o papel do ácido essencial graxo ômega-3

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CONEXÃO FAMETRO:
ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE
XII SEMANA ACADÊMICA
ISSN: 2357-8645
O PAPEL DO ÁCIDO ESSENCIAL GRAXO ÔMEGA-3 NA
IMUNOMODULAÇÃO DA DOENÇA PERIODONTAL.
Aline Bezerra Moura, Luana Bezerra da Silva, Ana Isabela Costa Carneiro
Prof. Dr. João Jaime Giffoni Leite (Orientador)
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza - FAMETRO
[email protected]
Título da Sessão Temática: Processos de cuidar.
RESUMO
Este estudo propôs analisar o papel dos ácidos graxos família n-3 como mediadores
inflamatórios na doença periodontal. Trata-se de uma revisão de literatura realizada
com publicações disponíveis nas bases SciELO e LILACS entre 1995 e 2015. Doença
periodontal é uma lesão infecto-inflamatória, resultando num comprometimento dos
tecidos de suporte dos dentes ocasionando perda óssea e perda dos elementos dentários.
A destruição periodontal é observada, muitas vezes, por resposta imune do hospedeiro
ante a endotoxinas, levando a formação de citocinas, como interleucina 1 e TNF-α.
Terapias mais atuais têm focado no uso dos ácidos graxos na dieta, procurando uma
melhora fisiológica. Consumo do ômega-3 diminui a quantidade de ácido araquidônico
nas células e a produção de eicosanoides ligados à inflamação, podendo funcionar como
um potente imunorregulador sem atingir o hospedeiro. Conclui-se que o ômega-3
parece atuar na resolução da inflamação, sendo coadjuvante do tratamento periodontal.
Palavras-chave: Ácidos graxos. Ômega-3. Eicosanoides. Inflamação. Periodontite.
INTRODUÇÃO
Os lipídeos têm fundamental importância nas funções celulares, atuam no
transporte de vitaminas lipossolúveis, como precursores de hormônios e são a principal
forma de armazenamento de energia na maioria dos organismos. Os componentes
lipídicos, principalmente os ácidos graxos, se encontram nas membranas celulares e nas
adipócitos, desempenhando importante papel na estrutural e nos processos metabólicos
(PERINI et al., 2010).
Dentre os ácidos graxos poli-insaturados essenciais, que são necessários ao bom
funcionamento da saúde humana e que não podem ser gerados pelo organismo, se
destacam o ácido graxo poli-insaturado ômega-3 e o ômega-6 (MARTIN et al., 2006).
Os ácidos graxos das famílias n-6 e n-3 são obtidos através da dieta ou sintetizados
(derivados) pelo organismo, pela ação das enzimas alongasse e dessaturase, a partir dos
ácidos linoleico (LA) e alfa-linolênico (ALA) (PERINI et al., 2010).
A distribuição dos ácidos graxos essenciais (AGE) no plasma é modulada pela
ingestão dietética. Essa manipulação atua diretamente nas propriedades de regulação
importante dos AGE como as funções de primeiro e segundo mensageiro, formação de
eicosanoides, liberação de citocinas, funções de receptores e composição da membrana
celular (ANDRADE; CARMO, 2006). Os ácidos graxos essenciais são precursores de
eicosanoides, que modulam a resposta inflamatória e imunitária do organismo (PERINI
et al., 2010). Os eicosanoides são provenientes do metabolismo de AGPI do tipo
ômega-6 (ácido linoleico), classe par, que são potentes mediadores inflamatórios e os
AGPI tipo ômega-3 (eicosapentaenoico, docosahexaenoico e linolênico), classe ímpar,
maior papel no mecanismo da resposta imune. São compostos por prostaglandinas (PG),
leucotrienos, prostaciclinas (PCI), tromboxanos (TX) e derivados dos ácidos graxos
hidroxilados. A liberação dos eicosanoides é estimulada pelas citocinas, complexos
antígeno-anticorpo, radicais livres, fatores de crescimento, colágeno e bradicinina
(ANDRADE, CARMO, 2006).
A inflamação é uma resposta de defesa do organismo, onde a atividade
dos leucócitos é induzida pela por certos fatores, como endotoxinas. Essas endotoxinas
induzem as células de defesa a formarem citocinas como fator de necrose tumoral,
interleucinas, eicosanoides, prostaglandinas, dentre outros (SETE, FIGUEREDO,
2013). Células inflamatórias apresentam um alto teor de ácido araquidônico,
proveniente dos ácidos graxos n-6, assim favorecendo a síntese de eicosanoides
inflamatórios (PERINI et al., 2013).
A doença periodontal é uma infecto-inflamatória causada por microrganismos
que levam a inflamação dos tecidos, perda óssea e, eventualmente, em casos mais
severos, perda dentária (SETE; FIGUEREDO, 2013). Existem várias formas de
classificar as enfermidades que afetam o periodonto, as formas mais tradicionais são
gengivite e periodontite. A gengivite agride apenas o periodonto de proteção, enquanto a
periodontite, ocorre quando o ligamento periodontal, o cemento e o osso alveolar são
destruídos por um processo inflamatório. Assim a periodontite acomete o periodonto de
sustentação (LINS et al., 2006). Sendo semelhante a uma doença inflamatória
progressiva, onde seus fatores microbianos induzem uma resposta do hospedeiro, assim
levando a formação de citocinas pró-inflamatórias. Essa resposta imunológica contribui
para destruição tecidual e óssea (SETE; FIGUEREDO, 2013).
Atualmente, a terapia utilizada na doença periodontal é baseada em
medicamentos anti-inflamatórios e antibacterianos, todavia terapias mais recentes têm
focado na modulação da resposta imune do hospedeiro, com o uso de drogas que inibem
o processo inflamatório. Contudo, essas drogas têm efeitos colaterais significativos e
podem levar à imunossupressão, principalmente quando usadas a longo prazo. Assim, o
objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão integrativa dos artigos publicados nos
últimos 5 anos na literatura nacional, sobre a relação entre os eicosanoides e sua
participação na doença periodontal, bem como avaliar a inibição resposta inflamatória
através da imunomodulação com o ômega 3.
DESENVOLVIMENTO / PERCURSO METODOLÓGICO
O trabalho proposto teve como método escolhido, a revisão integrativa, método que
envolve sistematização e publicação dos resultados de uma pesquisa bibliográfica. Com
finalidade de resumir, conforme um parecer crítico das evidências disponíveis do tema.
Foi realizado no mês maio a busca de publicações, tendo como fontes as seguintes
bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), na Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e na Scientific Eletronic Library Online
(SciELO). Utilizou-se os seguintes descritores: “periodontite”, “ácidos graxos”,
“inflamação” “eicosanoides”.
Foi utilizado como tema norteador: periodontite e ômega-3. Os critérios de inclusão
foram: pesquisas que relatassem o papel dos eicosanoides de família n-3 na inflamação
e o papel das prostaglandinas, principalmente, em pacientes com doença periodontal.
Publicadas em português, inglês e espanhol, datadas dentro do período de 2006 e 2016,
nos formatos de artigos e relatos de casos clínicos.
Os resultados foram apresentados de forma descritiva e para facilitar a compreensão,
foi realizada a confecção de tabelas, ressaltando os bancos de dados e os objetivos e
resultados presentes nos artigos.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Foram analisados 5 artigos relacionados ao consumo de ômega-3 para prevenção
e tratamento da periodontite, assim como os níveis de concentração do ácido
araquidônico em pacientes que apresentavam essa inflamação, publicados entre 2006 e
2016, localizados em revistas e periódicos nacionais de Medicina, apresentando um
número notável de publicações evolvendo o uso ômega-3 no combate e tratamento
dessas enfermidades.
Com base na tabela 1, é possível constatar a importância do uso de ácidos
graxos da família n-3, uma vez que, os eicosanoides resultantes do seu metabolismo são
considerados mediadores anti-inflamatórios e estão envolvidos na modulação da
intensidade e duração da resposta inflamatória, como é citado nos artigos 1, 2, 3. Na
periodontite ocorre a síntese de eicosanoides, prostaglandinas, leucotrienos e
tromboxanos, provenientes do metabolismo do ácido araquidônico, que são mediadores
da destruição do periodonto. A prostaglandina estimula a produção de citocinas próinflamatórias. Nota-se uma maior concentração de ácido araquidônico em pacientes
com doença periodontal, onde é citada nos artigos 4 e 5.
Tabela 1- Distribuição dos artigos sobre o uso de ácidos graxos n-3 e periodontite segundo o número do estudo, título, objetivo e
resultado. (Fortaleza - CE).
N. º
TÍTULO
OBJETIVO DO
ARTIGO
RESULTADO
1
Periodontite e ômega 3: o papel
dos ácidos graxos no processo
inflamatório.
Realizar uma revisão de
literatura sobre a importância
do ômega 3 na prevenção e
tratamento
da
doença
periodontal.
O uso do ômega 3 parece
auxiliar de maneira mais
fisiológica essa resolução, o
que justificaria seu uso como
coadjuvante do tratamento
periodontal.
2
Ácidos graxos poli-insaturados
n-3 e n-6: metabolismo em
mamíferos e resposta imune.
Avaliar a incorporação de ácidos
graxos em tecidos de animais e
discutir a importância dos ácidos
da família n-3 e seus metabólitos
no sistema imunológico.
Os eicosanoides são moléculas
derivadas dos ácidos graxos e
exercem funções em diversos
sistemas no organismo, estando
diretamente ligados ao sistema
imune
e
à
resposta
inflamatória,
sendo que os eicosanoides
derivados da família n-3 têm
características
antiinflamatórias e os derivados da
família n-6 têm características
inflamatórias,
quando
em
excesso no organismo.
3
Ácidos graxos n-3: um link entre
eicosanoides,
inflamação
e
imunidade.
Abordar o papel dos ácidos
graxos
poliinsaturados
da
família n-3 na síntese dos
eicosanoides e sua importância
na inflamação e imunidade
além de revisar questões sobre
a suplementação dos ácidos
graxos n-3, principalmente o
O artigo relata a importância
dos
ácidos
graxos
poliinsaturados n-3 em
afetar a função da maioria
das células imunes. Em
quantidades
suficientes,
tanto
o
ácido
óleo
de
peixe
e
recomendação dietética.
sua
eicosapentaenoico quanto o
ácido
docosapentaenoico,
ácidos graxos da série n-3,
são capazes de diminuir a
síntese de prostaglandinas
da série 2 e leucotrienos da
série 4, potentes mediadores
pró-inflamatórios.
Verifica-se que o mecanismo
da doença periodontal envolve
interações complexas entre
produtos bacterianos, células
do hospedeiro e fatores
biológicos ativos localmente
produzidos,
incluindo
mediadores
químicos,
a
exemplo das prostaglandinas e
citocinas.
Os pacientes com periodontite
apresentavam
níveis
significativamente mais altos
de AA (1017,3 ±327,5µmol/1)
quando
comparados
aos
indivíduos
apenas
com
gengivite
(609,0
±257,2)
(p<0,01). Em ambos os grupos
as proporções AA/DPA e
AA/EPA estavam mais altas do
que a razão recomendada de
10:1, sugerindo que indivíduos
com gengivite e periodontite
apresentavam um desequilíbrio
entre os ácidos ômega 3 e 6, o
que pode prejudicar a resolução
da
inflamação
nesses
indivíduos.
4
Atividade ósteo-reabsortiva na
doença periodontal: o papel das
citocinas e prostaglandinas.
Revisar a literatura referente à
participação ativa das citocinas
e prostaglandinas no processo
ósteo-reabsortiva da doença
periodontal.
5
Níveis séricos elevados de ácido
araquidônico em indivíduos com
periodontite crônica moderada.
Avaliar níveis plasmáticos dos
ácidos: docosahexaenoico,
eicosapentaenoico,
docosapentaenoico e do ácido
araquidônico em pacientes com
periodontite crônica
generalizada moderada e
comparar com os níveis de
pacientes que tinham apenas
gengivite.
Durante o processo inflamatório, os ácidos graxos da família n-3, tem-se
mostrado atuar nos mecanismos celulares, na síntese de eicosanoides, inibição dos
mediadores inflamatórios provenientes do ácido araquidônico e modulação da resposta
inflamatória e na imunidade. Assim a produção de citocinas pró-inflamatórias é
atenuada pela presença de EPA e DHA, não pelo AGPI ômega-6, como evidenciado no
artigo 3. Também ressalta que, em quantidades suficientes, tanto o EPA quanto o DHA,
são capazes de diminuir a síntese de prostaglandinas da série 2 e leucotrienos da série 4,
que são potentes mediadores pró-inflamatórios.
Na periodontite, assim como outras doenças inflamatórias, há uma maior
concentração de ácido araquidônico, consequentemente, síntese de eicosanoides,
prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos, que são potentes mediadores da destruição
dos tecidos periodontais. A partir de um estudo feito entre pacientes com periodontite
crônica e pacientes apenas com gengivite, foi observado que os níveis plasmáticos do
ácido araquidônico nos pacientes com periodontite eram mais altos, 1017,3
±327,5µmol/1, em relação aos pacientes que apresentavam gengivite, com o valor de
609,0 ±257,2µmol/1. Em ambos, as proporções de AA/DPA e AA/EPA estavam mais
altas do que a razão recomendada de 10:1, como evidenciado no artigo 5.
A síntese dos percussores EPA e DHA a partir do ácido alfa-linolênico e ácidos
dihomo-gama-linolênico e araquidônico, a partir do ácido linoleico. Assim com a
importância dos eicosanoides na no sistema imune e à resposta inflamatória. Portanto,
aumentar a ingesta de eicosapentaenoico (EPA) haverá menos substrato para formação
de eicosanoides a partir do ácido araquidônico (AA).
Baseado em observações experimentais de cultura de células animais, verificouse que as prostaglandinas induzem a formação de células osteoplásticas, aumentando
assim a reabsorção óssea, como exposto no artigo 4.
Como já foi dito, o metabolismo de ácidos graxos da família n-3, resulta em
eicosanoides menos potentes e mediadores com características anti-inflamatórias. Tem a
capacidade de antagonizar a produção de eicosanoide do tipo ômega-6, um dos
principais
efeitos
anti-inflamatórios.
Portanto,
aumentar
a
quantidade
de
eicosapentaenoico (EPA) haverá menos substrato para formação de eicosanoides a partir
do ácido araquidônico.
Alguns medicamentos têm-se mostrado auxiliares na resolução da inflamação
na periodontite, porém com efeitos colaterais. O consumo do ômega-3 diminui a
quantidade de ácido araquidônico nas células e de substratos ligados a inflamação,
podendo funcionar como um imunorregulador, como disposto no artigo 1.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A terapia nutricional baseada na manipulação de ácidos graxos ômega 3
poderia ser uma alternativa na resolução do processo inflamatório na doença periodontal
com redução significativa dos efeitos colaterais, procurando uma melhora fisiológica na
resposta à infecção. Os ácidos graxos poliinsaturados n-3 afetam potencialmente a
função da maioria das células imunes. Em quantidades adequadas, esses ácidos graxos
n-3 são capazes de diminuir a síntese de prostaglandinas da séria 2 e os leucotrienos da
série 4, que são potentes mediadores inflamatórios e tem a capacidade de antagonizar a
síntese de eicosanoides do tipo n-6, ponto principal para efeito anti-inflamatório.
REFERÊNCIAS
1. ANDRADE, P. M. M.; CARMO, M. G. T. Ácidos graxos n-3: um link entre
eicosanoides. Revista de metabolismo e nutrição. 2006, v. 8, n. 3, p. 135-143.
2. LINS, R. D. A. U. et al. Atividade ósteo-reabsortiva na doença periodontal: o
papel das citocinas e prostaglandinas. Revista de Cirurgia e Traumatologia
Buco-maxilo-facial. 2007, v.7, n.2, p. 29 – 36.
3. NOGUEIRA, F. L. A. et al. Níveis séricos elevados de ácido araquidônico em
indivíduos com periodontite crônica moderada. Revista de Ciências Médicas
e Biológicas. 2015, v. 14, n. 1, p. 10-13.
4. PERINI, J. A. L. et al. Ácidos graxos poli-insaturados n-3 e n-6: metabolismo
em mamíferos e resposta imune. Revista de Nutrição. 2010, v. 23, n. 6, p.
1075-1086.
5. SETE, M. R. C.; FIGUEREDO, C. M. S. Periodontite e ômega-3: o papel dos
ácidos graxos no processo inflamatório. Revista Hospital Universitário Pedro
Ernesto. 2013, v. 12, n. 1, p. 58-65.
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