e produtos lácteos, frutas e hortaliças estivessem disponíveis nos domicícilios, os resultados alertam para o baixo consumo desses alimentos, identificado entre os adolescentes. Destaca-se a elevada prevalência de sobrepeso entre os adolescentes, superior as encontradas em outras regiões brasileiras, como Sudeste e Nordeste, apontando para um possível risco nutricional. A situação de insegurança alimentar pode ser verificada como resultado da interação de uma multiplicidade de variáveis socioeconômicas, nutricionais, variáveis relacionadas ao domicílio e a migração, sendo que, permaneceram associadas: a renda familiar per capita mensal, a produção de alimentos no domicílio, o tempo de residência no município e a escolaridade do chefe da família. 7.2 RECOMENDAÇÕES Diante destas conclusões, recomenda-se a expansão de políticas públicas de saneamento básico e de qualificação de recursos humanos, visando à geração de emprego e renda para população. Importante, também, a criação ou o fortalecimento de programas de incentivo às feiras livres de abastecimento de alimentos, de criação de hortas domésticas e comunitárias, que contribuam para a disponibilidade e acesso a legumes, frutas e verduras. A realização de ações educativas que contribuam para o acesso à informação sobre insegurança alimentar e alimentação saudável, tanto no nível domiciliar, quanto no nível individual. Tais medidas, sinalizam e estimulam o conhecimento da população sobre o conceito e significado da insegurança alimentar, 136 bem como, o acesso aos mecanismos sociais, programas e serviços disponíveis à população, para a diminuição e o combate a desigualdade social. Este estudo aponta também, para a necessária intervenção nutricional na população, com atividades de educação visando a escolha e consumo dos alimentos, bem como, a avaliação continuada das ações, resultados e idéias dos programas de alimentação e nutrição desenvolvidos nesses municípios. De modo que se tenha bases para uma reinterpretação dos resultados e um ajustamento da orientação dos programas realizados para a população. Desta forma, são necessários investimentos no sentido de manter políticas de alimentação e nutrição, que visem melhorar os padrões nutricionais tanto domiciliar, quanto individual, não somente como bases humanitárias e de bem-estar social, mas também como estimulantes para o crescimento econômico, para o aumento da eficiência e melhoria da utilização de recursos em saúde e educação nessa região. 137 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 138 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRANDH - Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos humanos [homepage na internet]. Brasília; 2010. [atualizado em 30 maio 2010; acesso em 30 maio 2010]. Disponível em: http://www.abrandh.org.br/artigos.html Abrantes MM, Lamounier JÁ, Colosimo EA. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes das regiões Sudeste e Nordeste. Jornal de Pediatria. 2002;78:335-340. Adas M. 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Município Total Alta Floresta Diamantino Sinop Sorriso Total 47236 20198 99121 48325 214880 Fonte: IBGE – Censos Demográficos e Contagem Populacional; para os anos intercensitários, estimas preliminares dos totais populacionais, estratificado por idade pelo MS/SE/DATASUS, 2005. Considerando-se que as estimativas da pesquisa são prevalências, determinou-se o tamanho da amostra pela utilização da seguinte expressão (BOLFARINE e BUSSAB, 2005; SCHEAFFER et al., 1987; LEVY e LEMESHOW, 2008): n Np 1 p 2 N 1 d2 p1 p z / 2 onde, n = tamanho aproximado da amostra; N = nº de unidades na população em cada município; p = proporção populacional por município; d = limite para o erro de estimação; (1) 164 z2 / 2 = obtido da tabela da distribuição normal padronizada, o qual representa o nível confiança. O tamanho da amostra em cada município, considerando o nível de confiança de 95%, isto é, z α/2 = 1,96 e uma proporção de 50% (p=0,5), com um erro de estimação de 3,5% (d=0,035), é apresentado no Quadro 2 , obtendo-se um número total de 3075indivíduos. Quadro 2 – Número de indivíduos (amostra) em cada município, Mato Grosso, 2006. Município Total Alta Floresta 771 Diamantino 755 Sinop 778 Sorriso 771 Total 3075 Considerando-se que os indivíduos são identificados no espaço geográfico por meio de seus domicílios, para cada município foi determinado o número de domicílios a serem sorteados no projeto matriz. Assim, o número total de domicílios a serem entrevistados em cada município foi obtido dividindo-se o número de indivíduos da amostra pelo número médio de moradores por domicílio (IBGE, 2005), conforme apresentado na tabela a seguir. Tabela 1 – Número total de domicílios a serem considerados na pesquisa, segundo municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006. Nº de Média de moradores por Nº total de indivíduos domicílio domicílios Alta Floresta 771 3,70 210 Diamantino 755 3,81 200 Sinop 778 3,81 205 Sorriso 771 3,73 210 Total 3075 Municípios 825 165 Considerando possíveis perdas na etapa de coleta de dados, estipulou-se um acréscimo de 20% no número total de domicílios, acarretando assim, um aumento de 165 domicílios conforme apresentado na Tabela 2. Tabela 2 – Número total de domicílios corrigidos com acréscimo de 20%, de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006. Municípios Nº total de domicílios Acréscimo Nº total de domicílios (20%) corrigidos Alta Floresta 210 42 252 Diamantino 200 40 240 Sinop 205 41 246 Sorriso 210 42 252 Total 825 165 990 Para definição dos conglomerados (setores), foi utilizada a grade de setores censitários do Censo Populacional Brasileiro do ano 2000, realizado pelo IBGE e considerou-se a distribuição dos setores existentes em cada município, de acordo com o número de domicílios por setor, conforme procedimento do IBGE (IBGE, 2005). Este procedimento de distribuição de setores do IBGE considera uma classificação com três categorias: setores com 200 domicílios ou mais; setores com 100 ou menos de 200 domicílios; e setores com menos de 100 domicílios. Assim, considerando esta classificação e o total de setores, foram selecionados cerca de 50% dos setores censitários, com o propósito de minimizar o custo e tempo da pesquisa, conforme apresentado na Tabela 3. Cabe destacar que, para o sorteio aletório dos setores definidos na Tabela 3 em cada município foi utilizando o pacote estatístico MINITAB versão 15.0. Visando a obtenção de um cadastro atualizado para proceder à seleção dos domicílios ocupados, foram realizadas visitas in locu para certificar a existência e ocupação dos setores sorteados e os seus respectivos domicílios. 166 Tabela 3 – Distribuição do número de setores censitários selecionados, segundo o número de domicílios por setor, de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006. Nº de domicílios por setor Nº de setores censitários Alta Floresta Diamantino Sinop Sorriso Total ≥200 domicílios 11 7 26 12 56 100≤ domicílios<200 8 3 5 4 20 <100 domicílios 1 2 0 4 7 Total 20 12 31 20 83 Com base na listagem de todos os setores e com os respectivos números de domicílios atualizados, a determinação do número de domicílios estimado em cada setor (ndecs) foi feita multiplicando o número de domicílios no setor (nds), pelo número estimado de domicílios na amostra (nedena) e dividido pelo total de domicílios ocupados em todos os setores do município (tdotsm). Por exemplo, no setor 3 de Alta Floresta, o número de domicílios no setor é de 187, o número estimado de domicílios na amostra é de 252 e o número total de domicílios ocupados em todos os setores do município é 4901. Isto é, ndecs nds nedena 187 252 47124 9,6 10 domicílios tdotsm 4901 4901 (2) O sorteio aleatório dos domicílios por setor para cada município, foi realizado considerando a relação com todos os setores sorteados em cada município e o total de domicílios a serem sorteados por setor, sendo que, respeitou-se a proporção do número de domicílios em cada setor e foi utilizando o pacote estatístico MINITAB versão 15.0 (MINITAB, 2007). Para que o tamanho da amostra em cada município atingisse o número mínimo determinado, estabeleceu-se que na coleta de dados após três visitas sem sucesso de realização da entrevista ou no caso de não existir uma pessoa capacitada 167 para responder o questionário no domicílio sorteado. O mesmo seria substituído pelo domicílio particular seguinte à direita, ou seja, o domicílio localizado a direita do domicílio de referência, não a direita do entrevistador (a). Não existindo domicílios à direita, considerou-se o próximo domicílio da quadra, a direita do domicílio de referência. 1.2 SELEÇÃO E TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES E ESTUDO PILOTO 1.2.1 Seleção e Treinamento dos entrevistadores No projeto matriz, os entrevistadores foram selecionadas e posteriormente treinados para realização das entrevistas domiciliares. O treinamento dos entrevistadores teve como finalidade padronizar os procedimentos de obtenção das informações (preenchimento do questionário e ficha antropométrica) e o modo de formulação das perguntas. O treinamento incluiu a apresentação dos objetivos e importância do estudo, esclarecimentos sobre as técnicas de abordagem domiciliar e de entrevistas, e também a relevância do sigilo das informações obtidas. Os entrevistadores foram compostos por duplas de profissionais nutricionistas previamente treinados em Cuiabá no período de 7 a 12 de dezembro de 2006, no Instituto de Saúde Coletiva/UFMT, com a carga horária teórico-prática de 35 horas, submetidos posteriormente à uma supervisão de trabalho de campo. Para melhor fixação dos conteúdos ministrados, ao final do treinamento os entrevistadores aplicaram os questionários entre si, bem como, praticaram a aferição de medidas antropométricas. Além disso, antes do início da coleta de dados, os nutricionistas realizaram entrevistas em domicílios vizinhos à sua residência. Os 168 entrevistadores tiveram disponível o Manual do Entrevistador com as orientações sobre como proceder em cada item da entrevista. Em cada município estudado também foram realizados seleção e treinamento com auxiliares de pesquisa de ambos os sexos (feminino e masculino). Para seleção dos auxiliares de pesquisa os aspectos avaliados foram: - Comportamento e habilidades (raciocínio lógico/coerência; iniciativa/bom senso; capacidade de decisão; criatividade; resposabilidade); - Características pessoais (postura física; aparência; voz - dicção/entonação; clareza/objetividade; tranquilidade; pontualidade). Em Sinop foram selecionados 13 auxiliares, no período de 29 de janeiro a 9 de fevereiro de 2007, no Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de Mato Grosso – CEPROTEC/MT. No município de Alta Floresta, foram selecionados 7 auxiliares. O treinamento foi realizado no Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de Mato Grosso - CEPROTEC/MT, no período de 16 a 18 de maio de 2007. Em Sorriso foi selecionada apenas uma auxiliar. O treinamento foi realizado, nos dias 11 e 12 de julho de 2007. No município de Diamantino foi selecionado uma entrevistadora estudante de Educação Física da União de Ensino de Diamantino (UNED). O treinamento foi realizado nos dias 4 e 5 de setembro de 2007. As duplas de entrevistadores foram formadas por uma nutricionista e por uma técnica em enfermagem. A supervisora do trabalho de campo também era nutricionista. A seleção dos auxiliares de pesquisa foi realizada por meio de entrevista e análise de currículo realizada pela coordenação do projeto de pesquisa. 169 1.2.2 Estudo Piloto O estudo piloto foi realizado nos dias 18 e 19 de dezembro de 2006, com o objetivo de verificar e aprimorar a habilidade dos auxiliares de pesquisa em aplicar os questionários, testar e adequar os questionários, fichas, manual e outros procedimentos propostos. Cada entrevistador realizou entrevistas com cinco famílias residentes em três bairros do município de Cuiabá: Jardim Amperco, Novo Tempo e Jardim Imperial. Os dois primeiros eram campos de estágio dos alunos do Curso de Graduação em Nutrição da UFMT e o último foi escolhido por apresentar nível socioeconômico diferente dos outros. Após a realização do estudo piloto houve a reformulação de algumas questões e também reestruturação da sequência das questões que faziam parte dos questionários. 1.3 TRABALHO DE CAMPO 1.3.1 Coleta de dados Inicialmente, foi mantido contato com os Secretários de Saúde dos Municípios, por intermédio da Secretaria de Estado de Saúde - SES/MT, para apresentação, discussão do projeto de investigação e assinatura da Carta de Anuência pelo gestor de saúde do município. A coordenação da pesquisa esteve em cada município no início da investigação, apresentando os supervisores de campo e definindo o apoio logístico dos gestores municipais para o melhor andamento do trabalho de campo. 170 A divulgação da pesquisa para a população de cada município foi feita por meio de televisão, rádio, jornal impresso e cartazes fixados em escolas, creches e unidades básicas de saúde. O trabalho de campo foi realizado nos domicílios conforme consentimento dos responsáveis, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Anexo 2). A coleta de dados foi realizada no período de fevereiro a outubro de 2007. As informações relativas às variáveis do estudo foram registradas em um questionário previamente estruturado, codificado e testado, contendo módulos específicos para cada faixa etária. Na aplicação dos módulos constituintes do questionário foram investigadas informações demográficas, socioeconômicas, condições de moradia e saneamento, de segurança alimentar e medidas antropométricas. Os entrevistadores e auxiliares de pesquisa foram identificados com uniformes, crachás e carta de apresentação assinada pela coordenação do projeto. 1.3.2 Entrevista As entrevistas foram realizadas utilizando formulários pré-codificados, por uma dupla de entrevistadores composta por um profissional nutricionista e um auxiliar de pesquisa de nível médio, técnico ou superior incompleto. As entrevistas ocorreram no domicílio com todos os membros que deram consentimento para participar da pesquisa. Após o estudo piloto, os questionários utilizados na investigação resultaram em um instrumento subdivido em nove módulos: 1) Informações sobre o domicílio, família e segurança alimentar; 2) Informações sobre morbidade referida e uso de serviço de saúde; 3) Informações sobre consumo alimentar; 4) Informações sobre crianças menores de 12 meses; 5) Informações sobre crianças de 12 a 24 meses incompletos; 6) Informações sobre crianças de 2 a 4 anos; 7) Informações sobre 171 estilo de vida e antropometria de crianças de 5 a 9 anos; 8) Informações sobre estilo de vida, antropometria e pressão arterial de adolescentes de 10 a 14 anos; 9) Informações sobre estilo de vida, antropometria e pressão arterial de adolescentes maiores de 14 anos. Para a construção destes questionários, foram utilizados os modelos da pesquisa: Avaliação da insegurança alimentar de famílias residentes no estado da Paraíba, realizada em 2005, pelo Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba; o Inquérito de Saúde no Estado de São Paulo: Estudo multicêntrico – ISA/SP, coordenado pela USP, UNICAMP, UNESP e SES/SP; e também a Pesquisa sobre saúde e consumo alimentar em Duque de Caxias, realizada em 2005: Avaliação do estado nutricional, hábitos alimentares e insegurança alimentar no município de Duque de Caxias, RJ. 172 ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 173 ANEXO 3 - TERMO DE APROVAÇÃO ÉTICA DO PROJETO DE PESQUISA 174 ANEXO 4 - ESCALA BRASILEIRA DE INSEGURANÇA ALIMENTAR – EBIA (2004) 1. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve a preocupação que a comida acabasse antes que pudesse comprar mais comida? 2. Nos últimos 3 meses, a comida acabou antes que o a(o) Sra. (Sr.) tivesse dinheiro a para compra mais? 3. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ficou sem dinheiro para ter uma ter uma alimentação saudável e variada? 4. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve que se arranjar com apenas alguns alimentos para sua(s)/ adolescente(s), menores de 18 anos, porque o dinheiro acabou? 5. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) não pôde oferecer à(s) criança(s)/adolescente(s), menores de 18 anos, uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro? 6. Nos últimos 3 meses, a(s) criança(s)/o(s) adolescente(s), menores de 18 anos, não comeu (comeram) quantidade suficiente porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida? 7. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou algum adulto em sua casa diminuiu, alguma vez, a quantidade de alimentos nas refeições ou pularam refeições, porque não havia dinheiro suficiente para comprar a comida? 8. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez comeu menos do que achou que devia porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida? 9. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez sentiu fome mas não comeu porque não podia comprar comida suficiente? 10. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) perdeu peso porque não tinha dinheiro suficiente para comprar comida? 11. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou qualquer outro adulto em sua casa ficou, alguma vez, um dia inteiro sem comer ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não havia dinheiro para comprar comida? 12. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez diminuiu a quantidade de alimentos das refeições de sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida? 13. Nos últimos 3 meses, alguma vez, a (o) Sra. (Sr.) teve que deixar de fazer uma refeição da(s) sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não havia dinheiro para comprar comida? 14. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, teve (tiveram) fome, mas a(o) Sra. (Sr.) simplesmente não podia comprar mais comida? 15. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, ficou (ficaram) sem comer por um dia inteiro porque não havia dinheiro para comprar comida? Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006). 175 ANEXO 5 - ESCALA BRASILEIRA DE INSEGURANÇA ALIMENTAR – EBIA (2010) 1. Nos últimos 3 meses, os moradores deste domicílio tiveram a preocupação de que a comida acabasse antes que tivessem dinheiro para comprar mais comida? 2. Nos últimos 3 meses, os alimentos acabaram antes que os moradores desse domicílio tivessem dinheiro para comprar mais comida? 3. Nos últimos 3 meses, os moradores desse domicílio ficaram sem dinheiro para ter uma uma alimentação saudável e variada? 4. Nos últimos 3 meses, os moradores desse domicílio comeram apenas alguns poucos tipos de alimentos que ainda tinham, porque o dinheiro acabou? 5. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade deixou de fazer alguma refeição porque não havia dinheiro para comprar a comida? 6. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade comeu menos do que achou que devia, porque não havia dinheiro para comprar comida? 7. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade sentiu fome, mas não comeu, porque não tinha dinheiro para comprar comida? 8. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade ficou um dia inteiro sem comer ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não tinha dinheiro para comprar a comida? 9. Nos últimos 3 meses, os moradores com menos de 18 anos de idade não puderam ter uma alimentação saudável e variada, porque não havia dinheiro para comprar comida? 10. Nos últimos 3 meses, os moradores menores de 18 anos de idade comeram apenas alguns poucos tipos de alimentos que ainda havia neste domicílio, porque o dinheiro acabou? 11. Nos últimos 3 meses, algum morador com menos de 18 anos de idade comeu menos do que você achou que devia, porque não havia dinheiro para comprar a comida? 12. Nos últimos 3 meses, foi diminuída a quantidade de alimentos das refeições de algum morador com menos de 18 anos de idade, porque não havia dinheiro suficiente para comprar a comida? 13. Nos últimos 3 meses, alguma morador com menos de 18 anos de idade deixou de fazer alguma refeição, porque não havia dinheiro para comprar a comida? 14. Nos últimos 3 meses, algum morador com menos de 18 anos de idade sentiu fome, mas não comeu porque não havia dinheiro para comprar mais comida? Fonte: PNAD 2010 (IBGE, 2010). Pontuação para classificação dos domicílios com e sem menores 18 anos de idade Classificação Segurança Alimentar Insegurança Alimentar leve Insegurança Alimentar moderada Insegurança Alimentar grave Fonte: PNAD 2010 (IBGE, 2010). Pontos de corte para domicílios Sem menores de 18 anos Com menores de 18 anos 0 0 1-5 1-3 6-9 4-5 10 - 14 6-8 176 ANEXO 6 - ESTÁGIOS DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA, EPIDEMIOLÓGICA E NUTRICIONAL. Fonte: POPKIN, 2002.