A UA UL L AA 12 12 O Sacro Império Romano - Germânico e o cristianismo feudal C om o fracasso da unificação tentada pela Igreja e por Carlos Magno, o poder dos senhores de terras locais aumentou. A isto soma-se o fato de as populações terem sido arruinadas e atemorizadas pelos ataques dos árabes, normandos e húngaros. A atividade econômica limitou-se à exploração dos campos. Durante mais de trezentos anos, a Europa esteve fragmentada em centenas de pequenos Estados independentes, os feudos. A comunicação era escassa e cada feudo sobrevivia a partir daquilo que seus habitantes produziam. Foi a “época dos mundos fechados”. A escala feudal Quando os germanos invadiram o Império Romano do Ocidente, distribuíram as terras entre seus guerreiros. Estes atuavam como donos absolutos de seus territórios. Após a morte de Carlos Magno os reis se mostraram incapazes de defender seus súditos. Os senhores das terras organizaram a defesa de suas propriedades por conta própria, ou seja, com exércitos particulares que eles mantinham e organizavam. A Europa conheceu um novo estilo de vida. As cidades foram abandonadas ou achavam-se decaídas: o único bem que interessava era a terra. A insegurança generalizada levava seus donos a protegê-las dos invasores. Para tanto, procuravam a proteção dos senhores de terras mais fortes e poderosos. Os habitantes mais pobres pediam proteção ao dono do castelo mais próximo. Este, por sua vez, com medo de ser atacado por um inimigo mais forte, estabelecia vínculos com outros senhores, condes ou marqueses que reconheciam a superioridade de algum príncipe ou grão-duque. No alto dessa pirâmide, pelo menos em teoria, estava o rei. Na prática, o rei só exercia autoridade sobre seus domínios particulares. Aos poucos, perdeu-se a noção de Estado Estado. A autoridade era exercida pelos donos das propriedades. Homenagem e benefício: senhores e vassalos O vínculo entre aquele que pedia proteção e o que protegia ocorria numa cerimônia chamada de homenagem homenagem. Nessa cerimônia, aquele que pede proteção ajoelha-se para o protetor e se declara seu vassalo vassalo. Isto significa que o reconhece como senhor senhor, ao qual jura fidelidade e confia suas terras. O senhor aceita a vassalagem e lhe promete proteção, entregando-lhe um benefício benefício, ou seja, lhe devolvia as terras ou lhe doava outros bens, tais como terras, moinhos e direitos sobre rios ou estradas. A entrega do benefício se materializa na cerimônia de investidura investidura, em que o senhor colocava nas mãos do vassalo um objeto simbólico. Os benefícios eram chamados de feudos feudos, palavra derivada de “foedum” “foedum”, em germânico antigo. A cerimônia de investidura estabelecia deveres e direitos entre o senhor e o vassalo. l l A U L A 12 O vassalo devia ao senhor assistência, fidelidade e conselho. O senhor obrigava-se a proteger e cuidar de seu vassalo. O sistema se estendeu rapidamente: em meados do século IX IX, quase todos os europeus eram vassalos de algum senhor senhor. E todos os bens eram benefícios ou feudos de alguém. O dono de um feudo exercia autoridade de soberano sobre seu território: l l l l l cunhava moeda moeda; tinha exército próprio; declarava a guerra; administrava a justiça justiça; cobrava impostos impostos. A sociedade feudal A sociedade feudal era dividida em duas castas: os senhores e os vassalos vassalos, geralmente camponeses ou artesãos. Os senhores: a cavalaria Os senhores constituíam a classe privilegiada. Eram os terratenentes, os donos de campos e castelos. Sua única limitação era serem vassalos de algum outro senhor. Por causa disso, havia uma divisão dentro de sua própria casta. l l A alta nobreza era formada por duques duques, marqueses e viscondes. A pequena nobreza era formada por simples senhores de terras, cavaleiros e barões barões. Os senhores feudais tinham uma educação militar militar, pois viviam para a guerra e para os lucros que esta trouxesse. A carreira de cavaleiro iniciava-se cedo: o aspirante começava como pajem ou criado de algum cavaleiro. Aos 14 anos tornava-se escudeiro escudeiro. Aos 20, era sagrado cavaleiro cavaleiro. Quando não estavam em guerra, os cavaleiros passavam o tempo disputando torneios torneios, uma espécie de combates simulados. Os camponeses: a servidão A servidão era a outra face do feudalismo. Os servos da gleba eram quase escravos. Eles e suas famílias estavam presos à terra e só adquiriam a liberdade Invasão de castelo na Idade Média. A U L A 12 mediante um pagamento, o que era muito difícil. Sofriam a injustiça e a miséria. A grande massa da população rural mantinha os privilégios dos senhores com seu trabalho no campo. As revoltas contra os senhores eram freqüentes e terminavam após lutas sangrentas. Além dos camponeses, presos à terra por laços de vassalagem, havia também os vilões que moravam nas vilas e aldeias. Estes trabalhavam para um senhor, mas conservavam a liberdade pessoal. A sociedade feudal vivia um precário equilíbrio. Qualquer imprevisto, uma colheita insuficiente ou impostos excessivos, detonava reações violentas. A Igreja feudal Durante esse período, a Igreja também se feudalizou. Bispos e abades tornaram-se senhores de terras. A conseqüência disso foi que mosteiros e igrejas se transformaram em unidades de produção agrícola agrícola. Os mosteiros beneditinos de Cluny Cluny, na França, foram exemplo de organização. Seu modelo foi copiado por muitos mosteiros. A Igreja feudal também adotou os defeitos do sistema: bispos e abades dependiam da nomeação do rei ou de algum grande senhor. Estes, muitas vezes, elegiam parentes e amigos. Durante esse período, a venda de cargos na Igreja, a simonia simonia, era muito comum. As novas heresias As reações contra a situação da Igreja feudal não demoraram. Em vários lugares, surgem tentativas de reforma dos dogmas dogmas, os ensinamentos oficiais da Igreja. l l Cátaros e albigenses pregam a rejeição à Igreja a partir de Alby, no sul da atual França. O movimento se expande e assume proporções de uma revolução social. Protegidos pelo conde de Toulouse Toulouse, bandos de fanáticos queimam aldeias e castelos e massacram os habitantes. Em 1208 1208, após o assassinato do enviado papal, Inocêncio III convocou uma cruzada contra os albigenses. O movimento foi sufocado depois de vinte anos de lutas sangrentas. Até o século XII, a Igreja castigava os hereges com o desterro e a prisão. Em 1231 1231, o papa Gregório IX cria o Tribunal da Inquisição Inquisição. A principal função desse tribunal era “inquirir” e punir as doutrinas contrárias aos dogmas da Igreja. O tribunal do Santo Ofício Ofício, como passou a ser chamado, se estabeleceu na França e na Germânia. A ação do tribunal se estendeu rapidamente pelos reinos cristãos. O cisma grego Além dos problemas internos provocados pelos protestos que surgiam, a Igreja teve de enfrentar a divisão, resultado da crescente tensão entre a Igreja de Roma e a Igreja bizantina bizantina, que culmina, em 1054, com a separação das duas Igrejas. Os Papas reformistas Três Papas realizaram reformas para combater a desordem da Igreja de Roma: l l l Nicolau II (1058-1061) regulamentou a eleição dos papas pelos cardeais. Até 1059 1059, estes eram eleitos pelos senhores feudais mais poderosos. Gregório VII (1073-1085) submeteu o imperador do Sacro Império Romano-Germânico à autoridade papal e foi responsável pelo apogeu da Igreja de Roma. Proclamou o celibato dos padres, proibiu as simonias e deu ao papado o direito de nomear e demitir os bispos e até os reis. Inocêncio III (1198-1216) completou as reformas internas da Igreja iniciadas por Nicolau II e Gregório VII, visando afastála do poder secular. Com ele, o papa torna-se representante de Cristo na terra; por meio dele, os soberanos laicos recebem seus feudos e reinos. A reforma dos mosteiros O movimento renovador iniciado por estes papas se refletiu também na vida dos mosteiros. O movimento partiu de Cluny e se alastrou por toda a Europa. O mosteiro de Cister pregava uma volta aos ensinamentos de são Bento, fundador da Ordem Beneditina, com mais disciplina e severidade. As ciências e as artes Durante a maior parte da Idade Média, os mosteiros eram os únicos centros de cultura existentes na Europa. Manuscritos e obras da Antiguidade clássica eram preservados e copiados pelos monges, escribas de uma sociedade de analfabetos. Com o crescimento das cidades, surgiu a necessidade de novos centros de cultura, já que os mosteiros ficavam muito longe. As universidades Inicialmente, as universidades surgiram perto das catedrais e estavam vinculadas à Igreja, detentora do saber durante toda a Idade Média. Além das matérias “clássicas” ensinadas nos mosteiros, como a matemática matemática, a retórica retórica, a dialética dialética, a geometria geometria, a astronomia astronomia, e a música música, as universidades iniciam o ensino do direito e da medicina medicina. Estudantes e professores logo se organizaram em corporações e grêmios grêmios. Graças a essa organização, as universidades logo conquistaram o privilégio da autonomia perante os reis e o Papa. A primeira universidade, fundada em Bolonha em 1158 1158, por Federico Barbarossa, especializou-se no ensino do direito imperial romano. Em pouco tempo, fundaram-se universidades em Salerno Salerno, Paris Paris, Oxford Oxford, Cambridge Cambridge, Coimbra e Salamanca Salamanca. A U L A 12 A arquitetura dessa época mostra linhas simples. A U L A 12 A escolástica Nesse momento, surgiram pensadores que procuravam harmonizar o pensamento de Aristóteles com os princípios cristãos. Destacam-se as obras de Santo Alberto Magno Magno, sábio alemão e professor de teologia em Paris, e Santo Tomás de Aquino Aquino, considerado a figura intelectual mais notável da Idade Média e autor teológica. da Suma teológica A arte românica Com o fim das invasões e a estabilização da sociedade feudal, surge um estilo arquitetônico chamado de românico românico. O românico utiliza elementos criados pelos romanos, tais como o arco e a semicircunferência semicircunferência. Suas sólidas construções, castelos, pontes, igrejas e mosteiros, caracterizam o estilo da época feudal. O Sacro Império Romano-Germânico A criação do Sacro Império Romano-Germânico constituiu mais uma tentativa de unificar a Europa patrocinada pela Igreja. O entendimento entre o Papa e o imperador fracassou por causa da disputa de poder entre a Igreja e o Império. Nessa luta, nenhum dos dois lados levou vantagem. O resultado foi o enfraquecimento de ambos. O reino germânico Após a morte de Carlos Magno, o reino germânico foi dividido em muitos Estados independentes chamados ducados e marcas. Em 910 910, Conrado Conrado, duque da Francônia Francônia, foi eleito pelos senhores feudais para ocupar o trono da Germânia. Era o início do Sacro Império. Apesar disso, os reis alemães estiveram constantemente em conflito com os senhores feudais e com o maior poder organizado da Idade Média: a Igreja Católica. Em pouco tempo, ficou claro que cada qual procurava intervir nos assuntos internos do outro. Igreja e Império lutaram durante 200 anos para ver qual dos dois era mais poderoso. A disputa terminou com a liquidação política de ambos. A reforma da Igreja A Igreja teve seus poderes comprometidos por causa da constante intervenção dos senhores feudais e do imperador. Era necessário tornar a Igreja independente e restaurar a disciplina interna, pois senhores e príncipes intervinham na distribuição de cargos eclesiásticos. A reforma da Igreja começou com o papa Nicolau II II. Ele regulamentou a eleição dos papas pelos cardeais. Ao retirar esse privilégio do imperador, a Igreja desafiou o poder imperial. Igreja versus Império Eleito pelo novo sistema, o papa Gregório VII pretendia restaurar a autoridade do papa sobre os reis e príncipes cristãos. Para tanto, convocou um concílio para proibir a intervenção de civis nos assuntos internos da Igreja, sob pena de excomunhão. Os clérigos que aceitassem cargos oferecidos por civis ou casassem também estavam sujeitos a essa punição. Para verificar o cumprimento dessas normas, Gregório VII criou um corpo de fiscais fiscais, os Enviados Pontifícios Pontifícios. Nesse momento, Império e Igreja entram em conflito frontal. O imperador Henrique IV desobedeceu ao Papa e continuou distribuindo cargos eclesiásticos. Gregório VII reagiu: pela primeira vez na História, o Papa excomungava um imperador, retirando-lhe o título que havia recebido de suas próprias mãos. A solução dos conflitos entre Igreja e Império só viria com a Concordata de Worms Worms. Segundo esse acordo, o Papa e o imperador reconheciam a independência mútua de cada um. O apogeu cristão Uma vez resolvidos os conflitos entre Igreja e Império, os Papas tornam-se chefes absolutos dos cristãos europeus e se voltam para assuntos internacionais: A Palestina Palestina, local do nascimento e morte de Cristo, estava em mãos dos turcos seljúcidas seljúcidas. O papado organizou uma campanha para libertar o Santo Sepulcro dos hereges. As cruzadas O Papa Urbano II organizou a primeira expedição à Terra Santa. Em pouco tempo, reuniu um exército de 500 mil guerreiros de todos os países da Europa. l l A primeira cruzada partiu rumo à Palestina em 1096 1096. A cruzada popular popular, formada por camponeses armados de paus e facas, foi dizimada pelos turcos. A cruzada dos cavaleiros teve mais êxito. Em 1099 1099, guerreiros cristãos tomam Jerusalém Jerusalém. A vitória incentivou o surgimento de associações de religiosos e militares para defender os “santos lugares”. O Reino Cristão de Jerusalém foi dividido em vários principados feudais. Mas as lutas internas e as divisões entre os príncipes cristãos acabaram isolando os cruzados. Cinqüenta anos depois, partiu a segunda cruzada rumo à Terra Santa. A expedição comandada por Conrado III e Luís VII da França foi derrotada em Damasco. A U L A 12 O apogeu do papado: Inocêncio III A U L A 12 Apesar do fracasso das cruzadas, o papado viveu dias de glória: os papas tornaram-se juízes dos reis e intervinham em assuntos políticos e religiosos. O Papa Inocêncio III interveio nos lugares em que a ordem cristã estava comprometida. l l l l Organizou uma cruzada para reprimir hereges no sul da França. Ajudou o rei de Castela a combater os muçulmanos na península Ibérica. Organizou a quarta cruzada cruzada. Partindo no ano 1200 1200, os cruzados tomaram Bizâncio, destronaram o imperador bizantino e estabeleceram um reino latino. Organizou a quinta cruzada cruzada, em 1215 1215, que fracassou. O fim da luta: Frederico II Na condição de imperador do Sacro Império Romano-Germânico e rei das Duas Sicílias, Frederico II pretendia unificar seus domínios. Para realizar esse desejo, teve de enfrentar o Papa, protetor da independência das cidades do norte da Itália. Frederico se dispôs a organizar a sexta cruzada, sem jamais cumprir o prometido. O Papa o excomungou. Finalmente, Frederico partiu rumo à Síria, em 1230 1230, onde assinou um tratado de paz com o sultão do Egito. Segundo esse tratado, os cristãos receberiam as cidades santas de Jerusalém, Belém e Nazaré. Em contrapartida, os cristãos reconheciam a liberdade de culto para os muçulmanos. Por causa disso, o Papa o excomunga mais uma vez. A decadência do Império A partir desse momento, a luta entre Frederico e o Papa pela posse das cidades do norte da Itália tornou-se feroz. Guelfos (como eram chamados os partidários da Papa) e gibelinos (os partidários do Imperador) se esfaqueavam em todo o Império. 1250, Frederico morre. Era o fim da intervenção do Império Germânico Em 1250 na península Itálica. O Império entrou em decadência. Durante trinta anos, os senhores feudais não permitiram a eleição de um novo imperador. Exercícios Exercício 1 Por que, durante o feudalismo, perdeu-se a noção de Estado? Exercício 2 Destacar os poderes que eram exercidos pelos senhores feudais. Exercício 3 O que foram as cruzadas?