Jorge gabriel venceu cancro de pele

Propaganda
www.facebook.com/saudenoticias
JUNHO2013 | N.º 10 | ANO I | MENSAL
+ Este jornal é gratuito, pelo que não pode ser comercializado +
diretora-geral: Ana Santos
Jorge Gabriel venceu
cancro de pele
“Ninguém está imune.
Garanto.”
PUB
breves
Não tome erva de São João com certos medicamentos
editorial
Quem toma antidepressivos e ansiolíticos deve evitar
o consumo de álcool, plantas ou extratos, como a erva
de São João (hipericão), sumos de laranja, de toranja
e gingko.
O alerta é do Observatório de Interações Planta-Medicamento (OIPM), que lançou ainda outro aviso: o
excesso de ansiolíticos e antidepressivos na fase dos
exames pode ser “contracorrente” para os alunos.
O sol pode ser amigo e … inimigo!
Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de
verão. No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos
os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou
acordado.
(Sonho de uma Noite de Verão)
William Shakespeare
Sonhei que já era Verão!
Temos tido um início de Verão atribulado, com temperaturas não muito convidativas e a chuva que teima em
não fugir.
Estamos todos em contagem decrescente para corrermos para as praias e piscinas, precisamos de sol
para sorrir.
Sabemos que o sol tem um efeito benéfico sobre o estado
de espírito e é indispensável para certas funções corporais, como a síntese de vitamina D, mas a exposição excessiva provoca o envelhecimento precoce da pele e além
disso, pode ser responsável pelo aparecimento de lesões
cancerosas.
Quisemos começar o Verão a dar destaque aos malefícios
do sol, apostar na prevenção e desejar boas férias, bons
dias de mergulhos e grandes dias, aos nossos leitores.
Aqui ficam algumas dicas:
Evite-o durante as horas mais quentes do dia, entre as 11
e as 17, e aplique frequentemente protetor solar com fator
de proteção 30 ou superior.
Abuse do protetor, use chapéu e proteja as crianças. As
roupas sintéticas e escuras defendem melhor a pele.
O vestuário constitui uma boa barreira de proteção contra a
radiação ultravioleta. Assim, para actividades físicas ao ar
livre, ou nas situações em que se torna difícil a aplicação
frequente de protetores solares, o vestuário pode ser a opção mais adequada para proteger a pele do sol.
Durante o tempo mais quente as crianças devem usar
vestuário leve, de algodão e suficientemente folgado para
permitir uma ventilação adequada e a evaporação do suor,
que aumenta apreciavelmente com o calor. Também a roupa interior deverá ser preferencialmente em algodão. As
crianças devem também usar chapéu que proteja adequadamente a cabeça, as orelhas, o nariz e os lábios.
Na praia ou na piscina, as roupas molhadas devem ser
trocadas, pois a sua permanência junto ao corpo favorece
o aparecimento de micoses.
Mais informações sobre a interação entre produtos
naturais e medicamentos:
www.ff.uc.pt/oipm/interacoes/ou 239488484.
Biossensor deteta queda e
avisa serviços de urgência
Um dispositivo detetor de quedas em idosos previne menos
500 mil hospitalizações e menos 40 mil mortes prematuras.
O Vigi’Fall é um biossensor que se prende, através de um adesivo médico, ao corpo do idoso, além de outros sensores colocados nas paredes da casa. Sempre que há uma queda alerta
os serviços de saúde, dando indicações do tipo de queda e da
posição em que se encontra a pessoa. Pode ser utilizado no
chuveiro e não necessita de se carregar num botão. O dispositivo deverá estar disponível, em Portugal, no final do ano.
Investigação em cuidados Será um terror noturno
ou um pesadelo?
renais
A Fresenius Medical Care Portugal vai participar na 42ª
Conferência da Associação Europeia de Enfermagem de
Diálise e Transplante/Associação Europeia de Cuidados
Renais com 22 apresentações, voltando a ser um dos
grupos com maior número de apresentações na conferência, num total de 53 trabalhos.
O tema principal desta conferência é inovação e gestão
nos cuidados renais através da liderança. João Fazendeiro, Diretor Nacional de Enfermagem da Fresenius Medical Care, afirma que “a gestão do acesso vascular (AV),
associado a uma boa gestão e liderança das equipas, são
áreas em que temos vindo a trabalhar desde há muitos
anos, o que explica a taxa de aceitação dos nossos trabalhos. Percebemos que a comunidade científica tem as
mesmas preocupações que nós”.
Os terrores noturnos afetam até 6% das crianças até aos
12 anos, segundo Filipe Silva, pediatra do hospitalcuf descobertas.
O pediatra alerta para a diferença entre terror noturno e
pesadelo. O primeiro ocorre na primeira metade do sono e
as crianças tendem a chorar, gritar e não costumam estar
bem acordadas. Os pesadelos ocorrem na segunda metade
do sono e quando são excessivos podem revelar traumas
ou problemas de ansiedade que devem ser acompanhados
pelo psicólogo ou pedopsiquiatra.
Na praia, as crianças não devem andar sem fato de banho;
o contacto com a areia ou com objetos sujos pode dar origem a problemas da pele e do trato génito-urinário.
Durante os passeios realizados nos dias de mais calor a
alimentação deve ser simples mas, tanto quanto possível, idêntica àquela a que as crianças estão habituadas.
A fruta (p. ex. laranja, nectarina, ameixa, cereja, pêssego,
melão, melancia, manga, papaia e maçã) e os legumes (p.
ex. alface, tomate, espinafre, brócolos, cenoura, abóbora)
devem ocupar um lugar preferencial na alimentação, pois
o seu teor em carotenos e vitaminas poderá contribuir para
a proteção da pele contra a agressão pelos raios solares.
Deve também ser prestada uma atenção especial à ingestão de líquidos, que deve ser aumentada.
Com tudo isto, já é Verão! 
Ana Santos
Subscreva o Saúde Notícias e envie-nos as suas
sugestões para: [email protected]
Siga-nos no Facebook
www.facebook.com/saudenoticias
e no site www.saudenoticias.pt
(download gratuito do jornal)
2
Junho 2013
FICHA TÉCNICA | Esta edição é de distribuição gratuita, pelo que não pode ser vendida
Parceria
Ano I – 2013
Propriedade
Guess What Comunicação, Lda
Rua Actriz Adelina Fernandes,
7b 2795-005 Linda-A-Velha
Sede da Redação
Rua Actriz Adelina Fernandes,
7b 2795-005 Linda-A-Velha
Tel.: 21 386 15 82
Email: [email protected]
Diretora
Ana Santos
Tiragem
25 mil exemplares
DESIGN E PAGINAÇÃO
Alexandra Miguel
Periodicidade
Mensal
Depósito Legal: DL 319614/10
ERC registo: 125983
Nº Contribuinte
508521211
Impressão
Funchalense - Empresa
Gráfica, SA
Rua da Capela da Nossa
Senhora da Conceição, nº50
Morelena 2715-028 Pêro Pinheiro
Colaboradores
Maria João Ramires
Carla Fonseca
Mário Tomé
Sónia Morais
As opiniões, notas e comentários
são da exclusiva responsabilidade
dos autores ou das entidades que
produziram os dados. Nos termos
da Lei, está proibida a reprodução
total ou parcial dos conteúdos.
entrevista
Jorge Gabriel sofreu de cancro de pele
“Ninguém está imune. Garanto.”
Foi no banho
que Jorge
Gabriel, o
conhecido
apresentador
da RTP, que
se apercebeu
de um sinal
diferente. Após
a extração veio
a saber que
era melanoma,
o cancro de
pele mais letal.
Após esta
experiência
alerta todas
as pessoas
para terem
cuidado com o
sol, porque não
acontece só
aos outros.
“A família
acompanhou todo o
processo e provavelmente
todo o processo e provavelmente mais conscientes
dos riscos que podia estar a
correr tentavam esconder a
preocupação, que eu topava
a milhas, mas descontraidamente relevava.
mais conscientes dos
riscos que podia estar
a correr tentavam
esconder a preocupação,
que eu topava a milhas,
mas descontraidamente
relevava.”
Maria João Ramires
Saúde Notícias (SN) Quando é que se apercebeu de que havia um sinal
com menos bom aspeto?
Jorge Gabriel (JG) - Há
sensivelmente dois anos
quando me secava após
tomar banho. A cor do sinal
tinha perdido consistência,
estava esbatida e muito ligeiramente maior.
SN - Na altura, o que fez?
Como decorreu todo o
processo desde que se
apercebe do sinal até
chegar ao médico e fazer
exames?
JG - Sabia que nessa semana um dermatologista, o Dr.
Osvaldo Correia, iria estar
no programa na sequência
de uma série de conselhos
que estávamos a divulgar
semanalmente. Terminada
a entrevista pedi-lhe que
observasse o sinal, e num
primeiro diagnóstico, pareceu-lhe sem importância.
Pediu-me, no entanto, que
fosse ao consultório para
poder fazer uma observação mais zelosa. Assim o
fiz, e mantendo a ideia ini-
cial reiterou que acha improvável que fosse algo complicado. De qualquer modo
aconselhou-me que fizesse
uma pequena extração para
ficarmos descansados.
SN - Quanto tempo levou
para receber o diagnóstico?
JG - Uma semana depois
chegou o resultado e felizmente no início do processo.
SN - O que se sente enquanto se espera pelo
diagnóstico? E depois
quando se sabe que é
mesmo um melanoma?
JG - Sendo completamente
honesto, não me deixei tomar por pensamentos negativos. Estava devidamente
acompanhado e aguardei
serenamente pela resposta. Assim que o Dr. Osvaldo
Correia me telefonou para
repartir o relatório nunca
houve a ideia de que estaríamos face a um caso
complicado. Melanoma é
apenas um palavrão que no
meu caso era ínfimo. Tudo
tranquilo.
SN - Extraiu o sinal. Qual
foi o prognóstico?
JG - Éramos para adiar a
extração do sinal após as
minhas férias de verão, mas
acabámos por decidir fazêlo de imediato. Assumimos
a máxima, “não deixes para
amanhã o que podes fazer
hoje”.
SN - Contou à família, amigos e colegas de trabalho?
Como reagiram?
JG - A família acompanhou
SN - Depois desta experiência houve alguma coisa
que mudou na sua vida?
JG - Os cuidados com o
sol são levados ainda com
maior rigor em toda a família
e estou sempre disponível
para partilhar a minha experiência em público para tentar evitar que suceda com
os meus semelhantes.
SN - Que mensagem gostaria de deixar aos nossos
leitores?
JG - O sol pode ser o nosso
maior aliado e simultaneamente o nosso maior perigo.
Apenas temos de lidar com
inteligência com ele. E atenção, todo o cuidado é pouco. Ninguém está imune.
Garanto.
Junho 2013
3
melanoma
Melanoma
Quando o sol pode ser um inimigo
O cancro de pele não acontece só aos outros. É
preciso adotar medidas preventivas e estar atento
a novos sinais com um aspeto e cor diferentes ou a
uma simples ferida que não sara ou a uma escama
que tende a cair e a reaparecer no mesmo local.
Osvaldo Correia, dermatologista e secretário-geral da
Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC).
O
melanoma
não
sendo o cancro da
pele mais frequente é o mais letal. O número
de novos casos tem aumentado nos últimos anos,
estimando-se que surjam
mais de mil novos casos em
Portugal em 2013, segundo
Osvaldo Correia, dermatologista e secretário-geral da
Associação Portuguesa de
Cancro Cutâneo (APCC).
A exposição súbita ao sol,
o uso incorreto do protetor
solar e os solários favorecem o aparecimento deste
tipo de cancro de pele. Os
autobronzeadores não têm
4
qualquer função protetora
contra o sol.
Apesar do aumento da doença, a boa notícia é que os
casos de melanoma estão a
surgir mais cedo aos dermatologistas, por diagnóstico
mais precoce, podendo-se
evitar mesmo a morte.
Novos hábitos
de vida pouco
favoráveis
A exposição solar já não é o
que era. Os grupos de risco
já não se cingem apenas a
grupos de pessoas que se
expõe ao sol, na praia, entre
as 11h e as 17h, mas tam-
Junho 2013
bém a determinadas profissões ao ar livre e aos frequentadores de solários.” A
exposição súbita é uma das
principais causas do cancro
de pele. Quem frequenta solários a julgar que pelo facto de estar bronzeada está
protegida está enganado ”,
alerta.
O dermatologista e secretário geral da APCC fala ainda
das vitaminas para o bronzeado e mesmo das novas
bebidas avitaminadas que
dizem aumentar a resistência ao sol. “É preciso ter cuidado com este tipo de produtos. No caso das bebidas,
por exemplo, as pessoas
acham que estão protegidas
a 100 por cento – o que não
é verdade – e estão mais
tempo ao sol”.
Cuidados a ter
com férias tropicais, desporto
ao ar livre e medicamentos
Nos últimos anos tem aumentado o número de pessoas que costumam fazer
férias em países tropicais,
o que também eleva o risco
de cancro de pele. “Devem
proteger-se do sol, porque
nestes casos estamos perante uma exposição súbita,
demasiado intensa.”
No caso do desporto ao ar
livre é necessário evitar as
horas de maior calor, usar
protetor solar e chapéu com
pala ou abas que protejam o
couro cabeludo, as orelhas e
o pescoço”. Quem usa roupa que exponha a barriga e
os ombros também deve ter
cuidados redobrados.
Relativamente aos medicamentos, há alguns que tornam a pele mais sensível ao
sol “como antidepressivos,
alguns antibióticos e alguns fármacos para problemas cardiovasculares e
para emagrecer e os antiinflamatórios”.
Em resumo, “o mais importante é saber proteger-se,
para que o sol seja um aliado para a nossa saúde”.
Cuidados a ter com a pele
Exposição ao sol (insolação)
A exposição súbita, intensa e direta ao sol deve ser
evitada, definitivamente. É aconselhável evitar a exposição
direta à luz solar especialmente entre as 12h e as 16 h e,
idealmente, entre as 11h e 17 h, nos dias de maior índice
UV.
Protetor solar
O protetor solar deve ter fator de proteção elevado (fator 30
+ ) e oferecer proteção tanto para raios UVA como UVB. O
protetor deve ser aplicado meia hora antes da exposição
ao sol e a aplicação repetida a cada duas horas.
Sombra
Deve destacar-se que estar sob um guarda-sol num
ambiente aberto, como na praia, ainda assim pode levar
a queimaduras solares, devido aos raios UV refletidos,
a menos que sejam tomadas medidas adicionais de
proteção. Da mesma forma, os raios solares atravessam
as nuvens em quantidades significativas e, portanto, ainda
há uma tendência para a pele se queimar mesmo nos dias
nublados de primavera ou verão.
Roupa
Roupas de manga curta são melhores que sem manga
e, idealmente de manga comprida. O tecido deve ser
preferencialmente de malha apertada. É conveniente
usar um chapéu de abas largas e óculos de sol escuros
com proteção de UV máxima. Atualmente já é possível
encontrar no mercado roupas para as crianças, incluindo
fatos de banho, com índice de proteção 50 + (tipo de
malha ou com protetor solar impregnado).
Tipo de pele
Geralmente, a regra é que a pele deve ser gradualmente
acostumada aos raios solares. Uma pele que bronzeou
gradualmente e de modo contínuo consegue suportar
os raios UV até 10 vezes melhor do que uma pele não
bronzeada. Todas pessoas devem saber também o tempo
de proteção pessoal específico que se aplica ao seu tipo
de pele. Por outras palavras, quanto tempo de exposição
desprotegida ao sol pode fazer.
Fonte: Euromelanoma (www.melanoma.org)
entrevista
“A forma de tratar os doentes
com melanoma não é igual em
todo o país”
Maria José Passos, oncologista e presidente do Intergrupo
Português de Melanoma alerta para a necessidade de existir uma
maior rentabilização dos recursos humanos especializados nesta
área para que o tratamento de melanoma seja uniformizado em
todo o país.
ça relativamente rara, mas
suficientemente frequente e
grave para justificar linhas
de orientação nacionais,
no que diz respeito ao seu
diagnóstico, seguimento e
tratamento. Tenho esperança, que num futuro próximo,
as nossas linhas de orientação sejam aprovadas.
Maria João Ramires
Por que surgiu o Intergrupo Português de Melanoma?
O Melanoma maligno é o
tumor que tem registado o
maior aumento de incidência e mortalidade em todo o
mundo, sobretudo na última
década e atinge um número relevante de jovens em
fase de vida ativa. Constitui
por isso um grave problema
de saúde pública que exige
uma estratégia de intervenção mais eficaz, a nível nacional. Assim surgiu a ideia
(necessidade) de criar o Intergrupo Português de Melanoma (IPM).
O IPM é uma sociedade
médica, sem fins lucrativos,
constituída por profissionais
de saúde de diferentes especialidades, interessados
no estudo, diagnóstico e
tratamento de melanoma.
Foi criado em dezembro de
2012 e é o primeiro Grupo
Nacional de Melanoma.
Quais são os vossos principais objetivos?
Os nossos principais objetivos são conhecer e reunir
todos os profissionais que
se dedicam à investigação,
diagnóstico e tratamento de
melanoma em Portugal, rentabilizando os recursos humanos especializado nesta
área; conhecer os dados
epidemiológicos nacionais
de melanoma; uniformizar
critérios de diagnóstico e
tratamento a nível nacional,
o que permitirá racionalizar
e rentabilizar os métodos de
diagnóstico e tratamento,
tornando-os acessíveis a
todos os doentes, em todo
o país.
Além disso, passam também pela investigação básica; desenvolver estudos,
ensaios clínicos de âmbito
nacional com novos fármacos; promover a Formação
/ Educação para a saúde
para diferentes grupos profissionais e sociedade civil;
e promover a interligação
com outros grupos nacionais e internacionais que
trabalham na área de melanoma.
O grupo defende que não
há critérios uniformizados quanto ao melanoma.
Pode falar um pouco sobre este problema, dando,
se possível exemplos concretos das diferenças que
se fazem sentir?
O melanoma é uma doen-
A incidência de melanoma
está a aumentar. A que se
deve esta realidade?
A incidência de Melanoma
tem vindo a aumentar em
todo o mundo, sobretudo
nos EUA, Austrália e Norte
da Europa. No nosso país
esse aumento de incidência
não é tão dramático e ronda
os 8 casos / 100.000 habitantes, o equivalente a cerca de metade da incidência
de melanoma da Suécia. As
causas deste aumento são
multifatoriais e não completamente
esclarecidas:
genéticas, ambienciais e
devidas a comportamentos
de risco, como a exposição
solar excessiva, “escaldões”
das 10-16h, altura em que a
radiação ultra violeta é mais
perigosa, ida aos solários e
exposição solar excessiva
durante a infância.
Relativamente ao acesso
aos tratamentos, existem
problemas?
Sim, a forma de tratar os doentes com melanoma não é
igual em todo o país. É uma
doença relativamente rara,
quando comparada com
outros tumores, como por
exemplo o cancro da mama.
Existem determinadas técnicas e equipamentos dispendiosos que só podem estar
Maria José Passos, Oncologista
Presidente do Intergrupo Português de Melanoma
disponíveis em centros de
referência, como por exemplo acontece com a electroquimioterapia e as perfusões hipertérmicas isoladas
dos membros, usadas no
tratamento da metastização
cutânea.
Por outro lado, estas técnicas têm que ser executadas
por pessoal experiente, habituado a tratar muitos doentes com melanoma. Só
com saber e experiência poderemos constituir equipas
sólidas
interdisciplinares
eficazes e úteis aos nossos
doentes.
Ora aqui surge a necessidade urgente de rentabilizar os recursos humanos
especializados e técnicos já
existentes no nosso país e
disponibilizá-los a todos os
doentes com melanoma, independentemente da zona
do país em que vivam. O
mesmo raciocínio se deve
aplicar ao tratamento de melanoma metastizado e à utilização dos novos fármacos,
que começam agora a surgir
e que põem problemas, porque têm custos muito elevados e tardam em ser aprovados pelo Infarmed. Defendo
que estes fármacos devem
ser realizados por pessoal
experiente, em casos devidamente selecionados, respeitando as linhas de orientação estabelecidas, a nível
nacional e internacional.
Quais são os principais
avanços que se têm verificado nos últimos tempos
relativamente ao melanoma?
Têm-se registado progressos em várias áreas, nomeadamente no que diz respeito à definição e importância
dos fatores de prognóstico,
refinamento das técnicas,
aplicáveis aos estádios precoces, novos tratamentos
paliativos, como por exemplo o uso da electroquimioterapia na metastização
cutânea, radiocirurgia no
metastização cerebral, entre
outros.
Apenas a partir de 2010 e
graças aos avanços da genética, imunologia e biologia molecular começaram
a surgir novos fármacos
inovadores, com diferentes
mecanismos de ação, que
demonstraram pela primeira
vez um aumento da sobrevivência global em doentes
com melanoma avançado.
O passo seguinte será ensaiar várias combinações
terapêuticas, reunindo fármacos ativos com diferentes mecanismos de ação,
de modo a escolher o tratamento adequado a cada
caso.
Até lá todos os doentes
devem ser encorajados a
participar em ensaios clínicos com novos fármacos.
O tratamento de melanoma
metastizado continua a ser
um desafio, mas o futuro
deve ser encarado com
otimismo, pois iniciámos
uma nova era que vai com
certeza alterar o tratamento
dos nossos doentes.
Junho 2013
5
opinião
Um dia mundial da Saúde
a pensar na hipertensão
em todo o mundo, sendo responsáveis por cerca de 17,3
milhões de mortes e que este
número subirá para mais de
2,3 milhões em 2030. Este
alerta aparece na continuação da reunião das Nações
Unidas que teve lugar em
Setembro de 2011, onde
uma declaração política alertava todos os governantes no
sentido de colocarem na sua
primeira linha de intervenção
as NCD, mediante a prática
de quatro recomendações,
entre as quais estaria o estabelecimento de planos nacionais de luta contra as NCD já
em 2013.
O apelo referido em “Our
Time....” fala em atingir uma
redução de 25% da mortalidade pelas NCD em 2025.
Para isso enumeram um
conjunto de dez objetivos a
desenvolver por todos. Entre
estes consideram da máxima importância os primeiros
quatro:
Mário Espiga Macedo
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
(FMUP)
Em Abril passado e no dia 7, Dia
Mundial da Saúde, data em que
se comemora a criação da OMS
no ano de 1948, esta declarou que
o mesmo seria atribuído, este
ano, à Hipertensão Arterial (HTA)
e a todos os problemas com ela
relacionados.
N
ão foi inédita esta decisão, já que muitas
organizações mundiais como a AHA, a IOM, e
a OMS, têm nos últimos anos
proclamado a hipertensão
arterial como o fator de risco mais importante para as
doenças cardiovasculares e
apelando para um esforço
de todos no combate a esta
doença. Ao mesmo tempo a
OMS relembrou o apelo feito
a todos os países do mundo
sobre o controlo urgente das
NCD (non comunicable di6
seases), com o artigo “Our
Time: A Call to Save Preventable Death From Cardiovascular Disease (Heart
Disease and Stroke)” e publicitado por várias organizações científicas: World Heart
Federation, American Heart
Association, American College of Cardiology Foundation,
European Heart Network,
European Society of Cardiology.
Todos relembram que as doenças cardiovasculares são
a primeira causa de morte
Junho 2013
1. r edução em 25% da prevalência da pressão arterial elevada;
2. r edução relativa de 30%
na ingestão média de sal
pelas populações e de
forma a atingir o nível recomendado de menos de
5 g/dia;
3. redução de 10% dos níveis
de sedentarismo;
4. 30% de redução relativa
da prevalência do consumo de tabaco.
Todas estas quatro medidas
foram consideradas de elevada relação custo/benefício.
Como complemento destes
4 objectivos, estiveram em
discussão mais alguns alvos
a atingir, que também poderão e deverão ser adoptados
embora não tenham todos a
mesma evidência. Estamos
a falar de:
a) r edução em 15% das calorias ingeridas à custa de
ácidos gordos saturados;
b) c onseguir parar o crescimento da obesidade (já
nem se fala em redução);
c) 1
0% de redução relativa da
ingestão de álcool; d) 20%
de redução na prevalência
de colesterol elevado;
e) conseguir que pelo menos
50% dos doentes vasculares recebam terapêutica
e conselhos preventivos;
f) 80% de possibilidades dos
doentes terem acesso às
tecnologias diagnósticas das
doenças cardiovasculares.
A implementação destes
objetivos terá necessariamente que ser adaptada a
cada país e região, de acordo
com o seu sistema de saúde
e de vigilância das populações. Poderá parecer tratarse de uma tarefa gigantesca
e de custos que poderão ser
difíceis de suportar. Porém
os estudos já realizados pelas Nações Unidas calculam
que o custo da intervenção
será inferior a um dólar/dia
por pessoa, e isto nos países
de mais baixos recursos. Já
nos outros com nível médio,
estamos a falar de menos de
três dólares/dia e por pessoa.
Não podemos esquecer que
ao melhorarmos a morbilidade pelas NCD, estamos a
aumentar a idade média das
populações, a diminuir o número de dias de doenças e
deste modo contribuir para o
crescimento económico desses países.
Todos relembram que as
doenças
cardiovasculares são
a primei-
ra causa de
morte em
todo o mundo
Para finalizar valerá a pena
lembrar a intervenção de
Valentim Fuster, onde afirma
que para conseguir uma Saúde Cardiovascular Global,
é urgente uma abordagem
intersetorial. Esta terá necessariamente vários níveis de
intervenção e os mais elevados serão os que derivam
das entidades governamentais da saúde, mas também
facilitadoras dos meios de divulgação dos diferentes tipos
de mensagens, da importância dos fatores determinantes sejam eles ambienciais,
sociais, demográficos, etc,
bem como a implementação
de regras legais, financeiras,
reguladoras.
A estes níveis seguem-se
progressivamente os de
menor abrangência e acabando nos pequenos núcleos da sociedade, da família,
dos profissionais da saúde,
etc. Todos serão por isso
necessários para conseguir
vencer os obstáculos que
existem e atingir os objectivos já descritos.
PUB
saúde infantil
Ambliopia – ou “olho preguiçoso”
Provavelmente já ouviu falar de olho preguiçoso (ambliopia) e rastreio visual infantil. E
possivelmente já viu crianças pequenas com óculos e com um olho tapado. São conceitos
muito importantes no que toca ao desenvolvimento visual da criança.
Dra. Cristina Brito,
Assistente Hospitalar de
Oftalmologia do Hospital
Pediátrico de Dona Estefânia
A
o nascer, os olhos
já estão adaptados
para captar as imagens e transmitir essa informação através de estruturas
nervosas até ao cérebro.
Cabe a este descodificar as
imagens recebidas, atribuirlhes significado e dirigir os
olhos para os objectos de
interesse. Também envia
comandos para que os dois
olhos se alinhem com o objecto do olhar. A presença
de dois olhos e um bom desenvolvimento visual permitem uma qualidade muito boa da visão, a noção
da profundidade (estereopsia). Esta qualidade, que
8
é explorada no cinema em
filmes 3D, facilita a melhor
percepção do espaço.
Voltando ao nascimento, os
olhos estão formados, precisando ainda de apuramento
para atingir as capacidades
adultas, mas os centros visuais do cérebro ainda se
encontram muito imaturos.
A visão depende da aprendizagem e da experiência
visual.
Considera-se que o sistema
visual atinge o nível do adulto aos 8 anos de idade, no
entanto o desenvolvimento
visual é mais activo nos primeiros 2 anos, sendo fundamental que nos primeiros 3
- 6 meses de vida haja uma
experiência visual adequada. Qualquer dificuldade que
impeça a experiência visual
precoce interfere na evolução da capacidade visual.
Por outro lado, a correcção
de uma dificuldade quando
efectuada no período de
Junho 2013
tempo adequado pode ter
muito bons resultados.
Ambliopia é uma palavra de
origem grega e que significa
literalmente enfraquecimento da visão. Vulgarmente é
conhecida como “olho preguiçoso”. É uma situação
relativamente frequente de
má visão, felizmente com
tendência a diminuir na sua
frequência e gravidade graças a uma intervenção mais
precoce. Na grande maioria
das situações é unilateral, o
que pode dificultar o diagnóstico.
Qualquer dificuldade que
impeça a experiência visual precoce
interfere na
evolução da
capacidade
visual
A ambliopia é um defeito da
visão que resulta de uma
experiência visual anómala
no princípio da vida, durante
o período de maturação do
sistema visual. A deficiente
experiência na visão implica
uma deficiente representação cerebral das imagens
captadas. A imagem cerebral do que o olho capta é
“preguiçosa”. As principais
causas de ambliopia são o
estrabismo e a presença de
defeitos na focagem da imagem (defeitos refractivos).
Estrabismo significa não
alinhamento dos olhos com
o objecto do olhar. Um olho
está dirigido para o objecto e
o outro está desviado. Desta maneira o cérebro capta
duas imagens: uma focada, a outra desfocada. Isto
é confuso para ele e como
se encontra em desenvolvi-
mento anula a pior imagem,
a do olho que desvia.
Por defeitos refractivos entende-se hipermetropia, astigmatismo e miopia. O olho
possui um sistema de lentes
que capta e foca a imagem
(refracção). Este sistema
modifica-se um pouco com
o crescimento, no entanto,
e dentro de certos limites,
deve permitir que cada olho
capte uma imagem razoavelmente focada e que
as imagens dos dois olhos
sejam parecidas. A refracção na criança não é igual
à do adulto, pois os olhos
crescem, mas excedendo
certos parâmetros e sobretudo havendo assimetria marcada entre os dois
olhos pode predispor ao
mau desenvolvimento visual, pela falta de qualidade
da imagem. A outra causa
mais frequente de ambliopia é esta assimetria (anisometropia) pois a imagem
captada por um dos olhos é
pouco nítida. Ela não é encontrada se não se tapar o
outro olho.
Por se tratar de uma anomalia do desenvolvimento, a
ambliopia pode ser recuperável. Torna-se clara a importância de rastreios visuais
pré-escolares, aos 3 anos.
Após os 5 anos, mesmo com
um tratamento activo, o progóstico pode não ser tão
bom, sendo habitualmente
um tratamento mais penoso para a criança e menos
eficaz. No entanto, pode ter
um excelente prognóstico
se detectada e tratada precocemente nos primeiros 3
anos de vida.
O tratamento da ambliopia
consiste em providenciar
uma imagem nítida (corrigir defeitos refractivos, habitualmente com óculos) e
penalizar o olho bom para
estimular o neurodesenvolvimento do olho amblíope
(oclusão ou outros meios
menos eficazes).
Este artigo foi escrito segundo o antigo acordo ortográfico.
alergias
Alergias e asma
Diagnóstico precoce
faz toda a diferença
As constipações recorrentes
das crianças podem ser
sinal de rinite e a tosse seca
persistente pode ser um sinal
de asma. O melhor é consultar
um especialista, para que
estes problemas de saúde não
controlem a sua vida.
A
palavra alergia é um
autêntico
martírio
para muitas pessoO diagnóstico precoce é
as. Alimentos, pólenes,
essencial para que haja remissão
ácaros, entre outros,
são vários os alergédos sintomas. “Quanto mais cedo
nios que podem, de
se detetar o problema, mais
alguma forma, por
facilmente se iniciam medidas de
em causa a nossa
qualidade de vida.
evição e um tratamento adequado
Este problema de
que pode levar à remissão dos
saúde é cada vez
sintomas durante vários anos,
mais comum na sociedade e varia conmelhorando a qualidade de vida
soante a idade, como
das crianças e dos pais.”
refere Libério Ribeiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica (SPAP) à margem criança
do 2.º Congresso SPAP, que vai desenvoldos, controlados, e tratados
decorreu entre 1 e 2 de ju- vendo um quadro alérgico a nomeadamente no que diz
diferentes fatores, com ex- respeito às crianças. As dinho, em Viseu.
pressões clínicas diversas”.
ficuldades económicas não
Existem
ainda
as
chamapermitem o melhor acesDiferentes
das
alergias
cruzadas.
“Por
so aos cuidados de saúde,
alergias, que se
exemplo, quem é alérgico principalmente quando se
podem cruzar
“Nos primeiros anos, e princi- aos ácaros também o pode aumentam as taxas modepalmente até aos dois anos, ser ao marisco e a caracóis, radoras.”
destacam-se as alergias ali- já que todos contêm um epi- A referenciação para o
mentares como às proteínas topo comum”, explica Libé- pediatra, especialista em
alergologia, também nem
do leite de vaca, ao ovo, ao rio Ribeiro.
sempre é feita numa fase
peixe e, mais tardiamente,
precoce”. Além disso, “os
a amendoins, frutos de cas- Diagnóstico prepais não estão sensibilizaca rígida (avelã e nozes) e coce, vida com
dos para as alergias e para
marisco”, explica. À medida mais qualidade
que se cresce, “podem sur- O mal-estar provocado pelas o problema da asma e não
gir outras alergias como aos alergias impede de comer sabem que as constipações
ácaros, ao cão, ao gato, ao certos alimentos, mesmo recorrentes podem ser rinite e
hamster, ao coelho – cada em festas, ou de passear que a tosse seca persistente
vez mais crianças têm estes no jardim em plena prima- pode ser um sinal de asma”,
animais em casa – a polé- vera. Mas nada disto tem salienta o especialista.
nes e a fungos.
de acontecer se se detetar O diagnóstico precoce é esCom o avançar da idade atempadamente o proble- sencial para que haja remispode acontecer a chamada ma. “Infelizmente nem todos são dos sintomas. “Quanto
marcha alérgica, ou seja, a os casos são diagnostica- mais cedo se detetar o pro10
Junho 2013
Maria João Ramires
blema, mais facilmente se
iniciam medidas de evição
e um tratamento adequado
que pode levar à remissão
dos sintomas durante vários
anos, melhorando a qualidade de vida das crianças e
dos pais.” E “mesmo quando
os sintomas se continuam a
fazer sentir, o acompanhamento por um especialista
permite controlar os mais
graves e reduz as crises
agudas”.
Outro fator a ter em conta na
prevenção e no tratamento é
a alimentação e o ambiente
em que se vive. “A obesidade agrava a asma, as casas
deterioradas e com humidade beneficiam o aparecimento destas doenças ou
agravam-nas. A falta de vitamina D também aumenta a
predisposição para a asma,
assim como o tabagismo.
Todos estes fatores são
agravados em tempo de crise económica “
As limitações
que provocam
as alergias não
controladas
As alergias não controladas
provocam graves problemas
e o impacto económicosocial pode ser muito significativo, principalmente para
os mais novos. São crianças
que costumam estar doentes, exigem mais idas às
urgências, mais medicação,
dormem menos… Desta
forma, não conseguem ter
um aproveitamento escolar
tão bom, nem sempre conseguem acompanhar as atividades dos colegas, como
em Educação Física, faltam
mais vezes à escola. Os
próprios pais também faltam
Libério Ribeiro,
presidente da Sociedade
Portuguesa de Alergologia
Pediátrica (SPAP)
mais ao trabalho e têm um
menor rendimento por dormirem menos”.
Quanto à automedicação
com antialergénicos e antihistamínicos não sujeitos a
receita médica, Libério Ribeiro considera que “são medicamentos que podem aliviar
alguns dos sintomas, mas não
resolvem o problema”.
doença de Crohn
Doença de Crohn na idade
pediátrica
Alimentação e stress favorecem novos casos
mento entre os mais novos”,
afirma. Uma tendência que
se começou a fazer sentir
nos países nórdicos e que
também já é uma realidade
no Sul da Europa.
A dificuldade
em se chegar ao
diagnóstico
Maria João Ramires
Antes dos 18 anos também
surgem casos de doença de
Crohn. Apesar de não haver
dados concretos sobre a
evolução da patologia, há um
novo tratamento que pode fazer
a diferença.
Jorge Amil Dias,
pediatra do Hospital de São
João, no Porto.
D
iarreia, dor abdominal e emagrecimento. Estes são sintomas habituais na doença
de Crohn, mas também de
muitas outras patologias.
“Não é fácil chegar a um
diagnóstico, por se tratar
de sintomas que podem indiciar diferentes doenças,
além de haver menos informação sobre a doença de
Crohn na idade pediátrica
(antes dos18 anos)”, salienta Jorge Amil Dias, pediatra
do Hospital de São João, no
Porto.
Não se sabe qual é a incidência e a prevalência desta patologia nestas idades,
mas existe, a nível global, a
perceção de que se registou
um aumento do número de
casos. “No Hospital de São
João registam-se 25 novos
casos de Crohn todos os
anos, notando-se um au-
Mas por que será que se
tem verificado um aumento de casos de doença de
Crohn na idade pediátrica?
Jorge Amil Dias acredita que
a causa do problema não se
restringe apenas à genética,
mas sobretudo ao ambiente. “A alimentação pouco
saudável, a modificação do
risco infeccioso e o stress
estão a alterar a ecologia das
bactérias intestinais, provocando reações inflamatórias
que supostamente não deviam acontecer”, esclarece.
Mas, como faz questão de
voltar a frisar, “não existem
dados concretos sobre a
epidemiologia da doença
antes dos 18 anos no nosso país”.
A doença tem evolução
variável e pode levar a atrasos no crescimento se não
for detetada e tratada numa
fase precoce. “Nem sempre é fácil chegar-se, desde
logo, a um diagnóstico, por
isso é necessário apostar
em mais formação e informação, nomeadamente junto dos médicos de Medicina
Geral e Familiar, a quem os
utentes se dirigem em primeiro lugar, na maioria das
vezes”.
O impacto
socioeconómico
da doença
Esta patologia provoca
grandes alterações na vida
da criança ou jovem e dos
seus familiares, enquanto
não for detetada e controlada. Os sintomas podem ser
graves, além de causarem
um enorme transtorno e de
impedirem a criança ou jovem de ter uma vida social
e familiar como os restantes colegas e amigos.
Se os sintomas não são
agradáveis, a situação
também não é fácil quando
se recebe o diagnóstico.
“É um choque tremendo.
Estamos perante uma doença crónica, que pode ser
controlada, mas não curada. Não é uma notícia que
se receba de ânimo leve,
quer por parte do doente
como dos seus familiares”,
conta.
O impacto socioeconómico é, de facto, um problema. “As crianças e os jovens faltam mais à escola,
sentem-se limitados face a
certas atividades quando
estão a passar por uma
fase de agudização da doença e os pais têm, muitas
vezes, que faltar ao trabalho”. Custos que poderiam
ser minorados, no entender de Jorge Amil Dias, se
houvesse mais informação
e formação para pediatras
e médicos de Medicina
Geral e Familiar. “E, obviamente, acima de tudo está
o sofrimento dos utentes”,
acrescenta.
Novo tratamento é mais uma
esperança
Após o diagnóstico, o médico define um plano de
tratamento, “para que se
possa ter uma vida de qualidade, apesar da cronicidade
da doença”. Os tratamentos
dependem de caso para
caso e nas situações mais
graves, de resistência aos
medicamentos ou de doença refratária, recorre-se,
atualmente a biológicos.
“São essenciais para muitos
doentes”.
Nas últimas semanas surgiu a notícia de que haverá
mais um medicamento biológico aprovado para uso
em crianças e jovens. Jorge
Amil Dias vê com bons olhos
esta notícia.” Na medida em
que o tratamento desta doença é prolongado, a disponibilidade de alternativas
que prolonguem a eficácia
e a remissão clínica significa uma boa notícia para os
doentes e médicos”.
Um avanço importante que
não deve descurar a infor-
Conheça melhor a doença
O que é a doença de Crohn?
A Doença de Crohn caracteriza-se por inflamação crónica
que pode afetar qualquer segmento do tubo digestivo.
Compromete mais frequentemente o intestino delgado
no seu segmento terminal, denominado íleo. A doença
evolui, caracteristicamente, por períodos de agravamento
e remissão.
Quais são os sintomas?
Como qualquer segmento do tubo digestivo pode ser
afetado os sintomas são variados. Os mais comuns são
diarreia, dor abdominal e perda de peso. Sintomas não
relacionados com o aparelho digestivo, como dores em
articulações e lesões de pele, também podem ocorrer.
Outras manifestações precoces da doença de Crohn
são lesões na região perianal, incluindo, fissuras, fístulas
(aberturas anormais do intestino na superfície da pele,
perto do ânus) e abcessos.
Diagnóstico
O médico pode suspeitar duma doença de Crohn em
qualquer pessoa que tenha dor abdominal do tipo cólica e
diarreia recorrente, sobretudo se tiver também inflamações
articulares, oculares e cutâneas. Nenhum teste de
laboratório identifica especificamente a doença, embora
estes possam revelar anemia, um número anormalmente
elevado de plaquetas, baixos valores de albumina e outros
sinais inflamatórios.
A ecografia pode mostrar o aspeto característico da
doença de Crohn no ileo terminal e cólon. A confirmação
do diagnóstico exige sempre colonoscopia (exame do
intestino grosso com um tubo flexível de visualização)
e biópsias que ajudam a confirmá-lo. A ressonância
magnética e a tomografia axial computadorizada (TAC)
podem mostrar as alterações na parede do intestino
e identifica abcessos e fistulas, não subsitutem mas
complementam os outros métodos de diagnóstico.
Tratamento e prognóstico
Não existe tratamento curativo para a doença de Crohn,
embora muitos tratamentos reduzam a inflamação e
aliviem os sintomas.
As fórmulas dietéticas específicas, em que cada
componente nutricional é medido com precisão, podem
melhorar a doença e a experiência em Pediatria torna
essa opção como a primeira escolha de tratamento na
maioria dos doentes. Elas também contribuem para
que as crianças tenham um crescimento adequado. Em
casos muito raros as pessoas com doença de Crohn
requerem uma alimentação parenteral total ; para isso,
são administrados os nutrientes concentrados por via
endovenosa, com o fim de compensar a escassa absorção
dos mesmos, típica da doença de Crohn, se esta afectar
uma área muito extensa do intestino.
Quando o intestino fica obstruído ou os abcessos ou as
fístulas não saram, é necessário recorrer à cirurgia, mas
esta é reservada apenas para os casos em que surgem
complicações específicas ou em que o tratamento
farmacológico falha. Em alguns casos de doença de
extensão muito limitada e de difícil controlo por meios
farmacológicos, a cirurgia pode ser considerada de
forma electiva. Em geral, as pessoas que sofreram uma
intervenção cirúrgica consideram que a sua qualidade de
vida melhorou devido à mesma.
mação e a formação. Afinal
é na deteção precoce da
doença que se pode iniciar
um tratamento adequado,
que previna a agudização
da doença de Crohn e a melhoria da qualidade de vida
dos doentes.
Junho 2013
11
Nutrição
Beber leite é saudável
e dá energia
Desde pequenos que ouvimos
os nossos pais a dizerem que o
leite dá saúde e faz crescer. É
precisamente para incentivar
a população, nomeadamente
a mais pequena, que a Missão
Crescer Saudável da Mimosa
tem apostado em várias
atividades de sensibilização para
a importância deste alimento,
assim como de outros hábitos
alimentares e hábitos de vida
saudáveis.
o leite
É uma fonte
valiosa de cálcio,
mas também de outros
nutrientes como proteínas,
riboflavina, fósforo, vitamina
B12, potássio e, se for inteiro,
é também uma boa
fonte de vitamina A
Fernanda Cruz ,
nutricionista do Centro de
Nutrição e Alimentação da
Mimosa (CNAM)
Rico em nutrientes e um aliado
contra a obesidade
Fernanda Cruz é nutricionista do Centro de Nutrição
e Alimentação da Mimosa
(CNAM) e garante que o
seu consumo deve continuar a ser incentivado
junto da população.
“O leite deve ser bebido
diariamente como parte
de uma alimentação sau-
12
dável, pois a sua riqueza
nutricional é valiosa para
o desenvolvimento das
crianças. “Juntamente com
a fruta e os cereais deve
compor o pequeno-almoço
e os lanches”, afirma.
Mas, afinal, quais são os
benefícios deste alimento
que nos acompanha desde cedo? “O leite é um
alimento de elevada densidade nutricional, ou seja,
oferece uma boa relação
entre calorias e nutrientes
essenciais para o organismo. É uma fonte valiosa de
cálcio, mas também de outros nutrientes como proteínas, riboflavina, fósforo, vitamina B12, potássio
e, se for inteiro, é também
uma boa fonte de vitamina
A”, explica.
A nutricionista relembra
ainda que “a Organização
Mundial de Saúde (OMS)
salienta que o consumo
de alimentos de elevada
Junho 2013
densidade energética (que
oferecem muitas calorias
e pouca variedade de nutrientes) pode contribuir
para o risco de obesidade,
ao contrário dos alimentos
com elevada densidade
nutricional”.
Quando a criança e o jovem não
querem beber
leite
Os benefícios são variados, mas por vezes os
mais novos não gostam de
beber leite todos os dias.
Fernanda Cruz garante
que este obstáculo pode
ser contornado de diferentes formas e sem grandes
«dores de cabeça» para
os pais.
“Para além do leite branco, existem soluções saudáveis adaptadas a todos
os gostos e que mantêm
toda a riqueza nutricional.
Por exemplo: há os leites
especialmente adaptados
às necessidades nutricionais das crianças, há leites com sabores a choco-
late, a morango, a cereais
…”.
E não se pense que o leite
com chocolate não é saudável. Pode inclusive ser
um aliado. “Todos os leites
devem ser promovidos no
âmbito de uma alimentação saudável. Por vezes,
os leites com chocolate e
outros sabores são a única
forma de levar as crianças
a beber leite e a poder beneficiar da sua riqueza nutricional”, sugere Fernanda
Cruz. E continua: “O CNAM
tem inovado, reduzindo ou
eliminando os açúcares
adicionados aos produtos
destinados às crianças e
jovens”.
“O leite deve
ser bebido
diariamente
como parte
de uma alimentação
saudável,
pois a sua
riqueza nu-
tricional é
valiosa para
o desenvolvimento das
crianças
Para os miúdos e os graúdos já existe “leite com menos açúcares adicionados”.
Quem tem intolerância à
lactose também não precisa retirar este alimento da
sua alimentação diária, já
que existe a opção “sem
lactose”, acrescenta a nutricionista.
Como em qualquer campanha de sensibilização
é muito importante haver
bons exemplos em casa.
“A adoção de bons hábitos
desde cedo é incontornável como medida de promoção da saúde. Aos pais
cabe orientar as escolhas
alimentares dos filhos e
dar um bom exemplo”.
E os benefícios não são
apenas para os mais novos. “Trata-se de juntar o
útil ao agradável, já que o
consumo de leite é importante durante toda a vida
– rico em cálcio, necessá-
rio para a manutenção de
ossos normais, e noutros
nutrientes importantes para
o bem-estar geral”.
Missão Crescer
Saudável
Para se crescer com saúde, a alimentação tem um
impacto muito forte. Nesse sentido, a Mimosa tem
realizado diversas atividades, no âmbito da Missão
Crescer Saudável, que
tem quase 16 anos. “Este
é um programa educativo
enquadrado na política de
responsabilidade social da
empresa, que tem como
compromisso contribuir para
a educação alimentar das
crianças, valorizando o consumo de leite como aliado
contra a obesidade infantil”,
sublinha Fernanda Cruz.
Contribuir para a educação
alimentar
das
crianças é uma aposta
essencial para esta nutricionista, já que de acordo com um estudo do
CNAM – que envolveu 44
mil crianças e jovens entre
os 5 e os 15 anos -, “mais
de 18 por cento sofrem de
excesso de peso ou de
obesidade”.
entrevista
Um mal-estar que tem solução
Quem utiliza
a visão de
perto durante
períodos mais
longos corre
mais riscos
de vir a sofrer
de olho seco.
Paulo Torres,
presidente
da Sociedade
Portuguesa de
Oftalmologia,
fala-nos sobre
este problema
de saúde
que pode ser
prevenido.
Os que apresentam
maior probabilidade de
Saúde Notícias (SN) Quais são os sintomas do
olho seco?
Paulo Torres (PT) - Os
principais sintomas de olho
seco são a sensação de
corpo estranho, secura e
ardor ocular, picadelas, prurido, lacrimejo reflexo (o que
confunde muito os doentes),
fotofobia, desconforto ocular e palpebral, intolerância
às lentes de contacto e, por
fim, em casos mais graves,
alteração da qualidade da
visão.
SN - A que é que pode estar associada esta doença?
PT - Ao aumento da esperança de vida que leva à
degradação natural do filme
lacrimal ou mesmo à sua
diminuição, às alterações
hormonais, principalmente
no sexo feminino, às doenças da superfície ocular externa e sistémicas, à medicação ocular crónica, como
a utilizada no glaucoma, à
medicação sistémica, como
os anticoncepcionais, antihipertensores e antidepressivos e, por fim, ao estilo de
vida atual com ambientes
terem queixas subjetivas de
olho seco são aqueles que
utilizam a visão de perto
durante longos períodos de
tempo, mormente em
frente de monitores
Maria João Ramires
artificiais, poluição e computadores (origina diminuição
do pestanejo com aumento
da evaporação da lágrima).
SN - Quem é mais afetado?
PT - Os que apresentam
maior probabilidade de terem queixas subjetivas de
olho seco são aqueles que
utilizam a visão de perto
durante longos períodos de
tempo, mormente em frente
de monitores, os utilizadores
de ambientes artificiais com
ar condicionado e luzes fortes, os idosos e os do sexo
feminino.
SN - Quais são os tratamentos que existem para
o olho seco?
PT - O tratamento primordial do olho seco passa pela
aplicação de “lágrimas artificiais”, de preferência sem
conservantes, para minorar
o desconforto ocular e pelo
evitar, sempre que possível,
meios ambientes agressivos. Passa também pela
adoção de posições ergonómicas corretas ao computador. Nos casos mais graves,
felizmente raros, poderá
ser necessário associar outros grupos farmacológicos
como os anti-inflamatórios.
Em casos especiais poderse-á recorrer à cirurgia para
oclusão dos pontos lacrimais.
SN - Qual é a duração do
tratamento?
PT - O tratamento do olho
seco é na maioria dos casos
para a vida. Em situações
específicas como após ci-
rurgia refrativa a laser, o
olho seco terá uma duração
de dois a quatro meses.
Em situações de olho seco
após utilização de colírios e
ou medicação sistémica, a
sua melhoria poderá surgir
com a suspensão, quando
possível, da medicação em
causa.
SN - Que cuidados se devem ter após a remissão
dos sintomas?
PT - Proteção ocular adequada e a não exposição aos
factores predisponentes.
SN - Há forma de prevenir
este problema de saúde?
PT - Dificilmente, uma vez
que está muito associado
ao estilo de vida atual. A
prevenção faz-se através
do conhecimento dos fato-
res que o desencadeiam e
evitando a exposição aos
mesmos.
SN - Que mensagem gostaria de deixar às pessoas
que sofrem de olho seco
ou que tenham os sintomas acima descritos e
que ainda não foram ao
médico?
PT - Em primeiro lugar devem ser observados por
um oftalmologista, que é o
profissional de saúde habilitado a fazer o diagnóstico
de olho seco e despistar
outras patologias da superfície ocular que possam originar sintomas similares.
Em segundo lugar, é fundamental que o doente
perceba os mecanismos
que originam o olho seco,
que é uma situação cróni-
Paulo Torres,
presidente da Sociedade
Portuguesa de Oftalmologia
ca, com períodos de agudização por um qualquer
fator desencadeante, sem
cura definitiva, sem efeitos
graves na visão pelo menos
na maioria dos casos e que
o tratamento proposto serve apenas para minorar o
desconforto ocular.
Junho 2013
13
saúde animal
Esgana
A esgana é uma doença viral extremamente
contagiosa, provocada por um vírus semelhante
ao que causa o sarampo nos seres humanos.
O vírus da esgana atinge sobretudo os canídeos,
mas também é capaz de infectar e provocar
doença em diversos carnívoros, incluindo algumas
espécies que estão a ganhar popularidade como
novos animais de companhia, como sejam o furão,
a doninha e o coati. Apesar de este vírus causar
doença muito grave em várias espécies de felinos
silvestres (leão, tigre, leopardo e chita), não se
observa infecção natural no gato doméstico.
Inicialmente, os cães
apresentam
febre, anorexia e apatia
Não existe nenhum tratamento
dirigido ao vírus. A terapêutica visa apenas controlar os sintomas da doO diagnóstico
ença e as infecções
de esgana é efectuado
secundárias que
pelo Médico Veterinário
se possam desenvolver, de modo
com base nos sinais
a ajudar o cão
clínicos observados e
O
vírus da esgana
transmite-se
por
via aérea e os primeiros sinais surgem duas
a seis semanas após a
transmissão. Inicialmente,
os cães apresentam febre, anorexia e apatia. A
doença pode evoluir de
muitas formas diferentes
e os animais infectados
podem apresentar sintomas do foro respiratório
(corrimento nasal, tosse),
ocular (conjuntivite), dermatológico (feridas na pele
do abdómen e alteração
das almofadinhas plantares) e/ou digestivo (vómito
e diarreia). Os cães que
sobrevivem a esta fase inicial da doença podem vir
a desenvolver um conjunto de alterações nervosas,
variáveis desde comportamentos anormais até à
paralisia ou ao desenvolvimento de convulsões. Es14
tes sinais de esgana nervosa podem observar-se
semanas, meses ou anos
após o período de doença
inicial.
O diagnóstico de esgana
é efectuado pelo Médico
Veterinário com base nos
sinais clínicos observados
e no resultado de análises
laboratoriais específicas.
infectado a sobreviver ao período inicial de doença. A desinfecção dos locais onde tenha
estado um animal infectado
é simples, porque o vírus da
esgana é destruído pela generalidade dos desinfectantes
usados habitualmente.
A vacinação é muito eficaz e
proporciona uma imunidade
de longa duração. Os cachorros devem iniciar a vacinação a
partir das 8 semanas de idade e não devem ter contacto com cães não vacinados
antes de concluírem o plano
vacinal proposto pelo Médico
Veterinário assistente.
Dra. Ana Reisinho,
Médica Veterinária da
Faculdade de Medicina
Veterinária da Universidade
Técnica de Lisboa.
no resultado de análises
laboratoriais
específicas.
O vírus da
esgana
transmite-se
por via aérea
e os primeiros sinais
surgem duas
a seis semanas após a
transmissão.
Junho 2013
O autor escreveu ao abrigo do antigo acordo ortográfico.
PUB
PUB
Download