Nódulos Polimetálicos e outros Depósitos de Mar Profundo

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GRAVEL
ISSN 1678-5975
Dezembro - 2006
Nº 4
125-131
Porto Alegre
Nódulos Polimetálicos e outros Depósitos de Mar Profundo: o
Retorno do Interesse
Martins L.R.; Barboza E.G. & Rosa M.L.C.C.*
* Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica – CECO/IG/UFRGS ([email protected]).
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Nódulos Polimetálicos e outros Depósitos de Mar Profundo: o Retorno do Interesse
INTRODUÇÃO
“O que era velho é novo mais uma vez”
estabeleceu recentemente AUTRIM (2006) com
relação ao crescente interesse nestes últimos
anos sobre o potencial econômico dos minerais
do oceano profundo.
Em uma análise ampla, esse novo
panorama é governado pelas mesmas relações
existentes entre o nível de desenvolvimento
econômico e a demanda de metais, responsável
pelo declínio no interesse em minerais do piso
marinho profundo a partir de 1970. No momento
atual, muitos países como a China, investindo de
forma acentuada em sua industrialização, vêm
pressionando, por exemplo, a demanda de níquel
para a produção de aço inoxidável (Fig. 1).
Cobalto igualmente tem seu consumo
aumentado em razão de sua utilização em
baterias de alta densidade, enquanto o cobre
responde também a um crescimento em função
da indústria automobilística.
Figura 1. Consumo de níquel na China, no período de 1990 a 2000 (AUTRIM, 2006).
Pressões econômicas e políticas
impulsionaram
as
nações
costeiras
a
aumentarem o esforço na exploração de minerais
de mar profundo e ao controle dos depósitos
ocorrentes alem da Zona Econômica Exclusiva
através da nova legislação vigente.
Em
realidade,
o
conhecimento
científico cresceu de forma acentuada nestes
últimos anos no que concerne as ciências
marinhas. A tectônica de placas é hoje a maior
fonte para a compreensão da origem de muitos
minerais marinhos e a partir desse conhecimento
efetuar a identificação de novas ocorrências. Da
mesma forma, o reconhecimento que o fundo
marinho é um ambiente ativo, tanto
mineralógica quanto biologicamente, aumentou
de forma substancial a compreensão dos
processos que formam os depósitos e tem
encorajado a posterior exploração.
Por outro lado, dentro do novo
momento vivido pela etapa de exploração dos
recursos do mar profundo e já utilizando as
delimitações estabelecidas pela Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar, mais
especificamente a Área Internacional dos
Oceanos (usualmente designada por Area) o
Instituto de Geociências e Recursos Naturais
(BGR) da Alemanha, submeteu a Autoridade
Internacional
dos
Fundos
Oceânicos
(International Seabed Authority) contrato para a
exploração de nódulos polimetálicos em área do
Pacífico, entre o sudeste do Havaí e o sudoeste
da Califórnia (Fig. 2).
Esta foi a primeira aplicação submetida
sob as regras da International Seabed Authority.
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Figura 2. Áreas requeridas junto a Autoridade Internacional dos Fundos Oceânicos (International Seabed
Authority) pelo BGR (Alemanha) para contrato de exploração de nódulos polimetálicos.
A solicitação envolve duas áreas: Área
W (13°N, 37°W) com 34.080 km2 e
profundidade média de 4.850 m e Área E (12°N,
118°W) com 115.896 km2 e profundidade média
de 4.200 m. Abrangendo uma área total de
149.976 km2.
A solicitação foi baseada em dados
coletados por um consórcio alemão (AMR) entre
1976 e 1978, sob os auspícios do Ocean
Management Inc (OMI).
Segundo as amostras coletadas a
cobertura de nódulos é de 7,8 kg/m2 na Área W
e 13,5 kg/m2 na Área E. A área total apresenta
potencialidade de 1.830 milhões de toneladas
com níquel, cobre e cobalto atingindo 46.6 M de
toneladas.
A missão programada na área incluirá
tópicos como: (1) aquisição e interpretação de
dados de reflectividade acústica (utilização de
sonar de varredura lateral), (2) amostragem de
fundo para calibração da acústica digital e (3)
estudo das comunidades bentônicas (taxonomia,
composição das assembléias, biodiversidade).
OS RECURSOS
Nódulos
polimetálicos
ocorrem
principalmente como um depósito de oceano
profundo, sob a forma de concreções ricas em
óxido de manganês, estando presentes na maior
parte das zonas profundas dos oceanos
(CRONAN, 1985). Contudo sua composição
varia amplamente de local para local e somente
em poucas áreas eles contem manganês, níquel,
cobalto e cobre suficientes para produzirem
valor econômico de interesse. Uma combinação
ao redor de 3% de níquel, cobalto e cobre é
suficiente para tornar os nódulos um recurso
economicamente viável.
A área de mais ampla ocorrência de
nódulos com a abundancia necessária e com
essas propriedades encontra-se no nordeste
equatorial do Oceano Pacífico. Nódulos de
composição similar foram identificados nas
regiões sul e oeste e na parte central do Oceano
Índico.
Nas figuras 3, 4 e 5 são apresentadas as
porcentagens de níquel, cobalto e cobre
ocorrentes nos nódulos do Oceano Pacífico.
Outro depósito similar aos nódulos
polimetálicos e que tem recebido recentemente
muita atenção no Pacífico são as chamadas
crostas de manganês ricas em cobalto (crostas
cobaltíferas). As crostas são similares em sua
composição aos nódulos, mas são mais ricas em
cobalto (acima de 2%) e menos ricas em níquel
e cobre que os nódulos com maiores teores.
O cobalto é um metal valioso e
estratégico, com suprimento limitado nas áreas
continentais, tornando esses depósitos uma fonte
alternativa futura desse metal.
Diferente dos nódulos que se
encontram livres no fundo, as crostas ocorrem
como cobertura de afloramentos rochosos e
podem apresentar vários centímetros de
espessura. Estão localizadas em profundidades
menores (2.000 m) que a maioria dos nódulos
(4.000 m) e estão associadas com montes
submarinos e cadeias de montanhas submarinas.
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Figura 3. Conteúdo de cobre nos nódulos do Oceano Pacífico. As maiores concentrações de cobre encontramse ao sul das Ilhas Havaianas.
Figura 4. Conteúdo de níquel nos nódulos do Oceano Pacífico. As concentrações mais ricas encontram-se a
sudoeste e sudeste do Havaí.
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Figura 5. Conteúdo de cobalto nos nódulos do Oceano Pacífico. Valores altos são encontrados nas cristas e
flancos de altos topográficos submarinos. No Pacífico sul são encontrados valores altos de cobalto
no Platô Manihiki, arquipélago de Tucamoto.
A investigação em nódulos de
manganês e crostas cobaltíferas constitui nesse
novo panorama de estudos dos recursos minerais
do mar profundo, parte integrante fundamental
de vários projetos que retomam a partir deste
século o interesse sobre o futuro aproveitamento
econômico.
Os sulfetos polimetálicos constituem
uma outra categoria de recurso de mar profundo
e que foram descritos em detalhe no “East
Pacific Rise” a partir de 1978 em uma área de
colinas vulcânicas portadoras de fissuras e
aberturas com incisiva atividade hidrotermal,
próxima ao eixo de expansão. Os depósitos são
aproximadamente cilíndricos variando de 3 a 6
m de altura e 5 m de diâmetro apresentando
coloração que varia de ocre, cinza, marrom e
vermelho.
Os sulfetos polimetálicos contem ferro,
zinco e cobre em acentuadas concentrações. Sua
importância comercial necessita ainda de
estudos mais detalhados. Outras ocorrências de
atividade hidrotermal e mineralizações incluem
áreas nas proximidades das Ilhas Galápagos, no
Equador e na Juan de Fuca Ridge, ao longo do
estado de Oregon nos Estados Unidos.
Com relação ao Atlântico Sul, missões
desenvolvidas na Dorsal Meso Atlântica
indicam a presença de atividade hidrotermal e
ocorrência de sulfetos metálicos.
O BRASIL E OS RECURSOS DE MAR
PROFUNDO
Considerando o projeto REMPLAC
(Recursos Minerais da Plataforma Continental
Brasileira), o Serviço Geológico do Brasil
estabeleceu os interesses do Brasil quanto aos
recursos
minerais
presentes
na
Área
Internacional dos Oceanos (Area) elegendo
igualmente as possíveis áreas de interesse de
nosso país.
Em trabalho recentemente divulgado
SOUZA et al. (2006) apontam para as áreas
promissoras no Atlântico Sul, citando crostas
cobaltíferas da Elevação de Rio Grande, os
nódulos polimetálicos das bacias oceânicas
adjacentes a Ilha de Trindade e os sulfetos
polimetálicos e recursos biotecnológicos do
arquipélago São Pedro e São Paulo (Fig. 6).
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Figura 6. Oceano Atlântico Sul mostrando as áreas de interesse do Brasil na “Area” (SOUZA, 2006).
Deve ser enfatizado que a “Area" e
seus recursos são patrimônio comum da
humanidade e nenhum estado pode reivindicar
ou exercer soberania sobre a mesma.
Segundo SOUZA et al. (2006) o Brasil
demonstra seu interesse nos recursos minerais
ocorrentes na área realizando estudos de
delimitação
das
reservas
estratégicas,
desenvolvimento de tecnologia de ponta de
intervenção marinha, desenvolvimento de massa
crítica e estudos detalhados dos altos
topográficos.
Embora
inexista
um
interesse
econômico imediato, observa-se atualmente uma
atividade bastante
intensa
dos países
desenvolvidos para localizar recursos minerais
nessa zona internacional (a requisição da
Alemanha à ISA é um exemplo).
De maneira geral esses esforços tendem
a assegurar que os recursos minerais marinhos
adjacentes a plataforma continental jurídica
possam vir a constituir uma reserva econômica
estratégica e política para futuras gerações.
ANTRIM
(2006)
divulgou
recentemente os valores comerciais dos metais
ocorrentes nos nódulos, crostas e sulfetos
polimetálicos, fornecendo uma visão relativa ao
possível aproveitamento desses recursos (Tab.
1).
Tabela 1. Valores comerciais dos metais contidos em nódulos, crostas e sulfetos polimetálicos (ANTRIM, 2006).
* valores em US$
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANTRIM, C.L. 2006. Deep Seabed Mining the
second time around. Sea Technology, 47
(8): p. 17-24.
CRONAN, D. 1985. A Wealth of Sea Floor
Minerals. New Scientist: p. 34-38.
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SOUZA, K.G.; ROCHA NETO, M.B.; SCLIAR,
C.; DINIZ, N; BRITO, R.S.C. & ROIG,
H.L. 2006. Recursos Minerais da Área
Internacional dos Oceanos. Perspectivas
de Exploração no Atlântico Sul. Programa
de Geologia e Geofísica Marinha, 37°
Encontro. Rio Grande, Brasil.
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