Ecologia de Populações e Comunidades João Pessoa, 15 de junho de 2016 INFLUÊNCIAS AMBIENTAIS NA POPULAÇÃO DE SARCOGLOTTIS GRANDIFLORA (LINDL.) KLOTZSCH EM FRAGMENTO DE MATA ATLÂNTICA DE JOÃO PESSOA, PARAÍBA Andréia N. Pereira¹ Cristhyane C. Pimentel¹ Elisama R. Maia¹ Everson S. Azevedo¹ ¹ Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Sistemática e Ecologia, Laboratório de Ecologia Terrestre INTRODUÇÃO População é determinado número de indivíduos de uma espécie vivendo numa área específica, e pode ser dividida em subpopulações se o habitat estiver fragmentado. A distribuição no espaço geográfico é sua área de abrangência, e os locais nesta área onde as espécies persistem é o seu nicho fundamental, onde podem sofrer a ação de competidores e predadores. A densidade da população pode variar de acordo com a qualidade do habitat, porém os indivíduos tendem a se distribuir aos recursos disponíveis. A dispersão é o espaçamento de indivíduos uns em relação aos outros, e pode ser classificada em espaçada (quando há competição) ou agrupada (com recursos agrupados) (Ricklefs, 2010). A mata atlântica abrange a costa litorânea brasileira do Rio Grande do Norte ao Rio grande do Sul, estendendo-se por outros países como Argentina e Paraguai e hoje se encontra com apenas 11% da área que já foi um dia. Espécies de Orchidaceae no bioma da floresta atlântica no Brasil estão sofrendo declínio populacional diante da destruição de seus habitats por motivos econômicos (Pessoa et al., 2012). Orchidaceae é um grupo especializado de plantas monocotiledôneas ricas em diversidade e pouco abundantes em indivíduos. É considerada uma das maiores famílias de plantas angiospermas com cerca de 24.000 spp. distribuídas em 788 gêneros (Judd et al., 2009). O leste do Brasil é a segunda região com mais diversidade de espécies desta família no mundo, contendo aproximadamente 2.420 espécies. A região Nordeste conta com 550 espécies (Pessoa et al., 2012) e é a região onde a família é mais bem distribuída no Brasil. Sarcoglottis grandiflora (Lindl.) Klotzsch é uma planta terrestre, que possui crescimento simpodial e se irradia lateralmente a partir de gemas. Filotaxia alterna espiralada. Raízes cilíndricas, caule reduzido, folhas medindo13-27 x 5,5-22 cm, oblanceoladas, com ápice agudo e são membranáceas. Inflorescência terminal determinada, pauciflora, laxa. Quanto à sua ecologia, é uma espécie terrestre que ocorre nas regiões Norte e Nordeste do Brasil (Albuquerque et al., 2013), na costa leste do país, indo de Pernambuco até o Rio de Janeiro, e abrangendo também a Argentina, Paraguai e Suriname. Floresce e frutifica em Junho. As populações na natureza são caracterizadas por indivíduos isolados em locais sombreados (Cunha et al., 2007). OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo avaliar se parâmetros ambientais, como luminosidade e produção de serrapilheira, afetam a distribuição e abundância da população de Sarcoglottis grandiflora no fragmento de Mata Atlântica do Departamento de Sistemática e Ecologia da UFPB. Temos como predição que índices elevados de luminosidade e serrapilheira irão se correlacionar positivamente com a distribuição e abundância da espécie na área estudada. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O trabalho foi realizado na Mata Atlântica do Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE), na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), localizada em João Pessoa, Paraíba, entre os paralelos -7°08'21,80" de latitude e os meridianos -34°50'37,26" de longitude, com altitude de 23m, este fragmento corresponde a 7,4 hectares. O período com maior precipitação pluviométrica começa em fevereiro ou março e se estende até julho ou agosto, enquanto que o período mais seco se inicia em setembro e prolonga-se até fevereiro, destacando-se duas estações bem definidas uma chuvosa e outra seca. Com temperatura máxima de 31 °C e mínima de 21 °C, com média climatológica de 26 °C entre os anos de 1983 e 2013. O estudo foi desenvolvido no mês de maio (Freitas et al. 2015). 1 Figura 1: Mapa da UFPB, em destaque Mata do DSE (Fonte: Google Earth) Coleta de dados Os parâmetros usados para se analisar a densidade populacional da espécie Sarcoglottis grandiflora pertencente à família Orchidaceae foram: biomassa, luminosidade, altura da serrapilheira e número de indivíduos. Utilizamos bússola e barbante para fazer dez parcelas de 10x10m, com distância de 10 m uma em relação a outra. Com o N=10 para todos os parâmetros citados a c i m a . Figura 3: Sarcoglottis grandiflora (Fonte: Nayara Albuquerque,2013, p.1.) Análise dos dados Para estimar a correlação de Pearson, ou seja, a relação que há entre duas variáveis foi utilizado o programa Statistica versão 10, com o nível de significância de P= 5%, e obtivemos as seguintes correlações: Biomassa e Abertura do Dossel, Número de Indivíduos e Abertura do Dossel, Número de Indivíduos e Altura da Serrapilheira e Biomassa e Altura da Serrapilheira. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 2: Parcela (Fonte: Elisama Rayane e Everson Azevedo) Biomassa: Usamos ¼ amostral de cada parcela em que os indíviduos foram coletados e pesados, colocados em uma estufa a 60 °C, por três dias e depois foram novamente pesados. Luminosidade: No centro de cada parcela, fotos do dorsel foram tiradas e submetidas a um editor de imagens no computador, em que foram quadriculadas com sete colunas e cinco linhas, com quadrados de 2,8 x 2,8 cm. Altura da serrapilheira: Foi medida com o auxílio de um cabo de madeira cilindrico, perfurando o solo até a área rochosa e depois utilizando-nos de uma fita métrica para realizar a medição. Números de indivíduos: À medida que contávamos cada indivíduo, estes eram marcados com uma substância líquida adesiva colorida e anotados em uma planilha, este procedimento foi feito em todas as parcelas. Foram encontradas nas 10 parcelas um total de 428 indivíduos de Sarcoglottis grandiflora. Quanto às medições, encontrou-se uma fraca relação com tendência negativa entre biomassa e abertura do dossel (N= 10; r= -0,16 e P= 0,64) (gráfico1), indicando que quanto maior a luminosidade da área, menor a biomassa de seus indivíduos. Observamos também uma fraca relação, porém positiva, entre número de indivíduos e abertura do dossel, (N=10; r= 0,13 e P=0,7) (gráfico 2), evidenciando-se que quanto maior a luminosidade da área, maior a abundância de indivíduos, contudo os resultados não foram s i g n i f i c a t i v o s . Gráfico1: Relação entre biomassa e abertura do dossel. 2 Gráfico 2: Relação entre número de indivíduos e abertura do dossel. Apesar disto, mostrou-se uma tendência positiva na relação entre número de indivíduos e altura da serrapilheira (N= 10; r= 0,51 e P= 0,13) (gráfico 3), e biomassa e altura da serrapilheira (N=10; r= 0,4 e P= 0,19) (gráfico 4), significando um maior número de indivíduos e biomassa quanto maior for a altura da serrapilheira, no entanto os resultados também não foram signific a t i v o s . Diante disto, a tendência positiva que se nota entre o número de indivíduos e a serrapilheira pode ser explicada pelo fato de que solos que apresentam maior quantidade de serrapilheira possuem uma taxa mais significativa de nutrientes, possibilitando o crescimento de novos indivíduos que irão encontrar condições mais propícias para o seu desenvolvimento. A produção de serrapilheira também pode ser utilizada no parâmetro da biomassa, tendo em vista que os indivíduos que encontram solos com maior deposição de material orgânico tem a oportunidade de captar mais nutrientes para investir no crescimento de sua biomassa (GOMES et al. 2009) . A presença de clareiras resulta numa maior incidência luminosa favorecendo a germinação dos indivíduos e consequentemente elevando a taxa populacional, o que pode ser evidenciado pela relação entre o aumento populacional conforme maior é a abertura do dossel (SILVA et al. 2012). CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos resultados adquiridos observou-se que a maioria das nossas predições foram corroboradas, mostrando uma relação positiva entre os parâmetros testados, são estas: Número de indivíduos e Abertura do dossel, Número de indivíduos e Altura da serrapilheira e Biomassa e Altura da serrapilheira. Em contrapartida, o encadeamento entre biomassa e luminosidade mostrou-se tendenciosamente negativo e com baixa significância, fazendo-se necessário a ampliação de estudos para a obtenção de resultados mais conclusivos. Gráfico 3: Relação entre número de indivíduos e altura da serrapilheira. AGRADECIMENTOS Ào professor Dr. Alexandre Vasconcellos da UFPB pela orientação e apoio e aos colegas de l a b o r a t ó r i o . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RICKLEFS. A economia da natureza. 6ª Edição. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2010. JUDD, W.S.; CAMPBELL, C.S.; KELLOGG, E.A.; STEVENS, P.F.; DONOGHUE M.J. Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. 3ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009 Gráfico 4: Relação entre biomassa e altura da serrapilheira. FREITAS, SANTOS, LIMA, SILVA. Análise Microclimática do campus I da UFPB como subsídios 3 ao planejamento ambiental. Caminhos de Geografia, Paraíba, p. 2-5, 2015.. ALBUQUERQUE, SOUSA, PIMENTEL, ASSIS, CRUZ. Distribuição espacial de Oeceoclades maculata e Sarcoglottis grandiflora (ORCHIDACEAE) Em um fragmento de floresta atlântica em João Pessoa, PB. 64º Congresso Nacional de Botânica, 2013. SILVA, ARAÚJO, SANTOS, SILVA, FERRAZ, ARAÚJO. Dinâmica populacional de Sarcoglottis grandiflora Lindl. (klotzsch) (ORQUIDEA) e Zollernia ilicifolia (Brong.) Vogel (FABACEAE) sob influência de micro-habitats no interior da mata Atlântica nordestina. Revista de Ciências AgroAmbientais, Alta Floresta, v.7, n.1, 2012. PESSOA, ALVES. Flora da Usina São José, Igarassu, Pernambuco: Orchidaceae. Rodriguésia, Revista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2 0 1 1 . GOMES, SCARAMUZZA, CAMARGOS, SCARAMUZZA, SILVA. Uso de variáveis dendométricas na estimativa da serapilheira em área de floresta secundária inicial e floresta madura. 64º Reunião SBPC, 2009. CUNHA, FORZZA. Orchidaceae no Parque Natural Municipal da Prainha, RJ, Brasil. Acta Botânica Brasília, 2006. 4