ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA JANIEIDE LOPES BEZERRA AUTOMEDICAÇÃO POR USUÁRIOS DE UMA FARMÁCIA COMERCIAL NO BAIRRO PIRAJÁ NA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE-CE JUAZEIRO DO NORTE – CE 2006 JANIEIDE LOPES BEZERRA AUTOMEDICAÇÃO POR USUÁRIOS DE UMA FARMÁCIA COMERCIAL NO BAIRRO PIRAJÁ NA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE-CE Monografia submetida à Escola de Saúde Pública do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Assistência Farmacêutica,. Orientadora: Profª. Ms. Maria das Graças Nascimento Silva. Juazeiro do Norte – CE 2006 JANIEIDE LOPES BEZERRA AUTOMEDICAÇÃO POR USUÁRIOS DE UMA FARMÁCIA COMERCIAL NO BAIRRO PIRAJÁ NA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE-CE Curso de Especialização em Assistência Farmacêutica Escola de Saúde Pública do Ceará Aprovada em: ______/______/______ Banca Examinadora: Profª. Ms. Maria das Graças Nascimento Silva. Mestra - Orientadora ___________________________________________________ Ms. Kelly Rose Tavares Neves Mestre ___________________________________________________ Ms. Adriana Maria Simeão da Silva Mestre ___________________________________________________ DEDICATÓRIA Aos que estudam em busca de descobrir novos caminhos para medicamentos. salvar vidas através dos AGRADECIMENTOS Ao nosso pai celestial, pois sem ele nada conseguimos. A minha orientadora, Profª. Ms. Maria das Graças Nascimento Silva, pela contribuição orientando-me durante a pesquisa. Às Farmácias Pague Menos por permitirem a realização da pesquisa. A minha filha pela compreensão e aos meus familiares. Aos professores do Curso de Especialização pelos conhecimentos transmitidos. Aos clientes da farmácia que responderam aos questionamentos, esses muito contribuíram com a pesquisa. O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas; e dela se serve para acalmar as dores e cura-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe ungüentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará, até que a paz divina se estenda sobre a face da terra. Eclesiástico 38:6-8 RESUMO A automedicação é um fenômeno nocivo à saúde individual e coletiva, pois nenhum medicamento é inócuo ao organismo. O uso indevido de substâncias e até mesmo drogas consideradas "banais" pela população, pode acarretar diversas conseqüências como resistência bacteriana (caso dos antibióticos), reações de hipersensibilidade, dependência, e ainda aumentar o risco para determinadas neoplasias. Além disso, “o alívio momentâneo dos sintomas encobre a doença de base que passa despercebida e pode, assim, progredir” (PAULO e ZANINE, 1997, p.35). O trabalho teve como objetivo principal identificar as causas que levam à automedicação, pelos usuários de uma farmácia no bairro Pirajá em Juazeiro do Norte-CE. A pesquisa contou com dados da Organização Mundial de Saúde, pesquisa bibliográfica, pesquisa a internet, além de aplicação de questionário elaborado e aplicado pela autora da pesquisa aos clientes de uma farmácia comercial do bairro Pirajá em Juazeiro do Norte-CE. Os pacientes tinham idade entre 20 a 50 anos e foi realizado no período de um mês. Foram enfatizados alguns aspectos, dentre eles: a freqüência de uso dos medicamentos, tipos de medicamentos ingeridos, habito de automedicação, problemas com o uso de medicamentos, quais as indicações mais comuns para o uso dos medicamentos. Verificou-se que 73% dos entrevistados eram mulheres, 50% estavam com idade entre 41 e 50 anos, 66% tem ensino fundamental, 66% possuem renda de até 3 salários, desse bairro que se automedicam e, o grave é que quando o paciente fica satisfeito com o medicamento, continua comprando sem voltar ao médico e indica o medicamento a amigos e parentes. Todos estes efeitos citados embasam a recomendação de que esta pratica deverá ser vista com maior atenção pelos profissionais de saúde, para que a população tenha acesso adequado a atenção médica e farmacêutica. Palavras Chave: automedicação, medicamento, doenças. ABSTRACT The self-medication is a noxious phenomenon to the individual and collective health, because no medicine is innocuous to the organism. The improper use of substances and even drugs considered " banal " for the population, it can cart several consequences as bacterial resistance (I marry of the antibiotics), hipersensibilidade reactions, dependence, and still to increase the risk for certain neoplasias. Besides, “the momentary relief of the symptoms hides the base disease that passes unperceived and it can, like this, to progress” (PAULO and ZANINE, 1997, p.35). The work had as main objective to identify the causes that take to the self-medication, for the users of a drugstore in the neighborhood Pirajá in Juazeiro of the North-CE. The research counted with data of the World Organization of Health, he/she researches bibliographical, he/she researches the internet, besides application of elaborated questionnaire and applied for the author of the research to the customers of a commercial drugstore of the neighborhood Pirajá in Juazeiro of the North-CE. The patients had age among 20 to 50 years and it was accomplished in the period of one month. Some were emphasized aspects, among them: the frequency of use of the medicines, types of ingested medicines, I inhabit of self-medication, problems with the use of medicines, which the most common indications for the use of the medicines. It was verified that 73% of the interviewees were women, 50% were with age between 41 and 50 years, 66% have fundamental teaching, 66% possess income of up to 3 wages, of that neighborhood that if automedicam and, the serious is that when the patient is satisfied with the medicine, you/he/she continues buying without returning to the doctor and you/he/she indicates the medicine to friends and relatives. All these mentioned effects base the recommendation that this practices it should be seen with larger attention by the professionals of health, for the population to have appropriate access the medical and pharmaceutical attention. Words Key: self-medication, medicine, diseases. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIFARMA – Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATC – Classificação Anatômico terapêutica e Química CEATOX – Centro de Assistência Toxicológica FENAFAR – Federação Nacional dos Farmacêuticos OMS – Organização Mundial de Saúde ONU – Organização das Nações Unidas OPAS – Organização Pan Americana de Saúde OTC – Over The Counter (Sobre o Balcão) SINITOX – Serviço de Informações Toxicológicas USP – Universidade de São Paulo LISTA DE TABELAS 1. Tabela 1. Reações Medicamentosas Adversas Sérias: .......................................................... 33 LISTA DE GRÁFICOS 1. Distribuição dos entrevistados quanto ao sexo em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 01 a 31 de março de 2006 .............................................................................................................. 40 2. Distribuição dos entrevistados por idade em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 01 a 31 de março de 2006 ...................................................................................................................... 41 3. Distribuição dos entrevistados quanto ao grau de instrução em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 01 a 31 de março de 2006 ...................................................................................... 42 4. Distribuição dos entrevistados quanto a renda em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 01 a 31 de março de 2006 .............................................................................................................. 43 5. Distribuição dos entrevistados quanto a profissão em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 01 a 31 de março de 2006 ......................................................................................................... 44 6. Distribuição em % da assiduidade em tomar medicamento por parte dos entrevistados. Período de 1 a 31 de março de 2006 ...................................................................................................... 45 7. Distribuição em % dos medicamentos mais utilizados pilos entrevistados. Período de 1 a 31 de março de 2006 .......................................................................................................................... 46 8. Distribuição em % da prevalência da automedicação por parte dos clientes. Período de 1 a 31 de março de 2006 ...................................................................................................................... 47 9. Distribuição em % dos motivos que levam os clientes a automedicação. Período de 1 a 31 de março de 2006 .......................................................................................................................... 48 10. Distribuição em % da ocorrência de reações adversas por parte dos clientes que se automedicam. Período de 1 a 31 de março de 2006 ................................................................. 49 11. Distribuição em % por indicação de medicamentos. Período de 1 a 31 de março de 2006 ..................................................................................................................................................... 50 12. Distribuição em % dos que foram alertados sobre os perigos da automedicação. Período de 1 a 31 de março de 2006 .............................................................................................................. 51 13. Distribuição em % dos medicamentos tomados sem consulta médica e têm conseguido curar os problemas. Período de 1 a 31 de março de 2006 ................................................................. 52 14. Distribuição em % dos entrevistados que necessita usar medicação. Período de 1 a 31 de março de 2006 .......................................................................................................................... 53 15. Distribuição em % dos entrevistados que medicam outras pessoas. Período de 1 a 31 de março de 2006 .......................................................................................................................... 53 16. Distribuição em % dos entrevistados que acredita ter risco a automedicação. Período de 1 a 31 de março de 2006 ................................................................................................................. 54 17. Distribuição em % dos entrevistados que adquiriram medicamento para si ou outras pessoas. Período de 1 a 31 de março de 2006 ......................................................................................... 55 18. Distribuição em % das doenças mais comuns que levam a automedicação. Período de 1 a 31 de março de 2006 ...................................................................................................................... 56 SUMÁRIO RESUMO LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LISTA DE TABELAS LISTA DE GRÁFICOS 01 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 15 2. AUTOMEDICAÇÃO................................................................................................. 17 2.1 Histórico dos medicamentos e da automedicação.................................................... 17 2.1.1 Medicamentos........................................................................................................ 17 2.1.2 Automedicação...................................................................................................... 19 2.2 A contribuição das farmácias e dos farmacêuticos na automedicação..................... 22 2.3 Os perigos e os aspectos positivos da automedicação.............................................. 26 2.4 Toxicidade dos medicamentos.................................................................................. 29 2.5 Reação adversa de medicamentos comumente utilizados na automedicação........... 30 2.6 Atenção farmacêutica na automedicação.................................................................. 34 03. OBJETIVOS............................................................................................................. 36 3.1 Geral.......................................................................................................................... 36 3.2 Específicos................................................................................................................ 36 04 METODOLOGIA ..................................................................................................... 37 4.1. Tipo de estudo ......................................................................................................... 37 4.2. Local da pesquisa..................................................................................................... 37 4.3 População e amostra................................................................................................. 38 4.4 Estrutura do questionário ......................................................................................... 39 4.5 Técnica de análise de dados...................................................................................... 39 4.6 Aspectos éticos da pesquisa...................................................................................... 39 05. RESULTADOS E DICUSSÕES.............................................................................. 40 5.1. Caracterização dos entrevistados............................................................................. 40 5.1.1 Dados sobre automedicação................................................................................... 44 5.2 Discussões................................................................................................................. 56 06 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES............................................. 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 61 07 APÊNDICE................................................................................................................ 63 APÊNDICE A - Termo de consentimento...................................................... 64 APÊNDICE B - Questionários aplicado aos clientes..................................... 65 APÊNDICE C - Termo de autorização........................................................... 67 08 ANEXO..................................................................................................................... 68 ANEXO A - Parecer do Comitê de Ética........................................................ 69 15 1. INTRODUÇÃO A automedicação é definida como uso de medicamentos sem prescrição médica, onde o próprio paciente decide qual fármaco utilizar. Inclui-se também nessa designação genérica a prescrição (ou orientação) de medicamentos por pessoas não habilitadas, como amigos, familiares ou balconistas da farmácia, nesses casos também denominados de "exercício ilegal da medicina”. “Outro termo utilizado é a automedicação orientada, que se refere à reutilização de receitas antigas sem que elas tenham sido emitidas para uso contínuo” (PAULO e ZANINE, 1997, p. 34). Apesar de saber que é perigoso ingerir medicamentos com base na indicação do balconista da farmácia, de amigos, ou achando que os sintomas são de uma doença que conhece ou já teve, muitas pessoas ainda recorrem a automedicação, para economizar a consulta médica e os exames diagnóstico, poupando trabalho político e pessoal necessário para a obtenção de saúde. Essa conduta, em geral, sai mais cara. Os medicamentos podem agravar doenças, mascarar sintomas, ter efeitos colaterais danosos. Por outro lado, os medicamentos exercem uma função simbólica sobre a população. Como produto simbólico, o medicamento pode ser visto como um signo ou símbolo, composto de uma realidade material (significante), no caso a pílula, a solução, a ampola e outras, que remete a um conceito (significado) que é a Saúde. Desta forma, o medicamento tem papel proeminente dentro da consulta médica. A necessidade da prescrição para a obtenção do medicamento representa limitação da liberdade pessoal de busca imediata do alívio da sintomatologia, o que impede que o indivíduo faça preponderar sua própria experiência e vontade. “Este desejo de consumo de medicamentos torna-se possível devido a fatores externos, como a cultura, a economia e aspectos legais que facilitam ou não impedem a posse e dispensão de medicamentos sem a apresentação da receita médica” (MATIAS, 2001, p. 5). Para Paulo e Zanine (1997, p. 69): A melhoria da fiscalização e a reorganização das normas para dispensão e propaganda de medicamentos é um trabalho financeiramente oneroso, só realizado a longo prazo. Logo, deve-se estar atento à possibilidade de utilizar a automedicação como um instrumento para a promoção da saúde, desde que devidamente direcionada através de programas 16 institucionais que visem a conferir maior grau de autonomia ao paciente frente à sua medicação, o que já vem ocorrendo experimentalmente em países de Primeiro Mundo. Pelo exposto a automedicação representa excelente campo de pesquisa, uma vez que, várias hipóteses convergem ou divergem na tentativa de explicar suas causas. Algumas pessoas atribuem à prática da automedicação a uma espécie de conseqüência, mesmo que distorcida, da divulgação que os laboratórios fazem junto à classe médica; outras, do excesso de pontos-devendas de medicamentos. No Brasil, existe uma farmácia para cada três mil habitantes, quando o número preconizado pela OMS é de uma para cada grupo de 8 mil habitantes, existe, também, a força dos laboratórios que incentivam os médicos a prescrever seus produtos. A industria farmacêutica destina um percentual de 30% a 35% de sua receita líquida aos representantes, cuja função é bater na porta dos consultórios e divulgar o remédio (SINITOX, 2005). Sabe-se que a automedicação é um grave problema, no entanto, não se pode condenar o ato de se automedicar porque seria socioeconomicamente inviável o atendimento por um médico para solução de todos os sintomas da população. Parece haver uma tendência mundial para maior aceitação da automedicação. Segundo Cury (2000): É impossível frear essa prática; assim, é necessário que a sociedade se adapte, recebendo informação científica sobre os medicamentos de venda-livre, sem estímulo ao consumo desenfreado ou ao mito de cura milagrosa, ao mesmo tempo que seja incentivada a procura do profissional médico, relevando os pontos positivos que uma consulta médica pode ter em relação à automedicação. Em uma farmácia que fica localizada no bairro Pirajá em Juazeiro do Norte é constante a compra de medicamentos de venda livre sem prescrição médica. A automedicação, prática altamente prevalente observada na cidade de Juazeiro do Norte-CE, assim como no País e no mundo inteiro, traz crescente preocupação razão pela qual escolhemos o tema para estudar. Pensando em tudo isso, resolveu-se trabalhar o referido tema como mais uma forma de despertar a população para os perigos que correm e, ao mesmo tempo, passar informações sobre os medicamentos, principalmente os que são vendidos livremente. 17 Para facilitar a elaboração do trabalho monográfico, levanta-se o seguinte problema: A automedicação é conseqüência da falta de conhecimento dos perigos que causa ao ser humano ou é devido a situação financeira da maioria da população que não tem condições de acesso à consulta médica, que não quer ou não pode esperar para ser atendido pelo SUS e termina se automedicando? 2. A AUTOMEDICAÇÃO 2.1 Histórico dos medicamentos e da automedicação 2.1.1 Medicamentos Conta a história que os medicamentos já eram utilizadas na antigüidade tal fato é comprovado quando dizem que Asclépios e Esculápio eram considerados os deuses da Medicina. Na Grécia Antiga, ensinava-se que o filho do deus Apolo com a mortal de rara beleza Coronis (que por sua vez era filha de Flégias, reis dos Lápitas, da Tessália), Asclépios (para os Gregos) e Esculápio (para os Romanos), era o deus da Medicina cujo culto se estendeu por todo o mundo Grego, porém por sua mãe ter sido uma mortal, às vezes aparece como herói-médico, tendo sido educado por um Centauro-Quiron - que o ensinou a caça e a medicina. Tornando-se muito hábil na arte da cirurgia. É sempre apresentado como jovem, gentil e calmo, carregando um rústico bastão, no qual se enrola uma serpente (sincamesp.com.br, 2006). Na antigüidade havia os rituais sempre que aparecia um surto de qualquer doença. Como exemplo podemos citar na, Antiga Grécia, toda vez que havia uma peste ou uma epidemia, os médicos saiam para matar as cobras, pois acreditavam que estas (seres demoníacos), eram as causadoras das doenças. Estando com a cobra enrolada em seu bastão, Asclépio tem o domínio da 18 causa da doença, curando portanto seus pacientes. A filha desse, Hígia, era a deusa da Saúde. Com o tempo, a serpente no bastão de Asclépios, se tornou o símbolo da Medicina, já a taça e a serpente de Hígia passaram a ser o símbolo da Farmácia. (sincamesp.com.br, 2006). A história dos medicamentos vem acompanhada da mitologia na Antiga Grécia. Os mitos estavam sempre relacionados com um personagem, como é o caso de Asclépio e Hígia, destacados na citação acima. Mas, na realidade, com o surgimento da Filosofia que se caracteriza pela intenção de ampliar incessantemente a compreensão da realidade, bem como o aparecimento do médico Hipócrates que mais tarde se torna o pai da medicina é que surge um estudo mais aprofundado das questões de saúde (Sincamesp.com.br, 2006). Após a fase de Mitologia da Humanidade surge na Grécia, a Filosofia (o Logos) pôr volta do século VI a.C. O Médico Hipócrates que viveu no séc. IV a.C. em Cós, Ilha do litoral Grego, é considerado o fundador da medicina racional, pois fez referências em seus escritos a formas e operações farmacêuticas. Com isto ele definiu claramente o profissional de saúde dos sacerdotes e outros que a sua maneira tentavam curar os enfermos (Sincamesp.com.br, 2006). A partir daí a medicina começa a tomar um novo rumo e passa a ser vivenciada em várias civilizações. Dioscórides, séc. I E.C., acompanhava os exércitos Romanos em suas conquistas, colhendo informações sobre plantas que poderiam ser utilizadas na medicina. Tornou-se autoridade mundialmente conhecida durante muitos anos. A grande contribuição da medicina e farmácia Árabe foi preservar para o Ocidente todo o conhecimento acumulado pelos Gregos enriquecendo-as com seus próprios avanços em Química, Farmácia, Botânica e Administração Hospitalar. Os Árabes desenvolveram e aperfeiçoaram métodos como os de evaporação, filtragem, sublimação, destilação cristalização, métodos para a preparação de mercúrio , sulfureto e óxido arsenioso, vitríolo, alume, acetado de chumbo, ácidos sulfúricos e nítricos brutos (combinados como água régia). Foram entre outros medicamentos introduzidos pêlos árabes: o âmbar, o almíscar, cravo-da-índia, pimentas, o gengibre chinês, a noz-de-areca, o sândalo, o ruibarbo, a noz-moscada, a cânfora ,a Sena, o cassis e a noz-vômica (Sincamesp.com.br, 2006). 19 Cosme e Damião (mártires cristãos de origem árabe) cujo martírio ocorreu em 303 E.C. pôr perseguições aos cristãos ordenada pelo Imperador Diocleciano; Tornaram-se dois séculos depois a ser considerados os santos patronos da medicina e da farmácia. 2.1.2 Automedicação Automedicação é um procedimento caracterizado fundamentalmente pela iniciativa de um doente, ou de seu responsável, em obter ou produzir e utilizar um produto que acredita que lhe trará benefícios no tratamento de doenças ou alívio de sintomas (PAULO & ZANINI, 1997). Como sabemos, a maioria da população brasileira é de baixa renda, não dispõem de recursos financeiros para tratamento de saúde e recorrem a automedicação. Em alguns países a automedicação está sendo considerada uma necessidade, e inclusive de função complementar aos sistemas de saúde, particularmente em países pobres tanto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou diretrizes para a avaliação dos medicamentos que poderiam ser empregados em automedicação (WHO, 1989). Segundo esse informe, “tais medicamentos devem ser eficazes, confiáveis, seguros e de empregos fácil e cômodo”. No entanto, somos sabedores que, a automedicação inadequada, tal como a prescrição errônea, pode ter como conseqüências efeitos indesejáveis, enfermidades iatrogênicas e mascaramento de doenças evolutivas, representando, portanto, problema a ser preventivo. “É evidente que o risco dessa prática está correlacionada ao grau de instrução e informação dos usuários sobre medicamentos, bem como com a acessibilidade dos mesmos ao sistema de saúde” (Campos et al., 1985). Certamente a qualidade da oferta de medicamentos e a eficiência do trabalho das várias instâncias que controlam este mercado, também exercem papel de grande relevância nos riscos implícitos da automedicação. Na década de 70, surgiu a “revolução terapêutica” com o desenvolvimento de novos fármacos e sistemas de liberação, o que incontestavelmente criou grandes expectativas nas atividades da saúde e vem, desde então, produzindo efeitos benéficos. “Porém, deve-se redobrar a atenção para os possíveis efeitos adversos da terapia medicamentosa, especialmente, quando eles emergem, após uso prolongado nos tratamentos crônicos” (OMS, 1974; MANT, 1994). 20 “Por outro lado, sempre que surge uma inovação tecnológica na área de medicamentos, criam-se novas expectativas em todas as classes sociais de que sempre existe um medicamento soberano para cada mal” (OMS, 1974). A Organização Pan Americana de Saúde (OPAS, 1996), além de chamar a atenção para o uso indiscriminado, e os efeitos indesejáveis dos medicamentos denunciou que medicamentos proibidos em outros países são livremente prescritos e vendidos em outros países, como por exemplo, no Brasil. Para esse órgão, tais práticas abusivas são conseqüência de um sistema político e econômico desumano. Não são os medicamentos propriamente ditos que determinam tais práticas, pois muitos são reconhecidos como eficientes, minimizando o sofrimento e curando as doenças, porém quando mal empregadas, podem gerar riscos maiores do que benefícios à saúde. Segundo dados do Sinitox (Serviço de Informações Toxicológicas) do Ministério da Saúde (2005), “o Brasil ocupa o 1º lugar mundial em automedicação. Uma pesquisa realizada pelo órgão revelou que, desde 1996, ano a ano, o uso indiscriminado de medicamentos tornou-se o agente que mais causou intoxicação no país”. Este consumo elevado de medicamentos pelos brasileiros pode ser atribuído a vários fatores. O principal é o fator cultural, o hábito da população de se automedicar. A ‘vizinhoterapia‘ é altamente difundida, fazendo a população acreditar que, se um medicamento foi bom para um, será bom para todos. Outro fator é a inacessibilidade e ineficiência dos setores públicos e privados para a população com baixo poder aquisitivo. As pessoas não conseguem marcar consultas na rede pública e a rede privada cobra valores exorbitantes para uma simples consulta. Assim, o balcão da farmácia acaba virando consultório médico. Além disso, a propaganda exagerada e a não obediência à legislação incentivam e facilitam o consumo de medicamentos por conta própria. Os medicamentos que contêm tarja vermelha ou preta, implica na necessidade da apresentação da receita para venda, que não é exigida na maioria das farmácias. A automedicação no Brasil tornou-se um grave problema na saúde pública. Para amenizar essa situação crítica, são necessárias ações institucionais por parte dos órgãos do Ministério da Saúde e conselhos de categoria (médicos, farmacêuticos, enfermeiros) e, sobretudo, uma campanha nacional que atinja a população, alertando sobre os riscos do uso de medicamentos de forma irracional. 21 Existe um jargão farmacêutico: “A informação é o melhor remédio”. Uma vez que a população se torne consciente de que todo medicamento possui contra-indicações e podem provocar efeitos colaterais e reações adversas, e que o medicamento usado com sucesso por uma pessoa pode causar danos à saúde de outra, vamos conseguir uma sensível diminuição nestes casos. Porém, vale salientar que o fenômeno da medicação não é um “privilégio” do povo brasileiro. A Organização das Nações Unidas (ONU) adverte, através do Conselho Mundial de Monitoramento de Narcóticos, sobre as nefastas conseqüências do abuso no consumo de algumas substâncias emagrecedoras, tranqüilizantes e anabolizantes, comercializadas nos países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos. Em relatório divulgado em 2005, a Instituição atribui o abuso de consumo desses fármacos a combinação de fatores que “medicalizam” os problemas sociais, como desemprego e dificuldades de relacionamento, e a tendência a tratar os sintomas em vez das causas de problemas como a obesidade, estresse e déficit de atenção. Segundo este relatório, a responsabilidade por esse fenômeno deve ser compartilhada entre médicos e empresas farmacêuticas. Em países desenvolvidos, o número de medicamentos de venda livre tem crescido nos últimos tempos, assim como a disponibilidade desses medicamentos em estabelecimentos não farmacêuticos, o que favorece a automedicação (MINTZES, 1994). Para Ivannissevich (1994): Nesses países, no entanto, os rígidos controles estabelecidos pelas agências reguladoras e o crescente envolvimento dos farmacêuticos com a orientação dos usuários de medicamentos, tornam menos problemática a prática da automedicação. Já no Brasil onde, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de pessoas são adeptas da automedicação, a má qualidade da oferta de medicamentos, o não-cumprimento da obrigatoriedade da apresentação da receita médica e a carência de informação e instrução na população em geral justificam a preocupação com a qualidade da automedicação praticada no país. Essa prática que antes era usada pelas civilizações antigas, índios, pessoas que moravam na zona rural, hoje faz parte do cotidiano da maioria das pessoas e o mais grave é que 22 algumas pessoas tem compulsão de se automedicar, o que motiva varejistas de fármacos menos éticos, a incentivarem esta pratica. 2.2 A contribuição das farmácias e dos farmacêuticos na automedicação Estudos publicados, em número crescente, na literatura médica mundial, vêm apontando a medicação nas farmácias e a automedicação como problema cada vez mais amplo, capaz de acarretar sérios riscos e prejuízos à saúde (BESTANE, 1980). Muitos países desenvolvidos, têm adotado dispositivos legais para contornar a situação. Partindo do controle rigoroso da indústria farmacêutica e atingindo especialmente a rede de comercialização, tais leis têm logrado algum êxito junto à população, conscientizando-a das propriedades, por vezes negativas, de certas drogas, bem como da necessidade do uso correto dos medicamentos. No nosso país, a situação não oferece aparentemente maior gravidade, porquanto as nossas estatísticas são insuficientes para dimensionar a realidade do problema. Além disso, “não existe fiscalização adequada sobre a produção e comercialização dos medicamentos; ocorrem numerosas apresentações para a mesma droga e, finalmente, o médico não é o único que prescreve medicamentos” (IVANNISSEVICH, 1994). Assim, a livre comercialização representa, na verdade, o primeiro passo que leva à autoterapêutica e à prescrição medicamentosa por pessoas não qualificadas. Para se ter uma idéia, a indústria farmacêutica mundial é considerada como o segundo melhor negócio do planeta, ficando atrás apenas de companhias de petróleo. Segundo a revista inglesa “Focus”, o setor faturou em 2002, 406 bilhões de dólares” (Morais - Revista Superinteressante, fev. 2003, p 44). O sintoma capitalista se faz presente no país, pela comunicação mercadológica, onde um medicamento vale mais que seu valor terapêutico, já que o invólucro que protege a substância, a embalagem, a distribuição, a propaganda, enfim, as ferramentas utilizadas pelo mercado da indústria farmacêutica, encarecem, e muito, o medicamento. Fato que não ocorre, por exemplo, em Cuba. 23 O Brasil está longe de ser um país de primeiro mundo, é rotulado como país em desenvolvimento, mas teoria à parte, os números mostram a verdadeira realidade e são números alarmantes, quando comparados ao consumo de medicamentos da população de países de primeiro mundo. Aqui, vende-se mais remédio do que pão! (MORAIS REVISTA SUPERINTERESSANTE, 2003, p 44). Medicamentos de venda livre, também conhecidos como OTC e mesmo os éticos, que deveriam ser vendidos apenas sob prescrição dos médicos, são vendidos por telefone ou internet (Morais - Revista Superinteressante, fev. 2003, p 44). Os próprios balconistas de farmácias, incentivados pela poderosa indústria farmacêutica, receitam analgésicos e indicam medicamentos de tarja vermelha (éticos) aos consumidores, prováveis doentes. E como se não bastasse a falta de fiscalização ou controle, o Brasil é considerado culturalmente, como a população que adora se automedicar, ou seja, toma desde o chá da vovó até analgésicos e antiinflamatórios disponíveis em farmácias e drogarias. Também é considerado um dos maiores consumidores de ansiolíticos, onde 75% das mulheres são responsáveis por uso indiscriminado de tranqüilizantes. Segundo publicação na revista brasileira “Terra”, “a questão cultural da automedicação do brasileiro é constatada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Pois ainda nos tempos atuais, em algum momento, as pessoas recorrem à prática de curar-se por meio de plantas medicinais” (Lucca - Revista Terra, jun. 2004, p 61). No norte e nordeste do país é comum a venda de “garrafadas” (feitas à base de plantas e rezas) que prometem verdadeiros milagres. Em cada parte do país, seja por uma questão geográfica e até cultural, as pessoas encontram novas formas de se automedicar. “No Brasil existe uma farmácia (ou drogaria) para cada 3.300 habitantes e o País está entre os dez que mais consomem medicamentos no mundo”, segundo dados do Conselho Federal de Farmácia (2006). O acesso a farmácias e drogarias e a facilidade na aquisição de medicamentos no popularmente conhecido "balcão da farmácia" promovem um aumento no consumo de medicamentos pela maioria da população brasileira Nesse sentido, há de se preocupar com o uso abusivo de medicamentos e processos voluntários de cura, que colocam o país também com índices alarmantes de morte por intoxicação, cerca de 30% das intoxicações são causadas por medicamentos (REVISTA SUPERINTERESSANTE, 2003, p 45). 24 Esse alto índice de automedicação da população brasileira também tem forte relação com o mercado ocupado pela indústria farmacêutica, que não mede esforços através das ferramentas de marketing, das propagandas e das drogarias adaptadas a verdadeiros supermercados. Tudo para vender medicamentos e até criar uma cultura desenfreada de consumo excessivo dos mais variados medicamentos. Para especialistas, o consumo nacional de medicamentos estaria relacionado ao difícil acesso aos serviços de saúde, ao hábito do brasileiro em fazer uma automedicação, e ao fato do medicamento ser considerado uma mercadoria que pode ser adquirida e consumida sem a orientação devida. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50% dos usuários de medicamentos o faz de forma incorreta. No país, existe uma cultura de que a farmácia é um mero comércio e o medicamento é uma mercadoria como outra qualquer e isto tem estimulado, o consumo de medicamentos de forma indiscriminada. No entanto, somente a exigência da prescrição médica não vai prevenir a automedicação. A mudança passa pela correta orientação do farmacêutico no estabelecimento farmacêutico. Essa correta informação é fundamental para mudar a cultura das pessoas, É importante que a pessoa saiba o que é o produto que está adquirindo, a ação que vai acontecer em seu organismo ao consumir a substância e das incompatibilidades que existem em relação ao medicamento, assim como a responsabilidade de Tomá-lo corretamente. A Organização Mundial da Saúde define o medicamento como um produto farmacêutico para recuperação ou manutenção da saúde. Dessa forma, isto quer dizer que o produto na prateleira realmente é mercadoria. Ele passa a ser medicamento no momento que é orientado para isto, seja por uma prescrição ou diagnóstico e terapêutica específica. De acordo com informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o uso indiscriminado de medicamento, facilitado pelo acesso de uma parte da população "ao comércio", leva a população a um processo de risco à saúde e até a morte. Os medicamentos de maior uso pela população brasileira são: anticoncepcionais, analgésicos, descongestionantes nasais, antiinflamatórios e alguns antibióticos, adquiridos no balcão da farmácia sem nenhuma dificuldade. Para os especialistas, a população precisa atentar para ao uso desses medicamentos, pois a utilização inadequada de antiinflamatórios pode levar à falência renal e, de antibióticos, 25 pode causar resistência do organismo a substâncias que tratam infecções ou doenças que precisam de medicamentos nesta linha. Preocupada com esse crescente consumo, a Anvisa está implementando ações para promover a utilização correta e segura dos medicamentos comercializados, por meio de "alertas" à população em relação ao consumo de substâncias que possam provocar a chamada reação adversa (reação que as pessoas podem ter com medicamentos ou substâncias que venham a usar). Para Murilo Freitas Dias (2004), Chefe da Farmacovigilância da Anvisa, a busca do paciente em resolver o seu problema de saúde (autocuidado) deve acontecer naturalmente. Em sua opinião, o hábito da população não pode levar a um processo de risco. Outra preocupação da Anvisa é quanto ao uso de medicamentos promovidos por propagandas, recomendação de familiares, vizinhos, colegas, que faz parte da cultura do brasileiro e pode levar a risco e, em alguns casos, até a morte. Esse consumo facilitado pelo acesso de uma parte da população aos medicamentos pode estar conduzindo ao uso indiscriminado de substâncias nocivas ao organismo. Para Maria Eugênia Cury (2000) Presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) e conselheira nacional, “a cultura da automedicação foi introduzida na cultura do povo brasileiro de forma deliberada para que o mercado pudesse se expandir”. No Brasil, durante muito tempo a legislação, as entidades, os órgãos responsáveis e a política de saúde permitiram que a indústria farmacêutica tivesse como criar o seu próprio espaço para ter mercado de medicamentos. Então, a exigência da receita médica ficou no papel. Houve responsabilidade de todos os lados para que este hábito se tornasse grave como está agora. As farmácias de manipulação têm se configurado como uma alternativa entre os usuários e profissionais que querem tratamento personalizado. As dúvidas que o paciente tem em relação aos medicamentos manipulados são dissipadas pelo farmacêutico no próprio estabelecimento e a compra indiscriminada é evitada. Enquanto a solução para problemas tão graves não chega, fica a frase de um poeta canadense sobre os medicamentos: Os antibióticos são medicamentos tão potentes quanto as ogivas nucleares, o médico prescreve, o paciente compra e o organismo utiliza na técnica do arquiflecha. 26 Na medicina atual, onde existe uma maior preocupação com o bem estar do paciente, o farmacêutico exerce papel importante somando seus esforços aos dos outros profissionais de saúde e aos da comunidade para a promoção da saúde. James & Rovers (2003) identificaram quatro categorias de iniciativas que podem ser implantadas pelos farmacêuticos para a melhoria do estado de saúde da comunidade: • Acompanhamento e educação do e para o paciente; • Avaliação dos seus fatores de risco; • Prevenção da saúde; • Promoção da saúde e vigilância das doenças. Ainda segundo os autores acima, a promoção da saúde pode ser feita através de três domínios que dão suporte aos serviços oferecidos à população: • Disposição de serviços de prevenção clínica; • Vigilância e publicações em saúde pública e • Promoção do uso racional de medicamentos pela sociedade. A abordagem de James & Rovers está alinhada aos tópicos relacionados pela OMS (1986) em relação a medidas que podem ser adotadas para a promoção da saúde. Transpondo para a nossa realidade as estratégias defendidas mundialmente, é possível dizer que o farmacêutico (da drogaria, farmácia comercial ou farmácia privativa dos hospitais e unidades ambulatoriais de saúde) pode trabalhar sob três pontos básicos: reorientando o serviço de farmácia, desenvolvendo as habilidades da comunidade e incentivando os indivíduos à ação comunitária. 2.3 Os perigos e os aspectos positivos da automedicação As causas para existência da automedicação são inúmeras, podemos citar algumas como a impossibilidade de uma boa parte da população ter acesso ao atendimento médico ou odontológico, seja por questões financeiras ou por hábito de tentar solucionar os problemas de saúde corriqueiros tomando por base a opinião de algum conhecido mais próximo. Embora a existência de efeitos adversos seja tão antiga quanto a própria utilização de determinada substância, somente a partir da segunda metade do século, com a tragédia da talidomida, na década de 60, é que a preocupação com os efeitos adversos dos medicamentos 27 tornou-se um alvo freqüente das pesquisas dos laboratórios governamentais e das indústrias farmacêuticas. Atualmente, os conhecimentos nesse sentido são inúmeros e seu avanço é cada vez maior e isso fornece aos médicos importantes substratos a serem analisados no momento de prescrever um determinado medicamento. Outro problema relacionado à automedicação é a interação medicamentosa. Mas afinal, o que é isto e do que se trata? Quando medicamentos são administrados concomitantemente, eles podem interagir de três formas básicas: um pode potencializar a ação de outro, pode ocorrer também a perda de efeitos por ações opostas ou ainda a ação de um medicamento alterando a absorção, transformação no organismo ou a excreção de outro fármaco (LUCCA, 2004). Além disso, o fato de determinadas substâncias usadas indiscriminadamente alterar as condições fisiológicas do organismo de um paciente é muitas vezes ignorado e isso certamente deve ser considerado. Exemplificando, o uso indiscriminado de medicamentos à base de um analgésio-antitérmico como a dipirona pode baixar os níveis das células de defesa encontradas no sangue. Um outro conceito a ser tratado, e tido por muitos (devido a falta de informação) como inofensivo, é o uso indiscriminado de medicamentos fitoterápicos, aqueles remédios naturais que segundo vendedores mais interessados em rechear seu bolso do que com a saúde pública , insistem em afirmar que não existem efeitos colaterais. É um conceito equivocado achar que um extrato de um vegetal, só porque não foi industrializado e está livre de qualquer insumo químico, é tido como sem nenhuma contra-indicação. Um medicamento fitoterápico, ou do tipo homeopático (é bom diferenciá-los: o processo de fabricação de um medicamento homeopático é totalmente diferente de um fitoterápico, bem como sua concentração final, seu modo de ação e o tempo de tratamento) usado sem uma orientação especializada é um risco de reações indesejadas, e que pode ser evitada com uma simples conversa com um profissional da área da saúde. Muitas vezes, o profissional qualificado mais acessível para muitos é o farmacêutico (não confundir com o balconista) que é um profissional qualificado para dispensar as especialidades farmacêuticas. No Brasil, a intoxicação por medicamentos é bastante comum: Dados do Centro de Assistência Toxicológica (CEATOX) da Universidade de São Paulo (USP) apontam que dos 28 3211 casos de intoxicação registrados em 1998, 40% foram provocados por medicamentos. É importante lembrar: todo medicamento é uma droga e tem efeitos colaterais. A utilização inadequada de medicamentos pode tornar difícil a detecção de doenças, pois as complicações são verificadas em longo prazo, fazendo com que não se percebam efeitos indesejáveis que a automedicação pode acarretar como, agravos e mascaramento de doenças, interação medicamentosa e intoxicações (PAULO; ZANINI apud ARRAIS, COELHO, BATISTA, CARVALHO, RIGHI, ARNAU 1997, p. 71-77) A automedicação é perigosa por envolver o seguinte tripé: uma substância psicoativa com características farmacológicas peculiares que age em um indivíduo com características de personalidade e singularidade biológica que pertence a um contexto sócio-econômico dinâmico e polimorfo onde se realiza o encontro entre o indivíduo e o medicamento. Este encontro pode ter causas graves como aponta um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 1986: • Diagnóstico incorreto de distúrbio; • Retardamento do reconhecimento do distúrbio com possível agravamento do quadro; • Escolha de terapia inadequada; • Administração incorreta do medicamento; • Dosagem inadequada ou excessiva; • Uso excessivamente curto ou prolongado; • Risco de dependência; • Possibilidade de efeitos colaterais sérios; • Possibilidade de reações alérgicas; • Desconhecimento de possíveis interações com outros medicamentos; • Armazenamento incorreto do medicamento; Porém não podemos dizer que só existe perigos na automedicação, existem, também, os aspectos positivos, principalmente quando se leva em conta que é uma função complementar aos sistemas de saúde, particularmente em países pobres. A Organização Mundial Saúde (OMS) publicou diretrizes para avaliação dos medicamentos que poderiam ser empregados em automedicação. 29 A automedicação é reconhecida como um fenômeno de autocuidado com a saúde, o qual, até certo ponto é inevitável. Por isso, a Organização Mundial de saúde (OMS) tem buscado avaliar seu impacto, benefícios e custos sobre a saúde. Podem ser considerados como aspectos positivos na automedicação a conveniência para o paciente, a economia para o estado com a redução da procura pela assistência médica em distúrbios considerados menores como dor de cabeça, gripe, constipação e quando esta for orientada por um profissional farmacêutico. A atenção farmacêutica nos mostra a responsabilidade do farmacêutico junto ao paciente, orientando e solucionando Problemas Relacionados com Medicamentos (reações adversas, efeitos colaterais, interações medicamentosas e alimentares). 2.4 Toxicidade dos medicamentos A expressão toxicidade refere-se a reações tóxicas sérias, freqüentemente lesivas e possivelmente fatais, em decorrência do uso incorreto de algum medicamento (decorrente de erro do médico, do farmacêutico ou do paciente) ou intencional (homicídio ou suicídio) de determinada droga. “Um risco menor de toxicidade é freqüentemente a razão por que os médicos preferem um medicamento em detrimento de outro quando os dois produtos são igualmente eficazes” (JAMES & ROVERS, 2003). Assim, se há necessidade de um sedativo, ansiolítico ou tranqüilizante, em geral os médicos receitam benzodiazepínicos, como o diazepam e o triazolam, e não barbitúricos, como o pentobarbital. Os benzodiazepínicos não são mais eficazes que os barbitúricos, mas possuem uma margem de segurança mais ampla e apresentam probabilidade muito menor de causar toxicidade grave no caso de uma overdose, acidental ou intencional (JAMES & ROVERS, 2003). A prescrição de medicamentos, apesar de ser uma atividade rotineira do médico, representa um desafio a ser repetidamente vencido. Um dos fatores que complicam esta escolha é a variabilidade dos efeitos dos medicamentos (naturais ou industrializados) nos pacientes. Atribui-se ao matemático Pitágoras o primeiro relato, em 510 a.C., da variabilidade na resposta farmacológica: alguns indivíduos se intoxicavam ao comer favas, enquanto outros 30 não eram absolutamente afetados. Passados vinte e cinco séculos, sabemos hoje que o risco desta toxicidade está associado a um defeito genético numa proteína do fígado, que reage com os componentes das favas. A partir dos anos 50, outras associações entre alterações genéticas e respostas aos medicamentos foram identificadas. Criou-se o termo farmacogenética, que designa o estudo desta área de pesquisa. A farmacogenética evoluiu muito. Sua maior promessa é contribuir para a individualização da terapêutica, ou seja, a prescrição do medicamento certo, na dose adequada para cada indivíduo, com base no conhecimento dos fatores genéticos que modulam a ação farmacológica (CURY, 2000). Essa individualização na escolha dos medicamentos e das doses representa paradigma na terapêutica farmacológica, com implicações positivas para os pacientes (maior eficácia e menor toxicidade dos medicamentos) e para os sistemas de saúde (redução de gastos com prescrições inúteis ou no tratamento de reações adversas). Para a indústria farmacêutica, a terapêutica individualizada, baseada na informação farmacogenética, constitui um desafio à estratégia tradicional de desenvolvimento de medicamentos para uso universal - isto é, para o maior número possível de pacientes. Através da automedicação a ocorrência de toxicidade é mais freqüente, uma vez que, a maioria das pessoas não tem conhecimento dos princípios ativos dos medicamentos e das reações causadas por eles. 2.5 Reação adversa de medicamentos comumente utilizados na automedicação De acordo com o site msd-brazil.com (2006), Uma concepção equivocada muito comum é a de que os efeitos medicamentosos podem ser nitidamente divididos em duas categorias: efeitos desejáveis ou terapêuticos e efeitos indesejáveis ou colaterais. A maioria dos medicamentos produz vários efeitos, mas o médico deseja que o paciente experimente apenas um ou poucos deles; os demais efeitos podem ser considerados indesejáveis. Embora a maioria das pessoas, inclusive os profissionais da saúde, use o termo efeito colateral, o termo reação medicamentosa adversa é mais apropriado para os efeitos indesejáveis, 31 desagradáveis, nocivos ou potencialmente prejudiciais. “Não surpreende que as reações medicamentosas adversas sejam comuns. Estima-se que cerca de 10% das admissões hospitalares nos Estados Unidos ocorram para o tratamento de reações medicamentosas adversas” (IVANNISSEVICH, 1994). Cerca de 15% a 30% dos pacientes hospitalizados apresentam pelo menos uma reação medicamentosa adversa. Embora muitas dessas reações sejam relativamente brandas e desapareçam quando o medicamento é interrompido ou a dose é mudada, outras reações são mais sérias e duradouras (IVANNISSEVICH, 1994). As reações medicamentosas adversas podem ser divididas em dois tipos principais: O primeiro consiste nas reações que intensificam os efeitos farmacológicos ou terapêuticos conhecidos e desejados. Por exemplo, uma pessoa que toma um medicamento para reduzir a pressão alta pode sentir tontura ou sensação de desmaio se a droga reduzir demasiadamente a pressão arterial. Uma reação medicamentosa adversa pode ocorrer se a dose do medicamento for demasiadamente alta, se o indivíduo for sensível à droga administrada ou se outro medicamento reduzir o metabolismo do primeiro, aumentando assim o nível de sua concentração no sangue. O segundo tipo de reações medicamentosas adversas inclui aquelas que permanecem imprevisíveis até que os médicos tomem conhecimento de outras pessoas com reações similares. São exemplos desse tipo de reação as erupções cutâneas, a icterícia (lesão hepática), a anemia, uma queda na contagem de leucócitos, uma lesão renal e uma lesão nervosa, com possível comprometimento da visão ou audição. Não existe uma escala universal para medir a gravidade de uma reação medicamentosa adversa; a avaliação é amplamente subjetiva. Considerando que a maioria dos medicamentos são administrados por via oral, os distúrbios gastrointestinais – perda de apetite, náusea, sensação de flatulência (timpanismo) e constipação ou diarréia – são responsáveis por elevada porcentagem de todas as reações descritas. Distúrbios gastrointestinais, dor de cabeça, fadiga, dores musculares vagas, mal-estar e mudanças nos padrões de sono são considerados reações leves. Mas tais reações podem ser realmente preocupantes para a pessoa que as experimenta. Além disso, a pessoa que percebe uma redução em sua qualidade de vida pode não cooperar com o tratamento medicamentoso prescrito, 32 o que se torna um grande problema quando se pretende que os objetivos do tratamento sejam atingidos. Reações moderadas são as mesmas classificadas como leves, mas apenas nos casos em que o paciente as considera nitidamente incômodas, angustiantes ou intoleráveis. A essa lista são acrescidas reações como as erupções cutâneas (especialmente quando extensas e persistentes), os distúrbios visuais (sobretudo em pessoas que usam lentes corretivas), os tremores musculares, a dificuldade miccional (comum a muitos medicamentos administrados a pessoas idosas), qualquer mudança perceptível no humor ou na função mental e certas alterações nos componentes do sangue (como gorduras ou lipídeos). A ocorrência de reações medicamentosas adversas leves ou moderadas não significa que o medicamento deva ser interrompido. Mas o médico reavaliará a dosagem, a freqüência de administração (número de doses por dia), o momento de administração das doses (antes ou depois das refeições, pela manhã ou na hora de deitar) e o possível uso de outros agentes que possam aliviar o sofrimento (por exemplo, o médico pode recomendar o uso de um emoliente das fezes, caso o medicamento tenha causado constipação). Às vezes os medicamentos provocam reações graves, que podem pôr em risco a vida do paciente, embora sejam relativamente raras. Pessoas acometidas por uma reação grave comumente devem interromper o uso do medicamento. Mas, em alguns casos, os médicos são obrigados a continuar a administração de medicamentos de alto risco (por exemplo, os quimioterápicos, para pacientes com câncer, ou os imunossupressores, para pacientes que foram submetidos a transplantes de órgãos). Os médicos fazem uso de todos os meios possíveis para lidar com as reações adversas graves: podem receitar desde antibióticos, se o sistema imune ficar comprometido para o combate de infecções, até antiácidos líquidos de alta potência ou bloqueadores dos receptores H2, como famotidina ou ranitidina, para evitar ou curar úlceras do estômago; podem fazer infusão de plaquetas para o tratamento de problemas sérios de sangramento ou injetar eritropoetina em pacientes com anemia induzida por medicamento para estimular a produção dos glóbulos vermelhos. 33 Na tabela 1. Observamos algumas Reações Medicamentosas Adversas Sérias: Reação Adversa Úlceras pépticas ou sangramento do estômago Anemia (diminuição da produção ou aumento da destruição de glóbulos vermelhos) Medicamentos • Corticosteróides (como prednisona ou hidrocortisona) tomados por via oral ou injetável (não aplicados na pele como cremes ou loções) • Aspirina e outras drogas antiinflamatórias nãoesteróides (como ibuprofeno, cetoprofeno e naproxeno) • Anticoagulantes (como heparina e warfarina) • Certos antibióticos (como o cloranfenicol) • Algumas drogas antiinflamatórias nãoesteróides (como indometacina e fenilbutazona) • Drogas contra a malária e a tuberculose em pacientes com deficiência da enzima G6PD Diminuição da produção de leucócitos, com aumento do risco de infecções • Certas drogas antipsicóticas (como a clozapina) • Medicamentos contra câncer • Algumas drogas para problemas de tireóide (como a propiltiouracila) Lesão hepática • Acetaminofeno (uso repetido de doses excessivas) • Algumas drogas contra tuberculose (como a isoniazida) • Quantidades excessivas de compostos de ferro • Muitas outras drogas, especialmente em pessoas com doença hepática preexistente ou em consumidores de grandes quantidades de bebidas alcoólicas Lesão renal (o risco de lesão renal induzida por medicamento é maior para pessoas idosas) • Drogas antiinflamatórias não-esteróides (uso repetido de doses excessivas) • Antibióticos aminoglicosídeos (como canamicina e neomicina) • Algumas drogas contra câncer (como a cisplatina) 34 2.6 Atenção farmacêutica na automedicação Consiste na provisão responsável da farmacoterapia com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente. Busca encontrar e resolver de maneira sistematizada e documentada todos os problemas relacionados com os medicamentos que apareçam no transcorrer do tratamento do paciente. Além disso, compreende a realização do acompanhamento farmacológico do paciente com dois objetivos principais, segundo Peretta e Ciccia (1998), • Responsabilizar-se com o paciente para que o medicamento prescrito pelo médico tenha o efeito desejado; • Estar atento para que ao longo do tratamento as reações adversas aos medicamentos sejam as mínimas possíveis, e no caso de surgirem, que se possa resolvê-las imediatamente. É um conceito de prática profissional em que o paciente é o mais importante beneficiado das ações do farmacêutico. A Atenção Farmacêutica, mais proativa, rejeita uma terapêutica de sistemas, busca a qualidade de vida e demanda que o farmacêutico seja um generalista. Ela é um pacto social pelo atendimento e que necessita ter uma base filosófica sedimentada no mundo todo, porque sua prática está assentada nessa filosofia. O exercício profissional do farmacêutico passa hoje pela concepção clínica de sua atividade, sua integração e colaboração com o restante da equipe de saúde e o cuidado direto com o paciente; o que então vem a ser chamado de cuidado, assistência ou Atenção Farmacêutica (PERETTA e CICCIA 1998). A Atenção Farmacêutica constitui uma nova filosofia de exercício profissional farmacêutico. Não existe porém, uma concepção concreta da prática de tal conceito. Isso então permite a cada farmacêutico uma certa flexibilidade para adaptar a provisão da Atenção Farmacêutica à sua realidade, seus próprios recursos e habilidades, procurando sempre uma farmacoterapia racional, segura e custo-efetiva para o cuidado do paciente. Além disso, a variabilidade enorme de patologias unida à ampla disponibilidade terapêutica, oferece múltiplas possibilidades de abordagem e resolução de um mesmo caso. 35 O que se deve ter em mente quanto a este modo de exercício profissional, é que a qualidade dos resultados se mede diretamente pela melhora da qualidade de vida oferecida ao paciente. E essa melhora deve ser obtida pela otimização da terapia medicamentosa e resolução dos problemas relacionados aos medicamentos. O que se propõe não é o exercício do diagnóstico ou da prescrição de medicamentos considerados de responsabilidade médica, mas a garantia de que esses medicamentos venham a ser úteis na solução ou alívio dos problemas do paciente. De acordo com Peretta e Ciccia (1998). 1. Estar atento para que ao longo do tratamento as reações adversas aos medicamentos sejam as mínimas possíveis, e que se possa resolvê-las imediatamente. 2. Estabelecer a relação farmacêutico-paciente; 3. Recolher, sintetizar e analisar a informação relevante; 4. Listar e classificar os problemas relatados pelo paciente e identificados na anamnese; 5. Estabelecer o resultado farmacoterapêutico desejado para cada problema relacionado com o medicamento; 6. Determinar as alternativas terapêuticas disponíveis; 7. Eleger a melhor solução farmacoterapêutica e individualizar o regime posológico; 8. Desenvolver um plano de monitorização terapêutica; 9. Iniciar o tratamento individualizado e o plano de monitorização; 10. Realizar o seguimento para medir o resultado. Para Peretta e Ciccia (1998) “a atenção Farmacêutica previne e soluciona problemas relacionados com medicamentos, se posta em prática constitui a grande esperança de dar sentido à nossa profissão”. 36 3. OBJETIVOS 3.1 Geral: Identificar as causas que levam à automedicação, pelos usuários de uma farmácia no bairro Pirajá em Juazeiro do Norte-CE. 3.2 Objetivos específicos ♦ Descrever o perfil sócio econômico da população estudada (sexo, idade, ocupação, renda); ♦ Conhecer os medicamentos mais procurados pela população do bairro Pirajá e a freqüência do uso; ♦ Entender os motivos de não procurarem o médico antes de se medicar; ♦ Verificar a ocorrência de problemas relacionados com a automedicação por parte dos usuários; ♦ Saber quem os orienta na aquisição do medicamento. 37 4. METODOLOGIA 4.1 Tipo de estudo Foi feita uma investigação do tipo descritiva qualitativa, onde procurou-se conhecer e interpretar a realidade e, para tanto, utilizou-se como instrumento um questionário que foi aplicado aos clientes de uma farmácia durante um período de quatro semanas (de 1 a 31 de março de 2006). Pelo questionário (apêndice B) composto de questões objetivas e subjetivas buscou-se conhecer o perfil dos clientes, os medicamentos mais procurados pela população, bem como identificar a ocorrência de problemas relacionados com a automedicação por parte dos usuários. 4.2 Local da pesquisa A pesquisa foi realizada no município de Juazeiro do Norte-CE, mais precisamente no bairro Pirajá. O município de Juazeiro do Norte fica localizado no sul do Ceará (revistaturismo.cidadeinternet, 2005). Juazeiro do Norte está organizado em 34 bairros: Aeroporto, Antonio Vieira, Betolândia, Brejo Seco, Carité, Centro, Distrito Industrial, Fátima, Franciscanos, Frei Damião, Horto, Jardim Gonzaga, João Cabral, José Geraldo da Cruz, Juvêncio Santana, Lagoa Seca, Leandro Bezerra de Menezes, Limoeiro, Novo Juazeiro, Pedrinhas, Pio XII, Pirajá, Planalto, Romeirão, Salesianos, Salgadinho, Santa Tereza, São José, São Miguel, Socorro, Timbaúbas, Tiradentes, Três Marias e Triângulo. O município conta com uma população de 250.000 mil habitantes (IBGE, 2001). Para atender a todo esse contingente conta com 49 farmácias comerciais, duas farmácias públicas; uma 38 unidade de emergência municipal, um hospital/maternidade do SUS que é considerado a maior maternidade do Cariri e quatro hospitais particulares. Apesar das dificuldades, principalmente no que se refere as verbas existentes, o município vem buscando melhorar cada vez mais o atendimento, principalmente depois do Programa Saúde da Família – PSF, que tem procurado dá uma assistência maior aqueles que necessitam de algum tipo de tratamento, bem como tem dado ênfase a prevenção. O PSF nesse unicípio conta com 45 médicos, 48 enfermeioros, estando assim distribuídos: 3 no bairro CIC, 2 no bairro João Cabral, 2 no bairro Triângulo, 2 no bairro Antônio Vieira, 2 no bairro 15 de agosto Salesianos, 2 no bairro Fundação 15 de agosto Romeirão, 2 no baitto Triângulo (FMJ), 2 no bairro Pio XII. Com a Saúde preventiva, Juazeiro do Norte, vem procurando promover a redução de riscos de doenças e de outros agravos, além de estabelecer condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. 4.3 População e amostra A população estudada foi representada por usuários de uma farmácia situada no bairro Pirajá em Juazeiro do Norte-CE. O tamanho da amostra foi calculada com base na taxa de visitação dos clientes à farmácia no bairro durante quatro semanas (de 1 a 31 de março de 2006). As pessoas convidadas a participar do estudo foram informados sobre os objetivos da pesquisa e ao concordarem assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice A), resguardando-a o sigilo das informações, conforme recomendado pelo Conselho Nacional de Saúde em sua resolução nº 196/96. O questionário composto de perguntas fechadas e abertas (apêndice B), foi elaborado pelo pesquisador com base em dados de literatura para mensuração das variáveis dependentes (automedicação) e independentes (sexo, idade, nível socioeconômico, motivação e posicionamento frente ao sistema tradicional de terapêutica), além de apresentar questões de verificação para a checagem da qualidade das informações prestadas. 39 4.4 Estrutura do questionário O questionário foi elaborado com perguntas abertas e fechadas, foi aplicado pelo pesquisador, no momento da compra do medicamento na farmácia do Pirajá. No estudo foram incluídos as pessoas que buscavam medicamentos sem que portassem prescrição médica ou conselho direto do farmacêutico. 4.5 Técnica de análise de dados A partir dos dados obtidos através do questionário foi feita a análise das perguntas o que permitiu uma interpretação desses dados coletados, através de software (Excel 2003), o qual torna cada vez mais fácil e confiável a análise. 4.6 Aspectos éticos da pesquisa Em respeito aos aspectos éticos da pesquisa, procuramos cumprir as exigências formais na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde que dispõe sobre pesquisa que envolve seres humanos (BRASIL, 1996). O questionário foi aplicado sem a necessidade de que os mesmos se identificassem. Ao realizar a pesquisa, explicou-se o objetivo da mesma e foi solicitado o consentimento, por escrito, do respondente. 40 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1. Caracterização dos entrevistados Dos 100 clientes entrevistados, 27% eram homens e 73% mulheres como se encontra explicitado no gráfico abaixo: 73% 80 60 27% 40 20 0 Homens Mulheres Gráfico 1. Distribuição em % quanto ao sexo dos clientes entrevistados em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 1 a 31 de março de 2006. A existência de maior número de mulheres entre os clientes entrevistados em uma farmácia no bairro Pirajá em Juazeiro do Norte-CE, pode ser explicado devido ao fato de que apesar dos homens também consumirem medicamentos, são as mulheres as que mais os compram. Tal fato pode ser comprovado quando no item 2.2 é colocado que 75% das mulheres são responsáveis por uso indiscriminado de tranqüilizantes. Num estudo realizado sobre o perfil da automedicação no Brasil no site scielo.br (2006) considerando a distribuição da idade por sexo, o grupo maioritário foi o das mulheres. 41 Quanto a idade vimos que 12% estavam na faixa etária entre 15 e 20 anos, 16% entre 21 e 29 anos, 22% entre 30 e 29, 50% entre 41 e 50 anos. 50% 50 40 30 20 12% 16% 22% 10 0 Entre 15 e Entre 21 e Entre 30 e Entre 41 e 20 anos 29 anos 40 anos 50 anos Gráfico 2. Distribuição em % por faixa etária dos clientes entrevistados em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 1 a 31 de março de 2006. Pelos dados apresentados, a maioria dos clientes entrevistados se encontram na faixa etária entre 41 e 50 anos. Quanto a idade, no estudo realizado no site scielo.br (2006) o grupo de mulheres tinha em sua maioria idade compreendida entre os 16 e 45 anos. A automedicação nos homens foi relevante sobretudo em idades extremas (0-15 e 56-65). 42 Quanto ao grau de instrução, 66% concluíram o Ensino Médio, 17% concluíram o terceiro grau e 17% cursaram somente o Ensino Fundamental. 66% 20 15 17% 10 17% Ensino Fundamental Terceiro Grau 0 Ensino Médio 5 Gráfico 3. Distribuição em % do grau de instrução dos clientes entrevistados em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 1 a 31 de março de 2006. Com relação ao grau de instrução, a predominância dos clientes entrevistados são dos que concluíram o Ensino Médio. A farmácia parece ser uma fonte de informação certa para o paciente que se automedica, independente do grau de instrução. Casagrande et al .(2004) demonstraram que 17,7% dos estudantes universitários do Município de Vassouras consumiram medicamentos orientados por farmacêuticos ou balconistas de farmácias e drogarias. No tocante a renda familiar, 66% ganham até 3 salários mínimos, 17% entre 3 e 8 salários mínimos e 17% acima de 8 salários mínimos. 43 66% 20 17% 15 17% 10 5 0 Até 3 SM Entre 3 e 8 Acima de SM 8 SM Gráfico 4. Distribuição em % da renda dos clientes entrevistados em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 1 a 31 de março de 2006. Uma parcela grande dos clientes entrevistados ganham até três salários mínimos. São pessoas de baixa renda. Sobre a profissão dos clientes 20% são comerciários, 20% desempregados, 30% funcionários público, 30% comerciantes. 44 30% 30% 30 20% 20% 20 Desempregados Comerciantes Comerciários 0 Funcionários Público 10 Gráfico 5. Distribuição em % da profissão dos clientes entrevistados em uma farmácia do bairro Pirajá. Período de 1 a 31 de março de 2006. A maioria dos clientes que foram entrevistados são funcionários público e comerciantes, seguidos pelos comerciários e desempregados. Na pesquisa feita foi possível constatar que não existe somente uma classe social que se automedica, todos, recorrem a essa prática. Não existe profissão, vai desde o desempregado ao que tem um poder aquisitivo melhor. 5.1.1 Dados sobre automedicação Após a caracterização dos entrevistados, entramos de fato no tema investigado, onde vimos que: Sobre a freqüência de uso de medicamentos sem prescrição: 74% disseram usar com freqüência, 26% afirmaram que não usam com freqüência. 45 74% 80 60 26% 40 20 0 Sim Não Gráfico 6. Distribuição em % da assiduidade em tomar medicamento sem prescrição por parte dos entrevistados. Período de 1 a 31 de março de 2006. Observamos, pelo gráfico acima que dos clientes entrevistados, 74% costumam ingerir medicamentos sem prescrição médica. “O uso de medicamentos sem prescrição médica é um hábito muito freqüente na população brasileira” (BOCK &TARANTI-NO, 2001). “O Brasil está entre os dez maiores mercados consumidores de medicamentos, no mundo. No entanto, a análise do consumo per capita demonstra um gasto de 13 dólares/pessoa/ano com medicamentos” (ROZENFELD,1987). O tipo de medicamento mais utilizados pelos que se automedicam são: 66% analgésicos, 44% antiinflamatórios. 46 66% Antiinflamatórios 44% Analgésicos 70 60 50 40 30 20 10 0 Gráfico 7. Distribuição em % dos medicamentos mais utilizados pelos entrevistados. Período de 1 a 31 de março de 2006. É necessário alertar à população dos riscos da automedicação. A cefaléia, principal motivador de automedicação (usa-se analgésicos) pode ser um sinal ou sintoma relacionado a outro problema de saúde mais grave como por exemplo a hipertensão arterial e que pode requerer cuidados e/ou tratamento específicos. Haak (1989, p. 143-150) em estudos realizados, constatou que, (...) praticamente todos os medicamentos utilizados no contexto da automedicação pertencem aos grupos dos antibióticos, analgésicos, vitaminas e anticoncepcionais. Quanto à racionalidade biomédica, considera-se racional apenas uma minoria e que a população apresenta um nível de expectativa exagerado em relação aos medicamentos. No tocante a prática da automedicação 80% falaram que sim, 5% disseram que não, 15% afirmaram que às vezes. 47 80% 80 60 40 15% 5% 20 0 Sim Não Ás vezes Gráfico 8. Distribuição em % da prevalência da automedicação por parte dos clientes. Período de 1 a 31 de março de 2006. A automedicação é uma prática comum, no entanto, pode possibilitar agravos e mascaramento de doenças, interações medicamentosas e intoxicações. Tal fato pode ser observado numa pesquisa encomendada pelo laboratório Bayer ao Instituto Marplan, a qual mostrou que “49% das mulheres entrevistadas em oito capitais brasileiras não saem de casa sem um analgésico a tiracolo” (BOCK & TARANTINO, 2001). Outra pesquisa, realizada pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostrou que cerca de “22% da população toma comprimidos para facilitar o sono e mais da metade (62%) não passou por consulta médica “(BOCK & TA- RANTINO, 2001). Perguntamos, também, porque a automedicação: 50% falaram que há dificuldade em serem atendidos nos postos de saúde, 30% não gostam de ir aos médicos e 20% não confiam nos médicos. 48 50% 50 40 30% 20% 30 20 Não confiam no médico 0 Dificuldade em ser atendido 10 Gráfico 9. Distribuição em % dos motivos que levam os clientes a automedicação. Período de 1 a 31 de março de 2006. Vimos que a maioria salientou que isso ocorre por falta de atendimento adequado nos hospitais e postos de saúde. Segundo Paulo & Zanine (1997), A automedicação é uma prática comum, vivenciada por civilizações de todos os tempos, com características peculiares a cada época e a cada região Hoje, cada vez mais se faz uso da medicação sem prescrição médica, devido as dificuldades em conseguir uma consulta pelo SUS – Sistema Único de Saúde. 49 Quantos tiveram alguma reação adversa ao medicamento: 40% não, 40% sim, 20% às vezes sentem. 40% 40% 40 30 20% 20 10 0 Não Sim Às vezes sentem Gráfico 10. Distribuição em % da ocorrência de reações adversas por parte dos clientes que se automedicam. Período de 1 a 31 de março de 2006. Segundo os entrevistados sentiram tremores depois da ingestão de medicamentos, intoxicação (corpo com manchas, falta de ar, diarréia, ânsia de vômitos). Segundo Weiderpass, Béria, Barros et.al (1998, p. 337): O consumo de medicamentos é um indicador indireto de qualidade dos serviços de saúde, assim como da propaganda dirigida a médicos e populações. Seu estudo pode ser utilizado também para identificar a necessidade de intervenções específicas com: esclarecimento à população quanto ao seu uso adequado; formação e educação continuada de profissionais da saúde para a prescrição racional; identificação de populações em risco de consumo crônico de medicamentos inadequados. Além disso, pode subsidiar a elaboração de políticas públicas para conter a venda e o uso de medicamentos desnecessários. Quando indagados sobre quem indica o uso de medicamento, 26% responderam que amigos, 26% familiares, 10% farmacêuticos, 38% balconistas. 50 38 26% 26% Balconistas Farmaceuticos Familiares 10% Amigos 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Gráfico 11. Distribuição em % por indicação de medicamentos. Período de 1 a 31 de março de 2006. Infelizmente, muitos medicamentos são usados sem prescrição médica e quem toma geralmente recorre a um balconista, familiares, pessoas mais velhas. Essa automedicação pode trazer sérios transtornos a saúde. A automedicação acontece no país de um modo geral, pois em pesquisa realizada em Vassouras Rio de Janeiro, ao serem questionados a respeito dos critérios utilizados para a escolha de tais medicamentos, 30 (25,86%) receberam indicação de parentes; 17 (14,7%) utilizaram receita antiga para adquirir o medicamento utilizado anteriormente para tratar o mesmo sintoma, 22 (19,0%) receberam indicação de balconistas em farmácias e drogarias da região,13 (11,2%) escolheram após terem visto a propaganda do medicamento, 5 (4,31%) receberam indicação do farmacêutico e 29 (25%) utilizaram por conta própria sem precisar o motivo exato da escolha do medicamento. 51 Alguém já alertou para os perigos da automedicação: 60% falaram que sim, 40% disseram que não. 60% 40% 60 40 20 0 Sim Não Gráfico 12. Distribuição em % dos que foram alertados sobre os perigos da automedicação. Período de 1 a 31 de março de 2006. Poucos estudos têm sido realizados no sentido de mostrar a população que a automedicação traz, muitas vezes, sérios transtornos a saúde humana. A automedicação tem sérias implicações, uma indicação malfeita ou o uso incorreto de um medicamento pode não dar o resultado esperado, bem como aumentar a resistência das bactérias aos antibióticos, levar ao desenvolvimento de alergia a determinados ingredientes da fórmula medicamentosa e, em conseqüências imprevisíveis. Além disso, se associado a determinados substâncias poderão prejudicar a saúde. Todos estes efeitos citados embasam a recomendação de que esta prática deveria ser combatida porque a pessoa pode escolher um medicamento ineficaz, retardar o reconhecimento de uma doença e assim agravá-la, utilizar uma dosagem insuficiente ou excessiva, possibilitar o surgimento de reações adversas graves e levar até a morte, portanto, sugerimos que jamais use remédio por indicação de amigos, familiares ou porque tenha lido alguma propaganda a respeito, nos jornais ou na televisão. Valer-se, sempre, da receita médica, passada por quem tem competência para tal. Perguntados sobre se os medicamentos tomados sem consulta médica têm conseguido curar os sintomas, 33% afirmaram que sim, 40% às vezes, 27% disseram que não. 52 40% 33% 40 27% 30 20 10 0 Não Sim Às vezes Gráfico 13. Distribuição em % dos medicamentos tomados sem consulta médica e se têm conseguido curar os problemas. Período de 1 a 31 de março de 2006. A automedicação é uma prática comum e possibilita agravos e mascaramento de doenças, interações medicamentosas e intoxicações, às vezes traz seqüelas que levam até a morte, porém existe a automedicação responsável que pode contribuir no sentido de coibir certos males. Essa prática de ingerir medicamentos por conta e risco próprio sem o acompanhamento de um profissional da Saúde, pode agravar os efeitos colaterais (indesejáveis) dos medicamentos. Pelo menos 50% das vendas dos medicamentos tradicionais do mercado brasileiro correspondem a automedicação, segundo conclusões do estudo "Configuração do Complexo Econômico da Saúde", realizado no ano passado pela Unicamp a pedido do Ministério da Saúde. De acordo com a Resolução 357/2001, do Conselho Federal de Farmácia (BRASIL, 2001), “a automedicação responsável seria a prática pela qual indivíduos tratam seus problemas de saúde com medicamentos aprovados e disponíveis para serem adquiridos sem prescrição, e que sejam seguros e efetivos quando utilizados como indicado”. Quanto a questão de sempre que tomam a medicação é porque está sentido algo, 73% afirmaram que sim e 27% comentaram que virou mania. 53 73% 80 60 27% 40 20 0 Sentindo Virou mania algo Gráfico 14. Distribuição em % dos entrevistados com relação à necessidade de usar medicação. Período de 1 a 31 de março de 2006. Mais grave ainda é quando se toma algum medicamento sem ter nenhum problema. O uso de medicamento, como já foi demonstrado na pesquisa, de forma exagerada causa sérios transtornos a saúde. O Brasil está inserido dentre os paises que mais consomem medicamentos. Com relação se indica medicamento a alguém: 73% afirmaram que sim, 27 comentaram que não. 73% 80 60 27% 40 20 0 Sim Não Gráfico 15. Distribuição em % dos entrevistados que medicam outras pessoas. Período de 1 a 31 de março de 2006. 54 A prática da automedicação é tão comum que as pessoas vão consultando os outros e passando medicamentos como se fosse algo normal. Zubioli (1992), Acredita que fatores, como a venda de medicamentos em estabelecimentos nãofarmacêuticos e o fato de leigos poderem ser donos de farmácias, propiciem um ambiente onde a automedicação é favorável e que a saída para este problema é torná-la o mais racional,para minimizar ocorrências de intoxicação e interações medicamentosas indesejáveis. Ao indagarmos se acha que tem risco a automedicação, a maioria acha que não 77% e somente 23% acha que sim. 77% 80 60 23% 40 20 0 Sim Não Gráfico 16. Distribuição em % dos entrevistados que acredita ter risco a automedicação. Período de 1 a 31 de março de 2006. Pior, ainda quando uma boa parcela da população acredita que a automedicação não traz nenhum problema. E pode ser que não traga nenhum transtorno se for feita de forma correta. A automedicação feita de forma correta pode trazer benefícios para a saúde. Segundo a OMS (1998), a automedicação responsável é entendida como parte das ações de auto-cuidado. A OMS (1998, p. 2-3) define auto-cuidado como: 55 O auto-cuidado é o que as pessoas fazem por si mesmas para estabelecer e manter a saúde, prevenir e lidar com a doença. É um conceito amplo, que abrange: higiene (geral e pessoa), nutrição (tipo e qualidade do alimento ingerido), estilo de vida (atividade física, lazer, etc); fatores ambientais (condições de vida, hábitos sociais, etc.); fatores sócio-econômicos (nível de renda, crenças culturais, etc.); automedicação. Para quem estava adquirindo o medicamento: 40% para si próprio, 30% para o esposo, 30% outros familiares. 40% 30% 40 30% 30 20 10 0 Si próprio Esposo Outros familiares Gráfico 17. Distribuição em % dos entrevistados que adquiriram medicamento para si ou outras pessoas. Período de 1 a 31 de março de 2006. Através do que foi observado pelas respostas dos entrevistados, a automedicação é algo que faz parte de toda a família. Isso é preocupante frente ao que vem ocorrendo na sociedade, onde muitas vezes, o medicamento prescristo pelo médico causa transtornos imagine o não prescrito. Sobre as doenças mais comuns que levam a automedicação: 60% cefaléia (dor de cabeça), 20% gripe e febre, 10% alergias, 10% outros. 56 60% 60 20% 10% 10% 50 40 30 20 10 0 Cefaléia Gripe e febre Alergias Outros Gráfico 18. Distribuição em % das doenças mais comuns que levam a automedicação. Período de 1 a 31 de março de 2006. As dores de cabeça batem recorde no que se refere ao uso de medicamentos. Constantemente as pessoas fazem uso de algum tipo de analgésico para combater esse mal. A análise dos medicamentos utilizados por automedicação indicou que os grupos de medicamentos mais utilizados são os antigripais, analgésicos, antiinflamatórios, os quais são utilizados para distúrbios considerados menores como dor de cabeça, gripe, constipação. 5.2 Discussões De acordo com o presente estudo a escolha de medicamentos é baseada principalmente na recomendação de pessoas leigas, amigos, balconistas, familiares. Grande parte dos medicamentos foram adquiridos para uso familiar, o que é compreensível do ponto de vista econômico, mas possibilita problemas tais como inadequação e incompletude dos tratamentos. Essa automedicação se dá principalmente devido a falta de uma política pública de saúde que atenda as necessidades básicas das pessoas, principalmente as de baixa renda. A má qualidade da escolha em termos do valor intrínseco dos medicamentos procurados, freqüência de associações medicamentosas e presença na lista de Medicamentos 57 Essenciais do governo ou da OMS, refletem plenamente o mercado farmacêutico brasileiro, caracterizado pela predominância de produtos desnecessários, intensamente propagandeados para o público em geral. Observa-se também o uso inadequado de medicamentos de valor intrínseco elevado, como por exemplo a alta freqüência do emprego de antibióticos no tratamento de tosses e viroses respiratórias. Quanto à predominância dos analgésicos entre os medicamentos mais procurados esse é um fato comum tanto na automedicação praticada no Brasil como em outros países. “O aspecto preocupante se correlaciona com a prevalência do uso da dipirona, medicamento cuja segurança tem sido bastante questionada” (IVANNISSEVICH, 1994). A livre compra de medicamentos, se por um lado demonstra o pouco caso ou desconhecimento em relação às normas regulamentares, por outro evidencia as dificuldades de acesso a uma atenção médica e farmacêutica adequadas. O fato de não ter sido detectada a procura por medicamentos consumidos com fins ilegais (certos anticolinérgicos, psicotrópicos, abortivos e esteróides anabolizantes) pode estar associado ao fato de que nessas farmácias exista seriedade e acompanhamento por parte dos farmacêuticos. Os presentes dados confirmam a importância do estudo da automedicação e apoiam a hipótese da ingênua e excessiva crença da sociedade atual no poder dos medicamentos, o que contribui para a crescente demanda de produtos farmacêuticos para qualquer tipo de transtorno, por mais banal, autolimitado que seja. Dessa forma, o medicamento foi incorporado à dinâmica da sociedade de consumo, e, portanto, está sujeito às mesmas tensões, interesses e dura competição de qualquer setor do mercado, afastando-se de sua finalidade precípua na prevenção, diagnóstico e tratamento das enfermidades. Tais resultados reforçam a necessidade de se informar a população sobre o uso adequado de medicamentos, além de medidas cabíveis que garantam a oferta de produtos necessários, eficazes, seguros e de preço acessível. 58 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES Os resultados encontrados apontam para um elevado nível de automedicação na população do bairro Pirajá em Juazeiro do Norte-CE . Mais da metade da população estudada tem feito uso de medicamento nos últimos 4 meses. A principal forma de acesso da população desse bairro aos medicamentos é a farmácia demonstrando que o serviço público não se encontra preparado para ofertar os medicamentos a alta demanda representada pela população carente que acaba tendo que recorrer aos serviços privados para adquirir os medicamentos que necessitam. As principais razões que levam a população a se automedicar são: a dificuldade de acesso ao hospital e a comodidade, seguido do fato da população já saber como usar o medicamento e por isso se automedicam, e por último apontam-se dificuldades econômicas, não gostam e não confiam nos médicos como motivos da automedicação. No estudo da relação do grau de escolaridade, não existe distinção, todos fazem uso da automedicação. Ao contrário do que se pode imaginar, não seriam os menos informados os maiores usuários de automedicação, já que há resultados que acusam maior consumo de medicamentos entre os que freqüentaram a escola por mais tempo, provavelmente por disporem de maior informação que os auxilia na escolha de medicamentos. Em relação ao tipo de medicamento consumido na amostra estudada, fazem uso, principalmente de antibióticos sendo o grupo farmacológico mais utilizado, sendo seguidos, na maioria, pelos AINES. Constatou-se que alguns dos entrevistados que costumam se automedicar sentiram algumas reações adversas como: ânsia de vômito, tremores, falta de ar, alergias, demonstrando que é preciso ter cuidado ao ingerir um medicamento sem a prescrição médica. Quanto às queixas que motivaram a automedicação, pode-se destacar a cefaléia, seguida pela febre e gripe, alergias. A maioria das pessoas têm enxaqueca fazem uso eventual de medicamentos sem prescrição médica. Estudos realizados em farmácias observaram alta prevalência de indicação de fármacos por balconistas.. No presente estudo, a procura pelo balconista foi significativa (38% das indicações) com achados semelhantes ratificando esses resultados 59 Em estudo com intervenções educativas, demonstraram a dificuldade de modificar os hábitos da população em relação aos medicamentos, enfatizando a necessidade de conhecer o valor simbólico e expectativas associadas ao medicamento. Mudanças no modo de utilizar medicamentos somente são viáveis quando se radicam em ações educativas prolongadas, uma vez que o desmonte e reestruturação da carga simbólica vinculada aos medicamentos exige tempo. O presente estudo detectou uma supervalorização da eficácia dos medicamentos pela população estudada, que não cogita uma terapêutica que não seja farmacológica. Constatou-se que o alto índice de automedicação observado encontra-se dentro da realidade brasileira e mundial. Dessa forma torna-se necessário à realização de uma campanha com a finalidade de orientar a população para uma automedicação responsável. Além é claro da intensificação de rigorosa fiscalização por parte da Agência de Nacional de Vigilância Sanitária e demais órgãos responsáveis e com isso diminuir o uso indiscriminado de medicamentos pela população Diante do estudo realizado, recomenda-se uma campanha educativa dirigida a população e que contemple as seguintes orientações: - medicamentos só devem ser usados sob orientação médica; - no momento da compra, é importante e necessário verificar o prazo de validade do medicamento, bem como se o número de série do lote do medicamento coincide com o número do lote impresso na embalagem; - verifique a aparência da embalagem e do produto, observando suas condições de conservação; - para melhor conservação e maior tempo de utilização do produto, siga atentamente as instruções constantes na bula; - todo e qualquer remédio deve ser mantido fora do alcance de crianças; - a automedicação prejudica a saúde; não tome remédios por conta própria; - dúvidas sobre o uso de medicamentos podem ser esclarecidas por um farmacêutico; - analgésicos, antiflamatórios e antigripais podem causar irritação na mucosa do estômago; por isso evite automedicar-se; - apenas o médico – apoiado numa série de informações para estabelecer um diagnóstico correto tem reais condições de avaliar a necessidade ou não de se usar um determinado medicamento; - a regra geral é não se automedicar. A saúde não se encontra nas farmácias, está nos cuidados diários de cada pessoa na busca de uma vida saudável; 60 - jamais use medicamentos indicados por um leigo; - o efeito dos remédios pode variar de pessoa para pessoa; - automedicar-se é muitas vezes gastar dinheiro duplamente: primeiro com o produto adquirido sem prescrição médica; depois com o medicamento receitado pelo médico. Os resultados do presente estudo sugerem que a automedicação no Brasil e no bairro Pirajá em Juazeiro do Norte-CE é pratica constante na população e que o farmacêutico deve se propor a orientar corretamente sobre o uso desses medicamentos realizando o acompanhamento farmacológico do paciente, para que os problemas provenientes da automedicação sem orientação sejam amenizados contribuindo para uma economia substancial de tempo e dinheiro por parte da população, além de desonerar o sistema público de saúde, que já se encontra bastante prejudicado no país. 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BESTANE, WJ.; MEIRA, A.R.; KRASUCKI, M.R.; AUN, R.A.; COELHO, C.S.; CHAZANAS, W; PERI, E. & SLAWKA, S. - Alguns aspectos da prescrição de medicação para o tratamento de gonorréia em farmácias de Santos (SP). Rev. Ass Méd. Brasil., 26:185, 1980. BOCK, L. e TARANTINO, M. Atração: o brasileiro exagera nos remédios, consumindo-os sem consultar o médico e colocando sua saúde em risco. Isto é.,v.1671, 2001. 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Ressalto que estou ciente da garantia dos clientes assegurados de Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que incluem os seguintes requisitos: 1. Receber esclarecimento a qualquer dúvida acerca da pesquisa e do caráter de minha participação; 2. Retirar meu consentimento a todo o momento da pesquisa sem que isso ocorra em penalidade de qualquer espécie; 3. Receber garantias de que não haverá divulgação de nomes ou qualquer outra informação que ponha em risco a minha privacidade e o meu anonimato; 4. Acessar as informações sobre os resultados do estudo. _________________________________ _____________________________ Coordenador da Pesquisa Entrevistado Janeiro - 2006 65 APÊNDICE B QUESTIONÁRIO APLICADO AOS CLIENTES DE UMA FARMÁCIA NO BAIRRO PIRAJÁ EM JUAZEIRO DO NORTE-CE I - Dados Pessoais Nome: ______________________________________________________ 1) Sexo: ________________ 2) Idade: _______________ 3) Grau de instrução: ______________________ 4) Renda familiar: ________________________ 5) Profissão: _____________________________ II – Dados sobre automedicação: 6) Você toma sempre medicamento? ( ) Sim ( ) Não ( ) Raramente 7) Que tipo de medicamento você toma? ____________________________________________ 8) Você costuma se automedicar? ( ) Sim ( ) Não ( ) Ás vezes 9) Por que você se automedica? _____________________________________________ 10) Já teve algum problema por se automedicar? ( ) Sim ( ) Não 66 11) Quem você consulta antes de tomar o medicamento? ( ) Amigos ( ) Familiares ( ) Farmacêutico ( ) Balconista ( ) Outros 12) Alguém já lhe alertou dos riscos que corre com a automedicação? ( ) Sim ( ) Não 13) Os medicamentos tomados sem consulta médica tem conseguido curar o seu problema? ( ) Sim ( ) Não ( ) Ás vezes 14) Sempre que toma algum medicamento é porque está sentindo algum problema ou já virou mania? ____________________________________ 15) Você medica alguém? ( ) Sim ( ) Não ( ) Ás vezes 16) Acha que tem algum risco a automedicação? ( ) Sim ( ) Não Citar: ____________________________________________________________ 17) Para quem é o medicamento que você está adquirindo? _________________________________________________________________ 18) Quais as doenças mais comuns que levam a automedicação? ( ) Cefaléia (dores de cabeça); ( ) Gripe e febre; ( ) Alergias, ( ) Outros 67 Prezada Cristiane Feijó, Solicito autorização junto a esta empresa para a realização de uma pesquisa sobre “Automedicação” em uma farmácia comunitária, no município de Juazeiro do Norte. A automedicação é uma pratica altamente prevalente observada no País e no mundo inteiro. Logo, deve-se estar atento à possibilidade de utilizar a automedicação como um instrumento para a promoção da saúde, desde que devidamente direcionada através de programas institucionais que visem a conferir maior grau de autonomia ao paciente frente à sua medicação. Pensando em tudo isso, resolveu-se trabalhar o referido tema como mais uma forma de passar informações sobre os medicamentos, principalmente os que são vendidos livremente. Esta pesquisa é pré-requisito para a obtenção do título de especialista em Assistência Farmacêutica pela Escola de Saúde Pública do Ceará. A pesquisa não irá interromper o fluxo norma da farmácia. As pessoas convidadas a participar do estudo serão informadas sobre os objetivos da pesquisa e se concordarem deverão assinar o termo de consentimento livre e esclarecido para que a entrevista possa ser iniciada. A população de estudo será composta pelos clientes com idade a partir de 15 anos que adquirirem medicamentos sem prescrição médica. A Orientadora da Pesquisa é a Dra. Maria das Graças Nascimento Silva – (88) 3571-1641. Agradeço a atenção __________________________________ Janieide Lopes Bezerra 68 ANEXO 69