Desafios da explicação sociológica do crime no Brasil: considerações teóricas e empíricas a partir das obras de Michel Misse e de Luiz Antônio Machado da Silva José Luiz Ratton Duas das mais originais contribuições teóricas no âmbito da sociologia do crime e da violência no Brasil são aquelas propostas por Michel Misse e Luiz Antônio Machado. O objetivo deste trabalho é debater – além de articular e confrontar criticamente - as formulações teóricas destes autores, visando propor uma interpretação das possibilidades e dos limites teóricos e empíricos do complexo de conceitos presente nos escritos de Misse (acumulação social da violência, mercadoria política e sujeição criminal) vis-à-vis o conceito de sociabilidade violenta, proposto por Machado. As questões que orientam a análise realizada neste trabalho são: a) Se e em que medida os conceitos propostos pelos dois autores - acumulação social da violência, sujeição criminal, mercadorias políticas e sociabilidade violenta - são ferramentas analíticas úteis para explicar a organização social da criminalidade e da violência no Brasil, em contextos distintos daquele do Rio de Janeiro, aos quais estariam originalmente ligados; b) De que forma os argumentos de natureza nitidamente sociológica, presentes nos conceitos acima mencionados são capazes de superar os limites de explicações culturalistas ou aquelas centradas em lógicas explicativas do crime e da violência que sempre tomam o Estado como variável independente, desconsiderando uma certa autonomia do “social”; c) Se e como as proposições de Misse e Machado permitem abordar analiticamente, mesmo que em um plano geral, os principais tipos de expressão social da criminalidade violenta contemporânea no país (grupos de extermínio, milícias, crimes de mando, práticas violentas de outros tipos de organizações criminosas em seus diferentes níveis de estruturação, “criminalidade de proximidade”, violência policial); d) Se e como a disseminação e a prevalência de padrões de sociabilidade violenta, nos termos propostos por Machado, é capaz de explicar, por si só, a construção e a reprodução da violência e do crime, e em que medida ela pode ser uma alternativa complementar, passível de acomodação ao conjunto da explicação misseana, em que a produção da sujeição criminal – operando nos planos simbólico e prático das relações sociais – somada aos processos de formação das mercadorias políticas, funcionam como instâncias intermediárias da dinâmica de acumulação social do crime e da violência; e) De que maneira as proposições mencionadas dos dois autores são capazes de desvendar as dinâmicas do crime e da violência, em planos explicativos tanto micro quanto macrossociológicos. Bibliografia utilizada: Machado da Silva, L. A. “Um problema na interpretação da criminalidade urbana violenta”, Sociedade e Estado, Volume X, no. 2, 1995. ___________________________ “Criminalidade Violenta: por uma nova perspectiva de análise”, Revista de Sociologia e Política no. 13, 1999. ____________________________ “Sociabilidade Violenta: uma dificuldade a mais para uma ação coletiva nas favelas” In: L. A. Machado da Silva et alii (orgs.), Rio, a democracia vista de baixo. Rio de Janeiro, 2004. _____________________________ “Violência Urbana, sociabilidade violenta e agenda pública” In: Luiz Antônio Machado da Silva (org.), Vida sob cerco, Violência e Rotina nas favelas do Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008. ______________________________ “Entrevista”. In: Renato Lima e José Luiz Ratton (orgs.) As Ciências Sociais e os pioneiros nos estudos sobre crime, violência e direitos humanos no Brasil, Urbânia/Anpocs, São Paulo, 2011. Misse, Michel. Crime e Violência no Brasil Contemporâneo, Estudos de Sociologia do Crime e da Violência, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006. ____________ “Criminalidade Urbana Violenta no Brasil: o problema das “causas””. In Michel Misse. Crime e Violência no Brasil Contemporâneo, Estudos de Sociologia do Crime e da Violência, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006. ____________ “O Final da Cadeia: Interpretações da Violência no Rio”. In Michel Misse. Crime e Violência no Brasil Contemporâneo, Estudos de Sociologia do Crime e da Violência, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006. ____________ “Tradições do Banditismo Urbano no Rio: Invenção ou Acumulação Social? In Michel Misse. Crime e Violência no Brasil Contemporâneo, Estudos de Sociologia do Crime e da Violência, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006. ____________ “As Ligações Perigosas: Mercado Informal Ilegal, Narcotráfico e Violência no Rio”. In Michel Misse. Crime e Violência no Brasil Contemporâneo, Estudos de Sociologia do Crime e da Violência, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006. _____________ “O Rio como um Bazar: A conversão da Ilegalidade em Mercadoria Política”. In Michel Misse. Crime e Violência no Brasil Contemporâneo, Estudos de Sociologia do Crime e da Violência, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006. _____________”Cidadania e Criminalização no Brasil: O Problema da Contabilidade Oficial do Crime”. In Michel Misse. Crime e Violência no Brasil Contemporâneo, Estudos de Sociologia do Crime e da Violência, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006. ______________“Entrevista”. In: Renato Lima e José Luiz Ratton (orgs.) As Ciências Sociais e os pioneiros nos estudos sobre crime, violência e direitos humanos no Brasil, Urbânia/Anpocs, São Paulo, 2011.