1 O EMBRIÃO HUMANO NA FASE DE PRÉ-IMPLANTAÇÃO Aspectos científicos, jurídicos e bioéticos A questão da vida humana pré-natal sempre foi e continua sendo um dos temas mais discutidos no âmbito científico-tecnológico e no debate ético, político e jurídico, mas também do ponto de vista de uma avaliação ética e moral. A inevitável pergunta: embrião é já um ser humano? Qual é o estado do embrião? A questão da pesquisa com células-tronco (CT) embrionárias parece trazer o confronto entre o progresso da Ciência e a questão Ética: ou se privilegia uma e se esquece a outra, ou vice-versa. Pesquisadores querem manter a autorização para pesquisas com CT embrionárias o que significa destruir os embriões congelados há mais de três anos e, também, aqueles não congelados que são considerados inviáveis. Como ninguém pretende agredir diretamente a Ética, o argumento é que não se pode comparar a importância de uma centena de células que se pode equilibrar na ponta de uma agulha com uma criança ou um adulto que precisa das CT embrionárias para poder sobreviver. Por outro lado, os que são contra estas pesquisas argumentam que a Ciência deve progredir elegendo outros caminhos que não exijam a destruição de embriões.1 É preciso considerar que nunca na sua história, como nas últimas décadas, a comunidade internacional tomou conhecimento dos espetaculares avanços no campo da biologia molecular e sua tecnologia. O Prof. Dr. Luís Archer, (Presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, de Portugal), em seu livro «Desafios da nova genética» disse que as perspectivas nesse campo fascinam e atemorizam os investigadores, os governos, e as próprias populações, que se perguntam qual o futuro que a nova tecnologia está a preparar para a vida e para a humanidade do nosso planeta. O ser humano chegou a um ponto em que é capaz de manipular a sua formação biofísica, mas isso não significa que o ser humano deva fazer tudo o que é capaz de fazer. Por uma intrínseca dignidade e sacralidade, a vida humana deve ser tratada como tal, como sujeito e não como objeto. O ser humano não é uma coisa, mas uma pessoa única, irrepetível, insubstituível e um valor inestimável. Na pesquisa científica, sobretudo, é necessária uma ética, pois nem tudo aquilo que é tecnicamente possível de fazer é eticamente correto.2 A dignidade do embrião humano assinala o limite de praticabilidade ética de cada possibilidade técnica. 1 Cf. Dra. Elisabeth Kipman Cerqueira, Médica. Pesquisa com células-Tronco embrionárias. Em um estado laico, não se pode impedir a busca por soluções de problemas de saúde (19/05/2008) 2 Cf. Donum vitae, intr. 4. 2 Que o início da vida humana se dá quando o espermatozóide fecunda o óvulo já foi demonstrado em 1827 por Karl Ernst van Baer.3 Não é uma filosofia e nem dogma da Igreja, pois somente com o acúmulo de evidências sobre este fato é que o Papa Pio IX em 1869 propôs que era dever da Igreja defender o embrião humano desde a concepção. Atualmente os embriologistas acrescentaram mais evidências de que a fertilização é o inicio do inicio: a Dra Magdalena Zernica-Goetz mostrou, em 2002, que a primeira divisão do zigoto não se dá por acaso, “ela já define o nosso destino”.4 O nosso destino está determinado no primeiro dia, no momento da concepção.5 O coração das discussões bioéticas a respeito do tema da vida humana nascente se fundamenta sobre o valor e a dignidade a ser atribuída ao ser humano no início da sua existência.6 Ou se admite que o embrião é um indivíduo da espécie humana, ou se deverá explicar como de uma corporeidade biológica não-humana pode surgir um indivíduo humano sem que isso comporte contraditoriedade com a identidade do novo ser humano e a corporeidade biológica precedente. O embrião humano pertencente à espécie biológica humana que se não fosse desde o início verdadeiro humano não poderia tornar-se um (humano), sucessivamente, sem contradizer a própria identidade de essência. A unidade e continuidade do desenvolvimento embrionário exigem, portanto, que, desde o momento da concepção, seja um indivíduo da espécie humana. Não é um ser humano em potência, mas já é um real ser humano. Aspectos científicos O renomado cientista Jérôme Lejeune, que foi professor da universidade René Descartes, em Paris, e dedicou toda a sua vida ao estudo da genética fundamental, descobridor da causa da Síndrome de Down afirmou: “Não quero repetir o óbvio, mas, na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos se encontram com os 23 da mulher, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano estão presentes. A fecundação é o marco do início da vida”.7 Os próprios cientistas chamam o fruto da concepção de zigoto, mórula, blastócitos etc, mesmo porque o humano e o biológico são inseparáveis. Da concepção à morte será sempre o mesmo indivíduo, ou seja, como é sempre o mesmo corpo biológico. Esta célula, que o biólogo nos apresenta como novo ser humano que começa a própria existência ou ciclo vital, é o início de uma nova vida. Então, o zigoto, de que ainda não é possível ver sua forma corpórea, já traz consigo tudo o que é necessário para desenvolver-se e transformar-se em ser humano adulto. Todos os dados genéticos estão 3 Cf. Karl Ernst von Baer (Estônia, 17 de fevereiro de 1792 — Tartu, 26 de novembro de 1876) foi um biólogo e médico alemão, fundador da embriologia). 4 http://www.bassuma.com.br/noticias/verdade_celulas_embrionarias.asp > acesso 18.04.2008. 5 http://cavaleirodotemplo.blogspot.com/2007/12/origem-da-vida-do-ser-humano-e-o-aborto.html (acesso em 18 de abril de 2008). 6 Cf. Pontificia Academia Pro Vita, L’Embrione umano nella fase del preimpianto. Aspetti scientifici e considerazioni bioetiche. Libreria Editrice Vaticana, 2006, 34. 7 Dr. Dernival da Silva Brandão. “O que é um embrião humano?”, em VIDA: O primeiro Direito da cidadania. Gráfica e Editora Bandeirantes Ltda, 2005, 10. 3 presentes desde o momento da fecundação. Não haverá mudanças nas características dessa nova vida humana. O embrião humano até o sexto dia é um ser humano com autonomia total. Alimenta-se de sua zona pelúcida. Na célula inicial há tudo o que a natureza predispõe para o desenvolvimento da nova vida. O embrião caminha ao longo da tuba uterina comandando o corpo da mãe através de hormônios que ele secreta e envia para a mãe. No caso da reprodução assistida o médico tem de fornecer a suposta mãe toda esta complementação hormonal para preparar o útero para receber o embrião. É preciso que seja dito que para se obter as células do embrião ele tem de ser morto. Nenhuma célula da camada que o envolve (trofoderma) pode permanecer porque inibe o crescimento das células de sua massa celular interna, impede-as de se multiplicar. O número de células obtidas de cada embrião também é ínfima, chega no máximo a 150 células.8 Quantos embriões precisam ser assassinados para salvar uma pessoa? Estamos falando de embrião humano e não de qualquer outra espécie, que está seguindo o programa contido no seu genoma e necessita do útero para que seu desenvolvimento seja ordenado no tempo e no espaço. As células arrancadas deste embrião, quando cultivadas apresentam um desenvolvimento caótico. Ao se multiplicarem assemelham-se a células cancerígenas e quando injetadas em animais imunosuprimidos dão câncer. Se diferenciarem em células nervosas, por exemplo, morrem logo, pois não se auto-replicam (não falam a mesma linguagem quando injetado no corpo adulto). Por isso, não se dispõe de exemplo de uma vida, mesmo de roedores, que tenha sido salva com estas células. Como diz a doutora Lenise Garcia: “Que vidão terão estas células extraídas do embrião humano: viverão como câncer num camundongo”.9 A destruição de embriões humanos é, sim, um assassinato igual o aborto de um feto, pois o embrião já é um ser humano de 6-7 dias de vida. É um homicídio antecipado. Usa-se o argumento de que embriões humanos congelados por mais de 3 anos vão para o lixo, pois não geram uma pessoa. Não é verdade, embrião humano congelado por até 13 anos resultou numa criança saudável. Deveriase dar aos embriões que se encontram nas clínicas a mesma chance que foi dada ao Vinícius10 com seis meses de nascido, após oito anos de congelamento, acolhido no útero de sua mãe e, também, as mais 400 crianças nos EUA. O médico responsável pela clínica onde o Vinícius nasceu esclarece que “é uma loucura falarem que embrião congelado há mais de três anos é inviável. E isso não tem nada a ver com religião. A viabilidade é um fato e ponto”.11 Isto demonstra que o 8 Cf. Alice Teixeira Ferreira. Doutora em Biologia Molecular, na EPM, em 1971, pós-doutorado na Divisão de Pesquisa da Fundação Cleveland Clinic, 1972, livre docente na UNIFESP em 1996. 9 Idem 10 Cf. Folha de São Paulo, Domingo, 9 de março de 2008, “Ciência. O Bebê que saiu do frio”. 11 Cf. Folha de São Paulo, 9 de março de 2008, “O Bêbê que Saiu do Frio”. 4 tempo de congelamento não é empecilho para a implantação do embrião no útero materno.12 Partindo da constatação da realidade biológica precisa, porém, sublinhar que o desenvolvimento, assim como o nascimento do mundo sensorial, inicia a constituir-se de uma ininterrupta progressão de eventos que tem o seu início no momento da fusão dos gametas: a partir da constituição do zigoto, à fusão dos gametas, se trata sempre do mesmo indivíduo biológico humano que evolui no tempo até à conclusão do seu ciclo vital.13 Ao descongelar já é possível identificar se as células estão boas. Se estiverem vacuolizadas estão em processo de morte e não serve para nada, pois não se obtém cultura de células mortas. Existem mais de 3000 linhagens de células embrionárias humanas e não se teve nenhum resultado positivo com estas células. No entanto, não existe tal tratamento em lugar nenhum do mundo.14 Há a insistência de que sem o estudo das CT embrionárias não se pode ler o restante do livro do desenvolvimento da ação das CT. Este argumento perdeu sua força desde que pesquisadores no segundo semestre de 2007, quando dois importantes trabalhos científicos, um dos quais de um grupo norte-americano liderado pelo Dr. James Thomsom, da Universidade de Wiscosin (o primeiro a obter uma linhagem de CT embrionárias humanas) e outro, coordenado pelo Dr. Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, no Japão, mostraram a possibilidade de se obter, a partir de CT adultas do próprio paciente, CT humanas pluripotentes sem clonagem e sem destruir o embrião. Estes estudos levaram Ian Wilmut, o “criador” da ovelha Dolly, e uma das autoridades líderes no processo de clonagem por transferência nuclear em células somáticas, a anunciar que ele e sua equipe estavam abandonando, por questões técnicas, a pesquisa em clonagem para fixar-se na investigação de reprogramação celular, que em suas palavras, apresenta “muito mais potencial”.15 As células embrionárias têm como fonte única o embrião que necessita ser destruído para se obter sua massa celular interna. Existem outras fontes destas células que não seja a morte dos embriões. O Dr. Yamanaka diz que “numa clínica de reprodução assistida, ao observar num microscópio um embrião humano, tive mudada a minha carreira científica. Quando vi o embrião, de repente compreendi que havia muito pouca diferença entre ele e minhas filhas. Eu pensei, nós não podemos destruir embriões humanos em pesquisa. Tem de haver uma outra maneira de estudar as células embrionárias” (The New York Times, Dec 11,2007). 12 Muitos outros exemplos podem ser encontrados em http://www.youtube.com/watch?v=Pf9dI3UdWq0 13 Cf. Pontificia Academia Pro Vita, L’Embrione umano nella fase del preimpianto. Aspetti scientifici e considerazioni bioetiche. Libreria Editrice Vaticana, 2006, 38. 14 Cf. Dra. Alice Teixeira Ferreira, médica formada em 1967 na Escola Paulista de Medicina, em 1967, Doutora em Biologia Molecular, na EPM, em 1971, pósdoutorado na Divisão de Pesquisa da Fundação Cleveland Clinic, 1972, livre docente na UNIFESP em 1996. 15 Declaração de Brasília, 26 de março de 2008. 5 Muitos querem comparar o embrião na fase de blastocisto com o paciente descerebrado do qual se colhe os órgãos para transplante. Não é a mesma coisa. O embrião contém o programa completo para gerar não só seu cérebro como todos os demais órgãos, o que não ocorre com a morte cerebral que é irreversível16. A Lei de Biossegurança n. 11.105/2005, regulamenta duas questões num mesmo projeto, ou seja: a produção e comercialização de organismos geneticamente modificados e a pesquisa com CT que permite que os pesquisadores usem CT de embriões criados a partir da fecundação in vitro e que estão congelados há mais de três anos em clínicas de fertilização. O uso desses embriões congelados é considerado por alguns médicos como fundamental para a busca da cura de doenças como diabetes, mal de Parkinson, Alzheimer e outros. À época, o Procurador Geral da República, Dr. Cláudio Fonteles, propôs uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), de número 3.510, impugnando a constitucionalidade do artigo 5º e §§ da Lei de biossegurança, n. 11.105 de 2005. Ao contrário do que tem sido veiculado e aceito pela opinião pública, as CT embrionárias não são o remédio para gerar terapias (ou seja, não são o remédio para todos os males). As CT adultas estão tendo expressivos resultados no tratamento de 78 doenças degenerativas. Todos os resultados em seres humanos veiculados pela mídia têm sido obtidos com o uso de CT adultas multipotentes, extraídas da medula óssea, do cordão umbilical e de outros tecidos. O Brasil é pioneiro nessa linha de pesquisa, com a qual já se trata com sucesso doenças graves: 26 (vinte e seis) tipos de câncer, 16 (dezesseis) doenças auto-imunes, doenças cardiovasculares, oculares, imunodeficiências, doenças neurais, dentre as quais a doença de Parkinson, anemias, desordem metabólicas, etc. Aspectos bioéticos Os aspectos éticos que dizem respeito ao embrião humano pré-implantado (seja as questões mais gerais seja aquela mais concretas relativas, por exemplo, às discussões sobre a possibilidade de utilizá-los para a pesquisa ou como doador de células e tecidos) são extremamente conexos à questão ontológica, isto é, à identificação da verdadeira natureza do embrião humano. De fato, entre a questão ética e ontológica tem uma estreita relação porque o respeito devido a uma entidade depende do seu valor e da sua preciosidade. Com o termo valor não precisa entender o preço de mercado, mas a qualidade objetiva que, no caso do homem, nasce do fato de ter uma natureza racional. O termo dignidade foi formulado exatamente para indicar o valor específico e a 16 Cf. Dra. Alice Teixeira Ferreira, médica formada na Escola Paulista de Medicina em 1967, Doutorada em Biologia Molecular em 1971, pos-doc na Research Division da Cleveland Clinic Foundation , EUA, Livre Docente da UNIFESP/EPM. 6 preciosidade do homem. Para Tomás de Aquino (1221-1274), a pessoa é “o que há de mais perfeito em toda a natureza” (persona significat id quod est perfectissimum in tota natura, scilicet subsistens in rationali natura. S.th. I, 29,a.3 c). A Instrução Donum vitae afirma que cada ser humano deve ser respeitado como pessoa desde a concepção, fundamentando esta assertiva em três argumentos: a) O argumento biológico: os dados hoje fornecidos pela embriologia e pela genética nos permitem afirmar que desde os primeiros estágios de desenvolvimento embrionário nos encontramos na presença de uma individualidade biológica humana; b) O argumento biográfico: é evidente que destruir um embrião humano significa impedir o nascimento de um ser humano; c) O argumento ético: um princípio geral da moral afirma que nunca é lícito agir com consciência dúbia. Na dúvida de encontrar-se na presença de uma pessoa humana, é necessário respeitar o embrião humano como se o fosse; em caso contrário, se aceitaria o risco de cometer um homicídio. Do ponto de vista moral, portanto, o simples fato de estar na presença de um ser humano exige nos seus confrontos o pleno respeito da sua integridade e dignidade: todo comportamento que possa constituir uma ameaça ou uma ofensa para seus direitos fundamentais, primeiro de todos o direito à vida, é considerado gravemente imoral.17 Aspectos jurídicos Nesta perspectiva que reconhece o ser e a dignidade do embrião humano como valores absolutos, nasce o pleno respeito à sua inviolabilidade e a tutela da sua livre expressão, antes de tudo, no que diz respeito aos direitos humanos; respeito que exige procurar sempre o verdadeiro bem da pessoa; de tutelar a autonomia e a liberdade de cada ser humano e de evitar toda forma de instumentalização e discriminalização contra ele. Desta forma, reafirmamos que destruição e o uso de embriões humanos para a pesquisa científica, bem como a sua crioconservação, violam o mais fundamental de todos os direitos, o direito à vida e a indissociável dignidade da pessoa humana, expressos nos artigos 1º, inciso III e 5º, caput, da Constituição Federal. Essa afirmação encontra apoio e plena correspondência nos direitos essenciais dos próprios indivíduos, reconhecidos e tutelados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, artigo 3o: “Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. O Código Civil Brasileiro de 2002 (art. 2º), a exemplo do Código precedente (artigo 4º), resguarda todos os direitos do nascituro desde a 17 Cf. Pontificia Academia Pro Vita, L’Embrione umano nella fase Del preimpianto. Aspetti scientifici e considerazioni bioetiche. Libreria Editrice Vaticana, 2006, 41-42. 7 concepção, o mais fundamental dos quais, e pressuposto de exercício dos demais, é o direito à vida. O art. 4º do Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), ratificado pelo Brasil em 25.09.1992, também estabelece que “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”. Voltamos a insistir que o que determina o artigo 5º e §§, da Lei de Biossegurança, nº 11.105/2005, no que diz respeito à destruição e uso de embriões na pesquisa científica, viola o mais fundamental de todos os direitos, o direito à vida e a indissociável dignidade da pessoa humana, expressos nos artigos 1º, III e 5º, caput, da Constituição Federal, sendo portanto, inconstitucional. Reconhecer que o embrião é um ser humano desde o início do seu ciclo vital significa também constatar a sua extrema vulnerabilidade, e esta vulnerabilidade exige o emprenho nos confrontos de quem é fraco, uma atenção que deve ser garantida pela conduta ética dos cientistas e dos médicos, e de uma oportuna legislação nacional e internacional. Se não garantir ao homem uma real proteção, sobretudo nas situações de sua maior fragilidade, como pode ser sempre tutelado todo ser humano, em toda circunstância?18 Considerações finais Em resumo, desumanizaram o embrião humano. Passaram a atacar a Igreja com argumentos já usados pelos e pelas abortistas. Atacam a religião de um modo geral, pois agora não é só a Igreja que defende a dignidade do embrião humano, mas a religião e afirmam que existe um confronto entre ciência versus religião. O que não é verdade, mas é uma tentativa de desqualificar a defesa do embrião humano por qualquer credo. Usam de chavões, todos bem empacotados e importados dos EUA, onde todo embate se iniciou: - Queremos salvar vidas. - Só com CEs humanas poderemos ter cura de doenças incuráveis. - O SUS vai ter de pagar tratamento no exterior. - A Igreja é retrógrada, quer atrasar o desenvolvimento científico.19 O médico e fisiologista francês, Claude Bernard (1813-1878), considerado o criador da medicina experimental, afirmou em 1865, que “o princípio da moralidade médica e cirúrgica consiste em nunca realizar um experimento no ser humano que possa prejudicá-lo, mesmo que o resultado seja altamente vantajoso para a ciência, isto é, para a saúde dos outros”.20 A possibilidade de sobrepor os conceitos de ser humano e de pessoa conduz a uma posição clara sobre o início da vida humana: quando tem o ser humano, como organismo biológico vivente da espécie humana, tem a pessoa. 18 Cf. Pontificia Academia Pro Vita, L’Embrione umano nella fase Del preimpianto. Aspetti scientifici e considerazioni bioetiche. Libreria Editrice Vaticana, 2006, 42-43. 19 Cf. Dra. Alice Teixeira Ferreira. Roma, 28 de fevereiro de 2008, “Domus Aurelia”. 20 Foi apelidado pelo Prof. I. Bernard Cohen da Univ. de Havard como “um dos maiores homens de ciência de todos os tempos”. 8 Em cada estágio do seu desenvolvimento é sempre a mesma individualidade humana, com uma sua identidade interna desde o primeiro momento da sua constituição.21 É essencial convencermo-nos da prioridade da ética sobre a técnica, do primado da pessoa sobre as coisas, da superioridade do espírito sobre a matéria. A causa do ser humano só será servida se o conhecimento estiver unido à consciência. Os seres humanos da ciência só ajudarão realmente a humanidade se conservarem o sentido da transcendência do ser humano sobre o mundo e de Deus sobre o ser humano (João Paulo II). DIÁLOGO: FÉ - CIÊNCIA - “A ciência sem religião é paralítica, a religião sem a ciência é cega” (Albert Einstein). “A ciência pode purificar a religião do erro e da superstição. A religião pode purificar a ciência da idolatria e do falso absolutismo” ( João Paulo II ). CONCLUINDO: “Devemos avançar de uma ciência eticamente livre para outra eticamente responsável; de uma tecnociência que domina o homem para um tecnologia que esteja a serviço da humanidade do próprio homem” (Hans Kung). TERMINO COM ARISTÓTELES: “O homem, quando ético, é o melhor dos animais; mas, separado da lei e da justiça, é o pior de todos”. Brasília, 23 de maio de 2008. Pe. Luiz Antonio Bento Assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família Membro da Comissão de Bioética (CNBB) 21 Cf. Pontificia Academia Pro Vita, L’Embrione umano nella fase Del preimpianto. Aspetti scientifici e considerazioni bioetiche. Libreria Editrice Vaticana, 2006, 40.