pastagens no ecossistema de clima subtropical

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PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DE CLIMA SUBTROPICAL
1
Carlos Nabinger
Paulo César de Faccio Carvalho2
3
Miguel Dall’Agnol
1. Introdução.
A região subtropical brasileira está limitada ao norte pelo trópico de
0
capricórnio (24 S), que cruza o norte do Paraná e o Sul de São Paulo e ao sul
pelo extremo sul do Rio Grande do Sul, na divisa com o Uruguai. Compreende,
portanto, principalmente os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul.
A tradição pecuarista no sul do Brasil teve início com a colonização daquela
região, onde os campos naturais ofereciam o adequado suporte para o
desenvolvimento desta atividade, em especial no RS, e que aos poucos foi se
alastrando para a região dos campos limpos de SC e PR. No RS e PR, as
pastagens naturais ainda representam a base da exploração pecuária. E assim
deverá continuar, ao menos no que diz respeito ao rebanho bovino e ovino de corte
de cria, não só por razões econômicas, mas também ambientais. Em que pese o
avanço da pesquisa relativa à utilização deste recurso natural, que tem demonstrado
um potencial produtivo não imaginado no passado recente, muito ainda necessita
ser feito para o melhor entendimento de suas respostas às alterações nos fatores de
produção. Além do mais, este recurso representa uma fonte de germoplasma
forrageiro sem par em todo o mundo e que é ainda muito pouco estudado quanto a
suas diferentes aptidões para formar pastagens cultivadas ou mesmo para outros
usos (paisagismo, lazer, recreação, etc...). Por outro lado, nas últimas décadas, a
produção de grãos passou a assumir papel de destaque na economia da região,
notadamente no Paraná e Rio Grande do Sul. A intensificação da lavoura de soja no
RS a partir dos anos 70 e, sobretudo do binômio trigo-soja, inicialmente baseada no
preparo convencional do solo, propiciou o início de grandes processos erosivos,
com depauperação dos solos e assoreamento dos mananciais hídricos. Este quadro
passou a ser parcialmente revertido com a melhor sistematização da sucessão trigosoja, que determinou, além do melhor uso de práticas conservacionistas, a utilização
de apenas um terço da área com trigo. O restante passou então a ser ocupado,
idealmente, com culturas de cobertura, basicamente aveia. Posteriormente, com o
advento da semeadura direta, esta prática revelou-se ainda mais eficiente e
ensejou,a reintrodução da pecuária durante o inverno para aproveitamento das
áreas cobertas com culturas de proteção como aveia, agora também consorciada
com azevém. Embora ainda encontrando resistência por parte de muitos produtores,
a prática da integração com pecuária, tem ganhado espaço, sobretudo no Paraná,
revelando mais uma alternativa de uso de pastagens, com benefícios mútuos para a
lavoura e a pecuária. Desta forma, a produção pecuária (bovinos e bubalinos de
corte e leite, ovinos e eqüinos) na região não é mais baseada quase que
exclusivamente no recurso pastagem natural, mas também envolve sistemas mais
1
Eng. Agr., Dr., Prof. Adjunto, Depto. Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da UFRGS. E-mail:
[email protected]
2
Zoot., Dr., Prof. Adjunto, Depto. Plantas Forrageiras e Agrom eteorologia da UFRGS
3
Eng. Agr., PhD, Prof. Adjunto, Depto. Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da UFRGS
complexos, sobretudo para a recria e a terminação. A integração lavoura-pecuária,
que antes somente era praticada de forma pouco intensiva nas áreas de produção
de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, também passa a ser uma alternativa
importante em todos os estados do sul. Soma-se a isso, também outros sistemas
como é o caso dos sistemas silvipastorís.
Disto decorrem demandas diferenciadas para a pesquisa, que necessitou
adotar uma visão mais holística dos diferentes sistemas pastoris, mas sem perder a
capacidade analítica e explicativa dos fenômenos que conduzem à produção de
pasto, sua utilização pelos animais e o efeito destes sobre o solo e sobre o
rendimento subseqüente da pastagem e das culturas de grãos, quando é o caso.
Disto decorre demandas diferenciadas para a pesquisa, que necessitou adotar uma
visão mais holística dos diferentes sistemas pastoris, mas sem perder a capacidade
analítica e explicativa dos fenômenos que conduzem à produção de pasto, sua
utilização pelos animais e o efeito destes sobre o solo e sobre o rendimento
subseqüente da pastagem e das culturas de grãos, quando é o caso.
Após consolidar uma fase de enfoque mais produtivista num passado
recente, houve avanços dentro de um novo prisma mais analítico-explicativo, no
qual não se pretende simplesmente quantificar o potencial do pasto, mas explicar e
entender o funcionamento dos fenômenos que determinam a realização ou não
daquele potencial. Isto decorreu fundamentalmente de dois processos:
i) da necessidade de robustez do conhecimento gerado, não somente com
aplicação na região ou condições específicas e, portanto, limitado, mas inserido em
leis maiores de funcionamento do Ecossistema. A maturidade científica adquirida
indicou a necessidade de avanço no conhecimento da origem dos processos;
ii) de novas demandas da sociedade. Segurança alimentar é uma exigência
atual de sociedades de países desenvolvidos e já se encontram vários nichos
aparecendo no mercado. O recurso pastagem é um substrato incomparável para
agregação de valor a produtos oriundos dos ruminantes domésticos e outros.
Portanto, não basta mais produzir a qualquer preço, mas há que se produzir em um
ambiente ecologicamente aceitável e com reflexos sócio-econômicos mensuráveis.
E a pesquisa terá de definir estes limites.
Esta forma de abordagem do problema forrageiro passou necessariamente
pela melhor conceitualização e entendimento da interação solo-clima-planta-animal,
conforme já propunham Moraes et al. (1995). Na presente abordagem, enfocaremos
os aspectos conceituais envolvidos nestas relações, aplicando-os, posteriormente,
às principais linhas de pesquisa que, em nosso entender, deveriam nortear as ações
de pesquisa na região, isto é, focando nos grandes recursos atualmente disponíveis:
a pastagem natural, os sistemas integrados com a lavoura ou mesmo a integração
silvo-pastoril, finalizando com aspectos ligados aos processos de identificação e
obtenção de germoplasma superior e à produção de sementes.
2. O produto animal visto como resultado da relação solo-clima-planta-animal
O modelo conceitual desta forma de abordagem da pesquisa com pastagens
toma como base o modelo proposto por Lemaire e Chapmam (1996), modificado
por Cruz e Boval (2000) e adaptado por Freitas (2003). Este modelo, representado
na Figura 1, baseia-se na hipótese de que os recursos tróficos disponibilizados pela
natureza (CO2, N, água, radiação solar e temperatura) ou pela ação de manejo
(adubação, irrigação) alterem as características morfogênicas do pasto, que por sua
vez alteram as características estruturais do mesmo, condicionando a carga animal
e o comportamento ingestivo dos animais em pastejo.
Não obstante, deve-se considerar que tais alterações se dão de forma
complexa e dinâmica, influenciadas, também, por outros fatores, como o manejo da
desfolha, que se constitui no fenômeno principal de conexão entre o pasto e o
animal. As variáveis do comportamento ingestivo são dependentes das
características estruturais e influenciam o desempenho individual dos animais em
pastejo. As características morfogênicas, por sua vez, determinam a capacidade de
suporte da pastagem. Quanto maiores forem as taxas de elongação e surgimento
de folhas e o tempo de duração da vida da folha, mais animais poderão ser
colocados na pastagem na oferta de forragem ótima, ou seja, maior será a
capacidade de suporte da mesma.
PRODUÇÃO ANIMAL
POR ÁEREA
VARIÁVEIS AMBIENTAIS
Temperatura, N, água, etc..
Animais por
área
Elongação da
folha
Tamanho da
folha
Elongação do
colmo/estolão
Aparecimento
de folhas
Densidade de
colmos/estolões
Duração da
folha
Folhas
vivas/haste
CARACT.
Carga animal
MORFOGÊNICAS (capac. Suporte)
Produção por
animal
Desempenho
individual
Profundidade do
bocado
CARACT.
ESTRUTURAIS
Taxa de bocado
Comportam.
ingestivo
Busca e apreensão
Qualidade
da luz
IAF
Freqüência e
intensidade da
desfolha
Tempo de pastejo
Figura 4. Modelo conceitual das relações planta-animal (adaptado a partir de
Lemaire e Chapmann, 1996, Cruz e Boval, 2000 e Freitas, 2003).
Portanto, o conhecimento analítico do processo de construção da produção
do pasto (Nabinger, 1997; Nabinger e Pontes, 2001) e o processo de colheita da
forragem em pastejo (Carvalho et al., 1999; Carvalho et al., 2001) são fundamentais
para se avançar no entendimento das relações causa-efeito entre plantas e animais.
A conexão longínqua entre a produção do pasto e a produção animal é suficiente
apenas para se definir patamares de potencial de produção secundária, mas pouca
agrega para o conhecimento dos processos e fenômenos envolvidos. Somente com
esses últimos é possível avançar cientificamente e propor bases de manejo
efetivamente sólidas.
O conhecimento das respostas das diferentes forrageiras às variáveis
ambientais não controladas é o primeiro passo para o entendimento do seu
potencial. Pressupõe uma primeira fase em que os fatores controláveis (água e
nutrientes) são disponibilizados em níveis ótimos. É desta forma que se pode
modelar as respostas de diferentes genótipos forrageiros às variações nas
condições de temperatura, radiação solar e fotoperíodo, quanto às suas variáveis
morfogênicas (taxa de elongação de folha e de estolões, taxa de surgimento de
folhas e duração de vida da folha), e assim explicar as variações no ritmo de
acúmulo de forragem, o qual deve ditar o ritmo de utilização pelos animais. Estas
variáveis também são explicativas da formação do IAF, através das variáveis
estruturais (número de folhas vivas por haste, densidade de colmos ou estolões e
tamanho final da folha), e por esta razão, responsáveis pela interceptação da luz,
fonte primária de energia para o crescimento da planta. Muitos trabalhos tem sido
recentemente conduzidos nesta ótica (Cruz, 1998; Scheffer-Basso et al, 1999a;
Scheffer-Basso et al, 1999b; Silva et al., 2001; Nabinger et al, 2001; Pontes et al,
2003; Eggers et al., 2004; para citar alguns), revelando novas bases para a
compreensão do processo de acúmulo de biomassa e das relações de competição
de diferentes genótipos quando em misturas simples (consorciações) ou mesmo
fazendo parte de sistemas mais complexos como a pastagem natural e os sistemas
silvopastorís. Além do mais é fundamental para embasar as decisões sobre
freqüência e intensidade da desfolha
A partir do conhecimento das características estruturais, da pastagem tornase possível avançar na elaboração de modelos de resposta aos fatores do meio,
como é o caso do IAF. O determinismo da taxa de emissão de folhas, do seu
tamanho, da duração de vida das mesmas e da taxa de perfilhamento é a base
conceitual dos modelos de evolução do IAF. Esta evolução pode então ser
modelada, assim como a eficiência com que a radiação incidente é utilizada
(eficiência de interceptação e eficiência de utilização), desde que se determinem
alguns parâmetros de modelos consagrados tal que o coeficiente de extinção da luz
(k), o que pode ser facilmente obtido através do balanço da radiação (Nabinger,
1997, Nabinger,1988). Obtêm-se, assim, modelos potenciais de acúmulo de
biomassa aérea, que se de pouca importância prática para os sistemas produtivos
que geralmente trabalham em níveis limitantes de água e nutrientes, são
fundamentais para nortear e balizar a pesquisa que, a partir daí, deverá incluir como
fonte de variação a variabilidade dos fatores controláveis, água, nutrientes e a
desfolha. Foi desta forma que foram desenvolvidos modelos de acúmulo potencial
de forragem para azevém (Lolium multiflorum) (Viegas 1998; Viegas et al, 1999),
Paspalum notatum (Costa et al, 1997a; Costa et al 1997b), Desmodium incanum
(Spannemberg et al., 1997a; Spannemberg et al., 1997b) e aveia (Alves, 2001), por
exemplo. Além de estabelecer os limites superiores de produção, esta abordagem
tem permitido eliminar certos paradigmas produtivos que, por exemplo,
“condicionavam” a produtividade do azevém em cerca de 6 t MS/ha, ou de que
espécies nativas não respondem à adubação. Estes modelos demonstraram, que
azevém pode produzir mais de 12 t MS/ha na sua estação de crescimento e que P.
notatum, tem potencial para produzir mais de 14 t MS/ha ao longo do ano.
O passo seguinte (ou mesmo concomitante) é a verificação do efeito da
desfolha, e os conseqüentes efeitos sobre a produção animal. Boggiano et al. (2001)
Freitas (2003) e Pontes et al. (2003 e 2004) demonstram bem a aplicação desta
filosofia de pesquisa.
Igualmente importante é o conhecimento das características morfogênicas de
certas espécies em comunidades complexas como é o caso das pastagens naturais,
para entender o processo de dinâmica da sucessão vegetal em resposta a fatores
do meio e à pressão de pastejo (Eggers, 1999; Eggers et al, 2004, Cruz, 2001) ou
outros fatores bióticos como o fogo (Trindade et al., 1999a e Trindade et al., 1999b)
Dentre os avanços e consolidações do conhecimento nesta linha de pesquisa
destacam-se:
1) A intensidade de pastejo é o principal determinante das características
morfogênicas que caracterizam o tamanho da folha e, conseqüentemente, o
IAF médio do dossel.
2) Quanto maior a intensidade de pastejo, a estrutura do pasto se mostra mais
limitante ao processo de colheita de forragem pelo animal.
3) As características morfogênicas e estruturais do pasto são altamente
dependentes da disponibilidade de nitrogênio.
4) O comportamento ingestivo dos animais indica o status nutricional dos
mesmos Quando a intensidade de pastejo é alta e a estrutura do pasto é
baixa, os animais pastejam em um ritmo maior, por mais tempo, se deslocam
mais e de forma mais rápida, além de apresentarem um número de refeições
menor, mas de maior duração..
5) Ofertas de forragem muito elevadas também podem restringir a ingestão por
um efeito estrutural do pasto. O intervalo de tempo entre dois bocados
sucessivos aumenta consideravelmente quando a estrutura do pasto
apresenta-se excessivamente alta, e com elevada dispersão de folhas na
camada superior do pasto. Conseqüentemente, a velocidade de ingestão é
penalizada pelo aumento de movimentos mandibulares de manipulação da
forragem ingerida.
6) Estruturas de pasto que potencializam a produção primária e/ou secundária
podem ser ilustradas por alturas de manejo do pasto tais como: azevém para
ovinos (± 15 cm), azevém+aveia para bovinos (± 25 cm), milheto para ovinos
(± 30 cm), tanzânia para ovinos (± 40 cm), mombaça para bovinos (± 90 cm).
2. O bioma Campos Sulinos: principal recurso forrageiro no extremo sul
Mesmo que reconheçamos que o atual bioma Campos é produto de cerca
de quatro séculos de intervenção crescente do homem, ainda assim, a forma
como ele se apresenta e sua capacidade de resiliência, tornam indispensável sua
4
5
manutenção, como forma de preservação do ambiente e da paisagem . Em
termos de diversidade florística, nunca é demais lembrar que este bioma contém
cerca de 400 espécies de gramíneas forrageiras e mais de 150 espécies de
leguminosas, sem contar as compostas e outras famílias (Boldrini, 1997). Isto é
um patrimônio genético fantástico e raramente encontrado em outros biomas
pastoris do planeta. Além disso, ainda guarda uma fauna extraordinária, na qual
incluem-se inclusive abelhas melíferas nativas, um sem número de pássaros,
4
Conservação da água (nascent es), do solo (fertilidade, erosão e assoreamento de mananciais), da flora tanto
forrageira com outras espécies importantes associadas ao campo, da fauna (incluindo micro e mesofauna).
5
Em muitas regiões a fisionomia de campo caract eriza paisagens de alto potenci al turístico, como, por
exemplo, os Campos de Lages, em SC e os Campos de Cima da Serra, Serra do Sudeste e parte da Campanha
no RS.
mamíferos, etc... Acrescente-se a isto o fato de muitos rios importantes da região
terem sua origem nas condições de campo.
São poucas regiões no mundo que apresentam uma diversidade de espécies
campestres como as encontradas no subtrópico brasileiro. Se, além das gramíneas,
associarmos a estas outras famílias com exemplares campestres também
numerosos como as compostas, ciperáceas e outras, teremos um número, em
termos de biodiversidade, que ultrapassa o total de espécies vegetais encontradas
nas florestas tropicais úmidas (Duncan e Jarman, 1993). De acordo com Boldrini
(2002) existem, neste bioma, cerca de 3000 espermatófitas campestres.
Esta riqueza florística traz um fato pouco comum ao registrado no restante do
mundo que é a associação de espécies C4, de crescimento estival, com espécies
C3, de crescimento hibernal. A presença das espécies de inverno e a freqüência
com que estas ocorrem está associada às condições de latitude, altitude, fertilidade
do solo e, sobretudo ao manejo do pastoreio.
Sem entrar no detalhamento das diferenças que as condições de clima e
solo determinam no potencial da pastagem natural de diferentes sub-regiões do
sul do país, a pesquisa local tem demonstrado que existem possibilidades de
intensificação da exploração deste recurso, capazes de assegurar níveis de renda
na pecuária de corte que justificam, no mínimo uma maior reflexão antes de
qualquer decisão concernente à sua substituição.
A Figura 2 nos dá uma idéia aproximada do que seriam as principais
formações campestres do Sul do Brasil pelo menos até meados do século passado.
C. GROSSOS
CAMPOS DE
ALTITUDE
C. MISTOS
SAVAN AS D A
SERRA DO
SUDESTE
C. FINOS
Figura 2. Representação simplificada das principais formações campestres do sul do
Brasil.
Globalmente, as pastagens naturais desta região apresentam uma grande
diversidade estrutural, com predominância de gramíneas e relativamente baixa
participação de leguminosas. Do ponto de vista funcional, se observa uma grande
variabilidade do nível de produtividade, tanto no tempo como no espaço.
No tempo as variações de produtividade são determinadas pela variação
estacional do clima. Entretanto, a resposta de uma comunidade vegetal é
determinada, essencialmente, pela coexistência de dois grupos de espécies
adaptadas aos climas subtropicais (espécies com metabolismo C 3 e C4). A
dominância relativa destas espécies, numa dada comunidade vegetal, é que
determina a sua capacidade de crescimento, ao longo das diferentes estações do
ano, definindo o equilíbrio da produção anual de forragem.
No espaço a produtividade forrageira destas comunidades vegetais, está
extremamente relacionada às características físicas e químicas dos solos,
associados, por sua vez, aos grandes grupos de solos, como também ao relevo e
à continentalidade. Estes fatores edafo-climáticos determinam grandes variações
na composição botânica e substanciais diferenças de produtividade em função da
dominância de certas espécies, embora o manejo do pastoreio (carga animal,
diferimento, limpeza), assim como dos outros fatores bióticos (adubação,
sobressemeadura de espécies), sejam também um grande condicionante da
composição florística que a pastagem pode apresentar.
As pastagens naturais ainda representam a base da exploração pecuária
no subtrópico brasileiro. Esta participação é mais importante no RS, cuja
superfície de solo originalmente detinha 60% em cobertura de pastagens naturais
e que reduziu esta participação para cerca de 10,5 milhões de hectares até 1995.
Esta redução começa a tornar-se preocupante, pois se considerarmos os 26 anos
decorridos entre os censos de 1970 e 1996, a redução média foi de cerca de
134.000 ha por ano (Figura 3).
16000
AREA (1000 ha)
14000
12000
10000
8000
RS
SC
PR
6000
4000
2000
0
1970
1975
1980
1985
1996
ANO
Figura 3. Evolução da área de campo nativo no estados do sul do Brasil, entre
1970 e 1996. (adaptado de IBGE, 1998). A linha sólida representa a regressão
linear entre a área de campo nativo no RS e os anos, representando um decréscimo
de 134.000 ha por ano.
.
A redução observada desde então é muito mais acentuada, tendo em vista
a pressão exercida pelos altos preços da soja até recentemente, a qual tem
avançado sobre as áreas de campo, independentemente das condições
edafoclimáticas. Tais condições não recomendam o seu uso na maioria das atuais
áreas de campo, cuja maior parte encontra-se em solos de classes de uso 4 e 5
(impróprias para cultivo anual). Soma-se a isto os recentes incentivos ao
florestamento sobre as áreas de campo, inicialmente restrito aos Campos de
Cima da Serra e Planalto Catarinense, mas hoje se deslocando para a região da
Serra do Sudeste e da Campanha do RS. Coloca-se então a questão: tratando-se
de um ecossistema tão importante como a Mata Atlântica ou a Floresta
Amazônica, porque esta destruição/transformação não preocupa técnicos,
governantes e a sociedade em geral? Porquê só recentemente (final de 2004) foi
considerado oficialmente como um bioma (Bioma Campos Sulinos)? Além do
mais, evidencia-se mais uma vez a incongruência de certas atitudes nacionais
que, como no caso presente, desmata a Amazônia para formar pastagens e
destrói as pastagens naturais do Sul do Brasil para formar florestas.
O papel que este bioma representa para o equilíbrio ambiental da região é
inquestionável, mas, por outro lado, é evidente que nenhum produtor pode pensar
em ser o guardião do ambiente e da paisagem, sem ter o conhecimento da sua
importância e uma mínima remuneração para tal. No entanto, a única
remuneração que lhe é dada é pela venda do produto animal aí gerado. E, de um
modo geral, esta remuneração é baixa e não contempla esta “guarda” do
ambiente e da paisagem. Portanto, ainda que reconhecendo a importância do
campo nativo na manutenção do equilíbrio ecológico em determinadas regiões do
subtrópico brasileiro, é preciso admitir que a pressão econômica que se exerce
em prol da eliminação/transformação deste bioma, só pode ser revertida se
houver alternativas também econômicas que assegurem a permanência da
atividade pecuária aí estabelecida. E isto sem levarmos em consideração os
níveis de risco que as culturas de grãos trazem consigo quando esta produção se
faz em regiões consideradas como marginais ou, no máximo toleradas, em função
das condições climáticas em anos normais.
Esta substituição das pastagens naturais tem assumido proporções
gigantescas pelas razões seguintes:
i) Baixa produtividade dos campos em função de sua má utilização em termos de
carga animal (excesso ou deficiência), com decorrente baixo rendimento
econômico;
ii) Degradação dos campos, por excesso de carga animal ou uso do fogo;
iii) Aumento das áreas de lavouras, especialmente de soja e de florestamento;
iv) Aumento no plantio de pastagens cultivadas;
v) Surgimento de técnicas de "melhoramento" do campo nativo mal concebidas e
mal executadas, como por exemplo, a aplicação de herbicidas sem um
conhecimento das realidades regionais.
A eminência de desaparecimento de aproximadamente 49 espécies
forrageiras nativas e o surgimento de "desertos" em alguns pontos do RS são
exemplos claros de que a pastagem nativa é sensível a esta pressão atual. Esta
sensibilidade está associada ao fato de que o impacto do pastejo em nosso bioma,
sobre a biodiversidade, é muito maior que em outros biomas, como por exemplo,
nos de clima árido e semi-árido. Esta assertiva está baseada no modelo de
Milchunas et al. (1988) que apresenta a resposta de diferentes ecossistemas
terrestres à ação do pastejo segundo duas dimensões: o histórico de co-evolução do
ecossistema na presença de grandes herbívoros e o potencial do ecossistema em
termos de produção primária (potencial de crescimento). Pequenas alterações na
intensidade de pastejo nos ecossistema de clima sub-úmido e curta história de coevolução com a herbivoria, como é o caso do Bioma Campos Sulinos, implicam em
fortes alterações em sua biodiversidade (Milchunas et al., 1988) e,
conseqüentemente, em sua produção. De um modo geral, a biodiversidade
aumenta em intensidades de pastejo moderadas e diminui em intensidades de
pastejo muito altas ou muito baixas, sendo que a amplitude ótima para maior
diversidade florística é bastante estreita.
A desmedida utilização da pastagem, por meio de intensidades de pastejo
excessivas, tem causado perda de cobertura vegetal, invasão de espécies
indesejáveis, erosão do solo e impacto ambiental, o que coloca esta variável como
sendo de impacto central no funcionamento do sistema. A b ase do modelo
conceitual desta linha de pesquisa prevê que a intensidade de pastejo seja a
variável chave no fluxo de nutrientes e na dinâmica da vegetação (vide
fundamentação teórica a seguir).
Nesta linha de pesquisa duas áreas temáticas se destacam:
- dinâmica da vegetação (enfoque em resposta a distúrbio)
Tendo o pastejo como principal distúrbio, esta linha procura identificar
estratégias de plantas individuais e de grupos funcionais, principalmente em relação
à ação do animal, procurando compreender os fenômenos de dinâmica vegetacional
em pastagens de diferentes graus de heterogeneidade. O objetivo é o de estudar
intensidades de pastejo adequadas e identificar características de plantas
responsáveis à adaptação a diferentes ritmos de desfolha. Objetiva-se compreender
de forma funcional os mecanismos que regem a dinâmica das espécies neste
Ecossistema Pastoril.
- processo de alimentação (enfoque em intensidade de uso)
Sendo o animal em pastejo o agente central do Bioma Campos Sulinos, o
processo pelo qual ele busca o alimento, o escolhe e usa os diferentes recursos
disponíveis é fundamental na determinação do impacto que o mesmo tem sobre a
sustentabilidade do sistema. A tentativa de compreensão do complexo processo de
pastejo se dá frente a recursos de diferentes graus de heterogeneidade e
intensidades de pastejo. O estudo dos processos de consumo e seleção de dietas é
central para o entendimento dos processos que resultam nas respostas produtivas.
Ainda, se considerarmos a importância que a ovinocultura teve em “moldar” a
fisionomia da maioria das formações campestres do sul do país, o estudo de seus
efeitos associados também necessita ser considerado neste tipo de estudo.
- melhoramento do sistema pastoril (enfoque preservação e melhoramento)
Características funcionais que venham a ser consideradas importantes
devem definir grupos de plantas e estratégias potencialmente interessantes ao
estudo e avaliação de interesse agronômico, e sendo objeto de trabalhos na área de
melhoramento genético, com vistas à criação de novas cultivares, seleção de
espécies nativas, ecótipos e biótipos.
Fundamentação teórica
Um modelo teórico das interações funcionais entre as planta e os
herbívoros proposto por Duru e Hubert (2001) vem sendo testado em
complemento ao modelo de Milchunas et al. (1988) e deve prover uma lista de
espécies e características importantes para manejo e melhoramento do recurso
forrageiro, conforme apresentado na Figura 4.
Biodiversidade:
Alta
competição
+/-
-
Limitede
plasticidade
pressão de pastejo
Estratégias das espécies
e características respectivas
pressão de pastejo
Estratégia para
captura dos recursos
Estratégia para pastejo
tolerância ouescape
+
Invasoras
Estratégia para
conservação
dos recursos
+
Estratégiapara acúmulo
detecidos
Baixa
competição
Status nutricional daforragem:crescimento
Status nutricional daforragem:crescimento
Figura 4. Modelo conceitual de resposta da vegetação a alterações na intensidade
de pastejo e fertilidade (adaptado de Duru e Hubert, 2001).
O modelo prevê que, em situações de baixa fertilidade e média intensidade
de pastejo, várias espécies possam coexistir desde que sejam hábeis na
conservação de recursos. Isto significa a possibilidade de coexistência de
espécies de estruturas distintas, tais como, por exemplo, a grama forquilha
(Paspalum notatum - acúmulo de reservas no rizoma) e a barba-de-bode (Aristida
sp. - acúmulo de tecidos e nutrientes em torno da touceira). Em situações de
baixa fertilidade e baixa intensidade de pastejo predominam espécies de baixo
crescimento relativo, com típica estratégia de conservação de recursos, como a
barba-de-bode e espécies do gênero Andropogon. Um elevado índice de duração
de vida da folha também seria característica deste tipo de estratégia, como de
fato foi reportado para Andropogon lateralis (Cruz, 1998).
Já em situações de forte intensidade de pastejo, espécies com estratégias
de escape ao pastejo predominam, como é o caso de gramíneas possuidoras de
rizomas e ou estolões (e.g., Paspalum notatum, P. nicorae, P. lividum, P.
pauciciliatum, Axonopus affinis, etc.). Nesta condição, a diversidade específica
diminuiria, pois as espécies chegam ao limite de sua plasticidade. Um bom
exemplo deste fenômeno é o capim-caninha (Andropogon lateralis). Em baixas
intensidades de pastejo o capim-caninha chega a formar grandes touceiras e à
medida que a intensidade de pastejo aumenta, as plantas começam a se
apresentar com touceiras cada vez menores, observando-se mesmo plantas que
assumem hábito prostrado. Em altas intensidades de pastejo esta espécie deixa
de fazer parte do grupo das mais freqüentes e diminui fortemente sua participação
porque não tem mais habilidade de alocar a sua zona de crescimento fora do
alcance do animal.
Portanto, a intensidade de pastejo e a fertilidade do habitat governam a
resposta da vegetação, e a estrutura de uma pastagem é resultado de uma
interação contínua entre a desfolha do animal e o crescimento da planta. Se a
composição florística do campo se altera, assim como as características dos
grupos funcionais presentes, isto significa que a presença de determinados
grupos e respectivas características podem ser utilizadas como ferramentas de
diagnóstico da resposta do meio a determinadas condições de manejo (Carvalho
et al., 2000).
Base teórica acumulada
Uma sinopse do conhecimento científico acumulado até o momento pelos
diferentes grupos de pesquisa demonstra que houve duas fases já fortemente
consolidadas:
i) Estudos básicos de caracterização botânica e citogenética
ii) Definição do manejo e potencial produtivo de pastagens nativas.
Dentre os avanços e consolidações de conhecimento em relação ao Bioma
Campos destacam-se:
1) Trata-se de um meio que contém enorme diversidade florística: 600 espécies de
Asteraceae, 400 de Poaceae, 150 de Fabaceae, totalizando cerca de 3000
espermatófitas campestres (Boldrini, 2002).
2) Gramíneas C4 predominam e são responsáveis pela forte variação estacional na
produção e na qualidade da forragem (Boldrini, 1993, Nabinger et al., 2000).
3) Intensidades de pastejo moderadas (massas de forragem da ordem de 1400 kg
MS/ha) potencializam a interceptação de radiação e a produção primária
(Nabinger, 1998)
4) Intensidades de pastejo moderadas potencializam a produção secundária (ofertas
de forragem de 12-13 kg de MS/100 kg PV/dia) (Maraschin et al., 1997;
Maraschin, 2001), através da otimização do consumo (Pinto, 2003)
5) Quando comparado à produtividade média do campo nativo no RS, o uso de
pressões de pastejo adequadas e diferenciadas conforme a estação do ano,
permite triplicar a produção animal (Soares, 2002; Aguinaga, 2004). Quando se
associa a isto uma fertilização adequada, a produtividade do campo nativo chega
a 700 kg de PV/ha, considerando apenas o período de produção favorável
(Gomes, 2000).
6) A diversidade de grupos funcionais é menor nos extremos de intensidade de
pastejo, portanto intensidades moderadas promovem biodiversidade (GirardiDeiro e Gonçalves, 1987; Boldrini, 1993).
7) Altas intensidades de pastejo direcionam a vegetação para tipos prostrados, com
predominância de mecanismos de escape ao pastejo. Em intensidades de
pastejo moderadas observa-se a convivência de arbustos, gramíneas formadoras
de touceira e espécies prostradas com diversidade de mecanismos de escape e
de tolerância ao pastejo (Escosteguy, 1990, Boldrini, 1993).
8) Altas intensidades de pastejo diminuem a matéria orgânica, reduzem a taxa de
infiltração de água, aumenta o solo descoberto e diminui a disponibilidade de
nutrientes. (Bertol et al., 1998)
9) As pastagens nativas respondem positivamente à remoção de fatores limitantes,
notadamente à fertilização (Barcellos et al., 1980; Gomes, 2000; Boggiano et al.,
2001,). Além disso, nessas condições de solo corrigido, gramíneas e leguminosas
C3 podem ser introduzidas por sobressemeadura ao campo natural preenchendo
o vazio forrageiro de inverno, como tem sido demonstrado desde longa data
(Scholl et al, 1976),.
10) Diferimento é necessário para um correto manejo (Nabinger, 1980; Nabinger,
2002) e pode representar uma excelente alternativa para acumular forragem
para o período frio ou períodos de déficit pluviométrico (Moojen, 1991; Gomes,
2001; Guma et al., 2004), com resultados ainda mais positivos quando os
animais são suplementados (Jacques e Nabinger, 2003).
11) O uso contínuo do fogo diminui a produtividade e a diversidade do sistema e
compromete as condições físicas e químicas do solo. (Heringer e Jacques,
2002)
12) O método de pastejo tem pouco efeito na produção animal sendo a intensidade
de pastejo a variável determinante. (Barcellos et al., 1988; Perin, 1990)
13) Várias são as espécies forrageiras com potencial para o melhoramento, em
particular leguminosas nativas dos gêneros Desmodium, Adesmia, Trifolium,
Stylosanthes, e gramíneas dos gêneros Paspalum, Bromus, Briza,e Stipa.
14) Ofertas de forragem variáveis ao longo do ano produzem mais do que ofertas de
forragem fixas, uma vez que modificam a estrutura do pasto e a qualidade da
oferta de forma positiva. (Soares, 2003; Aguinaga, 2004)
4. Sistemas integrados de produção animal e vegetal
A integração da lavoura com a pecuária (ILP) como conceito tecnológico é
tão antiga quanto a domesticação dos animais e das plantas. Vários países a
utilizam, sendo que a combinação de atividades pode ser tão distinta quanto a
diversidade dos sistemas de produção existentes. No Brasil, a ILP sempre foi
bastante utilizada, em particular na abertura de fronteiras agrícolas. O sistema
Barreirão é um exemplo disto. O que é novo, em termos de Brasil, é a aplicação
desses conceitos de ILP em sistemas de plantio direto (SPD). Embora haja muitos
paradigmas a respeito da entrada de animais em áreas de SPD (Moraes et al.,
2002), observa-se forte crescimento na adoção da tecnologia de integração,
particularmente no centro-sul do país, com particularidades distintas de cada região.
No Cerrado o enfoque da integração está na rotação de culturas, recuperação dos
solos e de pastagens degradadas. Já no sul do Brasil o enfoque tem sido também
na rotação e diversificação, mas principalmente como alternativa de renda e
utilização da terra nos períodos inter-lavouras de verão. Em que pese os diferentes
enfoques, as benesses da ILP têm sido associadas invariavelmente à redução de
custos, aumento da eficiência do uso da terra, melhoria dos atributos físicos e
químicos do solo, redução de pragas e doenças, aumento de liquidez e de renda.
O modelo conceitual proposto para esta linha de pesquisa apresenta a
intensidade de pastejo, representada pelas alturas de manejo da pastagem, como
uma variável fundamental e determinante da produtividade de um sistema de
integração lavoura-pecuária (Figura 5).
Figura 5. Modelo conceitual das relações solo-planta-animal num sistema de
integração lavoura-pecuária em semeadura direta (Cassol, 2003).
A meta de diferentes alturas é obtida através de ajustes na carga animal a
que a pastagem é submetida. Isso é importante, porque diferentes alturas afetarão a
massa de forragem ao longo do período de pastejo, através de modificações no
índice de área foliar, ocasionadas pela maior ou menor capacidade de interceptação
de luz. Alterações no processo fotossintético (interceptação da radiação solar),
determinadas por variações na altura de manejo da pastagem, devem afetar a taxa
de acúmulo de matéria seca e a quantidade de forragem disponível. Por outro lado,
planta e animal competem pelo mesmo recurso, ou seja, as folhas. Assim, para a
planta, a folha é o principal responsável pela fotossíntese, ao passo que, para o
animal, a folha também é o componente mais importante para uma dieta adequada.
Equilibrar as exigências da planta com as exigências do animal em termos de
produção de forragem é um dos desafios a ser perseguido.
Umas das principais limitações a uma maior utilização da ILP tem sido a
preocupação apresentada pelos produtores em relação a possibilidade de
compactação do solo por parte dos animais. A utilização de diferentes alturas de
manejo da pastagem (em função de diferentes cargas como já comentado), pode
contribuir para o estabelecimento de diferentes graus de compactação do solo. A
densidade do solo é alterada pela pressão exercida sobre o mesmo (Baver et al.,
1972). Uma maior intensidade de pastejo determina uma menor altura da pastagem,
refletindo-se em redução da cobertura vegetal, aumento do tempo de pastejo dos
animais em decorrência da menor ingestão de forragem e aumento do
deslocamento dos animais na busca pela forragem. Dessa forma, numa pastagem
manejada a menores alturas, o pisoteio animal, através do número de cascos por
unidade de área, aumenta e, por conseqüência, determina uma maior probabilidade
de ocorrer pressão do casco numa mesma área repetidas vezes ao longo do
período de utilização da pastagem. Quanto maior a pressão exercida sobre a
superfície do solo, mais facilmente ele tende a se comprimir, aumentando sua
densidade e reduzindo seu volume (Gupta e Allmaras, 1987).
Ao final do pastejo, são criadas situações distintas em termos de biomassa
residual (aérea e radicular) que permanecerá sobre o solo e que servirá como base
para a implantação da cultura subseqüente sob o sistema de semeadura direta.
Quando o calcário é aplicado na superfície do solo em área anteriormente
submetida ao pastejo sob diferentes alturas de manejo da pastagem, encontrará
diferenças na biomassa residual e na condição física do solo, as quais poderão
determinar uma dinâmica diferenciada desse produto no solo, quando comparado a
uma condição exclusiva de lavoura. O resultado disso é que se criam diferentes
ambientes para a implantação da cultura de verão que poderão influenciar positiva
ou negativamente o seu rendimento, em razão de alterações nos atributos físicos e
químicos do solo (reciclagem de nutrientes) promovidos pelo pastejo anterior. O
rendimento de grãos da cultura de verão, somado ao desempenho animal, que
tende a ser diferenciado nas diferentes alturas, devido à mudanças na quantidade e
na qualidade da forragem ingerida e, conseqüentemente, na oportunidade de
seletividade da forragem oferecida ao animal, determinarão a produtividade do
sistema como um todo. Exemplos?
Em síntese, percebe-se que alterações na carga animal ou na altura de
manejo da pastagem irão interferir na produção animal e na produção vegetal
(forragem e grãos), devido a efeitos diferenciados sobre as características físicas e
químicas do solo.
Dentre os avanços e consolidações de conhecimento nesta linha de pesquisa
destacam-se:
1) As áreas não pastejadas na rotação produzem o mesmo que áreas
pastejadas (Lustosa, 1998; Cassol, 2003; Lunardi, 2005).
2) Há muito pouca relação entre a massa de forragem ao final do ciclo de
pastejo e o rendimento das culturas (Cassol, 2003).
3) Os animais não compactam o solo, quando utilizados em carga adequada e
com um sistema de pastoreio correto. O efeito dos animais nas propriedades
4)
5)
6)
7)
físicas do solo é, na maioria das vezes, insignificante. O que pode compactar
o solo e trazer conseqüências negativas ao crescimento das plantas é o uso
de lotações muito elevadas (Lustosa, 1998, Lunardi, 2005).
Áreas com a presença de pastejo modificam positivamente a dinâmica do
calcário aplicado superficialmente a lanço, observando-se maior presença de
2+
Ca trocável, em áreas submetidas a pastejo, tanto nas camadas superficiais
quanto nas camadas mais profundas (Cassol, 2003).
O método de pastejo usado no ciclo da pastagem não influencia o
rendimento das lavouras. A intensidade de pastejo é que se constitui na
principal variável de manejo que tem conseqüências sobre a lavoura em
sucessão (Lunardi et al., 2004; Lunardi, 2005).
A maior margem bruta é obtida em sistemas que integram lavoura e pecuária
com intensidades de pastejo moderadas (Cassol, 2003).
A utilização de leguminosas forrageiras no sistema pode representar uma
importante contribuição para a cultura subseqüente (Assmann, 2002)
5. Seleção e melhoramento de plantas forrageiras
A seleção e o melhoramento de plantas forrageiras também necessitam ser
direcionados na mesma ótica apresentada nos itens anteriores. Ou seja, devem-se
buscar materiais para condições específicas de uso e capazes de persistirem nos
ambientes para os quais foram demandadas, além de serem capazes de utilizar de
forma eficiente os recursos do meio. Assim, esta área da pesquisa deve atender
demandas tão específicas como obter plantas com capacidade de persistirem em
condições de concorrência com a pastagem natural (introdução de espécies por
sobressemeadura) e sob pastejo, ou plantas cujo ciclo e características produtivas e
bromatológicas permita utilizá-las com eficiência nos períodos inter-cultivos das
lavouras para grãos, por exemplo. Novamente, o modelo conceitual representado na
Figura 4 deve nortear a seleção das plantas desejadas assim como os programas
de melhoramento genético devem buscar aquelas características pré-selecionadas,
que garantam a função desejada, no meio específico onde será utilizada.
Naturalmente, outras características de ordem fisiológica como, por exemplo, a
tolerância à seca ou ao frio, a resistência a moléstias, tolerância ao alumínio, à
capacidade de concorrência por luz, etc., também devem direcionar esta busca e,
quando possível serem associadas às características morfogênicas.
Com relação ao melhoramento genético de plantas, a tendência geral atual é
a integração das técnicas clássicas com aquelas mais modernas da biotecnologia,
levando-se em consideração as vantagens e limitações de cada uma delas
(Dall’Agnol et al, 2005). Neste contexto, a tecnologia de marcadores moleculares
pode contribuir significativamente para o conhecimento básico da cultura e do
caráter estudado, além da geração e desenvolvimento de produtos melhorados
(Ferreira e Grattapaglia, 1998). Estudos recentes, envolvendo modernas técnicas de
biologia molecular, têm sido relatados, apontando para um rápido avanço em
algumas áreas básicas, como a genética, por exemplo (Daurelio et al., 2004;
Martínez et al, 2003; Pupilli et al., 2004; Spillane et al., 2004; Stein et al., 2004).
A utilização de modelos conceituais que indiquem o tipo de planta desejada
para uma utilização específica num ambiente específico, associado às modernas
tecnologias de melhoramento disponíveis deve constituir a base dos programas
nesta linha de pesquisa na região sub-tropical do Brasil. Esta é uma abordagem
recente e que tem se aplicado, sobretudo, às espécies cultivadas exóticas como, por
exemplo, trevo branco (tolerância à seca para maior persistência), trevo vermelho
(resistência a moléstias e tolerância à seca), cornichão (resistência ao pastejo e
doenças), alfafa (tolerância ao pastejo), aveias (produtividade e tolerância a
moléstias) e azevém (precocidade, ciclo mais longo e resistência à ferrugem).
No entanto, este avanço não tem sido traduzido na maior utilização de
espécies nativas da região nos programas de seleção e melhoramento,
especialmente as gramíneas dos gêneros Paspalum e Bromus e as leguminosas
dos gêneros Trifolium, Adesmia e Desmodium. Tais materiais apresentam
adaptação às condições de ambiente logicamente indiscutível e podem
apresentar potenciais de resposta à melhoria das condições de solo ainda pouco
estudadas. Sua utilização pode estender-se desde a reintrodução em pastagens
naturais degradadas até a utilização como pastagens cultivadas.
As vantagens em termos de produção animal, da inclusão de leguminosas
em pastagens têm sido descritas em inúmeros trabalhos e revisões (Blaser, 1982;
Peritz et al., 1980) e incluem o aumento na produção animal, como resultado do
incremento nos níveis protéicos, da digestibilidade e do consumo da forragem
disponível; melhoria na distribuição da produção da pastagem ao longo do ano;
maior concentração de minerais, especialmente de cálcio, e aumento na
fertilidade do solo pela adição de nitrogênio (N) ao sistema-solo-planta-animal.
Mais recentemente, trabalhos apresentados nas Reuniões Anuais da SBZ
também abordaram a importância das leguminosas, especialmente as tropicais, e
da sua utilização nas regiões quentes (Spain e Vilela, 1990; Barcellos e Vilela,
1994). Em relação às leguminosas temperadas, revisões recentes abordaram o
estado atual do conhecimento de leguminosas nas zonas de campos do cone sul
da América do Sul (Dall’Agnol et al., 2002).
Dentre as leguminosas estivais, o gênero Desmodium apresenta relevância
indiscutível no sul do Brasil, especialmente D. incanum, embora também sejam
destaque para condições específicas D. adscendens (solos mais úmidos), D.
barbatum (solos arenosos) e D. uncinatum (regiões mais frias).
Quanto ao gênero Trifolium, cabe destacar T. riograndense e sua capacidade
de tolerância aos solos ácidos e ao frio e T. polymorphum, por sua persistência em
condições de seca.
Para o gênero Adesmia, A. latifolia, A.bicolor, A. ciliata e A. punctata são
espécies que podem apresentar potencial para as mais diversas condições, além de
apresentarem uma excelente qualidade da forragem produzida.
Dentre as áreas de estudo prioritárias para estas espécies, podemos citar:
caracterização da variabilidade genética, estudo das exigências em fertilidade do
solo, problemas de colheita/beneficiamento de sementes, isolamento e seleção de
rizóbios, fixação de nitrogênio em gramíneas e técnicas de manejo para a sua
manutenção em áreas de campo nativo.
Com relação às gramíneas, o gênero Paspalum ocupa um lugar de
destaque entre as nativas, pois engloba o maior número de espécies e também, o
maior número de espécies com bom valor forrageiro (Valls, 1987). A importância
das espécies do gênero Paspalum como pastagens cultivadas vêm sendo
evidenciadas por vários pesquisadores, os quais, na sua maioria, referem-se à
variabilidade, tanto intra como interespecíficas, sugerindo ser a América do Sul o
centro de origem e a diversificação da grande maioria das espécies desse gênero
(Batista e Godoy, 1999).
A maioria das espécies deste gênero é apomítica poliplóide, principalmente
tetraplóide. No entanto, a maior parte das espécies apomíticas tetraplóides tem
em contrapartida co-específicos sexuais, diplóides e auto-incompatíveis (Quarin e
Normann, 1990). O gênero apresenta um total de vinte grupos taxonômicos
(Barreto, 1974), dos quais os grupos Dilatata, Plicatula e Notata, dentre outros,
são de grande interesse para a área subtropical. Nesta região convivem biótipos
sexuais e apomíticos pertencentes ao grupo Dilatata, de três espécies: P.
dilatatum, P. urvillei e P. pauciciliatum (Valls e Pozzobon, 1987). Por outro lado, o
grupo Notata compreende espécies diplóides, tetraplóides e hexaplóides, com
ocorrência de apomixia e de sexualidade. Várias espécies apresentam mais de
um nível de ploidia (Valls e Pozzobon, 1987). O P. notatum tetraplóide é uma das
espécies mais importantes nas pastagens nativas do sul do Brasil, Uruguai,
nordeste da Argentina e sul do Paraguai (Quarin et al. 1984).
Finalmente, dentro do grupo Plicatula, destacam-se P. plicatulum, P.
guenoarum, P. yaguaronense, P. compressifolium, e P. atratum, todas
tetraplóides, com exceção de P. yaguaronense que é hexaplóide (Takayama et
al., 1998). De todas estas espécies, a única espécie com uma cultivar comercial
liberado no Brasil, a partir de germoplasma nativo, é P. atratum, com a cultivar
Pojuca.
Com a finalidade de exemplificar o potencial para melhoramento genético e
lançamento de cultivares, apresentaremos algumas informações pertinentes a
duas das espécies que talvez apresentem um maior potencial para serem
utilizadas imediatamente como cultivares comerciais em diferentes regiões do
Brasil, P.notatum e P. dilatatum.
Conforme Valls (1987), graças ao bom valor forrageiro e à rapidez de
estabelecimento de uma densa cobertura do solo, inúmeros acessos de P.
notatum tem sido incorporados a experimentos de cunho agronômico, havendo
cultivares comerciais da espécie, algumas das quais pertencem à variedade
saurae, eventualmente separada como espécie distinta. Essa espécie possui na
sua região de origem variedades e ecótipos que merecem ser estudados sob
ponto de vista de produção quantitativa e qualitativa da forragem, com a finalidade
de verificar a viabilidade de utilização de novas forrageiras capazes de solucionar
problemas de nutrição animal em cada região (Soares, 1977).
Dentro dessa espécie, o ecótipo André da Rocha (Paspalum notatum var.
notatum) tem-se mostrado muito promissor, destacando-se pelo maior porte, alta
produção de forragem, bom valor nutritivo e excelente produção de sementes.
Produz 14,4 t/ha de massa seca de forragem quando não há limitação de água e
nutrientes (Costa, 1997).
Já o P. dilatatum, conhecido como capim melador, é uma espécie que
suporta desfolhação intensa, em virtude de possuir caules rasteiros e
subterrâneos, que são protegidos do pastejo intenso e do pisoteio dos animais
(Bennett, 1976). Além disso, uma característica excepcional das espécies de
Paspalum, especialmente de P. dilatatum, é a sua tolerância à geada (Dall’Agnol
e Gomes, 1987). Recentemente, Baréa (2005) constatou elevada tolerância do
biótipo Virasoso à desfolhações sistemáticas durante doze meses, com total
sobrevivência das plantas submetidas a cortes baixos (10 cm). Porém, um dos
principias problemas para sua expansão é a baixa porcentagem de sementes
cheias, atribuídas principalmente a fatores ambientais durante o florescimento e a
ocorrência de Claviceps paspali (Garcia, 1971). Carâmbula (s.d.) ainda relata
como principais atributos do capim melador, a resistência à seca e a solos
alagados em função do seu sistema radicular extenso e profundo.
Ainda dentro deste grupo, uma espécie muito próxima do capim melador e
que também merece destaque é P. pauciciliatum. Segundo Araújo (1971) é uma
forrageira muito palatável, agressiva e de bom rendimento, sendo digna de “entrar
imediatamente na utilização de pastagens cultivadas”. Outra espécie também
próxima a P. dilatatum é o P urvillei, que também merece atenção para seu uso
como pastagem cultivada, principalmente devido à enorme variabilidade
encontrada, provavelmente decorrente de seus cruzamentos com P. dilatatum.
O uso de leguminosas tem aumentado em praticamente todos os sistemas
de alimentação, especialmente nas áreas temperadas. Embora seja comum a
avaliação de sistemas de produção em termos de eficiência técnica e
rentabilidade, agora devemos dar atenção ao impacto ambiental desses sistemas,
onde altas doses de fertilizantes nitrogenados não são mais aceitáveis em termos
ambientais (Frame et al., 1998).
Uma maior utilização de leguminosas abrange uma maior colaboração
entre diferentes instituições, incluindo as pertencentes ao mesmo país. Além
disso, áreas básicas de pesquisa como rizobiologia e fitopatologia, essenciais
para o desenvolvimento de novas cultivares, deveriam ser ativamente
incentivadas a serem incorporadas aos programas de melhoramento genético
existentes (Dall’Agonol et al., 2002).
Finalmente, as barreiras atualmente vigentes para o livre intercâmbio de
germoplasma, mesmo as existentes dentro do próprio país de origem, deveriam
ser revistas e modificadas para que um recurso genético tão valioso e diverso
pudesse ser melhor aproveitado.
6. Considerações finais e perspectivas futuras.
Inserida dentro do contexto de segurança alimentar, cada vez mais a
produção animal a pasto passa a ser uma exigência dos principais mercados
compradores. Mas não basta satisfazer apenas este tipo de demanda. A
preservação ambiental e os reflexos sociais deste segmento do setor primário
também representam novas exigências das sociedades locais. E este tipo de
exigência também é feita pelos consumidores de mercados longínquos, agora
preocupados com a saúde do planeta. Exemplo disso é o programa Eurogap, que
não é uma exigência dos governos europeus, mas sim dos próprios
consumidores. E a traçabilidade de produtos alimentares está se tornando uma
realidade para qual necessitamos estar preparados. Muito em breve não bastará
mais assegurar a rastreabilidade, pois esta deverá ser confirmada pelas técnicas
de traçabilidade.
Mas, a par disso, o produtor também precisa ser remunerado
adequadamente. E os preços de tais produtos, ao menos no mercado interno,
tornam as margens de retorno dos investimentos cada vez mais estreitas.
Portanto, torna-se mister que esta produção otimize o uso dos recursos
financeiros e não dilapide os recursos naturais. Estabelecer os limites de
utilização destes recursos (naturais e financeiros) sem descurar dos reflexos
sociais é uma atribuição que a pesquisa deve assumir cada vez mais.
Tudo isto coloca a pesquisa agronômica e zootécnica numa situação tal
que aumenta a necessidade de estudos mais analíticos e explicativos dos
processos envolvidos na produção do produto animal, mas sem perder de vista o
caráter holístico dos sistemas de produção. Não há outra forma de realizar tal
tarefa que não seja através de equipes multidisciplinares. Não só pela
necessidade de otimizar os recursos humanos e materiais das instituições de
pesquisa, extensão e desenvolvimento, mas porque não há outra forma de
providenciar, ao mesmo tempo, a necessária visão holística e analítica. Esta
multidisciplinaridade, aliás, também é fundamental para que os necessários
processos de diagnóstico dos sistemas de produção sejam capazes de permitir a
identificação, hierarquização e priorização dos temas a serem pesquisados, e de
fornecer elementos para o estabelecimento de políticas para o setor.
Portanto, não basta mais apenas quantificar processos e buscar a
verticalização da produção. È necessário que se faça mais ciência. É necessário
que se estabeleçam modelos conceituais, com base no conhecimento existente
ou mesmo em hipóteses bem embasadas, que direcionem as atividades de
pesquisa, e que permitam agregar conhecimento reprodutível, ou seja, modelos
de funcionamento do sistema, numa base mais analítica e explicativa. Mais uma
ve z a multidisciplinaridade torna-se fundamental e cada vez mais com as áreas
básicas do conhecimento.
A região subtropical do Brasil apresenta características particulares de
clima e, até certo ponto, de solos, que a colocam em posição privilegiada em
relação a outros ecossistemas naturais do país. Estes ecossistemas são
importantes para a qualidade da atmosfera e da hidrosfera, assim como para a
biodiversidade e porque compõe a maior parte da ecologia do território. Eles não
podem mais ser considerados apenas como um meio para obter produtos animais
a fim de atender às demandas alimentares da população humana. Ecossistemas
pastoris devem ser manejados com múltiplos objetivos, correspondentes às
diferentes funções que estes ecossistemas desempenham: ambiente,
biodiversidade, ecologia do território e produção agrícola com benefícios sócioeconômicos. O conceito de multifuncionalidade determinou uma nova abordagem
para todas as disciplinas envolvidas na pesquisa em pastagens. Objetivos
científicos, métodos de investigação e modelos, necessitam ser reconsiderados
para que se possa produzir uma visão integrada das diferentes escala (parcelas
de campo, fazenda, paisagem, território, etc.) onde as diferentes funções
necessitam ser avaliadas (Lemaire et al., 2005)
No entanto, ainda estamos longe de um “modelo de pesquisa” que
considere a preservação ambiental e os aspectos sócio-econômicos na origem
dos programas de investigação. Mais grave ainda isto se torna quando os
sistemas ou os métodos de julgamento de mérito e de avaliação dos resultados
destes programas também não consideram estes parâmetros como fundamentais.
Finalmente, cabe uma última reflexão, em nosso ver, aplicável a toda a ciência
brasileira: qual a responsabilidade das sociedades que congregam os cientistas
das diferentes áreas em tais processos (desde o estabelecimento de prioridades
para a destinação de recursos até os critérios de avaliação)?; qual o papel que as
diferentes instituições públicas têm representado, qual tem sido o seu
comprometimento com a sociedade e finalmente, qual o retorno que dela tem
recebido.
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