a relevância de coesão e coerência na compreensão e

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LUCIANA MINIOLI SARACHO BERNARDO
A RELEVÂNCIA DE COESÃO E COERÊNCIA NA
COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS
NÚCLEO DE APOIO DE SÃO PAULO – MOEMA
JABOTICABAL – SP
2008
LUCIANA MINIOLI SARACHO BERNARDO
A RELEVÂNCIA DE COESÃO E COERÊNCIA NA
COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Faculdade
de
Educação
São
Luis,
como
exigência parcial para a Conclusão do curso de
Pós-Graduação
Portuguesa,
Latu
Sensu
Compreensão
e
em
Língua
Produção
Textos.
Orientadora: Profª. Mara Regina Mellini Jabur
FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS
NÚCLEO DE APOIO DE SÃO PAULO – MOEMA
JABOTICABAL – SP
2008
de
Dedicamos
aos que ainda nutrem amor pelas palavras,
sejam eles seus criadores ou leitores.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Luiz Roberto Wagner, pelo brilhantismo de seus ensinamentos.
À Profª Mara Regina Mellini Jabur, pela orientação.
“Eu entenderia por escrita propriamente
dita a possibilidade de o sujeito ter o seu próprio
discurso.
E
se
entende
por
leitura
a
compreensão, se entende por leitura o acesso a
um conhecimento diferenciado, aquele que lhe
permite reconhecer a sua identidade, seu lugar
social, as tensões que animam o contexto em
que
vive
ou
sobrevive
e,
sobretudo,
a
compreensão, assimilação e questionamento,
seja da própria escrita, seja do real em que a
escrita se inscreve”. (OSAKABE, 1995, p. 22).
RESUMO
O tema abordado neste trabalho acadêmico diz respeito não somente à
conceituação do que vem a ser coesão e coerência, mas sobretudo a relevância de
tais mecanismos sobre a compreensão e produção de textos. E o por texto podemos
apreender qualquer passagem falada ou escrita, que forma um todo repleto de
significado, independente de sua extensão: um diálogo, uma obra literária, uma
matéria jornalística, entre muitos outros. A análise dos fenômenos de coerência e
coesão certamente é fator essencial não somente à produção de um texto inteligível,
como também de uma leitura que permita uma postura crítica, como parte de um
processo consciente do individuo em seu meio social. Este trabalho de conclusão de
curso é composto por cinco capítulos. No primeiro é abordado o conceito de
coerência e sua forte relação com a comunicabilidade, sendo que ela pode ser
classificada em quatro tipos, a saber: semântica, sintática, estilística e pragmática. A
seguir, no segundo capítulo, tratamos da coesão e de seus mecanismos,
resumidamente classificados em coesão gramatical e coesão lexical. No capítulo 3
definimos o que é texto, e quais fatores são responsáveis pela textualidade de um
discurso. Já no capítulo 4 discorremos sobre a influencia dos mecanismos de
coerência e coesão na compreensão e interpretação de textos. No capítulo 5, que
encerra o trabalho acadêmico, é realizada uma análise de um texto literário a fim de
ali explicitar alguns elementos coesivos e de coerência.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................7
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE COERÊNCIA.................................8
1.1 Modalidades de coerência...................................................................................10
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE COESÃO.....................................12
2.1 Mecanismos de coesão.......................................................................................13
2.2 Coesão gramatical ..............................................................................................13
2.3 Coesão lexical .....................................................................................................14
3 TEXTO ...................................................................................................................16
3.1 Conceito de texto ................................................................................................16
4 COERÊNCIA E COESÃO NA COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS .....19
5 ANÁLISE DE COERÊNCIA E COESÃO NO TEXTO DO POEMA "ROSA DE
HIROSHIMA".............................................................................................................21
5.1 Poema “Rosa de Hiroshima” ...............................................................................21
5.2 Análise do texto...................................................................................................22
CONCLUSÃO............................................................................................................24
REFERÊNCIAS.........................................................................................................29
INTRODUÇÃO
Pretendemos abordar neste trabalho os conceitos de coerência e coesão,
mostrando o papel e a importância de cada um desses mecanismos, não só para a
leitura e a compreensão de textos, como também para a sua produção.
A coerência e a coesão conferem textualidade a um conjunto de enunciados.
Assim, a coerência, manifestada predominantemente em nível macrotextual, é o
resultado da possibilidade de se estabelecer alguma forma de unidade ou relação
entre os elementos do texto. E a coesão, manifestada em um nível microtextual,
refere-se ao modo como os vocábulos se ligam em uma seqüência.
É importante também lembrar que a coesão pode auxiliar no estabelecimento
da coerência, embora a coesão nem sempre se manifesta explicitamente através de
marcas lingüísticas, o que faz concluir que pode haver textos coerentes mesmo sem
uma coesão explícita. E tão ou mais importante do que estabelecer conhecimentos
sobre os conceitos de coerência e coesão é saber de que maneira esses fenômenos
contribuem para tornar um texto inteligível.
Cabe argumentar que a coerência (conectividade conceitual) e a coesão
(conectividade seqüencial) são requisitos fundamentais para a elaboração de
qualquer tipo de texto. Enquanto a coerência se fundamenta na continuidade de
sentidos, a coesão pode se apresentar por meio de marcas lingüísticas, observadas
na gramática ou no léxico.
Ao final deste trabalho, temos como objetivo realizar uma análise de um texto
literário, através da identificação dos elementos de coesão e coerência. Para tanto,
utilizaremos o poema "Rosa de Hiroshima", escrito por Vinicius de Moraes.
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE COERÊNCIA
Em nosso cotidiano, são comuns comentários realizados sobre a incoerência
de frases ou mesmo de textos completos, como matérias de jornais ou peças
publicitárias, por exemplo. O que leva as pessoas a tais observações,
provavelmente, é o fato de perceberem que, por algum motivo, escapa a elas o
entendimento de uma frase ou de todo o texto.
O conceito de coerência está, portanto, ligado à compreensão, à possibilidade
de interpretação daquilo que se diz ou escreve. Assim, a coerência é decorrente do
sentido contido no texto, para quem o ouve ou o lê. Uma simples frase, um texto de
jornal, uma obra literária, o discurso de um político ou de um trabalhador, uma
canção, enfim, qualquer comunicação, independente de sua extensão, precisa ter
sentido, isto é, precisa ser coerente.
A coerência depende de uma série de fatores, entre eles o conhecimento do
mundo e o grau em que tal conhecimento deve ser ou é compartilhado pelos
interlocutores; o domínio das regras que norteiam a língua, que irá possibilitar as
várias combinações entre os elementos lingüísticos; os próprios interlocutores,
considerando a situação em que se encontram, suas intenções de comunicação,
suas crenças, e também a função comunicativa do texto.
Portanto, a coerência se estabelece em uma situação comunicativa; ela é a
responsável pelo sentido que um texto deve ter quando partilhado por esses
usuários, entre os quais presumem-se limites partilhados por eles e um domínio
comum da língua.
A coerência se manifesta nas diversas camadas da organização do texto. Ela
tem uma dimensão semântica, pois se caracteriza por uma interdependência
semântica entre os elementos constituintes do texto. Deve ser considerada
9
igualmente sua dimensão pragmática - é fundamental, no estabelecimento da
coerência, o nosso conhecimento de mundo. Esse conhecimento é acumulado ao
longo de nossa existência, de maneira ordenada.
Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo, devemos dizer
que a ele se acrescentam informações novas. Se estas forem muito numerosas, o
texto pode se tornar incoerente devido à falta de familiaridade do ouvinte/leitor com
informações desconhecidas. É o que pode ocorrer, por exemplo, quando lemos um
texto muito técnico.
Na verdade, quando afirmamos que um texto é incoerente, precisamos
esclarecer que motivos nos levaram a afirmar isto. Ele pode ser incoerente em uma
determinada situação, porque quem o produziu não soube adequá-lo ao receptor, ou
não valorizou suficientemente a questão da comunicabilidade; não obedeceu ao
código lingüístico, enfim, não levou em conta o fato de que a coerência está
diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto.
Embora nosso objetivo não seja teorizar em demasia o conceito de coerência,
achamos necessário retomar algumas afirmações feitas por Koch e Travaglia (1989,
p. 57), como pontos de partida para o trabalho: "A coerência é profunda, subjacente
à superfície textual, não-linear, não marcada explicitamente na estrutura de
superfície. (...) Ela tem a ver com a produção do texto, à medida que quem o faz
quer que seja entendido por seu interlocutor. (...) A coerência diz respeito ao modo
como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos
interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos. (...) A coerência, portanto,
longe de constituir mera qualidade ou propriedade do texto, é resultado de uma
construção feita pelos interlocutores, numa situação de interação dada, pela atuação
conjunta de uma série de fatores de ordem cognitiva, situacional, sociocultural e
interacional."
A coerência de uma frase ou de um texto não se define apenas pelo modo
como elementos lingüísticos se combinam; depende também do conhecimento do
mundo partilhado por emissor e receptor, bem como do tipo de texto em questão. O
sentido do texto é viabilizado pela combinação dos elementos presentes numa
progressão harmoniosa.
10
1.1 Modalidades de coerência
Em obra na qual discutem as estratégias cognitivas de compreensão do
discurso, Van Dijk e Kintsch (1983) tratam de coerência local e de coerência global.
Enquanto a primeira se refere a partes do texto, a segunda se refere ao texto como
um todo. Embora já tenha sido dito anteriormente que a coerência diz respeito à
intenção comunicativa do emissor, interagindo, de maneira cooperativa, com o seu
interlocutor, pode incidir, em um mesmo texto, partes ou passagens com problemas
de incoerências − incoerências locais no caso − que acabam por perturbar a
compreensão daquela passagem. A presença de uma incoerência local pode não
prejudicar a compreensão do texto; contudo, uma grande incidência daquelas locais
poderá, sim, afetar o texto como um todo.
Ainda na obra citada, os autores apontam alguns tipos de coerências, a
saber: coerências semânticas, sintáticas, estilísticas e pragmáticas.
A coerência semântica refere-se à relação entre os significados dos
elementos das frases em seqüência; a incoerência aparece quando esses sentidos
não combinam, ou quando são contraditórios. Ainda dentro deste tipo de coerência,
lembramos que o pouco domínio do sentido dos vocábulos e das restrições
combinatórias pode também gerar frases com problemas de compreensão.
Já a coerência sintática refere-se aos meios sintáticos usados para expressar
a coerência semântica.
Quanto à incoerência estilística, esta não chega a perturbar a interpretação
de um texto, já que é uma noção relacionada à mistura de registros lingüísticos. É
desejável a quem escreve ou a quem lê a manutenção de um estilo uniforme.
Entretanto, a alternância de registros pode configurar-se como um recurso estilístico.
A coerência pragmática refere-se ao texto visto como uma espécie de atos de
fala. Para haver coerência nesta seqüência, é preciso que os atos de fala se
realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, em sua vez de falar, deve
conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pessoa faz uma pergunta a
outra, a resposta pode se manifestar por meio de uma afirmação de outra pergunta,
de uma promessa, de uma negação. Qualquer uma dessas seqüências seria
considerada coerente. Por outro lado, se o interlocutor não responder, virar as
costas e sair andando, começar a cantar, ou mesmo dizer algo totalmente
11
desconectado do tema da pergunta, estas seqüências seriam consideradas
incoerentes.
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE COESÃO
São muitos os autores que têm publicado estudos sobre coerência e coesão.
Apoiados nos trabalhos de Koch (1997), Platão e Fiorin (1996), Suárez Abreu (1990)
e Marcuschi (1983), apresentamos algumas considerações sobre o conceito de
coesão com o objetivo de mostrar a presença e a importância desse fenômeno na
produção e interpretação dos textos.
Koch (1997) conceitua a coesão como "o fenômeno que diz respeito ao modo
como os elementos lingüísticos presentes na superfície textual se encontram
interligados, por meio de recursos também lingüísticos, formando seqüências
veiculadoras de sentido." Para Platão e Fiorin (1996), a coesão textual "é a ligação,
a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto." A coesão é,
segundo Suárez Abreu (1990), "o encadeamento semântico que produz a
textualidade; trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo
presente em uma sentença A." Daí a necessidade de haver concordância entre o
termo da sentença A e o termo que o retoma na sentença B. Finalmente, Marcuschi
(1983) assim define os fatores de coesão: "são aqueles que dão conta da
seqüenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma língua que
permitem estabelecer, entre os elementos lingüísticos do texto, relações de sentido."
A coesão pode ser observada tanto em enunciados mais simples quanto e
enunciados mais complexos.
A respeito do conceito de coesão, autores como Halliday e Hasan (1976), em
obra clássica sobre coesão textual - verdadeira base para grande número de
estudos sobre o assunto - afirmam que a coesão é condição necessária, mas não
suficiente, para que se crie um texto. Na verdade, para que um conjunto de
vocábulos, expressões, frases seja considerado um texto, é preciso haver relações
13
de sentido entre essas unidades (coerência) e um encadeamento linear das
unidades lingüísticas presentes no texto (coesão). Mas essa afirmativa não é
categórica nem definitiva, por algumas razões. Uma delas é que podemos ter
conjuntos lingüísticos destituídos de elos coesivos que, no entanto, são
considerados textos porque são coerentes, isto é, apresentam uma continuidade
semântica.
Finalizando, vale dizer que, embora a coesão não seja condição suficiente
para que enunciados se constituam em textos, são os elementos coesivos
evidenciam as relações entre seus diversos componentes. A coerência em textos
didáticos, expositivos e jornalísticos depende da utilização de elementos de coesão.
2.1 Mecanismos de coesão
São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam
os mecanismos de coesão. Consideramos que é necessário perceber como esses
mecanismos estão presentes no texto (quando estão) e de que maneira contribuem
para sua organização.
Para Mira Mateus (1983), "todos os processos de seqüencialização que
asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação lingüística significativa entre os
elementos que ocorrem na superfície textual podem ser encarados como
instrumentos de coesão". Esses instrumentos podem ser divididos em: coesão
gramatical (frásica, interfrásica, temporal e referencial) e coesão lexical.
2.2 Coesão gramatical
A coesão gramatical faz-se por meio da ordem dos vocábulos, dos
conectores, das concordâncias nominais e verbais, dos pronomes pessoais de
terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos,
indefinidos, interrogativos, relativos, dos diversos tipos de numerais, advérbios,
artigos definidos e de expressões de valor temporal.
14
Passaremos a ver agora separadamente cada um dos tipos de conexão
gramatical, que, como já citamos em tópico anterior, dividem-se em: frásica,
interfrásica, temporal e referencial.
A coesão frásica é o tipo de coesão que estabelece uma ligação significativa
entre os componentes da frase, com base na concordância entre o nome e seus
determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e seus predicadores, na
ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal.
A coesão interfrásica designa os variados tipos de interdependência
semântica entre as frases na superfície textual. É necessário, portanto, usar o
conector adequado à relação que queremos expressar.
Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em
que a coesão se dá em função da seqüência do texto, da ordem em que as
informações, as proposições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando isto
acontece, ainda que os operadores não tenham sido explicitados, eles são
depreendidos da relação que está implícita entre as partes da frase.
A coesão temporal é uma seqüência que só se apresenta coesa e coerente
quando a ordem dos enunciados estiver de acordo com aquilo que sabemos ser
possível de ocorrer no universo a que texto se refere, ou no qual o texto se insere.
Se essa ordenação temporal não for suficiente à satisfação de tais condições, o
texto apresentará problemas em seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo
emprego adequado dos tempos verbais, obedecendo a uma seqüência plausível, ao
uso de advérbios que ajudam a situar o leitor no tempo.
A coesão referencial é um componente da superfície textual que faz
referência a outro componente já colocado anteriormente. Para esta referência são
largamente empregados os pronomes pessoais de terceira pessoa, pronomes
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de
numerais, advérbios e artigos.
2.3 Coesão lexical
Neste tipo de coesão usamos termos que retomam vocábulos ou expressões
que já ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até
15
mesmo opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a reiteração e a
substituição.
Por reiteração entendemos a repetição de expressões lingüísticas. Neste
caso existe identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral, bastante
usado nas propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor reter o nome e as
qualidades do que é anunciado.
Ao tratar do processo lingüístico da substituição, a autora Maria Helena Mira
Mateus (1983) assinala-lhe os tipos: sinonímia, antonímia, hiperonímia e hiponímia.
A sinonímia é definida por uma maior presença de traços idênticos (Van Dijk,
1992), e a antonímia, por traços semânticos opostos. A hiperonímia ou a hiponímia
se dá entre proposições subseqüentes: hiperonímia ocorre quando o primeiro
elemento apresenta um sentido mais genérico do que o segundo elemento, mais
específico; a hiponímia é observada exatamente quando ocorre o inverso.
3 TEXTO
3.1 Conceito de texto
Como o objetivo de nosso trabalho é mostrar como estão empregados em um
texto os conceitos de coerência e coesão, nada mais apropriado do que sabermos o
que é um texto, e quais são os mecanismos que o fazem como tal.
O texto consiste em qualquer passagem falada ou escrita, que forma um todo
significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois, de uma unidade de
sentido, de um conjunto de relações responsáveis pela tessitura do texto.
Chama-se textualidade a conjunto de característica que fazem com que um
texto seja um texto, e não apenas uma seqüência de frases. Beaugrande e Dressler
(1983) apontam sete fatores responsáveis pela textualidade de um discurso
qualquer: a coerência e a coesão (conceitos já abordados por nós), que se
relacionam com o material conceitual lingüístico do texto, e mais: intencionalidade,
aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e a intertextualidade, relacionada
aos fatores pragmáticos envolvidos no processo sócio-comunicativo.
A fim de explicitar melhor o conceito de texto descrito acima, passemos a
uma descrição de alguns itens que fazem do texto um texto.
A coerência textual, um dos temas já abordados no presente trabalho, está
diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto, ou
seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os leitores, devendo,
portanto, ser entendida como um princípio de interpretação. Já a coesão pode ser
tratada como o encadeamento dos parágrafos, como se ligam entre si, atentando
17
para o fato de que um texto pode muito bem ser coeso e, no entanto, incoerente.
Como exemplo poderíamos citar a seguinte frase: “Estive no deserto do Saara e tão
facilmente não esquecerei das torrenciais chuvas que presenciei durante toda a
viagem”.
Já a intencionalidade em um texto exige do produtor a construção de um
discurso coerente e coeso, capaz de satisfazer os objetivos em uma determinada
situação comunicativa (informar, convencer, pedir, etc).
A aceitabilidade dá-se quanto à expectativa de que o recebedor tenha acesso
a um texto coerente e coeso.
Quanto à situacionalidade, esta refere-se à adequação do texto com a
situação sócio-comunicativa, responsável pela pertinência e relevância do texto.
A informatividade é um dos fatores constitutivos da unidade textual. Não se
deve depreender, contudo, que ela só está presente nos textos eminentemente
referenciais. Textos de qualquer natureza veiculam algum tipo de informação, desde
os textos de comunicação diária, oral ou escrita, até aqueles com intenção estética,
como os poéticos, por exemplo.
E, ainda segundo os ensinamentos de Beaugrande e Dressler (1983), temos
a intertextualidade - para isso o texto deve interagir com outros textos que funcionam
em seu contexto
Ainda para analisar a textualidade de um texto, Charolles apud Costa Val
(1991), apresenta quatro meta-regras. São elas a continuidade, a progressão, a não
contradição e a articulação, sobre as quais discorreremos logo a seguir.
Entendemos por continuidade a retomada de elementos no decorrer do
discurso, resultando em uma seqüência constante. Já a progressão complementa a
repetição e garante a retomada de elementos passados, garantindo que o texto não
se limite a repetir indefinidamente o que já foi colocado. Dessa forma equilibra-se o
que já foi dito com o que se vai dizer, oferecendo a continuidade do tema e a
progressão do sentido.
A meta-regra da não contradição se traduz em um texto que deve obedecer a
regras básicas. Suas ocorrências têm que ser compatíveis entre si, não só no que
trazem explícito, como também no que delas se pode concluir por pressuposição a
inferência.
18
Por fim, a articulação é responsável pela maneira com os fatos apresentados
no texto se encadeiam formando uma relação de continuidade, progressão e não
contradição, para que um texto se caracterize como tal.
Porém, todos estes itens descritos acima sempre terão que se adequar aos
conceitos de coerência e coesão, na forma como se relacionam com cada item.
4 COERÊNCIA E COESÃO NA COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS
Há nos estudos sobre coerência e coesão uma posição comum quanto à
intima relação entre esses dois mecanismos na produção e compreensão de textos.
Vimos que a coesão não garante a coerência, embora concorra para que esta se
estabeleça. Charolles (1986) é muito claro quando afirma que "o uso dos
mecanismos coesivos tem por função, facilitar a interpretação do texto e a
construção da coerência pelos usuários. No entanto, os mecanismos coesivos,
podem produzir incoerências; como possuem, por convenção, funções específicas,
não podem ser usados sem respeitar tais convenções. Se isto acontecer, isto é , se
o seu uso contrariar a sua função, o resultado será a incoerência ou a falta de
seqüencialidade de modo que o leitor não será capaz de construir a interpretação
adequada".
A coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um
sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os
usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretação,
ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que
o receptor tem para calcular o sentido deste texto. Este sentido, evidentemente,
deve ser do todo, pois a coerência é global. (Koch, 2001, p. 21)
Além disso, vale lembrar que a coerência textual relaciona-se com a coesão
do texto, "pois por coesão se entende a ligação, a relação, os nexos que se
estabelecem entre os elementos que constituem a superfície textual" (Koch, 2001, p.
40). Contudo, a coesão não é suficiente para atribuir sentido ao texto, esse papel é
confiado à coerência. Assim, "podemos dizer que a coerência dá origem à
textualidade, entendo-se por textualidade "aquilo que converte uma seqüência
lingüística em texto". " (Koch, 2001, p. 45) Nesse sentido, o texto será incoerente se
20
"seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando em conta a intenção
comunicativa, objetivos, destinatário, regras sócio-culturais, outros elementos da
situação, uso dos recursos lingüísticos, etc. Caso contrário, será coerente". (Koch,
2001, p. 50)
Na atividade de produção de textos, percebemos que, muitas vezes, os
problemas mais graves advêm das falhas na estruturação da frase, da incoerência
das idéias, da ausência de unidade e encadeamento lógico dos argumentos. Daí a
necessidade de saber lidar com a coerência e a coesão, mostrando como cada uma
delas contribui para a elaboração de um bom texto.
Portanto, se o professor quer que seus alunos produzam textos coerentes e
coesos, pode, em primeiro lugar, mostrar a presença desses mecanismos em texto
literários, não-literários, jornalísticos, publicitários. Desta forma, vai familiarizar seu
público com essas novas aquisições lingüísticas. Assim os alunos perceberam como
são feitas as relações textuais, com a utilização dos chamados recursos de coesão
textual ou instrumentos de coesão. Como afirma Koch (1990), "um professor pode
fazer grandes modificações em sua metodologia de ensino de produção e
compreensão de textos, baseando-se nas descobertas da lingüística textual sobre
coesão e coerência".
5 ANÁLISE DE COERÊNCIA E COESÃO NO TEXTO DO POEMA "ROSA DE
HIROSHIMA"
5.1 Poema “Rosa de Hiroshima”
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas,
Pensem nas meninas
Cegas inexatas,
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas,
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas.
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa!
Da rosa de Hiroshima,
A rosa hereditária,
A rosa radioativa
Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose,
A anti-rosa atômica.
Sem cor, sem perfume,
Sem rosa, sem nada.
Vinicius de Moraes
Poesia completa e prosa, Nova Aguiar, 1968
22
5.2 Análise do texto
Como parte prática do nosso trabalho iremos realizar a análise do texto
escolhido. O texto em questão, como já foi pontuado anteriormente, trata-se de um
poema, ou seja, a análise será feita através de seus versos.
Devemos considerar, primeiramente, que, para a compreensão dos versos do
poeta Vinicius de Moraes, é de rigor o acionamento do conhecimento de mundo do
leitor para que as palavras ganhem sentido dentro do contexto. O sentido, aqui, é o
fator que confere coerência ao texto em análise. E o conhecimento de mundo
necessário para que focalizemos todo o seu significado, todo o significado de seus
versos, é o conhecimento de nossa História: a cidade de Hiroshima, localizada no
Japão, foi alvo de bombardeio atômico realizado pela Força Aérea dos Estados
Unidos ao final da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente na data de 06 de
agosto do ano de 1945. Deste ataque muitos fatos decorreram, tais como a rendição
do Japão e o fim da segunda Grande Guerra. Contudo, para a correta análise do
texto, deve-se levar em conta o elemento humano: as mortes ocasionadas em razão
do ataque, e mesmo as justificativas, ou melhor, a falta de justificativa para uma
atrocidade que vitimou centenas de milhares de pessoas.
Aqui, além da informatividade, a intertextualidade não se concretiza somente
pelo conhecimento de nossa História, enfim, de Mundo, mas também de nossa
cultura brasileira: no ano de 1973, o poema tornou-se canção por autoria de Gerson
Conrad e ganhou vida na voz do cantor Ney Matogrosso, quando era componente
do conjunto musical Secos e Molhados. Desde então o poema se tornou mais e
mais conhecido, como uma citação presente em muitos textos pacifistas, livros
didáticos e matérias jornalísticas.
Assim sendo, os versos de "Rosa de Hiroshima", ainda que carregados de
lirismo, caracterizam-se por um certo tom de protesto, ainda que pacífico – protesto
contra a guerra, contra as atrocidades por ela geradas. Dessa forma, ao
aprofundarmos a análise de texto, podemos afirmar que existe o elemento de
coerência nos versos do autor, vez que percebemos a adequação ao contexto
extraverbal – no presente caso, a guerra, o bombardeio atômico, as mortes
ocorridas – e que necessita de conhecimento do receptor do texto.
Não bastasse, nesse poema o autor atingiu um estilo de ressignificação
através da simplicidade na escolha das palavras e do jogo de idéias do poema na
23
interposição constante de adjetivações, verso a verso: “Pensem nas crianças/
Mudas telepáticas/ Pensem nas meninas/Cegas inexatas(...)”. O tema é a critica
contra a guerra, o quão inaceitável ela deve ser, e assim podemos dizer que se trata
de um texto que cumpre o quesito de aceitabilidade dos fatores pragmáticos.
Sob o viés do conceito dos mecanismos de coesão, podemos atentar para a
primeira parte do poema, que compreende seus primeiros oito versos. Ali
encontramos o mecanismo de coesão gramatical frásica, consoante se dessume
pela ligação entre os componentes de cada frase (verso), baseada na concordância
entre o sujeito e predicadores, como no exemplo a seguir: “Pensem nas mulheres/
rotas alteradas”. Mais adiante, encontramos, precisamente na segunda e final parte
do poema, a repetição do termo “rosa“ em distintos versos. Aplicando-se novamente
os conhecimentos discorridos em nosso trabalho, a repetição de tal palavra
configura-se uma coesão lexical por reiteração, como aqui podemos apreciar: “A
rosa com cirrose/a anti-rosa atômica”. Nota-se que tal palavra é repetida a fim de
que o leitor a retenha em seu verdadeiro significado explorado pelo poeta Vinicius de
Moraes: a rosa, pelo formato do desabrochar de suas pétalas, é aqui comparada,
como recurso dramático, à explosão da bomba atômica; assim, a palavra “rosa” no
poema ganha um novo e triste significado: o da própria bomba atômica e seus
avassaladores
efeitos,
exemplificados
como
a
hereditariedade
–
pois
a
radioatividade acarreta na mutação genética dos indivíduos que sofreram seus
efeitos, e assim são transmitidos de geração a geração; a invalidez, em razão de
males causados pela emissão da bomba, tais como cegueira, queimaduras graves,
mutilações, entre muitas outras conseqüências, e a cirrose, como uma das formas
de câncer desenvolvidas pelas vítimas atingidas por uma radioatividade intensa.
Portanto pode-se dizer aqui que a coerência textual funde-se ao sentido. Um
texto que contém sentido é coerente. Se um texto é bem estruturado, bem
planejado, sua coerência influirá na boa estruturação dos fatores de coesão. A
coerência e a coesão do texto analisado por nós mantêm íntimas correlações, o que
faz com que a coesão seja efeito da coerência do texto. Neste texto, a coerência é
depreendida da contextualização histórica do ataque nuclear sobre a cidade de
Hiroshima.
CONCLUSÃO
Neste trabalho, abordamos os conceitos de coerência e coesão, através da
exposição de seus mecanismos. Dessa forma, foi possível aplicar seus conceitos
não somente à leitura e compreensão de textos, mas igualmente à sua produção.
Tais mecanismos contribuem para um texto dotado de sentido e significado.
O mecanismo da coerência, abordado já no primeiro capítulo, é manifestado
em diversas camadas de organização de um texto. A coerência apresenta não
somente uma dimensão semântica, por caracterizar-se pela interdependência
semântica entre os elementos constituintes do texto, mas também deve ser
considerada a sua dimensão pragmática, já que é fundamental nosso conhecimento
de mundo, acumulado ao longo de nossa existência e de maneira ordenada.
Os autores Van Dijk e Kintsch (1983) apontam alguns tipos de coerências,
tais como a coerência semântica; a sintática; a estilística e a pragmática.
A coerência semântica refere-se à relação entre os significados dos
elementos das frases em seqüência. Assim sendo, um texto é quando esses
sentidos não combinam, ou quando são contraditórios. Já a coerência sintática
refere-se aos meios sintáticos utilizados a fim de expressar a coerência semântica.
A coerência estilística dá-se quando não existe mistura de registros
lingüísticos, resultando em um estilo uniforme. No entanto, quando o estilo deixa de
ser uniforme, tal ocorrência pode tão somente configurar-se como um recurso
estilístico. A coerência pragmática, por fim, refere-se ao texto visto como uma
espécie de atos de fala, em seqüência.
No tocante à coesão, assunto tratado em nosso segundo capítulo, seja
manifestada em nível microtextual - ao contrário do mecanismo de coerência,
manifestado sobretudo em esfera macrotextual - são os elementos coesivos que
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evidenciam as relações entre seus diversos componentes, ou como os vocábulos
são ligados em uma seqüência. A coerência presente nos mais distintos tipos de
texto, depende da utilização de elementos de coesão.
Diversos autores descreveram os mecanismos de coesão, como estes se
dispõem no texto e como maneira contribuíram para sua organização.
Adotamos nesse trabalho acadêmico a conceituação da autora Mira Mateus
(1983), a qual os instrumentos de coesão podem ser divididos em coesão gramatical
e lexical. A primeira ocorre por meio da ordem dos vocábulos das concordâncias
nominais e verbais, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos),
pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, dos
diversos tipos de numerais , advérbios, artigos definidos e de expressões de valor
temporal. Já a segunda - lexical – ocorre quando há termos que retomam vocábulos
ou expressões já ocorridas, porque existem ali traços semânticos semelhantes ou
opostos.
A coesão gramatical foi subdividida pela autora em frásica, interfrásica,
temporal e referencial. A coesão gramatical frásica estabelece uma ligação
significativa entre os componentes da frase, com base na concordância entre seus
termos;
a
coesão
gramatical
interfrásica
designa
os
variados
tipos
de
interdependência semântica entre as frases num dado texto. A coesão gramatical
temporal é uma seqüência que se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos
enunciados está de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no
universo a que texto se refere, ou no qual o texto se insere. Por fim, a coesão
gramatical referencial ocorre quando um componente do texto faz referência a outro
já colocado anteriormente, tais como os pronomes pessoais de terceira pessoa,
pronomes
possessivos,
demonstrativos,
indefinidos,
interrogativos,
relativos,
diversos tipos de numerais, advérbios e artigos.
E, encerrando o segundo capítulo, temos os tipos de coesão lexical:
reiteração e substituição. A primeira refere-se à repetição de expressões da língua.
Já em relação à substituição, são assinalados os tipos - sinonímia, antonímia,
hiperonímia e hiponímia. A sinonímia ocorre quando há uma maior presença de
traços idênticos e a antonímia, por traços semânticos opostos. A hiperonímia ou a
hiponímia se dá entre proposições subseqüentes. A hiperonímia acontece quando o
primeiro elemento apresenta um sentido mais genérico do que o segundo elemento,
mais específico; a hiponímia é observada exatamente quando ocorre o inverso.
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Em nosso terceiro capítulo, aprofundamos o conceito de texto. E como é
nosso o objetivo mostrar como estão empregados em um texto os conceitos de
coerência e coesão, definimos então o que é um texto, e os mecanismos que o
identificam.
O texto consiste em qualquer passagem falada ou escrita, que forma um todo
significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois, de uma unidade de
sentido, e não apenas uma seqüência de frases. A essa unidade dá-se o nome de
textualidade.
Os autores Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores responsáveis
pela textualidade de um discurso qualquer: além da coerência e a coesão os fatores
de
intencionalidade,
aceitabilidade,
situacionalidade,
informatividade
e
a
intertextualidade.
A coerência textual está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer
um sentido para o texto; a coesão pode ser tratada como o encadeamento dos
parágrafos; a intencionalidade em um texto exige do produtor um discurso coerente
e coeso, capaz de satisfazer os objetivos em uma comunicação; a aceitabilidade
depende da expectativa de que aquele que recebe o texto tenha acesso a um texto
coerente e coeso; a situacionalidade é adequação do texto com a situação que torna
o texto pertinente e relevante; a informatividade constitui a unidade textual. Por fim
temos a intertextualidade, ou seja, a interação do texto com outros textos que
funcionam em seu contexto.
Ainda no capítulo 3, Charolles apud Costa Val (1991), apresenta quatro metaregras para a textualidade: continuidade, progressão, a não contradição e a
articulação.
A continuidade significa a retomada de elementos no decorrer do discurso,
como uma seqüência constante. Por sua vez, a progressão complementa a
repetição e garante a retomada de elementos passados. A meta-regra da não
contradição se traduz em um texto que deve obedecer a regras básicas. Suas
ocorrências têm que ser compatíveis entre si. Ao final, a articulação é responsável
pela maneira com os fatos apresentados no texto se encadeiam formando uma
relação de continuidade, progressão e não contradição, para que um texto se
caracterize como tal.
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No entanto, todas as meta-regras acima dispostas sempre terão que se
adequar aos conceitos de coerência e coesão, na forma como se relacionam com
cada item.
No quarto e penúltimo capítulo, tratamos da aplicabilidade dos conceitos de
coerência e coesão na compreensão e produção de textos. Nem sempre a coesão
garante a coerência, embora concorra para que esta se estabeleça. Segundo Koch
(2001), a coerência estabelece um sentido para o texto, tal qual um princípio de
interpretação, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à
capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto.
Além disso, vale lembrar que a coerência textual relaciona-se diretamente
com a coesão do texto, pois, consoante Koch (2001), a coesão representa a ligação
entre os elementos do texto. No entanto, a coesão não é suficiente para atribuir
sentido ao texto. Esse papel cabe à coerência. Assim o texto será incoerente se "seu
produtor não souber adequá-lo à situação, levando em conta a intenção
comunicativa, objetivos, destinatário, regras sócio-culturais, outros elementos da
situação, uso dos recursos lingüísticos, etc. Caso contrário, será coerente". (Koch,
2001, p. 50)
Na produção de textos, as falhas na estruturação da frase, a incoerência das
idéias, a ausência de unidade e o encadeamento lógico dos argumentos constituem
problemas graves e recorrentes. Daí a importância do conhecimento dos
mecanismos de coerência e coesão, e suas contribuições para um texto bem
elaborado.
Ao final do trabalho, ou seja, no capítulo 5, analisamos um texto literário, onde
nele identificamos os mecanismos de coesão e coerência. Para tanto, baseamos
nossa análise no poema “Rosa de Hiroshima”, de autoria de Vinicius de Moraes.
E encontramos em seus versos a informatividade e intertextualidade. Ou seja:
para sua compreensão, é necessário o conhecimento de mundo do leitor/receptor
para que as palavras façam sentido dentro do contexto. E o sentido é o que confere
aqui a coerência. O conhecimento necessário para a compreensão do texto é o
bombardeio nuclear do qual a cidade de Hiroshima foi vítima no ano de 1945. Além
do fator histórico, uma leitura correta do poema exige atenção para a questão
humana: um acontecimento de importância mundial que levou à morte de muitas
vítimas, e cuja finalidade foi amplamente questionada. Tais questões são
fundamentais à compreensão do receptor do texto.
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No poema de Vinicius de Moraes também encontramos os mecanismos de
coesão, a saber: a coesão gramatical frásica, em decorrência da ligação entre os
componentes de cada frase (verso), baseada na concordância entre o sujeito e
predicadores. À repetição do termo “rosa“ em diferentes versos aplica-se a regra da
coesão lexical por reiteração. A palavras “rosa” é repetida para que o leitor retenha
seu verdadeiro significado explorado pelo autor: a rosa é aqui comparada à própria
bomba atômica, com todos os seus efeitos nefastos.
Portanto pode-se dizer aqui que a coerência textual funde-se ao sentido. Um
texto que contém sentido é coerente. Se um texto é bem estruturado, bem
planejado, sua coerência influirá na boa estruturação dos fatores de coesão. A
coerência e a coesão do texto analisado por nós mantêm íntimas correlações, o que
faz com que a coesão seja efeito da coerência do texto. Neste texto, a coerência é
depreendida da contextualização histórica do ataque nuclear sobre a cidade de
Hiroshima.
Encerramos dessa forma nosso trabalho. Objetivamos, assim, realizar uma
análise da contribuição dos fenômenos de coesão e coerência para a produção de
um texto inteligível, permitindo uma escrita/leitura crítica como parte do processo de
consciência do individuo perante a sociedade.
REFERÊNCIAS
CURTY, M. G.; CRUZ, A. C. Apresentação de trabalhos científicos: guia para
alunos de cursos de especialização. Maringá: Dental Press, 2000.
FAVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991.
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,
1996.
GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1973.
KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990.
KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.
KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1989.
MATEUS, M. H. M. et al. Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra: Livraria
Almedina, 1983.
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