Diretrizes contemporâneas para o Ensino de Arte.

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DIRETRIZES CONTEMPORÂNEAS PARA O ENSINO DE ARTEi
Gilvânia Maurício Dias de Pontes
A presença da área de Arte na escola historicamente assumiu perspectivas e
objetivos diferentes, servindo a variados fins que influenciaram práticas de ensino e de
aprendizagem diferentes. As tendências pedagógicas do ensino de arte se constituíram a
partir da relação entre movimentos artísticos (teorias estéticas) e os saberes e fazeres,
especialmente, do campo da Pedagogia.
Contemporaneamente para compreender os significados atribuídos ao ensino de
arte se faz necessário observar as mudanças que ocorreram no entendimento de estética e de
arte na passagem do campo moderno para o contemporâneo e relacioná-las ás modificações
ocorridas na Pedagogia. No contemporâneo há uma ampliação das significações do
entendimento de arte, que passa a abrigar as mais diversas experimentações, não mais
atrelada ao ideal de beleza, mas de contextualização do objeto artístico.
A arte assim concebida exige outras formas de interação com os objetos
artísticos na qual o olhar do apreciador é participativo do estabelecimento de significados
para o que foi proposto pelo artista. Nesse sentido faz-se necessário educar os indivíduos
para que possam estabelecer o diálogo entre vivências e experiências estéticas e os objetos
artísticos, para isso os saberes e fazeres da arte devem ser abordados em todos os níveis da
educação formal no sentido da formação do leitor-apreciador da arte.
A partir das últimas décadas do século XX, no Brasil os arte-educadores
empreenderam um movimento de resgate da sua valorização profissional e da valorização
da área de Arte como um conhecimento que deve estar presente nos currículos em
todos os níveis de ensino. Articularam, assim, diretrizes diferentes para a presença desse
conhecimento na escola. Essas diretrizes emergiram como fruto da luta em defesa da
presença da Arte no currículo e de mudanças conceituais no seu ensino. Mudança e
valorização conceitual no intuito de devolver “Arte à educação” e favorecer a todos o
acesso aos códigos artísticos e às possibilidades de expressão desses códigos. O objetivo
daqueles que acreditaram e acreditam nesses pressupostos conceituais é contribuir para a
difusão da Arte na escola, garantindo a possibilidade igualitária de acesso ao seu
conhecimento. “É preciso levar a Arte, que está circunscrita a um mundo socialmente
limitado a se expandir, tornando-se patrimônio cultural da maioria”. (Barbosa, 1991).
Essas diretrizes contemporâneas para o tratamento da Arte direcionam sua visão
em três de suas dimensões que, na prática de sala de aula, se tornarão complementares: Arte
como linguagem, Arte como expressão da cultura e Arte como conhecimento.
Arte como linguagem – Os conhecimentos da área de Arte são expresso por
meio de linguagens que têm em comum com outras linguagens constituir-se em processos
representacionais e comunicativos. As linguagens artísticas têm uma sintaxe própria que
lhes dá significação e faz com que possam ser lidas. Realizar leituras e estabelecer sentidos
para as manifestações artísticas significa entrar em contato com a forma como estas se
constituem e interpretar as combinações das relações significantes da mensagem artística.
Além do aspecto representacional e comunicativo, o que há de comum entre as
linguagens artísticas é a sua pertença ao campo estético. Nesse sentido, ao tratarmos de
práticas pedagógicas em linguagens artísticas tomamos como referencial a estética
contemporânea que reconhece a arte como um conhecimento construído num tempo e
espaço a partir da relação entre experiência estética, do fenômeno estético e do saber
estético. Para Hume (1994), só é possível compreender o sentido da arte através das suas
manifestações sensíveis, atribuir a essas manifestações significados artísticos e estéticos
passa por dialogar com os objetos sensíveis enquanto fenômeno estético, experiência
estética e saber estético.
Arte como expressão da cultura – Revela a preocupação com a influência
cultural presente no entorno da produção artística, seja no momento da produção, da
distribuição ou da apreciação. Observar a Arte em sua relação com a cultura significa estar
construindo os elementos de significação que nos possibilitam o melhor entendimento das
representações da arte. Significa também estar tecendo relações entre diferentes aspectos
políticos, ideológicos e econômicos, entre outros. Nesse sentido, através do contato com os
objetos culturais da arte é possível favorecer aos educandos o contato com a diversidade
cultural do mundo contemporâneo possibilitando-lhe a conscientização sobre o processo de
construção de sua identidade cultural e o conhecimento acerca dos códigos culturais –
estéticos e artísticos de outros povos.
Arte como conhecimento – A Arte é entendida como qualquer outra área do
conhecimento humano, com uma história e repertório próprio que podem ser vivenciados e
refletidos pelos alunos em situações de ensino. No Brasil, a Proposta Triangular de Ensino
da Arte propõe que para se olhar a Arte enquanto conhecimento é necessário articular o
fazer artístico, a contextualização e a leitura de obras.
O objeto de conhecimento é a própria Arte, suas várias linguagens e
códigos. O indivíduo chega à produção artística através de um
processo (sentir, pensar, construir e expressar) no qual as
experiências anteriores acumuladas pelo sujeito articulam o antigo e
o novo, dando-se aí uma aprendizagem significativa, na qual o
professor, os colegas e o meio desempenham um papel de mediação
cultural e de intervenção em área de desenvolvimento potencial do
aluno (São Paulo, SP, Visão de Área n.5).
O entendimento da arte enquanto construção humana e como patrimônio
cultural foi contemplado pela LDB 9394/96, quando da definição da obrigatoriedade dessa
disciplina na organização curricular das escolas. Assim como está presente nos documentos
oficiais para o ensino da área PCN e RCNEI. No entanto, a legalização não implica
diretamente em legitimidade na escola, para isso esses documentos devem ser significados
e ressignificados pela ação dos educadores em seus contextos específicos.
Compreendendo que a arte apresenta-se, como sistema simbólico articulado em
processos de comunicação contextualizados culturalmente, o educador deve ter consciência
dos elementos constitutivos da área, na organização do seu fazer pedagógico, visto que a
ação educativa deve ser intencional e dessa forma organizada em seus objetivos, conteúdos,
estratégias metodológicas e avaliação.
A ação docente tendo como objetivo a construção de conhecimentos,
procedimentos e valores, exige intencionalidade no ato de ensinar. A construção da
intencionalidade relaciona-se às referências que o educador apreendeu e/ou apreende na sua
formação inicial e continuada.
Nos espaços de formação, é preciso colocar o educador diante de situações em
que possa refletir sobre o entendimento de arte e de estética e sobre sua ação enquanto
mediador entre os objetos culturais da arte e seus alunos. Mediação cultural aqui sendo
entendida como a tarefa de educadores em sua ação de aproximar indivíduos ou grupos de
indivíduos às obras da cultura potencializando a experiência estética e formação cultural.
Fomentar a consciência do educador acerca dos elementos constitutivos da área
de arte significa também possibilitar o acesso dos mesmos aos saberes e procedimentos
próprios de cada linguagem artística possibilitando-lhe vivenciar experiências estéticas em
que ele se coloque como leitor e como produtor de arte.
Nesse sentido os processos de criação em linguagens artísticas devem ser
vivenciados e refletidos pelo educador, tecendo relação com sua prática de sala de aula.
Para que este possa compreender as especificidades das linguagens artísticas e seja capaz
de organizar metodologicamente as situações de ensino relacionando-as coerentemente aos
processos de aprendizagem.
Articular situações de ensino e de aprendizagem requer também produção de
materiais didáticos e de registros que possibilitem a organização da memória do fazer
pedagógico em determinado projeto para posterior consulta por outros educadores,
tornando-se assim elemento que alimenta a formação continuada.
Pensamos ser pertinente lembrar que ao abordarmos uma área de conhecimento
o fazemos cientes que a ação do professor deverá contemplar relações para além da área
específica, ou seja, relações que contemplem a articulação coerente entre o projeto político
pedagógico, o cotidiano da sala de aula e a produção de material didático, tais como:
 A especificidade da área deverá ser relacionada as demais
especificidades do currículo, pois é preciso ver a organização curricular
como um todo, e ver com a área de Arte nela se insere;
 O posicionamento da instituição, com relação às áreas de
conhecimento, influi na qualidade da mediação do educador, por isso é
preciso que os docentes se organizem enquanto sujeitos atuantes que
influenciam nos rumos da sua escola;
 As intervenções dos educadores ocorrem dentro de uma
organização espaço-temporal que influencia nos seus rumos. Faz-se
necessário a criação de condições objetivas para que a prática pedagógica
em arte tenha êxito.
Referências:
PONTES, Gilvânia Maurício Dias de. (Orgs.). Livro Didático 2: o ensino de artes de 5ª a
8ª séries. Natal: Paidéia, 2005.
i
Introdução do Livro Didático 2: o ensino de artes de 5ª a 8ª série. Natal: Paidéia.
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