CMYK Saúde Editora: Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 15 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 21 de setembro de 2015 FORA DO AR » CAROLINA COTTA Retrato localizado elo Horizonte — Falta de ar, tosse, chiado no peito, muco e coriza afetam milhõesdebrasileiros.Oproblema é quando a população desvaloriza esses sintomas, característicos de uma doença grave e muito comum: a asma. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 300 milhões de asmáticos no planeta. A incidência é mais comum em países ricos, atingindo de 1% a 18% da população. No Brasil, são cerca de 20 milhões, ou seja, 10% da população. Pesquisa do Ibope, encomendada pelo Boehringer Ingelheim, laboratório com atuação em doenças respiratórias, ouviu 2.010 pessoas em todas as regiões brasileiras para entender como o brasileiro percebe sua saúde respiratória. Os resultados revelam muita confusão entre conceitos e uma falsa sensação de controle da doença, o que pode representar risco de vida para esses pacientes. Quarenta e quatro por cento dos entrevistados afirmaram ter sintomas respiratórios como tosse, falta de ar, chiado no peito e coriza, percebidos como manifestações de asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Dos que relataram os sintomas, 35% afirmam ter asma e 37%, bronquite crônica. O pneumologista Clystenes Odyr Soares, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), chama atenção para a quantidade de pessoas que alegaram ter bronquite crônica, doença bem menosfrequentee relacionada a anos de tabagismo. “É bem provável que a bronquite crônica mencionada nos resultados seja, na verdade, asma, principalmente se os primeiros sintomas tiverem surgido ainda na infância, como é o caso de 73% dos entrevistados que responderam ter bronquite”, observa o especialista. Esse tipo de confusão é bem comum entre os leigos e, segundo Clystenes Soares, o nome que se dá pouco interessa, sendo realmente importante que a pessoa procure ajuda especializada e não desvalorize os sintomas. “O quadro existe, independentemente do nome que os leigos dão a ele. Percebemos um certo preconceito com o termo asma: as pessoas consideram mais grave, lembram que é uma doença sem cura e preferem chamá-la de bronquite alérgica. Mas, do ponto de vista médico, é asma mesmo, uma doença de natureza alérgica, de predisposição genética, vinculada a fatores ambientais, que predomina na infância dos meninos e na vida adulta das mulheres, sendo esses pacientes sensíveis a produtos químicos e mudanças climáticas”, explica. A pesquisa com pessoas entre 8 e 65 anos de idade também trouxe uma abordagem localizada dos problemas respiratórios no Brasil. Quem mais sofre com eles são os moradores da Região Sul, com prevalência de 65%. Em seguida, estão o Nordeste (43%), o Sudeste (36%) e o Nordeste e o Centro-Oeste, com 34%. A presença das complicações também diferiu conforme o sexos: 39% dos homens e 46% das mulheres responderam ter tido a saúde afetada por doenças respiratórias. sintomas respiratórios que persistem por mais de duas semanas, com histórico de recorrência. “Se em um ano a pessoa teve contato com mofo, apresentou quadro de tosse, chieira e melhorou com o uso de broncodilatadores ou mesmo espontaneamente, mas os sintomas voltaram no ano seguinte em uma outra exposição ou após uma infecção respiratória, é preciso buscar ajuda. Tosse, chieira no peito e falta de ar recorrente que não melhora não podem ser desconsiderados”, alerta Mancuzo. Segundo a médica, a asma tem prevalência alta no Brasil, mas ainda é subdiagnosticada e maltratada. “As pessoas acham que estão controladas, mas, quando avaliamos, percebemos que não”, explica. Intermitente Descontrolada Chiado no peito e falta de ar são os principais sintomas de asma. Existem casos de pacientes que apresentem apenas um quadro de tosse crônica por mais de oito semanas. A asma é intermitente, vai e volta, e os sintomas podem ser provocados por fatores externos, como clima ou presença de animal em casa. Já na DPOC, os pacientes também podem apresentar tosse e chieira, mas a doença é causada, principalmente, pelo cigarro e pela exposição frequente à fumaça de fogão a lenha, comum nas cidades do interior. Segundo a pneumologista Eliane Viana Mancuzo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro da Comissão de Doenças Intersticiais da Sociedade Mineira de Pneumologia, pacientes com tosse, chieira e aperto no peito recorrentes, que melhoram e voltam a apresentar o quadro, deveriam procurar um clínico inicialmente. De acordo com ela, a população deve dar atenção principalmente a A sensação de controle da doença foi outro dado que chamou a atenção de especialistas na pesquisa sobre a saúde respiratória do brasileiro: 91% dos que afirmaram ter asma disseram ter a doença controlada, enquanto 72% reconhecem consequências da asma em sua rotina. “Isso nos alerta para uma percepção equivocada que os pacientes parecem ter em relação aos sintomas respiratórios que não são valorizados e, consequentemente, podem não receber a avaliação médica adequada”, alerta Clystenes Soares. A pneumologista ressalta a contradição. “Como é possível que a maioria dos pacientes perceba a doença como controlada e, ao mesmo tempo, reconheça o prejuízo nas atividades de rotina? Infelizmente, esse descuido em relação ao controle da asma não é novidade para nós, médicos, pois existem estudos publicados que reforçam este cenário preocupante”, relata. De acordo com a Iniciativa Global contra a Asma (GINA), sintomas prolongados 20 MILHÕES Estimativa de brasileiros asmáticos 2,3 MIL Totaldemortesregistradas anualmentenoBrasilem decorrênciadecomplicaçõesda asma,segundooMinistériodaSaúde Exercícios ajudam são indicadores de que a asma não está controlada e pode, assim, comprometer significativamente a vida diária dos pacientes. Fora de controle, o problema respiratório evolui para crises que provocam cerca de 2,3 mil óbitos por ano no Brasil, conforme o Ministério da Saúde. Clystenes Soares ressalta que, apesar de CMYK B Pesquisa revela confusão dos brasileiros com sintomas clássicos da asma, além da falsa sensação de controle da doença respiratória mais comum no mundo incurável, a doença é plenamente controlável. “Com um diagnóstico simples e medicação adequada, dá para viver bem. O descontrole do quadro ocorre em função de uma não adesão adequada ao tratamento. Há pacientes que melhoram e acham que precisam da medicação só quando não estão passando bem”, alerta o especialista. Conforme Eliane Mancuzo, no Sistema Único de Saúde, estão disponíveis corticoides inalatórios e broncodilatadores de longa e curta duração. “Falta incorporar o tiotrópio, um anticolinérgico de longa ação, recentemente aprovado e indicado para pacientes com asma não controlada”, defende a pneumologista. Os sintomas da asma diminuem em até 70% quando o paciente pratica exercícios aeróbicos. O dado é de um recente estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) que avaliou a hiper-responsividade brônquica — aumento exagerado da sensibilidade nos brônquios — quando o asmático tem as vias aéreas irritadas por ácaro, pó, poeira. Os resultados demonstraram que é necessária uma quantidade maior de alérgenos (pó, poeira, ácaro) para fazer a via aérea fechar, sugerindo que a inflamação diminuiu significativamente entre aqueles que praticam atividade física. “Isso sugere que o exercício é anti-inflamatório e melhora a qualidade de vida do paciente”, ressalta o fisioterapeuta e professor da USP Celso Carvalho, coordenador da pesquisa. A prática de atividades físicas também reduziu pela metade a ida ao pronto-socorro, que costuma ocorrer durante crises de asma, mesmo em pacientes que usam medicação adequadamente. As conclusões do estudo chocam com o senso comum de que, ao se exercitar, o asmático pode sofrer de broncoespasmo, caracterizado pelo estreitamento transitório das vias aéreas. Patrícia Duarte, participante do estudo, explicou que a intenção era justamente mostrar que se livrar o sedentarismo pode fazer bem também para os pulmões. Os pacientes observados no estudo que se exercitaram perderam mais de 7% do peso corporal e tiveram avanço maior no controle da asma e na qualidade de vida, apresentando redução de ansiedade, depressão e melhora de sono.