“árvore genealógica”: recurso terapêutico para pessoas com

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“ÁRVORE GENEALÓGICA”: RECURSO TERAPÊUTICO PARA PESSOAS COM
DISFUNÇÕES PERCEPTO-COGNITIVAS E/OU PSICO-MOTORAS.
Gabriela Sousa Ribeiro
Graduanda em Desenho Industrial (UFMA)
[email protected]
Raimundo Lopes Diniz, Dr.
Departamento de Desenho e Tecnologia – Curso de Desenho Industrial(UFMA)
[email protected]
Recurso terapêutico, ergonomia, disfunções percepto-cognitivas
Este trabalho visa relatar o desenvolvimento do projeto de um recurso terapêutico denominado Árvore Genealógica, destinado
à população adulta e idosa com déficit percepto-cognitivo, dando-se ênfase aos aspectos relacionados à ergonomia. Na etapa
conceitual foram aplicadas entrevistas abertas e realizou-se uma pesquisa de similares. Na etapa configuracional, fez-se um
teste de usabilidade de um modelo tridimensional em escala natural, em situação real de uso. No geral, os testes mostraram que
a proposta é eficiente e de uso amigável como um subsídio para o tratamento das pessoas que apresentam disfunções perceptocognitivas
Therapeutic product, ergonomics, percepto-cognitive disfunctions
This.paper shows the development of a therapeutic product named “family tree”, designed to the adult and old population with
percepto-coginitive deficit, with emphasis the related to the ergonomic. In the conceptual step, it was applied interviews and it
was made usability testes, a thidimensional model, in a natural scales, related with real situation use. The tests shows that the
propose is efficient and friendly use, as a support to the people who shows percepto-cognitive disfunction.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil cerca de 14,5% da população é constituída
de pessoas que possuem algum tipo de deficiência. São
cerca de 24,5 milhões de pessoas que, têm a realização
de suas atividades particulares ou sociais total ou
parcialmente dificultada ou impedida (IBGE, 2000
apud FEIJÓ, 2003). E é neste contexto que se insere o
papel do designer, criar produtos que possam melhorar
a vida dos especiais, adaptá-los a sociedade, e interagir
em seus tratamentos. Dentre os conhecimentos
relativos à este contexto, encontra-se a ergonomia da
reabilitação que, proporciona o bem estar físico e
mental do deficiente, melhorando seu desempenho
motor e sua postura, conseqüentemente, aumentando
sua qualidade de vida e contribuindo para o não
surgimento de problemas físicos, posturais e mentais
no futuro, interagindo o deficiente no seu ambiente
físico e de trabalho, respeitando suas limitações
(NOWAK, 1999).
Este artigo é um trabalho de pesquisa no âmbito da
Ergonomia da Reabilitação, o que contribuirá para a
melhoria das condições de vida de portadores de
deficiências percepto-cognitivas, essencialmente
adultos e idosos, para o desenvolvimento humano na
sua vida familiar, no trabalho e no lazer. Demonstra-se
o desenvolvimento de um recurso terapêutico
denominado “Árvore Genealógica”, visto como
subsidio para o tratamento dos déficits cognitivos das
funções superiores (memória, atenção e concentração),
memória recente e retrógrada, e funções perceptocognitivas de adultos e idosos. Procurou-se conceber o
recurso levando em consideração princípios
ergonômicos, tendo-se como referência o
conhecimento das capacidades, habilidades e limites
dos usuários alvo (portadores de deficiência perceptocognitiva). O desenvolvimento do projeto do referido
produto seguiu com a etapa conceitual, quando foram
realizadas pesquisas bibliográficas sobre o usuário
alvo, entrevistas abertas com terapeutas ocupacionais e
fisioterapeutas e pesquisas de similares, já na etapa
configuracional, realizou-se um teste de usabilidade
com um modelo tridimensional, em situação real de
uso.
2. INTRODUÇÃO A TERAPIA OCUPACIONAL
Segundo Finger (1986), Terapia Ocupacional é a arte e
a ciência de orientar a participação do indivíduo em
atividades selecionadas para restaurar; fortalecer e
desenvolver a capacidade; facilitar a aprendizagem
daquelas habilidades e funções essenciais para a
adaptação e produtividade; diminuir ou corrigir
patologias e promover e manter a saúde. O terapeuta
ocupacional estuda a atividade humana e a utiliza como
recurso terapêutico para prevenir e tratar dificuldades
físicas e/ou psicossociais, visando a melhoria na
qualidade de vida.
voltado basicamente a fontes de dados demográficos tal
como sensos.
2.1. Pessoa portadora de deficiência perceptocognitiva
3. MÉTODOS E TÉCNICAS
Legalmente, o Decreto nº 3298/99 que regulamenta a
Lei nº 7853/89, dispondo sobre a Política Nacional
para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência,
define essa deficiência, em seu art. 4º, IV, como sendo
“o funcionamento intelectual inferior à média, com
manifestações antes dos dezoito anos e limitações
associadas a duas ou mais áreas de habilidades
adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado
pessoal; c) habilidades sociais; utilização da
comunidade; d) saúde e segurança; e) habilidades
acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho” (BRASIL. Decreto
nº 3298/99). A deficiência física refere-se ao
comprometimento do aparelho locomotor que
compreende o sistema ósteo-articular, o sistema
muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões
que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou
em conjunto, podem produzir quadros de limitações
físicas de grau e gravidade variáveis, segundo o(s)
segmento(s) corporal(is) afetado(s) e o tipo de lesão
ocorrida. Já a deficiência percepto-cognitiva são
alterações ou complicações no aparelho sensóriomotor, melhor ainda, complicações caracterizadas por
transtorno no aparelho fisiológico ou neuro-cortical
(TEIXEIRA, 2002).
2.2. Recursos Terapêuticos
Os recursos terapêuticos são instrumentos que
envolvam a atividade humana em um processo
dinâmico relacionado entre esta e a pessoa do paciente
e a do terapeuta. Para isto o terapeuta ocupacional
lançará mão, em diferentes situações, do uso específico
de atividades expressivas, lúdicas, artesanais, da vida
diária e de auto-manutenção, psicopedagógicas,
profissionalizantes, entre outras, previamente
analisadas e avaliadas, sob os aspectos anatomofisiológicos, cinesiológicos, psicológicos, sociais,
culturais e econômicos (SIQUEIRA, 2001).
O presente artigo tem por objetivo a construção de um
recurso terapêutico – árvore genealógica – para auxiliar
no tratamento das disfunções geradas em pessoas com
déficit cognitivo relacionado à perda da memória. A
proposta é oferecer a essas pessoas meios de interação
com membros da sua árvore genealógica, processo este
que pode ser dificultado pelos seus problemas
neurológicos. De acordo com Smith & Mineau (2003),
genealogia é o estudo da história estrutural familiar,
O modelo projetual proposto baseou-se em Baxter
(1998), composto das seguintes etapas:
3.1. Conceito do produto
Produzir princípios de projeto para o produto como um
todo, trata da definição do benefício básico e das
necessidades do consumidor e compreensão dos
produtos concorrentes. O conceito do produto “Árvore
Genealógica” foi definido através de observações
assistemáticas em 04 clínicas e institutos de
reabilitação em São Luís/MA, para o entendimento das
necessidades do consumidor em potencial (pacientes
com problemas percepto-cognitivo), e aplicação de
questionários com quesitos abertos e fechados por meio
de um escala de avaliação, onde o grau de importância
- 0 (ao menos importante), 5 (à média) e 10 (ao mais
importante) - de itens estruturados para o design do
referido produto foi avaliado), com resultado através de
média aritmética. Foram aplicados questionários a 9
terapeutas ocupacionais e a 4 fisioterapeutas, que
trabalham em clínicas e instituições de reabilitação
(Clínica de Saúde Intensiva, FisioClin – Clínica de
Fisioterapia, Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais – APAE e na Clínica ÍRIS – Instituto de
Reabilitação Integrada de São Luís). Foi realizada,
ainda, uma pesquisa de similares em lojas de
departamento, lojas especializadas em brinquedos,
supermercados, sites de brinquedos e de terapia
ocupacional, além de pesquisa de campo à Clinicaescola da APAE. Os resultados das observações
assistemáticas, da aplicação dos questionários e da
pesquisa de similares serviram para compor a estrutura
dos requisitos projetuais, para só então serem geradas
idéias, alternativas para a necessidade dos usuários
alvo. A seguir, escolheu-se uma alternativa, levando
em consideração os requisitos projetuais elaborados,
para ser desenvolvida na etapa configuracional;
3.2. Configuração do projeto do produto
Apresenta os princípios de projeto para os
componentes, configuração e detalhamento dos
componentes (dimensionamento, detalhamento técnico,
representação bi e tridimensional, processos e materiais
para a fabricação);
3.3.Validação do produto
Realização de testes de usabilidade. A proposta final do
projeto “Árvore Genealógica” foi testada por meio de
um modelo, confeccionado em compensado
multilaminado de colagem fenólica e FormPlast da
Fórmica ®, em situação real de uso com 8 pacientes
apresentando déficit cognitivo causado por patologias
(1 homem e 1 mulher que sofriam do Mal de
Alzheimer; 1 mulher que sofria de demência
(complicações neurológicas), 1 mulher vítima de
Acidente Vascular Encefálico (AVE); 2 homens e 1
mulher vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC);
1 homem com déficit cognitivo das funções superiores
(memória, atenção, concentração) em decorrência de
depressão). Ao final do uso do modelo, realizaram-se
entrevistas abertas com os pacientes. Para o teste,
aplicou-se, ainda, um questionário fechado, contendo
quesitos referentes ao uso do recurso terapêutico
proposto, a 3 terapeutas ocupacionais e 2 pedagogas. O
questionário apresentou uma escala de avaliação que
variou de péssimo a excelente sobre os itens
pertinentes aos requisitos projetuais de uso.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Etapa conceitual
Observações assistemáticas
Todos os profissionais de terapia ocupacional e
fisioterapia consultados usam recursos terapêutico no
tratamento de seus pacientes. O tempo de tratamento
depende do grau da lesão, além da resposta que cada
pessoa tem ao tratamento. Verificou-se, ainda, que, em
sua maioria, os recursos utilizados são produzidos em
madeira e, em menor número, em polímeros. E todos
agregam símbolos e caracteres infantis em suas
configurações, constrangendo a população adulta e
idosa durante o uso dos mesmos. Outro problema
verificado foi com relação ao peso, já que as madeiras
utilizadas (por exemplo, tatajuba) na confecção dos
mesmos são muito pesadas, dificultando o trabalho.
Figura 1 – Dificuldades encontradas no uso dos
recursos terapêuticos disponíveis no mercado
De acordo com a figura 1, os itens de maior nível de
dificuldade percebido entre os respondentes são
“materiais de qualidade e preços acessíveis” e “pouca
variedade de estímulos cognitivos”.
Figura 2 – Possibilidade do recurso ser fixado a mesa.
Observa-se na figura 2, que os profissionais
entrevistados preferem que o recurso possa ser fixo a
mesa usada para realizar as atividades do tratamento
com o paciente. Sendo que o sistema de fixação seria o
E.V.A. (etileno-acetato de vinila) ou por parafusos
(figura 3).
Figura 3 – Formas de fixar o recurso à mesa
Questionários
Os resultados relacionados à preferência dos
profissionais (respondentes) quanto aos itens
necessários para compor o projeto são apresentados nas
figuras 1-5.
Figura 4 – Formas para guardar as peças do recurso
terapêutico
Para os respondentes tanto guardar as peças dentro do
recurso quanto montá-las no mesmo seriam os meios
ideais (figura 4).
Os resultados relacionados à preferência dos
profissionais (respondentes) quanto aos itens
considerados mais importantes para o projeto do
recurso terapêutico estão descritos na figura 5.
0: pouco importante
10: muito importantee
Figura 5 – Itens e sub-itens considerados mais
importantes pelos respondentes
A figura 5 apresenta somente os resultados com o
maior nível de importância em relação à média e aos
demais itens e sub-itens, sendo que todos os itens e
sub-itens contidos no questionário apresentaram
valores acima da média. Podem-se destacar os itens
“educação” (sub-item: “trazer informações que fazem
parte da vida do paciente”) e “segurança” (sub-item:
materiais atóxicos). O item segurança apresentava
também como sub-itens: peças que não soltem, fixação
do objeto em superfície plana, peças grandes e peças
sem cantos pontiagudos. O item estética apresentou os
sub-itens: cor, beleza, forma, lúdico. O item custo e
aquisição trouxe os sub-itens: preço acessível e
encontrado em qualquer loja. No item resistência, os
sub-itens eram: material difícil de quebrar, não perde as
cores e resistência a choques. O item educação
apresenta também os sub-itens: trazer informações
sobre cores, formas, sobre língua portuguesa
(gramática) e matemática. O item peso: leve, peso
médio, pesado. O item praticidade: empunhadura para
transporte do recurso, acondicionamento, embalagem,
manuseio, estocagem, economia de espaço e permitir
empilhamento.
Pesquisas de similares
De maneira geral, os similares encontrados são de
madeira ou polímero. As funções comumente mais
exploradas são os mecanismos de encaixes associados
a cores e/ou formas. Também foram encontrados, em
menor número, recursos que exploram a passagem de
fios através de orifícios, força, equilíbrio, esquema
corporal ou movimentação de apenas um componente
do produto. Ressalta-se, porém, que todos os similares
encontrados são direcionados às crianças e
(pré)adolescente, uma vez que traz motivos infantis em
suas configurações. O custo varia de produto para
produto, podendo ser encontrado à R$20,00 até
R$170,00 (figura 6).
1
2
Figura 6 – Exemplo de recursos terapêuticos
encontrados no mercado (1. Em madeira, explorando
cores e mecanismos de encaixe; 2. em polímeros,
explorando mecanismos de encaixes, formas e cores)
Requisitos do projeto
Adaptados de acordo com a classificação e critérios
estabelecidos por RODRIGUEZ (sem data).
-Requisitos de uso:
Praticidade (funcionalidade na relação produto –
usuário): facilitar o transporte, através de
empunhadura, economizar espaço, guardando peças
dentro do produto, permitindo acondicionamento de
outros produtos abaixo ou acima do mesmo; Segurança
(não conter riscos ao usuário): produzido com materiais
atóxicos, peças grandes e que não se soltam, além de
não possuírem cantos vivos, pontiagudos; Manutenção
(os cuidados que o usuário deverá ter com o produto):
higienização poderá ser feita por produtos abrasivos
sem perda de cores; Reparação (possibilidade do
usuário obter reparos compatíveis no mercado,
corrigindo anomalias sofridas pelo produto):
assistência técnica eficiente, produtos em madeira
permitem substituição de peças; Manipulação (a
relação adequada do produto – usuário, no que diz
respeito a biomecânica): refere-se a preensão (manejo)
de componentes, uso da força e precisão de
movimentos; Antropometria (adequada relação
dimensional entre o produto e o usuário):
dimensionamento adequado a maioria da população;
Fisico-ambiental (ótima adequação entre o produto e
usuário, quanto aos limites de ruído, temperatura,
iluminação, fadiga, peso, vibração, proteções, etc,
aceitos pelo usuário, sem detrimento de sua saúde);
Percepção (adequada compreensão do produto ou de
seus componentes): não causar confusão visual durante
o uso; Transporte (facilidade de mudança de lugar de
um produto, de um local para outro): empunhadura
para transporte, peso suportável;
-Requisitos de função:
Mecanismos (princípios que darão funcionalidade ao
produto): encaixes e formas; Confiabilidade (confiança
manifestada pelo usuário no funcionamento de um
produto); Versatilidade (possibilidade de que o produto
ou componente do produto possa desempenhar
distintas funções): permitir uso de fotos, figuras,
palavras, etc; Resistência (esforços que o produto
deverá suportar): material difícil de quebrar, que não
perca as cores e seja resistente a choques; Acabamento
(técnicas específicas para proporcionar uma aparência
exterior final a um produto, seus componentes ou suas
partes): ser revestido com material de qualidade, tratar
a superfície de acabamento, não possuir cantos vivos;
-Requisitos estruturais:
Número de componentes (a quantidade de
componentes, partes e elementos de que constará o
produto): peças encaixáveis, tabuleiro, gaveta; União
(o sistema de integração que os distintos componentes,
partes e elementos de um produto empregarão, para
constituírem-se em unidades coerentes): sistema de
encaixe (peças/tabuleiro, gaveta, fotos);
Estruturabilidade (as condições de funcionalidade dos
distintos componentes, partes e elementos que formam
um todo).
-Requisitos formais:
Estilo (aparência do produto manifestada pelo
tratamento que foi dado às suas características
formais): formas geométricas, lúdico, cores; Unidade
(a qualidade na forma de um produto, fatores:
simplicidade na forma; relação entre as partes
componentes (proporção); repetição dos elementos);
Interesse (o uso dos elementos formais de tal maneira
que atraiam e mantenham a atenção visual dos
usuários, o que exige imprimir no projeto ênfase,
contraste e ritmo): cores e fotos dos familiares;
Equilíbrio e superfície (estabilidade visual que, pela
utilização de elementos visuais, proporciona o produto
projetado (simetria): cores primárias e linhas
associativas.
Geração de alternativas
As propostas foram geradas levando em consideração
as características desejáveis nos requisitos do projeto
(figura 7, números 1, 2 e 3). Para escolha da
alternativa, levou-se em consideração a proposta que
mais se adequou aos critérios tidos como de maior
importância, de acordo com os profissionais
pesquisados (figura 7, número 2). Principalmente no
que diz respeito ao sub-item “informações que façam
parte da vida do paciente”, que obteve a maior média
geral pesquisada.
1
2
Figura 7 – Algumas propostas de recursos terapêuticos
4.2. Etapa Configuracional
Dimensionamento
As peças do recurso, num total de sete, possuem altura
total de 13 cm. As “cabeças” das peças possuem
formato retangular de 8,0 cm x 6,0 cm, possuindo os
cantos arredondados de raio 0.5 cm, apenas para evitar
cantos vivos, que poderiam provocar ferimentos, sua
profundidade está dimensionada em 2,0 cm. As
“pernas” das peças medem 5,5 cm, com profundidade
2,0 cm. As bases das peças são todas em formatos
distintos, em sua maioria formatos geométricos, o que
dificultou o arredondamento de algumas peças, pois
descaracterizaria a geometria das formas. São elas nos
formatos: circulo, quadrado, retângulo, triângulo,
losângulo, retângulo com os cantos arredondados e um
outro retângulo com uma secção triangular (como uma
“bandeirinha”). O peso de cada peça é de
aproximadamente 100g. Desta forma, o esforço do
manuseio das peças é mínimo, não causando
constrangimento biomecânico aos usuários.
As peças do recurso terapêutico são definidas como de
manejo fino e de formato geométrico. De acordo com
Iida (1990), manejo fino é aquele executado pelas
pontas dos dedos, fornecendo grande precisão e
velocidade dos movimentos, com pouca força
transmitida. Este tipo de manejo é indicado para as
tarefas mais delicadas que exigem precisão. O formato
geométrico se assemelha a uma figura regular,
proporcionando uma melhor superfície de contato com
as mãos. Como vantagem, permite maiores variações
de pega e não sofre tanto as conseqüências das
variações individuais das medidas antropométricas. No
dimensionamento das peças do recurso terapêutico
proposto, usaram-se como referência as tabelas
antropométricas de Dias (1985) do Percentil 95
Homens (P95H) das larguras das palmas das mãos
masculinas americanas pesquisadas com 9,6cm, as
medidas entre o dedo polegar e o indicador, numa
pega, 14,5 cm. Como referência usou-se, também, a
tabela de Paschoarelli & Coury (2000) (variáveis:
comprimento dos dedos polegar (5,8cm), indicador
(7,9cm), médio (9cm), anular (8cm), mínimo (6,3cm) e
largura dos dedos polegar (2,6cm) e indicador (2,3cm)
do P95H. Cushman et al. (1983) afirmam que o ideal é
o comprimento de 13 cm (no mínimo 10 cm) e
diâmetro de 4 cm para pega grosseira, já para
operações de precisão o ideal é entre 8 cm e 16 cm.
Segundo Iida (1990), P95H das larguras das palmas das
mãos femininas brasileiras pesquisadas medem 8,5 cm,
enquanto as das mãos masculinas medem 9,3 cm.
O tabuleiro possui formato similar a um triângulo,
concebido em analogia a um funil (em vista frontal),
com intuito de mostrar aos pacientes de onde vieram,
quantas pessoas foram necessárias para sua existência.
Suas dimensões foram pensadas, então, apenas de
acordo com o tamanho e disposição das peças de
encaixe, sem causar confusão visual. Este possui altura
total de 8,7 cm, comprimento variável, sendo que o
maior é 26 cm. Suas dimensões foram definidas de
acordo com o espaço ocupado pelas peças encaixáveis
ao tabuleiro, sem que suas disposições ficassem
confusas para os pacientes. É em sua parte superior que
as peças serão encaixadas em orifícios nele contidos,
de acordo com a forma, cor e foto da pessoa colocada
em cada peça (Figura 10). Esta parte do produto possui,
também, uma gaveta para guardar as peças do produto
enquanto as mesmas não estiverem sendo utilizadas.
Além de possuir uma alça, servindo de empunhadura
para facilitar o transporte do produto.
Cores
Segundo Gomes Filho (2003), a cor é a parte simples
mais emotiva do processo visual. Ela tem uma grande
força e seu uso é vital para expressar e reforçar a
informação visual. As cores amarelo, verde e
vermelho, foram escolhidas por se tratarem de cores
primárias, fortes e quentes que, segundo Terapeutas
Ocupacionais, são mais facilmente percebidas por
pacientes com algum tipo de déficit cognitivo,
permitindo ao paciente a percepção e associação de
pessoas que fazem parte de uma mesma família,
mesmas descendências. O fato também é explicado
pelo que os estudiosos da área chamam de trilhas
associativas, que é justamente a associação feita pela
similaridade de cores. Por exemplo, os componentes
familiares contidos num espaço que apresenta a mesma
cor são da mesma linhagem. Segundo Finger (1986) as
cores frias tem a capacidade de diminuir a atividade
psicológica interna do paciente e a temperatura do
ambiente. O autor relata o que representa cada uma das
cores citadas, de acordo com a pirâmide de Pfister: -
Amarelo: indica extroversão, vivacidade, denota
dinamismo frio e lúcido indicando a presença de
aspirações precisas e de tendências à intolerância. É
pouco escolhido por neuróticos e esquizofrênicos; Verde: indica sociabilidade, sensibilidade e capacidade
de contato. No sentido amplo relaciona-se com o
equilíbrio da afetividade; - Vermelho: representa
tendências instintivas. A escolha desta cor sugere
reações emocionais fortes, rápidas e bruscas,
temperamento facilmente excitável e comportamento
infantil destituído de autocrítica.
Representação bi e tridimensional
A representação bidimensional foi proposta para
melhor visualização da escolha das cores, podendo-se
perceber, assim, que o recurso proposta apresenta
harmonia visual. Fez-se necessária a construção do
modelo tridimensional para realização dos testes de
usabilidade em situação real de uso.
Figura 8 – Representação bidimensional (rendering) e
representação tridimensional (modelo).
Processos e materiais de fabricação
Os materiais e o processo de fabricação do recurso
terapêutico proposto ainda não foram definidos.
Inicialmente, confeccionou-se um modelo em
compensado, laminado de fórmica® e E.V.A. para os
testes de usabilidade. Porém, por meio dos requisitos
projetuais, o compensado tem baixo custo, a fórmica é
higienizável sem peder as cores e o E.V.A. fornece
atrito suficiente para um sistema de fixação.
4.3. Validação do produto
Entrevistas
Os pacientes foram entrevistados quanto os graus de
satisfação em relação ao uso do produto, sendo
unânimes em afirmar que o recurso corresponde às
expectativas, sendo seu uso prazeroso.
Questionários
No geral, os resultados apontaram que tanto os
profissionais (terapeutas e pedagogos) quanto os
pacientes percebem que o recurso terapêutico proposto
corresponde aos itens propostos no teste de
usabilidade, sendo que para os profissionais, os itens:
custo, estética e gaveta foram os de maior aceitação,
enquanto para os pacientes os itens foram: peso, custo,
segurança e higienização (figura 9). Os terapeutas
destacaram que o recurso é classificado como
“excelente” por permitir ao terapeuta várias formas de
uso, caso não seja possível trabalhar com fotos, podese trabalhar com associações, memória, palavras, entre
outras alternativas.
1
2
Figura 9 – Percepção dos profissionais (1) e dos
pacientes (2) quanto ao uso do modelo.
Os testes de uso do modelo em situação real mostraram
que a proposta do recurso terapêutico atendeu aos
requisitos projetuais, fazendo com que os pacientes
interagissem de maneira satisfatória ao tratamento
requerido pelos profissionais.
classificado como “muito bom” por todos os
profissionais pesquisados. Na oportunidade,
esclareceram, também, que para o produto ser
classificado como “excelente” faz-se necessário apenas
que o dimensionamento das bases (as formas
geométricas) das peças encaixáveis ao tabuleiro sejam
dimensionadas em tamanhos diferentes, por exemplo,
as bases das peças verdes sejam menores que as
dimensões atuais, as bases das peças vermelhas sejam
maiores que as dimensões atuais e a base da peça
amarela permaneça como está. Ficando, assim, os três
grupos de cores com dimensionamentos distintos,
facilitando o uso dos pacientes com maior grau de
deficiência.
É válido relatar, ainda, que segundo os profissionais,
este recurso tem a capacidade de trabalhar crianças
com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, não
importando a etiologia, adultos com déficit cognitivo
das funções superiores (memória, atenção,
concentração), clientes vítimas de AVC (Acidente
Vascular Cerebral) ou AVE (Acidente Vascular
Encefálico) e idosos com tratamento voltado para
estimulação de memória recente e retrograda.
6. AGRADECIMENTOS
Aos profissionais de Terapia Ocupacional e
Fisioterapia de diversas clínicas e institutos de
reabilitação da cidade de São Luís, MA, que tanto
contribuíram para o sucesso deste produto.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Figura 10 – Teste de usabilidade em situação real de
uso.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se afirmar que o produto proposto é totalmente
inovador, não foi encontrado nada parecido no
mercado. Possibilita o trabalho com pessoas adultas
sem constrangê-las com o uso de motivos infantis,
comumente encontrado na maioria dos produtos do
mercado, além de trabalhar a questão familiar,
possibilidade indisponível em outros recursos.
Dos resultados dos testes de usabilidade, conclui-se
que o resultado atende a todas as necessidades , sendo
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