Veneno na boca

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Veneno na boca
Walter Hess
Quando os dentes estragam devido à má alimentação,
as cáries são geralmente obturados com amálgama —
uma técnica simples. Mas o amálgama contém um veneno
que intoxica o organismo: o mercúrio.
Já em 1616, um governador do Peru escrevia ao rei da Espanha sobre o trabalho forçado de índios
nas minas de mercúrio: “O veneno penetra até o tutano dos ossos e enfraquece todos os membros;
provoca um tremor constante e os trabalhadores morrem, geralmente, no decorrer de quatro anos”.
Contradizendo declarações anteriores, a Associação de Odontologia Americana reconheceu, pela
primeira vez, em 1984, que as obturações de amálgama liberam mercúrio. Isso foi confirmado em
seguida por diversos órgãos públicos. Pesquisas mostraram que o teor de mercúrio na saliva e no ar
ao expirar é maior nas pessoas que têm obturação de amálgama. Os índices são mais altos ainda
enquanto mascam chiclete. Um estudo de cadáver mostrou a relação clara entre o número e o
tamanho das obturações de amálgama e o teor de mercúrio no cérebro e nos rins. O mercúrio se
alastra também através da raiz do dente para todo o organismo. Deposita-se no pâncreas, no fígado
e na tiróide. A eliminação do mercúrio depende de vitamina C, zinco e selênio em quantidade
suficiente.
Uma das causas da liberação de mercúrio nas obturações de amálgama é a diferença de tensão
elétrica entre obturações de amálgama e outros metais, como o ouro. Também ocorrem tensões
entre obturações de amálgama e obturações de materiais sintéticos. Na presença de uma solução
(na boca, a saliva), passa uma corrente entre diferentes metais. Forma-se um elemento galvânico. O
amálgama, menos nobre, é dissolvido e aparece uma corrente elétrica que pode ser medida.
Os riscos são encobertos
Os riscos, quase sempre, são negados e banalizados pelos dentistas.
Entretanto, resíduos de amálgamas obtidos nos consultórios dentários não são considerados
inofensivos. Quando o amálgama aparece fora da boca, o perigo que a substância representa é
repentinamente reconhecido. A mesma substância torna-se um elemento altamente tóxico — uma
contradição que deveria ser notada por qualquer pessoa com um mínimo de senso crítico.
O Ministério Suíço do Meio Ambiente (Buwal) afirmou: “Devido ao teor de mercúrio, até mesmo o
algodão levemente sujo é considerado lixo de risco especial e deve ser tratado como tal. Ao lado do
chumbo e do cádmio, o mercúrio é o veneno ambiental mais conhecido entre os metais pesados.”
Aspectos ambientais do mercúrio
A carga de mercúrio no ar e no solo é causada principalmente pela queima de lixo urbano contendo
mercúrio (incluindo pilhas, resíduos de decantação, de consultórios odontológicos etc.). Nos
incineradores de lixo não equipados com dispositivos para o tratamento dos gases expelidos, o
mercúrio existente nos detritos é quase todo lançado por meio da fumaça no meio ambiente.
Somente instalações especiais para o tratamento dos gases conseguem reter até 90% do mercúrio.
Além disso, a agricultura contamina o solo com o adubo químico, que contém mercúrio e produtos à
base de mercúrio para o tratamento das sementes.
Desinfetantes que contêm mercúrio ainda são utilizados em diversos lugares. Na Alemanha, o uso
de remédios com mercúrio já havia sido interditado há vários anos por danos à saúde.
Substâncias compostas de mercúrio combinam facilmente com as proteínas e outras
macromoléculas. São venenos potentes, que destroem enzimas e membranas celulares.
Envenenamento crônico por sais de mercúrio provoca proteinúria (presença de proteína na urina). O
metilmercúrio afeta principalmente o cérebro. Fetos e recém-nascidos são especialmente
vulneráveis. Também o mercúrio elementar pode acumular-se no cérebro. A permanência
prolongada de mercúrio no cérebro — mesmo em pequena concentração — afeta os centros de
controle motor. Por isso, o cérebro é considerado o órgão crítico para a acumulação de mercúrio.
Conseqüências da intoxicação por mercúrio
Os dentes são parte do nosso organismo. Quando doentes, podem afetar todos os órgãos. Os
incisivos estão relacionados, por exemplo, com rins, bexiga, próstata e ovários. Os caninos estão
relacionados com o fígado e a vesícula biliar. Os dentes podem provocar diversas formas de
reumatismo, lesões no coração, nos rins, na pele e, às vezes, até um cansaço generalizado. Quando
os dentes são obturados com mercúrio e perdem continuamente este metal, ocorre uma intoxicação
geral e crônica do organismo. Essa difusão do tóxico, muitas vezes, provoca uma sobrecarga para o
sistema imunológico. Outras vezes, os dentes ficam moles ou a pessoa emagrece ou fica anêmica.
Podem aparecer problemas neurológicos, zumbido nos ouvidos, tremores nas mãos, insônia ou
sensibilidade a ruídos. Mesmo q uantidades mínimas de mercúrio, que chegam ao organismo
durante um tempo prolongado, podem provocar uma série de problemas: dores de cabeça,
transtornos da visão, edemas (no rosto, nos lábios, na mucosa da boca, da língua e da garganta),
eczema crônico, bronquite asmática, cansaço crônico, menor capacidade de reação, maior
necessidade de sono, falta de apetite, cólica intestinal, apatia, falta de memória, depressão, queda
dos cabelos, distúrbios reumáticos e digestivos.
É preciso ter muito cuidado com obturação de amálgama em gestantes. Pesquisas mostram que o
mercúrio liberado das obturações atravessa a placenta e alcança o feto, podendo prejudicá- lo.
Como os sintomas são comuns, fica difícil apontar uma causa específica. É claro que existem outros
motivos para os distúrbios indicados e uma infinidade de correlações imprevistas. Por isso, a
odontologia ainda não se sentiu motivada a deixar o amálgama. No primeiro mundo, são os próprios
clientes que, lentamente, estão derrubando o amálgama. Com isso, abriu-se o caminho para
materiais menos prejudiciais à saúde
Despedida do amálgama
Cada um de nós precisa decidir se vai livrar seus dentes do amálgama. Ninguém deveria aceitar
uma nova obturação de amálgama. Uma diminuição do teor de mercúrio na boca já pode produzir
uma diminuição dos efeitos nocivos. A afirmação: “não existe nada à altura do amálgama” é válida
quanto à toxicidade e facilidade de manipulação, mas não com relação à saúde. Não existe um
material para obturações que reúna todas as qualidades desejáveis. Mas existem soluções que não
envenenam constantemente o corpo. Para as pequenas cavidades, podemos recorrer ao cimento,
matéria-prima antiga e bem conhecida. Diversos tipos de cimento são compatíveis com a polpa do
dente e aderem muito bem à cavidade. São freqüentemente utilizados embaixo das obturações.
Como substitutos do amálgama, é possível utilizar compósitos (resinas), que podem produzir
alergias, mas são muito mais seguros do que o amálgama. Também existem obturações de
porcelana fundida. O ouro, extremamente caro, apresenta desvantagens devido à “corrente” na
boca, ao gosto metálico e por motivos estéticos. Ocorre interferência quando ainda há amálgama ou
alguma substância sintética. A principal vantagem do ouro consiste na sua estabilidade: entre os
maxilares, é possível suportar forças de 50 a 70 kg.
O tratamento dentário exige bom senso e equilíbrio na escolha do tratamento. Seria melhor evitar
esses problemas por meio da alimentação e de um estilo de vida saudável!
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Fonte: "Natürlich", nº3, 1990
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