ABSTRACT: This paper focuses the orlgm of the Valency Theory

Propaganda
ABSTRACT: This paper focuses the orlgm of the Valency Theory and its new
proposals regarding the grammatical study of the sentence. These new approaches,
however, remained rather limited because of the strong influences of the traditional
grammar and of the structuralist procedures as well.
Os estudos sintaticos contam ja algum tempo com uma teoria gramatical muito
eficaz para as analises descritiva e contrastiva das lfnguas naturais, conhecida por
Gramatica das Valencias. Os estudos acerca des sa gramatica tiveram inicio na Fran~a
com 0 lingUista frances Lucien Tesniere e foram desenvolvidos posteriormente pelos
lingUistas alemaes.
A Gramatica das Valencias compreende atualmente dois p6los de anlilise: 0
sintatico e 0 semantico. Na sua origem, porem, 0 conceito de valencia nao tinha 0
estatuto que tern hoje, pois tratava-se de uma no~ao te6rica de cunho precipuamente
sintatico, limitada, por urn lado, a uma concep~ao estruturalista da lfngua e, por outro, a
influencia da tradi~ao gramatical, da qual Tesniere nao conseguiu se livrar
completamente.
Atraves de uma abordagem estreitamente lingiiistica, Tesniere postula que as
palavras se organizam em frase gra~as a tres princfpios estruturais b1isicos: a conexiio, a
jun~ao e a transla~ao.
A conexao e 0 elemento estrutural fundamental para a arma~ao da frase, pois
marca a rela~ao de dependencia entre duas ideias independentes. Quando se diz: "loao
corre", nao se quer dizer de uma parte que "ha urn homem que se chama loao" e por
outra parte que "alguem corre". Mas expressar de uma s6 vez a ideia de que "loao faz a
a~ao de correr" e "quem corre e loao". Nesta rela~ao 0 verbo "correr" constitui 0 termo
superior (regente) e 0 nome "loao" 0 termo inferior (subordinado). 0 papel da conexiio
e, portanto, 0 de unir urn ou mais termos subordinados a urn termo regente. No estema,
que e 0 conjunto das conexoes que formam a estrutura da frase, este princfpio e
representado por tra~os verticais ou oblfquos (cf. estema abaixo).
Ajun~ao, por sua vez, e 0 princfpio estrutural que tern por objeto ligar termos
que desempenham a mesma fun~ao sintlitica. E caracterizada morfologicamente pelas
349
conjun~oes coordenativas, mas tambem por pontos finais ou vlrgulas. No estema, por
sua vez, e graficamente representada por urn tra~o horizontal ligandcJ dois termos,
designado por tra~o de juntivo.
Finalmente, a transla~iio e 0 mecanismo estrutural pelo qual uma palavra passa
a exercer na frase uma fun~iio que a priori niio e a dela mediante uma part{cula
funcional, vale dizer, uma preposi~iio, uma conjun~iio subordinativa, etc. Este processo
e representado estematicamente pelo slmbolo "T", em torno do qual siio dispostos os
fatores de transla~ilo. Silo estes fatores: 0 transferido, classe para a qual foi trans lad ado
o substitutivo; 0 translativo, instrumento de transla~ilo caracterizado normal mente por
preposi~iio ou as vezes por zero (representado graficamente por urn 0 (zero) com urn
pontinho no meio); e, final mente, 0 transferendo, que e 0 termo submetido ao processo
de transla~iio.
o conjunto das conexoes formam a ordem estrutural da frase. Esta opoe-se a
ordem linear, que e aquela pela qual as palavras se sucedem na cadeia falada. Para 0
estudo formal da frase, que e 0 objetivo da sintaxe estrutural, s6 interessa a ordem
estrutural, uma vez que 0 que esta em jogo e 0 sistema de conexoes que organizam as
palavras em frase.
-
, Joao
-
AlA n t"
.
e__
omo
flP
~¥;"pr.fulr;n.
C ")
••• ,es
--
fJMaria
Pelo estema ficam evidentes dois aspectos: 1°) 0 verbo e 0 regente que
comanda todos os subordinados da frase destacando-se como 0 n6 central. 0 n6 e "0
conjunto constitufdo pelo regente e por todos os subordinados que, direta e
indiretamente, dependem dele, e que ele ata em urn s6 feixe" (TESNIERE, 1959: 14).
Por ser 0 centro da ora~iio, 0 verba assegura a unidade estrutural da mesma ao unir as
diversas conexoes inferiores em urn s6 feixe, identificando-se assim com a frase.
2°) A fun~iio sujeito e situada no mesmo nlvel que outros complementos do
verbo, afastando-se assim das analises bipartidas da frase em sujeito e predicado e em
sintagma nominal e sintagma verbal, praticadas respectivamente pela gramatica classica
e pelo gerativismo. Para Tesniere, descri~oes desta ordem s6 se justificam do ponto de
vista 16gico, mas nlio de uma perspectiva puramente lingiilstica, a qual ele defende
firmemente.
Ademais, uma analise dependencial da frase tern sua razlio na ideia de que, 0
n6 verbal expressa urn estado de coisas comparavel a urn pequeno drama que comporta
necessariamente urn processo e freqiientemente atores e circunstdncias. Traduzindo
para a realidade da sintaxe, 0 processo, os atores e as circunsdincias transformam-se
respectivamente em verbo, actantes e circunstantes. Seja a frase "Ontem Jolio feriu
Ant8nio", 0 verbo "feriu" expressa 0 processo, os termos subordinados "Joiio" e
"Ant8nio" representam os actantes, eo adverbio "Ontem", 0 circunstante.
350
A natureza do verbo e determinada pelo numero de actantes que ele e
susceptfvel de reger. Os actantes estiio, por assim dizer, contidos no conteudo do verba
sob a forma de casas vazias, que siio preenchidas por lexemas no ato da comunica\liio,
configurando a frase. 0 numero de casas vazias, ou actantes, implicados e previsto no
significado do verba chama-se valencia.
Conforme sua carga valencial, 0 verba pode ser classificado em: a) avalente:
verbo de valencia zero, p.e., "Chove"; b) monovalente: verba de uma valencia,
conhecido por intransitivo, p.e., "Alfredo morre"; c) divalente: verba de duas valencias,
conhecido tradicionalmente por transitivo, p.e., "Pedro ama Maria"; e d) trivalente:
verbos com tres valencias, designado comumente por bi-transitivo, p.e., "Joiio deu urn
carro a Pedro".
Os actantes siio os subordinados imediatos do n6 verbal que, por qualquer
raziio, participam do estado de coisas desencadeado pelo verbo. Siio representados, em
princfpio, por substantivos, mas podem ser preenchidos tambem por equivalentes de
substantivo. A classifica\liio dos actantes e feita por Tesniere atraves de urn numero de
ordem, que se justifica, no entanto, nas nO\loes cIassicas dos membros da ora\liio. Assim,
o primeiro, 0 segundo e 0 terceiro actantes previstos por este lingiiista correspondem ao
sujeito, ao objeto direto e ao objeto indireto, respectivamente.
Os circunstantes, por sua vez, siio os termos imediatamente subordinados ao
verba que exprimem as circunstancias de tempo, de lugar, de maneira, etc. Siio sempre
adverbios ou equivalente deles. Em princfpio, siio normalmente os adverbios que
assumem a fun\liio de circunstante na frase.
Na pratica, 0 limite entre actantes e circunstante niio e tiio nftida quanto parece,
dado as analogias que os circunstantes apresentam com os actantes. Prevendo esta
variavel, Tesniere define dois criterios para precisar os limites entre ambos os conceitos:
urn baseado na forma e 0 outro no sentido.
Do ponto de vista da forma, 0 actante, sendo em princfpio urn substantivo,
basta por si mesmo como dependente do verbo. Por exemplo, em "Antbnio fere 10ao", a
presen\la dos substantivos pr6prios e suficiente para marcar as fun\loes de actantes.
Enquanto que 0 circunstante, se for caracterizado por urn substantivo, tern de receber urn
marca adverbial representada por uma preposi\liio: "Ant6nio anda com uma bengala".
Do ponto de vista do sentido, 0 actante e 0 complemento que, ao fazer parte da
estrutura relacional do verbo, e indispensavel para completar 0 seu sentido. Em
"Ant6nio fere Joiio", e diffcil conceber essa frase sem 0 segundo complemento, como
apenas "Ant6nio fere". Ao contrano, 0 circunstante e essencialmente facultativo: a
ora\liio "Ant6nio anda" expressa urn sentido completo, independentemente
do
circunstante.
Todavia, Lucien Tesniere observa que nas lfnguas cujas fun\loes dativa e
genitiva niio siio indicadas por urn processo m6rfico, mas tiio-somente por urn processo
sintatico atraves de uma preposi\liio, 0 terceiro actante e mesmo 0 segundo actante se
aproximam singularmente dos circunstantes. Da mesma forma, certos complementos
circunstanciais introduzidos por preposi\loes se aproximam igualmente dos actantes,
devido ao estreitamento de sua conexiio com 0 verbo, cujo sentido parece incompleto
sem eles, como a frase "Joiio troca de roupa".
o lingiiista frances procura solucionar este problema, recorrendo aos criterios
da sintaxe tradicional, que ele formula assim: se 0 complemento em questiio niio
corresponde nem ao primeiro actante, que faz a a\liio, nem ao segundo, que sofre a a\liio
e nem ao terceiro, que se beneficia da a~iio exercida, ele s6 pode ser urn circunstante.
Neste sentido, "de roupa" exprime uma circunstancia do ato de "trocar".
Niio obstante a explicitude desse raciocfnio, sabe-se hoje que os criterios de
identifica~iio dos actantes proposto por este lingiiista siio muito limitados. Atualmente a
Gramatica das Val8ncias conta com metodos muito mais eficazes para identificar e
classificar os membros da ora~iio.
Neste sentido, deduz-se do que foi exposto ate aqui que 0 fato de Tesniere niio
ter levado as ultimas conseqU8ncias suas reflexoes sobre a val8ncia se justifica em dois
dados blisicos: 0 primeiro e que a tradi~iio gramatical ainda exercia influ8ncia sobre ele
e controlou suas reflexoes lingiifsticas. Tanto mais que, mesmo propondo uma distin~iio
de actantes do ponto de vista estreitamente estrutural, 0 que ja e urn fator de rea~iio a
tradi~iio, ele continuou apoiando-se nos conceitos tradicionais de sujeito, objeto direto e
objeto indireto. 0 segundo e que por obedi8ncia ao carater sistematico de seus estudos,
ele niio aprofunda suas reflexoes acerca da semantica, limitando-se a algumas
considera~Oes gerais a despeito da rela~iio entre plano semllntico e plano estrutural.
Afirma que forma e conteudo siio realidades completamente independentes
uma da outra, de tal modo que uma or~iio pode ser semanticamente absurda e
estruturalmente correta. Com efeito, ele demonstra esta afirrna~iio comutando as
palavras de uma frase de sentido razoavel como "0 sinal verde indica a passagem livre",
por outras palavras tomadas aleatoriamente no dicionlirio. Desta opera~iio resulta uma
expressiio lingiifstica completamente desprovida de sentido 16gico, "0 sil8ncio vertical
indispoe 0 veu lfcito", mas que mantem 0 mesmo esquema estrutural irreprochlivel que a
frase original (cf. TESNIERE, 1959: 41-42).
No entanto, 0 autor observa que a separa~iio entre plano estrutural e plano
semfuttico e urn procedimento artificial e te6rico que s6 se explica do ponto de vista da
analise, pois na pratica eles ocorrem paralelamente, porque 0 plano estrutural s6 tern por
objeto tomar possivel a expressiio do pensamento, isto e, do plano semantico.
Alem disso, ressalta que se no ambito formal a hierarquia das conexoes se
exerce de cima para baixo, em fun~iio da natureza subordinativa das rela~oes sintaticas,
no ambito semfuttico as rela~oes se mostram, inversamente, de baixo para cima. Desta
maneira, quanto mais baixo estiver situado a palavra na escala estrutural, mais essencial
ela sera para 0 sentido da frase. Tanto mais que, se se suprimisse as palavras que niio
mantem rela~iio direta com 0 verbo, ou seja, aquelas que no estema figuram na
extremidade inferior, a frase perderia 0 seu sentido: "0 sinal indica a passagem". Por
outro lado, se se substituisse esses mesmos termos por outros, a frase ganharia urn outro
sentido: "0 sinal vermelho indica a passagem proibida".
o exame sistematico das rela~oes semanticas entre 0 n6 verbal e seus actantes
possibilitou que os estudos val8nciais atingissem tambem 0 dominio semantico da frase.
A Teoria das Val8ncias atualmente volta-se niio s6 aos estudos sintaticos como tambem
aos estudos semllnticos do enunciado, pois ja conta com sistemas te6ricos adequados
para descrever e explicar os fen6menos significativos que relevam da ora~iio.
Assim, a rela~iio entretida entre dois termos niio pode ser definida
unilateralmente do ponto de vista da depend8ncia estrutural, porque, deste modo,
perder-se-ia a rela~iio de implica~iio que existe entre ambas as palavras. Neste sentido,
convem priorizar a descri~iio da conexiio semantica que existe entre os dois termos, isto
e, 0 fato de que 0 termo subordinado completa 0 sentido do termo regente.
A Sintaxe Estrutural de Lucien Tesniere foi importante para 0 estudo moderno
da frase por propiciar uma abordagem efetivamente lingUistica da linguagem humana.
Contudo, 0 seu legado para a teoria lingUistica foi mesmo a teoria das valencias no seu
aspecto sintatico, cujos principios basicos ele formulou.
Como se viu, a elabora~iio da teoria da valencia advem de dois fatores basicos:
do questionamento do modelo de analise sintatica proposto pela tradi~iio gramatical e da
pr6pria necessidade de se fazer urn estudo lingUistico com base em pressupostos
tambem lingUisticos. Todavia, 0 conceito de valencia ficou limitado ao conhecimento
lingUistico da epoca. Por urn lado, a classifica~iio dos actantes proposta pelo lingUista
frances, embora formalmente rompa com 0 modo tradicional de analisar a frase,
corresponde semanticamente as fun~oes c1assicas de sujeito, objeto direto e objeto
indireto. Por outro, a prioridade dada ao estudo rigorosamente estrutural das fun~oes
sintaticas impediu, naquele momento, uma possivel abordagem semantica das rela~oes
entre 0 n6 verbal e seus actantes. Estas deficiencias no ambito da teoria das valencias
foram, contudo, corrigidas ulteriormente pelos alemiies.
* Este
trabalho faz parte de uma Sessiio de Comunica~oes Coordenadas sob
Teoria das VaMncias, elaborado para 0 XLV Seminario do Gel.
0
tftulo de
RESUMO: Este trabalho aborda a origem da teoria das vaMncias e as suas novas
propostas para 0 estudo dafrase, queflcaram, no en tanto, bastante limitadas, devido
forte influincia da tradi~iio gramatical e aos procedimentos estruturalistas dominantes
na epoca.
a
BUSSE, W. et VILELA, M. Gramdtica de VaMncias. Coimbra: Almedina, 1986.
TESNIERE, L. Elements de Syntaxe Estructurale. 2- ed. Paris: Klincksieck, 1966
Download