CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL DISFUNÇÃO DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (DTM) E MASTIGAÇÃO Uma relação de causa e efeito MONIA FERRARI NOGUEIRA RECIFE 2001 RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo desbravar dentro da Fonoaudiologia, a relação existente entre as desordens temporomandibulares (DTM) e as funções estomatognáticas, mais precisamente a mastigação. Este trabalho aborda questões relevantes no que diz respeito a todo o processo de intervenção fonoaudiológica. Dá-se destaque à relação recíproca de causa e efeito entre as DTMs e a mastigação, no que se refere basicamente às alterações, à maturação, ao bom desenvolvimento, à eficácia, ao ritmo, à velocidade, ao tempo, ao tipo de mordida e de trajeto. Acrescente-se ainda, o fato da mastigação unilateral ser o tipo mastigatório mais comumente encontrado nos casos de DTM, somado à sintomatologia dolorosa e à hiper-atividade muscular. Casos assim, abrangem a atuação fonoaudiológica, mais especificamente a Motricidade Oral. DTM e mastigação exigem uma ação multidisciplinar, desta forma, fica claro que esta pesquisa poderá trazer contribuições aos fonoaudiólogos, odontólogos, fisioterapeutas e estudantes, tendo em vista que auxiliará no diagnóstico, prognóstico e tratamento de casos como estes. ABSTRACT This research has as its objective to explore, inside Phonoaudiology, the relationship between temporomandibular joint disorders (TMDs) and stomatognathic functions, more specificaly mastication. This work involves relevant questions about the whole process of phonoaudiologic intervention. Emphasis is given to the reciprocal relationship of cause and effect between the TMDs and mastication. In what reffers to the changings, maturation, good development, efficiency rhythm, velocity, time the kind of bitting and the trajectory. In addition, there is the fact demonstration that unilateral mastication is the most common masticatony way found in TMDs causes beyond pain symptomatology and muscular hyperactivity. Cases like this ask for a phonoaudiologic treatment, more specifically, oral motricity. TMDs and mastication need a multidisciplinary action. By this way, it is clear that this research will bring contributions to the phonoaudiologists, dentists, phisiotherapists and students, It will also help in the diagnostic, prognostic and treatment of cases like this. SUMÁRIO 1.Introdução.................................................................................. 1 2.Discussão Teórica...................................................................... 3 3.Considerações Finais................................................................. 39 4.Referências Bibliográficas.......................................................... 42 1 - INTRODUÇÃO A fonoaudiologia é uma ciência recente, que abrange uma grande área de atuação, algumas pouco conhecidas e exploradas. Um exemplo disso, são as disfunções da articulação temporomandibular (DTMs), que têm sido alvo de estudo de especialistas, entre eles fonoaudiólogos, devido às alterações das funções estomatognáticas -- respiração, sucção, mastigação, deglutição e fala. A atuação fonoaudiológica em DTMs tem como base a terapia miofuncional, que visa a adequação dos músculos orofaciais às funções estomatognáticas, e através delas. Todas estas funções têm relação direta com a possibilidade e liberdade dos movimentos mandibulares. Esses movimentos são conseguidos graças à ação dos músculos da mastigação e a existência de uma articulação que os possibilita – a articulação temporomandibular (ATM) (BIANCHINI, 1998). Havendo alteração nessa estrutura ocorre modificações funcionais, envolvendo principalmente a mastigação. A mastigação destaca-se como uma das mais importantes funções do sistema estomatognático, tanto que o mesmo denominava-se Sistema Mastigador (DOUGLAS, 1994). A ocorrência de pacientes que procuram o fonoaudiólogo, com dificuldades ou alterações do movimento mandibular, durante a mastigação, é cada vez mais freqüente. Desta forma, sentimos a necessidade de desbravar dentro da própria Fonoaudiologia esse campo ainda pouco explorado. Assim, resolvemos desenvolver esta pesquisa teórica, com o objetivo de verificar a relação das desordens temporomandibulares com o sistema estomatognático, mais especificamente com a mastigação. Acreditamos que existe uma relação íntima de causa e efeito entre as desordens da articulação temporomandibular e as alterações na mastigação. Este trabalho foi realizado em resposta à escassez de literatura específica, que dificulta o trabalho do fonoaudiólogo, que necessita adquirir e acumular conhecimento, para poder exercer sua atividade com segurança e eficácia, proporcionando uma base mais sólida ao nosso fazer clínico. Acrescenta-se a essa situação, o fato de que nossa formação acadêmica não nos oferece embasamento teórico-prático suficiente para uma atuação satisfatória. Num primeiro momento, abordamos a anatomo-fisiologia da ATM e da mastigação, dispensando os detalhes que poderiam ser eliminados, sem que pudesse comprometer a compreensão do assunto. Em seguida, procuramos trazer informações sobre histórico, conceito, etiologia, conseqüências, incidência e tratamento das DTMs, sempre correlacionando com a mastigação. A pesquisa é destinada a profissionais que, direta ou indiretamente, atuam em casos de DTM, enfocando um conteúdo simples e objetivo. 2 - DISCUSSÃO TEÓRICA Características Anatomofuncionais A ATM e seus aspectos funcionais e morfológicos vêm crescendo em interesse entre profissionais que se dedicam ao estudo da intervenção na cavidade oral. Este estudo vem sendo, mormente, dirigido à prevenção e tratamento dos problemas que podem alterar o sistema estomatognático. Trata-se de um sistema articular extremamente complexo. O fato de haver duas ATMs presas a um mesmo osso -- a mandíbula – complica ainda mais o funcionamento de todo o sistema mastigatório. Cada articulação pode trabalhar separadamente ainda que ao mesmo tempo, mas sem dúvida uma sofrerá a influência da outra. A articulação temporomandibular é bastante plana ao nascimento. Sua morfologia vai sendo modificada até apresentar-se definida na faixa etária entre 7 e 10 anos de idade (DOUGLAS, 1994). Alguns estudiosos acreditam que esta morfologia final se estabeleça após o surto puberal de crescimento e conseqüente presença dos dentes permanentes na boca. Outros sugerem a erupção do terceiro molar como etapa final da remodelação articular. Apesar da possibilidade constante de remodelamento articular dada pela presença de fibrocartilagem, parece-nos que esta estabilidade morfológica se dá com a dentição permanente, assim como sua organização funcional (BIANCHINI, 1998). Os componentes da articulação temporomandibular são: cavidade condilar (osso temporal), eminência articular do osso temporal, disco articular, côndilo mandibular, cápsula articular e ligamentos. Segundo Cabezas (1991) a fisiologia da ATM é baseada nos princípios de uma articulação côncavo-convexa, na qual, em cada articulação, existe duas articulações compostas pelo compartimento superior e pelo inferior. Separando esses dois ossos para que não se articulem diretamente, está o disco articular, que é bicôncavo e localiza-se entre as superfícies articulares. Desta forma, o disco funciona como um osso que facilita e regula os movimentos complexos da articulação. O disco articular prende-se a cápsula articular na porção posterior da ATM por meio do tecido retrodiscal, altamente vascularizado e inervado. Prende-se ao côndilo medialmente e lateralmente por meio de ligamentos, de tal forma que este fique fixo em posição, evitando que se movimente para trás e para cima, quando a mandíbula exerce uma grande pressão. Durante o movimento, o disco é de certa forma flexível e pode se adaptar as demandas funcionais das superfícies articulares. No entanto, flexibilidade e adaptabilidade não implicam que a morfologia do disco seja reversível, quando alterada durante o funcionamento. O disco mantém sua morfologia a menos que forças destrutivas ou mudanças estruturais ocorram na articulação. Se houver mudanças, a morfologia do disco poderá ser irreversivelmente alterada e uma condição patológica surgirá (OKESON, 1992). Já a cápsula é formada por tecido conjuntivo denso e envolve toda a articulação. Os ligamentos (temporomandibular ou colateral, esfenomandibular e estilomandibular) possuem importantes receptores mecânicos e de dor (DOUGLAS, 1994), funcionando como estruturas proprioceptivas para monitorar os movimentos e posições dos componentes articulares. Atuam ainda como estabilizadores para limitar os movimentos e evitar ultrapassagem de limites (BIANCHINI, 1998). A ATM produz um líquido nutritivo e lubrificante – o líquido sinovial, sendo, por esse motivo, denominada de articulação sinovial. É revestida por um tecido que apresenta grande capacidade de reparação – a fibrocartilagem. Desta forma, ocorrem modificações em suas superfícies articulares em razão das necessidades ou possibilidades funcionais dessa articulação. O côndilo da mandíbula é composto pela cabeça e pescoço, sendo a cabeça de forma ovóide. A parte superior do côndilo é a superfície que articula junto à articulação temporomandibular, apresentando o eixo perpendicular ao ramo da mandíbula. O tamanho do côndilo no adulto é de aproximadamente 15 a 20 mm de comprimento e 8 a 10 mm de largura (BLAUSTEIN & HEFFEZ, 1990). Entre as superfícies articulares, forma-se um plano de deslizamento dos côndilos. Entre essas superfícies interpõe-se o disco. À medida que a atividade muscular aumenta, o côndilo é forçado com maior intensidade contra o disco e o disco contra a fossa, resultando num aumento da pressão interarticular dessas estruturas articulares. A largura do espaço do disco articular varia de acordo com a pressão interarticular, e a estabilidade articular é mantida pela atividade constante dos músculos que cruzam a articulação, principalmente os elevadores. A morfologia do disco e pressão interarticular, sempre presentes, garantem a manutenção do côndilo na zona intermediária mais fina do disco. As margens anterior e posterior do disco forçam-no a movimentar-se junto ao côndilo, durante a abertura e o fechamento bucal. Portanto, a morfologia do disco é muito importante para o movimento do côndilo. Se existe alguma alteração na pressão intraarticular ou uma mudança na morfologia do disco, o movimento côndilo-disco pode ser alterado e isto, de fato, é o começo de uma desordem de interferência do disco. Classificação das Alterações Temporomandibulares: A alterações temporomandibulares é uma expressão que abrange uma série de problemas clínicos. Os problemas da ATM podem ser divididos em distúrbios musculares e distúrbios articulares (McNEILL, 1993). Os distúrbios musculares afetam os músculos da mastigação, e incluem: a dor miofacial; a miosite, que é a inflamação dos músculos e o trismo, que é uma contratura muscular. Os distúrbios articulares, também chamados de intra-articulares, englobam os problemas que ocorrem dentro da cápsula, tais como: Alterações da forma das superfícies articulares por problemas de remodelação das estruturas ou das condições adquiridas; Deslocamento do disco articular, caracterizado por uma incongruência na relação côndilo–disco. Posiciona-se geralmente em direção anterior. com redução: ocorre recaptura do disco articular durante o - movimento condilar. Está associado à presença de estalo. sem redução: deslocamento anterior de disco que permanece - mantido durante o movimento de translação mandibular. Limita o movimento mandibular e / ou acarreta desvio em seu percurso para o lado afetado. Geralmente apresenta dor; Luxação: perda de contato entre as superfícies articulares; Inflamação: incluem sinovite ou capsulite; Osteoartrite: caracteriza-se por modificações estruturais nas superfícies articulares Anquilose: representa uma união óssea, podendo ocorrer pela fibrose das superfícies articulares. . Movimentos Mandibulares: A mobilidade normal da mandíbula depende da integridade da ATM. O movimento mandibular é determinado pela atividade combinada e simultânea de ambas as articulações temporomandibulares. Apesar das ATMs não poderem funcionar inteiramente independentes da outra, elas raramente funcionam com movimentos idênticos e conjuntos (OKESON, 1992). A ATM não suporta forças, tendendo a manter em posição a mandíbula, que está pendurada na articulação. Os movimentos mandibulares são determinados pela movimentação, por deslizamento, do côndilo dentro da cavidade condilar. Esses movimentos dos côndilos variam segundo as características da ATM, isto é, segundo sua conformação anatômica (DOUGLAS, 1994). A articulação temporomandibular humana apresenta dois tipos de movimentos principais: Rotação, no qual o côndilo gira em torno de seu próprio eixo; Translação, cujo deslocamento do côndilo é acompanhado pelo disco articular ao longo da cavidade condilar, deslizando até a eminência articular do osso temporal. Existem os movimentos de lateralidade, também chamados de laterotrusão (SAVALLE, 1996), em que os côndilos executam padrões motores diferentes. O movimento mandibular ocorre como uma série de atividades tridimensionais de rotação e translação inter-relacionadas. Esses movimentos são realizados em vários planos do espaço. São eles: O plano sargital : abertura e fechamento bucal. O plano horizontal : lateralidade, protusão e retrusão; O plano frontal : rotações observadas durante o ciclo mastigatório. Com relação ao movimento de rotação da ATM, sabemos que o complexo côndilo-disco é o sistema articular responsável por este movimento. No sistema mastigatório, a rotação ocorre quando a boca abre e fecha em torno de um ponto fixo ou eixo dos côndilos. Em outras palavras, os dentes podem se separar e então ocluir sem uma mudança de posição dos côndilos (OKESON, 1992). Na ATM, a rotação é o movimento entre a superfície superior do côndilo e a superfície inferior do disco articular. O movimento de rotação pode ocorrer em todos os três planos de referência: horizontal, frontal (vertical) e sargital. Durante a abertura da boca, é a contração dos músculos suprahióideos que provoca a rotação do côndilo, e, no fechamento, são os músculos elevadores, especialmente o temporal. O movimento de translação, no sistema mastigatório, ocorre quando a mandíbula move-se para frente, como na protrusão. Os dentes, côndilos e ramos se movem todos na mesma direção e na mesma angulação. As translações ocorrem entre a superfície inferior da fossa articular. Esse tipo de movimento é produzido pela contração do músculo pterigóideo lateral durante a abertura da boca, e, no fechamento bucal, pela contração do temporal. Durante a maioria dos movimentos normais da mandíbula, tanto a rotação como a translação, ocorrem simultaneamente. Tal fato isto resulta em movimentos muito complexos que são extremamente difíceis de se visualizar. Por exemplo, se o movimento for para o lado direito, o côndilo direito realiza um discreto movimento, girando em seu eixo. O côndilo esquerdo desliza para frente e para baixo, e levemente em direção à linha mediana. Sistema Neuromuscular: Trata-se de um conjunto de músculos esqueléticos, cuja função depende diretamente da ação motora do sistema nervoso central (DOUGLAS, 1994). Esses músculos, em sua maioria inseridos na mandíbula, estão vinculados à função mastigatória. Basicamente, para cada movimento mandibular são utilizados certos grupos musculares, apesar de todos atuarem de forma conjunta (BIANCHINI, 1998). A energia que move a mandíbula e permite o funcionamento do sistema mastigatório é suprida por tais músculos. Os tecidos das articulações temporomandibulares, assim como as das demais partes do sistema mastigatório, encontram-se normalmente protegidos por reflexos neuromusculares básicos e pelo sistema neuromuscular pela coordenação da função a das forças musculares. As lesões das articulações temporomandibulares, com exceção daquelas devidas à trama externo, são o resultado de atividade muscular anormal com desequilíbrio das diversas partes do sistema mastigatório (RAMFJORD & ASH, 1996). Os músculos mastigatórios são aqueles ligados apenas à realização dos movimentos mandibulares. São eles: temporal, masseter, pterigóideo lateral, pterigóideo medial e ventre anterior do digástrico (suprahióideo). Já os músculos da mastigação incluem os músculos citados, além de todos os supra-hióideos (gênio-hióideo, milo-hióideo, digástrico, estilo-hióideo) e dos infra-hióideos, que estabilizam o osso hióide, a musculatura da língua, o bucinador e a musculatura da mímica. Ou seja, todos aqueles que participam do processo mastigatório. Durante a abertura da boca, os músculos levantadores da mandíbula se relaxam e são ativados os músculos depressores. Os movimentos são estabilizados pela musculatura infra-hióidea, fixando o osso hióide para que os supra-hióideos possam promover a abertura (BIANCHINI, 1998). São considerados músculos levantadores da mandíbula: temporal, masseter e pterigóideo medial. O músculo temporal atua como estabilizador do movimento; o masseter é um músculo principalmente de força e o temporal e seus três feixes (anterior, médio e posterior) têm a função básica de levantadores da mandíbula. São os músculos depressores: pterigóideo lateral e supra-hióideo especialmente ventre anterior do digástrico, gênio-hióideo e milo-hióideo. O músculo pterigóideo lateral possui dois feixes: o superior, que é fundamental para a estabilização do movimento de fechamento bucal; Já o feixe inferior atua durante a abertura bucal ao tracionar o côndilo. É a contração unilateral do pterigóideo lateral, para o lado contrário ao movimento mandibular que realiza o movimento mandibular de lateralidade. Desta forma, na lateralização da mandíbula para a direita, existe a contração do pterigóideo lateral esquerdo, auxiliado principalmente pelos músculos pterigóideo medial e pelo feixe anterior do temporal, também esquerdos. A contração conjunta dos pterigóideos laterais, mediais e feixes anteriores dos temporais proporcionam os movimentos de protrusão. Já, nos movimentos de retrusão, predominam as contrações dos supra-hióideos e dos feixes posteriores dos temporais. A mastigação exige a participação de outros músculos auxiliares para a manutenção do alimento sobre a face oclusal dos dentes, e posteriorização do mesmo à medida que vai sendo triturado e pulverizado. São eles os músculos orbiculares dos lábios, bucinador e zigomático maior e menor. Outros músculos importantes, tais como o esternocleidomastoideo e os músculos posteriores do pescoço, são necessários para estabilizar o crânio e permitir que movimentos controlados da mandíbula sejam feitos. Um padrão de mastigação madura somente pode ser obtido à medida que ocorre o amadurecimento de todos os elementos do complexo craniofacial, especialmente os que formam o aparelho estomatognático, entre os quais podemos destacar a tríade nervos-vasos-músculos. Esse padrão depende também do desenvolvimento e crescimento relacionados com o aumento das dimensões da boca, estabelecimento de uma articulação temporomandibular com anatomia mais definida, estabelecimento do plano oclusal, maturação dos músculos da face, estabelecimento dos reflexos coordenados, assim como mecanismos de retroalimentação proprioceptivos a partir da região perioral, periodontal e articulação (MOLINA, 1989). Mas existem alguns autores que relacionam mastigação com o desenvolvimento da função de sucção, graças ao estímulo de amamentação, pois parece que a maturação do sistema nervoso permite que se desenvolvam novas funções totalmente acionadas pela erupção dos dentes (BIANCHINI, 1998). Desta forma, podemos notar que o ato mastigatório trata-se de uma atividade neuromuscular altamente complexa, baseada em reflexos condicionados e guiados por proprioceptores, tais como: os receptores da ATM, da membrana periodontal da língua, de toda a mucosa oral e dos músculos. Esse mecanismo de orientação da atividade muscular através dos estímulos nocivos é evitado reflexivamente de modo que movimento e função possam ocorrer com dano mínimo aos tecidos e à estrutura do sistema mastigatório. Fica clara a necessidade de um preciso movimento da mandíbula pelos músculos, para movimentar os dentes eficientemente sobre si mesmos durante a função mastigatória. Mastigação: Diz-se que a principal função da mandíbula é a mastigação. Sendo assim, a mastigação parece ser a função mais importante do sistema estomatognático, e é também a mais estudada. A mastigação constitui a primeira fase da digestão, que começa na boca logo após a ingestão do alimento, que deve ser reduzido a partículas menores, suscetíveis de serem engolidas pela deglutição que segue a mastigação. E o conjunto de fenômenos estomatognáticos que visa a degradação mecânica dos alimentos, isto é, a sua trituração e moagem, degradando-os em partículas menores, que misturadas à ação da saliva, formam o bolo alimentar, apto a ser deglutido (DOUGLAS, 1998). Durante este processo contraem-se coordenadamente vários grupos musculares, sendo mais destacados, os músculos mastigatórios. Essa ação muscular possibilita o movimento mandibular, a distribuição e a posteriorização do alimento para deflagrar a deglutição. De acordo com DOUGLAS (1998), o aparecimento da mastigação coincide muito com a dos dentes, ou seja, quando está o dente presente, também hà a mastigação. Para que a mastigação possa ser realizada alguns requisitos são necessários, tais como: aumento do volume intra-oral, irrompimento dos dentes, amadurecimento da neuromusculatura e remodelação das ATMs (FELÍCIO, 1999). A autora acrescenta que a própria mastigação faz parte do processo de crescimento e desenvolvimento do sistema estomatognático. Apresentando-se como um estímulo para a sua continuidade e para a manutenção da saúde dos músculos, articulações e periodonto, pela exercitação realizada. E, ainda, porque é a partir da mastigação que grande parte dos nutrientes importantes para a constituição física são obtidos. Ciclo Mastigatório: Durante a mastigação, ao analisarmos os movimentos mandibulares, necessitamos observar os ciclos mastigatórios. Cada ciclo corresponde a um movimento mandibular completo, desde a abertura bucal até a quebra do alimento que se encontra entre os dentes. O ciclo mastigatório inicia-se com a abertura da mandíbula, seguido do fechamento até ocorrer o contato e intercuspidação dos dentes, conhecido como golpe mastigatório, partindo o alimento em fragmentos menores. A cada ciclo, à medida que o alimento vai sendo misturado à saliva, triturado e pulverizado, ocorre redução de sua amplitude e modificações da força empregada (BIANCHINI, 1998). A fase oclusal pode ser reconhecida também como golpe mastigatório. Esta é a fase crucial da mastigação, já que nela é gerada a alta pressão interoclusal, que agindo sobre o alimento interposto entre as superfícies oclusais, destrui-o (DOUGLAS, 1998). Cada abertura e fechamento da mandíbula representa um movimento da mastigação, na qual movimentos de mordida são repetidos várias vezes, enquanto a comida é dividida. Quando o alimento é colocado na boca, a quantidade de movimento lateral também varia de acordo com a consistência do alimento. Quanto mais duro o alimento, mais lateral o movimento de mastigação vai ficar. A duração do ciclo mastigatório é bastente variável, de acordo com a consistência ou resistência do alimento. De fato, a freqüência varia também de acordo com a dureza do alimento, no entanto, apresenta-se muito constante de acordo com cada tipo de alimento, ou melhor, tipo de consistência alimentar. Essa freqüência mastigatória refere-se ao número de contatos interdentários produzidos durante a mastigação habitual, sendo, portanto, relevante para a determinação do tempo total de contato oclusal e/ou tempo oclusal efetivo. O padrão bilateral de mastigação é o ideal, quando existe uma harmonia funcional dos diversos componentes do sistema estomatognático. Nele o alimento é distribuído homogeneamente nas superfícies oclusais dos dentes, tanto do lado esquerdo como do lado direito, apresentando uma distribuição também uniforme das forças mastigatórias. Embora a força mastigatória seja produto direto da magnitude da contração da musculatura elevadora da mandíbula, pode ser modificada por uma diversidade de fatores, dentre eles estão as desordens temporomandibulares. São : sexo e idade, tipo de alimentação, classes dentárias, estado geral dos dentes, características do esqueleto craniofacial. O sexo tem pouca importância, pois a força mastigatória é apenas levemente maior no sexo masculino. Em crianças, em torno de 2 a 3 anos, determinam-se valores similares aos dos adultos. Os grupos humanos que mais habitualmente mastigam alimentos de consistência dura ou fibrosa apresentam valores maiores de força mastigatória. Com relação às classes dentárias, é ao nível do primeiro molar que a força mastigatória é maior, sendo menor nos incisivos. Diante de condições patológicas dentárias, doenças periodontais e o uso de próteses, observa-se, freqüentemente, redução da força mastigatória. Tem-se achado valores altos de força mastigatória máxima funcional, quando há prognatismo. Existe uma força de mordida máxima anatômica, que corresponde à potência contrátil máxima dos músculos elevadores da mandíbula. Estudos anteriores sugerem que os dentes não se contatam durante a mastigação. Outros estudos, no entanto, afirmam que há um contato dos dentes durante a mastigação. Quando o alimento é levado à boca, inicialmente, poucos contatos ocorrem. À medida que o bolo alimentar é dividido, a freqüência do contato dos dentes aumenta. Nos estágios finais da mastigação, um pouco antes da deglutição, o contato ocorre em cada mordida. É evidente que estes contatos influenciam ou até determinam a abertura inicial e final da fase de trituração no momento de mastigação. Foi comprovado que a condição oclusal pode influenciar o movimento completo da mastigação. Durante a mastigação, a qualidade e quantidade de contatos dos dentes constantemente enviam informação ao sistema nervoso central sobre o tipo de movimento de mordida. Este mecanismo de informação permite a alteração do movimento de mastigação de acordo com o alimento a ser mastigado. Pessoas normais mastigam com mordidas que são bem definidas e menos repetitivas. Quando se observa a mastigação de pessoas com problemas de ATM há um quadro repetitivo. A mordida é muito menor e mais lenta e tem um trajeto irregular. Esse trajeto lento, irregular, mais repetido parece relacionar-se com o movimento funcional alterado do côndilo, em torno do qual a desordem se situa. Padrões de Mastigação A mastigação é um estímulo para o crescimento das bases ósseas. Considera-se uma mastigação ideal, como sendo aquela que é realizada bilateralmente, alternando-se o lado de trabalho e o balanceio, o que favorece a saúde das estruturas orais, incluindo-se, aqui, a motricidade. Esse padrão bilateral alternado demonstra uma harmonia morfofuncional das estruturas estomatognáticas, que somente é conseguido, quando existe: uma estabilidade e saúde da ATM; um equilíbrio oclusal; um crescimento e desenvolvimento craniofacial harmonioso; a presença de dentes e boa saúde dental; ausência de interferências dentais ou contatos prematuros e a maturação neuromuscular. Ao abrir e fechar a boca, os côndilos formam um eixo comum, funcionando como as dobradiças de uma porta; deste modo, nenhum movimento será unilateral (FELÍCIO, 1994). Mas, esse é o modo mastigatório menos comum nos casos de DTM, sendo muito freqüente a mastigação unilateral. A mastigação unilateral é um estímulo inadequado ao crescimento, ou até mesmo um empecilho, a estabilização das estruturas estomatognáticas, sendo, portanto prejudicial a todo o sistema estomatognático. Esse padrão de mastigação tem como causa os seguintes fatores: perdas dentais ou cáries, interferências oclusais ou contatos prematuros, assimetria esquelética, doenças periodontais em um dos lados mordida cruzada posterior unilateral e distúrbios da ATM. De acordo com RAMFJORD & ASH (1966), os pacientes que apresentam mastigação unilateral podem apresentar alterações musculares e DTM ao mastigar fora do padrão, principalmente por causa de interferências oclusais. Referem que um padrão restrito de mastigação unilateral pode ser também resultado de uma ação fixadora ou protetora dos músculos do maxilar em pacientes com transtornos da ATM. Se existe um número suficiente de dentes, tais pacientes preferem mastigar do lado da articulação dolorosa, posto que existe maior pressão sobre o côndilo do lado de equilíbrio que no côndilo do lado ativo durante o processo de mastigação do alimento. FIGUEIREDO; BIANCHINI; CRIVELLO (1998) evidenciam o predomínio da mastigação unilateral do lado da ATM mais prejudicada. O mesmo é afirmado por MOLINA (1989). RAMFJORD & ASH (1983) referem que muitos pacientes com dor unilateral em ATM tentam mastigar do lado envolvido e acreditam que assim vão diminuir a pressão do côndilo com disfunção. KUMAI (1993) relata que o lado preferido na mastigação unilateral não é necessariamente contralateral à disfunção. De acordo com FELÍCIO (1999) a mastigação que se perpetua de um único lado pode gerar dores como também DTM, pela hiperatividade muscular e compressão exercida do disco do lado de trabalho, ou a disfunção pode ser do lado de balanceio em decorrência da repetição constante de movimentos de translação do côndilo. A mastigação pode ser do lado da dor se o problema for muscular, ou do lado contrário para evitar a fadiga. A mastigação pode ser da ATM afetada, se a desordem for intra-articular, pois neste lado a translação é ruim. Se numa desordem intraarticular existir uma perfuração do disco, a mastigação poderá ser transferida para o lado contrário ao da ATM afetada. Desta forma, a autora demonstra uma variação na escolha do lado de trituração do alimento, quando nos deparamos com uma mastigação unilateral. Definição Tem-se observado no campo da Fonoaudiologia, que um dos problemas mais freqüentes são as queixas relativas às alterações nas funções neurovegetativas musculares --respiração, acompanhados deglutição de e maloclusão, mastigação, problemas desequilíbrios na ATM e comprometimentos dos músculos mastigatórios, entre outros. A ATM e suas alterações tratam-se de um tema que espelha a realidade da atuação do fonoaudiólogo e que desde a antiguidade começou a ser estudada por outros profissionais. Esses estudos tomaram impulso com COSTEN, que, em 1934, nomeou tais alterações como sendo “Síndrome de COSTEN”. Em 1955, SCHWARTZ, aplicou o termo “Síndrome de dor e disfunção da ATM” para os pacientes que apresentavam problemas de limitação do movimento mandibular, e dor causados nos espasmos dos músculos mastigatórios. LASKIN (1969) sugeriu o termo “Síndrome dor-disfunção miofacial”, atribuindo à tensão emocional o papel de fator principal da disfunção. Mais tarde, WEINBERG (1979) diferenciou o termo dor-disfunção miofacial de dor-disfunção da ATM. Sendo, o primeiro de origem muscular e o segundo, para os problemas articulatórios. ASH (1986) generalizou o termo anterior, denominando-o de síndrome dor-disfunção muscular e da ATM, pois se referia a associação dos distúrbios estruturais e funcionais da articulação dos músculos. Dois depois, MIRANDA passou a chamá-la de Disfunção craniomandibular. anos Em 1989, SOLBERG conceitua “desordens craniomandibulares” e comenta que as mesmas se constituem em desconforto ou disfunções musculoesqueletais no sistema mastigatório, agravadas pela mastigação ou outro uso da mandíbula. PAIVA et al (1990) caracterizam a “Síndrome dor-disfunção estomatognática” como um conjunto de sinais e sintomas que podem se manifestar nos músculos da mastigação propriamente ditos, nas ATMs ou em outras estruturas do sistema estomatognático, como resultado de alterações no seu mecanismo neuromuscular. BARROS (1990) também se refere à ATM como sendo parte essencial de um mecanismo bastante complexo: sistema estomatognático e seus elementos. A ATM não é um elemento anatômico isolado. A American Dental Association passou a utilizar o termo desordens temporomandibulares (TMD). Anatomicamente e funcionalmente, a articulação temporomandibular é uma das articulações mais especializadas do corpo humano. É um elemento do aparelho estomatognático, que constitui um sistema dinâmico, fazendo a comunicação da mandíbula, único osso móvel do crânio, com a base craniana, mais especificamente ao osso temporal. A articulação temporomandibular (ATM) é a articulação responsável pelos movimentos mandibulares, associada à ação dos músculos mastigatórios. Estes movimentos possibilitam a realização das funções estomatognáticas -- sucção, mastigação, deglutição, fala e respiração. Portanto, quando há alteração muscular, e das funções estomatognáticas, cabe ao fonoaudiólogo atuar como membro de uma equipe multidisciplinar. DOUGLAS (1994) classifica-a como uma articulação dupla bilateral móvel, uma “diartrose sinovial bicondílea complexa”, que se movimenta sinergicamente, realizando movimentos sincronizados entre as duas articulações. As ATMs não constituem uma articulação comum, pois, por estarem localizadas uma em cada extremidade de um único osso, a mandíbula, cada côndilo impõe limitações de movimentos, sobre o outro (FELÍCIO, 1994). Para o adequado funcionamento da ATM, três fatores devem estar em harmonia: o equilíbrio neuromuscular, a oclusão dentária satisfatória e a articulação em si (CORREIA, 1995). Desta forma, quando há alguma alteração da estrutura ou da função muscular, pode ser desencadeada uma incoordenação do sistema mastigatório. O sistema estomatognático trata-se de uma unidade morfofuncional localizada centralmente na cavidade oral. É composto por um conjunto de estruturas como: ATM. ossos, dentes, maxila, mandíbula, músculos, ligamentos, espaços vazios, língua, lábio, mucosas, glândulas, sistema vascular e nervoso. Tais estruturas atuam em conjunto, realizando as funções estomatognáticas. Todas essas funções necessitam da participação ampla e complexa dos movimentos mandibulares, que são realizados pela ATM. Além disso, o harmônico funcionamento dessas funções atua como um fator indispensável ao crescimento, ao desenvolvimento e ao equilíbrio do sistema estomatognático. O sistema estomatognático, devido à importância das funções que realiza, exige de suas estruturas suficiente inter-relação harmônica. As disfunções da ATM se relacionam com alguma alteração nessas estruturas, que podem resultar em modificações funcionais, principalmente na mastigação e na articulação da fala. Segundo BIANCHINI (1998), essas modificações funcionais são respostas adaptativas automáticas e efetivadas graças à plasticidade neural do sistema estomatognático, no sentido de viabilizar a função preservando a estrutura. Entretanto, algumas adaptações funcionais são enganosas. Podem propiciar uma sensação agradável temporariamente, mas agravar os sintomas em longo prazo. As DTM são caracterizadas como doenças que envolvem vários problemas clínicos, comprometendo os músculos da mastigação (CABEZAS, 1997). McNEILL, 1993 acrescenta a ATM e estruturas associadas, ou ambos, como também sendo fatores comprometidos. Etiologia / Fatores Associados De acordo com McNEILL (1993), as alterações temporomandibulares são um termo que abrange uma série de problemas clínicos que envolvem a musculatura mastigatória, a articulação temporomandibular e estruturas associadas, ou ambos. Ao se receber um paciente com queixas miofuncionais orais, sejam referentes às funções estomatognáticas ou até mesmo com queixas referentes à voz, faz-se necessário especificar a real etiologia do problema. Atualmente, diversos estudiosos como, como: RICHETTS (1969); LASKIN (1969); FARRAR (1978); ATRINSON & BATES (1982); SOLBERG (1986); REZENDE (1997); OKESON (1998) afirmam que a DTM trata-se de um problema com múltiplos fatores etiológicos. FELÍCIO (1999) analisa os fatores etiológicos das desordens temporomandibulares como um tópico repleto de controvérsias, sendo mais comumente citados os problemas oclusais, neuromusculares e emocionais, associados ou não. BIANCHINI (1998) demonstra uma série de fatores que podem reduzir a capacidade adaptativa do Sistema Estomatognático, levando à caracterização de disfunção. São eles: fatores traumáticos, problemas degenerativos, efeitos de radiação, alterações esqueléticas, fatores oclusais, alterações musculares, hábitos nocivos – parafuncionais, estresse e problemas emocionais. A autora também ressalta que a causa inicial ou o início do processo, em muitos pacientes, acaba se perdendo em queixas que vão se acumulando progressivamente, a cada dia. ODA; ARNAEZ; ANELLI (1999); AGERBERG; CARLSSON (1972) acrescentam a esses fatores, a mastigação unilateral e as próteses dentárias mal – adaptadas. Desordens da articulação temporomandibular estão associadas – dentre outros fatores – ao espasmo, principalmente, dos músculos mastigadores, dos quais destacam-se: masseter e temporal (ODA; ARNAEZ; ANELLI, 1999). Os distúrbios da ATM podem ser vistos, essencialmente, como uma condição patológica originária de desarmonia da estrutura e função dos componentes fundamentais do sistema mastigatório (AU & KLINEBERG, 1993). Em 1959, os estudos de SCHWARTZ enfatizaram os distúrbios funcionais da musculatura mastigatória como sendo originados de alterações oclusais, podendo ser o fator primário na etiologia da DTM. Podemos ainda, unir a análise desses estudiosos às observações de RAMFJORD & ASH, (1966), que afirmam que as lesões das articulações temporomandibulares, com exceção daquelas devidas a trauma externo, são o resultado de atividade muscular anormal com desequilíbrio das diversas partes do sistema mastigatório. MARABELLI; PACHECO ; ANELLI (1995) verificaram alterações da mastigação e a presença de hábitos parafuncionais associados, como fatores agravantes e desencadeantes das desordens temporomandibulares. Por fim, podemos perceber que inúmeros são os autores, que demonstraram as alterações do sistema mastigatório como um fator etiológico das disfunções temporomandibulares. Os Distúrbios da ATM estão associados não somente aos músculos mastigatórios, mas também aos músculos do crânio e das regiões cervical e escapular. SCHWARTZ (1963) refere que o espasmo dos músculos mastigatórios ou precede, ou ocorre simultaneamente com a afecção dos músculos cervicais e escapulares. A oclusão e a tipologia facial determinam a força e modo de mastigar. Talvez por essa razão, o fator oclusal sempre tenha sido classificada como um dos principais responsáveis pela DTM ( PULLINGER; SELIGMAN; GORNBEIN, 1993; PARKER, 1996). Vários fatores podem estar relacionados ao desenvolvimento da má oclusão, como os hábitos orais ciosos, a presença de cáries dentárias (SCHWARRTZ & SCHWARTZ, 1992). Na fonoaudiologia, os estudos a respeito dos hábitos orais, principalmente na infância, mostram a grande interferência destes na funcionabilidade do sistema estomatognático, alterando funções como a fala, a mastigação, a respiração e a deglutição. MOLINA (1989) afirma que hábitos orais são um fator etiológico freqüente na disfunção mandibular. Sabe-se que grandes alterações oclusais podem prejudicar o tecido periodontal e dentário, influenciar desordens musculares e até mesmo articulares. FELÍCIO (1999) relata que dentes em contato forçado significa aumento da atividade dos músculos elevadores, o que pode levar a DTM e à dor, principalmente, se existirem alterações oclusais que impeçam a distribuição equilibrada de forças e / ou que provoquem um deslize da oclusão cêntrica para a máxima intercuspidação habitual. Além disso, a relação de intercuspidação dos dentes também apresenta grande influência sobre as funções de mastigação, deglutição e fala (OKESON, 1992). As alterações oclusais mais relacionadas com a DTM são: mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior unilateral, trespassa vertical e horizontal aumentados e grande discrepância de relação cêntrica para a máxima intercuspidação habitual (PULLINGER; SELIGMAN; GORNBEIN, 1993). As alterações, relacionadas à oclusão dentária, não são necessariamente a causa da DTM, porém muitas são agravantes da desordem (ANELLI, 1997), podendo impedir a realização das funções estomatognáticas com equilíbrio neuromuscular. De acordo com a análise literária, a oclusão é apenas um fator participante na etiologia das disfunções craniomandibulares, não sendo mais considerada como o fator causal primário, como o foi por muito tempo. Pois, pelo que conhecemos até o momento, a DTM não é apenas resultado de maloclusão, existem fatores da vida como um todo que provocam a problemas, como opressão, tensão, angústia, maneiras de se alimentar, repousar e outros. Diferentemente dos outros estudiosos, autores como GELB & BERNSTEIN, (1983); WEINBERGE, (1979) e GREENE, (1979) relatam que as alterações das funções reflexo vegetativas, principalmente a deglutição atípica, surgem como um possível fator etiológico da DTM. BERRETIN; GENARO; TEIXEIRA, (2.000) relatam que existem fatores que predispõem ou agravam a instalação da DTM, por diminuírem a capacidade adaptativa do sistema, são eles: fatores posturais, oclusais, comportamentais, hábitos parafuncionais funcionais, sistêmicos e biopsicossociais. É importante sabermos que os fatores etiológicos podem estar impedindo ou principalmente direcionando o sistema estomatognático para várias adaptações funcionais. Conseqüências: A incidência de distúrbios fonoaudiológicos em indivíduos com desordens temporomandibulares foi investigada por diversos autores. Para as alterações da ATM é descrita uma sintomatologia bastante variável. De acordo com CORREIA (1988), o órgão fonoarticulatório mais afetado, quanto aos movimentos mandibulares é a mandíbula e o que sofre maior incidência de distúrbios, a língua. Desde 1934, COSTEN já descrevia a sintomatologia das DTMs. Os sinais e sintomas mais comuns nos casos de desordem temporomandibulares são: dor na região das ATMs, cefaléia temporoparietal, sensibilidade dolorosa da musculatura mastigatória, otalgia, ruídos articulares, diminuição e desvios na trajetória dos movimentos mandibulares. Existe, ainda, correlação significante entre inabilidade para mastigar e dor, desconforto, apertamento nos músculos mastigatórios, travamento e estalos.na ATM (ALHASSON; ISMAIL; ASH; 1986; McNEILL et al., 1990). Os movimentos de execução da mandíbula, isto é, abertura, fechamento, lateralidade e protrusão encontram-se, freqüentemente, reduzidos e o tônus dos músculos elevadores elevados (FELÍCIO, 1999). As manifestações podem variar de acordo com o tipo de problema que afeta os músculos elevadores da mandíbula: masseter, temporal, pterigóideo medial, bem como outros músculos que podem estar envolvidos, isto é, os faciais, suprahióideos, trapézio e esternocleidomastoideo (FELÍCIO, 1999). Em casos de hiperatividade do músculo pterigóideo lateral, causado por deslocamento do disco articular, pode haver ainda compressão do ramo lingual do trigêmio, resultando em dormência na língua e em distúrbios na fala. ODA; ARNAEZ; ANELLI (1999) demonstram que os distúrbios funcionais da ATM produzem dores uni ou bilaterais na região da articulação temporomandibular. O espasmo dos músculos mastigadores é o fator primário responsável pelos sinais e sintomas da síndrome de dor e disfunção (LASKIN, 1969). Com bastante freqüência, também se encontram afetados grupos musculares anteriores e posteriores do pescoço, e é possível que apareçam dificuldades na deglutição e na fonação, assim como dor cervical e cefaléia (SCHWARTZ & CHAYES, 1973). Segundo FELÍCIO & MAZZETO (1994), a desordem craniomandibular é sinônimo de desordem temporomandibular. O termo envolve alterações na musculatura mastigatória, na articulação temporomandibular em ambas, “O sintoma da dor é mais freqüentemente localizado nos músculos mastigatórios, área periauricular e / ou usualmente agravada pela mastigação ou outras funções mandibulares”. BIANCHINI (1998) observou em seus estudos, que portadores de disfunções da ATM apresentam dificuldade em morder o alimento anteriormente, ritmo mastigatório lento, movimentos predominantes verticais e presença de dor ou de ruído. Padrão unilateral predominante do lado da ATM mais prejudicada, uma vez que o movimento condilar deste lado é de menor amplitude, sendo, portanto menos traumático. Nos trabalhos realizados por PANHOCA; SILVERIO; BORIN; FERES; FUSCH; RAMOS (1998) foi possível observar que a preensão do alimento piora de acordo com o grau de comprometimento da ATM e dos músculos mastigatórios. A função mastigatória nestes sujeitos apresenta-se unilateral com predomínio de movimentos mandibulares verticais. Quanto maior o grau de desordem craniomandibular, maior o comprometimento em relação à dor nos músculos mastigatórios -- masseter e temporal. MOYERS (1991) afirma que os sintomas temporomandibulares são acentuados, quando há uma interferência oclusal. Pacientes com DTM, devido às condições oclusais e, muitas vezes, dor, podem apresentar uma trituração insuficiente, o que os leva também a ingerir os alimentos mal triturados, ou a fazer uma opção por alimentos que exigem menos esforço mastigatório. Devemos estar atentos, pois em alguns casos os sinais e os sintomas caracterizam-se tardiamente ou até durante a terapia fonoaudiológica. É importante que o fonoaudiólogo reconheça todos os aspectos envolvidos, com o intuito de estabelecer as metas terapêuticas necessárias. Incidência Vários são os estudos que apontam a incidência da desordem temporomandibular, sendo predominantemente mais acentuada nos indivíduos do sexo feminino e na faixa etária dos 20 anos aos 40 anos. Podemos encontrar tais resultados nos trabalhos de COSTA et al. (1981); AL-HASSON; ISMAIL; ASH (1986); RAMOS et al. (1992); KOIDIS et al. (1993); KATZBERG (1985); ODA; ARNAEZ; ANELLI (1999). A DTM atinge em especial pessoas adultas numa proporção de 4 mulheres para cada homem (KOIDS et al., 1993). Muitos trabalhos têm sido realizados para explicar a prevalência de disfunção em ATM em mulheres. Um deles atribui a maior preocupação com a saúde pelas mulheres, levando-as a procurarem o tratamento com maior freqüência. De acordo com HELKIMO (1976) não existe uma diferença na incidência, mas na busca pelo tratamento, numa proporção de 4:1. Afirma, ainda, que as desordens temporomandibulares atingem cerca de 20% da população adulta, sendo a média de idade entre 20 e 40 anos, Tanto RIEDER et al. (1983) quanto AL-HASSON (1986) citam outros autores que apontaram as mulheres como indivíduos que sempre procuraram mais tratamento de saúde que os homens. Outro dado apontado como útil no entendimento da prevalência de mulheres com DTM é o que se refere à sensibilidade. FEINE et al. Concluíram que as mulheres são mais sensíveis a estímulos não dolorosos, como odores e tato. RANFJORD & ASH (1996) verificaram que na faixa etária de 24 a 33 anos muitas mulheres vivenciam momentos de modificações em seu papel social o que provoca tensões físicas e psíquicas, podendo induzi-las a vícios de utilização inadequada da mandíbula. Outro fator importante refere-se às alterações hormonais e à tensão pré-menstrual. HELKIMO (1976) relata existir uma tendência da incidência aumentar com a idade dos pacientes. Segundo MOYERS (1991) há uma evidência crescente de que as desordens temporomandibulares podem ter origem no início do desenvolvimento humano. Os estudos epidemiológicos mostram que uma alta percentagem de crianças exibe muitos sinais e sintomas associados com distúrbios temporomandibulares da fase adulta. Assim, certa sintomatologia associada com a DTM em adultos é primeiramente vista em crianças. Certas desordens oclusais na infância predispõem a uma DTM futura. A desordem da articulação temporomandibular não pode ser considerada apenas como uma desordem degenerativa e geriátrica (MOYERS, 1991). CATAPANO & SOARES (1992) verificaram em seus estudos, que há grande incidência de distúrbios fonoaudiológicos em pacientes com disfunção tenporomandibular, entre os quais: alterações referentes aos órgãos fonoarticulatórios, alterações da deglutição e disfonia. Tratamento: O tratamento da DTM tem enfoque predominantemente odontológico. Sob esse prisma, muitas vezes, as outras modalidades terapêuticas são consideradas formas auxiliares de tratamento. Sabe-se que a associação de terapia miofuncional e de tratamento ortodôntico já é bastante conhecida. Contudo a aplicação da terapia fonoaudiológica como tratamento da desordem temporomandibular é recente em termos de pesquisa. Poucos trabalhos sobre DTM referem-se a essa terapia. No tratamento da DTM, a terapia miofuncional é a base da ação da fonoaudiologia, isto é, adequação dos músculos orofaciais às funções, e através delas. Por ser de etiologia e manifestação múltiplas, a equipe de diagnóstico e tratamento é composta por cirurgião-dentista, fonoaudiólogo, psicólogo e fisioterapeuta, sendo que as terapêuticas utilizadas podem variar de acordo com as necessidades dos pacientes (FELÍCIO, 1994). O cirurgião-dentista freqüentemente utiliza como tratamento a placa oclusal miorrelaxante ou estabilizadora. Sua indicação tem como finalidade propiciar a eliminação temporária das interferências oclusais, relaxar a musculatura elevadora da mandíbula, aliviar a dor e favorecer a biomecânica mandibular. É importante deixar claro que o fonoaudiólogo sozinho não tem condições de modificar as funções estomatognáticas, quando existem sinais de alterações nas estruturas. Também não é possível que apenas a terapia miofuncional restabeleça a integridade da ATM, mesmo que parcialmente (BIANCHINI, 1998). A autora acrescenta, ainda, que nossa atuação é benéfica quando o paciente já não apresenta mais sinais de um quadro agudo, além disso, a terapia fonoaudiológica é diversificada e depende da fase de tratamento odontológico em que o paciente se encontra e de quais são seus sintomas atuais. Portanto, em certos casos, a meta na terapia fonoaudiológica será o equilíbrio muscular compatível com a condição oclusal. Exageros na tentativa de se alcançar a “normalidade” podem gerar reações compensatórias, ainda mais prejudiciais ao sistema. FELÍCIO (1994) demonstra a importância da terapia miofuncional nas desordens da ATM, quando afirma que a normalização das funções, geralmente, não se dá apenas em conseqüência da correção ortodôntica, porque os músculos tendem a manter os mesmos níveis e padrões de atividade. Com o objetivo de evitar a manutenção dos padrões musculares inadequados e desenvolver as funções, faz-se necessária a terapia miofuncional. A autora referida relata que durante o período de tratamento ortodôntico, o fonoaudiólogo poderá realizar medidas terapêuticas. Porém, a terapia não deverá ser finalizada antes desse tratamento odontológico, pois, sem uma boa condição oclusal, a adequação dos padrões de mastigação e deglutição será inviável. A terapia miofuncional será concluída, quando se obtiver o equilíbrio de forças linguais e periorais, assim como a normalização de todas as funções estomatognáticas, pois são elas que preservarão as mudanças tanto da oclusão dentária, quanto das bases ósseas. Com relação às funções estomatognáticas, o fonoaudiólogo tem como objetivo estabelecer o equilíbrio funcional. Esta estabilidade muitas vezes depende do restabelecimento de outras estruturas estomatognáticas, como as bases ósseas, a harmonia oclusal, a integridade e saúde das ATMs. De acordo com BIANCHINI (1998), a terapêutica fonoaudiológica, em linhas gerais, pode abranger vários aspectos : termoterapia, massagens, mioterapia, terapia miofuncional e trabalho proprioceptivo. Relata, ainda, que busca ouvir o paciente, para que este possa expressar-se e sentir-se mais tranqüilo. Além disso, o conhecimento e a conscientização do problema são indispensáveis para que o paciente colabore. Com relação a termoterapia referida pela autora, essa deve iniciar-se com a aplicação de calor úmido sobre a região da ATM e músculos masseter bilateralmente. O calor é indicado nos casos crônicos em que exista tensão muscular aumentada e crises de algia. Sua aplicação provoca vasodilatação, aumentando o fluxo sanguíneo e, conseqüentemente, a oxigenação. Leva, portanto, a um conforto rápido, graças a seus efeitos relaxante e relativamente analgésico. A aplicação de calor é contra-indicada em casos agudos de processos inflamatórios, assim como em processos de alterações neurológicas. Já a crioterapia, utilização de baixas temperaturas, tem indicação nos casos de limitações articulares pós-traumáticas e pós-operatórias, relaxamento de espasmos musculares e processos dolorosos agudos. É contra-indicada nos casos de hipersensibilidade ao frio, de doença vascular periférica ou de casos de circulação sanguínea deficiente. A autora referida afirma utilizar calor úmido e massagens previamente à seqüência de exercícios. A execução de massagens deve ser realizada em toda região cervical e facial através de movimentos lentos e rotatórios, porém firmes e repetidos sistematicamente. A mioterapia envolve exercícios tanto para relaxar os músculos quanto para melhorar seu tônus e função. Podem ser utilizados exercícios isotônicos, isométricos e isocinéticos. Trabalha-se também com exercícios miorrelaxantes através dos movimentos mandibulares realizados com uma contra-resistência (MOLINA, 1989), promovendo o relaxamento dos músculos antagonistas. Durante os exercícios não deve ocorrer dor, e a amplitude, freqüência e velocidade dos movimentos devem respeitar os limites individuais de cada paciente. ODA; ARNAEZ; ANELLI (1999) também referem como estratégia terapêutica fonoaudiológica a utilização dos exercícios mioterápicos, massagens e, principalmente, a termoterapia. Segundo MOLINA (1989) os exercícios mioterápicos (isotônicos e isométricos) foram realizados enquanto restauradores do movimento mandibular adequado e indolor, melhorando as propriedades requeridas para a função dos músculos orofaciais. As massagens foram utilizadas como técnicas de relaxamento, visando a percepção corporal, o aumento da circulação periférica, a eliminação de resíduos metabólicos e o alívio da dor e da hiperatividade muscular (BARROS, 1993). O uso da termoterapia com compressas úmidas pode ser realizado com variação de temperatura: quente sobre a musculatura orofacial (MOLINA, 1989); (PAIVA, 1993); (SANTOS JR, 1995); fria sobre as articulações temporomandibulares (SANTOS JR, 1995) ou o uso alternado de ambas. ANELLI (1991) lembra que ao utilizar compressa quente úmida na musculatura, não se deve atingir a região pré-auricular. Quando o uso da compressa está associado à mioterapia, há uma ação conjunta destes sobre os músculos mastigatórios. Desta forma, o músculo temporal, fazendo parte do sistema estomatognático e participando ativamente do processo de mastigação, é um músculo bastante beneficiado com os recursos terapêuticos. O aumento do uso que se faz dos músculos requer um suprimento sanguíneo compatível à atuação de cada músculo. Entretanto, nos casos em que há excesso de resíduos metabólicos e uma hiperatividade muscular, pode haver uma alteração circulatória local. Em razão disso, os pacientes, que apresentam DTM associados a dor muscular, modificam o recrutamento de seus músculos às atividades requisitadas, gerando desequilíbrio e, portanto, dor. Uma vez restabelecido este equilíbrio, a queixa de dor já não se faz mais presente. E este é o objetivo principal da terapia fonoaudiológica no tratamento das desordens temporomandibulares (ODA; ARNAEZ; ANELLI, 1999). Estando a musculatura sem dor e com tonicidade adequada é possível dar maior ênfase ao trabalho específico com os movimentos mandibulares de abertura, fechamento e lateralidade. Para LASKIN & GREENE (1972), as interações psicológicas e os aspectos no relacionamento interpessoais têm grande influência no tratamento dos indivíduos com DTM. ODA; ARNAEZ; ANELLI (1999) também valorizam a interação terapeuta / paciente sendo esta de grande importância para o tratamento das desordens temporomandibulares, embora não possa ser considerada, como fator único no processo de reabilitação. A terapêutica utilizada por FELÍCIO (1994) é baseada em FUNT, PADOVAN e ALTMANN. Naturalmente, com o tempo, as técnicas vão sofrendo transformações devido aos novos estudos e reflexões. Para a autora referida, a meta final da terapia miofuncional na DTM é a adequação das funções estomatognáticas. A mesma considera relevante iniciar a terapia pelas técnicas de relaxamento. FELÍCIO (1994) valoriza bastante a relação educativa entre o fonoaudiólogo e a pessoa-que-se-trata, como forma de relação, troca de conhecimento e investigação, enfim, como terapeuta / paciente se educam para superar a DTM. Trata-se de um trabalho proprioceptivo e de conscientização mútua do problema. O trabalho de conscientização é muito importante para que o paciente compreenda, que o trabalho mioterápico de relaxamento e adequação do tono muscular não tem o efeito rápido, que o paciente espera (ANELLI, 1991). A mastigação será trabalhada sempre que as condições morfológicas permitam. Neste caso o trabalho com esta função é especialmente benéfico, pois propicia coordenação e tônus necessário à estabilidade das outras funções estomatognáticas. Adaptar a mastigação envolve em primeiro lugar que o paciente possa realizar os movimentos mandibulares sem dor e com amplitude suficiente para a execução de tal função. A mastigação deve ser adaptada às possibilidades de cada paciente realizar os movimentos (ANELLI, 1991). Do ponto de vista clínico, o procedimento seria, em primeiro lugar, relaxar os músculos mastigatórios, usando técnicas como exercícios de relaxamento e massagens; o que provavelmente reduziria o excesso ou constante estresse nos músculos e articulações (ODA; ARNAEZ;ANELLI, 1999). A mastigação deve ser realizada bilateralmente, com movimentos cíclicos e com força muscular adequada e simétrica. Os músculos masseteres não devem estar em hipertonicidade. Antes de iniciar este trabalho é necessário que o paciente esteja em condições musculares de se alimentar com alimentos de consistência sólida. FELÍCIO (1993) inclui como uma das etapas de tratamento a modificação alimentar para uma dieta macia, evitando a sobrecarga das estruturas orofaciais. A utilização desta dieta também é evidência nos estudos de ANELLI (1991); BIANCHINI (1998) e ODA; ARNAEZ; ANELLI (1999). BIANCHINI (1998) ressalta que a dieta alimentar vai sendo modificada à medida que o tratamento progride com redução da sintomatologia dolorosa. Cabe ao fonoaudiólogo orientar o paciente quanto à dieta. Deve evitar alimentos de consistência muito sólida, permanecendo com alimentação de pastosa a sólida pouco consistente e ir gradualmente retornando a alimentos mais sólidos, conforme a musculatura venha a ter possibilidade de movimentação sem dor (ANELLI, 1991). Ao trabalharmos a função mastigatória, usando alimento de consistência variada, buscamos facilitar o controle da função para garantir o aprendizado e conseqüente modificação funcional (BIANCHINI, 1998). A musculatura deve ser trabalhada intensamente durante os treinos mastigação, pois é a função que mantém o tônus e não o exercício. BIANCHINI (1998) incentiva inicialmente a mastigação unilateral alternada. O paciente mantém o alimento de um só lado para que perceba mais facilmente a musculatura e movimentos utilizados. A porção seguinte deverá ser trabalhada do outro lado, da mesma maneira. Ao conseguir este controle básico da mastigação, o paciente passa a mudar o lado da mastigação conforme a necessidade imposta pela textura do alimento. Assim, estará estabelecido um controle próprio da função mastigatória dentro das reais possibilidades. Este treino apoiado em mastigação costuma ser amplamente utilizado em casos sem comprometimento desta função. Funciona como um treino miofuncional constante para aumento ou manutenção do tônus dos músculos mastigatórios, já que a estabilidade destes é tão importante ao estabelecimento de todas as funções estomatognáticas (BIANCHINI, 1998). A autora afirma, ainda, que os treinos mastigatórios devem ser realizados somente com alimentos. A utilização de garrotes ou qualquer outro material de borracha é contra-indicada. Tais materiais não respeitam a fisiologia normal da função mastigatória. Não existe a possibilidade de fragmentação e conseqüentemente redução da amplitude do movimento mandibular como ocorre na mastigação normal. Provocam, assim, sobrecarga na musculatura mastigatória. É necessário que a mastigação se torne consciente para que se possa tentar modificá-la. O paciente deve observar atentamente ao menos uma refeição por dia. Paralelamente a essa terapêutica, pode ser necessário um trabalho com exercícios visando à regulação de tônus muscular ou coordenação de movimentos mandibulares. Os exercícios não devem utilizar sobrecarga muscular, pois este tipo de trabalho pode levar ao aparecimento da sintomatologia dolorosa ou desequilíbrio articular. 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS O número de pacientes que procuram o fonoaudiólogo com queixas de alterações na articulação temporomandibular (ATM) e mastigação vem crescendo bastante a cada dia. Contudo, nossa formação acadêmica não nos oferece embasamento teórico-prático suficiente para uma atuação fonoaudiológica eficaz. Diante deste problema, resolvi desenvolver uma pesquisa que enfoque a relação das desordens temporomandibulares com o sistema estomatognático, mais especificamente com a mastigação. A pesquisa foi realizada através de estudo bibliográfico em livros, revistas, internet e outros. Com base nas referências literárias utilizadas, é possível destacar os achados mais importantes no que se refere à relação da articulação temporomandibular com a mastigação. A relação referida é facilmente evidenciada se pensarmos que a mastigação, assim como, todas as outras funções estomatognáticas dependem da estabilidade e da saúde das articulações temporomandibulares, pois são elas que possibilitam os movimentos mandibulares, necessários ao funcionamento dessas funções. A própria mastigação, fazendo parte do processo do crescimento e do desenvolvimento do sistema estomatognático, é estímulo para a continuidade deste e para a manutenção da saúde da ATM, músculos e periodonto. Esta função é um eficiente estímulo para o crescimento das bases ósseas. A remodelação da ATM se dá em conseqüência da mastigação, da deglutição e da fonação. Deste modo, podemos perceber que ao mesmo tempo que o ato mastigatório depende da estabilidade e da saúde da ATM, a mesma serve de estímulo para a saúde e remodelação da articulação. Da mesma forma, a remodelação das ATMs é um dos fatores indispensáveis à realização da mastigação. Outra conclusão interessante se refere aos pacientes com DTMs, que devido às condições oclusais ou a dor, podem apresentar trituração insuficiente, o que os leva a ingerir os alimentos mal triturados, ou a fazer opção por alimentos que exigem menor esforço mastigatório. Acrescenta-se ainda o fato de que as pessoas com problemas de ATM apresentam mastigação com quadro repetitivo. As mordidas são muito menores e mais lentas e têm um trajeto irregular. Esse trajeto lento, irregular e repetitivo parece relacionar-se com o movimento funcional alterado do côndilo da ATM alterada. O padrão bilateral de mastigação é o ideal, porém o modo mastigatório mais freqüente nos casos de DTM é a mastigação unilateral. Esta, quando constante pode causar dores e DTM pela hiperatividade muscular e pela compressão excessiva do disco do lado do trabalho ou do lado do balanceio, caso haja repetição constante do movimento de translação do côndilo. Desta forma constatamos que as desordens temporomandibulares podem modificar o ato mastigatório. Em relação à força mastigatória, esta se apresenta mais fraca. Além disso, é demonstrado que a função mastigatória apresenta-se unilateral com predomínio de movimentos mandibulares verticais. A preensão do alimento e a dor nos músculos mastigatório -- masseter e temporal -- pioram de acordo com o grau de comprometimento da ATM. Se a mesma está pior, maior será o comprometimento mastigatório. Seria interessante que o assunto fosse ainda mais pesquisado, pois a relação estudada não se resume somente aos dados obtidos. Este trabalho poderá trazer contribuições importantes para odontólogos, fioterapeutas, estudantes, pacientes e, principalmente, para os fonoaudiólogos no que se refere à anamnese, avaliação, tratamento, diagnóstico e prognóstico dos casos que envolvam este problema, com o intuito de promover conhecimento aos profissionais interessados, proporcionando à sociedade uma melhor qualidade de saúde 4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANELLI, W. --Atuação fonoaudiológica na desordem temporomandibular. In: LOPES FILHO, O C. --Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo,Roca,1997.p.822-28. BERRETIN,G.;GENAROK.F.;TEIXEIRA,M -- Influenciada desordem craniomandibular sobre a fala.Revista CEFAC.3(2):3-30,2000. BIANCHINI, E.M.G. -- Mastigação e ATM. In: MARCHESAN, I.Q. -- Fundamentos em fonoaudiologia.Rio de Janeiro,Guanabara,1998 a.p.37-49. 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