Uso de Controladores Automáticos de Irrigação na Aplicação da Tensiometria Irrigas. Adonai Gimenez Calbo1; Waldir Aparecido Marouelli1; Henoque Ribeiro da Silva1 Embrapa-Hortaliças, Caixa Postal 218, Brasília, DF, 70359-970. E-mail: [email protected] 1 RESUMO O sensor Irrigas está disponível em algumas tensões críticas para o manejo da irrigação de diferentes culturas, através de um simples teste de permeabilidade ao ar. Sensores Irrigas mais uma fonte de gás sob pressão permitem fazer o manejo automatizado da irrigação com ou sem o uso de energia elétrica. Quando requerido, a leitura contínua da tensão da água no solo, usando o Irrigas, pode ser efetuada pela chamada tensiometria gasosa que faz uso da expressão T=P-Pb, onde T é a tensão da água no solo, P é a pressão de gás aplicada e Pb é a pressão de borbulhamento ou tensão crítica da cápsula porosa do Irrigas. Neste trabalho descrevem-se dois controladores com e sem energia elétrica para aplicar a automatização da irrigação utilizando-se o princípio da tensiometria gasosa. Para automatização utilizando-se eletricidade, fez-se uso de uma válvula solenóide, enquanto no sistema sem eletricidade a válvula diferencial recebeu um dispositivo magnético. Esta nova opção de automatização é, presumivelmente, superior aos controladores tensiométricos atualmente utilizados, porque o Irrigas é o sensor de tensão de água mais robusto disponível no mercado. Palavras-chave: ar comprimido, eletricidade, pressostato, substrato, tensiômetro, tensiostato. ABSTRACT Automatic irrigation controllers using Irrigas gaseous tensiometry. Irrigas sensor is presently available in a few critical soil-water tensions for irrigation handling of several crops through a simple air permeability test. Automation is an additional feature that can be added, even without the availability of electricity, if compressed air is available. For continuous soilwater tension monitoring, Irrigas can be applied in the gaseous tensiometric mode using the expression T=P-Pb, where T is the soil-water tension, P is the applied gas pressure and Pb is the porous cup air-entry pressure, with absolute value equal to the porous cup critical soil-water tension. In this article two automatic irrigation controllers are described to operate with a gas pressure adjusting device which enables the use of Irrigas gaseous tensiometry for irrigation management. 1 The electrical controller is designed to operate with electricity driven systems while the second differential controllers is designed to operate with magnetic devices. Solenoid valves are electrical controllers which are energized to control ON and OFF water flow, whereas the magnetic valve operates ON and OFF to control irrigation water supply without electric energy. These automation choices are, presumably, superior to currently used tensiostats, because Irrigas is the most robust soil-water tension sensor available in the market. Keywords: compressed air, electricity, pressostat, substratum, tensiometer, tensiostat. O Irrigas é um sensor de tensão da água no solo para o sistema gasoso de manejo de irrigação recentemente patenteado pela Embrapa (Calbo, 2000). Neste sistema gasoso uma cápsula porosa com tensão crítica apropriada é instalada na profundidade das raízes próximo à planta. À medida que o solo seca a tensão da água aumenta e eventualmente fica maior que a tensão crítica do Irrigas. Nessa condição, a cápsula porosa do Irrigas se torna permeável ao ar e através de testes simples, de permeação por pressurização do ar, verifica-se que é chegado o momento adequado da irrigação (Calbo & Silva, 2001). Atualmente o Irrigas está disponível em diversas versões com tensões críticas (10, 25 e 40 kPa) para atender a maioria das aplicações agrícolas. Como a tensão critica é, em módulo igual a pressão de borbulhamento das cápsulas porosas, pode-se também montar Irrigas de outras tensões com cápsulas porosas especiais, embora de custo mais elevado. Um novo avanço no uso do sistema gasoso de controle de irrigação foi o desenvolvimento da tensiômetria a gás (Calbo & Silva, 2003), para medir de forma contínua a tensão da água no solo e em outros meios. Em tese, dependendo do tipo de instrumento, a faixa de tensão medida por um tensiômetro a gás é entre zero e a tensão crítica da cápsula porosa do Irrigas. Em outras palavras, o tensiômetro a gás, diferentemente dos tensiômetros comuns, contendo água em sua cavidade, pode ser usado para tensões superiores a 100 kPa, bastando para isto empregar cápsulas porosas com pressão de borbulhamento (tensão crítica) maiores do que 100 kPa, já disponíveis no mercado. Por enquanto, a maior dificuldade é obter Irrigas com tensão crítica menor que 10 kPa. Marouelli et al. (2003) obtiveram bons resultados no manejo da irrigação de hortaliças cultivadas em substratos com o uso de Irrigas com cápsulas porosas experimentais de 7 kPa. Essas cápsulas, no entanto, eram mecanicamente muito frágeis e serviram apenas para finalidades experimentais. Com base na teoria da tensiometria a gás, Calbo & Silva (2004) descrevem um procedimento aproximado no qual se usa o Irrigas de 10 kPa e uma cuba de 50 cm de 2 profundidade para controlar a irrigação entre 5 e 10 kPa. A automatização do processo poderá facilitar o manejo da irrigação em condições onde as irrigações são realizadas em regime de alta freqüência, como é o caso do cultivo em substratos ou outros meios que retêm volume reduzido de água. Neste trabalho descrevem-se controladores diferenciais para aplicação da tensiometria Irrigas no manejo da irrigação automatizado, com e sem o uso de energia elétrica. MATERIAL E MÉTODOS Controlador diferencial elétrico para irrigação O controlador (Fig. 1) foi desenvolvido para promover a irrigação quando a tensão da água no substrato elevar-se acima de um valor pré-especificado. A válvula diferencial de pressão ligada ao tubo flexível do Irrigas é constituída de duas câmaras separadas por uma membrana flexível. Estas duas câmaras são alimentadas por uma fonte de ar sob pressão ajustada, através de capilares, cujo fluxo potencial medido a 70% da tensão crítica da cápsula porosa do Irrigas (Pb) é de no máximo 20 ml/min. Em substrato seco a cápsula porosa fica permeável ao ar, e desse modo a pressão na câmara de medição fica menor que a pressão na câmara de referência. Em conseqüência, a membrana flexível pressiona o contator contra os eletrodos causando o fechamento do circuito elétrico. Neste instante ocorre a abertura da válvula solenóide e a passagem de água para irrigação. Conforme a irrigação é aplicada a água se redistribui no substrato até atingir a cápsula porosa do Irrigas. Umedecida, a cápsula se torna impermeável ao ar que entra pelo capilar e, em conseqüência, aumenta a pressão na câmara de medição até esta se tornar igual àquela da câmara de referência. A força exercida pela membrana flexível, então, diminui para zero, abrindo o circuito elétrico e interrompendo a irrigação. Ajuste da tensão da água A tensão da água na qual a irrigação é iniciada foi determinada pelo método de tensiometria a gás 3 (Calbo & Silva, 2003) utilizando-se a expressão: T = P – Pb Eq. 1 Onde T é a tensão da água no solo, P é a pressão de ar ajustada e Pb é a tensão crítica da cápsula porosa do Irrigas. Controlador diferencial magnético Para aplicações sem uso da energia elétrica, o controlador da Fig. 1 foi modificado com a substituição do contator por um imã fixado à membrana e dos eletrodos por uma válvula magnética, que abrem dando passagem para água de irrigação (Fig. 2). A válvula diferencial de pressão ligada ao tubo flexível do Irrigas também é constituída de duas câmaras separadas por uma membrana flexível. Estas duas câmaras são alimentadas por uma fonte de pressão ajustada (cilindro de ar comprimido), através de capilares com fluxo potencial menor que 20 ml/min a 0,7 Pb. Com a cápsula porosa do Irrigas em substrato seco, a pressão na câmara de referência se torna maior que a pressão na câmara de medição, fazendo com que o imã se aproxima da válvula magnética, que sob a ação do campo magnético abre a passagem de água para irrigação. A irrigação é finalizada quando a redistribuição da umidade no solo impregna a cápsula porosa do Irrigas, tornando-a impermeável ao ar. Desse modo se acumula na câmara de medição fazendo com que o imã se afaste da válvula magnética, interrompendo a passagem da água de irrigação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ajuste da tensão de irrigação O ajuste da tensão de irrigação, no sistema gasoso de tensiometria Irrigas, é realizado no regulador de pressão (Fig. 1,2). Para operação no modo diferencial, a pressão de ar aplicada na 4 cápsula porosa deve ser igual ou menor que 0,7 Pb. A razão disto é o fenômeno da histerese, isto é, a pressão de ar para iniciar a permeação de uma cápsula porosa é maior que a pressão do ar em que a permeação do gás é obliterada pelo enchimento dos poros com a água. Usando-se pressões maiores que 0,7 Pb poderá ocorrer mau funcionamento, ou seja, a pressão na câmara de medição poderá não voltar a se aproximar da pressão na câmara de referência, o que é necessário para terminar a irrigação. Capilares O sistema de capilares possibilita que uma única fonte de pressão ajustada de ar seja utilizada para alimentar um número indeterminado de válvulas pressostáticas. A montagem deste sistema pode ser feita com capilares de vidro, que não deformam nem se oxidam, ou de outros de materiais como tubos de cobre e fio flexível (multifio) que são menos estáveis, porém não quebram e são mais práticos. No ajuste dos fluxos erros da ordem de 20% são aceitáveis. O uso de registros de agulha para o ajuste do fluxo de ar não é recomendado, em razão da facilidade com que podem ser, não intencionalmente, desajustados. A velocidade de resposta das válvulas diferenciais aumenta com o fluxo potencial de ar através dos capilares. Porém, capilares de fluxo muito elevado não devem ser usados por causarem pelo menos dois problemas: Primeiro, o gradiente de pressão formado entre a câmara de referência e a câmara de medição diminui com o aumento do fluxo de ar de modo que se o fluxo de ar empregado for muito alto não se consegue o ajuste de irrigação. Segundo, com o uso de fluxo de ar muito elevado consome o gás comprimido do cilindro rapidamente. O consumo de gás é irrelevante quando se usa um compressor de ar. Para cápsulas porosas de 10 a 25 kPa um fluxo de ar potencial da ordem de 10 ml/min é adequado. Para maior praticidade todos os capilares empregados no sistema devem ser padronizados. Com o uso de ar seco e limpo dificilmente ocorre entupimento de capilares. No caso de testes rápidos de borbulhamento, para verificar se os capilares estão entupidos ou com fluxo excessivo, nunca coloque a ponta do capilar em água. Isto poderá deixá-lo obstruído por um longo tempo, podendo, contudo, ser desentupido com ar sob alta pressão. Velocidade de resposta A velocidade de resposta das válvulas diferenciais é tanto: a) menor quanto maior for a pressão ajustada, visto que o ar é compressível; b) maior quanto menor o volume das câmaras de referência e de controle; c) tanto maior quanto maior for o fluxo de ar potencial e d) maior quanto menor a variação de volume de ar causado pela movimentação da membrana entre as câmaras de referência e de medida. Sensibilidade da válvula diferencial 5 O manejo da irrigação em substratos mantidos sob baixa tensão de água (e.g. 5 kPa) requer o uso de válvulas mais sensíveis, enquanto para tensões maiores (e.g. 80 kPa) válvulas menos sensíveis podem ser utilizadas. Esta sensibilidade não deve ser excessiva para evitar que vibrações ou leves movimentos causem acionamento transitório da irrigação. Por outro lado, a sensibilidade será grosseira se para o acionamento a válvulas requer redução de pressão acima de 5% de Pb. A força exercida pela membrana entre as duas câmaras, para atuar sobre o contator (Fig. 1) ou para movimentar o imã (Fig. 2), é proporcional à diferença de pressão e proporcional à área da membrana. As válvulas pressostáticas construídas com diâmetro de 10 cm tiveram sensibilidade de 0,1 kPa para o modelo elétrico e de 1,0 kPa para o modelo magnético. Robustez e aplicações A possibilidade de manter o Irrigas praticamente sem manutenção, a diminuta troca de água para este sensor fazer as medidas, e o fato de fazer medição direta de tensão de água são pontos fortes que justificam o emprego do Irrigas em sistemas de automatização de irrigação. A aplicação dos princípios de tensiometria a gás aumenta a flexibilidade do Irrigas. Uma aplicação particular em que o uso de tensiometria a gás apresenta grande potencial é para o manejo de irrigação de plantas cultivadas em substratos, onde as irrigações devem ser realizadas para tensões entre 5 e 7 kPa. Assim sendo, a partir de um Irrigas de 10 kPa pode-se fazer o ajuste de tensão da água nos níveis interessantes para esta aplicação. Outras aplicações particularmente valiosas do sistema seria para o manejo de irrigação controlada sob tensões superiores a 80 kPa, nas quais os tensiostatos ou tensiômetros comuns não funcionam. Possibilidades de aperfeiçoamento A forma de automatização apresentada neste trabalho é uma maneira muito simples de aplicar a tensiometria gasosa para ajustar a tensão da água no solo e automatizar a irrigação. Certamente a tensiometria gasosa oferece outras possibilidades ainda inexploradas, como por exemplo, a operação com a cápsula porosa constantemente atravessada por um fluxo de ar, o que eliminaria a preocupação com o fenômeno da histerese. Desse modo, ajustar-se-ia a tensão da água não só entre zero e 0,7 Pb, mas na faixa completa, entre zero e Pb como descrito no tensiômetro a gás (Calbo & Silva, 2003). Este tipo de sistema, no entanto ainda não foi desenvolvido, de modo que não sabemos se será tão simples e tão efetivo quanto o sistema diferencial aqui descrito. LITERATURA CITADA 6 CALBO, A.G. Sistema de controle gasoso de irrigação baseado na determinação de umidade do solo por meio de capsulas porosas. 2000. BR PI 0004264-1 CALBO, A.G.; SILVA, W.L.C. Irrigas: novo sistema para o controle da irrigação. In: CONGRESSO NACIONAL DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM, 11., 2001, Fortaleza. Anais... Fortaleza: ABID, p.177-182 , 2001. CALBO, A.G.; SILVA, W.L.C. Novo tensiômetro – rápido, contínuo e opera em tensões superiores a 100 kPa. 32° Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, Goiânia – GO, 28 de julho a 01 de agosto de 2003. Cd-Rom. MAROUELLI, W.A.; CALBO, A.G.; CARRIJO, O.A. Viabilidade do uso de sensores do tipo Irrigas® para o manejo da irrigação de hortaliças cultivadas em substratos. Horticultura Brasileira, Brasília, v.21, n.2, p. 286, 2003. SILVA, W.L.C.; CALBO, A. G. Nova alternativa para a irrigação do tomateiro em solo e em substrato. In: WORKSHOP TOMATE NA UNICAMP, 2003, Campinas. Anais... Campinas: Unicamp: Faculdade de Engenharia Agrícola, 2003. CD-Rom. 7