UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - UNIFAL - MG Daniele Cristina Cerqueira Duque RELAÇÃO FARMACÊUTICO-PACIENTE: Um Novo Olhar Alfenas – MG 2006 Daniele Cristina Cerqueira Duque RELAÇÃO FARMACÊUTICO-PACIENTE: Um Novo Olhar Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Atenção farmacêutica da UNIFAL como pré-requisito para conclusão do curso. Orientador: MSC. Eliana B. Lourenço Alfenas – MG 2006 UNIFAL- MG – UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS A comissão examinadora, abaixo assinada, aprova a monografia “RELAÇÃO FARMACÊUTICO-PACIENTE: Um Novo Olhar”, elaborada por Daniele Cristina Cerqueira Duque, como requisito parcial para a conclusão do Curso de Especialização em Atenção Farmacêutica. Banca examinadora _________________________________________ Profª. MSC Eliana B. Lourenço Orientadora _________________________________________ Prof. _________________________________________ Prof. ALFENAS, 07 DE DEZEMBRO DE 2006 Dedico este estudo aos meus queridos pais, para sempre em meu coração. “[...] a formação é sempre um processo de mudança, devendo por isso estar intimamente articulada com as Instituições onde os formandos exercem a sua atividade profissional. determinados Formar não é conteúdos, ensinar mas ás sim pessoas trabalhar coletivamente em torno da resolução de problemas. A formação faz-se na ‘produção’ e não no ‘consumo’ do saber”. Antônio Nóvoa, O Método (Auto)Biográfico na Encruzilhada dos Caminhos e Descaminhos da formação dos Adultos AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os “mestres” proporcionou... que a vida me RESUMO DUQUE, Daniele Cristina Cerqueira. Relação farmacêutico-paciente: um novo olhar. A farmácia é por sua natureza “um centro prestador do serviço público” (SANTOS, 1998b, p.11) onde há, além da distribuição de medicamentos, atenção à saúde da população. A presente pesquisa, em primeiro momento, se apóia em diversos autores na intenção de refletir sobre a condição essencial de sucesso em qualquer tratamento. O referencial teórico mostra que a qualidade da orientação que é fornecida ao usuário sobre a utilização correta do medicamento pelo profissional de Farmácia é, na cadeia da automedicação, relevante no papel de assistência com ênfase à atenção primária à saúde. O tipo de atendimento que o paciente recebe influi de forma decisiva na utilização ou não do medicamento, e, mesmo que o diagnóstico e prescrição estejam corretos, a adesão do paciente ao tratamento depende da orientação recebida, da aceitação, da disponibilidade e possibilidade de se adquirir o medicamento. A atenção farmacêutica estabelece uma relação com o paciente baseada em “acordo” no qual o profissional realiza a função de controle do uso dos medicamentos, apoiando-se no monitoramento e buscando o interesse e a participação do paciente no tratamento medicamentoso. O segundo momento do presente estudo descreve uma abordagem qualitativa. Os métodos qualitativos de pesquisa não têm qualquer utilidade na mensuração de fenômenos em grandes grupos, sendo basicamente úteis para quem busca entender o contexto onde algum fenômeno restrito ocorre. Assim sendo, permitem a observação de vários elementos simultaneamente em um pequeno grupo. O estudo foi realizado na “Drogaria Varejão dos Remédios”, estabelecimento comercial situado à Avenida Getulio Vargas, 456 no centro da cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. É indiscutível a importância dos serviços de saúde, que constitui, ao lado de outros serviços, fator de extrema relevância para a qualidade de vida da população, representando preocupação de todos os gestores do setor, devido à natureza das práticas de assistência neles desenvolvidas, ou ainda, pela totalidade dos recursos que são por eles absorvidos. A adequação do sistema de saúde deve ser constante e acompanhar as novas demandas, como a modificação no envelhecimento da população. Descritores: farmacêutico, atenção à saúde, tratamento medicamentoso. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Distribuição dos sujeitos da pesquisa de acordo com o sexo 19 Tabela 2 - Distribuição dos sujeitos quanto à idade 19 Tabela 3 - Distribuição dos sujeitos de acordo com a ocupação 20 Tabela 4 - Distribuição dos sujeitos da pesquisa quanto ao 21 conhecimento sobre as atribuições de um farmacêutico Tabela 5 - Distribuição dos entrevistados quanto à importância da 21 presença do farmacêutico na farmácia Tabela 6 Atendimento dos sujeitos por um farmacêutico na farmácia SUMÁRIO 22 RELAÇÃO FARMACÊUTICO-PACIENTE: UM NOVO OLHAR RESUMO 1. INTRODUÇÃO 01 2. O FARMACÊUTICO E O PACIENTE 02 2.1 Atenção Farmacêutica 3. METODOLOGIA 11 13 3.1 Tipo de estudo 14 3.2 Local de estudo 3.3 Amostra 15 3.4 Período da coleta de dados 16 3.5 Instrumento para coleta de dados 3.6 Análise dos dados 16 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Categorização dos sujeitos 4.1.1 Expectativa do paciente em relação ao farmacêutico 15 16 18 19 22 4.1.2 O motivo de atender às necessidades do paciente 24 4.1.3 Importância do farmacêutico para a sociedade 26 4.1.4 Importância do farmacêutico para o paciente 26 4.1.5 Um bom farmacêutico para o paciente 27 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30 ANEXOS 34 1. INTRODUÇÃO No Brasil o sistema de saúde é muito complexo, pois engloba tanto os estabelecimentos públicos com suas unidades de atenção básica, bem como uma rede privada de prestação de serviços sofisticada com centros hospitalares de alta complexidade, cada vez mais importante no sistema de manutenção da saúde do brasileiro. É indiscutível a importância dos serviços de saúde, que constitui, ao lado de outros serviços, fator de extrema relevância para a qualidade de vida da população, representando preocupação de todos os gestores do setor, devido à natureza das práticas de assistência neles desenvolvidas, ou ainda, pela totalidade dos recursos que são por eles absorvidos. A adequação do sistema de saúde deve ser constante e acompanhar as novas demandas, como a modificação no envelhecimento da população. O modelo de atenção prestado deve priorizar o caráter preventivo das ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. A desarticulação da assistência farmacêutica no País conduz a um cenário de comprometimento da qualidade de vida do cidadão. A falta de prioridade na prescrição de produtos padronizados, constante da Relação Nacional de medicamentos (RENAME), pela denominação comum brasileira de medicamentos genéricos é um dos importantes problemas detectados. E, o uso irracional e desnecessário de medicamentos e o estímulo a automedicação, induzida pela propaganda agressiva e enganosa, são fatores importantes na demanda por medicamentos. 2 2. O FARMACÊUTICO E O PACIENTE Uma grande parcela da população se acha, hoje, parcial ou totalmente excluída de algum tipo de atenção do sistema de saúde, além de ter que conviver com as constantes mudanças no perfil epidemiológico com doenças típicas de países em desenvolvimento, misturadas a doenças características de países desenvolvidos, sem mencionar, doenças emergentes ou reemergentes, tais como a cólera, o dengue, a malária, as doenças sexualmente transmissíveis e a Aids. No Brasil, o exercício profissional farmacêutico no âmbito da farmácia comunitária tem se limitado ao desenvolvimento de atividades técnicas pouco voltadas aos pacientes, o que tem contribuído para seu isolamento profissional e baixo reconhecimento dessa profissão pela sociedade. Assim como, a formação universitária não tem conseguindo capacitar os profissionais que, na maioria das vezes, têm dificuldade de se adaptar às exigências da sociedade. Isto porque, os estudos concentram na teoria e as ações subseqüentes acabam não contemplando a realidade e a demanda social (FERRAES, 2001). Além disso, a indústria farmacêutica – hoje uma grande potência mundial – tornou-se capaz de exercer um “poder generalizado” sobre o ser humano. Segundo Chammé (1997) o “poder generalizado” é exercido sobre cada sujeito social, assume uma postura de autoridade que expressa a força repressora aos submetidos a esta relação. Este poder acaba submetendo muito sutilmente os indivíduos das mais diversas classes a um tipo de controle social. O controle social é, na verdade, uma extensão do processo de socialização. Refere-se aos meios e métodos usados para induzir uma pessoa a corresponder às expectativas de um 3 grupo particular ou da sociedade mais ampla. Se o controle social é exercido com eficiência o comportamento do indivíduo será consistente com o tipo de comportamento esperado (COHEN apud CHAMMÉ, 1997, p. 9). O poder da indústria farmacêutica é alimentado pelo marketing, propagandas duvidosas, muitas vezes ou quase sempre enganosas, publicidade que oferece tipos ideais e perfeitos de medicamentos sempre de última geração, cada vez mais potentes (e mais caros!) do que aqueles que os antecederam. A propaganda de medicamentos acaba sendo um grande estímulo ao usuário, levando-o a comprar os produtos anunciados, e fazendo-o pensar que pode ter todos os seus problemas resolvidos com esta compra. Triste e cara ilusão para alguns! Mas, certamente lucro real para outros! A propaganda de medicamentos acaba induzindo muitas pessoas a comprarem sem haver real necessidade. Este tipo de procedimento gera lucro para a farmácia e para a indústria farmacêutica, mas pode prejudicar, sem sombra de dúvida, quem comprou o medicamento. O medicamento deve ser encarado como um meio, uma estratégia para o processo de cura ou reabilitação de um paciente. Conforme o relatório final da CPI do Medicamento publicado em abril de 1996 e citado por Rech, em Pronunciamento da Federação Nacional dos Farmacêuticos na Câmara Federal, o medicamento Não pode ser tido como uma mercadoria qualquer, à disposição dos consumidores e sujeito às leis do mercado. Ele é, antes de tudo, um instrumento do conjunto de ações e medidas utilizadas para a promoção e recuperação da saúde (RECH, 1996b, p. 14). Essa qualidade do medicamento infelizmente tem-se descaracterizado. Chammé (1997), ao discutir sobre o processo saúde/doença, ressalta que os meios 4 de comunicação para as massas são eficazes e potentes, uma vez que estas acabam sendo as compradoras das sedutoras mercadorias do capitalismo. Conforme Marcondes Filho (apud Chammé 1997, p. 4), “[...] as pessoas não se realizam de fato sob este modo de produção econômico em que vivem. O domínio do capital transforma tudo em mercadoria e penetra até nos espaços mais escondidos”. Nesse sentido, se a saúde e a doença forem considerados produtos que devem ser adquiridos e consumidos ou até descartados, os usuários estarão diante de mais um “bem ideologizado pela mídia e moda capitalista” (CHAMMÉ, 1997, p. 9). O mesmo pode acontecer com o medicamento que é idealizado pela mídia e pela moda capitalista. Nessa perspectiva, o medicamento também se torna mais um produto, uma simples mercadoria que tem grande valia e um preço. E essa mercadoria pode ser facilmente adquirida em alguns supermercados, lojas de conveniência e até em mesmo em farmácias. O Brasil se encontra, atualmente, entre os dez maiores mercados consumidores de medicamentos de acordo com dados da Organização PanAmericana de Saúde (OPAS), publicados em novembro de 1998. Os dados referentes à Saúde no Brasil possibilitaram uma visão global da situação relacionada aos medicamentos. O interessante é como se processa esse consumo. Mais da metade da população brasileira (51%), com renda até quatro salários mínimos, é responsável pelo consumo de somente 16% dos medicamentos produzidos, enquanto que uma minoria de 15% da população que tem renda superior a dez salários mínimos consome 48% da produção de medicamentos (BRASIL, 1999; PESSINI, 2000). Esse fato evidencia claramente que, por razão sócio-econômica, o acesso à terapia medicamentosa não ocorre de forma igual na população, ficando 5 comprometido para milhões de brasileiros. A farmácia é por sua natureza “um centro prestador do serviço público” (SANTOS, 1998b, p.11) onde há, além da distribuição de medicamentos, atenção à saúde da população. Existe uma concordância entre alguns autores sobre a importância de se integrar a Farmácia ao Sistema Sanitário, na tentativa de contribuir na atenção primária à saúde, através da participação em programas de prevenção e promoção da saúde (ZUBIOLI, 1996b; SANTOS, 1998a; MOTA et al., 2000). Em relação aos interesses econômicos prevalecentes no Brasil, Rech (1996b) comenta que [...] a lógica puramente mercantilista, sobre a qual predominam os interesses particulares e a busca incansável e sem limites de lucro fácil, traz consigo distorções evidenciadas no âmbito social, uma vez que os interesses coletivos são relegados aos esquecimentos (Ibdem, p. 14). Com base nestas considerações do citado autor, são claramente perceptíveis os diversos interesses que geralmente sustentam a criação de farmácias, desconsiderando, muitas vezes, as necessidades da população. Assim, a farmácia isolada dos outros serviços de saúde, transformou-se em local de comercialização de mercadorias (com algumas raras exceções), onde o consumo é considerado indispensável e altamente rentável. Certamente, essa situação vai ganhando vulto à medida que mais e mais farmácias recebem o alvará de funcionamento fornecido pelas prefeituras das cidades e enquanto não forem respeitados os Regulamentos sobre as propagandas de substâncias e medicamentos constantes na Portaria 344 de 12 de maio de 1998. A citada Portaria aprova o Regulamento Técnico sobre 6 Substâncias e Medicamentos Sujeitos à Controle Especial, e, no capítulo XI, no artigo 91 expõe o seguinte sobre a propaganda de medicamentos: A propaganda de substâncias e medicamentos, constantes das listas deste Regulamento e suas atualizações, somente [grifo do autor] poderá ser efetuada em revista ou publicação tecno-científica de circulação restrita a profissionais de saúde (BRASIL, 1998, p.17). Os aspectos legais relacionados à abertura de farmácias são amplamente discutidos por Zubioli (1992). É lamentável que no Brasil muitas farmácias estejam descompromissadas com a saúde das pessoas a tal ponto de terem se tornado, exclusivamente, estabelecimentos que simplesmente comercializam os medicamentos. Parece que o compromisso social com a qualidade de vida da população praticamente inexiste. E, o usuário do medicamento nessas farmácias tornou-se tão somente mais um consumidor, que para ser conquistado é atraído pelo olhar, propagandas, promoções, etc, além de vitrines maravilhosas com vidros e espelhos por todos os lados. A indústria farmacêutica tem grande interesse nessas farmácias, uma vez que elas acabam funcionando de intermediárias repassando os produtos farmacêuticos ao consumidor. Diante de todas essas considerações, se quisermos uma farmácia que preze o interesse social e não somente um comércio com altos lucros, torna-se claro que o próprio farmacêutico tem uma grande tarefa devendo fazer parte de todo o processo de assistência à saúde. O farmacêutico é o profissional capacitado para orientar educar e instruir o paciente sobre todos os aspectos relacionados ao medicamento (CARLINI, 1996; RECH,1996a; PERETTA; CICCCIA, 1998). O papel do farmacêutico é importantíssimo no novo modelo assistencial onde a ênfase é atenção primária à 7 saúde (MOTA et al., 2000). Na maioria das vezes, ele é o último profissional a ter contato direto com o paciente (ZUBIOLI, 1996a; RECH, 1996b) assistindo-o em todas as suas dúvidas antes de dar início ao tratamento. O diálogo com o paciente é necessário até para motivar o cumprimento do tratamento (FERRAES, 2001; 2002). Ferraes e Cordoni Jr (2001), mencionam que a orientação é um processo vital quando se visa a adesão do paciente ao tratamento. A condição essencial para o sucesso de qualquer tratamento depende da qualidade da orientação que é fornecida ao usuário sobre a utilização correta do medicamento. A ausência desta orientação, conforme Rech (1996b, p, 15), “[...] tem sido uma das causas mais freqüentes de retorno de pacientes aos serviços de saúde, acarretando mais sofrimento à população e onerando ainda mais o sistema de saúde”. Provavelmente estas considerações sobre a ausência de uma orientação adequada no momento da dispensa do medicamento ao usuário, pode contribuir favorecendo a situação que Chammé (1999, p. 9) descreve como “processo de metamorfose de simples usuário dos serviços públicos de saúde, à condição de poliqueixoso.”, referindo-se à figura típica do usuário que insistentemente se mantém “rotinizado e, de queixa em queixa, vai tentando encontrar resolutividade e eficiência para os males que o acometem” (Ibdem). É importante destacar a importância do papel que o farmacêutico desempenha na dispensa, orientando o usuário sobre o uso correto do medicamento, esclarecendo dúvidas e favorecendo a adesão e o sucesso do tratamento prescrito (RECH, 1996a; CARLINI, 1996; FERRAES, 2000; 2001; 2002; FERRAES; CORDONI, 2001; PERETTA; CICCIA, 1998). Mota et al. (2000) quando se referem ao “Farmacêutico na Saúde Pública” consideram o farmacêutico como o 8 profissional de saúde com maior responsabilidade na cadeia da automedicação, sendo importantíssimo o seu papel no novo modelo assistencial com ênfase à atenção primária à saúde. O tipo de atendimento que o paciente recebe influi de forma decisiva na utilização ou não do medicamento, e, mesmo que o diagnóstico e prescrição estejam corretos, a adesão ou “compliance” do paciente ao tratamento dependem da orientação recebida, da aceitação, da disponibilidade e possibilidade de se adquirir o medicamento (ZANINI et al., 1985). Conforme Zanini et al. (1985, p. 690), “compliance” é o termo “utilizado para definir o nível de aceitação, cooperação e cumprimento das instruções por parte do paciente em relação ao tratamento médico recebido”. A tradução mais apropriada na língua portuguesa é “adesão” do paciente ao tratamento farmacológico. Enfim, não adianta somente ter acesso ao médico e ao medicamento, sendo necessárias as orientações corretas quanto ao uso adequado do medicamento. Zanini et al. (1985, p. 691) fazem um comentário bastante interessante nesse aspecto e não consideram suficiente, “para o paciente, apenas a prescrição e orientação médica, mesmo quando cuidadosa. Surgem dúvidas que tornam necessário repetir as instruções e, eventualmente complementá-las”. Correia Junior (1997) também partilha desta idéia e comenta que o farmacêutico tem as condições necessárias para reforçar as informações sobre a terapêutica do paciente. Sem, contudo, afirmar que, a presença do farmacêutico seja o sinônimo de adesão. Existem vários motivos para a não adesão do paciente ao tratamento. Conforme Hardon e Legrand apud Correia Junior (1997, p.11) encontram-se entre estes motivos: “as características das drogas em si; a percepção do paciente; e a relação entre o paciente e os profissionais de saúde”. Ressalta ainda um sério 9 problema que pode induzir a uma não adesão e que se refere ao próprio paciente. O autor mencionado se refere à quebra de rotina do paciente, com supressão de hábitos (fumar, beber, etc), alteração de alguns (horários de refeições, dormir e acordar) e inclusão de outros (tomar remédios), como grande obstáculo à adesão ao tratamento medicamentoso. Contudo, na prática, percebe-se que estes aspectos podem ser corrigidos ou melhorados quando o profissional farmacêutico estiver inserido na equipe de saúde e quando houver as orientações adequadas sobre o uso racional do medicamento. Infere-se a partir daí, a importância de um trabalho de equipe de saúde multiprofissional, onde o farmacêutico esteja inserido. Para desempenhar bem sua função, o farmacêutico deverá dispor de informações atualizadas, verdadeiras e embasadas cientificamente. Em relação às necessidades dos recursos humanos em saúde, um comitê de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1985, citado por Correia Junior (1997) declarou que a procura da saúde para todos, com ênfase na atenção primária de saúde, exigirá a redefinição dos papéis e funções de todas as categorias de pessoal sanitário, incluindo médicos, enfermeiros, farmacêuticos, dentistas, engenheiros sanitários, dentre outros profissionais. Um dos campos de atuação do farmacêutico que vem sendo requerido numa equipe multiprofissional é o da atenção farmacêutica. O termo “Pharmaceutical Care” de Hepler e Strand é o que mais se aproxima do que conhecemos como atenção farmacêutica. A filosofia da Atenção Farmacêutica foi elaborada pelos professores norte-americanos Linda Strand e Charles Hepler, da Universidade de Minnesota, no início da década de 1990. Marín (1999, p. 126) se refere ao conceito como “el processo a através del cual un farmacéutico coopera con un paciente y otros 10 professionales en definir, implementar y monitorear un plan terapeutico que producitrá un resultado terapéutico para el paciente”. A partir dos conceitos apresentados por Hepler e Strand (1990), e tendo em vista esses novos enfoques na atenção primária e contemplando os profissionais farmacêuticos foi elaborado um documento pela OMS em 1993, em Tókio, intitulado “El Papel del Farmacéutico en el Sistema de Atención de Salud” no qual a Atenção Farmacêutica: É um conceito de prática profissional em que o paciente é o principal beneficiário.É o conjunto de atitudes, comportamentos, compromissos, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e destrezas do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, objetivando conseguir resultados terapêuticos definidos e qualidade de vida do paciente (ORGANIZACIÓN, 1993, p. 1). Em relação à formação dos novos profissionais farmacêuticos, percebe-se que existe a necessidade do tema ser abordado em toda a sua amplitude. A atenção farmacêutica é um modelo de prática proposto e desenvolvido dentro da profissão farmacêutica ao longo da década de 90. Desde sua idealização, esse modelo de prática foi aceito como a nova área de atuação da profissão farmacêutica por organizações de apoio e gestão de saúde, órgãos de classe farmacêuticos e faculdades de farmácia de diversos lugares do mundo. A concepção desse novo modelo profissional se deu em resposta à necessidade social relacionada à alta prevalência da morbidade e mortalidade pelo uso de medicamentos, constituindo um sério problema de saúde coletiva, tanto no Brasil, como em vários outros países (HEPLER; STRAND, 1999; FERRAES; CORDONI JÚNIOR, 2002; ARRAIS, 2002). 11 O exercício profissional do farmacêutico passa hoje pela concepção clínica de sua atividade, sua integração e colaboração com o restante da equipe de saúde e o cuidado direto com o paciente; o que então vem a ser chamado de Cuidado, Assistência ou Atenção Farmacêutica. 2.1 Atenção Farmacêutica Atenção Farmacêutica constitui uma nova filosofia de exercício profissional farmacêutico. Não existe, porém, uma concepção única da prática de tal conceito. Isso então permite a cada farmacêutico uma certa flexibilidade para adaptar a prática da Atenção Farmacêutica à sua realidade, usar seus próprios recursos e habilidades, procurando sempre uma farmacoterapia racional, segura e custo-efetiva para o cuidado do paciente. Além disso, a variabilidade enorme de patologias unido à ampla disponibilidade terapêutica, oferece múltiplas possibilidades de abordagem e resolução de um mesmo caso. O que se deve ter em mente quanto a este modo específico de exercício profissional, é que a qualidade dos resultados se mede diretamente pela melhora da qualidade de vida proporcionada ao paciente. E essa melhora deve ser obtida pela otimização da terapia medicamentosa e resolução dos problemas relacionados aos medicamentos. O que se propõe não é o exercício do diagnóstico ou da prescrição de medicamentos considerados de responsabilidade médica, mas a garantia de que esses medicamentos venham a ser úteis na solução ou alívio dos problemas do paciente. 12 A atenção farmacêutica estabelece uma relação farmacêutico-paciente baseada em um acordo no qual o profissional realiza a função de controle do uso dos medicamentos, apoiando-se no monitoramento e buscando o interesse e a participação do paciente no tratamento medicamentoso. Para tornar isso possível, a atenção farmacêutica tem como componentes gerais a educação em saúde, a orientação farmacêutica, a dispensa, a entrevista e o seguimento/acompanhamento do uso dos medicamentos. A Atenção Farmacêutica humaniza e amplia a relação entre profissionais e pacientes. A Atenção Farmacêutica prevê um cuidado integrado com o paciente. Exige do farmacêutico uma postura e uma escuta diferenciada diante do paciente, para que o profissional possa identificar as necessidades, analisar a situação e tomar decisões. Assim, supondo-se que seja imprescindível para o farmacêutico ter a noção exata de sua competência e dos limites de sua intervenção no processo saúdedoença, assumindo sua parcela de responsabilidade na atenção ao paciente, comprometendo-se com a otimização do uso de medicamentos, e contribuir para que seja preenchida uma lacuna ainda existente na área de saúde. Este trabalho tem como objetivos: • Verificar como se dá a relação farmacêutico-paciente dentro de uma determinada farmácia; • E, se essa relação corresponde às necessidades postas nesse momento histórico, comprometida com a filosofia da Atenção Farmacêutica. 13 3. METODOLOGIA A teoria sobre a entrevista é um processo de interação: o entrevistador, aquele que busca as informações e o entrevistado, aquele que tem as informações procuradas pelo primeiro e que, de maneira geral as informações são obtidas através de um roteiro que consta de tópicos previamente estabelecidos de acordo com o tema central pesquisado. Pode-se dizer, então, que com a entrevista referida pelo presente tema pretendeu-se obter informações descritivas sobre a prática dos entrevistados, seus posicionamentos sobre o atendimento farmacológico. A metodologia utilizada apresenta a modalidade qualitativa, pois busca-se maior compreensão do tema. Os itens apresentados nas entrevistas foram gerados na teoria dos autores consultados. Uma vez coletados, os dados serão analisados à luz das teorias estudadas e apresentados. Esta análise é um processo continuado em que se procura estabelecer relações entre os dados e a teoria proposta para o estudo do tema. O questionário foi desenvolvido para pacientes, constituído de 2 partes, sendo a primeira para recolher dados sobre os pacientes, divididas em sexo, idade e ocupação. A segunda parte do questionário apresenta 3 questões com opções de e não, bem como 4 questões abertas. Nas questões abertas o paciente poderia optar por mais de uma resposta conforme sua conveniência, indicando maior subjetividade ou objetividade acerca das perguntas. 14 3.1 Tipo de estudo O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. Um dos aspectos básicos na abordagem qualitativa é reconhecer no ambiente natural a fonte direta de dados e no pesquisador o principal instrumento para esta investigação e, desta forma, possibilitar um contato direto com a situação problematizadora onde os fenômenos ocorrem. Outra característica deste tipo de estudo é a questão relativa aos dados coletados: “eles são predominantemente descritivos" (LUDKE e ANDRÉ, 1996, p. 12). Estrela (2000) afirma que o método qualitativo é baseado em uma filosofia naturalista e tem sido largamente usado nas ciências sociais. Este método busca explicar a realidade em termos de conceitos, comportamentos, percepções e avaliações das pessoas. Os métodos qualitativos de pesquisa não têm qualquer utilidade na mensuração de fenômenos em grandes grupos, sendo basicamente úteis para quem busca entender o contexto onde algum fenômeno restrito ocorre. Assim sendo, eles permitem a observação de vários elementos simultaneamente em um pequeno grupo. A aplicação do estudo qualitativo na área da saúde ainda é limitada, embora tenha havido um crescente interesse pela sua utilização na área. Na pesquisa qualitativa, o papel do pesquisador é de especial importância. Os pesquisadores e as suas competências comunicativas constituem o principal “instrumento” de coleta de dados, não podendo, por isso, adotar um papel neutro no campo e em seus contatos com as pessoas a serem entrevistadas ou observadas (FLICK, 2004). 15 3.2 Local de estudo O estudo foi realizado na “Drogaria Varejão dos Remédios”. O estabelecimento comercial está situado à Avenida Getulio Vargas, 456 no centro da cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais e foi escolhida pela presente pesquisadora por possuir nesta empresa maior acesso aos clientes, com objetivo de comparar as teorias com a prática, a pesquisadora buscou, através da revisão bibliográfica feita no primeiro capítulo, aplicar uma pesquisa de campo e comparar o dia-a-dia da farmácia com os autores estudados, proporcionando instrumentos que facilitem ao profissional de farmácia o método utilizado para um seguro diagnóstico e planejamento para ações posteriores. 3.3 Amostra A pesquisa por amostragem foi elaborada em forma de entrevista semiestruturada, ou seja, um questionário. A pertinência da escolha de tal instrumento justifica-se pelo que transparece ao descrever informações que se pode obter: dados que referem as maneiras de atuar ou comportamentos de profissionais em atuação. O estudo do tema é relevante para a área acadêmica que pode compreender a importância conhecimentos advindos da prática farmacêutica dos autores estudados, que apontam metas de qualidade que contribuem para aqueles que pretendem trabalhar no sentido do desenvolvimento integral dos pacientes. O universo da pesquisa compreendeu de 21 pacientes dentre as que se 16 dirigem semanalmente a drogaria para compra de medicamentos mediante receita médica. A mostra consistiu das pessoas que concordaram em participar espontaneamente da pesquisa, respondendo ao questionário. 3.4 Período da coleta de dados A coleta dos dados foi realizada pela pesquisadora, na primeira quinzena do mês maio de 2006, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFALMG. A todos os participantes foi garantido o sigilo de seus nomes e também a garantia de que os dados somente seriam tratados pelos pesquisadores. 3.5 Instrumento para coleta de dados A coleta de dados foi feita por meio de um formulário com questões fechadas e abertas, organizado em duas partes. Na primeira parte, a pesquisadora coletou dados para a identificação dos sujeitos como: sexo, idade e ocupação. A segunda foi composta por questões que visaram conhecer as percepções dos sujeitos a respeito da atuação do farmacêutico e a relação estabelecida com o paciente (anexos). 3.6 Análise dos dados Considerando que os dados coletados foram do tipo qualitativo, gerado a partir do registro detalhado, no preenchimento do formulário, os dados foram 17 organizados por categorias para facilitar a interpretação dos resultados. Para a efetivação das análises foram realizados, primeiramente momentos de leitura livre dos dados para um conhecimento geral do resultado, posteriormente buscou-se identificar os temas mais significativos e recorrentes. A partir dessa identificação, procurou-se organizar os dados em categorias com vistas ao estabelecimento de conexões entre essas e os objetivos propostos pelo estudo, buscando aumentar a compreensão sobre o tema. 18 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a interpretação das respostas dadas às questões do formulário foi a autora procedeu a sucessivas leituras das respostas, buscando a melhor forma de categorizar os dados colhidos. Foi construído um conjunto de cinco categorias descritivas elaborado a parir da codificação quanto: 1) expectativa do paciente diante do farmacêutico; 2) o motivo de atender as necessidades do paciente; 3) importância do farmacêutico para o paciente; 4) importância do farmacêutico para a sociedade; 5) quem é o bom farmacêutico na opinião do paciente. As respostas abertas permitiram organizar o material obtido a partir de um sentido lógico, assegurando a compreensão dos elementos constituintes. As respostas obtidas pelo formulário foram examinadas no intuito de examinadas no intuito de primeiramente conhecer a opinião dos respondentes, para depois, iniciar a discussão num âmbito mais geral. Por razões meramente de organização dos dados, a apresentação e discussão dos resultados deu-se conforme a ordem das questões abertas apresentadas no roteiro do formulário. Foi considerado importante para efeito de análise e discussão, a identificação dos participantes quanto ao sexo, idade, ocupação, se conhece a atribuição de um farmacêutico, se é importante a presença do farmacêutico na farmácia e se as pessoas que responderam ao formulário já recebem atendimento por um farmacêutico na farmácia. Dados esses, contemplados na 1ª parte do formulário. 19 4.1 Categorização dos sujeitos Os sujeitos que responderam ao formulário, conforme ao sexo foram, pelos dados constantes na tabela 1, em maior número de indivíduos do sexo feminino: Tabela 1 - Distribuição dos sujeitos da pesquisa de acordo com o sexo SEXO N.º DE INDIVÍDUOS Masculino 09 Feminino 12 Total 21 Os dados da Tabela 2 expressam faixa etária dos sujeitos pesquisados e mostram que a maioria dos entrevistados foi de adultos, entre 26 e 60 anos, expressos conforme a seguinte tabela: Tabela 2 - Distribuição dos sujeitos quanto à idade IDADE N.º DE INDIVÍDUOS Entre 18 à 25 anos 03 Entre 26 à 60 anos 14 Mais de 60 anos 04 Total 21 20 A ocupação dos sujeitos que responderam ao formulário está listada na tabela a seguir e revelam que a maior parte dos entrevistados são aposentados, seguidos por empregadas domésticas, estudantes lojistas e vendedores. Nota-se que, pelos dados observados, não existe uma clientela delimitada. O público é bastante heterogêneo quanto à ocupação profissional: Tabela 3 - Distribuição dos sujeitos de acordo com a ocupação OCUPAÇÃO N.º DE INDIVÍDUOS Empregada doméstica 02 Telefonista 01 Estudante 02 Professora 01 Aposentado 05 Enfermeiro 01 Lojista 02 Açougueiro 01 Vendedor 02 Recepcionista 01 Manicura 01 Motorista de ônibus 01 Motoqueiro 01 Total 21 O primeiro item da segunda parte do formulário destinou-se em conhecer se 21 os sujeitos sabem, ou não, quais são as atribuições de um farmacêutico. Pode-se observar que a maioria das pessoas conhece as atribuições de um farmacêutico. Esse dado é de suma importância ao que se refere ao campo de atuação do farmacêutico no conjunto de suas atribuições junto ao atendimento das demandas sociais. As respostas obtidas estão expressas na Tabela 4 a seguir: Tabela 4 - Distribuição dos sujeitos da pesquisa quanto ao conhecimento sobre as atribuições de um farmacêutico N.º DE INDIVÍDUOS Sabem 18 Não sabem 03 Total 21 A Segunda questão do formulário visa conhecer se os sujeitos consideraram importante a presença do farmacêutico na farmácia. Os dados revelam a unanimidade das respostas reforçando mais uma vez o reconhecimento da população sobre a importância da função do farmacêutico numa farmácia comercial. Tabela 5 - Distribuição dos entrevistados quanto à importância da presença do farmacêutico na farmácia N.º DE INDIVÍDUOS Sim 21 22 A terceira questão visou conhecer se os usuários já foram atendidos por um farmacêutico na farmácia comercial. Pelos dados constantes da Tabela 6, vemos que a maioria dos usuários já foi atendida por um farmacêutico na farmácia. Nota-se, assim, a relevância ao papel social do farmacêutico em seu local de trabalho. Tabela 6 Atendimento dos sujeitos por um farmacêutico na farmácia N.º DE INDIVÍDUOS Sim 18 Não 03 Total 21 A Segunda parte do formulário, com questões abertas buscou-se verificar como se dá a relação entre farmacêutico-paciente dentro de uma determinada farmácia. Pelos depoimentos obtidos foi possível o delineamento de quatro categorias. 4.1.1 Expectativa do paciente em relação ao farmacêutico A primeira questão aberta visou conhecer o que o paciente espera do farmacêutico. As respostas foram agrupadas em quatro sub-categorias, a saber: Atenção - Ao analisar as respostas, percebeu-se que alguns dos sujeitos 23 esperam do farmacêutico Atenção, como revelam as seguintes respostas: “Uma pessoa que saiba nos dar atenção como pessoa normal, e não como um doente” “Ser atencioso” “Atenção com o cliente” “Seja bem atencioso com os clientes, tente deixar aqueles que estão doentes um ‘pouquinho’ mais animados com o tratamento”. a) Orientação - Outros esperam do farmacêutico uma orientação, como: “(...) um profissional que faça as orientações sobre o medicamento (...)” “Que ele oriente com mais clareza as recomendações do médico” É muito importante a orientação ao paciente, segundo Arnaldo Zubioli (2001), hoje em dia o farmacêutico deve atuar diretamente entre o medicamento e o paciente. É um profissional da área de saúde que sempre está disponível para ser consultado. Portanto deve usar de comunicação clara para poder orientar ao paciente. Negar ao usuário de medicamento o direito à orientação farmacêutica é negar-lhe o direito à saúde e à cidadania (ZUBIOLI, 2001). b) Confiança – Os clientes também esperam do farmacêutico confiança, como se pode verificar nos seguintes relatos: “Uma pessoa que saiba nos passar confiança do tratamento receitado, nos dando as devidas orientações”. A relação farmacêutico-paciente costuma adotar características que favorecem um clima de confiança. O paciente encontra menos barreiras psicológicas do que em outros serviços de saúde (ZUBIOLI, 2001). c) Aconselhamento - O Aconselhamento está intimamente relacionado com 24 a Atenção. Os farmacêuticos devem ter atenção ao problema para poder aconselhar da melhor maneira possível, veja na resposta: “Alguém que possa nos aconselhar quanto a um tratamento ou algum problema”. A Segunda questão aberta do formulário visou conhecer as percepções dos sujeitos a respeito da atuação do farmacêutico e a relação estabelecida com o paciente. 4.1.2 O motivo de atender às necessidades do paciente Essa pergunta do formulário informará se o que é esperado do farmacêutico está sendo compatível com as necessidades do paciente. As respostas foram classificadas em três sub-categorias abaixo: a) Ajuda - Pelas respostas dos pacientes o farmacêutico é um profissional que ajuda as pessoas nos seus problemas, para elas é importante que o farmacêutico tenha disposição em ajudar. “Porque quando tenho algum problema o farmacêutico me ajuda a resolver” “Porque quando preciso dele, ele está sempre disposto a ajudar” b) Atendimento - Atendimento de um profissional de farmácia deve ser diferente de todos os atendimentos dos estabelecimentos comerciais, visto que a farmácia também é um estabelecimento de saúde e exige mais atenção ao cliente. Cada pessoa que entra na farmácia deve ser atendida como um paciente que necessita de um bom atendimento. Para os respondentes um bom atendimento o farmacêutico deve demonstrar 25 simpatia, interesse pela saúde do paciente, bom tratamento e educação, relatados a seguir: “Porque ele é simpático e me atende bem” “Ele se interessa pela nossa saúde” “Porque sou bem tratada por ele” “Porque ele sabe orientar e indicar um remédio quando é preciso, além de ser muito educado” c) Comunicação - Uma das funções primordiais do farmacêutico no ato da dispensa é a orientação do paciente em todos os aspectos do medicamento que será consumido. Para isso, é fundamental que ambos se comuniquem. A comunicação interpessoal pode ser definida como o processo pelo qual se transmite idéias e sentimentos de uma pessoa a outra. O processo de comunicação se dá na interrelação humana e ao mesmo tempo provoca novas inter-relações (ZUBIOLI, 2001). Pelas respostas abaixo, pode-se ver que as pessoas gostam de conversar com o farmacêutico e até o classificam como um psicólogo. “Porque ele sabe conversar comigo, é muito educado e atencioso, diferente dos outros vendedores” “Porque ele é quase um psicólogo para mim” É importante escutar e prestar atenção ao que diz o paciente por dois motivos: primeiro, para dar-lhe a importância que merece o seu problema e que ele o sinta assim, e para poder formar uma opinião clara sobre como expressar a informação que está solicitando (ZUBIOLI, 2001). 26 4.1.3 Importância do farmacêutico para a sociedade A Sexta questão informou a importância que o farmacêutico tem para a sociedade. As respostas foram agrupadas em três sub-categorias, a saber: a) Qualidade do produto - O farmacêutico tem a responsabilidade profissional na dispensa de medicamentos de qualidade, confirmado com as respostas dos pacientes abaixo: “O farmacêutico não deixa o cliente levar produtos sem qualidade” “É ele que não engana as pessoas quanto à qualidade do remédio”. b) Primeiros Socorros - A farmácia muitas vezes é o primeiro estabelecimento de saúde que o paciente busca socorro, enfatizando a importância do profissional farmacêutico no seu local de trabalho. “Importante nos primeiros socorros...” “Dar os primeiros socorros, quando não for uma coisa tão grave, e orientar sobre a doença e o medicamento” c) Prevenção de doenças - Como o farmacêutico é o profissional de saúde de fácil acesso às pessoas, é importante orientar quanto à prevenção de doenças. “É um dos profissionais de saúde que ajuda a prevenir doenças, importante nos primeiros socorros e tendo boa atenção, ele pode detectar uma doença no estado inicial, assim mais chance de cura”. 4.1.4 Importância do farmacêutico para o paciente Pelas respostas dos pacientes, pode-se ver que o farmacêutico tem um papel 27 muito importante na vida das pessoas. “Ele é meu vendedor de confiança e meu amigo” “Ele me passa confiança, e aí eu melhoro” “Ele me trata bem, gosto de ir na farmácia” “Importante nos meus tratamentos, ele é que me dá as orientações dos remédios” “Uma pessoa de confiança para falar os meus problemas” “Tenho um atendimento melhor na farmácia quando atendido por um farmacêutico, ele se interessa pela saúde, não pensa só em vender” 4.1.5 Um bom farmacêutico para o paciente As respostas dos pacientes a última pergunta do formulário reforçaram o que já foram citados. Para eles um bom farmacêutico é aquele que: “Seja atencioso” “Seja simpático” “Tenha um bom atendimento” “Saiba orientar” “Passa confiança para o cliente” “Demonstre interesse no paciente” 28 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para fazer uma boa atenção farmacêutica é preciso haver diálogo de ambas as partes. Por isso é importante manter um bom relacionamento farmacêutico- paciente. Pelas respostas obtidas, os pacientes que freqüentam a “Drogaria Varejão dos Remédios”, sabem quais são as atribuições do farmacêutico e concordaram sobre a importância da presença do farmacêutico na farmácia. Pode-se observar que a maioria dos pacientes já foi atendida por um farmacêutico, demonstrando também necessidade do profissional em prestar Assistência Farmacêutica. O que se pode perceber é que as pessoas não querem somente aqueles profissionais para orientar sobre o uso dos medicamentos, eles querem uma pessoa que aparenta simpatia, que converse com ela de maneira clara, ouça seus problemas e aconselhe, demonstre de alguma forma que a saúde dela é importante para o farmacêutico e estabeleça uma relação de confiança e duradoura. A prática demonstra que o paciente tem buscado no farmacêutico maiores informações sobre a terapêutica medicinal, somente com a comprovação o paciente afiança sua necessidade de aquisição medicamentosa, através da concordância do profissional, como aquele que possui as condições necessárias para reforçar a prescrição médica, com a receita que traz consigo. A realidade interpretada nos questionários da “Drogaria Varejão dos Remédios” mostra que o profissional tem se apoiado no exercício de Atenção Farmacêutica como forma de adaptação às exigências dos pacientes para um melhor relacionamento, bem como para maior esclarecimento sobre os medicamentos, além disso, o profissional passa a ser mais valorizado pelos clientes. 29 As ações dos farmacêuticos no cotidiano das farmácias demonstram que situações de automedicação no paciente estão sendo transformadas pela ação do profissional, quando este cria laços sociais ao intervir e explicitar um aviamento médico. Este equilíbrio não decorre somente do tipo e características do medicamento, mas também da forma de utilização e da dosagem em relação ao tempo, muitas vezes o paciente não consegue entender a prescrição médica ou possui dúvidas sobre o medicamento, a sua quantidade total, a sua dosagem, os horários e modos de seu uso. O presente estudo pode ser considerado como uma contribuição entre os demais que poderão ser feitos na área de farmácia. Na realidade, o desejo de contribuição deixa mais perguntas, mais dúvidas, mais assuntos para estudo do que sugestões. A solução não virá de uma única direção, mas de cada caminho tomado que, concretizado, deverá contribuir para se chegar a novas soluções, pois outros farmacêuticos poderão pesquisar em suas farmácias, através dos formulários, e descobrir o perfil do farmacêutico na opinião do paciente, para que estes tenham um bom relacionamento, garantindo uma Atenção Farmacêutica de qualidade. Sem a pretensão ou mesmo a possibilidade de poder esgotar o assunto, pode-se conhecer, pelos autores consultados, a situação em que se encontra a qualidade da Atenção farmacêutica nos dias presentes. 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRAIS, P. S. D. O uso irracional de medicamentos e a farmacovigilância no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 5, set./out. 2002. P. 1478-1479. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria 344 de 12 de maio de 1998. Regulamento Técnico sobre Substâncias e Medicamentos sujeitos à Controle Especial, artigo 91. Out. 1998. P.17. ______. Ministério da Saúde. Secretaria da Políticas de Saúde. Departamento de Formulação de Políticas de Saúde. Política Nacional de Medicamentos. Brasília – DF, abril, 1999. P. 40. CHAMMÉ. S. J. Repressão e saúde. In: Saúde: um processo em constante construção. Tese de Livre-Docência. Faculdade de Filosofia e Ciências/UNESP: Marília, Mimeo, 1997. P. 9. FERRAES, A. M. B.; CORDONI JÚNIOR, L. Medicamentos, farmácia, farmacêutico e o usuário: novo século, novas demandas. Revista Espaço para a Saúde, versão online, v. 4, n. 1, dez. 2002. ______. The search for quality of service among professional pharmacists. 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Você sabe quais são as atribuições (funções) de um farmacêutico? ( ) sim (...) não 2. Para você, é importante a presença do farmacêutico na farmácia? ( ) sim (...) não 3. Você já foi atendido por um farmacêutico? ( ) sim (...) não 4. O que você espera do farmacêutico? 5. O farmacêutico atende suas necessidades por que? 6. Para você, qual é a importância do farmacêutico para a sociedade e para você? Para a Sociedade: Para o paciente: 7. Complete a frase: para você, um bom farmacêutico é aquele que...