“ÁRVORE GENEALÓGICA”: RECURSO TERAPÊUTICO PARA PESSOAS COM DISFUNÇÕES PERCEPTO-COGNITIVAS E/OU PSICO-MOTORAS. Gabriela Sousa Ribeiro Graduanda em Desenho Industrial (UFMA) [email protected] Raimundo Lopes Diniz, Dr. Departamento de Desenho e Tecnologia – Curso de Desenho Industrial(UFMA) [email protected] Recurso terapêutico, ergonomia, disfunções percepto-cognitivas Este trabalho visa relatar o desenvolvimento do projeto de um recurso terapêutico denominado Árvore Genealógica, destinado à população adulta e idosa com déficit percepto-cognitivo, dando-se ênfase aos aspectos relacionados à ergonomia. Na etapa conceitual foram aplicadas entrevistas abertas e realizou-se uma pesquisa de similares. Na etapa configuracional, fez-se um teste de usabilidade de um modelo tridimensional em escala natural, em situação real de uso. No geral, os testes mostraram que a proposta é eficiente e de uso amigável como um subsídio para o tratamento das pessoas que apresentam disfunções perceptocognitivas Therapeutic product, ergonomics, percepto-cognitive disfunctions This.paper shows the development of a therapeutic product named “family tree”, designed to the adult and old population with percepto-coginitive deficit, with emphasis the related to the ergonomic. In the conceptual step, it was applied interviews and it was made usability testes, a thidimensional model, in a natural scales, related with real situation use. The tests shows that the propose is efficient and friendly use, as a support to the people who shows percepto-cognitive disfunction. 1. INTRODUÇÃO No Brasil cerca de 14,5% da população é constituída de pessoas que possuem algum tipo de deficiência. São cerca de 24,5 milhões de pessoas que, têm a realização de suas atividades particulares ou sociais total ou parcialmente dificultada ou impedida (IBGE, 2000 apud FEIJÓ, 2003). E é neste contexto que se insere o papel do designer, criar produtos que possam melhorar a vida dos especiais, adaptá-los a sociedade, e interagir em seus tratamentos. Dentre os conhecimentos relativos à este contexto, encontra-se a ergonomia da reabilitação que, proporciona o bem estar físico e mental do deficiente, melhorando seu desempenho motor e sua postura, conseqüentemente, aumentando sua qualidade de vida e contribuindo para o não surgimento de problemas físicos, posturais e mentais no futuro, interagindo o deficiente no seu ambiente físico e de trabalho, respeitando suas limitações (NOWAK, 1999). Este artigo é um trabalho de pesquisa no âmbito da Ergonomia da Reabilitação, o que contribuirá para a melhoria das condições de vida de portadores de deficiências percepto-cognitivas, essencialmente adultos e idosos, para o desenvolvimento humano na sua vida familiar, no trabalho e no lazer. Demonstra-se o desenvolvimento de um recurso terapêutico denominado “Árvore Genealógica”, visto como subsidio para o tratamento dos déficits cognitivos das funções superiores (memória, atenção e concentração), memória recente e retrógrada, e funções perceptocognitivas de adultos e idosos. Procurou-se conceber o recurso levando em consideração princípios ergonômicos, tendo-se como referência o conhecimento das capacidades, habilidades e limites dos usuários alvo (portadores de deficiência perceptocognitiva). O desenvolvimento do projeto do referido produto seguiu com a etapa conceitual, quando foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre o usuário alvo, entrevistas abertas com terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas e pesquisas de similares, já na etapa configuracional, realizou-se um teste de usabilidade com um modelo tridimensional, em situação real de uso. 2. INTRODUÇÃO A TERAPIA OCUPACIONAL Segundo Finger (1986), Terapia Ocupacional é a arte e a ciência de orientar a participação do indivíduo em atividades selecionadas para restaurar; fortalecer e desenvolver a capacidade; facilitar a aprendizagem daquelas habilidades e funções essenciais para a adaptação e produtividade; diminuir ou corrigir patologias e promover e manter a saúde. O terapeuta ocupacional estuda a atividade humana e a utiliza como recurso terapêutico para prevenir e tratar dificuldades físicas e/ou psicossociais, visando a melhoria na qualidade de vida. voltado basicamente a fontes de dados demográficos tal como sensos. 2.1. Pessoa portadora de deficiência perceptocognitiva 3. MÉTODOS E TÉCNICAS Legalmente, o Decreto nº 3298/99 que regulamenta a Lei nº 7853/89, dispondo sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define essa deficiência, em seu art. 4º, IV, como sendo “o funcionamento intelectual inferior à média, com manifestações antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; utilização da comunidade; d) saúde e segurança; e) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho” (BRASIL. Decreto nº 3298/99). A deficiência física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, o sistema muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações físicas de grau e gravidade variáveis, segundo o(s) segmento(s) corporal(is) afetado(s) e o tipo de lesão ocorrida. Já a deficiência percepto-cognitiva são alterações ou complicações no aparelho sensóriomotor, melhor ainda, complicações caracterizadas por transtorno no aparelho fisiológico ou neuro-cortical (TEIXEIRA, 2002). 2.2. Recursos Terapêuticos Os recursos terapêuticos são instrumentos que envolvam a atividade humana em um processo dinâmico relacionado entre esta e a pessoa do paciente e a do terapeuta. Para isto o terapeuta ocupacional lançará mão, em diferentes situações, do uso específico de atividades expressivas, lúdicas, artesanais, da vida diária e de auto-manutenção, psicopedagógicas, profissionalizantes, entre outras, previamente analisadas e avaliadas, sob os aspectos anatomofisiológicos, cinesiológicos, psicológicos, sociais, culturais e econômicos (SIQUEIRA, 2001). O presente artigo tem por objetivo a construção de um recurso terapêutico – árvore genealógica – para auxiliar no tratamento das disfunções geradas em pessoas com déficit cognitivo relacionado à perda da memória. A proposta é oferecer a essas pessoas meios de interação com membros da sua árvore genealógica, processo este que pode ser dificultado pelos seus problemas neurológicos. De acordo com Smith & Mineau (2003), genealogia é o estudo da história estrutural familiar, O modelo projetual proposto baseou-se em Baxter (1998), composto das seguintes etapas: 3.1. Conceito do produto Produzir princípios de projeto para o produto como um todo, trata da definição do benefício básico e das necessidades do consumidor e compreensão dos produtos concorrentes. O conceito do produto “Árvore Genealógica” foi definido através de observações assistemáticas em 04 clínicas e institutos de reabilitação em São Luís/MA, para o entendimento das necessidades do consumidor em potencial (pacientes com problemas percepto-cognitivo), e aplicação de questionários com quesitos abertos e fechados por meio de um escala de avaliação, onde o grau de importância - 0 (ao menos importante), 5 (à média) e 10 (ao mais importante) - de itens estruturados para o design do referido produto foi avaliado), com resultado através de média aritmética. Foram aplicados questionários a 9 terapeutas ocupacionais e a 4 fisioterapeutas, que trabalham em clínicas e instituições de reabilitação (Clínica de Saúde Intensiva, FisioClin – Clínica de Fisioterapia, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE e na Clínica ÍRIS – Instituto de Reabilitação Integrada de São Luís). Foi realizada, ainda, uma pesquisa de similares em lojas de departamento, lojas especializadas em brinquedos, supermercados, sites de brinquedos e de terapia ocupacional, além de pesquisa de campo à Clinicaescola da APAE. Os resultados das observações assistemáticas, da aplicação dos questionários e da pesquisa de similares serviram para compor a estrutura dos requisitos projetuais, para só então serem geradas idéias, alternativas para a necessidade dos usuários alvo. A seguir, escolheu-se uma alternativa, levando em consideração os requisitos projetuais elaborados, para ser desenvolvida na etapa configuracional; 3.2. Configuração do projeto do produto Apresenta os princípios de projeto para os componentes, configuração e detalhamento dos componentes (dimensionamento, detalhamento técnico, representação bi e tridimensional, processos e materiais para a fabricação); 3.3.Validação do produto Realização de testes de usabilidade. A proposta final do projeto “Árvore Genealógica” foi testada por meio de um modelo, confeccionado em compensado multilaminado de colagem fenólica e FormPlast da Fórmica ®, em situação real de uso com 8 pacientes apresentando déficit cognitivo causado por patologias (1 homem e 1 mulher que sofriam do Mal de Alzheimer; 1 mulher que sofria de demência (complicações neurológicas), 1 mulher vítima de Acidente Vascular Encefálico (AVE); 2 homens e 1 mulher vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC); 1 homem com déficit cognitivo das funções superiores (memória, atenção, concentração) em decorrência de depressão). Ao final do uso do modelo, realizaram-se entrevistas abertas com os pacientes. Para o teste, aplicou-se, ainda, um questionário fechado, contendo quesitos referentes ao uso do recurso terapêutico proposto, a 3 terapeutas ocupacionais e 2 pedagogas. O questionário apresentou uma escala de avaliação que variou de péssimo a excelente sobre os itens pertinentes aos requisitos projetuais de uso. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Etapa conceitual Observações assistemáticas Todos os profissionais de terapia ocupacional e fisioterapia consultados usam recursos terapêutico no tratamento de seus pacientes. O tempo de tratamento depende do grau da lesão, além da resposta que cada pessoa tem ao tratamento. Verificou-se, ainda, que, em sua maioria, os recursos utilizados são produzidos em madeira e, em menor número, em polímeros. E todos agregam símbolos e caracteres infantis em suas configurações, constrangendo a população adulta e idosa durante o uso dos mesmos. Outro problema verificado foi com relação ao peso, já que as madeiras utilizadas (por exemplo, tatajuba) na confecção dos mesmos são muito pesadas, dificultando o trabalho. Figura 1 – Dificuldades encontradas no uso dos recursos terapêuticos disponíveis no mercado De acordo com a figura 1, os itens de maior nível de dificuldade percebido entre os respondentes são “materiais de qualidade e preços acessíveis” e “pouca variedade de estímulos cognitivos”. Figura 2 – Possibilidade do recurso ser fixado a mesa. Observa-se na figura 2, que os profissionais entrevistados preferem que o recurso possa ser fixo a mesa usada para realizar as atividades do tratamento com o paciente. Sendo que o sistema de fixação seria o E.V.A. (etileno-acetato de vinila) ou por parafusos (figura 3). Figura 3 – Formas de fixar o recurso à mesa Questionários Os resultados relacionados à preferência dos profissionais (respondentes) quanto aos itens necessários para compor o projeto são apresentados nas figuras 1-5. Figura 4 – Formas para guardar as peças do recurso terapêutico Para os respondentes tanto guardar as peças dentro do recurso quanto montá-las no mesmo seriam os meios ideais (figura 4). Os resultados relacionados à preferência dos profissionais (respondentes) quanto aos itens considerados mais importantes para o projeto do recurso terapêutico estão descritos na figura 5. 0: pouco importante 10: muito importantee Figura 5 – Itens e sub-itens considerados mais importantes pelos respondentes A figura 5 apresenta somente os resultados com o maior nível de importância em relação à média e aos demais itens e sub-itens, sendo que todos os itens e sub-itens contidos no questionário apresentaram valores acima da média. Podem-se destacar os itens “educação” (sub-item: “trazer informações que fazem parte da vida do paciente”) e “segurança” (sub-item: materiais atóxicos). O item segurança apresentava também como sub-itens: peças que não soltem, fixação do objeto em superfície plana, peças grandes e peças sem cantos pontiagudos. O item estética apresentou os sub-itens: cor, beleza, forma, lúdico. O item custo e aquisição trouxe os sub-itens: preço acessível e encontrado em qualquer loja. No item resistência, os sub-itens eram: material difícil de quebrar, não perde as cores e resistência a choques. O item educação apresenta também os sub-itens: trazer informações sobre cores, formas, sobre língua portuguesa (gramática) e matemática. O item peso: leve, peso médio, pesado. O item praticidade: empunhadura para transporte do recurso, acondicionamento, embalagem, manuseio, estocagem, economia de espaço e permitir empilhamento. Pesquisas de similares De maneira geral, os similares encontrados são de madeira ou polímero. As funções comumente mais exploradas são os mecanismos de encaixes associados a cores e/ou formas. Também foram encontrados, em menor número, recursos que exploram a passagem de fios através de orifícios, força, equilíbrio, esquema corporal ou movimentação de apenas um componente do produto. Ressalta-se, porém, que todos os similares encontrados são direcionados às crianças e (pré)adolescente, uma vez que traz motivos infantis em suas configurações. O custo varia de produto para produto, podendo ser encontrado à R$20,00 até R$170,00 (figura 6). 1 2 Figura 6 – Exemplo de recursos terapêuticos encontrados no mercado (1. Em madeira, explorando cores e mecanismos de encaixe; 2. em polímeros, explorando mecanismos de encaixes, formas e cores) Requisitos do projeto Adaptados de acordo com a classificação e critérios estabelecidos por RODRIGUEZ (sem data). -Requisitos de uso: Praticidade (funcionalidade na relação produto – usuário): facilitar o transporte, através de empunhadura, economizar espaço, guardando peças dentro do produto, permitindo acondicionamento de outros produtos abaixo ou acima do mesmo; Segurança (não conter riscos ao usuário): produzido com materiais atóxicos, peças grandes e que não se soltam, além de não possuírem cantos vivos, pontiagudos; Manutenção (os cuidados que o usuário deverá ter com o produto): higienização poderá ser feita por produtos abrasivos sem perda de cores; Reparação (possibilidade do usuário obter reparos compatíveis no mercado, corrigindo anomalias sofridas pelo produto): assistência técnica eficiente, produtos em madeira permitem substituição de peças; Manipulação (a relação adequada do produto – usuário, no que diz respeito a biomecânica): refere-se a preensão (manejo) de componentes, uso da força e precisão de movimentos; Antropometria (adequada relação dimensional entre o produto e o usuário): dimensionamento adequado a maioria da população; Fisico-ambiental (ótima adequação entre o produto e usuário, quanto aos limites de ruído, temperatura, iluminação, fadiga, peso, vibração, proteções, etc, aceitos pelo usuário, sem detrimento de sua saúde); Percepção (adequada compreensão do produto ou de seus componentes): não causar confusão visual durante o uso; Transporte (facilidade de mudança de lugar de um produto, de um local para outro): empunhadura para transporte, peso suportável; -Requisitos de função: Mecanismos (princípios que darão funcionalidade ao produto): encaixes e formas; Confiabilidade (confiança manifestada pelo usuário no funcionamento de um produto); Versatilidade (possibilidade de que o produto ou componente do produto possa desempenhar distintas funções): permitir uso de fotos, figuras, palavras, etc; Resistência (esforços que o produto deverá suportar): material difícil de quebrar, que não perca as cores e seja resistente a choques; Acabamento (técnicas específicas para proporcionar uma aparência exterior final a um produto, seus componentes ou suas partes): ser revestido com material de qualidade, tratar a superfície de acabamento, não possuir cantos vivos; -Requisitos estruturais: Número de componentes (a quantidade de componentes, partes e elementos de que constará o produto): peças encaixáveis, tabuleiro, gaveta; União (o sistema de integração que os distintos componentes, partes e elementos de um produto empregarão, para constituírem-se em unidades coerentes): sistema de encaixe (peças/tabuleiro, gaveta, fotos); Estruturabilidade (as condições de funcionalidade dos distintos componentes, partes e elementos que formam um todo). -Requisitos formais: Estilo (aparência do produto manifestada pelo tratamento que foi dado às suas características formais): formas geométricas, lúdico, cores; Unidade (a qualidade na forma de um produto, fatores: simplicidade na forma; relação entre as partes componentes (proporção); repetição dos elementos); Interesse (o uso dos elementos formais de tal maneira que atraiam e mantenham a atenção visual dos usuários, o que exige imprimir no projeto ênfase, contraste e ritmo): cores e fotos dos familiares; Equilíbrio e superfície (estabilidade visual que, pela utilização de elementos visuais, proporciona o produto projetado (simetria): cores primárias e linhas associativas. Geração de alternativas As propostas foram geradas levando em consideração as características desejáveis nos requisitos do projeto (figura 7, números 1, 2 e 3). Para escolha da alternativa, levou-se em consideração a proposta que mais se adequou aos critérios tidos como de maior importância, de acordo com os profissionais pesquisados (figura 7, número 2). Principalmente no que diz respeito ao sub-item “informações que façam parte da vida do paciente”, que obteve a maior média geral pesquisada. 1 2 Figura 7 – Algumas propostas de recursos terapêuticos 4.2. Etapa Configuracional Dimensionamento As peças do recurso, num total de sete, possuem altura total de 13 cm. As “cabeças” das peças possuem formato retangular de 8,0 cm x 6,0 cm, possuindo os cantos arredondados de raio 0.5 cm, apenas para evitar cantos vivos, que poderiam provocar ferimentos, sua profundidade está dimensionada em 2,0 cm. As “pernas” das peças medem 5,5 cm, com profundidade 2,0 cm. As bases das peças são todas em formatos distintos, em sua maioria formatos geométricos, o que dificultou o arredondamento de algumas peças, pois descaracterizaria a geometria das formas. São elas nos formatos: circulo, quadrado, retângulo, triângulo, losângulo, retângulo com os cantos arredondados e um outro retângulo com uma secção triangular (como uma “bandeirinha”). O peso de cada peça é de aproximadamente 100g. Desta forma, o esforço do manuseio das peças é mínimo, não causando constrangimento biomecânico aos usuários. As peças do recurso terapêutico são definidas como de manejo fino e de formato geométrico. De acordo com Iida (1990), manejo fino é aquele executado pelas pontas dos dedos, fornecendo grande precisão e velocidade dos movimentos, com pouca força transmitida. Este tipo de manejo é indicado para as tarefas mais delicadas que exigem precisão. O formato geométrico se assemelha a uma figura regular, proporcionando uma melhor superfície de contato com as mãos. Como vantagem, permite maiores variações de pega e não sofre tanto as conseqüências das variações individuais das medidas antropométricas. No dimensionamento das peças do recurso terapêutico proposto, usaram-se como referência as tabelas antropométricas de Dias (1985) do Percentil 95 Homens (P95H) das larguras das palmas das mãos masculinas americanas pesquisadas com 9,6cm, as medidas entre o dedo polegar e o indicador, numa pega, 14,5 cm. Como referência usou-se, também, a tabela de Paschoarelli & Coury (2000) (variáveis: comprimento dos dedos polegar (5,8cm), indicador (7,9cm), médio (9cm), anular (8cm), mínimo (6,3cm) e largura dos dedos polegar (2,6cm) e indicador (2,3cm) do P95H. Cushman et al. (1983) afirmam que o ideal é o comprimento de 13 cm (no mínimo 10 cm) e diâmetro de 4 cm para pega grosseira, já para operações de precisão o ideal é entre 8 cm e 16 cm. Segundo Iida (1990), P95H das larguras das palmas das mãos femininas brasileiras pesquisadas medem 8,5 cm, enquanto as das mãos masculinas medem 9,3 cm. O tabuleiro possui formato similar a um triângulo, concebido em analogia a um funil (em vista frontal), com intuito de mostrar aos pacientes de onde vieram, quantas pessoas foram necessárias para sua existência. Suas dimensões foram pensadas, então, apenas de acordo com o tamanho e disposição das peças de encaixe, sem causar confusão visual. Este possui altura total de 8,7 cm, comprimento variável, sendo que o maior é 26 cm. Suas dimensões foram definidas de acordo com o espaço ocupado pelas peças encaixáveis ao tabuleiro, sem que suas disposições ficassem confusas para os pacientes. É em sua parte superior que as peças serão encaixadas em orifícios nele contidos, de acordo com a forma, cor e foto da pessoa colocada em cada peça (Figura 10). Esta parte do produto possui, também, uma gaveta para guardar as peças do produto enquanto as mesmas não estiverem sendo utilizadas. Além de possuir uma alça, servindo de empunhadura para facilitar o transporte do produto. Cores Segundo Gomes Filho (2003), a cor é a parte simples mais emotiva do processo visual. Ela tem uma grande força e seu uso é vital para expressar e reforçar a informação visual. As cores amarelo, verde e vermelho, foram escolhidas por se tratarem de cores primárias, fortes e quentes que, segundo Terapeutas Ocupacionais, são mais facilmente percebidas por pacientes com algum tipo de déficit cognitivo, permitindo ao paciente a percepção e associação de pessoas que fazem parte de uma mesma família, mesmas descendências. O fato também é explicado pelo que os estudiosos da área chamam de trilhas associativas, que é justamente a associação feita pela similaridade de cores. Por exemplo, os componentes familiares contidos num espaço que apresenta a mesma cor são da mesma linhagem. Segundo Finger (1986) as cores frias tem a capacidade de diminuir a atividade psicológica interna do paciente e a temperatura do ambiente. O autor relata o que representa cada uma das cores citadas, de acordo com a pirâmide de Pfister: - Amarelo: indica extroversão, vivacidade, denota dinamismo frio e lúcido indicando a presença de aspirações precisas e de tendências à intolerância. É pouco escolhido por neuróticos e esquizofrênicos; Verde: indica sociabilidade, sensibilidade e capacidade de contato. No sentido amplo relaciona-se com o equilíbrio da afetividade; - Vermelho: representa tendências instintivas. A escolha desta cor sugere reações emocionais fortes, rápidas e bruscas, temperamento facilmente excitável e comportamento infantil destituído de autocrítica. Representação bi e tridimensional A representação bidimensional foi proposta para melhor visualização da escolha das cores, podendo-se perceber, assim, que o recurso proposta apresenta harmonia visual. Fez-se necessária a construção do modelo tridimensional para realização dos testes de usabilidade em situação real de uso. Figura 8 – Representação bidimensional (rendering) e representação tridimensional (modelo). Processos e materiais de fabricação Os materiais e o processo de fabricação do recurso terapêutico proposto ainda não foram definidos. Inicialmente, confeccionou-se um modelo em compensado, laminado de fórmica® e E.V.A. para os testes de usabilidade. Porém, por meio dos requisitos projetuais, o compensado tem baixo custo, a fórmica é higienizável sem peder as cores e o E.V.A. fornece atrito suficiente para um sistema de fixação. 4.3. Validação do produto Entrevistas Os pacientes foram entrevistados quanto os graus de satisfação em relação ao uso do produto, sendo unânimes em afirmar que o recurso corresponde às expectativas, sendo seu uso prazeroso. Questionários No geral, os resultados apontaram que tanto os profissionais (terapeutas e pedagogos) quanto os pacientes percebem que o recurso terapêutico proposto corresponde aos itens propostos no teste de usabilidade, sendo que para os profissionais, os itens: custo, estética e gaveta foram os de maior aceitação, enquanto para os pacientes os itens foram: peso, custo, segurança e higienização (figura 9). Os terapeutas destacaram que o recurso é classificado como “excelente” por permitir ao terapeuta várias formas de uso, caso não seja possível trabalhar com fotos, podese trabalhar com associações, memória, palavras, entre outras alternativas. 1 2 Figura 9 – Percepção dos profissionais (1) e dos pacientes (2) quanto ao uso do modelo. Os testes de uso do modelo em situação real mostraram que a proposta do recurso terapêutico atendeu aos requisitos projetuais, fazendo com que os pacientes interagissem de maneira satisfatória ao tratamento requerido pelos profissionais. classificado como “muito bom” por todos os profissionais pesquisados. Na oportunidade, esclareceram, também, que para o produto ser classificado como “excelente” faz-se necessário apenas que o dimensionamento das bases (as formas geométricas) das peças encaixáveis ao tabuleiro sejam dimensionadas em tamanhos diferentes, por exemplo, as bases das peças verdes sejam menores que as dimensões atuais, as bases das peças vermelhas sejam maiores que as dimensões atuais e a base da peça amarela permaneça como está. Ficando, assim, os três grupos de cores com dimensionamentos distintos, facilitando o uso dos pacientes com maior grau de deficiência. É válido relatar, ainda, que segundo os profissionais, este recurso tem a capacidade de trabalhar crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, não importando a etiologia, adultos com déficit cognitivo das funções superiores (memória, atenção, concentração), clientes vítimas de AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou AVE (Acidente Vascular Encefálico) e idosos com tratamento voltado para estimulação de memória recente e retrograda. 6. AGRADECIMENTOS Aos profissionais de Terapia Ocupacional e Fisioterapia de diversas clínicas e institutos de reabilitação da cidade de São Luís, MA, que tanto contribuíram para o sucesso deste produto. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Figura 10 – Teste de usabilidade em situação real de uso. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se afirmar que o produto proposto é totalmente inovador, não foi encontrado nada parecido no mercado. Possibilita o trabalho com pessoas adultas sem constrangê-las com o uso de motivos infantis, comumente encontrado na maioria dos produtos do mercado, além de trabalhar a questão familiar, possibilidade indisponível em outros recursos. Dos resultados dos testes de usabilidade, conclui-se que o resultado atende a todas as necessidades , sendo BAXTER, M. Projeto de Produto: Guia Prático para o Design de Novos Produtos. São Paulo: Ed. Edgard Blücher Ltda, 1998. BRASIL. Decreto nº 3298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/decreto/D3289.htm. Acesso em 01 fev. 2004. CUSHMAN et al. Hand Tool Selection and Design. Equipment Design. In: Rodgers, S., Eggleton, E. Ergonomic Design for People atWork. New York: Van Nostrand Reinhold. 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