UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO - PSICOPEDAGOGIA A relação existente entre o desenvolvimento motor e a aprendizagem em crianças de 2 a 7 anos. Por: Fabiana Ferreira dos Santos Orientador: M. S. Profºr Nilson Guedes de Freitas Rio de Janeiro 2005 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO - PSICOPEDAGOGIA A relação existente entre o desenvolvimento motor e a aprendizagem em crianças de 2 a 7 anos. Trabalho monográfico feito por Fabiana Ferreira dos Santos, realizado para obtenção parcial do título de especialista no curso de Pós – Graduação de Psicopedagogia orientado por M.S. Professor Nilson Guedes de Freitas. Por: Fabiana Ferreira dos Santos Rio de Janeiro 2005 3 DEDICATÓRIA Dedico ao meu “Gorducho” (Raphael da Lapa Conceição), meu priminho de 08 anos , por seu carinho, preocupação e torcida para que terminasse este curso de especialização. “Gordo”, te amo de montão! 4 AGRADECIMENTOS: Ao Senhor Deus, porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. Pelo sustento e pela capacidade que me deste. Meus pais pelo apoio, torcida e orações. Amo vocês! Ao meu namorado Gabriel, por seu amor incondicional, sua paciência e ajuda. I will always love you! As minhas amigas Michele e Tatiana Ximenes por acreditarem em mim e pela força que me deram quando achava que não conseguiria. “Migas”, vocês são demais!!! 5 EPÍGRAFE “Só uma escola autenticamente formativa pode proporcionar o acesso a uma nova cultura: uma escola em que seja dada à criança a possibilidades de formar-se, de tornar-se um homem, de adquirir os critérios gerais que sirvam ao desenvolvimento do caráter (...). uma escola que não hipoteque o futuro da criança e constranja a sua vontade, sua inteligência, sua consciência em formação a mover-se a partir de esquemas bitolados (...). uma escola de liberdade e de livre iniciativa e não uma escola de escravidão e mecanicidade.” Gramsci 6 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo principal apresentar uma pesquisa bibliográfica – psicopedagógica, para acrescentar e contribuir no trabalho do educador durante o processo ensino – aprendizagem a cerca do desenvolvimento motor e sua influência na aprendizagem cognitiva em crianças de dois a sete anos de idade da rede pública de ensino do município do Rio de Janeiro. Respondendo ao problema de em que medida o desenvolvimento motor influenciará na aprendizagem cognitiva da criança. O procedimento metodológico utilizado foi uma pesquisa bibliográfica utilizando nesta pesquisa os seguintes teóricos: Jean Piaget, Vítor da Fonseca, Henry Wallon, Lev Vigotsky. A partir da leitura deste trabalho monográfico o leitor verificará a real importância do desenvolvimento motor no processo da aprendizagem, ao possibilitar não só os desenvolvimentos cognitivo, mais também sociais e físicos. Palavras Chaves: Motricidade, desenvolvimento, aprendizagem, conceitos. 7 SUMÁRIO Introdução..............................................................................................................08 1. Aprendizagem – Conceito e Fundamentação....................................................10 2. Motricidade – Conceito e Fundamentação.........................................................21 3. Fundamentos Bio – sociológicos do pensamento..............................................29 Conclusão...............................................................................................................35 Referência Bibliográfica..........................................................................................39 Anexos....................................................................................................................42 Índice......................................................................................................................44 8 INTRODUÇÃO Com este trabalho, pretendemos responder o problema apresentado no projeto de pesquisa que é: Em que medida o desenvolvimento motor influenciará na aprendizagem cognitiva, tendo como objetivo geral que foi apresentar uma pesquisa bibliográfica – psicopedagógica, que venha a acrescentar e contribuir no trabalho do educador durante o processo ensino – aprendizagem. Dever-se-á entender que o movimento humano sempre esteve presente na vida dos indivíduos, desde o útero até à morte; contudo o ser humano não está dotado de mecanismos especializados para a adaptação ao mundo, tem que agir para conquistar e conhecer. Tendo a seguinte hipótese levantada de que na medida em que o professor buscar desenvolver as habilidades da criança no desenvolvimento motor, logo a aprendizagem cognitiva terá também um maior desenvolvimento e um maior rendimento. Esta pesquisa delimita-se no seu desenvolvimento motor e sua influência na aprendizagem cognitiva em crianças de dois à sete anos de idade, da rede pública de ensino no município do Rio de Janeiro, tendo como procedimento metodológico adotado a pesquisa bibliográfica. Para tanto no primeiro capítulo, abordaremos o conceito de aprendizagem e o seu enquadramento, após definir-se o conceito de aprendizagem, serão apresentadas alguma teorias de aprendizagem, nomeadamente teoria behavioristas, cognitivas; que teve como objetivo específico explicar algumas teorias de aprendizagem (behavioristas cognitivas) a cerca de uma perspectiva atual sobre a aprendizagem, sendo citados neste primeiro capítulo os seguintes teóricos: J. Tavares e I. Alarcão e Fonseca como os principais deste capítulo. No capítulo seguinte, será mencionado o conceito de motricidade e o seu enquadramento. Após definir-se o conceito de motricidade, serão apresentados várias teorias explicativas do desenvolvimento motor e humano, onde teremos como principais teóricos Wallon e Jean Piaget. 9 E no último e terceiro capítulo apresentaremos a evolução psicomotora da criança, segundo a opinião dos autores europeus Wallon e Jean Piaget. A aprendizagem resulta de mecanismos perceptivos na relação dialética com os mecanismos motores, sendo pelo movimento que o ser humano aprende bio-psico-sociológicamente. Por fim, o objetivo deste trabalho é o de enfatizar a importância do desenvolvimento motor na aprendizagem cognitiva em crianças de dois a sete anos de idade. 10 1.APRENDIZAGEM: CONCEITO E FUNDAMENTAÇÃO Diversos autores, ao longo dos tempos, têm-se debruçado sobre a problemática da aprendizagem, bem como da sua definição. MEINEL, K. (1987, p.171) considera que aprender “é um processo na vida do homem e no desenvolvimento da personalidade do ser humano”. Aprender está relacionado com uma nova aquisição ou uma continuidade no desenvolvimento do comportamento e do trabalho, através de uma disputa ativa com o meio ambiente. VIGNAUX, G (1995, p.135) define que: Qualquer aprendizagem num sistema ou num ser vivo manifestar-se-á pela aquisição duma ou mais propriedades que não são inatas neste sistema ou neste ser. Já para TAVARES, J. e ALARCÂO, I. (1985) aprendizagem é uma construção pessoal, que resulta de um “processo experimental”. Esse processo interior à pessoa traduz-se por uma alteração de um comportamento relativamente firme. Ao afirmar que a aprendizagem é um processo, pretende exprimir-se que o ato de aprender não é fulgaz e momentâneo, mas que se realiza num tempo mais ou menos longo. Na mesma linha, GAGNE e FLEISHMAN, (apud, KNAPP, B., 147) definem aprendizagem como um processo neurológico interno que se supõe intervir cada vez que se manifesta nas performances, uma mudança que não é devida nem ao crescimento, nem à fadiga. ”Podemos entender que aprendizagem resulta da mudança da performance derivada da experiência. Todas as mudanças devidas à fadiga ou da maturação não são consideradas como aprendizagem. Nada se aprende, verdadeiramente, se aquilo que se pretende aprender, não passar pela experiência pessoal de quem aprende. A aprendizagem assume assim um caráter pessoal. E é através das modificações operadas no comportamento exterior, observável, que se vê se o sujeito aprendeu. Para que o sujeito aprenda, é 11 necessário que no seu interior haja um processo de transformação e de mudança. A aprendizagem é, portanto, uma função do cérebro. Para FONSECA,V. (1984), a aprendizagem no ser humano é a consequência de duas heranças: a herança sócio – cultural, onde entram os aspectos antropológicos e necessariamente a linguagem; e a herança biológica, onde entram os comportamentos programados pelo genótipo e que decorrem do desenvolvimento ontogênico. Com aprendizagem, o ser humano é capaz de realizar ações, que antes de aprender não realizava, de uma forma estável. Como dizem TAVARES, J e ALARCÃO, I (1985) a sua contrapartida externa traduz-se em ações que o sujeito não era capaz de realizar antes de aprender, mas que consegue fazer depois do período de aprendizagem, de uma forma tão consistente que não deixa dúvidas quanto à sua estabilidade. Segundo FONSECA, V. (184, p.145) “a aprendizagem visa uma adaptação a situações novas, inéditas, imprevisíveis, isto é, uma disponibilidade adaptativa a situações futuras.” A aprendizagem deve ser, portanto, encarada como uma ação educativa, cuja finalidade é desenvolver no ser humano, capacidades que lhe permitam a integração no meio em que vive (humano e físico), utilizando as estruturas sensório-motoras, cognitivas, afetivas e lingüísticas. Para TAVARES, J. e ALARCÃO, I (1985), a aprendizagem efetua-se através das tarefas que são propostas ou que os alunos se propõem fazer. Aprendemos a viver em sociedade. Daí que seja necessário adquirir conhecimentos, cultivar atitudes, aprender a tomar decisões e de desenvolver as capacidades motoras, cognitivas, lingüísticas e de relacionamento social. Nem todos os autores têm o mesmo conceito de aprendizagem. Alguns salientam o aspecto externo da modificação do comportamento, outros a construção pessoal, experiencial; uns dão maior ênfase ao processo da aprendizagem, enquanto outros ao produto desse processo. A diferença de conceitos deu origem a diferentes teorias. De todas as teorias, no presente trabalho serão tratadas, apenas as teorias behavioristas, as teorias 12 cognitivas e o movimento humanistas. Dentro de cada um dos grupos, podem-se distinguir várias correntes. 1.1. Algumas Teorias de Aprendizagem : Teorias Behavioristas TAVARES, J. e ALARCÃO, I (1985) definem behaviorismo como um estudo objetivo e científico do comportamento humano. Este termo (behaviorismo) aparece associado ao nome do psicólogo americano Jonh B. Watson. Segundo os autores acima, para Watson, a aprendizagem resulta do processo de condicionamento, através do qual diversas reações são associadas a determinados estímulos. De acordo com esta perspectiva, todas as formas de comportamento, todas as aprendizagem são possíveis, bastando para isso treinar. A criança aparece com um ser moldável, e não como um ser criativo e agente de mudança. Para THORNDIKE, (apud por KNAPP, B s.d) a aprendizagem consistia em estabelecer uma conexão, a nível do sistema nervoso, entre estímulos e reações, após uma série de tentativas e erros. Aprender consistia em resolver um problema. Este autor enunciou: “as suas três leis de aprendizagem”, através da qual, a aprendizagem aparece associada a um esforço que é recompensado, dependendo da satisfação e de recompensas. Estas leis foram denominadas de lei do efeito, lei do exercício ou freqüência e lei da maturidade específica. De acordo com a lei do efeito, a conexão entre um estímulo e uma reação é enfraquecida ou reforçada, consoante a satisfação ou a insatisfação que acompanha a ação. Uma grande satisfação, quando um movimento correto foi executado, ajuda a gravar esse movimento, enquanto o descontentamento favorece a eliminação de ações desfavoráveis. A lei do exercício ou freqüência refere que a repetição por si mesmo não conduz à aprendizagem. A repetição só resulta em aprendizagem se for acompanhada por resultados positivos. A simples repetição não acompanhada de sentimento, não resultará. THORNDIKE, (apud por KNAPP, B.p.150) afirma que: “... a repetição de uma conexão, no sentido de uma simples seqüência temporal 13 de dois fenômenos, age muito pouco, ou mesmo nada, como causa de aprendizagem.” Relativamente à lei da maturidade específica, a aprendizagem efetuar-se-á e o resultado será agradável, se o organismo estiver preparado para estabelecer conexão entre o estímulo e a reação. Caso contrário, a aprendizagem não se efetuará e o resultado será desagradável. SKINNER, (apud por TAVARES, J e ALARCÃO, I, 1985) por seu lado, considera a aprendizagem como uma forma de condicionamento. Este condicionamento não é o “reflexo condicionado” de PAVLOV, mas um condicionamento operante e instrumental, que já inclui a noção de reforço. A recompensa reforça, entusiasma e, funcionando como um estímulo, aumenta as probabilidades de sucesso. As reações recompensadas, ou que libertem o corpo de uma situação penosa, têm tendência a serem repetidas; enquanto que, as reações que não são recompensadas ou trazem conseqüências indesejáveis, têm tendência a desaparecer. Para a teoria behaviorista, o homem é considerado como um organismo, que responde a estímulos, provenientes do meio exterior, de uma forma mais ou menos automática e fortuita. Assim, a aprendizagem é considerada pêlos behavioristas como uma forma de condicionamento, resultado de associações entre estímulos específicos e reações específicas. Estas associações podem ser reforçadas, se corresponderem à aprendizagem desejada, ou inibidas, se se afastarem das finalidades. A teoria behaviorista realça o saber fazer, o comportamento exterior mensurável. Baseia-se no comportamento exterior do aluno e na análise minuciosa da tarefa que o aluno terá que aprender. De acordo com esta teoria, o aluno é moldável e passivo. 14 1.2. Teorias Cognitivas: Piaget, Bruner, Ausubel As teorias cognitivas podem subdividir-se em dois subgrupos: teoria da forma ou da configuração e teoria do campo. A teoria da forma ou da configuração está associada a vários especialistas alemães. Estes autores defendem que o sujeito organiza e interpreta tudo o que se passa em seu redor, em termos de conjunto e não isoladamente. Esta teoria alicerça-se na noção básica que o todo é algo, mais do que a simples soma das partes, é a idéia da compreensão, sentido, do significado, do “porquê”, do “para quê” e do “como”. Por seu lado, a teoria do campo também designada de psicologia topológica e de vetor é mais do que a soma das suas partes. Normalmente estes dois tipos de teorias agrupam-se para formarem a chamada teoria da forma e do campo. Os psicólogos desta teoria defendem que a aprendizagem não resulta, como afirmam TAVARES e ALARCÃO, (1985) ... de associações de tipo estímulo – resposta, mas consiste numa mudança na estrutura cognitiva do sujeito ou na maneira como ele percebe, seleciona e organiza os objetos e os acontecimento e lhes atribui significado. O educando aparece como um sujeito ativo, capaz de construir o seu mundo e de evoluir através da experiência que vai adquirindo. A aprendizagem situa-se em dois pólos. Por um lado, temos as experiências anteriores e por outro, aquilo que o sujeito quer alcançar. A aprendizagem é considerada como uma atividade funcional, criadora e exploradora. Assim a aprendizagem deve assentar, segundo as teorias da forma e do campo em três condições fundamentais: intuição, finalidade e estrutura. Uma vez que o sujeito defina o fim que deseja atingir, apercebe-se de como há de estruturar a sua aprendizagem de maneira a conseguí-lo. 15 Jean Piaget Jean Piaget é um dos autores que maior importância tem para o ensino e para a aprendizagem. Para Piaget, J. (1982, p.15) “aprendizagem é um processo normal, harmônico e progressivo, de exploração, descoberta e reorganização mental, em busca da equilibração da personalidade.” Piaget (1982) defende que o ensino deve ser atrativo, deve estar de acordo como os interesses e curiosidades das crianças. O espaço físico, o espaço ambiental deve ser estimulante, para que as crianças queiram aprender. Não deve ser demasiado fácil, nem demasiado difícil para não se transformar em frustração. As tarefas a apresentar devem produzir na criança uma tensão benéfica, que a leve em busca da equilibração e traduza o desejo de aprender. Bruner Este autor define aprendizagem como sendo um processo ativo do sujeito que aprende. O sujeito que aprende guarda e organiza a informação recebida. É através do levantamento de problemas, de hipóteses que avançam e se verificam e de descobertas que se fazem, que vai se adquirindo o conhecimento. Depois de se adquirir o conhecimento, este é organizado em categorias e relaciona-se com o conhecimento antes adquirido. Assim, o aluno vai construindo o seu conhecimento através do ensino por descoberta. Para TAVARES e ALARCÃO (1985, p.103), o ensino por descoberta pressupõe atividades de pesquisa, observação, exploração, análise de problemas e resultados, integração de novos dados em conceitos anteriormente adquiridos e princípios mais gerais, explicações de causa e efeito ou outras que ajudem a estabelecer relacionações. É uma aprendizagem ativa. O professor tem como 16 função orientar, através de perguntas, que motivem o aluno, que lhe despertem a curiosidade, que conduzam o aluno ao conhecimento, ao desenvolvimento do pensamento. BRUNER, J. (1983) considera, que o ensino deve estar de acordo com o desenvolvimento humano. Assim, a aprendizagem teria o seu início em experiência ativas, através da manipulação de objetos, para depois passar para o estudos das representações dos objetos e suas características, chegando finalmente aos conceitos mais complexos, lógicos e abstratos. O caminho a seguir é do simples para o complexo, com a integração de novos conhecimentos, nos conhecimentos já assimilados. A relação que se vai estabelecer entre o conhecido e o que há para conhecer, juntamente com a adequação à idade e a utilização de estratégias pessoais de descoberta, criam condições para que a aprendizagem se efetue. Esta aprendizagem tem bastante significado para o sujeito e é, segundo BRUNER, J.(1983, p.98) “uma aprendizagem compreendida e não apenas memorizada.” Esta aprendizagem é uma dinâmica, com significado para o sujeito e compreendida. BRUNER, J (1983) considera que se deve dar bastante importância às experiências anteriores das crianças. Ausubel Este autor foi o que mais se dedicou ao estudo da aprendizagem significativa ou compreendida. TAVARES e ALARCÃO (1983), referem que AUSUBEL identificou quatro tipos de aprendizagem: a) Aprendizagem por recepção significativa ou compreendida. O professor organiza a matéria de uma forma lógica e ao apresentá-la relaciona-a com os conhecimentos adquiridos, de modo a apreender e interiorizar os novos conceitos na estrutura cognitiva que o sujeito já possui. 17 b) Aprendizagem por percepção mecânica ou memorizada. Como o nome indica, o professor apresenta a matéria e o aluno só terá que memorizar. c) Aprendizagem pela descoberta significativa ou compreendida. Através desta aprendizagem, o aluno, por si só, chega ao conhecimento, descobre o problema que lhe foi apresentado e relaciona-o com os conhecimentos anteriormente adquiridos. d) Aprendizagem pela descoberta mecânica ou memorizada. O aluno “descobre”, por si próprio, a solução do problema e apenas o memoriza sem o integrar na estrutura cognitiva. AUSUBEL, D (1954), preconiza que o ensino expositivo não leva forçosamente a uma aprendizagem memorizada ou mecânica. O autor crê que embora o ensino pela descoberta tenha vantagens, é um ensino muito caro. Por isso, propõe aquilo que vai designar de “guided discovery learning”. De acordo com esta estratégia, o professor é o organizador do processo ensino/aprendizagem, não deixando que o ensino funcione ao gosto e ritmo dos interessas dos alunos. Acredita que o guided discovery learning é bastante útil nos primeiros anos, sendo importante na formação dos conceitos, mas logo que a criança atinja o raciocínio abstrato, a exposição verbal torna-se mais econômica e de maior aplicação. 1.3. MOVIMENTO HUMANISTA Para os humanistas, o educando deve ser responsabilizado, para decidir o que quer aprender e para ser mais independente e auto-orientador da sua aprendizagem. Aprender, para os humanistas, não se reduz à aquisição de macanismos de estímulo – reação. É um processo cognitivo. No entanto, ROGERS, C. (1977), condena a aprendizagem cognitiva como ela é apresentada porque, segundo ele, a aprendizagem cognitiva pré-estabelece os conhecimentos que o aluno tem que 18 adquirir ou as capacidades a desenvolver. O aluno apenas terá que se adptar e se conformar. ROGERS, C (1977,p.96) consideram que “o educando cresce e adquire experiência se lhe deixa iniciativa para descobrir o seu próprio caminho, numa atitude de auto-realização e auto-avaliação, num processo de se tornar pessoa”. A aprendizagem é deixada ao livre sabor dos alunos. Na visão humanista “tornar-se pessoa” é a chave do processo de aprendizagem. A aprendizagem centra-se no aluno, nas suas necessidades, na sua vontade e nos seus sentimentos. 1.4. Perspectiva atual sobre a aprendizagem Na atualidade, a aprendizagem aparece ligada a uma nova teoria designada de teoria do ensino/aprendizagem. Esta teoria de ensino/aprendizagem recebeu uma grande contribuição das outras teorias ( behaviorista, construtivista e humanista), portanto está acima delas. Ela tem em si elementos das vária teorias e modelos. Esta nova teoria, que começa a emergir, chama à atenção para o fato do ensino e a aprendizagem serem dois processos intimamente relacionados. Estas teorias baseiam-se nos conhecimentos que se tem sobre o mecanismo da aprendizagem. Parte-se do modo como os seres humanos aprendem, surgem idéias como o ensino deve ser ministrado pelo professor e testam-se o produto final desse ensino sobre as teorias da aprendizagem. Estas novas idéias vêm sintetizar uma série de princípios pedagógicos que são idênticos a todas as tarefas de ensino / aprendizagem (motivação, transferência, compreensão, recompensa e auto-avaliação) e chamam para a atenção para a existência de diferentes tipos de aprendizagem de acordo com as tarefas a aprender. A idéia de diferentes tipos de aprendizagem foi estudada por GAGNÈ, R. (1982, p.121) que propôs oito tipos de aprendizagem, que são: 19 1. aprendizagem por sinal 2. aprendizagem por estímulo - resposta 3. aprendizagem por encadeamento 4. aprendizagem por associação verbal 5. aprendizagem por discriminação múltipla 6. aprendizagem por conceitos 7. aprendizagem por princípios 8. aprendizagem por resolução de problemas 1.4.1. Aprendizagem por sinal – esta aprendizagem é sinônima da resposta condicionada, envolve a substituição de um estímulo, evocando uma resposta condicionada, envolve a substituição de um estímulo, evocando uma resposta particular. Nesta aprendizagem, as condições internas são os reflexos e as emoções e as externas são a contiguidade e a habituação. 1.4.2. Aprendizagem por estímulo – resposta – esta aprendizagem baseia-se na tentativa e erro até atingir uma resposta desejada de acordo com a compensação. As condições internas envolvem uma continuidade entre o estímulo e a resposta ( E è R) e o reforço. O reforço tende a fazer desaparecer as respostas incorretas. 1.4.3. Aprendizagem por encadeamento (Chaining) – a aprendizagem por encadeamento está relacionada com o comportamento motor, as respostas desejadas têm uma ordem e uma seqüência de atos motores encadeados uns aos outros. As condições internas colocam aprendizagem de cada conexão estímulo resposta e a presença de um feedback quinestésico que é encarado como experiência concreta. As condições externas devem colocar o educando numa ordem ou seqüência com sucessão de tempos, bem como uma prática de reforço e de motivação. 1.4.4. Aprendizagem por associação verbal – esta aprendizagem envolve uma identificação e nomeação verbal. A conexão E è R deve ser aprendida previamente e acompanhada por um feedback quinestésico. Nas condições externas há a apresentação das unidades verbais, dentro de uma certa 20 continuidade. O aluno é colocado na situação de resposta, e na presença de respostas corretas é garantida a confirmação e o reforço. 1.4.5. Aprendizagem por discriminação múltipla – esta aprendizagem apresenta tarefas que estão relacionadas com a discriminação e diferenciação das formas, tamanhos, cores, comprimentos, etc. nas condições internas têm que estar presentes a aquisição dos quatro tipos de aprendizagem anteriores. As condições externas estão relacionadas com a utilização de material de trabalho, além da prática da repetição e do reforço. 1.4.6. Aprendizagem por conceitos – neste tipo de aprendizagem, a atenção recai sobre as semelhanças entre os objetos e o agrupamento de atributos que os caracterizam. As condições internas são as mesmas das do tipo 5, enquanto as condições externas incluem a apresentação de objetos com suportes na identificação dos atributos, bem como o reforço mas respostas corretas. Aprendizagem por resolução de problemas – este tipo de aprendizagem compreende a aplicação de princípio para a resolução de problemas. Para que a resolução de problemas seja bem sucedida, deverá envolver várias operações: apresentação do problema, definição do problema, formulação de hipóteses e finalmente a verificação das hipóteses. As condições internas implicam a utilização dos outros tipos de aprendizagem que sejam relevantes para a resolução de problemas. As externas devem favorecer suportes que permitam a rememorização dos princípios fundamentais à solução do problema. Com esta hierarquização da aprendizagem, GAGNÈ, R (1982) pretende a sistematização da aprendizagem, condição necessária à linguagem. aquisição da 21 2. MOTRICIDADE: CONCEITO E FUNDAMENTAÇÃO MANUEL SÉRGIO, (1987) considera o homem como um ser carente, um ser incompleto. Do ponto de vista motor, o homem apresenta ima inadaptação, uma não especialização. Embora o homem apresente estas características (inadaptação e não especialização), ele não se encontra circunscrito a um espaço determinado. Segundo FEITOSA, A (1993, p.28) “...o homem é um ser carente, mas a tomada de consciência dessa carência empurra-o para a ação, para o conhecimento para a previsão”. O homem conhece e age quando toma consciência que é carente. É através dessa ação, desse conhecimento, que o homem gera a cultura. O homem não possui órgãos especializados, adaptados ao meio ambiente onde vive, mas através da cultura, o homem é criador, isto é, transforma e domina o mundo onde vive. Por isso, MANUEL SÉRGIO, (apud por FEITOSA, A.,1993, p. 46), define motricidade como “...a virtualidade para o movimento centrífugo da personalização”. Um ser não especializado e carenciado tem, segundo FEITOSA, A (ibid), “de sair de si para realizar-se (para personalizar-se”. O homem é um ser que se faz através da ação. A capacidade para o trabalho, para a ação ara moverse é que garante a sobrevivência do homem no planeta. A carência leva o homem fazer e a fazer-se. A motricidade é que conduz as nossas decisões e posições. Para MANUEL SÉRGIO, (1987, P.30), “a motricidade não é um fenômeno isolado, mas uma relação e expressão do ser humano total e, ainda, porque a motricidade revela os aspectos ontológicos – existenciais do homem, sem negar, antes completando os aspectos lógico – organizacionais da vida”. 22 A motricidade é considerada como a linguagem que nos aproxima da comunicação e da expressão. O movimento é o meio, pelo qual o indivíduo comunica e transforma o mundo que o rodeia. FONSECA, V. (1989) considera que a motricidade compreende todas as mudanças, pelas quais o sujeito vai passar, desde a concepção até a morte. O ser humano está em constante evolução. A este respeito FONSECA, V. (1989,p.7) afirma que “neste período surgem processos evolutivos e hierarquizados, quer num plano biológico, quer num plano social”. A motricidade é o produto final da evolução. A motricidade não é imediata e nem pré-programada. FONSECA, V (1989), defende que a criança é age por outros, antes de se autocomover, daí origem social da motricidade humana. A motricidade das crianças é bastante influenciada pela motricidade do adulto. Embora antes se tenha subestimado o corpo e a motricidade, a motricidade está intimamente ligada ao ser humano. O ser humano não é só um ser pensante, mas também um ser de sentimentos e de movimentos. Sem movimentos, não há desenvolvimento do pensamento. É através da motricidade que o cérebro se desenvolve. Segundo FONSECA,V (ibid.p.9) “motricidade sem cognitividade é possível, mas cognitividade sem motricidade não o é”. O desenvolvimento da motricidade contribui para o desenvolvimento intelectual do ser humano. Este autor constatou que distúrbios no desenvolvimento motor comprometem o desenvolvimento da linguagem e da cognitividade. FONSECA, V (id) entende a motricidade como uma ação, como uma conduta relativa a um sujeito histórico. É a motricidade que prolonga a idéia e a materializa. A motricidade é o meio, pelo qual a inteligência humana se desenvolve, se materializa, se constrói e se edifica. Toda motricidade tem como objetivo obtenção de um fim, de um resultado, de um efeito, tornado-se numa práxis. O ser humano aprende os seus movimentos na relação que se estabelece com o meio ambiente (construído pelo homem) e 23 pela troca e constantes contatos com os seres humanos. O desenvolvimento motor anda associado ao desenvolvimento humano. 2.1. O papel da motricidade na teoria de Jean Piaget As investigações de Jean Piaget têm uma grande importância para o estudo da motricidade, já que as ações motoras têm um papel importante e fundamental no acesso ao conhecimento. PIAGET, J. (1982) salienta que a motricidade intervém em diferentes níveis no desenvolvimento das funções cognitivas. Em PIAGET existe uma grande relação entre a motricidade e a inteligência. PIAGET, (apud por FONSECA, V. 1988), classificou o desenvolvimento cognitivo numa série de estágios. Estes estágios dividem o desenvolvimento em quatro grandes etapas: 1. Sensório – motor: este período caracteriza-se pela aparição das capacidades sensório – motoras, perceptivas e linguísticas. É o período em que aparecem as habilidades locomotoras e manipulativas, quando o ser humano aprende a organizar a informação sensorial. 2. Pré – operatório: este período durante o qual, os processos cognitivos e de conceitualização se iniciam. Aparece a iniciação ao jogo simbólico e a linguagem. 3. Operações concretas: este período caracteriza-se pelo aparecimento do pensamento abstrato. As crianças realizam ações lógicas elementares, assim como agrupamentos de classes. O conceito de reversibilidade e de conservação é característico desta etapa; o pensamento pode preceder e guiar as ações, mas não funciona independentemente dele. 4. Operações formais: neste período, o pensamento realiza-se independentemente da ação,,originando a ações mentais de grande complexidade. 24 2.2. A concepção psicobiológica de Wallon WALLON, H (1966) destaca o papel que os comportamentos motores têm na evolução psicológica do ser humano. Este autor defende que a motricidade desempenha um papel importante na elaboração das funções psicológicas dos primeiros anos de vida. Depois acompanha e sustém os processos mentais. WALLON, H (1966) ao analisar a motricidade, determinou a existência de dois aspectos: o tônico ou plástico (nível de contratibilidade ou relaxamento da musculatura) e o clônico ou cinético (alongamento ou encurtamento dos músculos) estes dois aspectos complementam-se. O aspecto tônico tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança. Ele está relacionado, tanto com as atitudes e posturas perceptivas, como com as motoras. O tônico põe em relação a motricidade, percepção e conhecimento e daí as relações entre motricidade e inteligência. WALLON, H (1966), enfatiza a relação do aspecto tônico do movimento com o desenvolvimento cognitivo, enquanto que o tônus seria o fundamento da emoção e da afetividade. Assim, inteligência e afetividade desenvolver-se-iam par a par. Durante as investigações WALLON, H (ibid), teve necessidade de dividir o desenvolvimento humano em diferentes estágios: Estágio impulsivo, contemporâneo do nascimento: a motricidade · tem um significado puramente fisiológico. Os atos são simples descargas de reflexos ou automatismos. Estágio sensório motor: a partir deste momento, o movimento · organiza-se. Desejo de explorar e investigar. Estágio projetivo: a motricidade constitui o instrumento de ação · sobre o mundo. · Estágio do personalismo: os outros são significativos para a criança, no processo da experiência. Neste período, há a consciência e depois afirmação do Eu. A sua capacidade de movimento manifesta-se como meio de favorecer o seu desenvolvimento psicológico. 25 Em todos os estágios, a motricidade está intimamente ligada à atividade mental. Como observa VAYER, P. (1992,p.15) “...do ato motor à representação mental percorrem-se todos os níveis, todos os períodos de relações entre o organismo e o meio”. A motricidade desempenha um duplo papel. PÈREZ, L. (1994), a este respeito, adianta que a motricidade é um instrumento de realização de diferentes tarefas e um medidor da ação mental. A motricidade e as atitudes têm um papel fundamental no desenvolvimento psicológico da criança. 2.3. A teoria maturativa de Gessel GESSEL foi um dos autores que deu muita importância aos processos internos maturativos na aquisição de comportamentos. O desenvolvimento do comportamento é afetado pelos processos internos de maturidade. Para GESSEL, (apud por VAYER, P.1992,p.16) “o crescimento é um processo de estruturação, que produz mudanças estruturadas nas células nervosas, que provocam mudanças correspondentes nas estruturas de comportamento”. A criança não nasce com todas as percepções, mas estas devem desenvolver-se. Elas desenvolvem-se com a experiência e a maturidade crescente das células. A organização dos comportamentos está ligada à maturidade nervosa, começando antes do nascimento. Para GESSEL (1992) as crianças desenvolvemse como um todo. As diferentes esferas do comportamento desenvolvem-se conjuntamente e em estreita coordenação. GESSEL estudou quatro: - Comportamento motor: atitudes posturais, locomoção, preensão; - Comportamento de adaptação: capacidade de perceber os elementos significativos e de utilizar a experiência para se adaptar a novas situações; 26 - Comportamento verbal: todas as formas de comunicação e de compreensão; - Comportamento pessoal e social: reações tanto perante as outras pessoas como, perante a cultura social. Para GESSEL, A (1979), o que determina os comportamentos motores e psicológicos são as transformações que se vêem no desenvolvimento, que se devem às predisposições do organismo e ao desenvolvimento espontâneo dos sistemas neural, muscular e hormonal. De acordo com GESSEL, A o desenvolvimento corresponde a uma “espiral ascendente”, que contém equilíbrios e desequilíbrios sucessivos e que obedecem as seguintes leis: 1. Princípio da direção do desenvolvimento psicomotor: a maturação dirige o processo de desenvolvimento em confronto com as forças ambientais. A maturação tem tendência a progredir em direções céfalo – caudal e próximo – distal. 2. Princípio da flutuação auto-reguladora das funções: o desenvolvimento não se manifesta com o mesmo ritmo em todas as frentes. Enquanto que em um sistema se pode estar a desenvolver, há outros que podem estar adormecidos. O desenvolvimento não se desenrola simultaneamente. Ao longo do desenvolvimento há uma flutuação periódica, a qual é controlada por um mecanismo de auto-regulação. 3. Princípio da assimetria funcional: o organismo tende a desenvolver-se assimetricamente. Os estágios sucedem-se, ao longo do desenvolvimento, de uma forma não linear. 27 2.4. O desenvolvimento motor segundo Vítor da Fonseca Fonseca (1989) considera a motricidade como psicomotricidade e meta motricidade. Esta motricidade não fica só pelo plano motor, mas vai muito mais além. O ser humano possui estruturas neurológicas sobrepostas sobre outras estruturas mais básicas. Estas estruturas permitem o simbolismo, a linguagem, etc. desde o nascimento que o ser humano traz essas estruturas, implicadas no comportamento e são elas, que permitem o aparecimento da linguagem. O desenvolvimento do ser humano, quer no aspecto neurológico, quer motor, realiza-se no mundo “sócio – cultural”, num meio ao qual o sujeito tem que se adaptar e apropriar-se da experiência sócio-histórica. Para FONSECA, (apud por PÈREZ, L (1994,p.55), “a ontogênese da motricidade começa com o que denomina a primeira dimensão maturativa ou inteligência neuro – motora...”. Esta primeira dimensão é composta por comportamento inatos e organização “tônico-emocional”. À inteligência neuromotora, segue-se a inteligência sensório-motora. Esta fase, vai dos dois aos seis anos e nela se incluem atividades motoras de locomoção, preensão e suspensão. A fase seguinte foi denominada de inteligência perceptivo-motora. Está relacionada com a noção de corpo, lateralidade, orientação no espaço e no tempo. Por último, Fonseca, V (1984) fala na inteligência psicomotora, que integra as anteriores e permite a ação no mundo. 2.5 Tendências atuais no estudo do desenvolvimento da motricidade As tendências atuais, no estudo da motricidade, são variadas, amplas e multidisciplinares. Pode-se, segundo PÈREZ, L. (1994), destacar uma série de características: 28 “ 1. Há um interesse para conhecer a natureza e a regulação dos movimentos infantis. Explica-se como é que os diversos mecanismos implicados na motricidade infantil e humana evoluem e se transformam. ,os processos perceptivo-motores e cognitivos são analisados minunciosamente e como é que a interação constante com a capacidade do movimento se manifestam nas crianças. 2. São numerosas as teorias emitidas sobre aprendizagem motor. Existem tendências que se destacam os avanços em matéria de desenvolvimento motor, para os aplicar nas aulas e ginásios, com o objetivo de favorecer a aprendizagem motor e explica-la com maior profundidade. 3. Estuda-se a motricidade infantil, com a finalidade de compreender melhor o desenvolvimento da criança e poder resolver carências escolares e instrumentos que se manifestam na atualidade.” Estas explicações consideram as crianças como uma unidade que se expressa pelos seus comportamentos quotidianos. Como afirma PÈREZ, L. (ibid.trad.) “... explicações têm como denominador comum o saber superar a dualidade corpo – espírito e tratar a criança como unidade que se expressa pelos seus comportamento quotidianos de onde a motricidade é um fator de primeira ordem”. Faz-se necessário que os mecanismos implicados na motricidade infantil e humana evoluam e se transformem, para que os processos perceptivos-motores e cognitivos sejam analisados minunciosamente e como é constante a interação com a capacidade do movimento se manifesta nas crianças. 29 3.FUNDAMENTO BIO - SOCIOLÓGICO DO PENSAMENTO Todos os movimentos executados pelos recém-nascidos não têm significado, nem objetivo. Difundem-se por simples descargas ineficientes de energia muscular. FONSECA, V. (1989, p.223) afirma que nos movimentos dos recém nascidos se verificam reações tônicas e clônicas, acompanhadas de espasmos e bruscas descargas, bem como de gestos descoordenados e de automatismos sem função (estereótipos), como os movimentos de pedalagem observáveis na primeira semana. Os gestos são uma modelação tônica de reação ao meio envolvente. A atividade da criança começa por ser elementar e caracterizada por um conjunto de gestos sincréticos sem qualquer significado ou objetivo. Segundo WALLON, H (1966,p.27), entre o indivíduo e o seu meio há uma unidade indissolúvel. O indivíduo não se pode separar do meio. O meio é para o homem uma necessidade orgânica e é essa necessidade orgânica que vai determinar o seu desenvolvimento, portanto a sua inteligência. A este respeito e de acordo com os autores já citados o desenvolvimento biológico, e o desenvolvimento social são condições um do outro. Até a aquisição da linguagem, o movimento é uma característica existencial da criança e a resposta aos seus estados emocionais. O movimento torna-se assim a primeira estrutura de relação com o meio, com os objetos e os outros de onde de edificará a inteligência e a primeira forma de expressão emocional e de comportamento. É pelo movimento que a criança exprime as suas necessidades. 30 Os primeiros gestos úteis são os de expressão, desenvolvidos na criança para tomar os objetos que são indispensáveis ao seu bem estar. A esta expressão motora encontra-se ligada a esfera afetiva, por ser o escape das emoções vividas. A expressão emotiva é, para WALLON, H (1979), o elemento da formulação da consciência. 3.1 A evolução da Psicomotricidade e seus estágios Apud TAVARES, J. e ALARCÃO, I. (1985, p.37), WALLON referem que O desenvolvimento psíquico da criança é composto de estádios que não são a estrita continuação uns dos outros. Entre eles existe subordinação, mas não identidade de orientação funcional. As atividades mais primitivas são progressivamente dominadas por atividades mais recentes e integram-se nestas últimas mais ou menos completamente. WALLON, H (1979) individualizou alguns aspectos psicomotores e conseguiu definir as etapas essenciais do desenvolvimento motor das crianças: estágio impulsivo, estágio tônico e o estágio sensório-motor. No estágio impulsivo (recém nascido), os movimentos são simples descargas de energia muscular, verificando-se reações tônicas e clônicas acompanhadas de espasmos, de gestos descoordenados e de automatismos sem função (estereótipos). Toda ação já é portadora de uma carga afetiva e emocional, tendo o seu início no jogo dialético entre o bem e o mal estar. Estas emoções constituem gestação das representações. Como referem FONSECA, V e MENDES, N. (1988, p.30) estas emoções são já um dado da consciência e constituem, representações em gestação. portanto verdadeiras pré-representações ou 31 Através de movimentos desajeitados e agitados, a criança estabelece a primeira comunicação com o meio ambiente. Para estes autores a transformação desses movimentos em gestos úteis e significativos preparará os primeiros sucessos em relação ao seu envolvimento. A motricidade é o suporte de onde vão nascer as realizações da vida psíquica. O estágio Tônico – emocional (dos 6 aos 12 anos), nas primeiras aquisições da consciência e que anunciam o aparecimento do movimento significativo, embora sincréticas e confusas, têm origem na desordenação inicial. Neste estágio a excitação é superior à inibição, levando a um exagero das funções tônicas. Iniciam-se as primeiras relações com o mundo exterior, através do movimento. O movimento, por um lado, Express o prólogo de relações circulares entre a movimento e sensibilidade e, por outro lado, indica que se aproxima as primeiras representações. A este respeito FONSECA, V. (1988,p.24) adianta que é o mundo das emoções que mais tarde originará o mundo das representações, através das atitudes e simulacros postos em jogo pelo movimento. WALLON, H (1979) considera que as emoções e os movimentos são condutas edificadas pela tonicidade que vai permitindo a edificação das posturas e atitudes. As atitudes são como que estruturas intermediárias entre o real e a representação, influenciando dialeticamente o desenvolvimento da inteligência e da afetividade. Para WALLON, H (1979) é a tonicidade que transforma o fisiológico em psicológico. As emoções aparecem ao mesmo tempo, como condutas motoras e condutas sociais, nas modalidades de adaptação. No estágio sensório-motor (dos 12 aos 24 meses), tem um caráter mais subjetivo e afetivo, porque liga o movimento às suas conseqüências sensíveis. 32 Verifica-se um aumento dos dados sensoriais, contribuindo para o aparecimento de uma percepção mais fina, precisa e mais discriminativa. Neste estágio há um aumento da maturidade na organização das emoções provocada pela multiplicação das relações das crianças com o seu envolvimento. A correlação entre as experiências motoras e sensoriais torna-se mais evidente. Como menciona FONSECA, V (1988,p.25) o estado sensorial sucede ao desenvolvimento das atitudes, dos atos rudimentares, das expressões emotivas... Dá-se nesse período a passagem do biológico ao psicológico. A percepção começa a ser mais precisa e os movimentos conseguidos são repetidos. Este tipo de atividade vai permitir a eficiência do gesto e a eliminação dos inúteis ou do que inútil dentro de cada um dos gestos. WALLON,H (1966) analisa os gestos e movimentos, como expressões viradas e dirigidas para os outros. Estas expressões são traduzidas através de uma linguagem emocional e não verbal. No estágio Projetivo (dos 2 aos 3 anos), a organização das primeiras representações deve-se à percepção dos objetos e à sua descoberta, através da manipulação. É sempre a atividade motriz que regula o aparecimento e o desenvolvimento das formações mentais. WALLON, H (1970) refere que a ação é o estímulo da atividade mental. Nesta fase, a atitude postural adquire a sua autonomia, verificando-se uma maior disponibilidade para conquistar o real. A palavra aparece como o prolongamento da ação e marca o início da objetivação. WALLON, H (1963) nesta fase, dá uma grande importância à imitação. Esta não é mais que a repetição de um gesto executado por ela própria como forma de resistência de uma excitação recente e facilmente renovada no aparelho 33 psicomotor. A imitação é bastante importante para a aquisição de novas aprendizagens. A imitação, depois de simples repetição, estabelece um sistema de ligações perceptivo – motoras e projeta-se numa reação convergente. WALLON, H (1963), considera que o movimento não intervém só no desenvolvimento psíquico e nas relações com o outro, mas também influencia o comportamento habitual. Para este autor o movimento é um fator importante no temperamento. O estágio Personalístico (dos 3 aos 4 anos), o modelo do outro adquire importância como estímulo e experiência. A motricidade e a linguagem introduzem a criança na sociedade e o mundo na personalidade da criança. O movimento é o veículo da conscientização global. Como afirma FONSECA, V. (1988,p.29) é fundamentalmente o movimento que leva à dissociação da oposição entre a adaptação motora e a representação simbólica. As atividades motoras surgem com uma importância psicológica que as transcende. As distâncias (espaço) passam a ser conhecidas, as direções passam a ser relativas e o meio pode-se modificar em função dos primeiros “esboços de desejo”. O real passa a ser independente e ao alcance das fantasias da mente da criança. 3.2 Educação pelo Movimento FROSTIG, M. (1970) sugere um programa com atividades sensório e perceptivo - motoras, que designou por educação pelo movimento. Segundo FONSECA, V. e MENDES, N. (1988,p.217), os principais objetivos das atividades formuladas por FROSTIG, são os seguintes: 34 Conscientização do corpo, conscientização do envolvimento, desenvolvimento sensório – motor, controle do movimento, coordenação manual, noção de direção espacial, estimulação das três avenidas sensoriais: tátilo, auditiva e visual, conscientização espaço – temporal e desenvolvimento das capacidades motoras: coordenação, ritmo, flexibilidade, velocidade, agilidade, equilíbrio e força. A evolução da criança vai do mover para o crescer e do crescer para o aprender. Antes da aquisição da linguagem , impõe-se, de acordo com FROSTIG, M. (1970) a aquisição das estruturas sensório – motor e perceptivo – motoras, que designou por “vocabulário do movimento”, sem as quais não seria possível uma verdadeira expressão criativa. FROSTIG, M. (1970) preconiza uma educação do movimento de uma forma interdisciplinar para desenvolver as capacidades perceptivo – visuais. Sem a aprendizagem perceptivo – visual, as aprendizagens escolares, tais como a leitura, a escrita e o cálculo não se tornavam possíveis. 35 CONCLUSÃO A presente pesquisa pretendeu responder ao seguinte problema: em que medida o desenvolvimento motor influenciará na aprendizagem cognitiva? Tendo como hipótese inicial, na medida em que o professor buscar desenvolver as habilidades da criança no desenvolvimento motor, logo a aprendizagem cognitiva terá também um maior desenvolvimento e um maior rendimento, e diante de toda pesquisa realizada a hipótese foi válida. Podemos concluir que todos os autores estudados consideram que o desenvolvimento motor tem grande importância na aprendizagem cognitiva, ou seja, o desenvolvimento da criança está intimamente ligado à experiência – ação. É agindo mesmo e com o mundo que a rodeia, que a criança aprende e se descobre. O desenvolvimento da criança depende da ação e mediação que os adultos lhe proporcionam. Através da criação ou da recriação de um envolvimento próprio, que se verifica o desenvolvimento cognitivo da criança. A criança deve ser entendida como um ser bio-psico-social. Ou seja, a sua evolução inicia-se tendo por base um processo biológico, para posteriormente se desenvolver, através de um processo psicológico, onde irá apropriar-se da linguagem; com a apropriação da linguagem, a criança transcende o seu envolvimento imediato e através da aquisição de pensamentos e sentimentos mergulha num processo sociológico. De uma mesma forma, poderemos entender o seu desenvolvimento motor. Ou seja, este acontece numa relação dialética dos três mundos: o biológico, o, psíquico e o social. Assim, será importante retermos que, a criança depende do investimento dos adultos. É a mãe o “agente” facilitador do desenvolvimento bio-psico-social. Pensamos que os vários autores estudados são unânimes em considerar que a aprendizagem manifesta-se por uma aquisição, que não sendo inata nem 36 maturativa, sê-lo-á como um resultado de um processo experimental. É a experiência a grande responsável pelo aprender. Essa experiência tem que ser proporcionada pelos adultos, que devem criar condições adequadas à sua realização. Contudo, o ser humano é um ser carente e incompleto. Essa carência levao a agir (ação). Pelo movimento, o homem comunica e transforma o mundo que o rodeia, resultando a maturação neurológica da dialética entre a quantidade e a qualidade de estímulos que o adulto socializado, portador de valores sociais, proporciona à criança. Por outro lado, a construção da sua personalidade (fator social) resulta da interação entre o meio e a hereditariedade, que vai permitir a aquisição, a apropriação de valores históricos e culturais da sociedade, na qual a criança vai construindo a sua autonomia. Esta é a lógica de construção da triologia motricidade – neurologia – aprendizagem , o mesmo é dizer-se ontogênese da motricidade, ontogênese do sistema nervoso, ontogênese da aprendizagem. Pensamos que conseguimos abordar, de uma forma sucinta e rápida as várias perspectivas sobre o desenvolvimento humano e motor, que são essenciais para a resolução de muitos dos problemas escolares e sociais. Sugerimos algumas pesquisas relacionadas a este tema desenvolvido, como um trabalho monográfico sobre o tema: “A importância dos jogos e brincadeiras no desenvolvimento psicomotor”. Este trabalho nos apresenta uma minuciosa pesquisa sobre a história da psicomotricidade, refletindo sobre a necessidade e utilização como instrumental e recurso pedagógico no processo ensino-aprendizagem. Outra sugestão é “Um estudo sobre as dificuldades de aprendizagem das crianças: contribuições da arte”. A pesquisa propõe apresentar a arte como instrumento facilitador da aprendizagem em um estudo de caso com crianças, 37 verificando a importância da arte no processo da aprendizagem ao possibilitar os desenvolvimentos cognitivos, sociais, físicos e / ou psicológicos. Uma terceira sugestão é: “A psicomotricidade na educação infantil”. Relata a importância das atividades psicomotoras para o desenvolvimento da criança nas séries iniciais. Reforçamos nossas conclusões anteriores, com os contribuições dos seguintes autores: Wallon deu uma grande importância à motricidade como fator essencial na emergência da consciência, bem como a constante reciprocidade entre o aspecto tônico e cinético da motricidade; o caráter emotivo da relação tônico emocional surge da relação mãe – filho, responsável pelos primeiros investimentos da relação afetiva entre a criança e os que a envolvem, constituindo o prelúdio da comunicação verbal a que o autor chamou Diálogo Tônico. Piaget, no estudo das inter – relações entre a motricidade e a percepção, considerou que a motricidade interfere na inteligência antes da aquisição da linguagem, elaborando-se a função simbólica (geradora da linguagem) e constituindo-se o caminho para a criança chegar à representação e ao pensamento; a inteligência como resultado de uma experimentação motora é essencialmente movimento, uma vez que através da experiência o indivíduo constrói o pensamento e incorpora os dados fornecidos pelo meio, isto é, aprende (assimilação) e aprende (acomodação), ou dito por outras palavras, a criança adaptando-se às coisas organiza o pensamento e ao organizar-se estrutura as coisas. Frostig aponta a aprendizagem como um resultado perceptivo – visual, devendo-se realizar antes das primeiras aprendizagens escolares, dado que sem percepção não há atividade mental e corporal; ou seja, para se compreender o movimento livre e criativo, a criança deve adquirir a conscientização do seu corpo e a exploração dos espaços, condições essenciais para a aquisição das aprendizagens escolares da leitura, escrita e cálculo. 38 Em suma podemos concluir que a aprendizagem resulta de mecanismos perceptivos na sua relação dialética com os mecanismos motores, sendo pelo movimento que o ser humano aprende bio-psico-sociologicamente. 39 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AUSUBEL, D. – Theory and Problems of Adolescent development. New York: Green and Stratton, 1954. BORGES, M.I.P. – Introdução à Psicologia do desenvolvimento. Porto: edições Jornal de Psicologia, 1987. FEITOSA, A M. – Contribuições de Thomas Kunn para uma epistemologia da motricidade humana. Lisboa: Instituto Piaget, 1993. 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Vaga, 1979. 42 ANEXOS 43 44 ÍNDICE Capa.......................................................................................................................01 Contra capa............................................................................................................02 Dedicatória..............................................................................................................03 Agradecimento........................................................................................................04 Epígrafe..................................................................................................................05 Resumo...................................................................................................................06 Sumário..................................................................................................................07 Introdução...............................................................................................................08 1. Aprendizagem–Conceito e Fundamentação................................................10 1.1 Algumas teorias de aprendizagem - Teorias behavioristas.........................12 1.2 Teorias Cognitivas – Piaget, Bruner – Ausubel ..........................................14 1.3 Movimento Humanista.................................................................................17 1.4 Perspectiva atual sobre a aprendizagem....................................................18 2. Motricidade – Conceito e fundamentação ...................................................21 2.1 O papel da motricidade na Teoria de Jean Piaget......................................23 2.2 A concepção psicobiológica de Wallon......................................................24 45 2.3 A teoria maturativa de Gessel....................................................................25 2.4 O desenvolvimento motor segundo Vítor da Fonseca................................27 2.5 Tendências atuais no estudo do desenvolvimento da motricidade............28 3. Fundamentos bio- sociológicos do pensamento..........................................29 3.1 Evolução da psicomotricidade e seus estágios ..........................................30 3.2 Educação pelo movimento..........................................................................33 Conclusão...............................................................................................................35 Referência Bibliográfica..........................................................................................39 Anexos....................................................................................................................42 Índice......................................................................................................................44 Folha de avaliação..................................................................................................46 46 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós – Graduação “Lato Sensu” Curso de Psicopedagogia Título da monografia: A relação existente entre o desenvolvimento motor e a aprendizagem em crianças de 2 a 7 anos. Feito por: Fabiana Ferreira dos Santos Orientador por: Nilson Guedes de Freitas Data da entrega: 01/10/2005. Avaliado por: ____________________________ Grau: _______________ Rio de janeiro, 01 de outubro de 2005. 47