GT06: Desigualdade e estratificação social Determinantes Sociais da Primeira Infância: um estudo sobre a família e a transmissão de desigualdades sociais na primeira infância em Minas Gerais Estudos relativos as mudanças populacionais no Brasil demonstram que há uma crescente preocupação legítima com a futura redução da PEA (população economicamente ativa)e o futuro das crianças e jovens. Tais mudanças demográficas foram acompanhadas de mudanças econômicas e sociais, que tiveram proporcional impacto na população e tem alterado a estrutura da sociedade brasileira em poucas décadas. Tais mudanças incluem o processo de urbanização; a industrialização; aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho; a expansão da educação e outras mudanças que alteraram as relações sociais, inclusive espacialmente, dentro e fora da instituição familiar. Este trabalho busca caracterizar situação da primeira infância (0 a 6 anos de vida) no estado de Minas Gerais a partir dos dados referentes às famílias destas crianças e as possibilidades da transmissão de desigualdades a partir deste ambiente1. A criança de hoje já assiste mudanças profundas nos arranjos familiares, como o aumento das residências com famílias monoparentais, convivência com mais de duas gerações de adultos e outros tipos de arranjos familiares, assim como mudanças culturais e sociais da população brasileira, que indubitavelmente alterarão a visão de mundo destes jovens. Segundo HASENBALG (2003), as desigualdades sociais resultam em condições de socialização diferenciadas, e essas experiências nos primeiros anos de vida são fortes determinantes da trajetória de vida dos indivíduos. Tendo em vista a importância da primeira infância, tanto em si quanto por ser um determinante da vida adulta. A abordagem principal deste trabalho terá três ordens relevantes consideradas pela literatura, que as famílias/domicílios podem dispor e que impactam o crescimento saudável com oportunidades de melhoria social para as crianças. São eles: - O Capital Social, abordado por Coleman, e que se refere, entre outros aspectos, à qualidade dos serviços oferecidos pelo domicílio; - O Capital Cultural, que será inferido através da escolaridade das crianças e dos seus pais; - O Capital Econômico, normalmente medido pela renda familiar. 1 Para tal objetivo serão utilizados dados da Pesquisa de Amostra de Domicílios (PAD) realizada pela Fundação João Pinheiro em 2009. Será apresentada uma classificação destes domicílios, segundo um critério que tenha como foco os aspectos da organização familiar, pois se mostra importante na medida em que a teoria do Capital Social não toma como referência indivíduos isolados, mas localizados em núcleos familiares. A forma desses núcleos, ou arranjos, influencia a forma como os recursos, financeiros e/ou não-financeiros, serão distribuídos. Daí a importância para a naálise que se segue em conhecer como se dão tais arranjos familiares. De acordo com MEDEIROS2 (2000), este conhecimento pode auxiliar os gestoresde políticas públicas pois: a) as relações entre membros da família podem ter implicações que geram externalidades positivas ou negativas à sociedade; b) as características das famílias podem ser usadas como critérios de focalização; c) as famílias podem ser usadas para conceber, executar ou controlar programas; e d) as políticas sociais podem afetar e ter seus objetivos afetados pelas diferentes formas de organização familiar. (MEDEIROS, 2000, pp. 47 e 48) Tende isto em vista será constatado e analisado neste trabalho que em Minas Gerais, ainda predomina o arranjo domiciliar dos “Casais com Filhos”, superando 50% do total dos domicílios com crianças e adolescentes. Verificou-se, segundo os dados apresentados, que os domicílios de “Mães com Filhos” são os de maior fragilidade. Apesar do aumento da sua participação nos últimos anos, tanto em termos relativos quanto em absolutos, ainda há muitos fatores que contribuem para situações de risco social. Provavelmente esta tendência é reforçada do ponto de vista cultural, tendo em vista que a mulher ainda é vista como responsável pelos familiares que tem necessidade de algum cuidado diferencial ou os que participam menos da economia doméstica, como crianças e idosos. Este aspecto tende a influenciar tanto nos casos de separação, quando a mãe costuma ficar com os filhos, quanto no caso de adiamento da saída da residência dos pais, tendência reforçada nos casos de mulheres solteiras. Domicílios com a presença de outros parentes além dos pais e filhos, apresentaram realidades heterogêneas, mas em sua maioria também apresentam características que reforçam a situação de desigualdade, como baixas escolaridade do responsável e renda. Foram constatadas, as desigualdades sociais, econômicas e educacionais as quais estas crianças estão sujeitas nos primeiros anos de vida, tendo forte influência nas suas trajetórias de vida futuras e com grandes chances de terem essas desigualdades transmitidas. Neste sentido, as análises que serão apresentadas têm como intuito subsidiar futuras análises sobre a situação da população jovem de Minas Gerais distribuída de forma espacial entre as dez regiões de planejamento, tendo com referência seus domicílios, a fim de favorecer políticas públicas para a infância, levando em conta um importante aspecto da realidade destes jovens que são as condições familiares. 2 Técnico da Diretoria de Estudos Sociais do IPEA