82 ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE DIFERENTES MÉTODOS DE COLETA PARA O GÊNERO Pambolus HALIDAY, 1836 (HYMENOPTERA, BRACONIDAE, HORMIINAE) EM REMANESCENTES DA MATA ATLÂNTICA OMBRÓFILA DENSA DO BRASIL . Melo, I. F.1; Penteado-Dias, A. M.1; Souza, C. S.1; Pereira,A. G.1;Shimbori,E. M.1 1 Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Rodovia Washington Luís, km 235 - SP-310, CEP 13565-905, São Carlos - São Paulo – Brasil. E-mail: [email protected]. RESUMO Este trabalho consiste em analisar os métodos de coleta mais eficientes para o gênero Pambolus Haliday, 1836, levando em consideração a sua biologia. Entre as coletas feitas com Malaise e Moericke, a “Varredura” da vegetação, apresentou os melhores resultados. ABSTRACT This study is about to analize the most efficients methods of collecting Pambolus Haliday, 1836, genera, considering its biology. Between the collects done with Malaise and Moericke and Vegetation “Sweeping” showed up the best results. INTRODUÇÃO Os insetos são considerados o maior grupo do Reino Animal, compreendendo mais de 750.000 espécies (BARNES & RUPPERT, 1996), dentro deste grupo encontramos a ordem Hymenoptera que contém atualmente cerca de 120.000 espécies (BUZZI, 2002), e é uma das maiores da classe, compreendendo insetos fitófagos, vespas solitárias e vespas parasitóides. Esta ordem é dividida em duas subordens: Symphyta e Apocrita. O táxon Apocrita é tradicionalmente subdividido em Parasitica e Aculeata (GAULD & BOLTON, 1988), sendo todos os parasitóides pertencentes à Série Parasitica. Os insetos parasitóides constituem o maior componente de muitos ecossistemas terrestres e podem constituir mais de 20% de todas as espécies de insetos. Portanto, a avaliação da diversidade deste grupo apresenta grande relevância (LASALLE & GAULD, 1993; GODFRAY, 1994) e apesar da sua abundância, pouco se sabe sobre a estrutura dessa comunidade (LASALLE & GAULD, 1993), especialmente nos trópicos (MEMMOTT et al., 1994). A família Braconidae é a segunda maior família de Hymenoptera, com pelo menos 40.000 espécies distribuídas por todo o mundo (SHARKEY,1993). Os membros desta 83 família são insetos relativamente pequenos, raramente ultrapassando 15mm de comprimento. Assemelham-se aos Ichneumonidae por não terem uma célula costal nas asas anteriores, mas diferem por não terem uma nervura recorrente em suas asas (BORROR & DELONG, 1988); são em sua maioria, endoparasitóides coinobiontes, embora um grande número de espécies seja ectoparasitóide idiobionte. Têm como hospedeiros uma ampla variedade de insetos, em particular estágios larvais de Lepidoptera, Coleoptera e Diptera. Este grupo apresenta 24 subfamílias (WHITFIELD & WHARTON, 1997); dentre elas encontramos a subfamília Hormiinae que é constituída por insetos ectoparasitóides de larvas de Lepidoptera e Coleoptera, mais raramente de Hymenoptera e Diptera (WHITFIELD & WHARTON, 1997). Os Hormiinae são em geral parasitóides de insetos associados a um único hospedeiro (MATTHEWS, 1984), isso dá a eles a habilidade em regular populações de insetos fitófagos, e manter a densidade de espécies de herbívoros, assim como prevenir que as plantas hospedeiras sejam dizimadas. Dentro da subfamília supracitada temos o gênero Pambolus, com 12 espécies para a região Neotropical. Para o Brasil há apenas uma espécie de Pambolus descrita, o que indica a falta de estudos e trabalhos de pesquisa voltados para este grupo. A biologia deste gênero é pouco conhecida, mas há registro de larvas de Coleoptera utilizadas como hospedeiro. As áreas onde foram realizadas as coletas correspondem ao domínio da Mata Atlântica Ombrófila Densa, um ambiente caracterizado pela ocorrência de chuvas orográficas, alto índice de precipitação, entre 2000 e 3000 mm/ano, alta umidade relativa do ar, 65 a 100%, solo rico devido à rápida ciclagem de nutrientes, favorecendo uma floresta fechada e densa com um microclima gerando sombra e umidade (www.promuriqui.org.br). Originalmente, a Mata Atlântica estendia-se desde o Estado do Rio Grande do Norte até os limites do extremo sul do Brasil, e segundo a Fundação SOS Mata Atlântica e o INPE- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, entre 2000 e 2005, foi realizado um novo levantamento. Infelizmente, hoje restam apenas 7,26% da cobertura original de Mata Atlântica – o que corresponde a 97.596 km² dos 1,3 milhões de km² iniciais -, somando-se áreas acima de 100 hectares. Apesar da devastação acentuada, a Mata Atlântica ainda abriga uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, com altos níveis de endemismo. OBJETIVOS Este trabalho teve como objetivo testar a eficiência de três métodos na captura de indivíduos do gênero Pambolus, a fim de favorecer seu estudo. MATERIAL E MÉTODOS As coletas foram realizadas em 18 pontos, de 10 estados brasileiros: Mata de São João, Ilhéus, Porto Seguro,(BA); Ubatuba, Salesópolis, Ribeirão Grande, e Peruíbe (SP); São Bento do Sul, e São Francisco do Sul (SC); Morretes (PR); Nova Iguaçu e Santa Maria Madalena (RJ); Santa Teresa e Linhares (ES), Santa Luzia do Itanhy (SE); Quebrangulo (AL); Recife (PE); João Pessoa (PB); dentro de áreas de proteção ambiental com remanescentes de Mata Atlântica Ombrófila Densa, referente ao projeto “Riqueza e 84 Diversidade de Hymenoptera e Isoptera ao longo de um gradiente latitudinal na Mata Atlântica – a floresta pluvial do leste do Brasil (BIOTA-FAPESP) depositados na Coleção Entomológica do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, UFSCar (DCBU). Os pontos de amostragem se estenderam de João Pessoa na Paraíba (07º06’54”S), até São Bento do Sul – Santa Catarina (26º19’25.6”S). Para testar a eficiência dos métodos de para o gênero Pambolus, foram utilizados três diferentes tipos de armadilhas: A armadilha Malaise, semelhante a uma tenda de rede fina no interior da qual, insetos voadores capturados tendem a subir para escapar, passando para um recipiente coletor contendo um fixador; a armadilha Moericke que contém uma mistura de água, formol e detergente. O formol conserva o material, enquanto o detergente quebra a tensão superficial da água, colocados em um recipiente de cor amarela sobre o solo, os insetos são atraídos e caem no líquido ficando presos. A varredura da vegetação é feita com auxílio de uma rede entomológica de tecido, presa a um aro de metal, que é batida contra a vegetação, seguidas vezes com duração de 5 minutos, e os insetos capturados são depositados em sacos plásticos contendo clorofórmio. Os períodos de coleta foram de seis dias em cada localidade, contando com dez armadilhas Malaise, cinco no interior da mata e cinco em trilhas ou próximas a córregos. Ocuparam dois transectos paralelos espaçados 100m entre si, assim como as armadilhas espaçadas 100m cada uma, abrangendo uma área total de 50.000m2. O mesmo esquema foi utilizado para a Moericke, e em cada localidade foram instaladas 100 armadilhas por seis dias consecutivos. Ao final das coletas, a subfamília Hormiinae foi identificada em nível de gênero utilizando a chave de identificação de WHITFIELD & WHARTON (1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 1 e Figura 1. Tabela 1 . Numero de espécimes do Gênero Pambolus coletados por armadilhas Malaise em remanescentes de mata atlântica Métodos de Malaise Moericke Varredura Coleta 26 217 194 N° de Indivíduos Total 437 Figura 1 Frequência relativa de coleta dos espécimes do gênero Pambolus em remanescentes de mata atlântica 85 5.94% Malaise 44.39% Moericke 49.65% Varredura A baixa eficiência da armadilha Malaise, com o menor índice de coleta (26 indivíduos), corresponde a 5,94 % do total.Isso pode estar associado ao fato de ser uma armadilha interceptadora de vôo, logo este não seria o método de coleta mais indicado para estudos com este grupo.A Armadilha Moericke, apresentou o maior índice de coleta, com 217 indivíduos, correspondendo a um total de 49,65% do total. Espécies desse gênero habitam o estrato arbóreo inferior e apresentam limitada capacidade de vôo, isto pode estar relacionado ao fato desta armadilha ter coletado a maior quantidade por ficar em contato direto com o solo, próxima a vegetação rasteira, favorecendo a captura.O fato desse gênero ser composto por ectoparasitóides de hospedeiros ocultos, como minadores e galhadores pode explicar a alta eficiência do método de "Varredura" da vegetação. Obteve-se 194 indivíduos, correspondendo a 44,39 % do total. É provável que os parasitóides gastem mais tempo entre a vegetação a procura de seus hospedeiros. CONCLUSÕES Para o gênero Pambolus, considerando sua biologia e hábitos, o método de coleta que apresentou maior eficiência foi a Armadilha Moericke, seguido pela "Varredura" da vegetação e armadilha Malaise. A maior eficiência destes métodos de coleta pode ser resultado da seletividade dos mesmos em relação à morfologia e biologia destes insetos, entretanto, todos os métodos de coleta são necessários para estudos mais completos a respeito do gênero. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A Mata Atlântica do Brasil – Disponível em: http://www.promuriqui.org.br/Portugues/habitat.htm. Acessado em 11/08/2008 ás 17:50 hrs BARNES, D.R; RUPPERT, E.E. Zoologia dos Invertebrados. 6º ed. São Paulo: Roca, 1996. 1029p. BORROR, J.D; DELONG, M.D. Introdução ao Estudo dos Insetos, 2º ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1988. 812p. 86 BUZZI, Z.J. Entomologia Didática. 4º ed. Curitiba: USPR, 2002. 347 p. GAULD, I.D; BOLTON, B. The Hymenoptera. Oxford: Oxford University Press, 1988. 332p. GODFRAY, H.C.J. Parasitoids: behavioral and evolutionary ecology. Princeton: Princeton University Press, 1994. 437 p. LASALLE, J.; GAULD, I.D. Hymenoptera and Biodiversity. Wallingford: C.A.B. International, 1993. 347p. MATTHEWS, R.M. 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