ANO 4 - Nº 11 - JANEIRO/ABRIL - 2007 A PODA EM CAFEZAIS Vem aí o 5º Curso de Atualização em Cafeicultura, na Fundação Procafé. PARTICIPEM! Será realizado em Varginha, no período de 17 a 19 de julho/2007. As inscrições poderão ser feitas a partir de 15/06/2007, na Fundação Procafé, por telefone (35) 3214-1411 ou por e-mail: [email protected] Vagas limitadas. Temas a serem abordados: Cultivares de café Efeito das mudanças climáticas na cultura do café Desequilíbrio e interações nas pragas e doenças do cafeeiro Irrigação do cafeeiro Práticas de recuperação dos cafezais Floração e frutificação do cafeeiro Classificação e manejo de solos para café Propagação vegetativa de plantas superiores Café Conillon: Tecnologias e perspectivas Evolução na poda de cafeeiros Secagem do café com novos sistemas Custo de produção: Gestão Mais informações? Consulte nosso site: REVISTA BRASILEIRA DE TECNOLOGIA CAFEEIRA FUNDAÇÃO PROCAFÉ CONVÊNIO MAPA/FUNPROCAFÉ/UFLA ANO 4 - Nº 11 - JANEIRO/ABRIL - 2007 Neste número: RECOMENDANDO A PODA EM CAFEZAIS Capa: Cafeeiros de lavoura na FEX Varginha, da variedade Catuaí, com 20 anos de idade, podados por decote baixo (a 1,5m) em agosto/06. Foto em maio/07. NOTA DO EDITOR Neste número especial da Revista Coffea, dedicamos toda a matéria sobre a recomendação de poda em cafezais. O assunto foi escolhido pela sua atualidade, tendo em vista a necessidade de adaptar as lavouras, por intermédio de podas, combinando a manutenção de uma boa produtividade com a facilidade de manejo dos tratos. O texto é, na realidade, um tipo de boletim técnico, que trata dos objetivos, de como, quando e porque realizar as podas nos cafezais. O material se destina a técnicos e a produtores, que prestam assistência ou realizam os tratos em suas lavouras, constituindo a base para a tomada de decisão sobre a adoção das podas, de acordo com o tipo da lavoura, escolhendo o sistema de poda mais adequado e executando-a na época e de modo mais corretos. 1 - OS SISTEMAS DE CULTIVO/CONDUÇÃO DE CAFEEIROS NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM O USO DE PODAS 03 2 - FINALIDADES DAS PODAS 06 3 - DEFINIÇÃO DA NECESSIDADE DAS PODAS 07 4 - TIPOS DE PODAS EM CAFEEIROS 08 4.1- Recepa 08 4.2- Decote 12 4.3- Esqueletamento e desponte 14 4.4- Podas de produção 17 4.5- Podas de limpeza 17 4.6- Desbrotas 17 4.7- Controle do tombamento de plantas 19 5 - FORMAS DE USO DAS PODAS NAS LAVOURAS 20 6 - COMO INDICAR AS PODAS 20 7 - EFEITO DA PODA NOS CAFEEIROS E NA ÁREA PODADA 23 8 - EMPREGO DE PODAS EM SISTEMAS OU CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DE CULTIVO 26 8.1- Podas em cafezais adensados/ superadensados 26 8.2- Podas em cafezais geados ou atingidos por granizo 30 8.3- Podas de lavouras em recuperação 31 8.4- Podas em cafezais Conillon 32 8.5- Podas para safra zero/safra cem 33 9 - EQUIPAMENTOS PARA PODAS 35 10- TRATOS ESPECIAIS EM CAFEZAIS PODADOS 37 11- ÉPOCAS DE PODAS 39 CARTA AO CAFEICULTOR PODAR BEM SEU CAFEZAL EXIGE CONHECIMENTOS E ASSISTÊNCIA ESPECIALIZADA Nos últimos anos tem crescido o uso de podas em cafezais, diante da necessidade de renovar e/ou adaptar a ramagem dos cafeeiros, visando manter uma boa estrutura de ramos produtivos, atendendo ainda à finalidade de contar com plantas que apresentem facilidades na colheita e nos vários tratos culturais. Conhecer bem os resultados das podas, observar experiências feitas em outros talhões, visitar os campos experimentais (como a FEX - Varginha) e obter informações em publicações constituem a base importante para acertar nas podas. Procure também se aconselhar com os técnicos da assistência em sua cooperativa, em consultores privados ou com técnicos de instituições de assistência em sua região. Lembre-se: Todo ramo cortado a mais representa desperdício e depois de cortado não existe cola que conserte o erro. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretário de Produção e Agroenergia: Lineu Carlos da Costa Lima. Chefe do Departamento de Café: Lucas Tadeu Ferreira Secretário da SARC: Márcio A. Portocarrero Superintendente Federal de Agricultura em Minas Gerais: João Vicente Diniz Fundação Procafé Presidente da Fundação Procafé: José Edgard Pinto Paiva UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Reitor da UFLA: Antônio Nazareno Guimarães Mendes REVISTA DE TECNOLOGIA CAFEEIRA Ano 4: nº 11 janeiro-abril/2007. Conselho Editorial: José Braz Matiello (Editor Executivo); Rubens José Guimarães (Coordenador UFLA); Saulo Roque de Almeida, Leonardo Bíscaro Japiassú, Rodrigo Naves Paiva e Antônio Wander Rafael Garcia - MAPA/Fundação Procafé e Carlos Henrique Siqueira de Carvalho - Embrapa Café. Programação Visual e Impressão: Gráfica Editora Bom Pastor. Composição: Rosiana de Oliveira Pederiva e Maria Emília Villela Reis Tiragem: 3000 exemplares. Endereços: Alameda do Café, 1000 - Bairro Jardim Andere 37026-400 - Varginha/MG 35. 3214-1411 [email protected] e Av. Rodrigues Alves, 129 - 6º andar - Centro 20081-250 - Rio de Janeiro/RJ 21. 2233-8593 [email protected] É permitida a reprodução, desde que citada a fonte e autores. www.fundacaoprocafe.com.br RECOMENDANDO 03 A PODA EM CAFEZAIS J.B.Matiello, A.W.R. Garcia e S.R. Almeida - Engºs. Agros. MAPA/PROCAFÉ O cafeeiro é uma planta tradicionalmente cultivada sem o uso de podas, diferentemente de outras, como a videira e a figueira, plantas que entram em dormência e cuja poda é prevista anualmente. A cafeicultura moderna, no entanto, considera a poda como mais uma prática no manejo dos cafezais, que deve ser aplicada de acordo com a necessidade. Diz-se, no futebol, que o presidente do clube é que deveria bater os pênaltis, tamanha a responsabilidade dessa função. A decisão de podar ou não e o modo adequado envolve, igualmente, um potencial de risco, de erro ou acerto. Ela requer conhecimento e bom senso, devendo, por isso, ser assessorada por um Técnico especializado. Nesse trabalho, os autores detalham as informações do porque e de como podar o cafeeiro, visando dar base para que ocorram boas vitórias do cafeicultor ao efetuar as podas. 1- OS SISTEMAS DE CULTIVO/CONDUÇÃO da lavoura, mas inclui, ainda, a espécie e variedade DE CAFEEIROS NO BRASIL E SUA plantada, o uso ou não da irrigação e/ou RELAÇÃO COM O USO DE PODAS arborização, o tipo de manejo (manual ou mecanização) e o tipo de trato (rotineiro ou O sistema de cultivo ou condução dos tecnológico, químico ou orgânico, etc.). cafeeiros envolve principalmente o espaçamento A combinação no uso das práticas de condução caracteriza um ou mais sistemas de cultivo, que podem ser empregados nas propriedades cafeeiras. O sistema mais tradicional para cafeeiros da espécie arabica no Brasil é o cultivo em espaçamentos abertos, com as plantas conduzidas a livre crescimento, praticamente sem podas. Assim era nas grandes áreas cafeeiras dos Estados do Paraná e São Paulo nas décadas de 1960 a 1970, com cafeeiros plantados em quadro de 3 a 4m x 3 a 4m e nas décadas de 1970 a 1980 com cafeeiros em todo o país, renovados em RECOMENDANDO 04 renque aberto, com espaçamentos de 3,5 a 4,5m por sistemas de plantio em 3 épocas, buscando a 1,5 a 2,5m. melhoria na produtividade. As pesquisas mostram, com clareza, que o número de plantas de café por área (stand) é um Quadro 1: Efeito do espaçamento (número de fator muito importante na produtividade da plantas/área) sobre a produtividade dos lavoura. Os exemplos de 3 ensaios com resultados cafeeiros em 3 ensaios. resumidos no quadro 1 demonstram a evolução nos Locais e Espaçamentos 1 – Ensaio Pindorama-SP (média 21 safras / 19381959) Espaçamento 4 x 4m Espaçamento 3,5 x 2,5m Espaçamento 3,5 x 1,7m 2 – Ensaio Varginha (média de 7 safras / 19781985) Espaçamento 5 x 2,0m Espaçamento 3,8 x 2,0m Espaçamento 3,8 x 1m Espaçamento 1,5 x 1m 3 - Ensaio Martins Soares (média de 11 safras / 1996 -2006) Espaçamento 4 x 0,5m Espaçamento 2 x 0,5m Espaçamento 1 x 0,5m Pode-se verificar (quadro 1) que as produtividades obtidas, de acordo com o número de cafeeiros por hectares, variaram de 8 a 80, coincidindo com o que se diz no popular para indicar grandes contrastes. Os sistemas de espaçamentos mais indicados para o plantio de cafeeiros atualmente são: a) Sistema “renque” mecanizado, com a lavoura mantida a maior parte do tempo aberta, através de distâncias maiores nas ruas, de 3,5 4,0 m, e pequenos espaços entre plantas nas linhas, de 0,5 a 1m, formando um renque de plantas. b) Sistema adensado, para manejo manual, com espaçamentos de 1,5 a 2,0 m por 0,5 1,0 m, prevendo-se podas futuras. Nº de planta/ha covas Produtividade Sacas/ha 625 1142 1680 8,7 13,4 17,5 1000 1315 2630 6666 13,5 19,6 23,7 40,1 5000 10.000 20.000 42,7 56,0 78,0 Esses são dois sistemas básicos e existindo variações no adensamento, como o semi-adensado, com espaçamento de 2-3 m nas ruas e o superadensamento, com mais de 10 mil plantas por hectare e espaços de 1 a 1,5 m nas ruas. A redução nos espaçamentos, como visto, com o conseqüente aumento do número de plantas/ha, associada ao uso de variedades vigorosas e, ainda, o emprego de adubações e outros tratos em níveis adequados, levaram, gradativamente, à maior necessidade do uso de podas nas lavouras cafeeiras atuais no Brasil. Verifica-se, deste modo, que a condução de um cafezal, com ou sem poda, está correlacionada com seu sistema de plantio e de manejo dos tratos. Pode-se agrupar essa relação assim: a) Condução da lavoura sempre aberta, a livre RECOMENDANDO crescimento, por longos períodos, aplicável ao sistema renque mecanizado, que envolve distâncias de 3,5 4,0m nas ruas. b) Condução com podas somente corretivas visando reabrir áreas, eliminar os problemas eventuais que apareçam e para atender a finalidades específicas que se deseja das podas (ver item 2). É comum essa condução para reabrir lavouras adensadas ou eliminar fechamento provocado por excesso de número de hastes e de crescimento em cafezais no sistema renque aberto, para reduzir a altura de plantas, etc. c) Condução sempre fechada, para lavouras adensadas onde propositalmente se deseja a produção apenas nos ponteiros, que é bem significativa, usufruindo das vantagens do fechamento, que leva a economias nas capinas, na adubação, na arruação/esparramação, nas podas, etc. d) Condução com podas programadas essa condução se aplica a cafezais adensados ou super-adensados, onde se programa, previamente, a poda escalonada, em uma ou mais linhas a cada ano. Aplica-se, também, ao sistema “safra-zero” ou “safra 100”, onde se 05 programa as podas laterais (esqueletamento/desponte) a cada 2 ou mais anos, logo após o ano(s) de safra alta, para zerar a safra baixa. Outra condição que tem induzido a um maior uso de podas é o fator preço/renda do café. Nas épocas de preços baixos os produtores maltratam as lavouras, os cafeeiros se depauperam, e levando muitos a realizar a recepa buscando a recuperação dessas lavouras para produzir em períodos mais favoráveis. Nessa situação os custos ficam mais baixos, reduzindo a adubação, os controles de pragas/doenças e, até, os pequenos usam as áreas livres para culturas intercalares. Assim, a capacidade financeira do produtor e as condições de mercado também interferem na tomada de decisão para efetuar podas, principalmente as mais severas, como a recepa. Nas lavouras de café Conillon (robusta), a característica das plantas de emitir muitas hastes (multicaule) induz uma maior necessidade de podas, sendo usual a poda todos os anos, chamada poda de produção, eliminando as hastes desgastadas, substituindo por outras novas. Podese aplicar, também, a poda corretiva, abrindo a 06 lavoura por poda de recepa (total ou em linhas alternadas). 2 - FINALIDADES DAS PODAS As podas objetivam manter ou recuperar a estrutura produtiva (ramagem) dos cafeeiros, promovendo bons níveis de produtividade nos cafezais. Visam, paralelamente, facilidades e menores custos na execução dos tratos nas lavouras. Finalidades específicas, para atender a esses objetivos maiores, podem ser assim enumeradas: a) Eliminar ou reduzir os problemas de fechamento dos cafezais possibilitando melhor entrada de luz, maior quantidade de ramos produtivos ao longo da haste, maior indução floral e produtividade. b) Aumentar a área de ramos produtivos (número e comprimento) em plantas desgastadas, cinturadas, deformadas, compactadas (embatumadas), etc, propiciando o crescimento de áreas novas de ramagem, aumentando, em conseqüência, o número de nós produtivos. c) Renovar a estrutura primária, as hastes e a copa RECOMENDANDO de cafeeiros, substituindo hastes finas, com poucos ramos laterais, por outras brotações mais vigorosas. d) Eliminar excesso de hastes ou de plantas, devido ao uso inadequado de mudas duplas no plantio e/ou a falta de desbrota dos cafeeiros. e) Reduzir a altura de plantas para facilitar os tratos e, especialmente, a colheita, também reequilibrando a parte aérea com o sistema rudicular, condição útil em áreas mais secas. f) Melhorar o ambiente (microclima), facilitando a entrada de luz e o arejamento dentro do cafezal, para reduzir a incidência e facilitar o controle de pragas e doenças (broca, ferrugem, phoma) que são favorecidas pela umidade (período de molhamento). Também a abertura (principalmente por recepa), favorece o controle de pragas do solo, como mosca das raízes e cigarras, que não mais ovipositam e a aplicação de inseticidas é mais eficiente. g) Acelerar e melhorar a recuperação de cafezais danificados por geada, granizo, faísca elétrica, seca, etc. h) Facilitar a combinação de cultivos (plantas arbóreas ou anuais) no meio do cafezal. i) Melhorar e programar a produção das plantas, RECOMENDANDO tornando mais econômicos os tratos e a colheita. j) Promover a reciclagem, no terreno, de matéria orgânica da ramagem e da folhagem dos cafeeiros e prover lenha, sendo essas finalidades da poda somente complementares. k) Facilitar a colheita, com corte simultâneo dos ramos e daí retirando os frutos, no caso da colheita acoplada ao esqueletamento (safra zero), a coleita de ramos Conillon e a colheita podada também no decote ou recepa baixa. l) Facilitar a melhoria física e a correção do solo em áreas de solo degradadas, através de subsolagem e calagem mais intensivas. m)Facilitar o replantio e o repovoamento do cafezal, abrindo a lavoura velha e assim permitindo o melhor desenvolvimento das plantas novas plantadas. 3 - DEFINIÇÃO DA NECESSIDADE DAS PODAS A decisão sobre a necessidade de uso e a escolha do tipo de poda a empregar, em uma determinada lavoura de café, deve ser tomada após uma análise detalhada dos fatores relacionados com as condições dos cafeeiros, que estejam influindo negativamente na produtividade ou na operacionalidade das práticas de manejo da lavoura. Deve-se observar o fechamento, o acinturamento, a altura das plantas, o excesso de hastes e outros aspectos. É preciso, também, na análise prévia, verificar se a lavoura tem condições de responder às podas, levando-se em conta o vigor da variedade, a idade das plantas, o estado do sistema radicular, a presença de falhas etc. Plantas muito velhas, principalmente quando Tratamentos Recepa de 1 planta/cova Recepa de 3 planta/cova Decote a 2m de altura Testemunha 07 com seu sistema radicular deficiente, ou atacadas por pragas/doenças de solo (nematóides, cigarras, cochonillas, fusariose, moscas), respondem mal às podas, sendo necessário práticas complementares de tratamento para melhorar sua recuperação. Na condição de lavouras já velhas, com falhas e, principalmente, com baixo stand de plantas/área, em função do uso de espaçamento inadequado, deve-se considerar a alternativa de substituir a lavoura em vez de podá-la. Pode-se, ainda, principalmente nas pequenas propriedades, optar pelo replantio ou repovoamento (dobra) combinados com a poda. Essa análise deve, sempre que possível, ser assessorada por um técnico especializado, buscando racionalizar a poda, atendendo suas finalidades com a menor perda de produção e de renda. Cortar as plantas por cortar ou podar de forma mais drástica do que o necessário representa prejuízos no tempo de recuperação, nas perdas de produtividade e no maior custo da operação de podas. Assim, a poda deve ser usada visando atender aquelas finalidades específicas que se deseja, conforme já detalhado no item 2. De modo geral, as pesquisas realizadas com podas em cafezais mostram que as plantas podadas tendem a ter reduzida sua produtividade média, sendo essa redução tanto maior quanto mais drástica for a poda. Vejam os exemplos dos quadros 2 e 3 com resultados de produção em pesquisas com cafeeiros podados e sem poda. Quadro 2: Resultados de podas no passado. Efeito de sistemas de poda na produtividade. Cafezal Mundo Novo, 7 anos. Campinas SP, 1963. Produtividade média de 4 safras scs/ha 40,1 39,2 36,5 50,0 Fonte: Figueiredo, Cortes Brilho e Toledo – Exper. Cafeeira, IAC, p. 127, 1964. RECOMENDANDO 08 Quadro 3: Resultados de podas no passado. Efeito de sistemas de poda na produtividade. Campinas SP, 1962. Tratamentos Decote a 2 m Decote a 1,5 m Recepa 1, 3, 4, 2 Testemunha Produtividade média de 2 safras scs/ha 12,5 10,1 11,0 16,6 Fonte: Moraes, Cortes Brilho, Toledo e Viana – Exper. Cafeeira, IAC, p. 128, 1964. A necessidade de poda deve, portanto, de forma resumida, atender às facilidades no manejo do cafezal mantendo ao máximo sua produtividade. obedece a uma ordem, visando minimizar, dentro da necessidade, a área cortada. Assim, em primeira instância usa-se o decote, depois vem o decote com desponte, depois o decote com esqueletamento e, finalmente, a recepa (alta ou baixa). 4 - TIPOS DE PODAS EM CAFEEIROS 4.1 - Recepa As podas usuais em lavouras de café podem ser agrupadas em 2 tipos principais: As podas drásticas e as podas leves. As podas drásticas incluem a recepa e o esqueletamento/desponte, havendo poda e eliminação da maior parte da ramagem e/ou da haste principal do cafeeiro, justificando o nome pelo efeito drástico na estrutura vegetativa da planta e na sua produtividade em curto prazo. Elas promovem, no entanto, grande renovação na ramagem, com bons resultados a médio prazo. As podas leves abrangem o decote, as podas de limpeza e, no cafeeiro Conillon, a poda de produção. Nesse tipo de poda elimina-se pequenas partes do cafeeiro, que assim, perde pouco da sua produção e, em certos casos, chega a ganhar produtividade no curto prazo. Antigamente se utilizava mais as podas onde o corte do cafeeiro era feito apenas sobre a(s) hastes(s) principal(is), o tronco ou ramo ortotrópico, com corte do tronco em sua parte baixa, ou no decote, com corte na parte superior da planta. Cresceu bastante nos últimos anos a poda feita sobre os ramos laterais, plagiotrópicos, como acontece no esqueletamento/desponte. A adoção de poda em cafeeiros normalmente a) Como aplicar A recepa é uma poda baixa, drástica, que promove a renovação quase total da copa dos cafeeiros. Ela é indicada para lavouras ou plantas que perderam seus ramos produtivos inferiores, na saia, devido ao avançado grau de fechamento. É recomendada, ainda, na renovação da copa de cafeeiros depauperados, em recuperação após períodos de maltrato ou devido a problemas climáticos, e que apresentem a copa esguia, completamente deformada e com poucos ramos laterais. Também é usada para lavouras severamente atingidas por geadas, com queima até o tronco, e para lavouras adensadas. b) Tipos de recepa A recepa pode ser de 2 tipos, variando a altura de corte do tronco, de 0,2 a 0,8m, assim podendo ser: baixa ou alta, esta última também chamada de recepa “com pulmão”, pois deixa-se alguns ramos laterais (1 a 3) da parte inferior (da saia) que mantém ainda a produção de energia para a planta, evitando perda maior do seu sistema radicular, e que resulta em brotação e produção mais rápidas, RECOMENDANDO 09 com o retorno em maiores níveis de produtividade indicando a retomada mais rápida da produção nos no 2º ano. O quadro 4 mostra, em comparação, os cafeeiros de recepa alta, com “pulmão”. dados de produção obtidos nos 2 tipos de recepa de um cafezal, verificando-se acréscimo de Quadro 4: Produção inicial de cafeeiros após 2 produtividade de cerca de 22% favorável à recepa tipos de recepa (baixa e alta), cafezal Mundo alta, em relação à baixa, diferencial bem maior Novo, 15 anos, 4x0,8m. Elói Mendes-MG 1994. (110%) se considerada apenas a lª safra pós-poda, Tratamentos Recepa a 0,4 m Recepa a 0,8m (com pulmão), 45 ramos laterais despontados Safra pós-poda (scs/ha) 1ª safra 2ª safra Média 10,2 87,0 48,6 21,0 98,0 59,5 Fonte: Ferroni, Matiello e Almeida – Anais do 20º CBPC, p. 5-6. Na recepa alta deve-se procurar a altura, até 50-80 cm, onde se pode encontrar pelo menos 1 ramo lateral, sendo o ideal dois. Quando houver mais de 2 ramos laterais e eles se encontrarem muito longos e embatumados deve-se efetuar o desponte (com facão) desses ramos. A recepa alta deve ser preferida, sempre que possível. Caso não sejam encontrados ramos laterais vivos até a altura de 80 cm então aplica-se a recepa baixa. A recepa baixa é feita no tronco à altura de 20-40 cm do solo e no caso do café Conillon (com muitas hastes) deve ser mais baixa (até menos de 20 cm). Variedades de porte baixo e lavouras adensadas, onde o tronco é mais fino, devem ser recepadas em menor altura, de 20-30 cm. Com esse tipo de recepa as plantas voltam com uma pequena produção no 2º ano e com uma boa safra no 3º ano. A recepa deve, sempre que necessário, ser combinada à eliminação do excesso de hastes, deixando-se aquelas mais alinhadas e em número variável com o espaçamento, não devendo ultrapassar por cova o nº original de hastes usadas no plantio (1 a 3). A recepa, como outros tipos de poda, pode ser feita em toda a área ou em linhas intercaladas. A intercalada tem a vantagem de preservar parcialmente a produção na lavoura, evitando deixar o produtor sem renda. Dois anos após, depois de uma safra alta, efetua-se a recepa das linhas restantes, que servem ainda para proteger as brotações das linhas recepadas contra a ação de ventos. Quando as linhas forem muito próximas e houver perigo de estiolamento das brotações, pelo sombreamento lateral, pode-se reduzir ( por decote ou esqueletamento ) a altura das plantas da linha que ficou ou, mais adequadamente, recepar 2 linhas e deixar uma a duas, com isso abrindo mais espaço para insolação. A recepa em cafeeiros Conillon deve ser adotada de forma diferenciada. A prática tem mostrado que: a) A recepa intercalada (pela proteção por sombra) sempre brota melhor; b) A recepa pode ser feita parcial, ou seja, na metade dos troncos, aí conduzindo a brotação nova e dois anos após se recepa as hastes restantes da planta, funcionando como pulmão; na condução de brotos deixar 3 a 6 por planta, de acordo com o espaçamento. c) Como recepar A operação da recepa pode ser feita: manualmente, ou mecanizada, com equipamentos descritos no item 10. O trabalho de recepa compreende 4 etapas: a) o desgalhamento lateral, feito com foice; b) o corte do tronco na altura desejada, e a concomitante eliminação do excesso de hastes, seguindo o desponte dos ramos pulmões, quando indicado; RECOMENDANDO 10 c) a retirada da lenha (grossa) e a trituração (com grade, trincha ou roçadeira) da ramagem fina; d) a desbrota, conduzindo um número de hastes (brotos) adequado. Para facilitar a operação de desgalhamento dos troncos pode-se efetuar um decote baixo com a decotadeira, passar o Triton ou a roçadeira para destruição e, então, efetuar a recepa, ficando apenas os troncos com pouca ramagem, o que facilita sua retirada da área. O corte manual deve, sempre que possível, ser efetuado em bisel para evitar entrada de água e reduzir a possibilidade de infecção por doenças, se bem que aqui no Brasil somente a fusariose tem aparecido, embora em pequena escala, e sem problemas sérios, diferentemente de outros países, onde se indica pincelamento com pasta fungicida para desinfecção do corte. Também não causa problema o óleo queimado que sai da motosserra e que fica sobre o corte e nem o corte com machado, cuja lascação do tronco não atrapalha a brotação. O aproveitamento do material vegetal fino (folhas, ramos laterais e galhos finos) é importante como fonte de matéria orgânica, além de representar uma significativa quantidade de nutrientes devolvidos ao solo. Existe um equipamento triturador (trincha) que faz, ao mesmo tempo, uma roçada de mato e a trituração, em pequenos pedaços, dos galhos podados. A trituração da ramagem é mais fácil quando ainda verde, logo após a poda. O rendimento na recepa depende da idade da lavoura e do nº de hastes por cova, e do equipamento usado, variando de 50-100 plantas/dia com machado ou foice e 500-1000 pl/dia com motosserra, sendo de 5000 a 10.000 pl/dia com a recepadeira tratorizada. d) Desbrota/condução A desbrota, feita periodicamente, visa conduzir apenas as hastes desejadas, devendo ter início tão logo os brotos atinjam o tamanho de 1520 cm. Deve-se selecionar os brotos mais bem implantados, saindo da parte média a baixa no tronco, para dar origem a ramos secundários mais junto ao solo, devendo os brotos deixados coincidirem na direção da linha. A quantidade de brotos a serem conduzidos RECOMENDANDO 11 por planta está relacionada com o espaçamento, principalmente a distância na linha. Para distâncias menores de 1m deve-se conduzir somente 1 broto/planta, de 1 a 1,5m pode-se conduzir 1-2 brotos e com 1,5m ou mais conduzir 2-4 brotos/cova. Em áreas sujeitas a ventos e onde os tratos podem acabar quebrando alguns brotos pode-se deixar um número maior por planta na 1ª desbrota e eliminar o excesso na segunda. Em lavouras adensadas, resultados de pesquisa recente, mostram a necessidade de conduzir mais hastes, 2-3 por planta, no espaçamento 2 x 1 m (ver quadro 5). Essa condução de brotos leva a um número ideal de hastes/ha. A pesquisa mostra que para plantios largos esse número se situa entre 5-7 mil hastes/ha e no adensado entre 7-10 mil/ha. Quadro 5: Produção de café na cata inicial e em 4 safras após recepa e com plantas conduzidas sob diferentes números de brotos/pl. Cafezal Catuaí 2 x 1m - Manhuaçu, MG, 2004. PRODUÇÃO (scs/ha) TRATAMENTOS (nº de hastes p/pl) 2000 2001 2002 2003 2004 Média 1 haste/planta 2,0 36,36 86,6 ab 41,9 b 106,5 a 67,8 ab 2 hastes/planta 7,0 56,4 a 200,6 a 56,9 a 74,4 ab 72,1 a 4 hastes/planta 10,0 46,3 ab 80,8 bc 56,9 a 69,2 ab 63,3 ab Substituição * 0 12,4 c 98,5 a 22,6 c 73,7 ab 51,8 b (*) Plantio 2 x 0,5m Fonte: Matiello et alli, Anais do 30ºCBPC, MAPA/PROCAFÉ, 2004, p. 13. Nas áreas muito batidas por ventos a recepa intercalar, ou a manutenção de uma linha de café, sem podas, a cada 4-5 linhas recepadas, favorece a proteção das brotações, contra o efeito de ventos frios e o ataque de doenças, como Phoma e Ascochyta. Pode-se, também, instalar quebraventos temporários, como renques de milho, sorgo, cana ou crotalária. e) Vantagens e desvantagens A poda de recepa apresenta como vantagens: a possibilidade de renovação total da planta; o aproveitamento da lenha (para secadores, carvão etc); a abertura da área para correção do solo e cultivo de culturas intercalares; o favorecimento ao controle de pragas de raízes, tanto pela redução da população re-infestante (muito importante no caso de cigarras e mosca das raízes) como pela facilidade na aplicação de produtos para controle; facilita a adaptação da lavoura, através de replantio ou repovoamento, melhorando o seu “stand”; e ainda possibilita a eliminação do excesso de hastes. Nas lavouras adensadas permite a abertura total da lavoura. As desvantagens da recepa são: a) a redução que provoca na produção nos 2 primeiros anos; b) a operação onerosa; c) a exigência de tratos diferenciados (nutrição, controle fitossanitário etc); d) o aumento da área a ser capinada e a dificuldade inicial de controle com herbicidas, e) a mortalidade que pode causar nas plantas, principalmente nas mais fracas. A morte de plantas por efeito de recepa baixa foi pesquisada em um ensaio com diferentes espaçamentos em Varginha-MG.. Verificou-se, conforme dados resumidos no quadro 6, que após 2 ciclos de recepa feitas ao longo de 18 anos, mesmo em material vigoroso (Acaiá), ocorre perda de stand de plantas por morte, verificado percentual de 10 a 44%, sendo tanto maio quanto maio for o distanciamento de plantas na linha, motivado pelo maior stres das plantas com maior carga individual. RECOMENDANDO 12 Quadro 6: Rebrota e perda de stand de plantas após 2 ciclos de recepa baixa em cafeeiros Acaiá, em diferentes espaçamentos, Varginha-MG, 1999. Espaçamentos 2 x 0,5 m 2 x 1,0 m 2,5 x 0,5 m 4,0 x 1,5 m 4,0 x 2,0 m ( 2 mudas/ cv. ) Plantas/ha- stand inicial 10 000 5 000 8 000 1 666 2 500 Plantas/ha- stand final 7 200 2 800 6 240 1 428 2 250 Perda (%) 28 44 22 14 10 Fonte: Garcia et alli, Anais do 25 CBPC, p.333,1999 4.2 - Decote a) Onde se aplica O decote é um tipo de poda alta, que resulta na eliminação da parte superior da copa do cafeeiro, sendo indicada para lavouras em vias de fechamento, ainda com boa ramificação lateral na parte baixa das plantas. Ela pode ser usada, também, para reduzir a altura das plantas, para facilitar pulverizações e a colheita, principalmente a mecânica, para corrigir pequenas deformações na copa ou para reequilibrar a parte aérea e o sistema radicular. As deformações são corrigidas tanto pela eliminação da parte estragada, normalmente acima do acinturamento, como pelo estímulo ao alongamento e às novas brotações de ramos na parte baixa da planta, recompondo a copa. O decote se aplica, ainda, para cafeeiros atingidos por geada de capote (queima da parte superior da planta) ou por faísca elétrica nas mesmas condições, quando deve ser eliminada a parte superior do cafeeiro, onde a queima atingiu folhas e a maioria dos ramos e até a haste principal, condução que resulta em perda de produtividade. b) Tipos de decote A altura de corte da planta determina dois tipos de decote: alto e baixo. O decote alto: de 2-2,5m de altura, é usado para reduzir a altura da planta, mantendo-a constante, por determinado período, para a colheita mecânica e para adequá-la à irrigação por pivô. É indicado quando a copa se apresenta em bom estado, não necessitando de recomposição da ramagem na sua parte superior, já que esse tipo de decote prevê, em sua maioria, o manejo com desbrota constante na parte superior, o que representa menor produtividade. Como a planta fica com uma altura constante (menor) ocorre um melhor equilíbrio com o sistema radicular, o que é útil para regiões com problemas de déficit hídrico e para variedades de porte alto, mais sujeitas ao déficit, como os Icatus. O RECOMENDANDO 13 aproveitamento da maior altura da planta condiciona melhor produção a curto prazo, porém esta altura do decote deve estar relacionada com o espaço disponível na rua e o manejo desejado. O decote baixo: de 1,0 a 1,8m se aplica em cafeeiros que precisam de uma recomposição da parte superior, com novos ramos, para lavouras com cinturamento ou deformidades na parte superior da copa pois nesse tipo de decote a condução é feita com desbrota seletiva, deixando 1-2 brotos/planta original ( de 500 a 7000 hastes/há), ou a livre crescimento, voltando ao decote, quando necessário, abaixo ou acima da altura de corte anterior. Corte acima é usado quando o decote é conduzido com 1 a 2 brotos. Quanto mais baixa a altura da poda maior será a perda na produção inicial, porém a poda é mais duradoura. Dentro de uma mesma lavoura o decote é, geralmente, feito a uma só altura em todas as plantas. Ele pode, também, no caso de poda por plantas, ser aplicado a diferentes alturas, dependendo do exame de cada planta, sendo eliminada somente a parte superior, estragada, acima do cinturamento. no terminal do tronco é mais lenta. Uma maneira de acelerar, nesse caso, consiste em eliminar os ramos laterais da extremidade, deixando um “cotocó” de mais ou menos 10cm. O decote herbáceo é feito manualmente, cortando o ponteiro com a mão ou canivete, nas plantas mais jovens, com 3-5 anos, para regular a altura das plantas. Ocorre, entretanto, um crescimento compensatório da ramagem lateral, o que acelera o fechamento. O rendimento do decote manual, com foice, é de 800 a 1200 plantas por dia e com a decotadeira tratorizada é de 5000-10000 plantas por dia. d) Condução/desbrota A condução a livre crescimento é a que tem apresentado melhores resultados em produção, porém exige novas podas futuras, 2-3 anos após, cortando-se mais baixo ou esqueletando, pois forma-se um grande nº de ramos (finos) na parte superior da planta e a recomposição da parte baixa da planta é inadequada, havendo menor recuperação de ramos secundários e terciários. Pelos dados do quadro 7 observa-se que, no ensaio realizado na Fazenda Experimental de c) Como fazer Varginha, as plantas decotadas e conduzidas a livre crescimento ou com 2 brotos por planta tiveram, O decote pode ser lenhoso ou herbáceo. O em média, produções quase 100 % superiores à decote lenhoso corta a parte lenhosa da planta, condução com desbrota total. usando ferramentas manuais ou mecanizadas (item 5.4.6.11) serrote de poda, foice, tesoura de poda, Quadro 7: Tipo de poda e condução do decote decotadeira. Em plantas com copa embatumada, em cafezal adulto em recuperação (MN, 12 como em cafeeiros Catuaí mais velhos, a brotação anos, 4 x 1m). Varginha-MG - 1998. Tipos de poda e condução 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) Decote (1,6m), cond. 1 haste Decote (1,6m), cond. 2 hastes Decote (1,6m), sem desbrota Decote (1,6m), desbrota total Idem 2, mais desponte Idem 2, mais esqueletamento Testemunha 1993 1994 28 30 34 15 13 18 39 74 74 64 36 65 75 44 Fonte: Garcia e Ferreira – Anais do 24º CBPC, p. 155-6, 1998. Produção (scs/benef./ha) 1995 1996 1997 1998 3 3 8 2 3 5 12 37 35 43 20 61 66 31 13 7 16 16 6 5 18 79 94 83 42 80 71 48 Média (6 safras) 39,0 40,5 41,3 21,8 38,2 40,0 32,0 RECOMENDANDO 14 A desbrota deve ser feita quando os ramos atingirem 15-20 cm, através do arranquio manual, ou seu corte com foices leves ou com a decotadeira (regulada 15-20 cm superior à altura do corte do tronco) quando a condução for por desbrota total. Foi testada, com sucesso, também a desbrota química, aplicando-se herbicidas sobre a nova brotação. Indica-se o Gliphosate a 1% na calda ou o Finale a 0,7%. O primeiro freia o crescimento dos brotos e o segundo mata a parte nova dos brotos. forçar a recomposição da ramagem lateral da planta e a formação da copa. Nessas condições o decote melhora a planta para, 2-3 anos após, ser efetuado um desponte de renovação da ramagem, contra-indicado no 1º ano, pois agravaria a situação de fraqueza das plantas. O decote tende a aumentar o diâmetro do caule dos cafeeiros, tornando-os mais firmes e com menor tombamento. A desvantagem do decote é o de ser uma poda transitória, resolvendo o problema por um período mais curto, não possibilitando uma renovação mais duradoura. e) Vantagens e desvantagens 4.3 Esqueletamento e desponte O decote é uma poda bastante utilizada na cafeicultura devido às suas vantagens, principalmente por não causar perdas significativas de produção, além de ser uma operação mais simples e menos onerosa do que a recepa, não exigindo, na maioria das áreas, a retirada dos ramos podados, bastando passar a roçadeira ou a trincha para destruí-los e aproveitálos como material orgânico. O decote ainda é vantajoso por diminuir a altura das plantas, facilitando os tratos e a colheita. Em lavouras em recuperação (mal-tratadas) o decote é útil para a) Como se aplica O esqueletamento e o desponte são podas semelhantes, aplicadas sobre os ramos laterais do cafeeiro, os quais são cortados mais próximos ao tronco, mantendo pequenas porções desses ramos, deixando-se apenas o “esqueleto” da planta. No esqueletamento, essas porções são menores, com cerca de 1 palmo (20 cm), e no desponte o corte é mais longo, ficando porções de 30-60 cm. Em podas sucessivas deve-se prever variação nas RECOMENDANDO 15 distâncias de corte dos ramos laterais. O tronco só é cortado à altura normal de decote (1,7m) para quebrar a dominância apical e, assim, facilitar a brotação nos ramos laterais da planta. São podas com uso crescente na cafeicultura com bons resultados para determinadas condições de lavoura, como: excesso de ramificação lateral, produção restrita a apenas alguns nós da extremidade de ramos laterais finos, e no caso de safra zero. As podas laterais são uma opção útil quando os cafeeiros estiverem “embatumados”, quando os ramos são longos, em grande número e finos em sua extremidade, onde poucos nós dão frutos. Levantando esses ramos se percebe, no interior da planta, ramos pelados, com poucas folhas, restritas à sua extremidade. Nessas condições ocorrem vantagens produtivas em relação ao decote. O esqueletamento e o desponte são indicados para lavouras ainda sem fechamento, ou com um número razoável de ramos laterais saindo do tronco, de cima a baixo. Quando houver poucos ramos laterais, mesmo com a brotação promovida pelo seu corte, a planta fica deformada, não preenchendo toda a copa. Uma alternativa para esses casos é a condução de alguns brotos ortotrópicos para preencher as falhas do tronco onde não existem ramos laterais. As podas de esqueletamento devem ser, preferencialmente, aplicadas sobre lavouras em bom estado nutricional e com bom vigor, pois as plantas podadas precisam rebrotar em toda sua área lateral, para refazer toda a copa, de cima a baixo, em curto período. Os dados dos quadros 7 e 8, obtidos em 2 ensaios realizados na FEV-Varginha, mostram que em uma lavoura em recuperação, podada por decote a 1,6 m, ou recepada a 0,8m, com e sem desponte ou esqueletamento dos ramos laterais, não foram obtidas melhorias significativas para produção nas parcelas que receberam o desponte ou esqueletamento, o que leva à constatação muito válida, que nem todas as lavouras necessitam ou respondem a esse tipo de poda. Lavouras mais novas, até a 5ª- 6ª safra, normalmente possuem ramos laterais em boas condições, situação em que o desponte ou esqueletamento são desnecessários. Para cafezais adensados, o esqueletamento ou desponte são úteis apenas a curto prazo, pois a condição de fechamento volta rapidamente. Além disso, a brotação dos ramos baixos pode ser prejudicada pela proximidade (e sombreamento) dos cafeeiros da outra linha, muito próxima nesse sistema de cultivo. b) Como fazer No esqueletamento ou desponte faz-se o corte dos ramos laterais, combinando, quase sempre, com o corte superior (1,70 2,00m) do topo da planta, o que induz maior brotação lateral. Podese usar a poda sem cortar a haste principal, em casos em que se deseja aproveitar a safra do ponteiro e quando se quer menor diâmetro futuro Quadro 8: Tipos de poda por recepa alta e decote, com e sem desponte ou esqueletamento. Cafezal MN, 12 anos, espaçamento 4 x 1,5m. Varginha-MG - 1998. Tipos de Podas 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) Recepa a 0,8m, sem desponte Recepa a 0,8m, com desponte Recepa a 0,8m, com esqueletamento Decote a 1,6m, sem desponte Decote a 1,6m, com desponte Decote a 1,6m, com esqueletamento Testemunha Fonte: Garcia e Ferreira, Anais 24º CBPC, p. 155-6. Produção Média 6 safras (scs/ha) 31,5 31,3 35,3 36,3 40,4 35,0 34,3 16 RECOMENDANDO preencher a falta de ramos laterais. No caso de aplicação do sistema safra zero, com esqueletamento a cada 2 anos, a desbrota fica muito onerosa e, assim, não vem sendo feita em muitas lavouras , não se conhecendo o seu efeito no longo prazo. Plantas esqueletadas/ despontadas, com brotações novas em toda sua extensão, ficam muito sujeitas a Phoma/Ascochyta e Pseudomonas, além de sua maior exposição a ventos frios e granizo. Pelo embatumado de ramos, em seguida, tornam-se nos cafeeiros. O corte pode ser feito manualmente, com susceptíveis à ferrugem, o que exige controle foice ou com roçadeira costal motorizada, ou d i f e r e n c i a d o , e s p e c i a l m e n t e q u a n d o o mecanicamente, com esqueletadeira tratorizada esqueletamento estiver sendo usado para o sistema safra-zero. (ver item 10) O corte dos ramos deve ficar oblíquo em relação ao tronco, a parte inferior mais longe e a d) Vantagens e desvantagens superior mais perto, na forma de cone, para evitar A principal vantagem do esqueletamento ou sombreamento. Nas plantas esqueletadas ou despontadas, desponte está na característica desse tipo de poda drástica, permite renovar cada ramo lateral cortado dá origem a vários que, mesmo outros, que se desenvolvem mais longos e praticamente toda a copa do cafeeiro e abrir a vigorosos. Ocorre que quanto mais longo for o lavoura, com perda de somente uma produção, desponte, maior é a área de brotação e, havendo possibilidade de compensar parte dessa consequentemente, maior será a quantidade de perda por acréscimo na safra seguinte. Outra vantagem é que o esqueletamento ramos formados, o que pode tornar a planta dispensa o trabalho de retirada de material podado “embatumada” no futuro. No 2° ciclo de poda lateral deve-se aplicar o para fora da área, pois a poda mantém a parte corte dos ramos em região mais junto ao tronco, grossa do tronco das plantas o que não ocorre com a com isso eliminando o embatumado de ramos da recepa. As desvantagens estão relacionadas com o poda anterior. maior trabalho na execução da poda, quando feita manualmente, e, também, é muito trabalhosa a c) Condução/desbrota desbrota . Quando comparada ao decote a poda de Para a condução normal do desponte, deve-se desponte apresenta as desvantagens da perda da retirar todos os brotos ladrões que saem nas hastes produção do ano e a abertura da área que, assim, vai do cafeeiro, deixando, apenas, 1-2 no ponteiro. dar mais mato. Pode-se manter alguns brotos ladrões para RECOMENDANDO 17 4.4 - Podas de produção 4.6 - Desbrotas O conceito de poda de produção se aplica mais ao cafeeiro Conillon, cuja planta é multicaule, indicando-se podas anuais para eliminar as hastes desgastadas, substituindo-as por outras novas, com isso mantendo ou mesmo elevando a produção No cafeeiro arábica pode ser considerada uma poda de produção a aplicação d decote por planta ( por apreciação ), cortando a parte superior estragada somente dos cafeeiros que produziram muito. Essa poda é especialmente útil em cafezais adensados e que foram conduzidos ou houve escape de várias hastes ortotrópicas.. Quando o tronco do cafeeiro fica exposto à insolação direta em função das podas ou quando ocorre qualquer anormalidade que interfere na dominância apical da planta, aparecem brotações de ramos ortotrópicos, saindo desse tronco, conhecidas como ramos ladrões, os quais vão dar origem a novas hastes. O mal trato, que provoca a seca de ramos laterais, expondo o tronco, o vergamento pelo vento, as machucaduras mecânicas (por granizo, por colheita mecânica ou por geada), a desnutrição e o ataque severo e continuado de pragas e doenças e o stress por seca, são fatores que agravam a brotação, e que podem levar a um número excessivo de hastes. A operação de desbrota deve ser praticada nas plantas podadas sempre que necessário, conduzindo o número adequado de brotos, conforme já apresentado para cada tipo de poda. Nas lavouras não podadas a desbrota deve ser feita de forma preventiva, a partir do plantio e formação da lavoura, seguindo-se na lavoura adulta, realizando desbrotas anualmente, após a colheita, visando manter o nº adequado de hastes, uma vez que o excesso acelera o fechamento da lavoura, devido ao vergamento destas hastes, sempre mais 4.5 - Podas de limpeza A operação conhecida como poda de limpeza consiste na eliminação de partes secas, galhos ou ramos, que aparecem nos cafeeiros em função de carga alta associada a desequilíbrio nutricional, ataque de ferrugem, cercóspora ou Phoma, por estiagem prolongada ou por queima leve de geada. Ela era muito usada no passado, porem não traz benefícios, pois essas partes secas apodrecem e caem, naturalmente, no período seguinte de chuvas. É, portanto, uma prática desnecessária. RECOMENDANDO 18 finas, para o meio da rua. O quadro 9 mostra a importância da condução de hastes na formação do cafezal, com o excesso de hastes, mesmo em lavoura aberta, provocando redução na produtividade. Verifica-se que no espaçamento usado (1,5 m entre plantas), com 1 haste/planta a produção foi 15 % superior a 4 hastes/cova. Sistemas de plantio/nº de hastes 1 haste, 1 muda simples 2 hastes, 1 muda simples, podada 4 hastes, 2 mudas simples, podadas 2 hastes, 1 muda dupla Quadro 9: Produção em cafeeiros sob efeito do nº de hastes/cova, oriundo de plantio de mudas simples e duplas, com e sem poda. Lavoura Mundo Novo, espaçamento 3,8 x 1,5m. Varginha-MG 1989. Produção média 5 safras (scs/ha) 19,0 18,8 16,5 16,8 Fonte: Toledo, Miguel, Matiello e Almeida – Anais do 15º CBPC, p.161-2. A perda de produção devida á má condução está relacionada com: a) O auto-sombreamento e o “embatumado” de hastes na planta; b) o menor comprimento dos ramos laterais que saem das hastes (normalmente mais finas) comportando, assim, menor número de nós produtivos/ramo; c) a manutenção de um micro-clima mais favorável ao ataque de doenças; e d) o menor tamanho dos frutos produzidos em hastes mais finas. As desbrotas anuais são ideais, pois atuam de forma preventiva. Em certos casos, com as plantas mais novas (até 3º-4º anos) é possível efetuar desbrotas pela eliminação de hastes velhas sem deixar muitas seqüelas (buracos) nas plantas. Em plantações velhas, essa eliminação normalmente só pode ser feita associada a uma poda drástica. Uma situação encontrada na prática é o excesso de hastes provocado pelo plantio de mudas duplas, e com a variedade Catuaí, mais susceptível à compactação de ramos. Outra condição que favorece o aumento do n° de hastes por planta é o seu vergamento, na fase de formação, pela ação de ventos. No quadro 10 abaixo, verifica-se os bons resultados obtidos com a eliminação de plantas duplas de um cafezal com 7 anos. Já, para a eliminação de plantas no renque, muito próximas, a 0,5m, não existem respostas positivas, ao contrário, em certos casos, ocorrem perdas de produção pela eliminação alternada passando de 0,5m para 1,0m e para 1,5m., conforme se pode observar no quadro 11.8 (na página seguinte). Quadro 10: Produção de cafeeiros M. Novo (7 anos), no espaçamento 3,8 x 0,75m, submetidos à eliminação da muda dupla. Resultados de 4 colheitas. Alfenas-MG - 1990. Tratamentos 1) 2) 3) 4) Testemunha: muda dupla 3,8 x 0,75 – 4 hastes Eliminação de covas alternadas 3,8 x 1,5 – 2 hastes Elimin. de cvs altern. c/elim. de 1 haste 3,8 x 1,5 – 1 haste Eliminação de 1 haste nas mudas duplas 3,8 x 0,75 - 1 haste. Fonte: Toledo, Miguel, Garcia e Matiello – Anais do 15º CBPC, p. 119 -1. Produção média 4 safras Acréscimo (scs benef./ha) % 10,8 13,1 21 14,0 30 12,8 18 RECOMENDANDO 19 Quadro 11: Efeito do desbaste na linha sobre as 2 safras posteriores, em cafeeiros plantados no espaçamento 3,75 x 0,5m, com Catuaí - no Oeste da Bahia - 2001. Ensaios 1º 2º 3º Produção média anual em 2 safras, pós-modificação (scs/ha) Tratamentos Modificados após 1ª safra 1) original 3,75 x 0,5m 2) modif. 3,75 x 1,0m 3) modif. 3,75 x 1,5m Modificados após 2ª safra a) original 3,75 x 0,5m b) modif. 3,75 x 1,0 m c) modif. 3,75 x 1,5m Modificados após 3ª safra a) original 3,75 x 0,5m b) modif. 3,75 x 1,0m c) modif. 3,75 x 1,5m 91,5 63 57 87 51 36 70 41 30,5 Fonte: Santinato et alli – Anais 27º CBPC, p. 196-7. 4.7 - Controle do tombamento de plantas O tombamento de plantas de café tem se tornado um problema sério nos últimos anos em algumas regiões. Ele é observado em cafezais onde se usa melhores níveis tecnológicos nas lavouras, com adubações pesadas, irrigação e emprego de espaçamentos menores nas linhas de plantio (renque), visando maior produtividade e facilidade de tratos mecanizados. O tombamento ocorre pelo rápido crescimento dos cafeeiros, associado a troncos finos. A produção vai se concentrando na parte alta das plantas, que tombam para o meio da rua, dificultando a passagem de tratores (para os tratos normais) e a colhedeira mecanizada. RECOMENDANDO 20 As regiões de maior ocorrência são aquelas onde se utiliza a irrigação, principalmente nas que apresentam temperaturas médias mais altas durante o ano, com inverno mais quente (temperatura média mensal sempre acima de 19°C). O controle do tombamento pode ser efetuado, com os conhecimentos atuais, de 2 maneiras: a) Preventivamente, plantando mais longe de pé a pé, pelo menos 1,25 m entre plantas, mas nesse caso perde-se em produtividade. Ensaios em diferentes distâncias na linha, no Oeste baiano, mostram que o tombamento decresce na medida em que se aumenta as distâncias na linha e a produtividade também decresce. b) Correlativamente, tem sido adotado o amarrio d e plantas, ou com auxílio de bambus entremeados na linha, entre as plantas. Outras tentativas que vem sendo testadas pela pesquisa são o decote (herbáceo ou lenhoso) dos cafeeiros, após a primeira safra. Isto também vai reduzir a produtividade. Outras alternativas a estudar são: a aplicação de hormônios antigiberelina e o uso de variedades de menor crescimento, aliando menores níveis de trato durante a formação da lavoura, para as plantas crescerem menos. O decote lenhoso, feito após a terceira safra, promove o engrossamento do tronco e reduz o peso na parte alta das plantas, assim, firma e diminui a queda de plantas. área. A poda parcial ou intercalada se caracteriza pelo corte de algumas linhas, por exemplo, recepando uma e deixando outra sem recepar. A poda por apreciação ou por planta prevê o exame e a aplicação de poda diferenciada para cada cafeeiro. Uma planta muito estragada pode ser recepada, a outra pode receber decote e outras ficarem sem ser podadas. As vantagens do uso da poda intercalada e da por apreciação são a manutenção de boa parte da produção do talhão, aproveitando fileiras ou plantas individuais deixadas sem podar. Em áreas com problemas de vento e também de excesso de insolação as plantas em linhas sem podar oferecem proteção àquelas podadas. As desvantagens da poda parcial são a dificuldade dos tratos diferenciados, no controle do mato, na adubação, no controle de pragas/doenças e na colheita, principalmente na operacionalização mecanizada.. Também ela favorece a permanência de inóculo de doenças e focos de pragas na lavoura. Na aplicação da poda intercalada ou naquela por apreciação vai-se, nos anos seguintes (23anos), podando, gradativamente, toda a lavoura. 6 - COMO INDICAR AS PODAS A indicação das podas significa a escolha dos talhões ou parte deles onde devem ser efetuadas as podas, definindo qual o tipo, a altura e o modo de podar. Nessa indicação deve-se levar em conta os objetivos que se deseja alcançar com a poda diante dos fatores ou problemas que a lavoura vem apresentando. Esses fatores principais vão ser 5 - FORMAS DE USO DAS PODAS NAS discutidos em seguida. LAVOURAS a) Fechamento da lavoura As podas nos cafezais podem ser usadas de 3 formas: A poda contínua; a poda intercalda ou O fechamento de cafezais tem origem no parcial; e a poda por apreciação ou por planta. grande crescimento dos cafeeiros, cujas hastes se A poda contínua é aquela onde todas as vergam para o meio das ruas, reduzindo a insolação plantas do talhão são podadas, como por exemplo, sobre os ramos produtivos, principalmente uma recepa ou decote ou esqueletamento total da daqueles na parte baixa do cafeeiro (saia). Eles RECOMENDANDO passam a produzir pouco e morrem, ocorrendo a derramagem e a perda da saia. Na evolução do fechamento formam-se verdadeiros túneis na lavoura e a produção fica restrita à parte alta (ponteiros) das plantas, com redução na produtividade da lavoura. As lavouras fechadas apresentam dificuldades na execução da maioria dos tratos, especialmente aqueles mecanizáveis, pois fica quase impraticável transitar com máquinas no cafezal. Assim, as pulverizações, a colheita, a adubação e outros tratos apresentam menor rendimento operacional, tendo-se que, em muitos casos, passar a usar a alternativa da operação manual, mais onerosa. Além disso, o sombreamento provocado pelo fechamento favorece o microclima (úmido e sombrio) para o desenvolvimento da broca, da ferrugem e da Phoma/Ascochyta, resultando, também, no atraso da maturação dos frutos e tende a piorar a qualidade do café, devido à dificuldade na seca mais lenta dos frutos e às fermentações, decorrentes do ambiente mais úmido. O fechamento pode ocorrer na rua e na linha. Na rua o fechamento é prejudicial, pois fica sem espaço para o sol penetrar na lavoura. Já, o fechamento na linha é previsto pelo plantio em renque, a distâncias menores de 1m entre plantas. 21 Nesse caso, o sol penetra e atinge lateralmente a ramagem. Os fatores que aceleram o fechamento são: o uso de variedades de porte alto e de maior diâmetro de copa; o uso de espaçamentos mais juntos na rua; a condução sem desbrota, que dá origem a várias hastes/planta; o uso de adubações pesadas, principalmente de N. Deste modo, pode-se prevenir ou atrasar os problemas de fechamento através do uso adequado de variedades, de sistemas de plantio e de condução de plantas, com desbrotas eliminando o excesso de hastes, adubação equilibrada etc. A face do terreno e o alinhamento das linhas de cafeeiros em relação ao caminhamento do sol também interferem no fechamento. Os problemas de fechamento constituem o principal fator que levam ao uso de podas na cafeicultura brasileira e em função do seu estágio são indicados os vários tipos de poda, de forma mais ou menos drástica. É preciso considerar, ainda, que um pouco de fechamento não é problemático e é até desejável nas lavouras de Conillon, onde a produção é concentrada na parte alta das hastes e nas lavouras no sistema adensado ou semi-adensado nas regiões montanhosas e nas áreas quentes. Ali o autosombreamento reduz o trabalho de controle do 22 mato, evita excesso de insolação nas regiões quentes e promove o melhor aproveitamento dos adubos e de nutrientes. Nessas condições, a condução da lavoura com fechamento, por um certo período, não leva a perdas de produtividade. Ao contrário, se efetuadas podas muito freqüentes, para abertura da lavoura, ocorrem perdas na produtividade média do período. b) Desgaste, cinturamento, deformação e embatumado Cafeeiros mal tratados, com deficiências nutricionais graves por longos períodos, agravados por ataque de pragas/doenças e o por déficits hídricos, apresentam desgaste da ramagem lateral que, secando, acabam deixando as plantas esguias e com pouca área produtiva. Quando restrita a uma parte da copa a morte de ramos laterais provoca deformações e acinturamento. Dependendo do nível e da altura onde ocorrem os problemas pode-se aplicar decote, para forçar a formação de ramos terciários e, assim, recompor de ramagem a parte baixa do cafeeiro e, em estágio mais crítico, indica-se uma recepa. Em cafeeiros fracos, maltratados, o esqueletamento não é indicado até que as plantas possam recuperar parcialmente os ramos e folhas e, assim, terem capacidade de melhor.resposta à poda. Outra condição que ocorre, em plantas mais velhas, principalmente em variedades compactas, como o Catuaí, é o embatumado de ramos laterais, principalmente na parte baixa e média do cafeeiro. Os ramos vão se alongando com o passar dos anos, vão ficando finos e assim suportam o desenvolvimento de apenas 3-4 nós produtivos em sua extremidade e dão origem a frutos pequenos. Ao afastar os ramos para ver o interior da copa, verifica-se uma enorme porção dos ramos suberificada, e pelo seu grande número formam um embatumado. Nesse caso, o esqueletamento ou desponte é o ideal, para eliminar o excesso lateral, deixando apenas pequenas porções mais grossas dos ramos produtivos, que vão dar origem a novos RECOMENDANDO ramos, que passarão a receber melhor irrigação de seiva. c) Altura excessiva das plantas Lavouras de café com plantas muito altas tem os trabalhos de pulverização e de colheita dificultados, embora em espaçamentos mais largos a boa altura das plantas represente maior área externa de ramos produtivos, pois o cafeeiro é similar a um cilindro, onde essa área é resultado de sua base (perímetro) vezes sua altura. Estudo realizado na FEV-Varginha, no Sul de Minas, mostrou um rendimento de colheita 38% superior na operação em cafeeiros Catuaí, que não precisaram de escada, em relação a cafeeiros Mundo Novo, colhidos com auxílio de escadas. Para a colheita com máquinas automotrizes ou similares (KTR), até pouco tempo a altura ideal das plantas era ao redor de 2,7 m, sendo que algumas máquinas de gerações mais atuais colhem com até 3,5 m. Na colheita manual, especialmente em áreas montanhosas, com o crescente custo da mão-de-obra, a tendência é a de manter planta mais baixas, que não ocupem escadas para a colheita e nas quais o colhedor possa colher com maior rendimento. A poda por decote pode ser empregada para reduzir a altura de plantas, aplicando-a, periodicamente, de acordo com a necessidade. A altura mais comum do decote é entre 1,7 e 2,0 m. Como o topo da planta cresce por 2-3 safras, significa uma altura total de 2,3 2,8 m, considerada uma boa altura adequada de planta de café, que facilita a colheita e possibilita uma boa cobertura pela pulverização. Em lavouras com espaçamento largo na rua pode-se trabalhar com cafeeiros mais altos, pois no movimento do sol durante o dia, a sombra promovida pelas plantas não chega a ser excessiva para a parte baixa dos cafeeiros, como seria para aqueles em menores distâncias entre linhas. Para a colheita mecânica também pode-se trabalhar com plantas mais altas, conforme já discutido. A redução da altura da planta por decote RECOMENDANDO 23 tende a promover o engrossamento do tronco e reduz o tombamento de plantas, comum nos plantios em renque, em áreas irrigadas e regiões mais quentes. Essa redução auxilia, ainda, no reequilíbrio da parte aérea com o sistema radicular, sendo útil em regiões com déficit hídrico. de nutrientes pelo material vegetal (folhas, ramos, troncos) podado; a morte do sistema radicular; o aumento na brotação e sua condução; a perda de produção no curto prazo; a ocorrência de deficiências nutricionais e a mudança nas ervas, pragas/doenças. d) Excesso de hastes a) Reposição de nutrientes pela ramagem O excesso de hastes é promovido pela falta da desbrota anual. Quando se constata o problema na lavoura ainda jovem, com até 3-4 anos, pode-se eliminar as hastes em excesso, eliminando aquelas mais novas e finas, por arranqio ou corte baixo delas. Nas lavouras mais velhas, onde as hastes já se estabeleceram e o seu arranquio deixaria “buracos” na planta, o excesso de hastes deve ser eliminado por ocasião de uma recepa da lavoura. É muito clara e de fácil entendimento a prática de aproveitar todo o material vegetal podado, composto por folhas, ramos e partes finas do tronco, para repor nutrientes e matéria orgânica no solo da área podada. Mesmo assim, muitos produtores ainda arrastam para fora da área e até queimam os restos da poda. O quadro 12 abaixo mostra o conteúdo nutricional das partes de cafeeiros podados, nos diversos tipos de poda. Os teores de nutrientes foram tanto maiores quanto mais drástica foi o sistema de poda usado. Para destacar apenas os teores de NK eles variavam de 40 kg/ha no decote alto para a faixa de 150-170 kg/ha na recepa baixa. A volta para o solo da enorme quantidade de nutrientes acumulada nos tecidos vegetais podados, ainda melhor, na forma orgânica, com melhor aproveitamento nutricional, reduz a necessidade de adubação em seguida à poda. Esse aproveitamento da grande parte da 7 - EFEITO DA PODA NOS CAFEEIROS E NA ÁREA PODADA A execução de podas nas lavouras de café interfere nas características da área e na condição vegetativa e produtiva dos cafeeiros, exigindo manejo diferenciado nas áreas podadas. Os principais aspectos que devem ser observados pelo efeito das podas são: a reposição Quadro 12: Quantidade de macro e micronutrientes nas partes podadas de cafeeiros (folhas + ramos + tronco), em cafezal Mundo Novo, 12 anos, 4 x 1,2m. - Varginha-MG - 1984. Nutrientes N (g/planta) P (g/planta) K (g/planta) Ca (g/planta) Mg (g/planta) S (g/planta) B (mg/planta) Cu (mg/planta) Zn (mg/planta) Recepa 0,4m 169 10 150 78 16 5 189 120 91 Tipo e altura de poda Decote Decote 1m 154 8 139 72 17 4 197 115 79 Fonte: Garcia et alli – Anais do 13º CBPC, p. 158-64. 1,5m 85 5 88 33 8 3 86 64 39 Decote 2m 42 2 41 17 4 2 93 26 14 RECOMENDANDO 24 ramagem é facilitado, nas áreas mecanizadas, pelo uso de roçadeiras e, principalmente, a trincha, implementos que reduzem os materiais podados em pequenos pedaços, facilitando sua decomposição e evitando que eles atrapalhem qualquer tipo de trato na lavoura (controle do mato, adubação, etc). Apenas a parte grossa dos troncos, no caso de recepa, deve ser retirada, aproveitando-se a mesma para lenha, muito usada na secagem do café, ou até para venda como lenha ou carvão. função da redução da parte aérea da planta, a qual é a responsável pelo fornecimento de reservas de sobrevivência e crescimento das raízes. O quadro 13 mostra perdas de raízes proporcionais à intensidade das podas. A morte é gradual e persiste até aos 4 meses na recepa e esqueletamento (podas drásticas) e já ocorre recuperação a partir dos 2 meses nas plantas decotadas. A morte de raízes influi negativamente na absorção de nutrientes e água e tende a ser maior quanto mais perdurar o período seco pós-poda. b) Morte de raízes Portanto, sempre que possível, é indicado irrigar as plantas recepadas/esqueletadas. Esse aspecto vem Os trabalhos de pesquisa mostram que ocorre agora sendo pesquisado. Em Mutum-MG, o uma significativa morte de raízes finas nos tratamento com irrigação pós recepa baixa em cafeeiros podados, essa morte ocorrendo em cafeeiros Conillon se recuperou rapidamente, Quadro 13: Mortalidade de raízes de cafeeiros em vários tipos de podas cafezal Mundo Novo, 7 anos, 3,5 x 1,5m (3-4 hastes/cova) - Alfenas-MG - 1986. Tipos de % de raízes vivas (em peso) Podas Aos 30 dias Aos 60 dias Aos 120 dias Recepa 87 32 17 Esqueletamento 75 37 17 Decote 90 55 77 Test. sem poda 100 100 100 Fonte: Miguel, Oliveira, Matiello e Fioravante – Anais 11º CBPC, p. 240 -1 Média 44 42 77 100 RECOMENDANDO 25 crescendo 39% a mais em altura e 45% a mais no diâmetro das plantas e resultando num acréscimo de 75 % de produção na 1ª colheita pós recepa. a) Aumento nas brotações e crescimento de ramos As podas resultam no corte do tronco e dos ramos do cafeeiro, quebrando a dominância apical e, por isso, induzindo a formação de novas gemas ou brotos, que dão origem a novos ramos ortotrópicos ou ramos ladrões e, também, levam ao crescimento e formação de novos ramos laterais, plagiotrópicos. No decote, por exemplo, o corte do tronco, na parte alta dos cafeeiros induz a u formação de um “tapete de ramos” ladrões, saídos do tronco na área inferior ao corte, podendo ou não ser feita a desbrota. A curto prazo essa brotação aumenta a área produtiva. Paralelamente, ocorre um crescimento dos ramos laterais, tendendo a aumentar o diâmetro da planta e, principalmente na condução sem brotos na parte alta, leva a planta, através de bifurcações e crescimento dos ramos produtivos, a estruturar melhor a copa do cafeeiro, que se torna mais cilíndrica, havendo, assim, um crescimento compensatório, que auxilia na manutenção da produtividade, mesmo com o corte e perda de produção na parte alta dos cafeeiros. Na recepa ocorre grande brotação no tronco, que precisa ser conduzida para gerar novas hastes, mais grossas e produtivas. No esqueletamento/desponte, a exposição do tronco ao sol promove a quebra de dormência de Tratamentos Recepa a 40 cm Decote a 1,8 m Testemunha gemas ortotrópicas e leva a um superbrotamento de ladrões, que também necessita desbrota. b) Perda de produção no curto prazo A perda de produção nas plantas podadas, principalmente no curto prazo, nos dois primeiros anos pós-poda, é a principal razão que muitas vezes contra-indica o uso de podas em cafezais e/ou reduz a aceitação da prática pelos produtores. De fato, quanto mais drástica for a poda, mais tempo a planta necessita para reformar sua estrutura produtiva, isto fazendo com que, dentro da necessidade, se deva podar o mínimo possível da planta. Veja-se o exemplo do quadro 14 onde após uma geada de capote se podou baixo, por recepa, alto, por decote, ou não se podou. Quadro 14: Produção de café após sistemas de podas na recuperação de cafeeiros atingidos por geada superficial (“capote”), em cafezal MN, 5 Produção média anual de 2 safras pós- poda (scs/ha) 3,2 15,8 14,5 26 anos, 4 x 2 m Elói Mendes-MG, 1979. A perda total de uma safra, como ocorre na recepa e no esqueletamento e a perda parcial na segunda, principalmente na recepa, pode comprometer a média de um período mais longo, com isso a produtividade nas plantas sem poda tende a se manter sempre mais alta. a) Deficiências nutricionais: As carências nutricionais tendem a ficar reduzidas nas plantas podadas, devido à sua menor produção. Por um lado a morte de raízes traria maior dificuldade de absorção de nutrientes. Por outro lado a reposição de material vegetal podado é uma boa fonte de suprimento O que se pode observar de diferente nas plantas podadas é uma necessidade maior de micronutrientes, pela maior brotação que ocorre, como de zinco e boro associados aos tecidos meristemáticos, nas zonas de crescimento dos ramos. Com isso são exigidos maiores cuidados no seu suprimento. b) Problemas de ervas, pragas e doenças As lavouras podadas, pela maior abertura das áreas, são mais infestadas por ervas daninhas e o seu controle, por herbicidas de pós-emergência, é dificultado nos casos de recepa, onde as brotações ficam muito sujeitas à deriva das aplicações e, assim, podem ser intoxicadas. Quanto às pragas, existem comportamentos diferentes entre elas. O ataque de broca tende a ser reduzido (pelo maior arejamento), ao contrário, pela maior insolação, tende a aumentar o ataque de bicho-mineiro e de ácaros. Pequenos besouros, como carneirinhos e vaquinhas, costumam atacar bastante as brotações de recepa. As pragas de sistema radicular ficam reduzidas nos cafeeiros podados drasticamente, principalmente na recepa. As cigarras e a mosca de raiz não ovipositam na área recepada e, assim, sua população fica gradativamente reduzida. Os nematóides também têm sua população diminuída, RECOMENDANDO pela morte das raízes, porém essa redução é temporária, voltando a atacar as raízes novas emitidas e se tornando muito prejudicial na recuperação da rebrota. Nas doenças, a ferrugem e a cercosporiose são menos graves nas plantas podadas, pelo maior arejamento e pela redução na produção. A Phoma, Ascochyta e a Pseudomonas, ao contrário, são favorecidas, pois atacam as brotações novas e são auxiliadas pela maior ação dos ventos. Nas podas intercaladas as plantas sem podar fornecem inoculo para o ataque nas brotações dos cafeeiros recepados, além de formarem um ambiente( microclima) mais sombrio e úmido sobre eles. 8. EMPREGO DE PODAS EM SISTEMAS OU CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DE CULTIVO 8.1 - Podas em cafezais adensados/ superadensados A poda é uma prática mais importante para os cafezais conduzidos em sistemas adensados, devido às menores distâncias usadas nos espaçamentos de plantio, que favorecem o fechamento precoce da lavoura e os problemas inerentes de dificuldade no manejo dos tratos, de perda de produtividade etc. O fechamento é o principal problema na adoção do sistema adensado, sendo programadas podas para prevenir ou, então, de forma corretiva, proceder a reabertura da lavoura. Porem, o fechamento pode ser admitido, até certo ponto, uma vez que a produtividade por área pode manterse suficientemente alta, mesmo quando restrita à parte superior das plantas. Uma nova alternativa de condução da lavoura preconiza, até, o fechamento como uma forma de simplificar os tratos (poucas capinas, colheita no chão etc.). Esses conceitos se aplicam melhor nas condições de pequenas propriedades e em regiões montanhosas O uso de podas em cafezais adensados pode ser feita dento de 3 formas: Podas programadas. Podas corretivas. RECOMENDANDO Novos sistemas Sem podas. a) Podas programadas: São podas que podem ser aplicadas de forma preventiva, ou seja, previne-se o fechamento crítico. Elas podem ser de vários tipos: Arranquio de linhas alternadas; Recepa de linhas alternadas (1 ou 2); Recepa de 1/3 das linhas conforme previamente programado; Recepa e decote alternados; Recepa de 20 a 25% das linhas, conforme esquema programado, tipo “Fukunaga”; Recepa por talhão; Esqueletamento em ciclos. O arranquio de linhas alternadas: pode ser efetuado após a 3ª ou 5ª colheita, de acordo com o espaçamento adotado. Deve ser efetuado antes que as plantas sofram perda significativa dos ramos da “saia”. Assim, a lavoura fica transformada para o sistema aberto, porém a produtividade média por área será maior, devido à colaboração das 4 ou 5 27 primeiras colheitas, efetuadas no espaçamento menor. Em geral esse sistema reduz a produtividade em relação à ausência do arranquio. A recepa de linhas alternadas: também deve ser iniciada após a 3ª ou 5ª colheita, antes do desaparecimento dos ramos da “saia”. Quando o espaçamento entre linhas for pequeno e, principalmente, com plantas de porte alto pode haver o estiolamento (entre-nós longos) da brotação, devido à falta de luz. Nesse caso, a solução é adotar a recepa a cada 2 linhas alternadas. Outra opção é a recepa de uma linha e o decote da outra. Após a 1ª ou 2ª colheita nas plantas recepadas, se houver necessidade, poda-se as linhas não podadas anteriormente. Na recepa de 1/3 das linhas inicia-se a partir da 4ª safra, recepando a 1ª fileira; no ano seguinte a 3ª e a 2ª em seguida, voltando novamente à 1ª fileira (no 4º ano). Na recepa de 20% das linhas Sistema “Fukunaga” modificado: implica na poda programada do cafezal, conforme esquema previamente elaborado, recepando-se 1/5 das linhas e decotando-se 2/5. Assim, se o esquema de recepa a ser estabelecido, em cada conjunto de 5 RECOMENDANDO 28 linhas, for na ordem: 1, 3, 5, 2, 4, ou seja, após a 2ª colheita, recepa-se a linha nº 1 e decota-se as linhas nº 2 e nº 4, no ano seguinte (após a 3ª colheita), recepa-se a linha nº 3; após a 4ª colheita poda-se a linha nº 5; após a 5ª colheita, a linha nº 2 e finalmente após a 6ª colheita, corta-se a linha nº 4, encerrando-se o 1º ciclo de poda. Após a 7ª colheita reinicia-se novo ciclo de poda, seguindo-se o mesmo esquema anterior ou modificando-o conforme o aspecto da lavoura. A recepa por talhão é um sistema que pode ser programado com o plantio escalonado ou, simplesmente, de acordo com o ciclo (número de safras ) que se deseja entre as podas. Ele se mostra aplicável também ao superadensamento, nesse caso a ciclos mais curtos. O esqueletamento se adapta melhor nas lavouras semi-adensadas, onde a poda é programada a cada ciclo de 3-4 safras, visando manter as condições de mecanização dos tratos. b) Podas corretivas Nesse sistema de podas a lavoura é mantida sem poda enquanto a produtividade permanecer boa, e quando houver grande declínio ou, então, as plantas ficarem excessivamente altas efetua-se a recepa total da lavoura, a 20-30 cm de altura. Os ensaios têm mostrado que até a 8ª ou 10ª produção pode-se manter a lavoura e, em alguns casos, a produção permanece vantajosa por mais de 12 safras, conforme pode ser observado mediante os dados do quadro 15 no fim da página. Para evitar a perda total da produção na propriedade pode-se adotar a recepa por talhões, em plantios escalonados (a cada 1-2 anos), cortando-se, também, de forma escalonada. c) Novos sistemas Trabalhos de pesquisa mais recentes demonstram a viabilidade de aplicar novos sistemas de poda em cafezais adensados ou semiadensados. O esqueletamento pode ser uma opção temporária, pois com a proximidade das linhas de cafeeiros, o fechamento volta a se manifestar rapidamente. Outro problema é que não ocorre recomposição na saia, visto ali já se encontrarem mortos os ramos laterais, pelo fechamento anterior, o que pode ser corrigido parcialmente pela condução de alguns ramos ladrões, saídos do tronco nas porções onde se deseja cobrir as falhas dos laterais. Como já dito anteriormente, o esqueletamento vai bem para lavouras semiadensadas. A segunda opção é a aplicação de decote baixo nos cafeeiros adensados, que pode ser Quadro 15: Tipos de poda em cafezal adensado, Catuaí 1,75 x 1m. Produção média em scs. benef./ha em períodos separados. Varginha-MG 1993. Tratamentos 1) 2) 3) 4) 5) 6) Três 1ªs safras 82-84 Testemunha 25,4 Fukunaga 25,2 2 alternos 24,1 Recepa total 25,7 Decote herbáceo 25,4 23,6 Arranquio alternado 4ª - 7ª safras 85-88 41,6 29,2 29,1 41,1 39,4 26,9 8ª - 12ª safras 89-93 35,5 30,0 25,5 10,5 11,9 27,8 Média das 12 safras 82-93 34,8 (*) 28,5 23,7 24,8 22,4 26,4 Obs.: Podas 2, 3, 5 e 6 iniciadas em 1984; recepa total (4) efetuada em 1989. O decote herbáceo (5) também levou recepa total em 1989. (*) Melhor produção até a 12ª safra, onde não levou poda. Fonte: Miguel, Matiello, Almeida e Toledo – Anais 19º CBPC, p. 100-1, 1993 RECOMENDANDO 29 adotado em todas as plantas, em linhas alternadas ou só nas plantas estragadas por alta produção. O decote pode ser feito após 3ª ou 4ª safras, quando a carga se concentra somente na parte alta dos cafeeiros. Esses topos das plantas se esgotam depois de uma safra alta, quando, então, devem ser, cortados (decotados), voltando a brotação em seguida. Com esse tipo de poda amplia-se a área superior do cafeeiro e, conseqüentemente, sua produtividade. Além disso, a altura das plantas é reduzida, facilitando a colheita e os tratos. Outras vantagens são: a) a não abertura da área, o que evita a reinfestação de ervas; e b) a pouca quebra nas safras, que seria grande na opção por podas drásticas (recepa). A terceira opção é a recepa “a posteriori”, ou seja, recepando a planta após brotação provocada e conduzida na parte baixa da planta. Tratamentos Recepa total Decote total Decote alternado Decote por apreciação Testemunha 2003 7,0 35,6 33,7 48,1 tipos de poda. Martins Soares-MG, 2006. d) Condução sem podas Um sistema novo prevê a condução das lavouras adensadas sem poda, formando “salões” sob os cafeeiros, ficando a produção restrita aos ponteiros. As capinas ficam muito reduzidas, pelo sombreamento total do solo, e a colheita é prevista por derriça (com varas) no chão. Algumas dificuldades observadas são: problemas com a qualidade do café; colheita pouco aceita pelos trabalhadores; ataque maior de broca e ferrugem; e pulverizações quase impraticáveis pelos sistemas normais, sendo aplicável, quase que somente, o uso de canhões-atomizadores. e) Recomendações das podas Para cafeeiros muito adensados o ideal seria recepar baixo 2 linhas e as 2 restantes ficariam abertas, assim seu tronco emitiria brotos, que seriam conduzidos. Dois anos após essas plantas seriam recepadas, porém com corte acima, aproveitando esses brotos já crescidos. Essas várias opções, principalmente as duas últimas, se aplicam melhor aos casos de pequenos cafeicultores. O quadro 16 mostra os resultados de um ensaio em cafezal adensado em área montanhosa na Zona da Mata de Minas Gerais. Pode-se verificar que o decote, principalmente na modalidade de apreciação, resultou nos melhores resultados de produtividade. Quadro 16: Produção de café (scs/ha) em lavoura adensada 2,0 x 0,7m sob diferentes Produção (scs./ha) 2004 2005 2006 38,5 43,9 118,2 83,0 35,3 132,7 74,4 18,9 99,6 81,5 42,5 129,8 61,5 39,2 124,9 Média 50,1 64,5 57,1 71,9 68,4 Dentre os sistemas aqui apresentados para lavouras adensadas o que tem sido mais usado, na prática, é a recepa total do talhão. Também pode ser indicada a recepa a cada 2 linhas alternadas. Essa recepa, quando efetuada mais cedo na lavoura, deve ser, preferencialmente, feita mais alta, aproveitando 1 a 2 ramos laterais (“pulmões”) desde que encontrados até 60-70 cm do solo, os quais, quando muito longos ou “embatumados”, devem ser despontados. Caso contrário, recepar baixo (20-40 cm). Conduzir 1 broto por planta a 0,5 m e 2 brotos no espaçamento de 1m entre plantas. O decote seria normalmente uma poda imprópria para o sistema adensado, visto que elimina, justamente, a parte alta da planta, onde se concentra a produção nesse sistema. Além disso, quando efetuado mais cedo, acelera o fechamento, pois aumenta o crescimento dos ramos laterais. 30 Atualmente, porém, novos resultados, conforme dados já apresentadas no quadro , estão mostrando a viabilidade do decote, aplicado por planta, também em lavouras adensadas (ver item c). As podas de desponte ou esqueletamento (laterais), tem menor uso. A princípio, elas tem se mostrado menos adequadas às lavouras adensadas, pois o espaço é pequeno, havendo estiolamento das brotações laterais. Também, essas podas voltam a fechar rapidamente, já no 2º ano pós-podas. Nos sistemas semi-adensados elas encontram melhor aplicação. Nas podas com tipos intercalados um dos problemas é a necessidade de adubação e tratos diferenciados, o que dificulta o manejo. Outra questão é a contaminação, por doenças e pragas, das plantas remanescentes sobre aquelas recepadas. É necessário, ainda, prestar atenção ao fato de que as plantas podadas ficam mais sujeitas às geadas e o efeito do frio é sempre mais danoso nessas plantas. 8.2 Podas em cafezais geados ou atingidos por granizo. A aplicação de podas em cafezais atingidos por geadas ou chuvas de granizo vai depender da observação prévia do nível de dano causado à copa das plantas, valendo para elas a mesma recomendação geral aplicável às lavouras não atingidas: quanto menos cortar melhor, pois devese aproveitar, ao máximo, a estrutura produtiva das plantas, ganhando-se com menores gastos com poda e com o retorno mais rápido à produção. Outro ponto importante é a época de podar. Os trabalhos de pesquisa mostram que se deve esperar de 60-90 dias após a geada (coincidindo com o reinício do período quente chuvoso) para RECOMENDANDO podar os cafeeiros. Primeiro porque logo após a geada não se sabe exatamente até onde queimou. Depois porque a poda sempre elimina reservas, necessárias à recuperação das brotações, em uma época normalmente seca (julho-setembro). Não se pode descuidar, ainda, de antecipar podas, em áreas sujeitas a geadas dentro do período de risco, uma vez que a planta podada fica muito mais sujeita a danos pelo frio. Quanto ao modo de podar cafezais geados, deve-se seguir a orientação normal, adotando podas leves (decote) ou drásticas (recepa) ou dispensar as podas, efetuando apenas desbrotas, o que é comum nos casos de lavouras com queima superficial (“capotinho”) por geada ou atingidas levemente por chuva de granizo. Para queima parcial do cafeeiro (“capote”) pode-se adotar um decote, que pode ser feito previamente à brotação, ou, então, conduzir os brotos no ponteiro e, depois, quebrar manualmente as hastes secas. Para queima grave, até o tronco, pode-se adotar podas por recepa. Nesse caso podese efetuá-la à altura logo abaixo do ponto que queimou, podendo ocorrer, nessa condição, recepas mais altas, ou até decotes baixos (1-1,2 m), costumando-se chamar a operação como recote. Quando a operação é feita manualmente pode-se usar alturas variadas por planta. O esqueletamento e o desponte normalmente não são indicados pois a geada já efetua um desponte natural dos ramos RECOMENDANDO 31 Cafeeiros cinturados podem receber poda leve de recuperação, como um decote seletivo (planta da frente) vendo-se a situação de planta podada no ano anterior (fundo). laterais. Para plantas novas, atingidas por canela de geada, deve-se primeiro esperar as brotações, logo abaixo da canela. Quando os brotos estiverem com cerca de 10 cm deve-se efetuar a desbrota, conduzindo 1 broto por planta e, na medida em que esse broto estiver firme, cortar logo acima, eliminando a haste original, uma vez que a parte superior à lesão vai, aos poucos, amarelecendo até morrer. Como já foi citado anteriormente, as lavouras atingidas por granizo normalmente não precisam de poda. Muitas vezes é necessário desbrotas, pois as machucaduras causadas na haste dos cafeeiros estimulam as brotações. Deve-se, no entanto, cuidar do controle fitossanitário, pois as aberturas são porta de entrada para microrganismos (fungos e bactérias), que causam desfolha e seca de ramos. 8.3 Podas de lavouras em recuperação Em lavouras submetidas a mal trato, durante anos sucessivos, boa parte das plantas apresentam grande quantidade de ramos laterais mortos (não havendo renovação de gemas para esses ramos) deixando as plantas deformadas, cinturadas e depauperadas, com pequena área produtiva na copa. Na fase de recuperação dessas lavouras devese analisar, previamente, a condição vegetativa dos cafeeiros, para verificar a necessidade de poda e a capacidade de resposta, observando a parte aérea e o sistema radicular das plantas. Cafeeiros muito velhos, de variedades pouco vigorosas, atacados por nematóides e com sistema radicular deficiente têm reduzida sua capacidade de recuperação e, muitas vezes, precisam ser substituídos. O tipo e a altura da poda, indicados para auxiliar na recuperação, variam com o que a lavoura mostrar, podendo ser decote ou recepa, ou ambos na mesma lavoura (poda por planta), com ou sem desponte. Plantas ainda com a copa aproveitável, geralmente se recuperam bem com um decote, que promove o forçamento na formação de novos ramos laterais, brotados a partir de outros. A recepa tem a vantagem de renovar toda a copa, além de favorecer o reequilibro da parte aérea e do sistema radicular, facilitando, ainda, o tratamento contra pragas de solo eventualmente presentes. As podas, quando necessárias, devem ser complementadas pelo uso adequado dos tratos, RECOMENDANDO 32 visando a recuperação no desenvolvimento e produtividade das plantas podadas, destacando-se a correta adequação do solo, (física e química) suprindo e reequilibrando os nutrientes, o controle das ervas e das pragas/doenças, especialmente as do sistema radicular. 8.4 Podas em cafezais Conillon O conceito de poda em café Conillon é bastante diferente daquele usado para variedades de café arábica, em função de 2 características básicas do cafeeiro Conillon: a) as plantas apresentam uma intensa ramificação ortotrópica (multi-caule) ficando sem saia e a produção fica restrita à parte alta das plantas; e b) o manejo tradicional é feito sem desbrota, só ultimamente, em plantios mais adensados, se adota um menor nº de hastes/planta. Em conseqüência dessas características é normal um cafeeiro Conillon adulto possuir mais de 30-50 hastes ortotrópicas. A planta, assim, cresce em forma de uma taça (moita), não mantém saia e a produção é restrita à parte superior das hastes, as quais são continuamente renovadas. Deste modo, o problema de fechamento no café Conillon não é grave como nos cafezais de arábica, nos quais a condução é feita com poucas hastes (1-2/planta) e onde a produção deve ocorrer em toda a superfície da copa cilíndrica, de alto a baixo. O fechamento nos cafezais Conillon atrapalha a mecanização dos tratos e favorece o ataque de broca e de ferrugem, além de dificultar seu controle. Porém, o fechamento facilita bastante o controle do mato, o que é desejado pelos produtores de áreas não mecanizáveis. Assim, até a década de 80, praticamente não se usava podas em Conillon. De lá para cá, novas lavouras, mais empresariais, foram implantadas, muitas com irrigação e mecanização, outras mais adensadas, e o trabalho de poda foi muito ampliado, com bons resultados. A poda em cafeeiros Conillon pode ser usada para uma ou mais das seguintes finalidades: a) Renovação das plantas. b) c) d) e) f) Regularização da produção anual. Redução do tamanho das plantas. Eliminação do excesso de brotos ou ramos. Eliminação de ramos improdutivos. Facilidades no controle de broca, ferrugem e na colheita. g) Viabilidade na mecanização e no manejo da lavoura. h) Melhoria da relação galho/folhas. Existem, ainda, poucos trabalhos de pesquisa sobre tipos de podas em cafezais Conillon. Um experimento realizado em Marilandia pelos Técnicos do ex-IBC, comparou os tipos: recepa baixa total, recepa baixa parcial, desbaste lateral e decote. Após 4 safras, os melhores resultados de produção média foram com o desbaste lateral (30 scs/ha/ano) e com a recepa parcial (22 scs/ha/ano) onde se deixou 3-5 hastes, eliminadas 2 anos após, ficando a recepa total com 15sacas, e a testemunha (sem poda) com 28 scs/ha, confirmando a expectativa de que o fechamento não estava restringindo significativamente a produção, no período estudado. Na prática, três tipos de podas vêm sendo mais usados: a) a recepa baixa total, ou intercalada, à semelhança do que se usa em café arábica; b) a eliminação anual de ramos velhos, esgotados, chamada de poda de produção, associada à condução de novas hastes; e c) a desbrota do excesso de brotos. Ultimamente vem sendo praticada no Espírito Santo, sem base experimental, a eliminação (desbaste) de ramos produtivos, de baixo para cima nas hastes, aqueles que já frutificaram no ano anterior. Deste modo, observando os resultados de ensaios e as experiências práticas realizadas com o café Conillon no Brasil, pode-se indicar: a) Fazer desbaste lateral, após a colheita, dos ramos vergados para o meio da rua, visando prolongar o período de abertura da lavoura. b) Em áreas pequenas ou onde houver disponibilidade de mão-de-obra aplicar a poda de produção, de forma preventiva, a partir da 3ª- RECOMENDANDO 33 4ª safra, eliminando, a cada ano, logo após a colheita, os ramos que produziram muito, e normalmente os que já produziram 2-3 safras e que se encontram esgotados (com poucos ramos laterais enfolhados). c) A renovação da planta pode ser feita através da recepa baixa ou da aplicação da poda de produção de forma mais drástica, deixando menos hastes velhas por planta, e com maior número de hastes novas conduzidas, nesse caso podendo ser usada mais tardiamente, a partir da 6ª-8ª safras. d) Em lavouras mais adensadas (2 a 2,5m x 1m) conduzir 2-3 hastes por planta e iniciar sua renovação, por poda de produção anual, após a 2ª ou 3ª safra. junto na linha (1 m), com a condução de uma só haste, que assim forma uma planta cilíndrica, semelhante à de café arábica. O problema é que nas regiões mais secas as plantas costumam cinturar e, também, com o tempo, a saia fica muito larga, exigindo desponte. Outra observação curiosa é que logo os ramos plagiotrópicos se engrossam e começam a emitir ramos ortotrópicos. Os estudos feitos sobre essa alternativa mostram que uma só haste reduz a produtividade e que o ideal para esse sistema de condução é deixar 3 hastes/planta, como se pode ver no quadro 17. Para apenas uma haste está sendo testada uma distância menor, de 0,5m entre plantas. Nessa condição as plantas ficam com saia, se assemelham a cafeeiros arábica e podem ser passíveis de colheita mecânica. A poda de produção pode ser feita com facão, serra de poda ou podão. Os ramos esgotados (emponteirados) devem ser cortados deixando-se o melhor broto existente, mais abaixo, para renovar a copa. Pode-se combinar essa poda com a eliminação do excesso de brotos existentes na planta, possibilitando uma melhor entrada de luz dentro da mesma. Não existem, entretanto, dados que permitam afirmar se essa desbrota favorece ou não a produtividade. As hastes esgotadas apresentam a casca mais clara, esbranquiçada. Quanto antes essa poda é realizada (após a colheita, a partir de abril/maio) melhor. Uma nova alternativa de condução de cafeeiros Conillon vem sendo adotada por produtores de Rondônia. Trata-se do plantio mais 8.5 Podas para safra zero/safra cem Nos últimos anos tem crescido bastante o uso de podas sistemáticas nas lavouras, mesmo nas abertas, visando zerar a safra no ciclo de baixa produção. Esse sistema recebeu o nome de safra zero ou, mais propriamente, safra cem, pois é preciso ter safras altas para manter boa produtividade média diante de outra safra zerada pela poda. O sistema utiliza a poda de desponte nos cafeeiros, aplicada após a colheita da safra alta, e no ano seguinte eles não produzem, recuperam sua ramificação lateral , e voltam a produzir muito 2 anos após. Com isso objetiva-se baratear o custo da Quadro 17: Produção de cafeeiros Conillon, no espaçamento 2 x 1m, conduzidos com diferentes números de hastes/planta Mutum-MG -2002. Tratamentos Uma haste/planta Duas hastes/planta Três hastes/planta Quatro hastes/planta Livre crescimento Produtividade média 2 primeiras safras (scs/ha) 52 69 80 54 50 Fonte: Matiello et alli – Anais 28º CBPC, p. 37-8 34 colheita, operação que apresenta maior rendimento na condição de alta produtividade, ficando zerada, portanto sem custo, naqueles anos em que ficaria uma operação onerosa pela baixa produtividade. O sistema safra zero tem boa fundamentação técnica e econômica mas é preciso considerar os fatores que podem influenciar nos seus bons resultados. Dentre esses fatores deve-se levar em conta: o problema de risco climático (geada, seca) que possa vir a ocorrer coincidindo quando haveria a boa colheita, o que ampliaria as perdas; o comportamento das variedades em relação ao esqueletamento; o ciclo ideal da poda; a condição da lavoura, sua capacidade de resposta e seu stand de plantas; e o nível de trato adequado a cada ano A recuperação de cafeeiros Mundo-Novo tem sido melhor do que no Catuaí, este último dependendo mais das reservas que ele ainda mantinha no pós-colheita da safra alta. Com relação ao tipo de trato, atualmente está sendo recomendado o maior nível nutricional e de controle fitossanitário no ano da poda. Não se conhece bem, ainda, o melhor ciclo RECOMENDANDO de poda. Para certos casos é preciso esperar mais safras e não duas como é comum. Os novos experimentos em andamento tem mostrado que para se obter bons resultados com o sistema safra-zero, é preciso: contar com uma variedade bem vigorosa; ter um bom stand de plantas; realizar a poda mais cedo; cuidar de problemas fitossanitários mais graves na planta super-brotada (Phoma, ferrugem); observar problemas de pragas de solo para uso de granulados; deixar o material podado nas lavouras; efetuar desbrotas corretamente. Relativamente ao nível nutricional e ao ciclo de poda, o quadro 18 mostra alguns resultados obtidos. Verifica-se, pelos resultados preliminares, que a adubação normal, com níveis semelhantes todos os anos, tem funcionado melhor do que a indicação que se preconiza hoje, que consiste numa adubação mais pesada no ano da poda ou safra baixa, visando maior recuperação da ramagem. Tudo indica que o material vegetal podado contribua bastante para o suprimento nutricional no pós-poda. Sobre o ciclo de poda pode-se verificar diferenças importantes entre variedades, com o Catuaí respondendo pior em ciclos curtos. RECOMENDANDO 35 Quadro 18: Produção de café, na média de 3 safras, em cafeeiros sob diferentes ciclos de Tratamento Esqueletamento cada 2 anos Esqueletamento cada 3 anos Esqueletamento cada 4 anos Testemunha/sem esquel. Adubações: 03/04 / 04/05 / 05/06 Baixa / Alta / Baixa Média / Média / Média Alta / Baixa / Alta Baixa / Alta / Baixa Média / Média / Média Alta / Baixa / Alta ------------Baixa / Alta / Baixa Média / Média / Média Alta / Baixa / Alta Produção média 2004-2005-2006 (scs/ha) Ensaio Catuaí Ensaio Catucaí 26,4 26,2 30,1 36,4 21,4 30,2 50,8 62,5 51,2 68,9 48,3 64,1 ------------------------69,0 66,3 57,0 63,4 65,6 69,3 esqueletamento e níveis de adubação N/ K2O, Martins Soares - MG, 2006. Quanto à época do desponte, o ensaio cujos dados se encontram na figura 1 (abaixo) mostram que quanto mais cedo melhor foi o crescimento da ramagem, que apresentou maior número de nós por ramo produtivo, portanto com maior potencial de produção, nas épocas mais cedo. em 2 grupos: os de operação manual e os mecanizados, operados por trator. Para os serviços de poda manual são usados: foices, facões, machados, serrinhas, podões, motoserras e podadeiras costais motorizadas. As foices e facões são usados para o desgalhamento dos cafeeiros, preparando-os para a recepa ou para podas leves, como as de limpeza ou de produção, muito usadas nos cafeeiros Conillon, ou para decote em cafeeiros arábica. 9 - EQUIPAMENTOS PARA PODAS Os podões podem ser de 2 tipos, o comum, operado com as 2 mãos, usados no corte e Os equipamentos disponíveis para os trabalhos de poda em cafezais podem ser reunidos eliminação de ramos improdutivos (caso do café Crescimento Vegetativo 12 10,2 a 9,4 b Nº de nós/ramo 10 8,3 c 6,5 d 8 5,5 e 6 4,2 f 4 2 0 Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Figura 1. Crescimento vegetativo medido pelo n° de nós em cafeeiros submetidos ao esqueletamento e desponte realizados em diferentes épocas, nos meses de julho a dezembro. (Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de SkottKnot a 5%). 36 Conillon) ou para decote. O outro tipo, menos comum, é a tesoura podadeira, ligada a um compressor (mesmo da máquina derriçadeira de café), através de uma mangueira e o corte, operado com uma só mão, é feito pela força pneumática (ar comprimido) podendo, assim, cortar galhos mais grossos. O machado e a motoserra são usados na recepa, ou seja, no corte da haste (ou hastes) grossa do cafeeiro. A motoserra indicada para o trabalho é a de modelo de sabre menor, mais leve. As máquinas podadeiras motorizadas também podem ser de 2 tipos: o 1º é um equipamento costal motorizado (motor de 2 tempos) que aciona um disco com 2-3 lâminas, sendo esta a mesma máquina comumente usada para roçar grama em jardins. Ela é mais útil no trabalho de desponte ou esqueletamento de cafeeiros. Existe um Kit para adaptar a máquina derriçadeira, para, também, efetuar poda. O 2º tipo opera o corte dos ramos com um implemento que tem um conjunto de laminas tipo pente ou segadeira, que pode ser acoplado em um motor de 2 tempos, tipo motosserra, ou ligado a RECOMENDANDO uma mangueira de ar comprimido (mesma da derriçadeira). Esse tipo vem sendo empregado no corte de ramos laterais, nas podas de esqueletamento ou desponte. A pare cortante pode ficar próxima ao motor ou no final de um alongador, que pode chegar a altura de corte até 5m do chão, nesse caso tendo na extremidade um conjunto de corte de 30 cm, com corrente cortante semelhante à da motoserra. A máquina mais comum, para uso em áreas mecanizáveis, é a recepadeira/decotadeira, que trabalha acoplada aos 3 pontos do trator, sendo acionada pela TDF. Um conjunto de polias e correias transmite rotação para um grande disco de serra circular, que efetua o corte na altura (regulável) desejada. O conjunto de corte é o mesmo para a recepa ou o decote. Para adaptar ao decote coloca-se uma outra base para acoplar aos 3 pontos, adiciona-se uma polia com as correias e uma torre de alongamento em altura. Trabalhando como recepadeira a máquina pode ser regulada desde 30 cm até 1,20m e como decotadeira desde 1,50 até 2,30m, em tratores mais altos até 2,50m. Atualmente, algumas fábricas RECOMENDANDO 37 Dois tipos de trinchas, usados para passagem sobre ramos podados, visando triturá-los. comercializam modelos da máquina recepadeira separadamente daquela decotadeira, sendo: Serra recepadeira, serra decotadeira e recepadeira, com regulagem de altura de 40 cm até 2,80 m. A transmissão é feita por caixa multiplicativa acionada pela bomba hidráulica. Uma haste metálica é acoplada na parte lateral da máquina, com o objetivo de conduzir os ramos (hastes ortotrópicas) dos cafeeiros para a área central, na região de corte do disco. Em lavouras com cafeeiros com grande número de hastes, abertas, às vezes é preciso, na poda de decote, fazer um repasse manual (com foice), em algumas hastes que sobram do corte pela decotadeira. Os equipamentos acoplados a trator para esqueletar ou despontar os cafeeiros, constam de um conjunto de discos de serra circular (normalmente 3 ) ou de facas triangulares dispostos em uma haste que caminha lateralmente e em posição oblíqua à linha de cafeeiros, efetuando o corte dos ramos laterais em forma cônica. O equipamento permite regulagem do angulo de corte de 75, 90, 105 e 120 graus. Um equipamento de introdução mais recente, chamado de duplex, possui serras laterais e também no ponteiro, efetuando, assim, o esqueletamento e o decote ao mesmo tempo. No equipamento pirâmide doblô, usada para esqueletar, pode-se acoplar um triturado, fazendo a poda lateral e a trituração dos galhos em uma só operação. O material fino, podado, composto de ramos e folhas, pode ser deixado no próprio local, passando-se em seguida uma roçadeira para triturálo ou uma grade para efetuar a redução do tamanho dos resíduos da poda, de modo a permitir os tratos. A manutenção desse material na lavoura significa o aproveitamento dos nutrientes nele contidos e de seu efeito orgânico, dispensando adubações. Os caules grossos devem ser removidos, podendo ser usados como lenha nos secadores. Para triturar melhor os galhos existem 3 equipamentos (modelos) que funcionam acoplados ao trator, constituídos por um rolo, com martelos, que gira e reduzem os galhos em pedaços pequenos (Triton, Triturador TP 1510 Urso Branco e Berton). 10 - TRATOS ESPECIAIS EM CAFEZAIS PODADOS RECOMENDANDO 38 As lavouras podadas devem merecer alguns cuidados especiais, visando suprir e proteger as novas brotações, melhorar o crescimento da ramagem e resultar na recuperação mais adequada em tempo e em quantidade produzida. Os brotos ficam mais sujeitos aos ventos, às pragas e doenças (como o Bicho-Mineiro e a Phoma), ao abafamento pelo mato e à fitoxidade por herbicidas. Assim, principalmente no caso de poda drástica (recepa) em toda a lavoura, deve-se observar a necessidade de quebra-ventos (temporários) ou, então, deixa-se linhas do cafezal sem podar para proteger àquelas podadas. O mato deve ser mantido controlado na linha e as pragas e doenças devidamente tratadas. É comum aparecer ataques de besouros (vaquinhas, burrinhos) na folhagem nova, nas brotações de recepa, estas sendo muito sujeitas a intoxicações com herbicidas (deriva). No caso de poda intercalar, deve-se observar que a linha não podada fornece inóculo de doenças e pragas para as plantas podadas. O uso de granulados de solo é bastante efetivo para a recuperação no sistema radicular, seja pelo seu efeito tônico/hormonal, seja por auxiliar no controle de pragas do solo (nematóides, cigarras, cochonilhas, moscas). A irrigação também tem se mostrado de grande utilidade na recuperação de plantas podadas, especialmente nas áreas de café Conillon. Muitos produtores confundem poda com recuperação de cafezais, o que não é realidade. É fato que ao podar o cafeeiro promove-se um melhor equilíbrio da parte aérea com o sistema radicular. De forma paralela, são incorporados materiais vegetais podados, e ocorre baixa produção inicial, condições essas que facilitam a recuperação das plantas podadas no curto prazo. No entanto, a pesquisa mostra a importância de adotar novos padrões tecnológicos na recuperação de cafezais pós-podas ou mesmo sem elas, conforme demonstra dados do quadro 19 (abaixo). Com relação à nutrição destaca-se a maior exigência em nutrientes para a brotação, especialmente para o zinco, boro, cálcio e magnésio, na medida em que há necessidade de ativar o crescimento. As recomendações de adubação em cafeeiros podados são as seguintes: Para cafeeiros recepados, no primeiro ano póspoda, se a brotação vier bem não é necessário adubar com NPK. Se houver ma desenvolvimento dessa brotação é indicado usar 30-50 g de N/K2O por planta ou metro de linha, correspondendo a cerca de 80 a 140 kg de N/K2O por há. No segundo ano usar as doses de acordo com a carga estimada. Para lavouras decotadas, sendo mantida a capacidade produtiva, havendo, por outro lado, uma vegetação adicional, são recomendadas as mesmas doses de NPK usadas em lavouras sem Quadro 19: Efeito dos níveis de tecnologia e do tipo de poda na recuperação de cafezal velho, M.Novo 379/19, espaçamento 3x2,5m. E.S.Pinhal, SP 1997. Produção média, 4 safras. SISTEMAS DE MANEJO 1 2 3 4 5 - Testemunha Correção do solo Corr. Solo + NPKS 3 + micro + fung. cúprico 4 + granul. de solo - em sacas/ha Sistemas de poda Livre cresc. Decote 2m Recepa alta 10,8 20,2 13,2 17,9 21,9 13,6 19,4 28,5 18,7 32,5 32,8 23,3 41,4 44,5 28,1 Fonte: Santinatto et alli - Anais do 23° CBPC, p. 143 - 4 RECOMENDANDO 39 Brotação maior, resultado de recepa cedo, em julho (em cima), em outubro (em baixo) e em dezembro, muito tarde (dir.) poda, ajustando de acordo com a carga esperada. Para cafeeiros esqueletados/despontados não existe uma recomendação bem testada, devendo-se considerar o mesmo critério de lavoura normal, calculando a dose de nutrientes pela média das duas safras esperadas, sendo uma zero e a outra a ser estimada. Na condição em que, principalmente os pequenos produtores, efetuam podas para reduzir custos em períodos de preços baixos, plantando, inclusive, culturas intercalares para ajudar na renda, tem acontecido a falta de capitalização do produtor no médio prazo para que possa dar o trato adequado as áreas podadas. 11 - ÉPOCAS DE PODAS As podas, no geral, devem ser efetuadas sempre após uma safra alta ou na perspectiva de safra baixa no ano seguinte. Com isso, aproveitando o ciclo bienal de produção nos cafeeiros arabica, a perda de safra fica reduzida. Nos cafeeiros conillon, onde se faz a poda de produção, as hastes que se mostrarem fracas, com pouca capacidade produtiva, devem ser eliminadas, assim efetuando-se podas todos os anos. A época ideal para a poda é no período entre o término da colheita e o reinício das chuvas, normalmente isso ocorre em agosto/setembro. Nas regiões com risco de geada ou em áreas muito expostas a ventos frios, as podas devem ser realizadas após passado o período sujeito a esses fenômenos climáticos. As podas leves em cafeeiros arábica e as podas de produção no Conillon devem ser realizadas o mais cedo possível, para promover a abertura das plantas, e, assim, melhorar as floradas. Nas podas drásticas em regiões muito secas e sem irrigação pode-se retardar um pouco a operação visando evitar que a planta podada fique muito tempo sem chuva, o que tende a causar maior morte de raízes. Pesquisas mais recentes na Zona da Mata e Sul de Minas mostram, no entanto, que a recepa a partir de julho e o esqueletamento também mais cedo, em agosto, apresentou recuperação mais rápida nas brotações e no alongamento de ramos RECOMENDANDO 40 conforme pode-se observar no quadro 20 e figura 1. Épocas de poda (meses) Produção, em litros por planta Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 4,0 3,5 1,5 0,8 0,2 0,0 Fonte:Mendonça et alli, dados em publicação Quadro 20: Produção na primeira safra aos 2,5 anos da primeira época, em litros de café cereja por planta, em cafeeiros recepados em 6 diferentes épocas.Martins Soares -MG, 2007. Nas podas após geadas ou chuvas de granizo deve-se aguardar melhor a definição da altura em que as plantas irão brotar, assim evitando cortar mais que o necessário. Três meses após a ESQUELETADEIRA LATERAL DIANTEIRA ELD - 2.500 PLUS APLICAÇÃO: DESENVOLVIDA PARA ESQUELETAMENTO DE CAFEEIROS (CONDUZIDOS C/ DESBROTA) ISENTOS DE RAMOS LADRÕES. - CERCAVIVA ( SANSÃO DO CAMPO). ÁREA DE CORTE - 2.280 MM ALTURA MÍN. INF. DE CORTE - 100 MM ALTURA MÁX. INF. DE CORTE - 300 MM GRAU DE INCLINAÇÃO - 35° EQUIPADA COM 36 FACAS OPCIONAL: PISTON HIDRÁULICO P/ REGULAGEM DE INCLINAÇÃO LATERAL (NECESSÁRIO COMANDO DUPLO) GIRO DAS FACAS - 400 GPM TRATOR: A PARTIR DE 40 CV TRATOR: EQUIPADO COM BOMBA ALIMENTAÇÃO CONTÍNUA. EQUIPADA COM MOTOR HIDRÁULICO 10 CV ACOPLAMENTO NA DIANTEIRA DO TRATOR