www.facebook.com/saudenoticias JUNHO2013 | N.º 10 | ANO I | MENSAL + Este jornal é gratuito, pelo que não pode ser comercializado + diretora-geral: Ana Santos Jorge Gabriel venceu cancro de pele “Ninguém está imune. Garanto.” PUB breves Não tome erva de São João com certos medicamentos editorial Quem toma antidepressivos e ansiolíticos deve evitar o consumo de álcool, plantas ou extratos, como a erva de São João (hipericão), sumos de laranja, de toranja e gingko. O alerta é do Observatório de Interações Planta-Medicamento (OIPM), que lançou ainda outro aviso: o excesso de ansiolíticos e antidepressivos na fase dos exames pode ser “contracorrente” para os alunos. O sol pode ser amigo e … inimigo! Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. (Sonho de uma Noite de Verão) William Shakespeare Sonhei que já era Verão! Temos tido um início de Verão atribulado, com temperaturas não muito convidativas e a chuva que teima em não fugir. Estamos todos em contagem decrescente para corrermos para as praias e piscinas, precisamos de sol para sorrir. Sabemos que o sol tem um efeito benéfico sobre o estado de espírito e é indispensável para certas funções corporais, como a síntese de vitamina D, mas a exposição excessiva provoca o envelhecimento precoce da pele e além disso, pode ser responsável pelo aparecimento de lesões cancerosas. Quisemos começar o Verão a dar destaque aos malefícios do sol, apostar na prevenção e desejar boas férias, bons dias de mergulhos e grandes dias, aos nossos leitores. Aqui ficam algumas dicas: Evite-o durante as horas mais quentes do dia, entre as 11 e as 17, e aplique frequentemente protetor solar com fator de proteção 30 ou superior. Abuse do protetor, use chapéu e proteja as crianças. As roupas sintéticas e escuras defendem melhor a pele. O vestuário constitui uma boa barreira de proteção contra a radiação ultravioleta. Assim, para actividades físicas ao ar livre, ou nas situações em que se torna difícil a aplicação frequente de protetores solares, o vestuário pode ser a opção mais adequada para proteger a pele do sol. Durante o tempo mais quente as crianças devem usar vestuário leve, de algodão e suficientemente folgado para permitir uma ventilação adequada e a evaporação do suor, que aumenta apreciavelmente com o calor. Também a roupa interior deverá ser preferencialmente em algodão. As crianças devem também usar chapéu que proteja adequadamente a cabeça, as orelhas, o nariz e os lábios. Na praia ou na piscina, as roupas molhadas devem ser trocadas, pois a sua permanência junto ao corpo favorece o aparecimento de micoses. Mais informações sobre a interação entre produtos naturais e medicamentos: www.ff.uc.pt/oipm/interacoes/ou 239488484. Biossensor deteta queda e avisa serviços de urgência Um dispositivo detetor de quedas em idosos previne menos 500 mil hospitalizações e menos 40 mil mortes prematuras. O Vigi’Fall é um biossensor que se prende, através de um adesivo médico, ao corpo do idoso, além de outros sensores colocados nas paredes da casa. Sempre que há uma queda alerta os serviços de saúde, dando indicações do tipo de queda e da posição em que se encontra a pessoa. Pode ser utilizado no chuveiro e não necessita de se carregar num botão. O dispositivo deverá estar disponível, em Portugal, no final do ano. Investigação em cuidados Será um terror noturno ou um pesadelo? renais A Fresenius Medical Care Portugal vai participar na 42ª Conferência da Associação Europeia de Enfermagem de Diálise e Transplante/Associação Europeia de Cuidados Renais com 22 apresentações, voltando a ser um dos grupos com maior número de apresentações na conferência, num total de 53 trabalhos. O tema principal desta conferência é inovação e gestão nos cuidados renais através da liderança. João Fazendeiro, Diretor Nacional de Enfermagem da Fresenius Medical Care, afirma que “a gestão do acesso vascular (AV), associado a uma boa gestão e liderança das equipas, são áreas em que temos vindo a trabalhar desde há muitos anos, o que explica a taxa de aceitação dos nossos trabalhos. Percebemos que a comunidade científica tem as mesmas preocupações que nós”. Os terrores noturnos afetam até 6% das crianças até aos 12 anos, segundo Filipe Silva, pediatra do hospitalcuf descobertas. O pediatra alerta para a diferença entre terror noturno e pesadelo. O primeiro ocorre na primeira metade do sono e as crianças tendem a chorar, gritar e não costumam estar bem acordadas. Os pesadelos ocorrem na segunda metade do sono e quando são excessivos podem revelar traumas ou problemas de ansiedade que devem ser acompanhados pelo psicólogo ou pedopsiquiatra. Na praia, as crianças não devem andar sem fato de banho; o contacto com a areia ou com objetos sujos pode dar origem a problemas da pele e do trato génito-urinário. Durante os passeios realizados nos dias de mais calor a alimentação deve ser simples mas, tanto quanto possível, idêntica àquela a que as crianças estão habituadas. A fruta (p. ex. laranja, nectarina, ameixa, cereja, pêssego, melão, melancia, manga, papaia e maçã) e os legumes (p. ex. alface, tomate, espinafre, brócolos, cenoura, abóbora) devem ocupar um lugar preferencial na alimentação, pois o seu teor em carotenos e vitaminas poderá contribuir para a proteção da pele contra a agressão pelos raios solares. Deve também ser prestada uma atenção especial à ingestão de líquidos, que deve ser aumentada. Com tudo isto, já é Verão! Ana Santos Subscreva o Saúde Notícias e envie-nos as suas sugestões para: [email protected] Siga-nos no Facebook www.facebook.com/saudenoticias e no site www.saudenoticias.pt (download gratuito do jornal) 2 Junho 2013 FICHA TÉCNICA | Esta edição é de distribuição gratuita, pelo que não pode ser vendida Parceria Ano I – 2013 Propriedade Guess What Comunicação, Lda Rua Actriz Adelina Fernandes, 7b 2795-005 Linda-A-Velha Sede da Redação Rua Actriz Adelina Fernandes, 7b 2795-005 Linda-A-Velha Tel.: 21 386 15 82 Email: [email protected] Diretora Ana Santos Tiragem 25 mil exemplares DESIGN E PAGINAÇÃO Alexandra Miguel Periodicidade Mensal Depósito Legal: DL 319614/10 ERC registo: 125983 Nº Contribuinte 508521211 Impressão Funchalense - Empresa Gráfica, SA Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, nº50 Morelena 2715-028 Pêro Pinheiro Colaboradores Maria João Ramires Carla Fonseca Mário Tomé Sónia Morais As opiniões, notas e comentários são da exclusiva responsabilidade dos autores ou das entidades que produziram os dados. Nos termos da Lei, está proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos. entrevista Jorge Gabriel sofreu de cancro de pele “Ninguém está imune. Garanto.” Foi no banho que Jorge Gabriel, o conhecido apresentador da RTP, que se apercebeu de um sinal diferente. Após a extração veio a saber que era melanoma, o cancro de pele mais letal. Após esta experiência alerta todas as pessoas para terem cuidado com o sol, porque não acontece só aos outros. “A família acompanhou todo o processo e provavelmente todo o processo e provavelmente mais conscientes dos riscos que podia estar a correr tentavam esconder a preocupação, que eu topava a milhas, mas descontraidamente relevava. mais conscientes dos riscos que podia estar a correr tentavam esconder a preocupação, que eu topava a milhas, mas descontraidamente relevava.” Maria João Ramires Saúde Notícias (SN) Quando é que se apercebeu de que havia um sinal com menos bom aspeto? Jorge Gabriel (JG) - Há sensivelmente dois anos quando me secava após tomar banho. A cor do sinal tinha perdido consistência, estava esbatida e muito ligeiramente maior. SN - Na altura, o que fez? Como decorreu todo o processo desde que se apercebe do sinal até chegar ao médico e fazer exames? JG - Sabia que nessa semana um dermatologista, o Dr. Osvaldo Correia, iria estar no programa na sequência de uma série de conselhos que estávamos a divulgar semanalmente. Terminada a entrevista pedi-lhe que observasse o sinal, e num primeiro diagnóstico, pareceu-lhe sem importância. Pediu-me, no entanto, que fosse ao consultório para poder fazer uma observação mais zelosa. Assim o fiz, e mantendo a ideia ini- cial reiterou que acha improvável que fosse algo complicado. De qualquer modo aconselhou-me que fizesse uma pequena extração para ficarmos descansados. SN - Quanto tempo levou para receber o diagnóstico? JG - Uma semana depois chegou o resultado e felizmente no início do processo. SN - O que se sente enquanto se espera pelo diagnóstico? E depois quando se sabe que é mesmo um melanoma? JG - Sendo completamente honesto, não me deixei tomar por pensamentos negativos. Estava devidamente acompanhado e aguardei serenamente pela resposta. Assim que o Dr. Osvaldo Correia me telefonou para repartir o relatório nunca houve a ideia de que estaríamos face a um caso complicado. Melanoma é apenas um palavrão que no meu caso era ínfimo. Tudo tranquilo. SN - Extraiu o sinal. Qual foi o prognóstico? JG - Éramos para adiar a extração do sinal após as minhas férias de verão, mas acabámos por decidir fazêlo de imediato. Assumimos a máxima, “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”. SN - Contou à família, amigos e colegas de trabalho? Como reagiram? JG - A família acompanhou SN - Depois desta experiência houve alguma coisa que mudou na sua vida? JG - Os cuidados com o sol são levados ainda com maior rigor em toda a família e estou sempre disponível para partilhar a minha experiência em público para tentar evitar que suceda com os meus semelhantes. SN - Que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores? JG - O sol pode ser o nosso maior aliado e simultaneamente o nosso maior perigo. Apenas temos de lidar com inteligência com ele. E atenção, todo o cuidado é pouco. Ninguém está imune. Garanto. Junho 2013 3 melanoma Melanoma Quando o sol pode ser um inimigo O cancro de pele não acontece só aos outros. É preciso adotar medidas preventivas e estar atento a novos sinais com um aspeto e cor diferentes ou a uma simples ferida que não sara ou a uma escama que tende a cair e a reaparecer no mesmo local. Osvaldo Correia, dermatologista e secretário-geral da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC). O melanoma não sendo o cancro da pele mais frequente é o mais letal. O número de novos casos tem aumentado nos últimos anos, estimando-se que surjam mais de mil novos casos em Portugal em 2013, segundo Osvaldo Correia, dermatologista e secretário-geral da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC). A exposição súbita ao sol, o uso incorreto do protetor solar e os solários favorecem o aparecimento deste tipo de cancro de pele. Os autobronzeadores não têm 4 qualquer função protetora contra o sol. Apesar do aumento da doença, a boa notícia é que os casos de melanoma estão a surgir mais cedo aos dermatologistas, por diagnóstico mais precoce, podendo-se evitar mesmo a morte. Novos hábitos de vida pouco favoráveis A exposição solar já não é o que era. Os grupos de risco já não se cingem apenas a grupos de pessoas que se expõe ao sol, na praia, entre as 11h e as 17h, mas tam- Junho 2013 bém a determinadas profissões ao ar livre e aos frequentadores de solários.” A exposição súbita é uma das principais causas do cancro de pele. Quem frequenta solários a julgar que pelo facto de estar bronzeada está protegida está enganado ”, alerta. O dermatologista e secretário geral da APCC fala ainda das vitaminas para o bronzeado e mesmo das novas bebidas avitaminadas que dizem aumentar a resistência ao sol. “É preciso ter cuidado com este tipo de produtos. No caso das bebidas, por exemplo, as pessoas acham que estão protegidas a 100 por cento – o que não é verdade – e estão mais tempo ao sol”. Cuidados a ter com férias tropicais, desporto ao ar livre e medicamentos Nos últimos anos tem aumentado o número de pessoas que costumam fazer férias em países tropicais, o que também eleva o risco de cancro de pele. “Devem proteger-se do sol, porque nestes casos estamos perante uma exposição súbita, demasiado intensa.” No caso do desporto ao ar livre é necessário evitar as horas de maior calor, usar protetor solar e chapéu com pala ou abas que protejam o couro cabeludo, as orelhas e o pescoço”. Quem usa roupa que exponha a barriga e os ombros também deve ter cuidados redobrados. Relativamente aos medicamentos, há alguns que tornam a pele mais sensível ao sol “como antidepressivos, alguns antibióticos e alguns fármacos para problemas cardiovasculares e para emagrecer e os antiinflamatórios”. Em resumo, “o mais importante é saber proteger-se, para que o sol seja um aliado para a nossa saúde”. Cuidados a ter com a pele Exposição ao sol (insolação) A exposição súbita, intensa e direta ao sol deve ser evitada, definitivamente. É aconselhável evitar a exposição direta à luz solar especialmente entre as 12h e as 16 h e, idealmente, entre as 11h e 17 h, nos dias de maior índice UV. Protetor solar O protetor solar deve ter fator de proteção elevado (fator 30 + ) e oferecer proteção tanto para raios UVA como UVB. O protetor deve ser aplicado meia hora antes da exposição ao sol e a aplicação repetida a cada duas horas. Sombra Deve destacar-se que estar sob um guarda-sol num ambiente aberto, como na praia, ainda assim pode levar a queimaduras solares, devido aos raios UV refletidos, a menos que sejam tomadas medidas adicionais de proteção. Da mesma forma, os raios solares atravessam as nuvens em quantidades significativas e, portanto, ainda há uma tendência para a pele se queimar mesmo nos dias nublados de primavera ou verão. Roupa Roupas de manga curta são melhores que sem manga e, idealmente de manga comprida. O tecido deve ser preferencialmente de malha apertada. É conveniente usar um chapéu de abas largas e óculos de sol escuros com proteção de UV máxima. Atualmente já é possível encontrar no mercado roupas para as crianças, incluindo fatos de banho, com índice de proteção 50 + (tipo de malha ou com protetor solar impregnado). Tipo de pele Geralmente, a regra é que a pele deve ser gradualmente acostumada aos raios solares. Uma pele que bronzeou gradualmente e de modo contínuo consegue suportar os raios UV até 10 vezes melhor do que uma pele não bronzeada. Todas pessoas devem saber também o tempo de proteção pessoal específico que se aplica ao seu tipo de pele. Por outras palavras, quanto tempo de exposição desprotegida ao sol pode fazer. Fonte: Euromelanoma (www.melanoma.org) entrevista “A forma de tratar os doentes com melanoma não é igual em todo o país” Maria José Passos, oncologista e presidente do Intergrupo Português de Melanoma alerta para a necessidade de existir uma maior rentabilização dos recursos humanos especializados nesta área para que o tratamento de melanoma seja uniformizado em todo o país. ça relativamente rara, mas suficientemente frequente e grave para justificar linhas de orientação nacionais, no que diz respeito ao seu diagnóstico, seguimento e tratamento. Tenho esperança, que num futuro próximo, as nossas linhas de orientação sejam aprovadas. Maria João Ramires Por que surgiu o Intergrupo Português de Melanoma? O Melanoma maligno é o tumor que tem registado o maior aumento de incidência e mortalidade em todo o mundo, sobretudo na última década e atinge um número relevante de jovens em fase de vida ativa. Constitui por isso um grave problema de saúde pública que exige uma estratégia de intervenção mais eficaz, a nível nacional. Assim surgiu a ideia (necessidade) de criar o Intergrupo Português de Melanoma (IPM). O IPM é uma sociedade médica, sem fins lucrativos, constituída por profissionais de saúde de diferentes especialidades, interessados no estudo, diagnóstico e tratamento de melanoma. Foi criado em dezembro de 2012 e é o primeiro Grupo Nacional de Melanoma. Quais são os vossos principais objetivos? Os nossos principais objetivos são conhecer e reunir todos os profissionais que se dedicam à investigação, diagnóstico e tratamento de melanoma em Portugal, rentabilizando os recursos humanos especializado nesta área; conhecer os dados epidemiológicos nacionais de melanoma; uniformizar critérios de diagnóstico e tratamento a nível nacional, o que permitirá racionalizar e rentabilizar os métodos de diagnóstico e tratamento, tornando-os acessíveis a todos os doentes, em todo o país. Além disso, passam também pela investigação básica; desenvolver estudos, ensaios clínicos de âmbito nacional com novos fármacos; promover a Formação / Educação para a saúde para diferentes grupos profissionais e sociedade civil; e promover a interligação com outros grupos nacionais e internacionais que trabalham na área de melanoma. O grupo defende que não há critérios uniformizados quanto ao melanoma. Pode falar um pouco sobre este problema, dando, se possível exemplos concretos das diferenças que se fazem sentir? O melanoma é uma doen- A incidência de melanoma está a aumentar. A que se deve esta realidade? A incidência de Melanoma tem vindo a aumentar em todo o mundo, sobretudo nos EUA, Austrália e Norte da Europa. No nosso país esse aumento de incidência não é tão dramático e ronda os 8 casos / 100.000 habitantes, o equivalente a cerca de metade da incidência de melanoma da Suécia. As causas deste aumento são multifatoriais e não completamente esclarecidas: genéticas, ambienciais e devidas a comportamentos de risco, como a exposição solar excessiva, “escaldões” das 10-16h, altura em que a radiação ultra violeta é mais perigosa, ida aos solários e exposição solar excessiva durante a infância. Relativamente ao acesso aos tratamentos, existem problemas? Sim, a forma de tratar os doentes com melanoma não é igual em todo o país. É uma doença relativamente rara, quando comparada com outros tumores, como por exemplo o cancro da mama. Existem determinadas técnicas e equipamentos dispendiosos que só podem estar Maria José Passos, Oncologista Presidente do Intergrupo Português de Melanoma disponíveis em centros de referência, como por exemplo acontece com a electroquimioterapia e as perfusões hipertérmicas isoladas dos membros, usadas no tratamento da metastização cutânea. Por outro lado, estas técnicas têm que ser executadas por pessoal experiente, habituado a tratar muitos doentes com melanoma. Só com saber e experiência poderemos constituir equipas sólidas interdisciplinares eficazes e úteis aos nossos doentes. Ora aqui surge a necessidade urgente de rentabilizar os recursos humanos especializados e técnicos já existentes no nosso país e disponibilizá-los a todos os doentes com melanoma, independentemente da zona do país em que vivam. O mesmo raciocínio se deve aplicar ao tratamento de melanoma metastizado e à utilização dos novos fármacos, que começam agora a surgir e que põem problemas, porque têm custos muito elevados e tardam em ser aprovados pelo Infarmed. Defendo que estes fármacos devem ser realizados por pessoal experiente, em casos devidamente selecionados, respeitando as linhas de orientação estabelecidas, a nível nacional e internacional. Quais são os principais avanços que se têm verificado nos últimos tempos relativamente ao melanoma? Têm-se registado progressos em várias áreas, nomeadamente no que diz respeito à definição e importância dos fatores de prognóstico, refinamento das técnicas, aplicáveis aos estádios precoces, novos tratamentos paliativos, como por exemplo o uso da electroquimioterapia na metastização cutânea, radiocirurgia no metastização cerebral, entre outros. Apenas a partir de 2010 e graças aos avanços da genética, imunologia e biologia molecular começaram a surgir novos fármacos inovadores, com diferentes mecanismos de ação, que demonstraram pela primeira vez um aumento da sobrevivência global em doentes com melanoma avançado. O passo seguinte será ensaiar várias combinações terapêuticas, reunindo fármacos ativos com diferentes mecanismos de ação, de modo a escolher o tratamento adequado a cada caso. Até lá todos os doentes devem ser encorajados a participar em ensaios clínicos com novos fármacos. O tratamento de melanoma metastizado continua a ser um desafio, mas o futuro deve ser encarado com otimismo, pois iniciámos uma nova era que vai com certeza alterar o tratamento dos nossos doentes. Junho 2013 5 opinião Um dia mundial da Saúde a pensar na hipertensão em todo o mundo, sendo responsáveis por cerca de 17,3 milhões de mortes e que este número subirá para mais de 2,3 milhões em 2030. Este alerta aparece na continuação da reunião das Nações Unidas que teve lugar em Setembro de 2011, onde uma declaração política alertava todos os governantes no sentido de colocarem na sua primeira linha de intervenção as NCD, mediante a prática de quatro recomendações, entre as quais estaria o estabelecimento de planos nacionais de luta contra as NCD já em 2013. O apelo referido em “Our Time....” fala em atingir uma redução de 25% da mortalidade pelas NCD em 2025. Para isso enumeram um conjunto de dez objetivos a desenvolver por todos. Entre estes consideram da máxima importância os primeiros quatro: Mário Espiga Macedo Professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) Em Abril passado e no dia 7, Dia Mundial da Saúde, data em que se comemora a criação da OMS no ano de 1948, esta declarou que o mesmo seria atribuído, este ano, à Hipertensão Arterial (HTA) e a todos os problemas com ela relacionados. N ão foi inédita esta decisão, já que muitas organizações mundiais como a AHA, a IOM, e a OMS, têm nos últimos anos proclamado a hipertensão arterial como o fator de risco mais importante para as doenças cardiovasculares e apelando para um esforço de todos no combate a esta doença. Ao mesmo tempo a OMS relembrou o apelo feito a todos os países do mundo sobre o controlo urgente das NCD (non comunicable di6 seases), com o artigo “Our Time: A Call to Save Preventable Death From Cardiovascular Disease (Heart Disease and Stroke)” e publicitado por várias organizações científicas: World Heart Federation, American Heart Association, American College of Cardiology Foundation, European Heart Network, European Society of Cardiology. Todos relembram que as doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte Junho 2013 1. r edução em 25% da prevalência da pressão arterial elevada; 2. r edução relativa de 30% na ingestão média de sal pelas populações e de forma a atingir o nível recomendado de menos de 5 g/dia; 3. redução de 10% dos níveis de sedentarismo; 4. 30% de redução relativa da prevalência do consumo de tabaco. Todas estas quatro medidas foram consideradas de elevada relação custo/benefício. Como complemento destes 4 objectivos, estiveram em discussão mais alguns alvos a atingir, que também poderão e deverão ser adoptados embora não tenham todos a mesma evidência. Estamos a falar de: a) r edução em 15% das calorias ingeridas à custa de ácidos gordos saturados; b) c onseguir parar o crescimento da obesidade (já nem se fala em redução); c) 1 0% de redução relativa da ingestão de álcool; d) 20% de redução na prevalência de colesterol elevado; e) conseguir que pelo menos 50% dos doentes vasculares recebam terapêutica e conselhos preventivos; f) 80% de possibilidades dos doentes terem acesso às tecnologias diagnósticas das doenças cardiovasculares. A implementação destes objetivos terá necessariamente que ser adaptada a cada país e região, de acordo com o seu sistema de saúde e de vigilância das populações. Poderá parecer tratarse de uma tarefa gigantesca e de custos que poderão ser difíceis de suportar. Porém os estudos já realizados pelas Nações Unidas calculam que o custo da intervenção será inferior a um dólar/dia por pessoa, e isto nos países de mais baixos recursos. Já nos outros com nível médio, estamos a falar de menos de três dólares/dia e por pessoa. Não podemos esquecer que ao melhorarmos a morbilidade pelas NCD, estamos a aumentar a idade média das populações, a diminuir o número de dias de doenças e deste modo contribuir para o crescimento económico desses países. Todos relembram que as doenças cardiovasculares são a primei- ra causa de morte em todo o mundo Para finalizar valerá a pena lembrar a intervenção de Valentim Fuster, onde afirma que para conseguir uma Saúde Cardiovascular Global, é urgente uma abordagem intersetorial. Esta terá necessariamente vários níveis de intervenção e os mais elevados serão os que derivam das entidades governamentais da saúde, mas também facilitadoras dos meios de divulgação dos diferentes tipos de mensagens, da importância dos fatores determinantes sejam eles ambienciais, sociais, demográficos, etc, bem como a implementação de regras legais, financeiras, reguladoras. A estes níveis seguem-se progressivamente os de menor abrangência e acabando nos pequenos núcleos da sociedade, da família, dos profissionais da saúde, etc. Todos serão por isso necessários para conseguir vencer os obstáculos que existem e atingir os objectivos já descritos. PUB saúde infantil Ambliopia – ou “olho preguiçoso” Provavelmente já ouviu falar de olho preguiçoso (ambliopia) e rastreio visual infantil. E possivelmente já viu crianças pequenas com óculos e com um olho tapado. São conceitos muito importantes no que toca ao desenvolvimento visual da criança. Dra. Cristina Brito, Assistente Hospitalar de Oftalmologia do Hospital Pediátrico de Dona Estefânia A o nascer, os olhos já estão adaptados para captar as imagens e transmitir essa informação através de estruturas nervosas até ao cérebro. Cabe a este descodificar as imagens recebidas, atribuirlhes significado e dirigir os olhos para os objectos de interesse. Também envia comandos para que os dois olhos se alinhem com o objecto do olhar. A presença de dois olhos e um bom desenvolvimento visual permitem uma qualidade muito boa da visão, a noção da profundidade (estereopsia). Esta qualidade, que 8 é explorada no cinema em filmes 3D, facilita a melhor percepção do espaço. Voltando ao nascimento, os olhos estão formados, precisando ainda de apuramento para atingir as capacidades adultas, mas os centros visuais do cérebro ainda se encontram muito imaturos. A visão depende da aprendizagem e da experiência visual. Considera-se que o sistema visual atinge o nível do adulto aos 8 anos de idade, no entanto o desenvolvimento visual é mais activo nos primeiros 2 anos, sendo fundamental que nos primeiros 3 - 6 meses de vida haja uma experiência visual adequada. Qualquer dificuldade que impeça a experiência visual precoce interfere na evolução da capacidade visual. Por outro lado, a correcção de uma dificuldade quando efectuada no período de Junho 2013 tempo adequado pode ter muito bons resultados. Ambliopia é uma palavra de origem grega e que significa literalmente enfraquecimento da visão. Vulgarmente é conhecida como “olho preguiçoso”. É uma situação relativamente frequente de má visão, felizmente com tendência a diminuir na sua frequência e gravidade graças a uma intervenção mais precoce. Na grande maioria das situações é unilateral, o que pode dificultar o diagnóstico. Qualquer dificuldade que impeça a experiência visual precoce interfere na evolução da capacidade visual A ambliopia é um defeito da visão que resulta de uma experiência visual anómala no princípio da vida, durante o período de maturação do sistema visual. A deficiente experiência na visão implica uma deficiente representação cerebral das imagens captadas. A imagem cerebral do que o olho capta é “preguiçosa”. As principais causas de ambliopia são o estrabismo e a presença de defeitos na focagem da imagem (defeitos refractivos). Estrabismo significa não alinhamento dos olhos com o objecto do olhar. Um olho está dirigido para o objecto e o outro está desviado. Desta maneira o cérebro capta duas imagens: uma focada, a outra desfocada. Isto é confuso para ele e como se encontra em desenvolvi- mento anula a pior imagem, a do olho que desvia. Por defeitos refractivos entende-se hipermetropia, astigmatismo e miopia. O olho possui um sistema de lentes que capta e foca a imagem (refracção). Este sistema modifica-se um pouco com o crescimento, no entanto, e dentro de certos limites, deve permitir que cada olho capte uma imagem razoavelmente focada e que as imagens dos dois olhos sejam parecidas. A refracção na criança não é igual à do adulto, pois os olhos crescem, mas excedendo certos parâmetros e sobretudo havendo assimetria marcada entre os dois olhos pode predispor ao mau desenvolvimento visual, pela falta de qualidade da imagem. A outra causa mais frequente de ambliopia é esta assimetria (anisometropia) pois a imagem captada por um dos olhos é pouco nítida. Ela não é encontrada se não se tapar o outro olho. Por se tratar de uma anomalia do desenvolvimento, a ambliopia pode ser recuperável. Torna-se clara a importância de rastreios visuais pré-escolares, aos 3 anos. Após os 5 anos, mesmo com um tratamento activo, o progóstico pode não ser tão bom, sendo habitualmente um tratamento mais penoso para a criança e menos eficaz. No entanto, pode ter um excelente prognóstico se detectada e tratada precocemente nos primeiros 3 anos de vida. O tratamento da ambliopia consiste em providenciar uma imagem nítida (corrigir defeitos refractivos, habitualmente com óculos) e penalizar o olho bom para estimular o neurodesenvolvimento do olho amblíope (oclusão ou outros meios menos eficazes). Este artigo foi escrito segundo o antigo acordo ortográfico. alergias Alergias e asma Diagnóstico precoce faz toda a diferença As constipações recorrentes das crianças podem ser sinal de rinite e a tosse seca persistente pode ser um sinal de asma. O melhor é consultar um especialista, para que estes problemas de saúde não controlem a sua vida. A palavra alergia é um autêntico martírio para muitas pessoO diagnóstico precoce é as. Alimentos, pólenes, essencial para que haja remissão ácaros, entre outros, são vários os alergédos sintomas. “Quanto mais cedo nios que podem, de se detetar o problema, mais alguma forma, por facilmente se iniciam medidas de em causa a nossa qualidade de vida. evição e um tratamento adequado Este problema de que pode levar à remissão dos saúde é cada vez sintomas durante vários anos, mais comum na sociedade e varia conmelhorando a qualidade de vida soante a idade, como das crianças e dos pais.” refere Libério Ribeiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica (SPAP) à margem criança do 2.º Congresso SPAP, que vai desenvoldos, controlados, e tratados decorreu entre 1 e 2 de ju- vendo um quadro alérgico a nomeadamente no que diz diferentes fatores, com ex- respeito às crianças. As dinho, em Viseu. pressões clínicas diversas”. ficuldades económicas não Existem ainda as chamapermitem o melhor acesDiferentes das alergias cruzadas. “Por so aos cuidados de saúde, alergias, que se exemplo, quem é alérgico principalmente quando se podem cruzar “Nos primeiros anos, e princi- aos ácaros também o pode aumentam as taxas modepalmente até aos dois anos, ser ao marisco e a caracóis, radoras.” destacam-se as alergias ali- já que todos contêm um epi- A referenciação para o mentares como às proteínas topo comum”, explica Libé- pediatra, especialista em alergologia, também nem do leite de vaca, ao ovo, ao rio Ribeiro. sempre é feita numa fase peixe e, mais tardiamente, precoce”. Além disso, “os a amendoins, frutos de cas- Diagnóstico prepais não estão sensibilizaca rígida (avelã e nozes) e coce, vida com dos para as alergias e para marisco”, explica. À medida mais qualidade que se cresce, “podem sur- O mal-estar provocado pelas o problema da asma e não gir outras alergias como aos alergias impede de comer sabem que as constipações ácaros, ao cão, ao gato, ao certos alimentos, mesmo recorrentes podem ser rinite e hamster, ao coelho – cada em festas, ou de passear que a tosse seca persistente vez mais crianças têm estes no jardim em plena prima- pode ser um sinal de asma”, animais em casa – a polé- vera. Mas nada disto tem salienta o especialista. nes e a fungos. de acontecer se se detetar O diagnóstico precoce é esCom o avançar da idade atempadamente o proble- sencial para que haja remispode acontecer a chamada ma. “Infelizmente nem todos são dos sintomas. “Quanto marcha alérgica, ou seja, a os casos são diagnostica- mais cedo se detetar o pro10 Junho 2013 Maria João Ramires blema, mais facilmente se iniciam medidas de evição e um tratamento adequado que pode levar à remissão dos sintomas durante vários anos, melhorando a qualidade de vida das crianças e dos pais.” E “mesmo quando os sintomas se continuam a fazer sentir, o acompanhamento por um especialista permite controlar os mais graves e reduz as crises agudas”. Outro fator a ter em conta na prevenção e no tratamento é a alimentação e o ambiente em que se vive. “A obesidade agrava a asma, as casas deterioradas e com humidade beneficiam o aparecimento destas doenças ou agravam-nas. A falta de vitamina D também aumenta a predisposição para a asma, assim como o tabagismo. Todos estes fatores são agravados em tempo de crise económica “ As limitações que provocam as alergias não controladas As alergias não controladas provocam graves problemas e o impacto económicosocial pode ser muito significativo, principalmente para os mais novos. São crianças que costumam estar doentes, exigem mais idas às urgências, mais medicação, dormem menos… Desta forma, não conseguem ter um aproveitamento escolar tão bom, nem sempre conseguem acompanhar as atividades dos colegas, como em Educação Física, faltam mais vezes à escola. Os próprios pais também faltam Libério Ribeiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica (SPAP) mais ao trabalho e têm um menor rendimento por dormirem menos”. Quanto à automedicação com antialergénicos e antihistamínicos não sujeitos a receita médica, Libério Ribeiro considera que “são medicamentos que podem aliviar alguns dos sintomas, mas não resolvem o problema”. doença de Crohn Doença de Crohn na idade pediátrica Alimentação e stress favorecem novos casos mento entre os mais novos”, afirma. Uma tendência que se começou a fazer sentir nos países nórdicos e que também já é uma realidade no Sul da Europa. A dificuldade em se chegar ao diagnóstico Maria João Ramires Antes dos 18 anos também surgem casos de doença de Crohn. Apesar de não haver dados concretos sobre a evolução da patologia, há um novo tratamento que pode fazer a diferença. Jorge Amil Dias, pediatra do Hospital de São João, no Porto. D iarreia, dor abdominal e emagrecimento. Estes são sintomas habituais na doença de Crohn, mas também de muitas outras patologias. “Não é fácil chegar a um diagnóstico, por se tratar de sintomas que podem indiciar diferentes doenças, além de haver menos informação sobre a doença de Crohn na idade pediátrica (antes dos18 anos)”, salienta Jorge Amil Dias, pediatra do Hospital de São João, no Porto. Não se sabe qual é a incidência e a prevalência desta patologia nestas idades, mas existe, a nível global, a perceção de que se registou um aumento do número de casos. “No Hospital de São João registam-se 25 novos casos de Crohn todos os anos, notando-se um au- Mas por que será que se tem verificado um aumento de casos de doença de Crohn na idade pediátrica? Jorge Amil Dias acredita que a causa do problema não se restringe apenas à genética, mas sobretudo ao ambiente. “A alimentação pouco saudável, a modificação do risco infeccioso e o stress estão a alterar a ecologia das bactérias intestinais, provocando reações inflamatórias que supostamente não deviam acontecer”, esclarece. Mas, como faz questão de voltar a frisar, “não existem dados concretos sobre a epidemiologia da doença antes dos 18 anos no nosso país”. A doença tem evolução variável e pode levar a atrasos no crescimento se não for detetada e tratada numa fase precoce. “Nem sempre é fácil chegar-se, desde logo, a um diagnóstico, por isso é necessário apostar em mais formação e informação, nomeadamente junto dos médicos de Medicina Geral e Familiar, a quem os utentes se dirigem em primeiro lugar, na maioria das vezes”. O impacto socioeconómico da doença Esta patologia provoca grandes alterações na vida da criança ou jovem e dos seus familiares, enquanto não for detetada e controlada. Os sintomas podem ser graves, além de causarem um enorme transtorno e de impedirem a criança ou jovem de ter uma vida social e familiar como os restantes colegas e amigos. Se os sintomas não são agradáveis, a situação também não é fácil quando se recebe o diagnóstico. “É um choque tremendo. Estamos perante uma doença crónica, que pode ser controlada, mas não curada. Não é uma notícia que se receba de ânimo leve, quer por parte do doente como dos seus familiares”, conta. O impacto socioeconómico é, de facto, um problema. “As crianças e os jovens faltam mais à escola, sentem-se limitados face a certas atividades quando estão a passar por uma fase de agudização da doença e os pais têm, muitas vezes, que faltar ao trabalho”. Custos que poderiam ser minorados, no entender de Jorge Amil Dias, se houvesse mais informação e formação para pediatras e médicos de Medicina Geral e Familiar. “E, obviamente, acima de tudo está o sofrimento dos utentes”, acrescenta. Novo tratamento é mais uma esperança Após o diagnóstico, o médico define um plano de tratamento, “para que se possa ter uma vida de qualidade, apesar da cronicidade da doença”. Os tratamentos dependem de caso para caso e nas situações mais graves, de resistência aos medicamentos ou de doença refratária, recorre-se, atualmente a biológicos. “São essenciais para muitos doentes”. Nas últimas semanas surgiu a notícia de que haverá mais um medicamento biológico aprovado para uso em crianças e jovens. Jorge Amil Dias vê com bons olhos esta notícia.” Na medida em que o tratamento desta doença é prolongado, a disponibilidade de alternativas que prolonguem a eficácia e a remissão clínica significa uma boa notícia para os doentes e médicos”. Um avanço importante que não deve descurar a infor- Conheça melhor a doença O que é a doença de Crohn? A Doença de Crohn caracteriza-se por inflamação crónica que pode afetar qualquer segmento do tubo digestivo. Compromete mais frequentemente o intestino delgado no seu segmento terminal, denominado íleo. A doença evolui, caracteristicamente, por períodos de agravamento e remissão. Quais são os sintomas? Como qualquer segmento do tubo digestivo pode ser afetado os sintomas são variados. Os mais comuns são diarreia, dor abdominal e perda de peso. Sintomas não relacionados com o aparelho digestivo, como dores em articulações e lesões de pele, também podem ocorrer. Outras manifestações precoces da doença de Crohn são lesões na região perianal, incluindo, fissuras, fístulas (aberturas anormais do intestino na superfície da pele, perto do ânus) e abcessos. Diagnóstico O médico pode suspeitar duma doença de Crohn em qualquer pessoa que tenha dor abdominal do tipo cólica e diarreia recorrente, sobretudo se tiver também inflamações articulares, oculares e cutâneas. Nenhum teste de laboratório identifica especificamente a doença, embora estes possam revelar anemia, um número anormalmente elevado de plaquetas, baixos valores de albumina e outros sinais inflamatórios. A ecografia pode mostrar o aspeto característico da doença de Crohn no ileo terminal e cólon. A confirmação do diagnóstico exige sempre colonoscopia (exame do intestino grosso com um tubo flexível de visualização) e biópsias que ajudam a confirmá-lo. A ressonância magnética e a tomografia axial computadorizada (TAC) podem mostrar as alterações na parede do intestino e identifica abcessos e fistulas, não subsitutem mas complementam os outros métodos de diagnóstico. Tratamento e prognóstico Não existe tratamento curativo para a doença de Crohn, embora muitos tratamentos reduzam a inflamação e aliviem os sintomas. As fórmulas dietéticas específicas, em que cada componente nutricional é medido com precisão, podem melhorar a doença e a experiência em Pediatria torna essa opção como a primeira escolha de tratamento na maioria dos doentes. Elas também contribuem para que as crianças tenham um crescimento adequado. Em casos muito raros as pessoas com doença de Crohn requerem uma alimentação parenteral total ; para isso, são administrados os nutrientes concentrados por via endovenosa, com o fim de compensar a escassa absorção dos mesmos, típica da doença de Crohn, se esta afectar uma área muito extensa do intestino. Quando o intestino fica obstruído ou os abcessos ou as fístulas não saram, é necessário recorrer à cirurgia, mas esta é reservada apenas para os casos em que surgem complicações específicas ou em que o tratamento farmacológico falha. Em alguns casos de doença de extensão muito limitada e de difícil controlo por meios farmacológicos, a cirurgia pode ser considerada de forma electiva. Em geral, as pessoas que sofreram uma intervenção cirúrgica consideram que a sua qualidade de vida melhorou devido à mesma. mação e a formação. Afinal é na deteção precoce da doença que se pode iniciar um tratamento adequado, que previna a agudização da doença de Crohn e a melhoria da qualidade de vida dos doentes. Junho 2013 11 Nutrição Beber leite é saudável e dá energia Desde pequenos que ouvimos os nossos pais a dizerem que o leite dá saúde e faz crescer. É precisamente para incentivar a população, nomeadamente a mais pequena, que a Missão Crescer Saudável da Mimosa tem apostado em várias atividades de sensibilização para a importância deste alimento, assim como de outros hábitos alimentares e hábitos de vida saudáveis. o leite É uma fonte valiosa de cálcio, mas também de outros nutrientes como proteínas, riboflavina, fósforo, vitamina B12, potássio e, se for inteiro, é também uma boa fonte de vitamina A Fernanda Cruz , nutricionista do Centro de Nutrição e Alimentação da Mimosa (CNAM) Rico em nutrientes e um aliado contra a obesidade Fernanda Cruz é nutricionista do Centro de Nutrição e Alimentação da Mimosa (CNAM) e garante que o seu consumo deve continuar a ser incentivado junto da população. “O leite deve ser bebido diariamente como parte de uma alimentação sau- 12 dável, pois a sua riqueza nutricional é valiosa para o desenvolvimento das crianças. “Juntamente com a fruta e os cereais deve compor o pequeno-almoço e os lanches”, afirma. Mas, afinal, quais são os benefícios deste alimento que nos acompanha desde cedo? “O leite é um alimento de elevada densidade nutricional, ou seja, oferece uma boa relação entre calorias e nutrientes essenciais para o organismo. É uma fonte valiosa de cálcio, mas também de outros nutrientes como proteínas, riboflavina, fósforo, vitamina B12, potássio e, se for inteiro, é também uma boa fonte de vitamina A”, explica. A nutricionista relembra ainda que “a Organização Mundial de Saúde (OMS) salienta que o consumo de alimentos de elevada Junho 2013 densidade energética (que oferecem muitas calorias e pouca variedade de nutrientes) pode contribuir para o risco de obesidade, ao contrário dos alimentos com elevada densidade nutricional”. Quando a criança e o jovem não querem beber leite Os benefícios são variados, mas por vezes os mais novos não gostam de beber leite todos os dias. Fernanda Cruz garante que este obstáculo pode ser contornado de diferentes formas e sem grandes «dores de cabeça» para os pais. “Para além do leite branco, existem soluções saudáveis adaptadas a todos os gostos e que mantêm toda a riqueza nutricional. Por exemplo: há os leites especialmente adaptados às necessidades nutricionais das crianças, há leites com sabores a choco- late, a morango, a cereais …”. E não se pense que o leite com chocolate não é saudável. Pode inclusive ser um aliado. “Todos os leites devem ser promovidos no âmbito de uma alimentação saudável. Por vezes, os leites com chocolate e outros sabores são a única forma de levar as crianças a beber leite e a poder beneficiar da sua riqueza nutricional”, sugere Fernanda Cruz. E continua: “O CNAM tem inovado, reduzindo ou eliminando os açúcares adicionados aos produtos destinados às crianças e jovens”. “O leite deve ser bebido diariamente como parte de uma alimentação saudável, pois a sua riqueza nu- tricional é valiosa para o desenvolvimento das crianças Para os miúdos e os graúdos já existe “leite com menos açúcares adicionados”. Quem tem intolerância à lactose também não precisa retirar este alimento da sua alimentação diária, já que existe a opção “sem lactose”, acrescenta a nutricionista. Como em qualquer campanha de sensibilização é muito importante haver bons exemplos em casa. “A adoção de bons hábitos desde cedo é incontornável como medida de promoção da saúde. Aos pais cabe orientar as escolhas alimentares dos filhos e dar um bom exemplo”. E os benefícios não são apenas para os mais novos. “Trata-se de juntar o útil ao agradável, já que o consumo de leite é importante durante toda a vida – rico em cálcio, necessá- rio para a manutenção de ossos normais, e noutros nutrientes importantes para o bem-estar geral”. Missão Crescer Saudável Para se crescer com saúde, a alimentação tem um impacto muito forte. Nesse sentido, a Mimosa tem realizado diversas atividades, no âmbito da Missão Crescer Saudável, que tem quase 16 anos. “Este é um programa educativo enquadrado na política de responsabilidade social da empresa, que tem como compromisso contribuir para a educação alimentar das crianças, valorizando o consumo de leite como aliado contra a obesidade infantil”, sublinha Fernanda Cruz. Contribuir para a educação alimentar das crianças é uma aposta essencial para esta nutricionista, já que de acordo com um estudo do CNAM – que envolveu 44 mil crianças e jovens entre os 5 e os 15 anos -, “mais de 18 por cento sofrem de excesso de peso ou de obesidade”. entrevista Um mal-estar que tem solução Quem utiliza a visão de perto durante períodos mais longos corre mais riscos de vir a sofrer de olho seco. Paulo Torres, presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, fala-nos sobre este problema de saúde que pode ser prevenido. Os que apresentam maior probabilidade de Saúde Notícias (SN) Quais são os sintomas do olho seco? Paulo Torres (PT) - Os principais sintomas de olho seco são a sensação de corpo estranho, secura e ardor ocular, picadelas, prurido, lacrimejo reflexo (o que confunde muito os doentes), fotofobia, desconforto ocular e palpebral, intolerância às lentes de contacto e, por fim, em casos mais graves, alteração da qualidade da visão. SN - A que é que pode estar associada esta doença? PT - Ao aumento da esperança de vida que leva à degradação natural do filme lacrimal ou mesmo à sua diminuição, às alterações hormonais, principalmente no sexo feminino, às doenças da superfície ocular externa e sistémicas, à medicação ocular crónica, como a utilizada no glaucoma, à medicação sistémica, como os anticoncepcionais, antihipertensores e antidepressivos e, por fim, ao estilo de vida atual com ambientes terem queixas subjetivas de olho seco são aqueles que utilizam a visão de perto durante longos períodos de tempo, mormente em frente de monitores Maria João Ramires artificiais, poluição e computadores (origina diminuição do pestanejo com aumento da evaporação da lágrima). SN - Quem é mais afetado? PT - Os que apresentam maior probabilidade de terem queixas subjetivas de olho seco são aqueles que utilizam a visão de perto durante longos períodos de tempo, mormente em frente de monitores, os utilizadores de ambientes artificiais com ar condicionado e luzes fortes, os idosos e os do sexo feminino. SN - Quais são os tratamentos que existem para o olho seco? PT - O tratamento primordial do olho seco passa pela aplicação de “lágrimas artificiais”, de preferência sem conservantes, para minorar o desconforto ocular e pelo evitar, sempre que possível, meios ambientes agressivos. Passa também pela adoção de posições ergonómicas corretas ao computador. Nos casos mais graves, felizmente raros, poderá ser necessário associar outros grupos farmacológicos como os anti-inflamatórios. Em casos especiais poderse-á recorrer à cirurgia para oclusão dos pontos lacrimais. SN - Qual é a duração do tratamento? PT - O tratamento do olho seco é na maioria dos casos para a vida. Em situações específicas como após ci- rurgia refrativa a laser, o olho seco terá uma duração de dois a quatro meses. Em situações de olho seco após utilização de colírios e ou medicação sistémica, a sua melhoria poderá surgir com a suspensão, quando possível, da medicação em causa. SN - Que cuidados se devem ter após a remissão dos sintomas? PT - Proteção ocular adequada e a não exposição aos factores predisponentes. SN - Há forma de prevenir este problema de saúde? PT - Dificilmente, uma vez que está muito associado ao estilo de vida atual. A prevenção faz-se através do conhecimento dos fato- res que o desencadeiam e evitando a exposição aos mesmos. SN - Que mensagem gostaria de deixar às pessoas que sofrem de olho seco ou que tenham os sintomas acima descritos e que ainda não foram ao médico? PT - Em primeiro lugar devem ser observados por um oftalmologista, que é o profissional de saúde habilitado a fazer o diagnóstico de olho seco e despistar outras patologias da superfície ocular que possam originar sintomas similares. Em segundo lugar, é fundamental que o doente perceba os mecanismos que originam o olho seco, que é uma situação cróni- Paulo Torres, presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia ca, com períodos de agudização por um qualquer fator desencadeante, sem cura definitiva, sem efeitos graves na visão pelo menos na maioria dos casos e que o tratamento proposto serve apenas para minorar o desconforto ocular. Junho 2013 13 saúde animal Esgana A esgana é uma doença viral extremamente contagiosa, provocada por um vírus semelhante ao que causa o sarampo nos seres humanos. O vírus da esgana atinge sobretudo os canídeos, mas também é capaz de infectar e provocar doença em diversos carnívoros, incluindo algumas espécies que estão a ganhar popularidade como novos animais de companhia, como sejam o furão, a doninha e o coati. Apesar de este vírus causar doença muito grave em várias espécies de felinos silvestres (leão, tigre, leopardo e chita), não se observa infecção natural no gato doméstico. Inicialmente, os cães apresentam febre, anorexia e apatia Não existe nenhum tratamento dirigido ao vírus. A terapêutica visa apenas controlar os sintomas da doO diagnóstico ença e as infecções de esgana é efectuado secundárias que pelo Médico Veterinário se possam desenvolver, de modo com base nos sinais a ajudar o cão clínicos observados e O vírus da esgana transmite-se por via aérea e os primeiros sinais surgem duas a seis semanas após a transmissão. Inicialmente, os cães apresentam febre, anorexia e apatia. A doença pode evoluir de muitas formas diferentes e os animais infectados podem apresentar sintomas do foro respiratório (corrimento nasal, tosse), ocular (conjuntivite), dermatológico (feridas na pele do abdómen e alteração das almofadinhas plantares) e/ou digestivo (vómito e diarreia). Os cães que sobrevivem a esta fase inicial da doença podem vir a desenvolver um conjunto de alterações nervosas, variáveis desde comportamentos anormais até à paralisia ou ao desenvolvimento de convulsões. Es14 tes sinais de esgana nervosa podem observar-se semanas, meses ou anos após o período de doença inicial. O diagnóstico de esgana é efectuado pelo Médico Veterinário com base nos sinais clínicos observados e no resultado de análises laboratoriais específicas. infectado a sobreviver ao período inicial de doença. A desinfecção dos locais onde tenha estado um animal infectado é simples, porque o vírus da esgana é destruído pela generalidade dos desinfectantes usados habitualmente. A vacinação é muito eficaz e proporciona uma imunidade de longa duração. Os cachorros devem iniciar a vacinação a partir das 8 semanas de idade e não devem ter contacto com cães não vacinados antes de concluírem o plano vacinal proposto pelo Médico Veterinário assistente. Dra. Ana Reisinho, Médica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa. no resultado de análises laboratoriais específicas. O vírus da esgana transmite-se por via aérea e os primeiros sinais surgem duas a seis semanas após a transmissão. Junho 2013 O autor escreveu ao abrigo do antigo acordo ortográfico. PUB PUB