LUCIANA MINIOLI SARACHO BERNARDO A RELEVÂNCIA DE COESÃO E COERÊNCIA NA COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS NÚCLEO DE APOIO DE SÃO PAULO – MOEMA JABOTICABAL – SP 2008 LUCIANA MINIOLI SARACHO BERNARDO A RELEVÂNCIA DE COESÃO E COERÊNCIA NA COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Educação São Luis, como exigência parcial para a Conclusão do curso de Pós-Graduação Portuguesa, Latu Sensu Compreensão e em Língua Produção Textos. Orientadora: Profª. Mara Regina Mellini Jabur FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS NÚCLEO DE APOIO DE SÃO PAULO – MOEMA JABOTICABAL – SP 2008 de Dedicamos aos que ainda nutrem amor pelas palavras, sejam eles seus criadores ou leitores. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Luiz Roberto Wagner, pelo brilhantismo de seus ensinamentos. À Profª Mara Regina Mellini Jabur, pela orientação. “Eu entenderia por escrita propriamente dita a possibilidade de o sujeito ter o seu próprio discurso. E se entende por leitura a compreensão, se entende por leitura o acesso a um conhecimento diferenciado, aquele que lhe permite reconhecer a sua identidade, seu lugar social, as tensões que animam o contexto em que vive ou sobrevive e, sobretudo, a compreensão, assimilação e questionamento, seja da própria escrita, seja do real em que a escrita se inscreve”. (OSAKABE, 1995, p. 22). RESUMO O tema abordado neste trabalho acadêmico diz respeito não somente à conceituação do que vem a ser coesão e coerência, mas sobretudo a relevância de tais mecanismos sobre a compreensão e produção de textos. E o por texto podemos apreender qualquer passagem falada ou escrita, que forma um todo repleto de significado, independente de sua extensão: um diálogo, uma obra literária, uma matéria jornalística, entre muitos outros. A análise dos fenômenos de coerência e coesão certamente é fator essencial não somente à produção de um texto inteligível, como também de uma leitura que permita uma postura crítica, como parte de um processo consciente do individuo em seu meio social. Este trabalho de conclusão de curso é composto por cinco capítulos. No primeiro é abordado o conceito de coerência e sua forte relação com a comunicabilidade, sendo que ela pode ser classificada em quatro tipos, a saber: semântica, sintática, estilística e pragmática. A seguir, no segundo capítulo, tratamos da coesão e de seus mecanismos, resumidamente classificados em coesão gramatical e coesão lexical. No capítulo 3 definimos o que é texto, e quais fatores são responsáveis pela textualidade de um discurso. Já no capítulo 4 discorremos sobre a influencia dos mecanismos de coerência e coesão na compreensão e interpretação de textos. No capítulo 5, que encerra o trabalho acadêmico, é realizada uma análise de um texto literário a fim de ali explicitar alguns elementos coesivos e de coerência. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................7 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE COERÊNCIA.................................8 1.1 Modalidades de coerência...................................................................................10 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE COESÃO.....................................12 2.1 Mecanismos de coesão.......................................................................................13 2.2 Coesão gramatical ..............................................................................................13 2.3 Coesão lexical .....................................................................................................14 3 TEXTO ...................................................................................................................16 3.1 Conceito de texto ................................................................................................16 4 COERÊNCIA E COESÃO NA COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS .....19 5 ANÁLISE DE COERÊNCIA E COESÃO NO TEXTO DO POEMA "ROSA DE HIROSHIMA".............................................................................................................21 5.1 Poema “Rosa de Hiroshima” ...............................................................................21 5.2 Análise do texto...................................................................................................22 CONCLUSÃO............................................................................................................24 REFERÊNCIAS.........................................................................................................29 INTRODUÇÃO Pretendemos abordar neste trabalho os conceitos de coerência e coesão, mostrando o papel e a importância de cada um desses mecanismos, não só para a leitura e a compreensão de textos, como também para a sua produção. A coerência e a coesão conferem textualidade a um conjunto de enunciados. Assim, a coerência, manifestada predominantemente em nível macrotextual, é o resultado da possibilidade de se estabelecer alguma forma de unidade ou relação entre os elementos do texto. E a coesão, manifestada em um nível microtextual, refere-se ao modo como os vocábulos se ligam em uma seqüência. É importante também lembrar que a coesão pode auxiliar no estabelecimento da coerência, embora a coesão nem sempre se manifesta explicitamente através de marcas lingüísticas, o que faz concluir que pode haver textos coerentes mesmo sem uma coesão explícita. E tão ou mais importante do que estabelecer conhecimentos sobre os conceitos de coerência e coesão é saber de que maneira esses fenômenos contribuem para tornar um texto inteligível. Cabe argumentar que a coerência (conectividade conceitual) e a coesão (conectividade seqüencial) são requisitos fundamentais para a elaboração de qualquer tipo de texto. Enquanto a coerência se fundamenta na continuidade de sentidos, a coesão pode se apresentar por meio de marcas lingüísticas, observadas na gramática ou no léxico. Ao final deste trabalho, temos como objetivo realizar uma análise de um texto literário, através da identificação dos elementos de coesão e coerência. Para tanto, utilizaremos o poema "Rosa de Hiroshima", escrito por Vinicius de Moraes. 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE COERÊNCIA Em nosso cotidiano, são comuns comentários realizados sobre a incoerência de frases ou mesmo de textos completos, como matérias de jornais ou peças publicitárias, por exemplo. O que leva as pessoas a tais observações, provavelmente, é o fato de perceberem que, por algum motivo, escapa a elas o entendimento de uma frase ou de todo o texto. O conceito de coerência está, portanto, ligado à compreensão, à possibilidade de interpretação daquilo que se diz ou escreve. Assim, a coerência é decorrente do sentido contido no texto, para quem o ouve ou o lê. Uma simples frase, um texto de jornal, uma obra literária, o discurso de um político ou de um trabalhador, uma canção, enfim, qualquer comunicação, independente de sua extensão, precisa ter sentido, isto é, precisa ser coerente. A coerência depende de uma série de fatores, entre eles o conhecimento do mundo e o grau em que tal conhecimento deve ser ou é compartilhado pelos interlocutores; o domínio das regras que norteiam a língua, que irá possibilitar as várias combinações entre os elementos lingüísticos; os próprios interlocutores, considerando a situação em que se encontram, suas intenções de comunicação, suas crenças, e também a função comunicativa do texto. Portanto, a coerência se estabelece em uma situação comunicativa; ela é a responsável pelo sentido que um texto deve ter quando partilhado por esses usuários, entre os quais presumem-se limites partilhados por eles e um domínio comum da língua. A coerência se manifesta nas diversas camadas da organização do texto. Ela tem uma dimensão semântica, pois se caracteriza por uma interdependência semântica entre os elementos constituintes do texto. Deve ser considerada 9 igualmente sua dimensão pragmática - é fundamental, no estabelecimento da coerência, o nosso conhecimento de mundo. Esse conhecimento é acumulado ao longo de nossa existência, de maneira ordenada. Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo, devemos dizer que a ele se acrescentam informações novas. Se estas forem muito numerosas, o texto pode se tornar incoerente devido à falta de familiaridade do ouvinte/leitor com informações desconhecidas. É o que pode ocorrer, por exemplo, quando lemos um texto muito técnico. Na verdade, quando afirmamos que um texto é incoerente, precisamos esclarecer que motivos nos levaram a afirmar isto. Ele pode ser incoerente em uma determinada situação, porque quem o produziu não soube adequá-lo ao receptor, ou não valorizou suficientemente a questão da comunicabilidade; não obedeceu ao código lingüístico, enfim, não levou em conta o fato de que a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto. Embora nosso objetivo não seja teorizar em demasia o conceito de coerência, achamos necessário retomar algumas afirmações feitas por Koch e Travaglia (1989, p. 57), como pontos de partida para o trabalho: "A coerência é profunda, subjacente à superfície textual, não-linear, não marcada explicitamente na estrutura de superfície. (...) Ela tem a ver com a produção do texto, à medida que quem o faz quer que seja entendido por seu interlocutor. (...) A coerência diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos. (...) A coerência, portanto, longe de constituir mera qualidade ou propriedade do texto, é resultado de uma construção feita pelos interlocutores, numa situação de interação dada, pela atuação conjunta de uma série de fatores de ordem cognitiva, situacional, sociocultural e interacional." A coerência de uma frase ou de um texto não se define apenas pelo modo como elementos lingüísticos se combinam; depende também do conhecimento do mundo partilhado por emissor e receptor, bem como do tipo de texto em questão. O sentido do texto é viabilizado pela combinação dos elementos presentes numa progressão harmoniosa. 10 1.1 Modalidades de coerência Em obra na qual discutem as estratégias cognitivas de compreensão do discurso, Van Dijk e Kintsch (1983) tratam de coerência local e de coerência global. Enquanto a primeira se refere a partes do texto, a segunda se refere ao texto como um todo. Embora já tenha sido dito anteriormente que a coerência diz respeito à intenção comunicativa do emissor, interagindo, de maneira cooperativa, com o seu interlocutor, pode incidir, em um mesmo texto, partes ou passagens com problemas de incoerências − incoerências locais no caso − que acabam por perturbar a compreensão daquela passagem. A presença de uma incoerência local pode não prejudicar a compreensão do texto; contudo, uma grande incidência daquelas locais poderá, sim, afetar o texto como um todo. Ainda na obra citada, os autores apontam alguns tipos de coerências, a saber: coerências semânticas, sintáticas, estilísticas e pragmáticas. A coerência semântica refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em seqüência; a incoerência aparece quando esses sentidos não combinam, ou quando são contraditórios. Ainda dentro deste tipo de coerência, lembramos que o pouco domínio do sentido dos vocábulos e das restrições combinatórias pode também gerar frases com problemas de compreensão. Já a coerência sintática refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica. Quanto à incoerência estilística, esta não chega a perturbar a interpretação de um texto, já que é uma noção relacionada à mistura de registros lingüísticos. É desejável a quem escreve ou a quem lê a manutenção de um estilo uniforme. Entretanto, a alternância de registros pode configurar-se como um recurso estilístico. A coerência pragmática refere-se ao texto visto como uma espécie de atos de fala. Para haver coerência nesta seqüência, é preciso que os atos de fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, em sua vez de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pessoa faz uma pergunta a outra, a resposta pode se manifestar por meio de uma afirmação de outra pergunta, de uma promessa, de uma negação. Qualquer uma dessas seqüências seria considerada coerente. Por outro lado, se o interlocutor não responder, virar as costas e sair andando, começar a cantar, ou mesmo dizer algo totalmente 11 desconectado do tema da pergunta, estas seqüências seriam consideradas incoerentes. 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE COESÃO São muitos os autores que têm publicado estudos sobre coerência e coesão. Apoiados nos trabalhos de Koch (1997), Platão e Fiorin (1996), Suárez Abreu (1990) e Marcuschi (1983), apresentamos algumas considerações sobre o conceito de coesão com o objetivo de mostrar a presença e a importância desse fenômeno na produção e interpretação dos textos. Koch (1997) conceitua a coesão como "o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos lingüísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos também lingüísticos, formando seqüências veiculadoras de sentido." Para Platão e Fiorin (1996), a coesão textual "é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto." A coesão é, segundo Suárez Abreu (1990), "o encadeamento semântico que produz a textualidade; trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença A." Daí a necessidade de haver concordância entre o termo da sentença A e o termo que o retoma na sentença B. Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores de coesão: "são aqueles que dão conta da seqüenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos lingüísticos do texto, relações de sentido." A coesão pode ser observada tanto em enunciados mais simples quanto e enunciados mais complexos. A respeito do conceito de coesão, autores como Halliday e Hasan (1976), em obra clássica sobre coesão textual - verdadeira base para grande número de estudos sobre o assunto - afirmam que a coesão é condição necessária, mas não suficiente, para que se crie um texto. Na verdade, para que um conjunto de vocábulos, expressões, frases seja considerado um texto, é preciso haver relações 13 de sentido entre essas unidades (coerência) e um encadeamento linear das unidades lingüísticas presentes no texto (coesão). Mas essa afirmativa não é categórica nem definitiva, por algumas razões. Uma delas é que podemos ter conjuntos lingüísticos destituídos de elos coesivos que, no entanto, são considerados textos porque são coerentes, isto é, apresentam uma continuidade semântica. Finalizando, vale dizer que, embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se constituam em textos, são os elementos coesivos evidenciam as relações entre seus diversos componentes. A coerência em textos didáticos, expositivos e jornalísticos depende da utilização de elementos de coesão. 2.1 Mecanismos de coesão São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam os mecanismos de coesão. Consideramos que é necessário perceber como esses mecanismos estão presentes no texto (quando estão) e de que maneira contribuem para sua organização. Para Mira Mateus (1983), "todos os processos de seqüencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação lingüística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual podem ser encarados como instrumentos de coesão". Esses instrumentos podem ser divididos em: coesão gramatical (frásica, interfrásica, temporal e referencial) e coesão lexical. 2.2 Coesão gramatical A coesão gramatical faz-se por meio da ordem dos vocábulos, dos conectores, das concordâncias nominais e verbais, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, dos diversos tipos de numerais, advérbios, artigos definidos e de expressões de valor temporal. 14 Passaremos a ver agora separadamente cada um dos tipos de conexão gramatical, que, como já citamos em tópico anterior, dividem-se em: frásica, interfrásica, temporal e referencial. A coesão frásica é o tipo de coesão que estabelece uma ligação significativa entre os componentes da frase, com base na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e seus predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal. A coesão interfrásica designa os variados tipos de interdependência semântica entre as frases na superfície textual. É necessário, portanto, usar o conector adequado à relação que queremos expressar. Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em que a coesão se dá em função da seqüência do texto, da ordem em que as informações, as proposições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando isto acontece, ainda que os operadores não tenham sido explicitados, eles são depreendidos da relação que está implícita entre as partes da frase. A coesão temporal é uma seqüência que só se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados estiver de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a que texto se refere, ou no qual o texto se insere. Se essa ordenação temporal não for suficiente à satisfação de tais condições, o texto apresentará problemas em seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado dos tempos verbais, obedecendo a uma seqüência plausível, ao uso de advérbios que ajudam a situar o leitor no tempo. A coesão referencial é um componente da superfície textual que faz referência a outro componente já colocado anteriormente. Para esta referência são largamente empregados os pronomes pessoais de terceira pessoa, pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios e artigos. 2.3 Coesão lexical Neste tipo de coesão usamos termos que retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até 15 mesmo opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a reiteração e a substituição. Por reiteração entendemos a repetição de expressões lingüísticas. Neste caso existe identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral, bastante usado nas propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor reter o nome e as qualidades do que é anunciado. Ao tratar do processo lingüístico da substituição, a autora Maria Helena Mira Mateus (1983) assinala-lhe os tipos: sinonímia, antonímia, hiperonímia e hiponímia. A sinonímia é definida por uma maior presença de traços idênticos (Van Dijk, 1992), e a antonímia, por traços semânticos opostos. A hiperonímia ou a hiponímia se dá entre proposições subseqüentes: hiperonímia ocorre quando o primeiro elemento apresenta um sentido mais genérico do que o segundo elemento, mais específico; a hiponímia é observada exatamente quando ocorre o inverso. 3 TEXTO 3.1 Conceito de texto Como o objetivo de nosso trabalho é mostrar como estão empregados em um texto os conceitos de coerência e coesão, nada mais apropriado do que sabermos o que é um texto, e quais são os mecanismos que o fazem como tal. O texto consiste em qualquer passagem falada ou escrita, que forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois, de uma unidade de sentido, de um conjunto de relações responsáveis pela tessitura do texto. Chama-se textualidade a conjunto de característica que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma seqüência de frases. Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores responsáveis pela textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão (conceitos já abordados por nós), que se relacionam com o material conceitual lingüístico do texto, e mais: intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e a intertextualidade, relacionada aos fatores pragmáticos envolvidos no processo sócio-comunicativo. A fim de explicitar melhor o conceito de texto descrito acima, passemos a uma descrição de alguns itens que fazem do texto um texto. A coerência textual, um dos temas já abordados no presente trabalho, está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os leitores, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretação. Já a coesão pode ser tratada como o encadeamento dos parágrafos, como se ligam entre si, atentando 17 para o fato de que um texto pode muito bem ser coeso e, no entanto, incoerente. Como exemplo poderíamos citar a seguinte frase: “Estive no deserto do Saara e tão facilmente não esquecerei das torrenciais chuvas que presenciei durante toda a viagem”. Já a intencionalidade em um texto exige do produtor a construção de um discurso coerente e coeso, capaz de satisfazer os objetivos em uma determinada situação comunicativa (informar, convencer, pedir, etc). A aceitabilidade dá-se quanto à expectativa de que o recebedor tenha acesso a um texto coerente e coeso. Quanto à situacionalidade, esta refere-se à adequação do texto com a situação sócio-comunicativa, responsável pela pertinência e relevância do texto. A informatividade é um dos fatores constitutivos da unidade textual. Não se deve depreender, contudo, que ela só está presente nos textos eminentemente referenciais. Textos de qualquer natureza veiculam algum tipo de informação, desde os textos de comunicação diária, oral ou escrita, até aqueles com intenção estética, como os poéticos, por exemplo. E, ainda segundo os ensinamentos de Beaugrande e Dressler (1983), temos a intertextualidade - para isso o texto deve interagir com outros textos que funcionam em seu contexto Ainda para analisar a textualidade de um texto, Charolles apud Costa Val (1991), apresenta quatro meta-regras. São elas a continuidade, a progressão, a não contradição e a articulação, sobre as quais discorreremos logo a seguir. Entendemos por continuidade a retomada de elementos no decorrer do discurso, resultando em uma seqüência constante. Já a progressão complementa a repetição e garante a retomada de elementos passados, garantindo que o texto não se limite a repetir indefinidamente o que já foi colocado. Dessa forma equilibra-se o que já foi dito com o que se vai dizer, oferecendo a continuidade do tema e a progressão do sentido. A meta-regra da não contradição se traduz em um texto que deve obedecer a regras básicas. Suas ocorrências têm que ser compatíveis entre si, não só no que trazem explícito, como também no que delas se pode concluir por pressuposição a inferência. 18 Por fim, a articulação é responsável pela maneira com os fatos apresentados no texto se encadeiam formando uma relação de continuidade, progressão e não contradição, para que um texto se caracterize como tal. Porém, todos estes itens descritos acima sempre terão que se adequar aos conceitos de coerência e coesão, na forma como se relacionam com cada item. 4 COERÊNCIA E COESÃO NA COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS Há nos estudos sobre coerência e coesão uma posição comum quanto à intima relação entre esses dois mecanismos na produção e compreensão de textos. Vimos que a coesão não garante a coerência, embora concorra para que esta se estabeleça. Charolles (1986) é muito claro quando afirma que "o uso dos mecanismos coesivos tem por função, facilitar a interpretação do texto e a construção da coerência pelos usuários. No entanto, os mecanismos coesivos, podem produzir incoerências; como possuem, por convenção, funções específicas, não podem ser usados sem respeitar tais convenções. Se isto acontecer, isto é , se o seu uso contrariar a sua função, o resultado será a incoerência ou a falta de seqüencialidade de modo que o leitor não será capaz de construir a interpretação adequada". A coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretação, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto. Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global. (Koch, 2001, p. 21) Além disso, vale lembrar que a coerência textual relaciona-se com a coesão do texto, "pois por coesão se entende a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem a superfície textual" (Koch, 2001, p. 40). Contudo, a coesão não é suficiente para atribuir sentido ao texto, esse papel é confiado à coerência. Assim, "podemos dizer que a coerência dá origem à textualidade, entendo-se por textualidade "aquilo que converte uma seqüência lingüística em texto". " (Koch, 2001, p. 45) Nesse sentido, o texto será incoerente se 20 "seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando em conta a intenção comunicativa, objetivos, destinatário, regras sócio-culturais, outros elementos da situação, uso dos recursos lingüísticos, etc. Caso contrário, será coerente". (Koch, 2001, p. 50) Na atividade de produção de textos, percebemos que, muitas vezes, os problemas mais graves advêm das falhas na estruturação da frase, da incoerência das idéias, da ausência de unidade e encadeamento lógico dos argumentos. Daí a necessidade de saber lidar com a coerência e a coesão, mostrando como cada uma delas contribui para a elaboração de um bom texto. Portanto, se o professor quer que seus alunos produzam textos coerentes e coesos, pode, em primeiro lugar, mostrar a presença desses mecanismos em texto literários, não-literários, jornalísticos, publicitários. Desta forma, vai familiarizar seu público com essas novas aquisições lingüísticas. Assim os alunos perceberam como são feitas as relações textuais, com a utilização dos chamados recursos de coesão textual ou instrumentos de coesão. Como afirma Koch (1990), "um professor pode fazer grandes modificações em sua metodologia de ensino de produção e compreensão de textos, baseando-se nas descobertas da lingüística textual sobre coesão e coerência". 5 ANÁLISE DE COERÊNCIA E COESÃO NO TEXTO DO POEMA "ROSA DE HIROSHIMA" 5.1 Poema “Rosa de Hiroshima” Pensem nas crianças Mudas telepáticas, Pensem nas meninas Cegas inexatas, Pensem nas mulheres Rotas alteradas, Pensem nas feridas Como rosas cálidas. Mas, oh, não se esqueçam Da rosa, da rosa! Da rosa de Hiroshima, A rosa hereditária, A rosa radioativa Estúpida e inválida, A rosa com cirrose, A anti-rosa atômica. Sem cor, sem perfume, Sem rosa, sem nada. Vinicius de Moraes Poesia completa e prosa, Nova Aguiar, 1968 22 5.2 Análise do texto Como parte prática do nosso trabalho iremos realizar a análise do texto escolhido. O texto em questão, como já foi pontuado anteriormente, trata-se de um poema, ou seja, a análise será feita através de seus versos. Devemos considerar, primeiramente, que, para a compreensão dos versos do poeta Vinicius de Moraes, é de rigor o acionamento do conhecimento de mundo do leitor para que as palavras ganhem sentido dentro do contexto. O sentido, aqui, é o fator que confere coerência ao texto em análise. E o conhecimento de mundo necessário para que focalizemos todo o seu significado, todo o significado de seus versos, é o conhecimento de nossa História: a cidade de Hiroshima, localizada no Japão, foi alvo de bombardeio atômico realizado pela Força Aérea dos Estados Unidos ao final da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente na data de 06 de agosto do ano de 1945. Deste ataque muitos fatos decorreram, tais como a rendição do Japão e o fim da segunda Grande Guerra. Contudo, para a correta análise do texto, deve-se levar em conta o elemento humano: as mortes ocasionadas em razão do ataque, e mesmo as justificativas, ou melhor, a falta de justificativa para uma atrocidade que vitimou centenas de milhares de pessoas. Aqui, além da informatividade, a intertextualidade não se concretiza somente pelo conhecimento de nossa História, enfim, de Mundo, mas também de nossa cultura brasileira: no ano de 1973, o poema tornou-se canção por autoria de Gerson Conrad e ganhou vida na voz do cantor Ney Matogrosso, quando era componente do conjunto musical Secos e Molhados. Desde então o poema se tornou mais e mais conhecido, como uma citação presente em muitos textos pacifistas, livros didáticos e matérias jornalísticas. Assim sendo, os versos de "Rosa de Hiroshima", ainda que carregados de lirismo, caracterizam-se por um certo tom de protesto, ainda que pacífico – protesto contra a guerra, contra as atrocidades por ela geradas. Dessa forma, ao aprofundarmos a análise de texto, podemos afirmar que existe o elemento de coerência nos versos do autor, vez que percebemos a adequação ao contexto extraverbal – no presente caso, a guerra, o bombardeio atômico, as mortes ocorridas – e que necessita de conhecimento do receptor do texto. Não bastasse, nesse poema o autor atingiu um estilo de ressignificação através da simplicidade na escolha das palavras e do jogo de idéias do poema na 23 interposição constante de adjetivações, verso a verso: “Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas/ Pensem nas meninas/Cegas inexatas(...)”. O tema é a critica contra a guerra, o quão inaceitável ela deve ser, e assim podemos dizer que se trata de um texto que cumpre o quesito de aceitabilidade dos fatores pragmáticos. Sob o viés do conceito dos mecanismos de coesão, podemos atentar para a primeira parte do poema, que compreende seus primeiros oito versos. Ali encontramos o mecanismo de coesão gramatical frásica, consoante se dessume pela ligação entre os componentes de cada frase (verso), baseada na concordância entre o sujeito e predicadores, como no exemplo a seguir: “Pensem nas mulheres/ rotas alteradas”. Mais adiante, encontramos, precisamente na segunda e final parte do poema, a repetição do termo “rosa“ em distintos versos. Aplicando-se novamente os conhecimentos discorridos em nosso trabalho, a repetição de tal palavra configura-se uma coesão lexical por reiteração, como aqui podemos apreciar: “A rosa com cirrose/a anti-rosa atômica”. Nota-se que tal palavra é repetida a fim de que o leitor a retenha em seu verdadeiro significado explorado pelo poeta Vinicius de Moraes: a rosa, pelo formato do desabrochar de suas pétalas, é aqui comparada, como recurso dramático, à explosão da bomba atômica; assim, a palavra “rosa” no poema ganha um novo e triste significado: o da própria bomba atômica e seus avassaladores efeitos, exemplificados como a hereditariedade – pois a radioatividade acarreta na mutação genética dos indivíduos que sofreram seus efeitos, e assim são transmitidos de geração a geração; a invalidez, em razão de males causados pela emissão da bomba, tais como cegueira, queimaduras graves, mutilações, entre muitas outras conseqüências, e a cirrose, como uma das formas de câncer desenvolvidas pelas vítimas atingidas por uma radioatividade intensa. Portanto pode-se dizer aqui que a coerência textual funde-se ao sentido. Um texto que contém sentido é coerente. Se um texto é bem estruturado, bem planejado, sua coerência influirá na boa estruturação dos fatores de coesão. A coerência e a coesão do texto analisado por nós mantêm íntimas correlações, o que faz com que a coesão seja efeito da coerência do texto. Neste texto, a coerência é depreendida da contextualização histórica do ataque nuclear sobre a cidade de Hiroshima. CONCLUSÃO Neste trabalho, abordamos os conceitos de coerência e coesão, através da exposição de seus mecanismos. Dessa forma, foi possível aplicar seus conceitos não somente à leitura e compreensão de textos, mas igualmente à sua produção. Tais mecanismos contribuem para um texto dotado de sentido e significado. O mecanismo da coerência, abordado já no primeiro capítulo, é manifestado em diversas camadas de organização de um texto. A coerência apresenta não somente uma dimensão semântica, por caracterizar-se pela interdependência semântica entre os elementos constituintes do texto, mas também deve ser considerada a sua dimensão pragmática, já que é fundamental nosso conhecimento de mundo, acumulado ao longo de nossa existência e de maneira ordenada. Os autores Van Dijk e Kintsch (1983) apontam alguns tipos de coerências, tais como a coerência semântica; a sintática; a estilística e a pragmática. A coerência semântica refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em seqüência. Assim sendo, um texto é quando esses sentidos não combinam, ou quando são contraditórios. Já a coerência sintática refere-se aos meios sintáticos utilizados a fim de expressar a coerência semântica. A coerência estilística dá-se quando não existe mistura de registros lingüísticos, resultando em um estilo uniforme. No entanto, quando o estilo deixa de ser uniforme, tal ocorrência pode tão somente configurar-se como um recurso estilístico. A coerência pragmática, por fim, refere-se ao texto visto como uma espécie de atos de fala, em seqüência. No tocante à coesão, assunto tratado em nosso segundo capítulo, seja manifestada em nível microtextual - ao contrário do mecanismo de coerência, manifestado sobretudo em esfera macrotextual - são os elementos coesivos que 25 evidenciam as relações entre seus diversos componentes, ou como os vocábulos são ligados em uma seqüência. A coerência presente nos mais distintos tipos de texto, depende da utilização de elementos de coesão. Diversos autores descreveram os mecanismos de coesão, como estes se dispõem no texto e como maneira contribuíram para sua organização. Adotamos nesse trabalho acadêmico a conceituação da autora Mira Mateus (1983), a qual os instrumentos de coesão podem ser divididos em coesão gramatical e lexical. A primeira ocorre por meio da ordem dos vocábulos das concordâncias nominais e verbais, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, dos diversos tipos de numerais , advérbios, artigos definidos e de expressões de valor temporal. Já a segunda - lexical – ocorre quando há termos que retomam vocábulos ou expressões já ocorridas, porque existem ali traços semânticos semelhantes ou opostos. A coesão gramatical foi subdividida pela autora em frásica, interfrásica, temporal e referencial. A coesão gramatical frásica estabelece uma ligação significativa entre os componentes da frase, com base na concordância entre seus termos; a coesão gramatical interfrásica designa os variados tipos de interdependência semântica entre as frases num dado texto. A coesão gramatical temporal é uma seqüência que se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados está de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a que texto se refere, ou no qual o texto se insere. Por fim, a coesão gramatical referencial ocorre quando um componente do texto faz referência a outro já colocado anteriormente, tais como os pronomes pessoais de terceira pessoa, pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios e artigos. E, encerrando o segundo capítulo, temos os tipos de coesão lexical: reiteração e substituição. A primeira refere-se à repetição de expressões da língua. Já em relação à substituição, são assinalados os tipos - sinonímia, antonímia, hiperonímia e hiponímia. A sinonímia ocorre quando há uma maior presença de traços idênticos e a antonímia, por traços semânticos opostos. A hiperonímia ou a hiponímia se dá entre proposições subseqüentes. A hiperonímia acontece quando o primeiro elemento apresenta um sentido mais genérico do que o segundo elemento, mais específico; a hiponímia é observada exatamente quando ocorre o inverso. 26 Em nosso terceiro capítulo, aprofundamos o conceito de texto. E como é nosso o objetivo mostrar como estão empregados em um texto os conceitos de coerência e coesão, definimos então o que é um texto, e os mecanismos que o identificam. O texto consiste em qualquer passagem falada ou escrita, que forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois, de uma unidade de sentido, e não apenas uma seqüência de frases. A essa unidade dá-se o nome de textualidade. Os autores Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores responsáveis pela textualidade de um discurso qualquer: além da coerência e a coesão os fatores de intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e a intertextualidade. A coerência textual está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto; a coesão pode ser tratada como o encadeamento dos parágrafos; a intencionalidade em um texto exige do produtor um discurso coerente e coeso, capaz de satisfazer os objetivos em uma comunicação; a aceitabilidade depende da expectativa de que aquele que recebe o texto tenha acesso a um texto coerente e coeso; a situacionalidade é adequação do texto com a situação que torna o texto pertinente e relevante; a informatividade constitui a unidade textual. Por fim temos a intertextualidade, ou seja, a interação do texto com outros textos que funcionam em seu contexto. Ainda no capítulo 3, Charolles apud Costa Val (1991), apresenta quatro metaregras para a textualidade: continuidade, progressão, a não contradição e a articulação. A continuidade significa a retomada de elementos no decorrer do discurso, como uma seqüência constante. Por sua vez, a progressão complementa a repetição e garante a retomada de elementos passados. A meta-regra da não contradição se traduz em um texto que deve obedecer a regras básicas. Suas ocorrências têm que ser compatíveis entre si. Ao final, a articulação é responsável pela maneira com os fatos apresentados no texto se encadeiam formando uma relação de continuidade, progressão e não contradição, para que um texto se caracterize como tal. 27 No entanto, todas as meta-regras acima dispostas sempre terão que se adequar aos conceitos de coerência e coesão, na forma como se relacionam com cada item. No quarto e penúltimo capítulo, tratamos da aplicabilidade dos conceitos de coerência e coesão na compreensão e produção de textos. Nem sempre a coesão garante a coerência, embora concorra para que esta se estabeleça. Segundo Koch (2001), a coerência estabelece um sentido para o texto, tal qual um princípio de interpretação, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto. Além disso, vale lembrar que a coerência textual relaciona-se diretamente com a coesão do texto, pois, consoante Koch (2001), a coesão representa a ligação entre os elementos do texto. No entanto, a coesão não é suficiente para atribuir sentido ao texto. Esse papel cabe à coerência. Assim o texto será incoerente se "seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando em conta a intenção comunicativa, objetivos, destinatário, regras sócio-culturais, outros elementos da situação, uso dos recursos lingüísticos, etc. Caso contrário, será coerente". (Koch, 2001, p. 50) Na produção de textos, as falhas na estruturação da frase, a incoerência das idéias, a ausência de unidade e o encadeamento lógico dos argumentos constituem problemas graves e recorrentes. Daí a importância do conhecimento dos mecanismos de coerência e coesão, e suas contribuições para um texto bem elaborado. Ao final do trabalho, ou seja, no capítulo 5, analisamos um texto literário, onde nele identificamos os mecanismos de coesão e coerência. Para tanto, baseamos nossa análise no poema “Rosa de Hiroshima”, de autoria de Vinicius de Moraes. E encontramos em seus versos a informatividade e intertextualidade. Ou seja: para sua compreensão, é necessário o conhecimento de mundo do leitor/receptor para que as palavras façam sentido dentro do contexto. E o sentido é o que confere aqui a coerência. O conhecimento necessário para a compreensão do texto é o bombardeio nuclear do qual a cidade de Hiroshima foi vítima no ano de 1945. Além do fator histórico, uma leitura correta do poema exige atenção para a questão humana: um acontecimento de importância mundial que levou à morte de muitas vítimas, e cuja finalidade foi amplamente questionada. Tais questões são fundamentais à compreensão do receptor do texto. 28 No poema de Vinicius de Moraes também encontramos os mecanismos de coesão, a saber: a coesão gramatical frásica, em decorrência da ligação entre os componentes de cada frase (verso), baseada na concordância entre o sujeito e predicadores. À repetição do termo “rosa“ em diferentes versos aplica-se a regra da coesão lexical por reiteração. A palavras “rosa” é repetida para que o leitor retenha seu verdadeiro significado explorado pelo autor: a rosa é aqui comparada à própria bomba atômica, com todos os seus efeitos nefastos. Portanto pode-se dizer aqui que a coerência textual funde-se ao sentido. Um texto que contém sentido é coerente. Se um texto é bem estruturado, bem planejado, sua coerência influirá na boa estruturação dos fatores de coesão. A coerência e a coesão do texto analisado por nós mantêm íntimas correlações, o que faz com que a coesão seja efeito da coerência do texto. Neste texto, a coerência é depreendida da contextualização histórica do ataque nuclear sobre a cidade de Hiroshima. Encerramos dessa forma nosso trabalho. Objetivamos, assim, realizar uma análise da contribuição dos fenômenos de coesão e coerência para a produção de um texto inteligível, permitindo uma escrita/leitura crítica como parte do processo de consciência do individuo perante a sociedade. REFERÊNCIAS CURTY, M. G.; CRUZ, A. C. Apresentação de trabalhos científicos: guia para alunos de cursos de especialização. Maringá: Dental Press, 2000. FAVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996. GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1973. KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990. KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997. KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990. KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1989. MATEUS, M. H. M. et al. Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra: Livraria Almedina, 1983.