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Saúde
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15 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 21 de setembro de 2015
FORA DO AR
» CAROLINA COTTA
Retrato localizado
elo Horizonte — Falta de
ar, tosse, chiado no peito,
muco e coriza afetam milhõesdebrasileiros.Oproblema é quando a população desvaloriza esses sintomas, característicos de uma doença grave e
muito comum: a asma. Segundo a
Organização Mundial da Saúde
(OMS), existem cerca de 300 milhões de asmáticos no planeta. A
incidência é mais comum em países ricos, atingindo de 1% a 18%
da população. No Brasil, são cerca
de 20 milhões, ou seja, 10% da população. Pesquisa do Ibope, encomendada pelo Boehringer Ingelheim, laboratório com atuação
em doenças respiratórias, ouviu
2.010 pessoas em todas as regiões
brasileiras para entender como o
brasileiro percebe sua saúde respiratória. Os resultados revelam
muita confusão entre conceitos e
uma falsa sensação de controle da
doença, o que pode representar
risco de vida para esses pacientes.
Quarenta e quatro por cento
dos entrevistados afirmaram ter
sintomas respiratórios como tosse,
falta de ar, chiado no peito e coriza,
percebidos como manifestações
de asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Dos que relataram os sintomas,
35% afirmam ter asma e 37%,
bronquite crônica. O pneumologista Clystenes Odyr Soares, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp), chama atenção para a quantidade de pessoas
que alegaram ter bronquite crônica, doença bem menosfrequentee
relacionada a anos de tabagismo.
“É bem provável que a bronquite
crônica mencionada nos resultados seja, na verdade, asma, principalmente se os primeiros sintomas
tiverem surgido ainda na infância,
como é o caso de 73% dos entrevistados que responderam ter bronquite”, observa o especialista.
Esse tipo de confusão é bem
comum entre os leigos e, segundo
Clystenes Soares, o nome que se
dá pouco interessa, sendo realmente importante que a pessoa
procure ajuda especializada e não
desvalorize os sintomas. “O quadro existe, independentemente
do nome que os leigos dão a ele.
Percebemos um certo preconceito com o termo asma: as pessoas
consideram mais grave, lembram
que é uma doença sem cura e preferem chamá-la de bronquite
alérgica. Mas, do ponto de vista
médico, é asma mesmo, uma
doença de natureza alérgica, de
predisposição genética, vinculada a fatores ambientais, que predomina na infância dos meninos
e na vida adulta das mulheres,
sendo esses pacientes sensíveis a
produtos químicos e mudanças
climáticas”, explica.
A pesquisa com pessoas entre 8
e 65 anos de idade também
trouxe uma abordagem
localizada dos problemas
respiratórios no Brasil. Quem
mais sofre com eles são os
moradores da Região Sul, com
prevalência de 65%. Em
seguida, estão o Nordeste
(43%), o Sudeste (36%) e o
Nordeste e o Centro-Oeste, com
34%. A presença das
complicações também diferiu
conforme o sexos: 39% dos
homens e 46% das mulheres
responderam ter tido a saúde
afetada por doenças
respiratórias.
sintomas respiratórios que persistem por mais de duas semanas,
com histórico de recorrência.
“Se em um ano a pessoa teve
contato com mofo, apresentou
quadro de tosse, chieira e melhorou com o uso de broncodilatadores ou mesmo espontaneamente,
mas os sintomas voltaram no ano
seguinte em uma outra exposição
ou após uma infecção respiratória, é preciso buscar ajuda. Tosse,
chieira no peito e falta de ar recorrente que não melhora não podem ser desconsiderados”, alerta
Mancuzo. Segundo a médica, a
asma tem prevalência alta no Brasil, mas ainda é subdiagnosticada
e maltratada. “As pessoas acham
que estão controladas, mas, quando avaliamos, percebemos que
não”, explica.
Intermitente
Descontrolada
Chiado no peito e falta de ar são
os principais sintomas de asma.
Existem casos de pacientes que
apresentem apenas um quadro de
tosse crônica por mais de oito semanas. A asma é intermitente, vai
e volta, e os sintomas podem ser
provocados por fatores externos,
como clima ou presença de animal em casa. Já na DPOC, os pacientes também podem apresentar tosse e chieira, mas a doença é
causada, principalmente, pelo cigarro e pela exposição frequente à
fumaça de fogão a lenha, comum
nas cidades do interior.
Segundo a pneumologista Eliane Viana Mancuzo, professora da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e membro da Comissão
de Doenças Intersticiais da Sociedade Mineira de Pneumologia, pacientes com tosse, chieira
e aperto no peito recorrentes,
que melhoram e voltam a apresentar o quadro, deveriam procurar um clínico inicialmente. De
acordo com ela, a população deve dar atenção principalmente a
A sensação de controle da
doença foi outro dado que chamou a atenção de especialistas na
pesquisa sobre a saúde respiratória do brasileiro: 91% dos que afirmaram ter asma disseram ter a
doença controlada, enquanto
72% reconhecem consequências
da asma em sua rotina. “Isso nos
alerta para uma percepção equivocada que os pacientes parecem
ter em relação aos sintomas respiratórios que não são valorizados e,
consequentemente, podem não
receber a avaliação médica adequada”, alerta Clystenes Soares.
A pneumologista ressalta a
contradição. “Como é possível
que a maioria dos pacientes perceba a doença como controlada
e, ao mesmo tempo, reconheça o
prejuízo nas atividades de rotina?
Infelizmente, esse descuido em
relação ao controle da asma não é
novidade para nós, médicos, pois
existem estudos publicados que
reforçam este cenário preocupante”, relata. De acordo com a
Iniciativa Global contra a Asma
(GINA), sintomas prolongados
20
MILHÕES
Estimativa de
brasileiros asmáticos
2,3
MIL
Totaldemortesregistradas
anualmentenoBrasilem
decorrênciadecomplicaçõesda
asma,segundooMinistériodaSaúde
Exercícios
ajudam
são indicadores de que a asma
não está controlada e pode, assim,
comprometer significativamente
a vida diária dos pacientes.
Fora de controle, o problema
respiratório evolui para crises
que provocam cerca de 2,3 mil
óbitos por ano no Brasil, conforme o Ministério da Saúde. Clystenes Soares ressalta que, apesar de
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B
Pesquisa revela confusão dos brasileiros
com sintomas clássicos da asma, além
da falsa sensação de controle da doença
respiratória mais comum no mundo
incurável, a doença é plenamente
controlável. “Com um diagnóstico
simples e medicação adequada,
dá para viver bem. O descontrole
do quadro ocorre em função de
uma não adesão adequada ao tratamento. Há pacientes que melhoram e acham que precisam da medicação só quando não estão passando bem”, alerta o especialista.
Conforme Eliane Mancuzo, no
Sistema Único de Saúde, estão
disponíveis corticoides inalatórios e broncodilatadores de longa
e curta duração. “Falta incorporar
o tiotrópio, um anticolinérgico de
longa ação, recentemente aprovado e indicado para pacientes com
asma não controlada”, defende a
pneumologista.
Os sintomas da asma diminuem em até 70% quando o paciente pratica exercícios aeróbicos. O dado é de um recente estudo da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo
(USP) que avaliou a hiper-responsividade brônquica — aumento exagerado da sensibilidade nos brônquios — quando o
asmático tem as vias aéreas irritadas por ácaro, pó, poeira.
Os resultados demonstraram
que é necessária uma quantidade
maior de alérgenos (pó, poeira,
ácaro) para fazer a via aérea fechar, sugerindo que a inflamação
diminuiu significativamente entre aqueles que praticam atividade física. “Isso sugere que o exercício é anti-inflamatório e melhora a qualidade de vida do paciente”, ressalta o fisioterapeuta e professor da USP Celso Carvalho,
coordenador da pesquisa. A prática de atividades físicas também
reduziu pela metade a ida ao
pronto-socorro, que costuma
ocorrer durante crises de asma,
mesmo em pacientes que usam
medicação adequadamente.
As conclusões do estudo chocam com o senso comum de que,
ao se exercitar, o asmático pode
sofrer de broncoespasmo, caracterizado pelo estreitamento transitório das vias aéreas. Patrícia
Duarte, participante do estudo,
explicou que a intenção era justamente mostrar que se livrar o sedentarismo pode fazer bem também para os pulmões. Os pacientes observados no estudo que se
exercitaram perderam mais de 7%
do peso corporal e tiveram avanço
maior no controle da asma e na
qualidade de vida, apresentando
redução de ansiedade, depressão
e melhora de sono.
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