LISTA DE EXERCÍCIOS: DO MITO À FILOSOFIA PRÉ-­‐SOCRÁTICA 1. (Uel 2013) No livro Através do espelho e o que Alice encontrou por lá, a Rainha Vermelha diz uma frase enigmática: “Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar.” (CARROL, L. Através do espelho e o que Alice encontrou por lá. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. p.186.) Já na Grécia antiga, Zenão de Eleia enunciara uma tese também enigmática, segundo a qual o movimento é ilusório, pois “numa corrida, o corredor mais rápido jamais consegue ultrapassar o mais lento, visto o perseguidor ter de primeiro atingir o ponto de onde partiu o perseguido, de tal forma que o mais lento deve manter sempre a dianteira.” (ARISTÓTELES. Física. Z 9, 239 b 14. In: KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os Pré-­‐socráticos. 4.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, p.284.) Com base no problema filosófico da ilusão do movimento em Zenão de Eleia, é correto afirmar que seu argumento a) baseia-­‐se na observação da natureza e de suas transformações, resultando, por essa razão, numa explicação naturalista pautada pelos sentidos. b) confunde a ordem das coisas materiais (sensível) e a ordem do ser (inteligível), pois avalia o sensível por condições que lhe são estranhas. c) ilustra a problematização da crença numa verdadeira existência do mundo sensível, à qual se chegaria pelos sentidos. d) mostra que o corredor mais rápido ultrapassará inevitavelmente o corredor mais lento, pois isso nos apontam as evidências dos sentidos. e) pressupõe a noção de continuidade entre os instantes, contida no pressuposto da aceleração do movimento entre os corredores. 2. (Ufu 2013) De um modo geral, o conceito de physis no mundo pré-­‐socrático expressa um princípio de movimento por meio do qual tudo o que existe é gerado e se corrompe. A doutrina de Parmênides, no entanto, tal como relatada pela tradição, aboliu esse princípio e provocou, consequentemente, um sério conflito no debate filosófico posterior, em relação ao modo como conceber o ser. Para Parmênides e seus discípulos: a) A imobilidade é o princípio do não-­‐ser, na medida em que o movimento está em tudo o que existe. b) O movimento é princípio de mudança e a pressuposição de um não-­‐ser. c) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é fruto de imaginação especulativa. d) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso a realidade empírica é puro ser, ainda que em movimento. 3. (Ufu 2013) Existe uma só sabedoria: reconhecer a inteligência que governa todas as coisas por meio de todas as coisas. Heráclito, Diels-­‐Kranz, Frag. 41. http://historiaonline.com.br Prof. Rodolfo Por isso é necessário seguir o que é igual para todos, ou seja, o que é comum. De fato, o que é igual para todos coincide com o que é comum. Mas ainda que o logos seja igual para todos, a maior parte dos homens vive como se possuísse dele um conhecimento próprio. Heráclito, Diels-­‐Kranz, Frag. 2. Com base nos textos acima e em seus conhecimentos sobre a filosofia heraclitiana, responda: a) O que é o logos ao qual o filósofo se refere? b) Explicite a relação existente entre o logos e a inteligência, tal como encontrados nos fragmentos supracitados. 4. (Ufu 2013) A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício especulativo-­‐racional. De fato, “[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-­‐socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32. Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta. a) A mentalidade pré-­‐filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens. b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-­‐o como base da sua especulação teórica e adotando a sua metodologia. c) A narrativa mítico-­‐religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático fundamental para a vida cotidiana. d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada, crítica e radical, baseada no logos. 5. (Ueg 2013) O ser humano, desde sua origem, em sua existência cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por meio dos quais procura orientar seu comportamento teórico e prático. Entretanto, houve um momento em sua evolução histórico-­‐social em que o ser humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações e perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e escolhas. Nesse sentido, pode-­‐se afirmar que a filosofia a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio da elaboração dos sentimentos, das percepções e dos anseios humanos, procura consolidar nossas crenças e opiniões. b) existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou uma época específica para seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é também filosófica e exige o trabalho da razão. c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição e LISTA DE EXERCÍCIOS: DO MITO À FILOSOFIA PRÉ-­‐SOCRÁTICA pela sociedade, visando educar o ser humano como cidadão. d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e justificações racionais que validam ou invalidam suas crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da verdade revelada pela codificação mítica. 6. (Ueg 2013) O surgimento da filosofia entre os gregos (Séc. VII a.C.) é marcado por um crescente processo de racionalização da vida na cidade, em que o ser humano abandona a verdade revelada pela codificação mítica e passa a exigir uma explicação racional para a compreensão do mundo humano e do mundo natural. Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente, destaca-­‐se: a) a concepção política expressa em A República, de Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar sob um regime político oligárquico. b) a criação de instituições universitárias como a Academia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles. c) a filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-­‐nos como legado a recusa de uma fé inabalável na razão humana e a crença de que sempre devemos acreditar nos sentimentos. d) a recusa em apresentar explicações preestabelecidas mediante a exigência de que, para cada fato, ação ou discurso, seja encontrado um fundamento racional. 7. (Uncisal 2012) O período pré-­‐socrático é o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões se prendem a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável que se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda formulação filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito afirmam ser a realidade percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem que os sentidos apenas capturam uma realidade superficial, mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os sentidos apreendam “as mutações das coisas, no fundo, os elementos primordiais que constituem essa realidade jamais se alteram.” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra. Para Leucipo e Demócrito a physis é composta a) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio. b) pela água. c) pelo fogo. d) pelo ilimitado. e) pelos átomos. 8. (Enem 2012) TEXTO I Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-­‐se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-­‐se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-­‐se em água. A água, quando mais condensada, transforma-­‐se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transforma-­‐ se em pedras. BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-­‐ Rio, 2006 (adaptado). http://historiaonline.com.br Prof. Rodolfo TEXTO II Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”. GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado). Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que a) eram baseadas nas ciências da natureza. b) refutavam as teorias de filósofos da religião. c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas. d) postulavam um princípio originário para o mundo. e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas. 9. (Ufsj 2012) Sobre o princípio básico da filosofia pré-­‐ socrática, é CORRETO afirmar que a) Tales de Mileto, ao buscar um princípio unificador de todos os seres, concluiu que a água era a substância primordial, a origem única de todas as coisas. b) Anaximandro, após observar sistematicamente o mundo natural, propôs que não apenas a água poderia ser considerada arché desse mundo em si e, por isso mesmo, incluiu mais um elemento: o fogo. c) Anaxímenes fez a união entre os pensamentos que o antecederam e concluiu que o princípio de todas as coisas não pode ser afirmado, já que tal princípio não está ao alcance dos sentidos. d) Heráclito de Éfeso afirmou o movimento e negou terminantemente a luta dos contrários como gênese e unidade do mundo, como o quis Catão, o antigo. 10. (Uem 2012) “A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos materiais e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana” (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32). Considerando o exposto, assinale o que for correto. 01) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C.. Apesar de seu nascimento ser considerado o “milagre grego”, é conhecida a frequentação de Atenas por outros sábios que viveram no século VI a.C., como Confúcio e Lao Tse LISTA DE EXERCÍCIOS: DO MITO À FILOSOFIA PRÉ-­‐SOCRÁTICA (provenientes da China), Buda (proveniente da Índia) e Zaratustra (proveniente da Pérsia), fazendo da filosofia grega uma espécie de comunhão dos saberes da antiguidade. 02) O surgimento da filosofia é coetâneo ao advento da pólis (cidade). Novas estruturas sociais e políticas permitiram o desenvolvimento de formas de racionalidade, modificadoras da prática do mito. 04) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica, os sofistas representam, indiscutivelmente, o ponto mais alto da filosofia clássica grega (séculos V e IV a.C.), ultrapassando Sócrates, Platão e Aristóteles. 08) Filósofo é aquele que busca certezas sem garantias de possuí-­‐las efetivamente. Por essa razão, o filósofo deseja o conhecimento do mundo e das práticas humanas por meio de critérios aproximativos e compartilhados (de aceitação comum), através do debate. 16) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras habilidades, pela capacidade de generalização e produção de conceitos, encontrando, sob a multiplicidade de objetos do mundo, relações de semelhança e de identidade. 11. (Unb 2012) No início do século XX, estudiosos esforçaram-­‐ se em mostrar a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito e filosofia, opondo-­‐se a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade entre ambos. A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi entendida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia nascente, dado que os primeiros filósofos haviam suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos. Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando certa continuidade entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em relação ao mito foi retomada. Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga. a) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade arcaica, e a filosofia corresponde ao advento da razão liberada da religiosidade. b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo é apresentada imaginativamente, e a filosofia caracteriza-­‐se como explicação racional que retoma questões presentes no mito. c) O mito fundamenta-­‐se no rito, é infantil, pré-­‐lógico e irracional, e a filosofia, também fundamentada no rito, corresponde ao surgimento da razão na Grécia Antiga. d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a origem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a partir do dilema insuperável entre caos e medida. http://historiaonline.com.br Prof. Rodolfo 12. (Unioeste 2012) “É no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-­‐se e formou-­‐se. A experiência social pode tornar-­‐se entre os gregos o objeto de uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem humana, procuraram defini-­‐la em si mesma, traduzi-­‐la em fórmulas acessíveis a sua inteligência, aplicar-­‐lhe a norma do número e da medida. Assim se destacou e se definiu um pensamento propriamente político, exterior a religião, com seu vocabulário, seus conceitos, seus princípios, suas vistas teóricas. Este pensamento marcou profundamente a mentalidade do homem antigo; caracteriza uma civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva, de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana”. Considerando a citação acima, extraída do livro As origens do pensamento grego, de Jean Pierre Vernant, e os conhecimentos da relação entre mito e filosofia, é incorreto afirmar que a) os filósofos gregos ocupavam-­‐se das matemáticas e delas se serviam para constituir um ideal de pensamento que deveria orientar a vida pública do homem grego. b) a discussão racional dos Sábios que traduziu a ordem humana em fórmulas acessíveis a inteligência causou o abandono do mito e, com ele, o fim da religião e a decorrente exclusividade do pensamento racional na Grécia. c) a atividade humana grega, desde a invenção da política, encontrava seu sentido principalmente na vida pública, na qual o debate de argumentos era orientado por princípios racionais, conceitos e vocabulário próprios. d) a política, por valorizar o debate publico de argumentos que todos os cidadãos podem compreender e discutir, comunicar e transmitir, se distancia dos discursos compreensíveis apenas pelos iniciados em mistérios sagrados e contribui para a constituição do pensamento filosófico orientado pela Razão. e) ainda que o pensamento filosófico prime pela racionalidade, alguns filósofos, mesmo após o declínio do pensamento mitológico, recorreram a narrativas mitológicas para expressar suas ideias; exemplo disso e o “Mito de Er” utilizado por Platão para encerrar sua principal obra, A República. 13. (Ueg 2011) No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, os teatros estavam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto importante da civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. Para obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar. Isso favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte da oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em troca de pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são conhecidos como a) maniqueistas. LISTA DE EXERCÍCIOS: DO MITO À FILOSOFIA PRÉ-­‐SOCRÁTICA b) hedonistas. c) epicuristas. d) sofistas. 14. (Uenp 2011) Mario Quintana, no poema “As coisas”, traduziu o sentimento comum dos primeiros filósofos da seguinte maneira: “O encanto sobrenatural que há nas coisas da Natureza! [...] se nelas algo te dá encanto ou medo, não me digas que seja feia ou má, é, acaso, singular”. Os primeiros filósofos da antiguidade clássica grega se preocupavam com: a) Cosmologia, estudando a origem do Cosmos, contrapondo a tradição mitológica das narrativas cosmogônicas e teogônicas. b) Política, discutindo as formas de organização da polis e estabelecendo as regras da democracia. c) Ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores e da vida virtuosa. d) Epistemologia, procurando estabelecer as origens e limites do conhecimento verdadeiro. e) Ontologia, construindo uma teoria do ser e do substrato da realidade. 15. (Unicentro 2010) Leia o fragmento de um texto pré-­‐ socrático: “Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para nenhuma das coisas mortais, como não há fim na morte funesta, mas somente composição e dissociação dos elementos compostos: nascimento não é mais do que um nome usado pelos homens”. (EMPÉDOCLES. Apud ARANHA/ MARTINS. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3ª Ed., São Paulo: Moderna, 2006 -­‐ p. 86.). A respeito da relação entre mythos e logos (razão) no início da filosofia grega, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas. I. O fragmento acima denota a “luta de forças” opostas na massa dos membros humanos, que ora unem-­‐se pelo amor – no início todos os membros que atingiram a corporeidade da vida florescente –, ora divididos pela força da discórdia, erram separados nas linhas da vida. Assim ocorre também com todos os outros seres na natureza. II. A verdade filosófica apresenta-­‐se no pensamento de Empédocles através de uma estrutura lógica muito distante da “verdade” expressa nos relatos míticos dos gregos arcaicos. III. Nascimento e morte, no texto de Empédocles, são apresentados por meio de representações míticas que o filósofo retira de uma tradição religiosa presente ainda em seu tempo. Essas imagens, consequentemente, se transpõem, sem deixarem de ser místicas, em uma filosofia que quer captar a verdadeira essência da realidade física. IV. O fragmento denota continuidade do pensamento mítico no início da filosofia, pois estão presentes ainda o uso de certas estruturas comuns de explicação. http://historiaonline.com.br a) Apenas II, III e IV estão corretas. b) Apenas I, III e IV estão corretas. c) Apenas I e II estão corretas. d) Apenas I e IV estão corretas. e) Apenas I, II e IV estão corretas. Prof. Rodolfo LISTA DE EXERCÍCIOS: DO MITO À FILOSOFIA PRÉ-­‐SOCRÁTICA Gabarito: Resposta da questão 1: [C] O argumento de Zenão problematiza a tese de que o espaço, conceitualmente dado, é divisível. Portanto, o seu argumento parte da suposição da verdade dessa qualidade do espaço, sua divisibilidade, para provar o seu absurdo. Se considerarmos possível a divisão do espaço, então teremos que assumir, por exemplo, que é impossível Aquiles ultrapassar a tartaruga em uma corrida, pois para Aquiles ultrapassar a tartaruga ele teria antes que ultrapassar a metade da distância entre eles, e depois a metade da metade, e depois a metade da metade, assim por diante infinitamente, de modo que Aquiles nunca sairia do seu lugar de origem. Como isso é absurdo, então o espaço não é efetivamente divisível e sim uno; também, o movimento é ilusório, pois não existe um percurso que se percorre, afinal não se pode realmente dividir o espaço. Resposta da questão 2: [B] O conceito de physis entre os pré-­‐socráticos expressa basicamente o princípio gerador, constituinte e ordenador de todas as coisas. Segundo Parmênides, este princípio é aquilo que racionalmente compreendemos ser sempre e nunca mutante, sendo o seu contrário justamente o não-­‐ser. É uma tese difícil de apreendermos, como se pode observar no seguinte trecho do seu poema: “eu te direi, e tu, recebe a palavra que ouviste, os únicos caminhos de inquérito que são a pensar: o primeiro, que é; e, portanto, que não é não ser, de Persuasão, é caminho, pois à verdade acompanha. O outro, que não é; e, portanto, que é preciso não-­‐ser. Eu te digo que este último é atalho de todo não crível, Pois nem conhecerias o que não é, nem o dirias...” (tradução de José Cavalcante de Souza, “Parmênides de Eléia”, in Os pré-­‐socráticos, coleção Os Pensadores) Resposta da questão 3: a) O logos, no pensamento de Heráclito, é o princípio, ou seja, é o mundo como devir eterno, é a guerra entre os contrários que possuem em si mesmos a existência própria e do oposto, é a unidade da multiplicidade na qual “tudo é um”, é o fogo, é o conhecimento verdadeiro. O logos é a exposição de um único mundo comum a todos. b) O logos possui no seu sentido comum um caráter contingente, quer dizer, qualquer homem é capaz de construir uma narrativa, um discurso sobre o mundo. E Heráclito diz que o mais o corriqueiro é exatamente a construção arbitrária e parcial disto que antes de tudo deveria ser comum. Ele, então, alerta sobre a necessidade de que o logos não seja exposto sem que antes haja o reconhecimento da inteligência http://historiaonline.com.br Prof. Rodolfo que torna isto aparentemente diverso em algo unido sob um único governo, a saber, o logos comum. Resposta da questão 4: [C] A Filosofia difere fundamentalmente do mito, pois este é um discurso baseado na autoridade religiosa e aquela é um discurso baseado na racionalidade de todo e qualquer cidadão. O desenvolvimento da Filosofia está muitíssimo próximo do desenvolvimento das cidades-­‐estados gregas que deixavam de tomar decisões concordantes com os aconselhamentos dos oráculos e passavam a tomar suas decisões através do diálogo entre homens igualmente racionais. De todo modo, a narrativa mítico-­‐religiosa possuía sua importância por garantir a sobrevivência de tradições, que definiam a cultura dos povos e mantinham os cidadãos convivendo de modo relativamente harmonioso. Resposta da questão 5: [D] A filosofia nasce, historicamente, em um período da Grécia antiga no qual se modificava a maneira com que os homens se relacionavam. Sendo que os mitos organizavam toda a vida social, consolidando práticas e cerimônias religiosas nas famílias, entre as famílias, nas tribos, entre cidades, etc., a sua modificação, ou até extinção, inevitavelmente faria renascer, distinta, a organização das relações dos homens entre eles mesmos nas casas e na cidade. A filosofia, por conseguinte, tem sua origem em duas modificações uma contextual e outra subjetiva, isto é, uma modificação na cidade e outra no próprio homem. As modificações da cidade e da própria subjetividade se confundem, pois a própria cidade deixa de se conformar com certas tradições religiosas e a própria subjetividade, com o passar das gerações, deixa de prezar os valores ancestrais organizados nos mitos. Com essas mudanças, a cidade e o homem passam a se constituir a partir de outras práticas consideradas fundamentais, como o pensamento racional – um pensamento com começo, meio e fim e justificado pela a experiência do mundo, sem o auxílio de entes inalcançáveis. Resposta da questão 6: [D] No período em questão, as cidades passam a se organizar de uma maneira distinta, livrando-­‐se de uma centralização na figura de um rei (anax) e estabelecendo a figura de vários líderes (basileus). Nesta nova ordem, o rei não é capaz de dar a ordem para ser obedecido incondicionalmente e os vários líderes devem ser convencidos da ação necessária pela racionalidade do argumento, e não pela coerção. Essa necessidade de argumentar racionaliza os procedimentos deliberativos da cidade e acabam por estabelecer uma ordem na qual a tradição passa a ser afastada de pouco em pouco por sua inaptidão em atender problemas de ordem prática com eficiência. LISTA DE EXERCÍCIOS: DO MITO À FILOSOFIA PRÉ-­‐SOCRÁTICA Resposta da questão 7: [E] O pensamento de Demócrito e Leucipo é chamado de atomístico, por considerarem que todas as coisas são constituídas por elementos indivisíveis, que estão em constante movimento e se agrupam de formas diversas, formando os corpos. Esses elementos indivisíveis é que são chamados de átomos. Resposta da questão 8: [D] Anaxímenes de Mileto (585–528 a.C.) é um filósofo pré-­‐ socrático preocupado com a cosmologia, isto é, preocupado com a ordenação das coisas que compões o mundo. Desse modo, a sua filosofia posiciona princípios dos quais ele pensa poder derivar de maneira coerente e coesa o sentido da existência de tudo que há na natureza. Já São Basílio Magno (329–379 d.C.) é um teólogo preocupado com a propagação da verdade revelada pela Bíblia, o livro que já oferece toda a ordenação das coisas que compõem o mundo. Desse modo, Deus não é exatamente um princípio do qual se origina o mundo, mas sim o próprio criador desse mundo, o seu dono e conhecedor de todas as suas regras cosmológicas. Resposta da questão 9: [A] Somente a alternativa [A] está correta. Anaximandro considerava que a arché do mundo era o ilimitado, e não a água e o fogo. Anaxímenes, diferenciando-­‐se de Anaximandro, afirmava que a origem das coisas era o ar. Por fim, Heráclito concebia o mundo justamente como um movimento de luta dos contrários. Resposta da questão 10: 02 + 08 + 16 = 26. O surgimento da filosofia só foi possível graças às transformações sociais e econômicas ocorridas na Grécia, permitindo o surgimento dessa nova modalidade de conhecimento, dito filosófico. Filosofia significa uma atitude crítica frente ao mundo e que não se contenta com os conhecimentos aparentes. Desta forma, o filósofo cria conceitos que o ajudam a chegar mais perto da verdade, ainda que não tenha qualquer garantia que irá conseguir chegar a ela ou não. Resposta da questão 11: [B] A alternativa [B] é a mais correta. O mito pode ser caracterizado pela sua narrativa fantástica e que serve de modelo explicativo sobre a origem das coisas e do porquê delas serem como são. A filosofia, em contrapartida, ainda que faça indagações similares a essas, rejeita as explicações http://historiaonline.com.br Prof. Rodolfo fantásticas, considerando a razão como critério de veracidade de suas análises e explicações. Resposta da questão 12: [B] O nascimento da filosofia não significou o abandono absoluto dos mitos, que continuaram presentes tanto na cultura grega quanto em obras filosóficas, como recursos de argumentação, como bem apresenta a alternativa [E]. Resposta da questão 13: [D] É um tanto complicado chamar os conhecidos sofistas de filósofos, afinal eles eram conhecidos como sofistas, e não como filósofos, e existe um motivo para tal diferenciação. Basicamente, a diferença está na relação com o conhecimento que cada um dos tipos mantém. O sofista possui um relacionamento técnico com o conhecimento, isto é, o sofista domina a opinião (dóxa) e faz uso técnico deste tipo de conhecimento para estabelecer posições relativas, com força argumentativa menor ou maior. O filósofo possui um relacionamento amoroso com o conhecimento, isto é, o filósofo deseja conhecer e, por conseguinte, busca, através de uma investigação rigorosa, desvelar a verdade (alétheia) por trás das opiniões particulares que cada homem possui sobre as coisas do mundo. Portanto, por serem tipos bastante distintos é mais interessante que não sejam confundidos e sejam expostos na sua diferença para que enriqueçam a história da antiguidade grega. Resposta da questão 14: [A] O período pré-­‐socrático ou cosmológico, do final do século VII ao final do século IV a.C. , se deu quando a Filosofia ocupou-­‐se fundamentalmente com a origem do mundo e suas transformações na natureza, pois entre outras coisas não admite a criação do mundo a partir do nada, mas a afirma a geração de todas as coisas por um princípio natural de onde tudo vem e para onde tudo retorna. Resposta da questão 15: [A] A filosofia pré-­‐socrática pode ser considerada como uma filosofia de transição do pensamento mítico para o pensamento filosófico propriamente dito. Assim sendo, encontramos muitos elementos míticos nos escritos desses pensadores, como é o caso de Empédocles. Este, para fazer uma abordagem filosófica da morte, utiliza-­‐se de representações míticas. Nesse sentido, podemos dizer que as afirmativas II, III e IV são todas corretas. Em contraposição está a afirmativa I, que é incorreta por introduzir a ideia de “luta de forças”, que é de Heráclito, e não de Empédocles.