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A Revolução Francesa
Introdução
A Revolução Francesa representa o marco mais importante
na transição do feudalismo para o capitalismo e não pode ser
considerada um fato isolado: a maioria dos autores a situa como
uma parte específica e destacada de um único processo
revolucionário que cobriu o período que vai de 1789 a 1848 e que
teve como centro os dois principais países rivais - França e
Inglaterra. O historiador inglês Eric Hobsbawm considera esse
período marcado por uma "dupla revolução - a francesa, bem mais
política, e a industrial (inglesa)", que seriam "inconcebíveis sob
qualquer outra forma que não a do triunfo do capitalismo liberal
burguês".
Essa "dupla revolução", política e econômica, aconteceu
simultaneamente e foi responsável não só pela transformação das
sociedades européias como também por todas as outras por ela
influenciadas. Ou seja: o mundo todo. E, ainda segundo Hobsbawm,
"Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente
sob a influência da revolução industrial britânica, sua política e
ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução
Francesa".
Assim, a importância
da Revolução Francesa
extrapolou época e lugar:
seus efeitos se fizeram
sentir em toda a Europa e
no mundo europeizado
(particularmente
a
América) e, em certo
sentido, estão presentes
nos diferentes sistemas
político-ideológicos
vigentes até hoje.
A
Revolução
Francesa pode ser
considerada a revolução
burguesa típica e a ela
estão ligados dois
conceitos fundamentais
para a compreensão dos
Luís XIV
processos de mudanças
sociopolíticas: o conceito de revolução como transformação social
que implica modificação da estrutura da sociedade e o de luta de
classes, concebido como o processo pelo qual as mudanças
estruturais se realizam. A Revolução Francesa foi a luta na qual a
burguesia se apresentou como classe revolucionária, de cuja vitória
resultaram o aniquilamento da sociedade feudal do Antigo Regime
e a afirmação da sociedade liberal burguesa, basicamente
capitalista. Quando se afirma o caráter burguês por excelência da
Revolução Francesa, não se pretende excluir dela os demais
segmentos sociais; o processo revolucionário foi amplo e complexo
e todas as forças sociais da época dele participaram. O caráter
burguês diz respeito sobretudo ao resultado final, que assinalou
de forma incontestável a vitória da burguesia.
Em se tratando de um processo extremamente complexo, é
natural que os motivos e as características da Revolução Francesa
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sejam igualmente complexos e digam respeito a todos os setores e
atividades da sociedade. Por outro lado, à medida que a Revolução
significou a destruição do Antigo Regime, é nele que suas raízes
devem ser buscadas.
A França pré-revolucionária
A Sociedade Francesa
A França era, no final do século XVIII, a mais típica e poderosa
das velhas monarquias aristocráticas e absolutistas da Europa, e a
sociedade francesa apresentava-se ainda na forma estamental. Os
dois extremos sociais, de uma população composta por cerca de 25
milhões de habitantes, eram os nobres, aproximadamente 400 mil
pessoas, e os camponeses, que compreendiam 80% do total da
população.
Gravura intitulada
“Isso não durará
sempre”, representando
a exploração das
classes populares pelo
clero e a nobreza.
No Primeiro Estado, às vésperas da revolução, tornava-se
clara a divisão entre alto e baixo clero. O alto clero, bispos e cardeais
principalmente, era constituído por elementos de famílias nobres
possuidoras de inúmeros privilégios. O baixo clero, composto por
padres de paróquias e frades, era proveniente do Terceiro Estado;
inúmeros dos seus elementos eram extremamente pobres e tendiam
a simpatizar com a revolução.
A nobreza, Segundo Estado, também encontrava-se dividida
em inúmeras partes com interesses muitas vezes divergentes.
Em Versalhes encontrava-se a nobreza palaciana, formada por
quatro mil pessoas que viviam na Corte ostentando muitos
privilégios.
No interior do país, uma parte da segunda ordem era constituída
pela chamada nobreza provincial que, dotada de pequenas
propriedades, levava vida pouco brilhante, com poucos privilégios,
vivendo da exploração de direitos feudais e sendo por isso
detestada pelos camponeses.
De forma geral, a nobreza de sangue - cortesãos, nobres
provinciais e alto clero - consistia numa classe decadente vivendo
de forma parasitária. Estavam isentos da maioria dos impostos
diretos, recebiam pensões, doações e outros privilégios do poder
real. Possuíam tribunais próprios e eram a maioria da oficialidade
do exército e da marinha. Exploravam boa parte da população
camponesa por meio de inúmeros "direitos feudais": servidão,
corvéias, banalidades.
Ainda no Segundo Estado, existia a nobreza de toga, que
predominava nas atividades administrativas e judiciárias. Esses
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A Revolução Francesa
nobres eram em sua maioria burgueses nobilitados.
A França era sustentada pelo terceiro estado, liderado pela
burguesia e formado pelas camadas populares - uns poucos
operários, artesãos e uma imensa maioria de camponeses. Entre
estes, mais ou menos um milhão de pessoas ainda estava submetido
à servidão. O terceiro estado financiava toda a estrutura parasitária
do Antigo Regime, pagando todos os impostos. Os mais explorados
eram os camponeses, que pagavam dízimos para a Igreja, impostos
para o Estado, arrendamentos para a nobreza e juros sobre os
empréstimos concedidos pela burguesia.
A burguesia, elite financeira e intelectual do terceiro estado,
também não era um grupo homogêneo. Uma parte dela havia
aplicado seu capital na compra de terras, outra parte dedicava-se
ao pequeno comércio e outra, à produção manufatureira ou ao
grande comércio externo. Alguns burgueses empregavam seu
capital na exploração de engenhos escravistas nas colônias
francesas, mais precisamente no Haiti e na Guiana.
Apesar de ser a camada social mais rica e culta da sociedade
francesa, a burguesia ocupava um lugar social inferior ao do clero
e ao da nobreza.
Isso explica a adesão de muitos burgueses à revolução: o
ressentimento criado pelas humilhações que sofriam
cotidianamente.
A situação política
Mesmo tendo ocorrido as revoluções liberais na Inglaterra e
a independência dos Estados Unidos, a França vivia ainda em
pleno Estado absolutista. Seus reis tudo podiam e aos súditos só
restava a obediência total. O único órgão capaz de limitar um
pouco esse poder eram os Estados Gerais, reunião de deputados
dos três estados que votavam os tributos criados. Mas essa
assembléia deveria ser convocada pelo rei, que não o fazia desde
o século XVI. Na França, não existia nenhuma das liberdades
democráticas já conquistadas na Inglaterra e na Holanda.
Através do mercantilismo, o Estado dirigia toda a economia
do país e tudo decidia. Os burgueses não tinham liberdade de
comércio. No comércio interno, precisavam pagar várias taxas
aduaneiras: no comércio externo, não possuíam chances, pois este
era monopolizado por companhias dirigidas pelos favoritos do rei.
Apesar de toda a centralização, o Estado absolutista francês
era desorganizado, gastando mais do que recebia. As pensões pagas
à nobreza, as guerras, as festas, tudo saía do tesouro real, que se
confundia com a riqueza pessoal do rei. A cobrança de impostos era
arrendada por preços irrisórios a grupos de burgueses que se
enriqueciam explorando essa atividade.
Luís XVI, o último rei absolutista, era um bonachão. Era alvo de
O navegador francês
La Pérouse recebe
instruções de Luís XVI
antes de partir para
uma viagem de
exploração do oceano
Pacífico, na tentativa
de ampliar os
domínios coloniais da
França,que haviam
sido bastante
reduzidos.
ironias, devido às infidelidades da
rainha Maria Antonieta, princesa
austríaca odiada pelo povo, que a
chamava prostituta. O absolutismo
francês estava desmoralizado. Um
nobre, o conde de Richelieu, havia
advertido o rei dessa desmoralização,
dizendo-lhe: "No tempo de Luís XIV,
as pessoas ficavam em silêncio; com
Luís XV, as pessoas murmuravam: em
seu governo as pessoas gritam
abertamente".
Luís XVI
A situação econômica
O quadro sociopolítico era agravado pelos problemas
financeiros da monarquia. A estrutura fiscal e administrativa da
França era completamente obsoleta. Em 1774, Luís XVI assumiu o
poder e nomeou Turgot para cuidar das finanças.
O grande problema financeiro era o da arrecadação de
impostos, que a nobreza e o clero não pagavam. Entre 1774 e 1776,
Turgot procurou remediar a difícil situação que o país atravessava,
tentando fazer com que as classes abastadas fornecessem recursos
para o Estado. Mas fracassou por causa da resistência dos nobres,
que se recusaram a pagar impostos e a abrir mão de seus privilégios.
Turgot foi obrigado a renunciar. O mesmo aconteceu com Calonne,
que o substituiu. O rei então chamou Necher, banqueiro genebrino
que, no posto de Fiscal Geral, conseguiu realizar algumas reformas,
como a emancipação dos servos das fazendas reais. Tentando
chamar a atenção para a gravidade da situação financeira do país,
Necker publicou a lista das pensões pagas pelo Estado aos nobres
e orçamento do Estado; por isso também foi afastado. Para
completar a crise, o envolvimento da França na guerra de
independência americana acarretou aumento de gastos e
conseqüentemente da dívida; a vitória sobre a Inglaterra custou,
praticamente, a bancarrota.
Com o intuito de superar a crise, a monarquia francesa
procurou então o apoio das classes sociais abastadas e para isso
recorreu à Assembléia dos Notáveis, escolhidos a dedo, convocada
em 1787 e, em função do fracasso dessa medida, convocou os
Estados Gerais, a velha assembléia feudal do reino que desde 1614
não era reunida. Os nobres, uma vez convocados, tanto na
Assembléia dos Notáveis como nos Estados Gerais, recusaram-se
a pagar pela crise se seus privilégios não fossem estendidos.
"Assim, a Revolução começou como uma tentativa aristocrática
de recapturar o Estado. Esta tentativa foi mal calculada por duas
razões: ela subestimou as intenções independentes do terceiro
estado (...) e desprezou a profunda crise socioeconômica no meio
da qual lançara suas exigências políticas".
Início da Revolução
A França dos anos 80 do século XVIII vivia um crescente
agravamento das condições socioeconômicas, que culminava em
revoltas cada vez mais violentas nas cidades e no campo, na capital
e nas províncias.
A partir de 1786, com a concorrência dos produtos industriais
ingleses (têxteis e metalúrgicos), surgiu uma onda de falências,
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A Revolução Francesa
acompanhada de desemprego e queda de salários, arruinando o
comércio nacional. Ao mesmo tempo, fenômenos climáticos (secas
e inundações) comprometiam a agricultura, elevando os preços de
produtos essenciais e fomentando a insatisfação geral.
Às crises econômicas juntavam-se as políticas, com
sucessivas demissões de ministros, que tinham seus projetos
reformistas barrados pela intransigência aristocrática, como
aconteceu com Turgot Brienne e também Calonne.
Frente ao agravamento da crise política, Calonne demitiu-se.
Pressionado pela crise, Luís XVI nomeou Necker para o ministério,
que confirmou a convocação dos Estados Gerais para maio de
1789.
A
nobreza
confiava no controle
do Parlamento, pois
teria maioria de
votos se fosse
preservada
a
tradicional votação
por Estado (clero, um
voto; nobreza, um
voto; e povo, um
Sessão de abertura dos Estados Gerais.
voto), já que clero e
nobreza comungavam os mesmos interesses. A nobreza só não
contou com o potencial revolucionário do Terceiro Estado, que
exigiu a participação nos Estados Gerais de um número de
deputados compatível com sua representação. O primeiro Estado
ficou com 291 deputados, o Segundo com 270 e o Terceiro com 578.
A 5 de maio de 1789, quando se abriu a sessão dos Estados Gerais
no palácio de Versalhes, os interesses antagônicos dos grupos
sociais ali representados entraram em choque.
Os representantes do Terceiro Estado exigiram a votação
individual, pois, com o apoio de aproximadamente 290 deputados
do baixo clero e da nobreza togada, alcançariam a maioria na
Assembléia dos Estados Gerais. Diante da impossibilidade de
conciliar tais interesses, Luís XVI tentou dissolver os Estados
Gerais, impedindo a entrada dos deputados na sala de sessões. Os
representantes do Terceiro Estado rebelaram-se e invadiram a sala
do jogo da péla (espécie de tênis em quadra coberta), jurando que
seus membros não se separariam enquanto não tivessem dado à
França uma constituição. A 9 de julho, juntamente com muitos
deputados do baixo clero, declararam-se em Assembléia Nacional
Constituinte. Os ânimos se exaltavam e aumentavam as propostas
de tomar armas.
Luís XVI tentou reunir forças para enfrentar a Assembléia,
mas a demissão de
Necker, em 11 de
julho, e a nomeação
do conservador
barão de Bretevil
precipitaram os
acontecimentos.
Criou-se
a
Guarda Nacional,
uma milícia burguesa
para resistir ao rei e
liderar a população
Tomada da Bastilha
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civil, que começou a se armar. No dia 14 de julho, a multidão invadiu
o Arsenal dos Inválidos à procura de munições e, em seguida, a
fortaleza da Bastilha, onde eram encarcerados os inimigos da realeza.
Foi o estopim da rebelião, que se alastrou de Paris para o resto da
França. No campo, onde os privilégios da aristocracia eram mais
gritantes, os camponeses chegaram a invadir e incendiar castelos
e a massacrar elementos da nobreza, num período que ficou
conhecido como Grande Medo.
Etapas da Revolução
Assembléia Nacional (1789-1792)
Na primeira fase (1789-1792), chamada de Fase da Assembléia
Nacional, destacou-se a atuação da burguesia nas cidades e dos
camponeses no interior, estes destituindo autoridades e nobres de
seus castelos e repartições, muitas vezes matando e incendiando, e
aquela lutando por conquistas sociais e políticas nas ruas e na
Assembléia.
Em Paris, aprovou-se, na Assembléia dos Estados Gerais, a
abolição dos privilégios feudais, numa tentativa de restabelecer a
ordem dirigindo a insatisfação apenas contra os restos do
feudalismo. Inspirada na Declaração de Independência dos Estados
Unidos, foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, estabelecendo a igualdade de todos perante a lei, o
direito à propriedade privada e de resistência à opressão.
Em agosto de 1790, foi votada a Constituição Civil do clero,
separando a Igreja do Estado e transformando os clérigos em
assalariados do governo, a quem deviam obediência. O papa opôsse a isso e a maior parte do clero negou-se ao juramento de
fidelidade à Constituição.
Entre os revolucionários de 1789 começaram as divisões. A
grande burguesia não queria aprofundar e radicalizar a revolução,
temendo o radicalismo popular. Aliada a setores da nobreza liberal
do baixo clero, formou o Clube dos Girondinos – assim chamados
porque seus líderes eram provenientes da Gironda, um departamento
francês. Os girondinos dominavam a Assembléia. Seus deputados
sentavam-se à direita da Assembléia, eram os mais conservadores.
A partir daí o termo direito passou a ser aplicado a todas as forças
políticas contrárias a mudanças ou transformações sociais. No
centro, ficava um grupo de deputados sem opiniões muito firmes,
que votava na proposta com mais chances de vencer. Eram chamado
planície ou pântano. À esquerda, ficavam os jacobinos - assim
chamados porque se reuniam no convento de Saint Jacques –,
liderados pela pequena burguesia e apoiados pelos sans-culottes
massas populares de Paris, que queriam aprofundar a revolução,
aumentando os direitos do povo a partir deles o termo esquerda
passou a simbolizar os partidos e políticos favoráveis às
transformações sociais. Sua facção mais radical era representada
pelos raivosos, liderados por Herbert, que queriam o povo no poder.
No palácio real, conspirava-se abertamente contra a revolução. O
rei, a rainha, seus conselheiros, os embaixadores da Áustria e da
Prússia eram os cabeças da conspiração. A Áustria e a Prússia,
países absolutistas, invadiram a França que foi derrotada porque
oficiais ligados à nobreza permitiram o fracasso do exército francês.
Na assembléia, os jacobinos denunciaram a traição. A família
real fugiu, mas foi aprisionada por populares. Os girondinos,
temendo a radicalização da revolução, tentaram lhes salvar a vida,
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A Revolução Francesa
enquanto os jacobinos defendiam sua execução, acusando o
soberano de cumplicidade na invasão.
Verdun, última defesa de Paris, foi sitiada pelos prussianos. O
povo, chamado a defender revolução, saiu às ruas e massacrou
muitos partidários do Antigo Regime. Formou-se então um exército
popular, que, ao som de Marselhesa, hino da revolução, em 20 de
setembro de 1792 derrotou os invasores. No mesmo dia, foi
proclamada a República na França.
Convenção Nacional (1792 - 1795)
Em 10 de agosto de 1792 a Assembléia foi dissolvida e a
monarquia extinta. Criou-se a Convenção Nacional, que abriu
caminho para o estabelecimento da república.
Nas reuniões, à direita, ficavam os deputados girondinos, que
desejavam consolidar as conquistas burguesas, estancar a
Revolução e evitar a radicalização. Ao centro ficavam os deputados
da Planície ou Pântano - assim denominados por agruparem-se na
parte mais baixa -, que eram os elementos da burguesia sem posição
política previamente definida. À esquerda, formando o partido da
Montanha, pois colocavam-se na parte mais alta do edifício, ficavam
os representantes de pequena burguesia jacobina, que liderava os
sans-culottes, defensores de um aprofundamento da Revolução.
O conflito entre as facções políticas se agravava à medida que
cresciam as dificuldades econômicas e militares. É desse período
que herdamos o uso das expressões esquerda e direita, quando
nos referimos a posições sociopolíticas progressistas e
conservadoras, respectivamente.
No primeiro
período
da
Convenção, liderado
pelos girondinos,
foram descobertos
documentos
secretos de Luís
XVI, no palácio das
Tulherias,
que
provavam
seu
comprometimento
com o rei da Áustria.
O fato acelerou as
pressões para que o
rei fosse julgado
como traidor. Na
convenção,
a
Gironda dividiu-se:
A família real recebe a notícia da condenação.
alguns optaram por
um indulto, outros
pela pena de morte. A Montanha, reforçada pelas manifestações
populares, exigia a execução do rei, indicando o fim da supremacia
girondina na Revolução.
Em 21 de janeiro de 1793, Luís XVI foi guilhotinado na praça
da Revolução. Vários países europeus, como Áustria, Prússia,
Holanda, Espanha e Inglaterra, indignados e temendo que o exemplo
francês se refletisse em seus territórios, formaram a Primeira
Coligação contra a França. Encabeçando a Coligação, a Inglaterra
financiava os grandes exércitos continentais para conter a ascensão
burguesa da França, sua potencial concorrente nos negócios
europeus.
As
dificuldades
se
avolumavam: a ameaça externa se
somava à crise econômica, às
divisões
políticas,
às
insatisfações gerais e até aos
levantes anti-republicanos
regionais, como a revolta da
Vendéia, no oeste da França. Em
2 de junho de 1793, os jacobinos,
comandando os sans-culottes,
tomaram
a
Convenção,
prendendo os líderes girondinos.
Marat, Hébert, Danton, SaintJust e Robespierre assumiram o
poder, dando início ao período da
A morte de Marat, quadro de
Convenção Montanhesa (1793 autoria do pintor Louis David.
1794).
Devido ao predomínio da atuação popular, esse período
caracterizou-se por ser o mais radical de toda a Revolução Francesa,
conhecido como o período do "Terror". Em 1793, foi aprovada
nova constituição (Constituição do
Ano I), Comitê de Salvação Pública
(poderes civis e militares), Comitê
de Salvação Nacional (polícia
política, que procurava e prendia os
suspeitos),
Tribunal
Revolucionário(que julgava sem
apelação), Lei do Preço
Máximo(tabelava o preço dos
alimentos). Decretou-se a abolição
completa de todos os direitos
feudais, sem indenizações alguma.
Os documentos feudais foram
Georges Jacques Danton
incinerados. Também foi abolida a
escravidão nas colônias.
Em Julho de 1793, o líder
revolucionário Jean Paul Marat foi
assassinado por uma monarquista,
desencadeando violenta reação do
governo jacobino e do povo.
A
ruptura
entre
os
revolucionários
dentro
da
Convenção desestabilizava o poder
dos jacobinos. Havia os radicais que
pregavam a intensificação da
violência e os que desejavam conter
a Revolução e acabar com as prisões
e execuções. O primeiro grupo era o
dos radicais, liderado por Herbert; o
segundo era o dos indulgentes,
liderado por Danton. Robespierre,
aliado aos indulgentes, liquidou
primeiramente os Raivosos: Herbert
e seus adeptos foram decapitados.
Dias depois, fez com que Danton e
seus amigos fosse guilhotinados.
Robespierre jura sobre a
Declaração dos Direitos do
Entrava no apogeu o poderio de
Homem.
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A Revolução Francesa
Robespierre. Sua terrível ditadura durou quase quatro meses. Foi
denominado de Período de grande Terror.
As dificuldades econômicas e militares, com a constante
ameaçam de invasões estrangeiras, somadas à insegurança da
população provocada pelas sucessivas execuções, levaram
Robespierre a perder progressivamente o prestígio como líder
nacional.
Aproveitando-se disso, a burguesia se reorganizou e, em 27
de julho de 1794 (9 de termidor), retomou o poder na Convenção,
derrubando os líderes da Montanha. Quase sem apoio, os jacobinos
não puderam reagir eficazmente e Robespierre e Saint-just entre
outros, foram guilhotinados.
Convenção Termidoriana
A eliminação dos jacobinos, conhecida como reação
termidoriana, determinou uma mudança no processo
revolucionário. Os girondinos sobreviventes voltaram a fazer parte
da Convenção; os jacobinos foram expulsos. A Convenção
termidoriana se tornou cada vez mais conservadora. Em março,
abril e maio de 1795, os sans-culottes se revoltaram, mas foram
derrotados e eliminados pela repressão burguesa, conhecida como
terror branco.
Em 1795, a Convenção aprovou uma nova Constituição, menos
liberal do que a de 1791. Por ela, a Convenção era dissolvida e o
poder legislativo ficava dividido em duas casas: o Conselho dos
Quinhentos e o Conselho dos Anciãos, com 250 deputados. O
executivo era entregue a cinco Diretores. Daí o nome de Diretório.
O Diretório
Consolidados no poder, os homens do Pântano promulgaram
a nova Constituição em agosto de 1795, criando um novo regime
conhecido pelo nome de Diretório. Segundo a nova Carta, o poder
executivo era exercido por cinco diretores escolhidos pelo Corpo
Legislativo que, por sua vez, se compunha de uma Câmara de
Deputados, chamada Conselho dos 500, e um Senado, o Conselho
dos Anciãos. O sufrágio era concedido apenas aos alfabetizados,
privando-se a imensa maioria da nação de qualquer participação
política.
O novo regime, além de se caracterizar pelo domínio da alta
burguesia, mostrou-se fiel às suas origens, que se encontravam
no grupo do Pântano. Foi um período de intensa corrupção e
especulações desenfreadas, que enriqueceram rapidamente
elementos do governo, financistas e empresários. Corrupção e
especulações somadas ao prosseguimento da guerra levaram a um
aumento acelerado da inflação, que prejudicava principalmente a
camada popular.
A situação animou os velhos inimigos da revolução. Em
outubro de 1795 a nobreza realista tentou um golpe de força em
Paris para depor o Diretório. O governo foi salvo graças à
intervenção de tropas comandadas por um jovem general de nome
Napoleão Bonaparte.
01. (UFRS) A Revolução Francesa de 1789 apresentou distintas
fases com resultados diferentes. De qualquer forma, ela foi
responsável pela eliminação do Antigo Regime e pela transformação
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da sociedade francesa e européia da época. Assinale entre as
alternativas abaixo, relativas aos resultados obtidos no campo, a
que estiver incorreta:
a) Abolição da monarquia e criação de um amplo setor de
pequenos proprietários rurais.
b) Eliminação da condição de servidão que se mantinha entre parte
da população camponesa.
c) Abolição dos deveres e tributos discriminatórios feudais e reais
que recaíam sobre as diferentes regiões e o campo.
d) Expropriação e venda das terras da monarquia, da Igreja e da
aristocracia contra-revolucionária aos burgueses e aos
camponeses.
e) Transformação dos senhorios feudais em empresas agrícolas
pela libertação do ônus do serviço militar e expulsão dos
camponeses servis.
02. (UFMS) A Revolução Francesa, segundo o historiador
Holland Rose, foi “a série de acontecimentos mais terrível e
momentosa em toda a história (…) … o ponto de partida real para
a história do século XIX; pois esse grande levante afetou
profundamente a vida política e, mais ainda, a vida social do
continente europeu”.
HOBSBAWM, Eric. Ecos da Marselhesa. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996, p. 20.
Assinale a(s) alternativa(s) que evidencia(m) as tensões e impasses
da Revolução Francesa.
01) O drama da Revolução Francesa, para os chamados liberais
moderados, pode ser resumido nos seguintes termos: sem a
multidão não haveria a nova ordem (o apoio do povo era
essencial contra a aristocracia, o antigo regime e a contrarevolução); com ela, viria o risco da revolução social, o que
pareceu tornar-se realidade por um breve período em 17931794, o da República Jacobina.
02) A Revolução Francesa provocou profundas mudanças em seu
país, mas foi um episódio de alcance apenas regional, pois nos
demais países e continentes apenas conseguiu difundir vagas
idéias sobre igualdade e fraternidade.
04) Tanto os girondinos como os jacobinos queriam radicalizar a
Revolução, questionavam a existência da propriedade privada
e, inspirados em Rosseau, desejavam implantar uma democracia
popular.
08) O golpe de Estado de 18 de Brumário, encabeçado por
Napoleão, foi apoiado pela burguesia conservadora. Para essa
burguesia a questão era apoiar o golpe ou deixar que a
Revolução continuasse.
16) Houve vários momentos dentro da Revolução Francesa.
Destes, duas vertentes distintas podem ser identificadas: uma
em 1789 e outra em 1793. A primeira inspirou-se na autoridade,
na hierarquia das classes e na liberdade perante a lei. A segunda
aprofunda a Revolução e volta-se mais para a igualdade.
03. (UFES) “A Revolução Francesa dominou a história, a própria
linguagem e o simbolismo da política ocidental, desde sua irrupção
até o período que se seguiu à Primeira Grande Guerra Mundial.”
Do texto acima, de Eric Hobsbawm, pode-se inferir ter sido a
Revolução Francesa um dos processos mais importantes do
século XVIII. Entre os acontecimentos que a marcaram, destacase o golpe de 18 Brumário de 1799, pelo qual:
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A Revolução Francesa
a) a burguesia girondina reassumiu o poder, retomando o controle
da Revolução.
b) Napoleão Bonaparte assumiu o poder, na condição de Primeiro
Cônsul.
c) se instalou a Ditadura Montanhesa, sob a liderança de
Robespierre.
d) se instalou o Regime do Terror, com a aprovação da Lei dos
Suspeitos.
e) foi proclamada a República, após a vitória salvadora de Valmy.
04. (UFSC-SP) A queda na produção de cereais, às vésperas da
Revolução Francesa de 1789, desencadeou uma crise econômica
e social, que se manifestou:
a) na alta dos preços dos gêneros alimentícios, na redução do
mercado consumidor de manufaturados e no aumento do
desemprego.
b) no aumento da exploração francesa sobre o seu império colonial,
na reação da elite colonial e no início do movimento de
independência.
c) no abrandamento da exploração senhorial sobre os servos, na
divisão das terras dos nobres emigrados e na suspensão dos
direitos constitucionais.
d) na decretação, pelo rei absolutista, da lei do preço máximo dos
cereais, na expansão territorial francesa e nas guerras entre
países europeus.
e) na intensificação do comércio exterior francês e no aumento
da exportação de tecidos para a Inglaterra, que foi compensada
pela compra de vinhos ingleses.
06. (UNICAMP-SP) Em sua obra Os sans-culottes de Paris, o
historiador Albert Soboul escreveu: “Os cidadãos de aparência
pobre e que em outros tempos não se atreveriam a apresentar-se
em lugares reservados a pessoas elegantes passeavam agora nos
mesmos locais que os ricos, de cabeça erguida.” (Citado por Eric
Hobsbawn, A Era das Revoluções, São Paulo, Paz e Terra, 1976, p. 231.)
(nota: sans-culottes significa “sem culotes”, “sem-calças”)
a) Caracterize o movimetno dos sans-culottes na Revolução
Francesa.
b) Compare o movimento dos sans-culottes com o movimento
dos sem-terra do Brasil.
Gabarito
01. e
02. V, F, F, V, V
03. b
04. a
05. E, C, C, C
06.
ANOTAÇÕES
05. (UNB-DF) A Revolução Francesa é um marco da
contemporaneidade. Ela fez parte de um conjunto de revoluções,
de caráter burguês, que marcaram a transição dos Tempos
Modernos para a Era Contemporânea. A respeito da inserção da
Revolução Francesa no conjunto de transformações que
conduziram o mundo aos tempos contemporâneos, julgue os itens
seguintes, colocando (C) para as certas e (E) para as erradas.
( ) O ano de 1789, início do processo revolucionário francês não
é um marco consensualmente aceito por todas as historiografias
como o início da Era Contemporânea.
( ) O ciclo das revoluções atlânticas permite associar a libertação
das treze colônias britânicas na América do Norte às duas
grandes revoluções européias do século XVIII: a industrial
iniciada pelos ingleses, e a política conduzida pelo fervor
apaixonante dos revolucionários franceses.
( ) O mesmo caráter burguês com que as revoluções atlânticas
foram conduzidas pode ser encontrado na capacidade
econômica empreendedora e na coragem política das elites
criollas latino-americanas, ávidas para transformar o quadro
social e colonial.
( ) Latino-americanos participaram das correntes do liberalismo
internacionalista do século XIX e vários do então conhecidos
princípios franceses moveram rebeliões e movimentos políticos
na América Latina.
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