Esta postagem foi publicada em neuroeducamente às 16:19:35 de 16/08/2016 Direções para Mente, Cérebro e Educação: Métodos, Modelos e Moralidade Categoria Mirela Ramacciotti Baseado no artigo: Directions for Mind, Brain, Education: Methods, Models and Morality por Zachary Stein e Kurt W. Fischer (DIreções para Mente, Cérebro e Educação) A nova área da Mente, Cérebro e Educação (MCE) tem crescido rapidamente e tem como marcos a fundação da Sociedade Internacional da Mente, Cérebro e Educação (IMBES em inglês) em 2004 cujo periódico começou a ser veiculado em 2007. Por ser uma área advinda da união de outros campos de pesquisa e prática, esse complexo esforço interdisciplinar tem deixado muitas perguntas em aberto. Os cursos de formação de pesquisadores e praticantes nessa nova área tiveram início no final da década de 1990 (Harvard University School of Education) com o potencial de trazer uma nova leva de reformas com base científica que abordará a complexidade inerente à novidade e à importância que carregam. Neste artigo, considerações importantes serão feitas acerca de três temas: métodos, modelos e moralidade. Os métodos dizem respeito a questões de síntese interdisciplinar e controle de qualidade que refletem a simbiose entre teoria, pesquisa e prática que caracterizam a MCE. Os modelos dizem com os tipos de teorias que melhor se prestam à interdisciplinaridade focada na resolução de problemas central à MCE e por isso devem gerar conhecimento útil para terem valor. Com relação à moralidade, os métodos e modelos da MCE devem ser bem aproveitados, o que significa que os problemas porventura advindos desse uso estão em aberto. O objetivo do artigo é traçar direções para a MCE e não fazer previsões acerca de seu desenvolvimento. Isso significa que para além de considerar o que é possível ou provável acontecer, considerar-se á o que é preferível e almeja-se contribuir para a informação e a concepção dessa nova área. A área da Mente, Cérebro e Educação é um campo interdisciplinar que busca unir perspectivas biológicas, psicológicas e educacionais com o intuito de melhorar as práticas educacionais. O Avanço de uma área com tal complexidade requer inovações metodológicas que enquadrarão as discussões sobre modelos e moralidade. Devido a essas duas características centrais (foco na resolução de problemas e interdisciplinaridade), a MCE tem exigências únicas de controle de qualidade. Há um modelo emergente de produção de conhecimentos advindo da colaboração de ‘escolas de pesquisa’. Enquanto pesquisadores e educadores precisam facilitar a integração de métodos diferentes de disciplinas distintas, é realmente difícil integrar e avaliar os resultados gerados por métodos muito diferentes, tais como os advindos da biologia e os da psicologia. Há questões a serem resolvidas sobre como achar um denominador comum entre diferentes níveis de análise e pontos de vistas basicamente distintos. Mas, a MCE exige que a pesquisa aplicada se direcione às necessidades dos educadores e dos alunos e é nesse ponto que os conhecimentos dos educadores podem moldar a pesquisa de forma a cria conhecimento útil. É nessas duas áreas de grandes questões – integração de diferentes métodos e a das conexões com a aplicação na educação – que está a bússola que a simbiose entre pesquisadores educadores empregará na busca por conhecimento utilizável. Por ter muitos padrões objetivos que se interseccionam, o critério para determinar um trabalho de qualidade em MCE é mais rigoroso do que o de disciplinas distintas ou de área de interdisciplinaridade que não envolve aplicação. Mas a natureza exigente da pesquisa educacional não é nova; data do trabalho seminal de William James em seu Conversas com Professores (1899), posteriormente elaborado também por Dewey (1921) e Piaget (1965). O que é novo na exigência para com os trabalhos em MCE é a matriz interdisciplinar complexa juntamente com a variedade das questões educacionais prementes, que dizem com a validade científica do que é propagado. O conflito dos níveis de análise se dá pela junção de fenômenos de diferentes escalas e objetivos, quer sejam espaciais, temporais ou em termos de complexidade. Questões dessa natureza são prevalentes em MCE, o que ressalta a necessidade de integração e consideração de pontos de vista essenciais e múltiplos nessa nova área. Deve-se lutar contra a tentação do reducionismo na análise dos fenômenos estudados em diferentes níveis de análise e sob óticas distintas. Não há como dar soluções unidimensionais a problemas multidimensionais e há que se atentar para resultados comumente propagados pela imprensa que dicotomizam conhecimento entre conhecimento mais ‘consistente’ como o relacionado à genética e neurociência, e conhecimento mais ‘inconsistente’ advindo de métodos da psicologia e da cultura marginalizados pela própria imprensa. A MCE vem lutar contra esse injusta dicotomização analisando as conexões mais diretas entre comportamento e cultura com aprendizagem e escolas, apreciando as contribuições do imageamento cerebral com a multiplicidade de valores existentes em culturas compartilhadas através de uma vasta gama de métodos, níveis de análise e pontos de vista básicos. A necessidade de trazer pesquisa que esteja relacionada com a prática e a política educacionais exige uma espécie de simbiose entre educadores e pesquisadores; novas formas de cooperação que permitam o feedback recíproco a fim de criar conhecimento útil e melhorar a prática educacional. Isso, em última análise significa um certo pragmatismo por parte da MCE. Um exemplo de tal abordagem é a ideia da escola de pesquisa na qual inovações educacionais possam ser implementadas em caráter experimental e aprendidas, remodeladas e reimplantadas por uma comunidade de educadores e pesquisadores trabalhando em uníssono. Além disso, o estabelecimento de canais de comunicação que sejam claros, rigorosos e responsáveis e destinados a uma variedade de audiências é muito importante para essa nova área. A área de MCE precisa de modelos teóricos que ofereçam explicações abrangentes calcadas em metodologias múltiplas e focadas em processos de aprendizagem e desenvolvimento. Há que ser modelos de sistemas epigenético em sua totalidade e no contexto em que se aplicam para que se evite abordagens simplistas e reducionistas. O trabalho da genética epistemológica de Jean Piaget (1971, 1972) cria um precedente importante para a área de MCE na compreensão ampla dos processos de desenvolvimento humano que trouxeram. As teorias das habilidades dinâmicas de Fischer (2006) juntamente com as ideias do neuroconstrutivismo de Karmiloff-Smith (2005) envolvem princípios de desenvolvimentos gerais que levam em consideração a variabilidade e as diferenças individuais de forma a dar uma ideia de que há trajetórias de aprendizagem únicas que acontecem em processos de desenvolvimentos generalizados. O ponto central do pragmatismo da MCE é que somente pesquisa no contexto da prática e aplicação que explicitamente foquem problemas centrais formam o seu escopo. Em virtude disso, áreas de trabalho puramente teórico como psicologia e ciência do cérebro precisam ser remodeladas e adaptadas de seus campos de origem – cujo formato é o de problemas acadêmicos abstratos – para dar cabo às preocupações da prática educacional. Mudanças na prática educacional e na implementação de intervenções com base científica dependem de decisões sobre moral; isto é, sobre os objetivos e valores para a educação e aprendizagem e sobre o âmbito e natureza das ações que alcancem tais objetivos. Com isso há dois eixos éticos complementares a serem considerados: um que diz com a limitação do escopo de certas intervenções a fim de preservar-se a integridade e autonomia dos indivíduos. Aqui se aplica a ideia de que nem todo o conhecimento que pode ser usado, deve ser utilizado. O outro eixo diz com a distribuição justa dos benefícios advindos de melhorias na prática, ou seja, conhecimento que é útil deve ser utilizado em benefício de todos. Desde Habermas e Rawls, passando por Dewey e Kant, a filosofia da moral diz que o objetivo das mais importantes instituições públicas deve ser determinado através de processos de vontade pública sujeitos a constante revisão. Em um campo cheio de pontos nevrálgicos como o uso de drogas para a modificação de comportamento, deve-se discutir os limites que os objetivos públicos podem interferir na esfera privada. A educação não pode transgredir a dignidade e a autonomia dos indivíduos. Questões que possam interferir na esfera pessoal devem ser discutidas em fóruns públicos que articulem os limites éticos no uso de tecnologias biológicas e psicológicas na educação. Há que se estabelecer procedimentos para colocar em prática limites e princípios para a utilização de ferramentas e técnicas de MCE. Justiça com medidas justas deve ser a régua mestra nos esforços para que reformas com base científica em sistemas educacionais possam trazer equidade e eficácia. [Referências a serem acessadas na lista do artigo original]