A meningite é considerada uma doença endêmica. Portanto, casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, principalmente no inverno, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. É causada por diversos agentes infecciosos como bactérias, vírus, parasitas e fungos. As meningites bacterianas e virais são as mais importantes do ponto de vista da saúde pública, pela sua magnitude e capacidade de ocasionar surtos. Entre as meningites bacterianas a Doença Meningocócica (DM), causada pela Neisseria meningitidis, aponta como a principal causa e tem uma maior frequência entre as crianças menores de 05 anos de idade. http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1563 Um estudante universitário encontrava-se em seu habitual estado de saúde até a noite anterior à sua admissão, quando recolheu-se ao leito com cefaleia. Ele disse ao seu colega de quarto que se sentia febril e na manhã seguinte seu colega o encontrou na cama, letárgico e gemente. Foi então levado a uma emergência onde se apresentou toxemiado e sonolento porém orientado. Sua temperatura era de 40ᵒC, FC=126 b/min e a TA=120 X 60 mmHg. Sua nuca estava livre e a pele apresentava uma importante erupção purpúrea. Leucograma: 26.000 com 25% de bastonetes; plaquetas: 80.000. Ceftriaxona foi iniciada após colheita de hemoculturas que foram positivas para Neisseria meningitidis. MENINGITE ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O AGENTE Neisseria meningitidis, patógeno humano obrigatório; nasofaringe é o principal habitat, porém tem sido encontrado colonizando mucosas de endocervix, uretra e ânus. Outras Neisserias de importância. Habitat: membranas mucosas de mamíferos. Muitas espécies são comensais. A PHOTOMICROGRAPH OF NEISSERIA MENINGITIDIS RECOVERED FROM THE URETHRA OF AN ASYMPTOMATIC MALE; MAGNIFIED 1125X (N. MENINGITIDIS IS RESPONSIBLE FOR CAUSING “MENINGOCOCCAL” MENINGOCOCCAL. THIS BACTERIUM IS NOT NORMAL FLORA, BUT A PATHOGENIC ORGANISM THAT MAY BE PRESENT IN A LARGE PERCENTAGE OF THE POPULATION WITHOUT CAUSING DISEASE). http://www.cdc.gov/meningococcal/about/photos.html Letter Neisseria gonorrhoeae Meningitis in Pregnant Adolescent Maria C. Martín, Francisco Pérez, Alfonso Moreno, Alberto Moral, Miguel A. Alvarez, Francisco J. Méndez, and Fernando Vázquez Emerging Infectious Diseases • www.cdc.gov/eid • Vol. 14, No. 10, October 2008 N° de casos e incidência da Doença Meningocócica. Brasil, 2000 a 2009 http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1563 Neisseria comensais expressam uma variedade de antígenos de superfície que compartilham homologia com antígenos de N. meningitidis e N. gonorrhoeae. Resposta imune para antígenos de reação cruzada de Neisseria comensal, principalmente N. lactamica, pode contribuir para a aquisição de imunidade natural para N. meningitidis. N. sicca, N. subflava, N. cinerea, N. lactamica e outras, podem ocasionalmente causar doença invasiva no homem. Estas infecções incluem: meningite, endocardite, bacteremia, infecção ocular, pericardite, empiema, peritonite, artrite séptica, bursite e osteomielite. Neisseria spp apresentam: Lipooligossacáride (LOS) em vez de LPS. O polissacáride central do LOS sofre variação antigênica expondo uma variedade de epítopos na superfície da célula. Variantes de LOS contendo baixas siálico penetram nas células eficientemente enquanto aquelas grandes quantidades de ácido siálico não. concentrações de ácido da mucosa humana com LOS contendo ou expressando cápsula Por outro lado, variantes contendo baixas concentrações de ácido siálico são altamente suscetíveis de morte na corrente sanguínea por AC/complemento, enquanto aquelas com LOS contendo elevadas concentrações de ácido siálico e contendo cápsula são soro-resistentes. A superfície celular é recoberta de pili. Eles medeiam a fixação inicial ao epitélio do nasofaringe e possibilitam à bactéria resistir à fagocitose. Um importante fator de virulência do meningococo é a produção de uma cápsula. Cepas não capsuladas raramente causam doença invasiva e são frequentemente encontradas colonizando o nasofaringe de portadores assintomáticos. Apesar de existir 13 diferentes tipos de cápsula, comumente apenas cinco causam doença invasiva: A, B, C, Y e W-135. Recentemente o sorogrupo X tem causado doença invasiva no leste da África. A cápsula é o principal antígeno usado nas vacinas. COMO O AGENTE ENTRA E SE DISSEMINA NO CORPO • Endocitose mediata por receptor. •Estabelecimento estabelecida). no espaço subepitelial (infecção •Disseminação para corrente sanguínea – cápsula importante para sobrevivência. •Meninges e outros locais (pele, articulações, etc.) podem ser atingidos . •Pili medeiam a adesão da bactéria ao endotélio, polimerização de actina cortical, que leva a protrusões de membrana e captação de bactérias. COMO O AGENTE SE DISSEMINA DE PESSOAA-PESSOA Horizontalmente, de pessoa a pessoa através de gotículas. • •De 10% a 30% da população é portadora do meningococo no nasofaringe em determinado momento. •A taxa de portadores está relacionada com o grau de aglomeração das populações, além de fatores do hospedeiro e ambientais. RESPOSTA DO HOSPEDEIRO À INFECÇÃO •Sistema secretório imune do nasofaringe - SIgA. •Movimento ciliar. •Presença de muco, complementado por outros fatores antimicrobianos como lisozima, lactoferrina, defensinas. •Sistema de complemento (indivíduos com deficiência de C5-C9 são altamente susceptíveis doença invasiva. •Imunoglobulinas: •Escherichia IgM e IgG. coli K1 e Bacillus pumilis – indução de imunidade cruzada para N. meningitidis sorogrupo B e A, respectivamente (semelhança estrutural e imunológica de suas cápsulas). QUIMIOPROFILAXIA Indivíduos com contato íntimo (beijo) tem um risco de vir a adoecer aumentado de 1.000 vezes. Para tais indivíduos e outros contatos próximos, se indica a quimioprofilaxia. P. MANEJO CLÍNICO Início precoce do tratamento. Administração de fluidos intravenosos. Antimicrobianos. UTI. CS, 35 anos, masculino; 93.147. Internado com história de febre, cefaléia, cervicalgia, vômitos e rigidez de nuca há três dias. Confusão mental há 24 horas. Otalgia e otorreia há seis dias. Líquor: Aspecto: purulento. Citologia: acima de 10.000 células/mm3, PMN. Glicose: <10 mg%. Reação de globulinas: positiva. Dosagem de proteínas: 730 mg%. Reação de látex: positiva para Streptococcus pneumoniae. Tratamento: ceftriaxona + dexametasona. Cefaléia, febre, vômitos e rigidez de nuca há ± um dia. Exame físico: temp.: 37,3º C. FR: 28 inc/min. PR: 80 bat/min. Rigidez de nuca, Kernig e Brudzinski presentes. Líquor: Aspecto: purulento Citologia: >10.000 células/mm3, neutrófilos Glicose: 30 mg/dl Globulinas: positivas Proteína: 320 mg/dl Gram: diplococos Gram-negativos intra e extra-celulares Cultura: Neisseria meningitidis MSC, 91.437, 47 anos, DI: 30/05/11. Dor em face anterior do tórax há dois dias. Há um dia com cefaléia, dor MMSS e em nuca. Ao exame: rigidez de nuca. Líquor: límpido; 22 células/mm3 mononucleares; glicose: 57 mg%; r. de globulinas: negativa; proteinas; 38 mg%. Leucograma: 5.900; bt: 1%; seg.: 53%; linf.: 35%; Mon.: 9%; E:2%. Tratamento: sintomático. JSA, 91.263, 35 anos, masc. Há uma semana com astenia e um episódio de febre não mensurada. Há quatro dias com cefaléia de forte intensidade e turvação da visão. Diagnóstico de infecção pelo HIV há três meses. CD4+: 34. Ao exame: sem sinais meníngeos. TC de crânio: sem alterações. JSA, 91.263 Data 28/04/11 29/04/11 30/05/11 Aspecto Límpido Límpido Citologia 2 células/mm3, mononucleares 2 células/mm3, mononucleares 2 células/mm3, mononucleares Glicose 45 mg% 44 mg% 62 mg% R. globulinas Levemente positiva Negativa Negativa Proteínas 85 mg% 36 mg% 22 mg% T. China Positiva Positiva Positiva Cultura Negativa - - VDRL - Não reagente Não reagente LRSF, 88.231, Masculino, 33 anos, internado com cefaléia holocraniana, pulsátil, náuseas, vômitos, dor na nuca, há cinco dias. Cinco internações nos últimos 18 meses, com quadro semelhante. Há 20 meses teve diagnósticos de ganglionar, infecção pelo HIV e pelo VHC. tuberculose Uso irregular de TARV e das drogas para tuberculose. LRSF, 88.231 Data Aspecto Citologia Glicose (mg/dl) Proteína (mg/dl) R. de Globulinas Outros Cultura BK 06/10/09 Opalescente 357 M 35 170 Positiva - Positiva 22/02/10 - 167 M 55 55 - - - 18/04/10 - 200 PMN - - Negativa VDRL: NR Negativa 12/06/10 Opalescente 410 PMN 40 104 Positiva Ziehl, Gram, T. China, látex para Criptococcus: negativos Negativa 17/10/10 - 155 M 18 110 Positiva T. China: negativa - 08/04/11 Límpido 237 M 6 140 Positiva Ziehl: neg. Positiva 14/04/11 Opalescente 520 M 11 156 Positiva Presença de BAAR LCR. VDRL: NR Positiva PRECAUÇÕES DE ISOLAMENTO PARA PACIENTES COM MENINGITE Doença meningocócica - precauções respiratóriasgotículas (24 h) Meningite por HIb - idem Meningoencefalite tuberculosa - precauções respiratórias para aerossóis (para pacientes bacilíferos). CALENDÁRIO BÁSICO DE VACINAÇÃO DA CRIANÇA Exames laboratoriais específicos 1. Cultura 2. Contraimunoeletroforese (CIE) 3. Aglutinação pelo Látex 4. Identificação de genes específicos pela reação em cadeia da polimerase (PCR). A coleta de dados clínicos/epidemiológicos e de espécimes do paciente são imprescindíveis para confirmação do diagnóstico etiológico, particularmente o líquido céfalorraquidiano (líquor) e o sangue (hemocultura). No caso de suspeita de meningite asséptica recomenda-se também a coleta de amostras de fezes. http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1563