130550006379 - FBV Cursos Online com Certificado

Propaganda
INTRODUÇÃO
Sintomas de dificuldades de atenção, hiperatividade e impulsividade são
geradores de diversos conflitos nas relações familiares. Sua incidência é muito alta
em crianças: 5% à 13%- uma em 12- e tornam a convivência permeada de
desassossego, agressividade, incompreensão, desajustes e estresse (ROHDE &
MATTOS, 2003, p.21)
As questões suscitadas neste trabalho referem-se às possibilidades do
modelo cognitivo auxiliar na redução dos impactos e amenizar as implicações do
DDA no convívio familiar e escolar.
A escolha do tema deve-se ao fato de que é significativo o número de
pessoas que apresentam traços de DDA - Distúrbios de Déficit de Atenção (segundo
estudo epidemiológico de GOLFETO & BARBOSA (2003)) e pouco o conhecimento
científico que se tem, em nível familiar e educacional, das implicações e
conseqüências desse distúrbio (SILVA, 2003), para outros, transtorno (ROHDE &
MATTOS, 2003). A incompreensão ou intolerância causa prejuízo não só ao
portador, mas a todos que com ele convivem, interferindo na sua vida pessoal
afetiva, familiar e escolar e comprometendo sua capacidade social. É na família que
as atitudes e o comportamento de um DDA mais se fazem sentir, causando
estresse, desentendimentos e constrangimento, porque grande parte das pessoas
pensa que DDA é um problema de caráter e, não psiconeurológico, que pode ser
controlado ou ter seus efeitos minimizados (MATTOS, 2003, p.57).
O objetivo geral deste trabalho é analisar o DDA e suas implicações nas
relações familiares, escolares, procurando na Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC) algumas estratégias para melhorar o desempenho de vida, o relacionamento
familiar e o desempenho escolar, e ressaltar as potencialidades criativas, a agudeza
mental e o dinamismo de pessoas portadoras de DDA.
Este trabalho resulta de pesquisa bibliográfica pelo método dedutivo, que se
desenvolve a partir de informações para os seguintes subtemas: noções
neurobiológicas do lobo frontal, comportamento e concepções do DDA (sintomas e
causa); implicações de DDA na vida pessoal e na convivência doméstica,
recomendações e tratamento para um melhor desenvolvimento; análise da terapia
cognitivo-comportamental (TCC) como recurso para elevar a auto-estima, reduzir o
2
estresse, melhorar a afetividade, ajustar a desempenho executivo, controlar os
sintomas de comorbidades e inquietudes; a criatividade, a agudeza mental e o
dinamismo, pouco estudados em pesquisas como qualidades a serem explorados
em portadores de Déficit de Atenção.
3
CAPÍTULO 1
NOÇÕES NEUROBIOLÓGICAS DO LOBO FRONTAL,
COMPORTAMENTO E CONCEPÇÕES DO DDA;
SINTOMAS E CAUSA
1.1 O Lobo Frontal
O Lobo Frontal apresenta-se como uma região muito especial na modulação
do comportamento humano, isto porque nessa área cruzam-se sistemas neurais
responsáveis pela razão e pela emoção. De maneira simples, para Gauer &
Machado (2009, p.29) o lobo frontal é o diretor da orquestra do nosso cérebro, o
desenvolvimento do lobo frontal pode ser visto como o motor da nossa
encefalização1.
Para Sé & Lasca (2005, p.18)
Lobo frontal: é o principal lobo do cérebro. No córtex frontal esquerdo está
localizado o centro importante para a expressão da linguagem oral e escrita.
A parte motora da fala, responsável pelas articulações dos sons, está
situada na parte inferior do lobo frontal esquerdo, na chamada Área de
Broca. A articulação dos sons da fala é a vestimenta da linguagem. Essa
área é relevante para processar os sons distintos de uma língua, bem como
para a evocação da linguagem. No lobo frontal existe o córtex pré-frontal, o
qual processa as funções intelectuais mais sofisticadas, entre elas a
capacidade de resolução de problemas, a capacidade de julgamento e o
aprendizado de regras sociais e comportamentais. As principais áreas do
controle motor voluntário também se localizam no lobo frontal.
O cérebro é dividido em dois hemisférios e a superfície de cada um é dividida
em lobos cerebrais. Esses lobos são formados por giros ou circunvoluções e
comissuras, que são saliências arredondadas, separadas uma das outras por
espaços chamados sulcos que servem de referência para a divisão dos lobos frontal,
parietal, temporal e occipital. O sulco principal é o central, o qual separa o lobo
frontal do parietal: o sulco lateral ou fissura Sylviana separa o lobo temporal do
frontal e do parietal, e o sulco parieto-occipital separa o lobo parietal do occipital (SÉ
& LASCA, 2005).
1
Representa a capacidade adicional para além dos requisitos necessários para o controle das
funções corporais.
4
Figura 1: Lobos Cerebrais e principais sulcos e giros
(Sé & Lasca, 2005, p.17)
1.2 Hemisfério Direito e Esquerdo: funções e capacidades dos hemisférios
cerebrais
Como se sabe, o cérebro humano é composto por duas grandes partes
chamadas de hemisfério direito e hemisfério esquerdo, separados por uma estrutura
neurológica chamada corpo caloso, que seria uma espécie de ponte, tornando
possível a comunicação entre os dois lados cerebrais.
Desde os primeiros estudos realizados a partir da secção do copo caloso,
analisando assim o funcionamento separado dos dois hemisférios, até as pesquisas
atuais sobre o cérebro como um todo funcional, a partir da integração harmoniosa
dos dois lados, os cientistas vêm esclarecendo, cada vez mais, as funções que
cabem, preferencialmente a cada um deles e a participação de ambos na
manutenção da eficácia cerebral.
O hemisfério direito apresenta algumas capacidades que levam a conceituá-lo
como o hemisfério do contexto, ou seja, ele possibilita se ter uma visão geral do
mundo. Já o hemisfério esquerdo oferece uma visão mais detalhista. Dessa
maneira, pode-se inferir que o lado esquerdo do cérebro escreve o texto de nossas
vidas e o lado direito se encarrega do contexto dessa história.
5
Springer & Deutsch (1998, p. 192) descreve os hemisférios da seguinte
maneira
O hemisfério direito, possuindo algumas habilidades semânticas (de
significado), entende a palavra e comunica alguma informação significativa
para o hemisfério esquerdo. O hemisfério esquerdo, então, forma a
pronúncia de uma palavra com um sentido relacionado, porque ele não
“sabe” exatamente que palavra o hemisfério direito viu. A informação
semântica transmitida pelo hemisfério direito não é suficiente para distinguir
entre sinônimos ou palavras proximamente relacionadas e, assim, os erros
paraléxicos são cometidos pelo hemisfério esquerdo que comanda a fala.
Caprio & Berger (2004, p.46) relatam detalhadamente estes dois hemisférios
sendo como
O lado esquerdo do cérebro movimenta e controla o lado direito do corpo. É
o lado esquerdo do cérebro que contribui para a sua capacidade de
racionalizar e fazer uso da lógica. Ele se baseia firmemente na realidade e
controla a linguagem e a fala. É analítico e bom em articulação verbal. É
bom observador das características individuais e capazes de acompanhar
uma seqüência de eventos lineares. Quando usamos nosso hemisfério
esquerdo, nosso pensamento é lógico e sistemático, ordenando os fatos
passo a passo, parte por parte, um depois do outro, para chegarmos a uma
única conclusão.
O lado direito do cérebro movimenta e controla o lado esquerdo do corpo e
não é racional. É intuitivo e se expressa pelos sentimentos. Tem a ver com
a imaginação, as relações espaciais, a música, a arte e o simbolismo. Ele é
capaz de processar e relacionar simultaneamente muitos tipos de
informação, o que torna possível à pessoa ter antes pressentimentos ou
intuições do que chegar a conclusões analíticas. Seu modo de raciocinar é
paralelo. “Vemos” coisas através desse modo de pensar que podem ser
imaginarias. Vemos como as coisas existem no espaço e como as partes se
juntam para formar o todo. Usando o lado direito do cérebro, nós nos
entendemos com metáforas, sonhamos e criamos novas combinações de
idéias. Quando encontramos algo demasiadamente complexo para ser
descrito, fazemos gestos para torná-lo mais claro. Pelo uso do hemisfério
direito, somos capazes de representar nossas percepções através de
imagens.
Através de todos esses conceitos apresentados, pode-se considerar que o
hemisfério direto e o lobo central são as regiões de grande interesse para se
entender a fisiopatologia dos distúrbios do déficit de atenção e seu tratamento.
Cada hemisfério cumpre uma série de funções no processamento da
informação, mas elas não são exclusivas de cada hemisfério; mesmo em tarefas
muito simples, existe a possibilidade de que os dois hemisférios estejam envolvidos.
Quando se trabalha com tarefas mais complexas cada hemisfério especializado
assumirá o controle, porém o outro não deixará de participar. Os dois se
6
complementam em quase todas as atividades, oferecendo possibilidade de
beneficiar-se da integração do processamento realizado pelos dois hemisférios.
1.3 O Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA)
O Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA) é uma patologia heterogênea, com
sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade em diferentes quadros
clínicos e tratamentos.
Segundo a maioria dos autores, trata-se de um transtorno de origem
neurológica, uma falha nas funções executivas, em que o fator básico é a
desatenção, que se manifesta nas situações familiares, escolares e sociais,
podendo, ou não, ser acompanhada de condutas impulsivas e de hiperatividades.
Assim, o DDA é caracterizado por um desempenho inapropriado dos
mecanismos reguladores da atenção da flexibilidade e da atividade motora. De
acordo com Andrade (2003, p.81) seu início é precoce, sua evolução tende a ser
crônica com repercussões significativas no funcionamento do indivíduo em diversos
contextos de sua vida.
Para Silva (2003) é a situação de um cérebro “envolto em tempestades de
pensamentos que se sucedem incessantemente”, prejudicando a canalização de
esforços na realização de trabalhos com metas e prazos preestabelecidos.
Para Dobson (2003, p.41)
DDA, ou distúrbio do déficit de atenção, parece ser uma síndrome
neurológica herdada que afeta aproximadamente cinco por cento das
crianças nos Estados Unidos. Ela se refere a indivíduos que se distraem
facilmente, têm baixa tolerância para o tédio ou frustração e tendem a ser
impulsivos e caprichosos. Alguns deles são também hiperativos e, portanto,
são diagnosticados como tendo TDAH (transtorno do déficit de atenção
devido à hiperatividade).
Essas crianças têm um padrão de comportamento que as leva ao fracasso
na escola e conflito com os pais. Elas têm dificuldade em terminar tarefas,
lembrar de detalhes, concentrar-se num livro ou trabalho, ou até
permanecer sentadas por mais de alguns minutos. Algumas parecem ser
internamente dirigidas enquanto correm desvairadamente de uma coisa
para outra. São, no geral, inteligentes e criativas, sendo, todavia,
consideradas preguiçosas, disruptivas e terrivelmente desorganizadas...
O impacto que o DDA causa na vida da pessoa pode ser muito variável e
depende de vários fatores. É de extrema importância que seja feito o diagnóstico
adequado e o mais precocemente possível. Esse tratamento é realizado por uma
7
equipe multidisciplinar onde educadores e pais são incluídos como elementos
fundamentais.
1.3.1 Desatenção
Segundo Lipp (2003, p.79)
A desatenção é considerada como uma dificuldade freqüente de prestar
atenção a detalhes, de seguir instruções, de terminar trabalhos escolares
e/ou domésticos. Além disso, a desatenção gera desorganização, leva a
criança a evitar ou a relutar em executar tarefas que exijam esforço mental
constante, a perder coisas e a ser facilmente distraída com relação ao que
acontece à sua volta, parecendo não escutar quando lhe dirigem a palavra.
A alteração alterada leva à distração, ao “sonhar acordado” e à dificuldade de
persistir por muito tempo num único fazer. O foco da atenção é frequentemente
desviado de um estímulo a outro, o que se reflete em várias atividades comuns.
1.3.2 Hiperatividade Física e Mental
É fácil identificar a hiperatividade física de um DDA. Quando crianças, eles se
mostram agitados, movendo-se sem parar na sala de aula, em sua casa ou mesmo
no playground. Em ambientes fechados, mexem em vários objetos ao mesmo
tempo, derrubando grande parte deles no ímpeto de checá-los simultaneamente.
São crianças que costumam receber designações pejorativas como: “bichocarpinteiro”, “elétricas”, “desengonçadas”, “pestinhas”, “diabinhos”, entre outros.
Nos adultos essa hiperatividade costuma se apresentar de forma menos
exuberante, o que acabou por fazer alguns autores no passado pensarem que tal
alteração tendia a desaparecer com o término da adolescência.
Hoje se sabe que isso não é verdade, o que ocorre é uma adequação formal
da hiperatividade à fase adulta. A energia hiperativa de um DDA pode causar-lhe
incômodos cotidianos, principalmente se ele precisar adequar-se ao ritmo não tão
elétrico dos não - DDAs. Para um DDA hiperativo, até mesmo uma escada rolante,
pode tornar-se sinônimo de tortura.
Finalizando Lipp (2003, p.80) relata que
Dificilmente o diagnóstico desse transtorno é feito antes dos quatro ou cinco
anos, já que, até essa idade, a demanda de tarefas que exigem atenção
concentrada é pequena: há uma tolerância maior da família e da escola em
8
relação à hiperatividade, que é percebida como uma variação normal do
desenvolvimento.
O problema é percebido gradativamente, nos diversos ambientes em que a
criança se interage como na escola e na família.
1.3.3 Impulsividade
Antes de tudo, deve-se ter em mente que a palavra impulso tem um
significado próprio. Segundo o Miniaurélio (2001, p. 378) impulso é: 1) ato de impelir;
impulsão; 2)Ímpeto (2); 3) Que Facilmente se excita ou enfurece.
Para Ratey & Johnson (1997, p.192)
O consagrado conceito de “controle de impulso” talvez seja a característica
mais importante que distingue a criança que será amada da que será
rejeitada. A criança DDA simplesmente não pode controlar seus impulsos
como as demais. Corre para o meio da ria, deixa escapar respostas sem
erguer a mão, bate no colega ao lado. Quando um impulso para fazer ou
dizer alguma coisa passa por sua cabeça, ela age ou fala imediatamente,
sem reflexão. Para a criança DDA, a vida é uma questão de disparar
primeiro, perguntar depois.
O adulto com pouco controle de impulso pode ter aprendido a olhar antes
de atravessar, mas continua a sofrer de vazamento verbal. Se passa por
sua cabeça dizer ao chefe que ele é um atabalhoado, ele o faz; se as
palavras “não suporto olhar pra sua cara” afloram em sua cabeça numa
discussão com a mulher, elas saem. Ações precipitadas, impensadas,
saltam tão rápido quanto suas palavras impulsivas: o adulto DDA entra e sai
aos pulos de empregos, relacionamentos, projetos e compromissos. E,
claro, no pior dos casos, a síndrome desenvolvida o torna violento. Para ele
o mecanismo de reflexão, filtragem e censura que todos precisam ter para
funcionar no mundo, é defeituoso.
Pequenas coisas podem despertar-lhe grandes emoções e a força dessas
emoções gera o combustível aditivado de suas ações. Sua mente funciona como um
receptor de alta sensibilidade, que, ao captar um pequeno sinal, reage
automaticamente sem avaliar as características do objeto gerador do sinal captado.
Crianças costumam dizer o que lhes vem à cabeça, envolver-se em
brincadeiras perigosas, brincar de brigar com reações exageradas, e tudo isso pode
render-lhes
rótulos
desagradáveis
como
“mal-educada”,
“má”,
“grosseira”,
“agressiva”, “estraga-prazeres”, “egoísta”, “irresponsável”, “autodestrutiva”, etc. Nas
crianças DDAs esses comportamentos são, além de mais intensos, mais freqüentes.
E é claro que isso será um dos fatores de grande influência na formação de uma
auto-estima cheia de “buracos”. Todo DDA, na vida adulta, apresentará problemas
9
com sua auto-estima e este é o maior de todos os desafios de seu tratamento: a
reconstrução dessa função psíquica que, em última análise, constitui o espelho da
própria personalidade (SILVA, 2003).
Já no adulto DDA a impulsividade também trará sérias conseqüências, além
daquelas já trazidas em sua bagagem infantil. Ele terá aprendido a diminuir
determinados riscos vitais, tais como olhar antes de atravessar uma rua, praticar
certos esportes com proteções adequadas, etc. No entanto, seu impulso verbal pode
continuar a lhe trazer sérios problemas, principalmente em situações em que esteja
sob forte impacto afetivo ou sob pressão pessoal.
Se o comportamento dos DDAs não for compreendido e bem administrado
por eles próprios e pelas pessoas que com eles convivem, freqüentemente,
conseqüências no agir poderão se manifestar sob diferentes formas de
impulsividade, tais como: agressividade, descontrole alimentar, uso de drogas,
gastos demasiados, jogos, tagarelice incontrolável, entre outros.
Para o adulto DDA, aprender a controlar ou mesmo redirecionar seus
impulsos (para esportes, artes, etc) pode muitas vezes ser uma questão de vida ou
morte, ou melhor, uma questão de escolher viver a vida em sua plenitude ou buscar
o fim antes do último capítulo.
O que se vê, na maioria absoluta dos DDAs, é que, no fundo de suas
essências, eles têm um profundo amor à vida, tanto que passam a maior parte de
seu tempo buscando emoções, aventuras, projetos, amores, tudo para viver mais
intensamente. Para eles tudo é MUITO. Muita dor, muita alegria, muito prazer, muita
fé, muito desespero.
1.4 Tipos e Subtipos do DDA
Segundo Silva (2003) existem três tipos básicos de DDAs: DDAs
predominantemente hiperativos e impulsivos, DDAs com desatenção predominante
e os DDAs combinados (desatenção e hiperatividade- impulsividade). Ao longo dos
anos, outras incontáveis distinções não-oficiais foram feitas com o intuito de
entender variações pessoais dentro deste vasto universo formado por milhares de
pessoas que apresentam o comportamento DDA.
Para melhor compreensão este grande grupo foi subdivido em quatro subtipos
na classificação Impulso-Vocacional sendo. A descrição desses subtipos tem o
10
objetivo principal de estabelecer a orientação e direcionamento produtivo de todo o
processo.
O primeiro subtipo é o Desbravador. Sua característica mais marcante é a sua
capacidade em abandonar velhos hábitos e abrir novos caminhos. O impulso criativo
localiza-se na busca mental incessante por novas idéias, projetos, descobertas,
invenções e empreendimentos. Eles estão sempre centrados no que está por vir.
Para eles, o melhor da festa não está nos preparativos nem na festa em si e sim na
próxima, que já “fervilha” em sua mente.
O desbravador é uma pessoa com muita energia mental e que possui um
grande poder de idealizar novos caminhos e possibilidades. Entre eles encontram-se
grandes arquitetos, cientistas, engenheiros, físicos, médicos e muitos outros
profissionais envolvidos na incessante busca de novas e futuras perspectivas. Seu
grande problema é o fato de tenderem a uma satisfação constante, há sempre algo
mais interessante na próxima curva da estrada. Por isso mesmo acabam, com
freqüência, desviando-se de seus propósitos originais antes que possam ser
concluídos.
O segundo subtipo é o acionista. A palavra de ordem de um acionista é a
ação. Seu impulso criativo está localizado no ato de agir todo o tempo e grande
parte de sua energia está colocada em seu corpo, que reluta de forma implacável
contra qualquer tipo de inércia. Diferentemente do desbravador, o acionista vive
fixado nos detalhes existentes no caminho da conclusão.
Em seu subtipo encontram-se profissionais chamados de workaholic, os
desportistas obcecados por sua auto-superação e os apaixonados em correr riscos,
principalmente físicos, em suas vidas cotidianas.
Ele vive hiperfocado em agir dentro da área de atuação que seu impulso
elegeu. Quando esse hiperfoco é exercido na forma de uma atividade laborativa,
tende a ter uma grande aceitação social, uma vez que seu funcionamento costuma
ser associado a níveis de produtividade fora do comum. Isso pode gerar uma idéia
errônea sobre a capacidade produtiva dos demais DDAs.
O viciado em trabalho (workaholic) é tão obcecado em agir no trabalho que
ele pode, na verdade, estender suas tarefas retardando a conclusão das mesmas.
Além disso, tende a atrofiar todos os demais setores de sua vida (pessoal, afetiva,
social e familiar) o que pode lhe render muito culpa e remorso.
11
Já o terceiro subtipo é o artístico. O DDA deste subtipo é aquele cujo impulso
criativo irá concentrar-se em seus sentimentos e sensações. A expressão ou a
transmissão desses sentimentos e sensações ganhará caráter de concretude na
obra de arte manifestada nas mais diversas maneiras: música, pintura, escultura,
poesia, dramaturgia, etc.
Por serem hiperfocados em seus sentimentos, tendem a vivenciá-los de forma
bem intensa, o que pode exacerbar a instabilidade de humor tão típica de todos os
DDAs. O artístico apresenta grande dificuldade em estabelecer relações de
intimidade com as pessoas, em função do medo exagerado pelos sentimentos
despertados nesse tipo de relação. Escondem o seu eu mais íntimo nas vivencias
cotidianas e, tal qual uma roupa de camuflagem, se expressam externamente nas
obras de arte que produzem.
O último subtipo é o performático. Ele é uma variação do artístico, uma vez
que seus inúmeros personagens não deixam de ser uma expressão de seus
sentimentos mais íntimos. A diferença básica e sutil entre o artístico e o performático
está na maneira e na finalidade com que este último utiliza seus diversos
personagens. Em geral, são vários, simultâneos e todos acabam por expressar
facetas do seu complexo comportamento. Na maioria das vezes essa atuação visa
agradar ou distrair os outros, ou ainda encobrir algo que o performático julga estar
faltando-lhe ou incapacitando-o em determinadas situações.
O performático tende a falar muito em publico, dominando conversas com seu
humor refinado e requintado. É muito divertido estar perto deles, com suas reações
rápidas e pensamentos surpreendentes, transformando situações embaraçosas em
momentos de diversão contagiante.
Sua habilidade de desempenho não só cria saídas brilhantes para situações
escabrosas, como também costuma compensar dificuldades sociais e encobrir uma
auto-estima baixa. Eles apresentam-se muito bem na frente de platéias ou mesmo
multidões, no entanto mostram-se bastante embaraçados em situações íntimas do
tipo “cara a cara” afetivo.
Nesse subtipo encontram-se grandes comediantes do circo, cinema, televisão
e teatro. Todos apresentam em comum o grande brilho de contagiar multidões,
fazendo rir e chorar também. Por outro lado, é comum que se apresentem tímidos e
recatados em situações de intimidade pessoal.
12
1.5 O DDA feminino
Diferentemente dos homens, mulheres com DDA podem muitas vezes passar
incógnitas aos olhos mais atentos. Entre elas, predomina o tipo sem hiperatividade,
ao contrário de seus pares masculinos.
Sabe-se que para cada mulher com DDA, em média, há dois homens,
segundo estudos recentes (esta proporção já foi considerada de cinco para um, em
média). No entanto, permanece a dúvida sobre se o DDA é realmente mais
freqüente em homens, ou se é apenas subdiagnosticado em seus pares femininos.
O tipo hiperativo é o menos freqüente na população feminina, mas do mesmo
modo como em meninos, meninas endiabradas dificilmente passam despercebidas.
O preço a ser pago, quando o diagnóstico de DDA não é feito, é bastante alto
para uma mulher. Diferentemente dos homens, das mulheres se espera que sejam
atentas, calmas e dedicadas. Que sejam organizadas e seus gestos delicados.
Mulheres DDAs podem ser muitas coisas, menos convencionais. Tal
característica já pode ser percebida na infância, mas é no florescer da adolescência
que se reveste de contornos bem nítidos. Nessa fase aumentam as exigências e
tornam-se mais complexas as tarefas de qualquer pessoa.
Dinâmicas e inventivas, dotadas da criatividade peculiar aos DDAs, com seus
pensamentos, gestos e dizeres às vezes fora do padrão, essas jovens, quando se
tornam mulheres, provavelmente se encaixarão com perfeição na descrição da
música de Guilherme Arantes “Cheia de charme” notadamente no trecho em que
fala do desejo de se aventurar, de revolucionar.
Suas qualidades mais evidentes, tais como criatividade, energia e iniciativa,
não são estimuladas e reforçadas, na maioria das vezes. A família precisa ter
conhecimento sobre o que é o DDA e como essas meninas podem ser especiais.
O fato é que elas chegam à adolescência e idade adulta quase sempre se
auto-recriminando a cada passo, atitude, pensamento e declaração fora do padrão
imposto.
1.6 Comorbidades
Em grande parte dos casos o DDA não vem sozinho. Ele pode vir em dupla,
em trio, e o que felizmente não é comum, até em bando. Isto se refere à
13
comorbidades, chamado assim em Psiquiatria, ou seja, um ou mais transtornos
psiquiátricos em coexistência com um transtorno primário (de base).
Esses transtornos desenvolvem-se secundariamente como conseqüência do
transtorno primário, pois o desconforto e o sofrimento causados por este atingem de
tal maneira a vida de uma pessoa, que outras síndromes vêm somar-se a préexistente.
No
caso
do
DDA,
a
distração,
os
freqüentes
esquecimentos,
a
desorganização, a perene sensação de que algo está errado, a costumeira
protelação de tarefas que causam muita ansiedade. São características que podem
fazer com que a pessoa DDA acabe por desenvolver transtornos associados, como
ansiedade generalizada, depressão, pânico, fobias, entre outros.
Ainda já outros transtornos que “acompanham” o DDA, não porque são
conseqüência deles, mas porque parece haver uma intima relação em suas origens
biológicas. As mesmas alterações bioquímicas e/ou funcionais parecem estar
envolvidas em transtornos com o DDA e a Dislexia 2.
A presença de comorbidades (outros distúrbios associados) em crianças e
adolescentes pode acontecer em mais de 50% dos casos e piora muito o quadro do
TDAH. As Comorbidades são: DAH com Transtorno Desafiador Opositor (TDO),
TDAH com Transtorno de Conduta (TC), TDAH com Abuso de Substâncias, TDAH
com Distúrbio de Sono, TDAH com Depressão, TDAH com Transtorno de Humor
Bipolar, TDAH com Transtorno de Ansiedade.
1.6.1 Ansiedade generalizada
Ansiedade Generalizada é o transtorno da preocupação interminável e
ruminante. São aquelas pessoas que se organizam em torno da antecipação de
problemas e ficam perscrutando o ambiente à caça de perigos e complicações. Tão
logo o individuo ansioso consiga resolver algo que o aflige, imediatamente parte à
busca de outra aflição.
Segundo Angelotti (2007, p.49)
Dentre os transtornos de ansiedade, o transtorno de ansiedade
generalizada-TAG - é o mais controverso. Apesar de 5%, o TAG, ao meu
ver, é subdiagnosticado pelos psiquiatras brasileiros...
2
Palavra grega que quer dizer distúrbio de linguagem. As principais características desse distúrbio
são: dificuldades na leitura e escrita, soletramento de palavras e compreensão do que se lê.
14
De qualquer modo, trata-se de uma patologia presente na semiologia
mundial da ansiedade, sendo necessária a abordagem de suas
características clínicas e de seu tratamento.
Como não consegue relaxar, permanece pairando em um mal-estar
indefinível e subjetivo, que, por vezes, se manifesta nos mais variados problemas
somáticos, quase sempre causados pela sobrecarga imposta ao organismo pela alta
quantidade de adrenalina constantemente despendida.
Para Angelotti (2007, p.50)
Haveria predominância de acometimento para o sexo feminino (duas
mulheres para cada homem), sendo que a patologia ocorreria,
aparentemente, com maior freqüência na segunda década da vida. Quanto
aos aspectos genéticos, há relatos de 50% de concordância para gêmeos
monozigóticos e 15% para gêmeos dizigóticos. Os parentes em primeiro
grau de pacientes com TAG parecem ser mais propensos a desenvolver o
transtorno. Pacientes com TAG do sexo masculino parecem apresentar
mais tendência a evoluírem- secundariamente- para dependência alcoólica
(Kaplan e Sadock, 2005).
Em relação aos questionários e testes mais citados na literatura internacional
para a avaliação do TAG, Angelotti (2007) apresenta os seguintes tópicos:

Emprego de uma entrevista estruturada bem-estabelecida, segundo o DSMIV como o “Anxiety Disorders Interview Schendule” denominado ADIS-IV;

Questionário de ansiedade e preocupação (Worry and Anxiety QuestionnaireWAQ- Medida dos sintomas do TAG);

Questionário de ansiedade generalizada (Generalized Anxiety Disorder
Questionnaire - GADQ). Instrumento para se mensurar a sintomatologia do
TAG;

Inventário de Ansidade de Beck (Beck Anxiety Depression/ Anxiety
Inventory). Trata-se de medidas gerais de ansiedade e depressão (apud
Caballo, 2003).
1.6.2 Depressão
A depressão, segundo Lipp (2003, p.67) é um distúrbio emocional que passou
a ser considerado em crianças apenas há três décadas: acredita-se que possa estar
presente até mesmo antes de idade escolar. Talvez a demora em considerar a
presença da depressão na criança deva-se ao fato de que existem sintomas dessa
15
desordem que também estão presentes em outros distúrbios emocionais, como no
pânico, no déficit de atenção com hiperatividade3, na ansiedade, etc.
Em uma pessoa com DDA, a Depressão pode desenvolver-se de forma
secundária ao desconforto provocado pelo comportamento DDA, como também
pode surgir primariamente em função de alterações neuroquímicas e/ou funcionais
semelhantes.
A depressão é uma doença reversível, ou seja, há cura completa se tratada
adequadamente. O tratamento médico sempre se faz necessário, sendo o tipo de
tratamento relacionado ao perfil de cada paciente.
1.6.3 Humor Bipolar
O Transtorno Bipolar às vezes pode ser confundido com o DDA porque
ambos os transtornos envolvem um algo nível de energia e atividade. A
característica mais marcante do Transtorno Bipolar é a intensa variação de humor,
indo do poço mais fundo da depressão aos píncaros da exaltação e do entusiasmo
desarrazoados.
Em adultos, a mania é caracterizada pela presença de humor exaltado,
euforia, idéias de grandiosidade e agitação psicomotora, evoluindo, em
alguns casos, para delírios e alucinações. Em crianças, são observadas
sintomas mistos, duração mais crônica do que episódica e aumento da
irritabilidade e da agressividade, com episódios de explosão de
agressividade (“tempestades afetivas”) (SOUZA & PINHEIRO, 2003, p.95).
Embora o DDA também possua mudanças de humor súbitas, o que diferencia
as duas síndromes é a intensidade. O bipolar sempre desce mais fundo e alça vôo
mais alto. A amplitude entre os estados de humor extremos é bem maior que no
DDA. Um DDA pode ser visto como agitado, entusiasmado e “elétrico” e ter
justamente seus pontos fortes em características tais como essas, sendo admirado
por isso com freqüência. Na pessoa com Transtorno Bipolar e que esteja em fase
eufórica, dificilmente será vista da mesma forma.
O DDA embora também tenha alguma oscilação de humor, não chega a
despencar para um estado depressivo, a na ser que realmente entre em Depressão.
3
Conhecido como TDAH, considera-se uma criança que apresenta esse distúrbio se apresentar
desatenção, impulsividade e hiperatividade em um grau que interfira em seu rendimento escolar e em
seus relacionamentos familiares e sociais.
16
Diferenciar os dois transtornos é determinante para o bem-estar do paciente,
visto que a terapêutica psicofarmacológica é completamente diferente, e o que é
eficaz para um é inócuo para outro.
Saber diferenciá-los também é importante na medida em que há possibilidade
de uma pessoa apresentar os dois quadros. Muitas vezes, o DDA passará
completamente despercebido por entre os sintomas muito mais floridos do
Transtorno Bipolar. Mas o DDA pode estar presente e não ser adequadamente
tratado. O médico perceberá que o tratamento não estará sendo tão eficiente como
costuma e poderá ter dificuldades, se não perceber os rastros deixados pelo DDA no
solo caótico do Transtorno Bipolar. Saber identificar esses rastros é uma tarefa
desafiadora que requer observação cuidadosa e dedicada.
1.6.4 O transtorno de conduta e/ou Transtorno Desafiador Opositivo
O Transtorno de Conduta e o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) são dois
distúrbios infantis bastante perturbadores e que causam muita consternação.
Crianças com esses distúrbios são mais do que rebeldes ou problemáticas.
Segundo Pinsky & Bessa (2004, p.137) o Transtorno Desafiador Opositivo é
É uma manifestação precoce ou uma forma branda do transtorno de
conduta. Consiste em comportamentos desafiadores, desobedientes e
destrutivos; ocasionando distúrbios em um dos três domínios - acadêmico,
ocupacional ou social - com a duração de pelo menos seis meses. O
diagnostico também se refere a comportamento colérico e vingativo, alem
de problemas com controle de temperamento. Os sintomas não fazem parte
de um estágio de desenvolvimento e não incluem atos de delinqüência ou
formas de comportamento mais agressivas ou anti-sociais. As atitudes, em
sua maioria, dirigem-se a alguém que representa uma autoridade.
O transtorno pode iniciar já aos três anos de idade, mas costuma ter início
aos oito anos e, em geral, não depois da adolescência. É mais comum em
meninos do que em meninas, mas depois da puberdade a proporção
provavelmente se iguala. Embora seja um quadro de severidade menor, que
não inclui atos de delinqüência ou formas de comportamento mais
agressivas ou anti-sociais, algumas crianças pequenas com esse
diagnóstico, depois de vários anos, passam a desenvolver o transtorno de
conduta propriamente dito.
Pinsky & Bessa (2004, p.138) relatam que segundo o DSM-IV, a ocorrência
de quatro dos sintomas a seguir, durante pelo menos seis meses, caracteriza a
possibilidade de diagnóstico de transtorno desafiador opositivo. Os sintomas (que
devem ser freqüentes) são: perda da paciência; discussão com os adultos; desafiam
regras ou solicitação dos adultos; perturbam as pessoas de maneira deliberada;
17
responsabiliza os outros pelos seus erros; ficam aborrecidas; enraivecidos e
ressentidos; rancorosos e vingativos.
A criança com Transtorno de Conduta (TC) apresenta comportamentos
desajustados, tais como violações de regras, agressões, podendo chegar à
crueldade física, atos delinqüentes, precocidade sexual e um padrão consistente de
desrespeito ou desconsideração aos direitos e sentimentos alheios, entre outros.
Além disso, essas crianças apresentam um risco maior de desenvolver na idade
adulta o Transtorno da Personalidade AntiSocial4.
O TC caracteriza-se por um padrão de comportamento em que se
desrespeitamos direitos básicos dos outros, tais como a integridade física e
a propriedade (...) as alterações de conduta se manifestam não só por um
desvio quantidativo do padrão normal de pequenas violações presentes na
infância, mas pela presença frequente de comportamentos francamente
anormais, tais como assalto e destruição de propriedade alheia (SOUZA &
PINHEIRO, 2003, p.88).
O Transtorno Desafiador Opositivo não é tão grave quanto o Transtorno de
Conduta. Crianças com esse transtorno apresentam um padrão de desafio e
desrespeito a figuras de autoridades e a regras estabelecidas, mas o prognóstico
não é tão preocupante quanto o primeiro e não apresentam o mesmo nível de
agressão, delinqüência e crueldades com outras pessoas ou animais.
Caso a criança apresente sintomas tanto de Transtorno de Conduta como
Transtorno Desafiador Opositivo, considera-se o primeiro como prevalente e
diagnostica-se somente o Transtorno de Conduta, já que este engloba os
comportamentos disruptivos do Transtorno Desafiador Opositivo, sendo, no entanto,
de gravidade muito maior. É importante ressaltar que normalmente o Transtorno
Desafiador Opositivo é considerado como um antecedente do Transtorno de
Conduta.
Em algumas crianças com esses transtornos observam-se também sintomas
do Distúrbio do Déficit de Atenção. Assim, uma criança com Transtorno de Conduta
ou Desafiador Opositivo também pode apresentar Distúrbio do Déficit de Atenção
com hiperatividade/impulsividade.
4
Caracteriza-se por padrões de comportamento de violação e desrespeito aos direitos de outras
pessoas. A pessoa portadora desse transtorno também é conhecida como psicopata ou sociopata.
Geralmente são pessoas manipuladoras, insensíveis e cínicas, incapazes de sentir compaixão por
outras pessoas e também de sentir remorso e culpa por atos prejudiciais que tenham cometido.
18
A criança que é apenas DDA pode apresentar comportamentos problemáticos
muito mais em função da hiperatividade, impulsividade e desatenção do que
comportamentos com a intenção clara de causar prejuízos ou burlar regras.
A criança DDA pode cometer alguns graves erros, pois foi desastrada,
imprudente e impulsiva e não motivada por sentimentos de rancor, vingança ou
sadismo. É preciso fazer com cuidado essa distinção, pois a criança que apresenta
Transtorno de Conduta ou Desafiador Opositivo pode também ter as características
de impulsividade e hiperatividade do DDA, mas o temperamento primário é bastante
diferente, assim como a motivação para os comportamentos problemáticos.
Essa criança sofre com seus problemas, ao passo que as crianças com
Transtorno de Conduta e Desafiador Opositivo (principalmente a primeira),
normalmente não apresentam sentimentos de culpa ou arrependimento. Já a criança
DDA tem remorso até pelo que não fez, mas pelo qual se atribui a culpa por ter a
experiência de ser bastante criticada e ter baixa auto-estima.
1.6.5 Abuso de drogas e álcool
Existe uma relação bem estreita entre o Distúrbio do Déficit de Atenção e o
uso e/ou a dependência de substâncias denominadas “drogas”. Nesse universo tão
complexo, as pessoas defrontam-se com uma triste realidade: pessoas com DDA
são mais propensas ao uso de drogas do que outras que não apresentam tal
funcionamento mental.
A Comorbidade do [DDA] com abuso de álcool e drogas tem sido alvo de
crescente interesse por parte dos profissionais de saúde, educadores, pais
e pacientes graças a alta prevalência de ambas as condições e aos
comprometimentos que estas acarretam. O abuso de drogas tem sido
correlacionado a dificuldades acadêmicas e sociais, além de predispor a
condutas antisociais (SOUZA & PINHEIRO, 2003, p.91).
Segundo Silva (2003) estima-se que somente nos Estados Unidos existam
entre 10 e 15 milhões de pessoas com Distúrbio do Déficit de Atenção e que,
aproximadamente, 40 a 50% delas façam uso de drogas. Vale ressaltar que esses
números não incluem os indivíduos com DDA que utilizam a comida, jogo, sexo,
compras e outros comportamentos de forma compulsiva que poderiam ser incluídos
na categoria de dependentes.
19
O tratamento dos usuários de drogras, portadores de DDA com alguma
comorbidade, deve incluir uma criteriosa e controlada medicação, acompanhada de
apoio psicológico individual e familiar.
1.6.6 DDA e suas dependências
Pessoas DDA possuem grande tendência a dependências em geral. Tal
dependência muitas vezes pode se manifestar em uso de drogas e remédios,
conforme visto anteriormente.
Estabelecer relações, saudáveis ou muitas vezes não saudáveis, é fator
primordial para sua estabilidade pessoal, que sempre irá manifestar-se em maior
aproveitamento de seu potencial produtivo.
Segundo Silva (2003) as relações de dependência de pessoas DDAs podem
ser classificadas de três maneiras genéricas:

Dependência Ativa: o adulto DDA irá desenvolver esse tipo de dependência
de pessoas, caso tenha sido uma criança que teve sua estruturação
emocional iniciada em um ambiente de insegurança, que acabou por
despertar-lhe medos racionais ou irracionais contra os quais se viu impelido a
enfrentar.

Dependência Passiva: desenvolve esse tipo de dependência com as
pessoas, caso tenha sido uma criança que provavelmente teve sua estrutura
emocional iniciada em um ambiente em que seus cuidadores tinham
tendência a superprotegê-la.

Dependência Mascarada: é um tipo disfarçado de dependente. Quando
criança apresentou história de viver em um ambiente que não lhe fornecia
segurança.
1.7 Diagnósticos
O DDA é um dos tratamentos com maior evidência científica em toda
psiquiatria e até mesmo dentro da medicina.O diagnóstico precoce e o tratamento do
DDA são necessários e importantes para uma melhora na sua vida. Com base na
afirmação de Rohde (2003, p.32)
20
Quando se tem a opção de se medicar uma pessoa é preciso fazer uma
comparação com a opção de não medicá-la. O DDA não tratado está
associado a diversos problemas, que vão de dificuldades na escola,
problemas no emprego e nas relações interpessoais, o maior risco de
dependência química, uso de drogas e acidentes de trânsito. Essa é uma
lista bastante grande de argumentos a favor do tratamento médico do DDA.
O estudo da vida do DDA em família, não excluiu os reflexos domésticos, do
desempenho escolar e da convivência social - eventos transversais que influenciam
o desenvolvimento das relações familiares e podem acentuar ou atenuar os
sintomas de déficit de atenção.
Costuma-se afirmar que o melhor critério para se diagnosticar o DDA é a
própria história pessoal vista pelos mais diversos ângulos de sua existência:
escolar/profissional, familiar, social e afetiva. A visão global é que dá oportunidade
de criar, de maneira empírica, porém bastante adequada, o critério para estabelecerse a necessidade de um tratamento para essa alteração. Um DDA precisa muito
mais de um ajuste no seu comportamento do que, na verdade, um tratamento, e o
que determina sua necessidade é o desconforto sofrido por ele na sua vivência
diária.
Silva (2003) estabelece algumas etapas fundamentais no processo de
diagnóstico do Distúrbio do Déficit de Atenção:
1ª Etapa: procurar um médico especializado no assunto para que a pessoa possa
expor suas idéias sobre a possibilidade de possuir esse tipo de funcionamento
comportamental.
2ª Etapa: relacionar para o médico suas dificuldades e desconfortos nas áreas
profissional/escolar, afetivo-familiar e social, citando exemplos situacionais claros.
3ª Etapa: verificar se esses problemas o acompanham desde a infância.
4ª Etapa: certificar-se de que suas alterações se apresentam em um grau
significamente maior, quando comparado a outras pessoas de seu convívio, que se
encontram na mesma faixa etária e em condições socioculturais semelhantes.
5ª Etapa: eliminar a presença de qualquer outra situação médica ou não médica que
seja capaz de explicar as alterações apresentadas no seu comportamento, bem
como os transtornos que elas lhe causam no dia-a-dia.
Silva (2003) ainda relata que existe atualmente uma postura de consenso na
comunidade médica em se adotar o sistema americano de diagnóstico, conhecido
21
pela sigla DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) da
Associação Americana de Psiquiatria, em função de esta permitir o diagnóstico do
DDA para adolescentes e adultos, mesmo que estes já não preencham os critérios
infantis com a mesma forma ou intensidades ocorridas na fase inicial de suas vidas.
Finalizando Silva (2003) relata que testes psicológicos também podem ser
instrumentos para auxiliar o processo de diagnóstico do DDA. Para crianças, um dos
mais aceitos e largamente utilizados é o WISC (Wechsler Intelligence Sca/e for
Children), teste de inteligência e execução, composto de subescalas para
habilidades verbais, espaciais, de atenção, etc. O WAIS (Wechs/er Aduít Intelligence
Scale) é um teste de características semelhantes, desenvolvido para a população
adulta. Os resultados de tais subescalas, quando apresentam determinadas
discrepâncias, podem fornecer indicativos para o diagnóstico do DDA.
1.7.1 Diagnósticos em crianças
O DDA é caracterizado por três principais sintomas: distração, impulsividade e
hiperatividade. O sinal que pode diferenciar uma criança DDA de outra que não seja
é a intensidade, a freqüência e a constância dessas três principais características.
Tudo na criança DDA parece estar “a mais”.
O principal instrumento de um médico, psicólogo ou outro profissional
habilitado que queira avaliar a possibilidade de uma criança ser DDA é pura e
simplesmente a observação, uma observação muito especial, ou seja, um
observador que deve estar treinado a captar as nuances, não só no comportamento
manifesto da criança, como também deve “pescar” nos relatos de pais e/ou
cuidadores, professores e de outras pessoas que convivam com a criança, os fatos
e acontecimentos que caracterizam uma criança com DDA (SILVA, 2003).
Uma criança pode ser DDA, se aquela tríade de funcionamento for muito mais
intensa e freqüente, quando comparada com crianças que sejam da mesma idade.
Portanto, deve-se conhecer profundamente o comportamento e as características
infantis de uma forma geral, e não somente daquelas que apresentam algum tipo de
transtorno.
De forma resumida Silva (2003) apresenta dez dicas ou itens que podem
auxiliar no sentido de dar o primeiro passo rumo ao diagnóstico de DDA em uma
criança. São elas:
22
1- Com freqüência mexe ou sacode pés e mãos, se remexe no assento, se
levanta na carteira. Não consegue se manter-se quieta, mesmo em situações
em que se espera que o faça.
2- É facilmente distraída por estímulos externos. A criança DDA tem a atenção
tão dispersa que qualquer estímulo, um barulho, um movimento, a impede de
concentrar-se em alguma tarefa por muito tempo.
3- Tem dificuldade de esperar sua vez em brincadeiras ou em situações de
grupo. Esperar em filas é um suplício para uma criança DDA, assim como
esperar sua vez em brincadeiras; frequentemente interrompe os colegas e
fala excessivamente.
4- Com freqüência dispara respostas para perguntas ainda não completadas.
Isso ocorre, pois tão logo vem algo à mente de uma criança DDA (e de
grande parte dos adultos também) ela coloca em palavras, muitas vezes
atropeladamente.
5- Tem dificuldade em seguir instruções e ordens. Ela não quer se insurgir
contra a autoridade, ou seja, não é exatamente rebelde. Faz as coisas ao seu
jeitinho e insiste nisso.
6- Tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou mesmo atividades
lúdicas. A criança DDA se entedia rapidamente. Sua atenção é fluida e
escorregadia. Metaforicamente, muda de estado físico repentinamente.
7- Frequentemente muda de uma atividade inacabada para outra. Esta outra
característica está intimamente encadeada com o anterior. Quando estão
entretidos em uma tarefa ou projeto, crianças DDA acabam pensando em “n”
outras coisas diferentes para fazer e fazem.
8- Tem dificuldade em brincar em silêncio ou tranquilamente.
9- Às vezes falam excessivamente. É bastante comum que uma criança DDA dê
voltas em torno de um assunto antes de conseguir chegar ao ponto.
10- Vive perdendo itens necessários para tarefas ou atividades escolares. Se a
criança é “avoadinha” e frequentemente esquece de fazer o trabalho de casa
ou de levar o lanche para a escola, fique atento.
23
CAPÍTULO 2
IMPLICAÇÕES DO DDA NA VIDA PESSOAL E NA
CONVIVÊNCIA DOMÉSTICA, RECOMENDAÇÕES E
TRATAMENTO PARA UM MELHOR DESENVOLVIMENTO
2.1 Aos pais e/ou cuidadores de crianças DDA
Segundo Silva (2003) o passo inicial para todos os pais e/ou cuidadores é o
conhecimento, pois, quanto mais eles estudarem, mais se informarão e a si próprio
educarão sobre o problema de seus filhos. Assim estarão mais preparados para lidar
com eles de forma mais apropriada. Conhecer profundamente o problema capacitará
os pais e/ou cuidadores a enxergarem o mundo através dos olhos de seus filhos.
É importante que os pais e/ou cuidadores também se auto avaliem e
identifiquem em si mesmas características de impulsividade e desatenção que
podem atrapalhar a convivência e causar falhas no processo de educação de seus
filhos.
O
passo
seguinte
é
conseqüência
do
primeiro:
saber
diferenciar
desobediência e inabilidade. Uma vez que os pais e/ou cuidadores conheçam
suficientemente bem o problema, eles estarão aptos a distinguir quando a criança
está sendo desobediente e rebelde, ou quando, simplesmente, não está
conseguindo controlar seus impulsos e fazer o que eles ou outras pessoas
responsáveis estão pedindo.
A criança DDA esta frequentemente recebendo punições e verbalizações
negativas por atos que ainda não aprendeu a controlar, sem muitas vezes ter a
intenção de ser desobediente ou opositora. É de extrema importância que os pais
e/ou cuidadores aprendam a dar ordens positivas.
Punir uma criança por um ato impulsivo, irá surtir provavelmente efeito por
algum tempo. Mas, devido à natureza impulsiva do ato, não se passará muito tempo
até que ela volte a incorrer no mesmo erro, e assim estará deflagrada a
desagradável situação familiar em que os pais e/ou cuidadores tornam-se ralhadores
e a criança, temerosa ou mal-humorada.
O próximo passo é saber dar ordens positivas. Isso vai um pouco contra o
que se aprende a fazer, de forma não espontânea, levando um pouco de tempo e
24
pratica até que se acostume. Em geral, destaca-se no ambiente o que desagrada,
em detrimento das situações agradáveis. Uma criança é constantemente
repreendida, quando não faz o que se espera que faça, ao mesmo tempo em que
não é elogiada, quando faz o que dela se espera.
É bem provável que a criança DDA obedeça por um tempo, até que se
distraia e sua impulsividade dê novamente partida para outros entra-e-sai. Então se
ralha de novo, e assim sucessivamente, até criar-se um clima desagradável.
A criança deve ser imediatamente recompensada, logo após comporta-se
adequadamente. Se isto não acontecer e os pais e/ou cuidadores esquecerem esse
importante detalhe, a criança não conseguirá distinguir o que deve e o que não deve
fazer, apenas temerá pelo que sabe que desagrada aos pais e/ou cuidadores. Outro
aspecto imprescindível é que a criança deverá ser recompensada a cada avanço
que fizer.
O importante é festejar com ela cada degrau que ela for conseguindo subir,
estimulando-a a ir adiante. Jamais podemos nos esquecer de que, para a criança
DDA, elogios, incentivos e demonstrações de amor são o aditivo mais eficaz para a
grande quantidade de combustível que ela tem, mas que eram queimados
inadequadamente ou subutilizados, seja pelas características especificas do
comportamento DDA, seja pela grande quantidade de repreensões que ela ouve e
abalos que são imputados em sua auto-estima. As recompensas pelos bons
comportamentos poderão ser escapadas.
Com o tempo e a repetição, a criança começará a internalizar os
comportamentos adequados e não precisará ser reforçada sempre e imediatamente.
Mas lembre-se que no começo, não adianta dizer que ela terá uma recompensa
daqui a uma semana. Para um pequeno DDA, uma semana é tempo demais.
O último passo e a continuidade dos anteriores e seu objetivo principal é
sempre promover o sucesso da criança. Hábitos arraigados são difíceis de mudar,
mas não impossíveis. Trata-se de abandonar o padrão antigo de valorizar mais as
atitudes negativas da criança e mudar para um padrão de sempre incentivar,
reforçar e promover o sucesso dela. Dê mais atenção aos bons momentos.
Não deixa passar a oportunidade de recompensar imediatamente sua criança,
quando ela estiver se comportando adequadamente, aliás, recompense-a sempre
pelos pequenos passos que conseguir dar em direção ao objetivo.
25
Acostume-a querer o sucesso, a perseguir o bom resultado. Mostre sempre o
quanto você a ama e o quanto fica feliz, diante de cada pequena coisa que ela
conseguir fazer. Ela se esforçará por agradar aos pais e/ou cuidadores, e aos
poucos irá recuperando sua autoconfiança ou construindo a que nunca teve.
É necessário ser paciente e esperar o tempo da criança. Algumas aprendem
mais rapidamente, outra mais lentamente. Seja sempre coerente e constante. Diga
sempre o porquê de a criança estar agindo errado e diga-lhe o que e como fazer, ao
invés de dizer somente o que não fazer. Seja constante e aja sempre da mesma
maneira, não desista ou perca a paciência. E claro, recompense-a cada pequeno
passo. Promova o sucesso de seu pequeno DDA.
2.2 Medicações estimulantes e antidepressivas
Os medicamentos psicoestimulantes, quando adequadamente receitados e
monitorados são eficazes para 75 a 80% das pessoas com DDA. Esses
medicamentos incluem a Ritalina®, Dexedrine®, Adderal® e Dosoyn®. É importante
ressaltar que quando utilizados para tratar DDA, a dosagem utilizada é muito menor
do que alguns dependentes costumam usar para ficarem “altos”. Quando um DDA é
propenso a esse tipo de medicação, ele não se sentirá “elétrico” ou “alto”, ao
contrário, ele retratará um aumento na habilidade de se concentrar e controlar seu
nível de atividade física e mental, assim como seus impulsos.
Medicamentos não-estimulantes como Efexor®, Pamelor®, Prozac®, Cylert®,
Zyban® e Zoloft® também podem ser eficazes em aliviar os sintomas de DDA em
muitas pessoas. Tais medicamentos são frequentemente usados em combinação
com psicoestimulantes. Ambos em pequenas doses. Os medicamentos nãoestimulantes não apresentam nenhum risco de abuso e/ou dependência.
Atualmente é comum médicos que hesitam por diversos motivos, em usar
medicamentos psicoestimulantes para tratar DDAs, entretanto, a pratica clinica tem
revelado que quando uma pessoa, em recuperação de dependência, mostra-se, de
fato, disposta a utilizar medicamentos com o objetivo claro de aumentar a eficácia de
seu tratamento, a possibilidade de abuso é muito rara.
A chave de tudo é o envolvimento do individuo em um programa de
tratamento informativo-educacional com uma supervisão dos medicamentos,
intervenções comportamentais e participação em terapias individuais e/ou de grupos
26
no processo adaptativo dos DDAs e vinculação com programas de recuperação de
dependentes.
O uso de medicamentos no DDA costuma produzir resultados eficazes na
grande maioria dos casos, contribuindo para uma mudança radical na vida dessas
pessoas. Para que isto ocorra, é fundamental que se definam os sintomas
causadores de maior desconforto, em cada caso ou situação, da forma mais objetiva
possível.
Mas deve-se lembrar que a medicação por si própria não constitui todo o
tratamento do DDA. É apenas mais uma etapa no processo global de tornar a vida
da pessoa mais confortável e produtiva. A etapa medicamentosa é um complemento
útil, e muitas vezes, poderosa, mas jamais deve ser considerada isoladamente na
complexa engrenagem de qualificar o cotidiano de um DDA. O uso de qualquer
medicação deve ter a orientação e acompanhamento médico especializado.
Neste contexto, o papel de um psicoterapeuta é indispensável. Ele atua
através da psicoterapia. Para o autor Gilliéron (1996, p.115)
Todo psicoterapeuta tem sua personalidade. Um possui temperamento
autoritário, outro é mais submisso. O “autoritário” é, sem dúvida, mais
sensível às veleidades de autoritarismo dos pacientes submissos, mais
sensível a uma atitude demasiado submissa. Esse simples fato mostra que
é indispensável ao psicoterapeuta ter algum conhecimento de si mesmo no
momento em que recebe o paciente. Sua reação emocional é produto do
encontro entre sua própria personalidade e a do seu paciente. Isso deve,
todavia ser fortemente matizado por um fator importe: a assimetria racional
do enquadre da consulta e a abstinência que o terapeuta se impõe.
Em virtude de sua função, o terapeuta esforça-se por conhecer seu
paciente. Ele deve, portanto, para deixar o máximo de espaço a este último,
eclipsar-se e fazer abstração de seus próprios desejos. Isso para atingir um
objetivo: desvelar os problemas de seu interlocutor...
2.3 Terapia Cognitivo- Comportamental (TCC)
Segundo Piccoloto, Wainer & Picoloto (2007)
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem
relativamente recente, surgida nos Estados Unidos no final da década de 50
e início da década de 60, tendo como precursores os trabalhos de George
Kelly, Albert Ellis e Aaron Beck. A originalidade e importância das idéias
iniciais destes teóricos fortaleceram a expansão de inúmeros estudos e
publicações, que revolucionaram e continuam provocando mudanças no
paradigma da prática psicoterápica. Por ser uma abordagem integradora
que estabelece uma intercomunicação com outras áreas do conhecimento
humano, como a Psiquiatria, as Neurociências, a Psicologia Cognitiva
Experimental, a Inteligência Artificial, entre outras, seus estudos e
aplicações têm alcançado resultados altamente eficazes e duradouros no
tratamento das diversas psicopatologias
27
Geralmente a TCC é administrada por um período determinado de tempo
durante o qual se ensina várias técnicas para que consigam controlar seu problema.
Na Terapia Cognitiva Comportamental a ênfase é colocada diretamente na
modificação dos problemas e não nas explicações de porque eles começaram.
Uma abordagem típica da terapia comportamental é chamada de "reversão de
hábito" onde envolve o aumento da percepção do paciente de cada episódio que
traz desconforto e da capacidade de interromper isso por meio de uma resposta
competente. Técnicas para aumentar a consciência incluem identificar os
desencadeantes
comportamento.
e
as
seqüências
de
acontecimentos
associados
com
o
28
CAPÍTULO 3
A CRIATIVIDADE, A AGUDEZA MENTAL E O DINAMISMO,
POUCO ESTUDADOS EM PESQUISAS
COMO QUALIDADES A SEREM EXOPLORADAS EM
PORTADORES DE DÉFICIT DE ATENÇÃO
Como visto, a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) tem sido empregada
com muito proveito, por envolver o próprio paciente na busca de uma vida
mentalmente mais confortável e de um razoável estado de satisfação consigo
mesmo. A compreensão do distúrbio e dos meios de amenizar seus efeitos, aliada a
algumas estratégias e técnicas cognitivo-comportamentais podem dar ao paciente (e
a sua família) uma nova visão de si mesmos, elevando a auto-estima, superando as
frustações, reduzindo os constrangimentos e melhoramento o comporto vital.
O DDA, infelizmente é uma doença mental incurável, mas que pode ser muito
bem ser administrada por uma terapêutica mista, envolvendo substâncias
psicoativas, técnicas de desenvolvimento pessoal e estratégias de planejamento
existencial. Mas essa visão é proveniente de uma abordagem patológica, restrita,
que não enfatiza as qualidades e virtudes de um DDA, como a criatividade, a
agudeza mental e o dinamismo, que podem ampliar a compreensão do distúrbio e
realçar seus aspectos transcendentais.
Estudos e teorias têm comprovado que o funcionamento DDA favorece o
exercício da criativade; a atividade humana mais transcendental que existe. Para
Silva (2003, p.92) uma capacidade individual de ver os mais diversos aspectos da
vida sob um novo prisma e então dar forma e corpo a novas idéias.
O que pode levar o DDA a entender o mundo sob ângulos habitualmente
inexplorados , pelos outros, dando a intensa ocorrência de idéias, sensações e
emoções em sua mente.
29
CONCLUSÃO
Quanto mais cedo o DDA (Disturbios de Défict de Atanção) é diagnosticado
nas crianças mais fácil fica para os pais/responsáveis e professores ajudar essa
criança, pois o DDA associado ou não a hiperatividade, compromete o rendimento
escolar, uma vez que a atenção é essencial para a aprendizagem.
È muito importante a criança com DDA receber elogios sobre as coisas que
ela realiza, e não ficar enfatizando seus fracassos e suas desatenções, pois pessoas
assim, se tornam mais produtivas diante de elogios e estímulos do que pressão.
A comunicação entre a família e a escola é de extrema importância, pois um
comunica ao outro o comportamento desta criança nos ambientes diferentes,
amenizando os impactos e as implicações do DDA no convívio familiar e escolar,
ajudando até a melhorar a auto-estima da criança.
30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, E.R. Quadro clínico do Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade.
In: ROHDE, L.A.; MATTOS P.& cols (org). Princípios e práticas em TDAH.
Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003.
ANGELOTTI, Gildo. Teoria cognitivo-comportamental dos transtornos da
ansiedade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.
BECK, Aaron T. Terapia Cognitiva. In: GOOD, E. Estado de São Paulo. São Paulo,
16 de Janeiro de 2000. Seção Sociedade, pg. A-27.
BELLINI, Peroni. Transtorno do déficit de atenção/hiperatividade: atualização
diagnóstica e terapêutica: características, avaliação, diagnóstico e tratamento: um
guia de orientação para profissionais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
BERGER, Joseph R.; CAPRIO, Frank. Curando-se com a Auto Hipnose. 2ª Edição.
Editora Pensamento, 2004.
DOBSON, James. Educando Meninos. 1ª Edição. São Paulo: Editora Mundo
Cristão, 2003.
DOMINGUES, Maria Aparecida. Desenvolvimento e aprendizagem: o que o
cérebro tem a ver com isso? Canoas: Editora Ulbra, 2007.
GAUER, Gabriel José Chittó.; MACHADO, Débora Silva. Filhos & vítimas do
tempo e da violência: a família, a criança e o adolescente. 2ª Edição. Curitiba:
Juruá Editora, 2009.
GILLIÉRON, Edmond. A primeira entrevista em Psicoterapeuta. 1ª Edição.
Editora Loyola, 1996.
LIPP, Marilda Emmanuel Novaes. Crianças estressadas: causas, sintomas e
31
soluções. 2ª Edição. Campinas: Editora Papirus, 2003.
MATTOS, Paulo e cols, Neuropsicologia do TDAH. In: ROHDE, L.A.; MATTOS, P. &
cols (org). Princípios e práticas em TDAH. Transtorno do Déficit de Atenção/
Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003.
MATTOS, P. Mundo da lua- perguntas e respostas sobre TDAH em crianças,
adolescentes e adultos. São Paulo: Lemos Editorial, 2003.
Miniaurélio Século XXI: O miniaurélio da língua portuguesa/ Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira; coordenação de edição, Margarida dos Anjos, Marina Baird
Ferreira, 4ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
PICCOLOTO, Luciane.; WAINER, Ricardo.; PICCOLOTO, Neri Maurício. Tópicos
especiais em terapia cognitivo-comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2007.
PINSKY, Ilana.; BESSA, Marco Antonio (orgs). São Paulo: Editora Contexto, 2004.
RATEY, John J.; JOHNSON, Catherine. Síndromes silenciosas: como reconhecer
as disfunções psicológicas ocultas que alteram o curso de nossas vidas. Tradução
de Heliete Vaitsman. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1997.
ROHDE, L.A.; MATTOS, P. & cols (org). Princípios e prática em TDAH. Transtorno
do Déficit de Atenção / Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003.
SÉ, Elisandra Villela Gasparetto.; LASCA, Valéria. Exercite sua mente: guia prático
para aprimoramento da memória, linguagem e raciocínio. São Paulo: Editora
Prestígio, 2005.
SILVA, Ana Beatriz B. Mentes inquietas. Entendendo melhor o mundo das pessoas
distraídas, impulsivas e hiperativas. São Paulo: Editora Gente, 2003.
32
SOUZA, I.; PINHEIRO, M.A.S. Comorvbidades. (TDHA) In: ROHDE, L.A.; MATTOS,
P. & cols (org). Princípios e práticas em TDAH: Transtorno do Déficit de Atenção/
Hiperatividade. Porto Alegre: Editora Artmed, 2003.
SPRINGER, Sally P.; DEUTSCH, Georg. Cérebro esquerdo, cérebro direito. 3ª
Edição. São Paulo: Summus Editorial, 1998.
Download