registros socioeconômicos, de mobilidade social - Unifal-MG

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REGISTROS SOCIOECONÔMICOS, DE MOBILIDADE SOCIAL,
TERRITORIAL E INTEROCUPASSIONAL PRESENTES NO DISTRITO
DE SANTO ANTÔNIO DO RIO DAS MORTES PEQUENO, MUNICÍPIO
DE SÃO JOÃO DEL-REI – MG
811
Anna Cristina Corrêa Silveira1 –[email protected]
Geografia – Bolsa PIBIC –
Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ
Ivair Gomes2 - [email protected]
Geografia - Orientador PIBIC
Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ
RESUMO
O presente artigo faz uma análise das primeiras observações sobre a avaliação da
mobilidade social, territorial e interocupassional presente no Distrito de Santo Antônio
do Rio das Mortes Pequeno (doravante poderá também ser denominado, para fins
desse artigo, de comunidade do Rio das Mortes), localizado no município de São João
del-Rei – MG. Será abordado algumas relevâncias registradas em pesquisa de campo
no distrito, principalmente, através de entrevistas semiestruturadas e em profundidade,
conversas com as lideranças e/os residentes mais antigos do Distrito e, por último,
observações diretas. Almejou-se obter o conhecimento sobre as principais
características e dinâmicas socioeconômicas encontradas no distrito de Santo Antônio
do Rio das Mortes Pequeno e, igualmente, pensar demais reflexões naquilo que se
considera o quanto pode ser, ou não, rural e/ou urbano o distrito, e, ainda, o tipo de
relação que o distrito possui com o seu respectivo município, neste caso São João delRei – MG. Demais relevâncias sobre o distrito poderão ser levantadas no corpo do texto,
devido à amplitude de dinâmicas registradas.
ABSTRACT
This article considers the first observations on socioeconomic issues , as well as
evaluation of social mobility , territorial and interocupassional present in the district of
1
Graduada em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei, com bolsa de Iniciação
Científica PIBIC-UFSJ.
2 Professor Doutor no curso de Geografia na Universidade Federal de São João del-Rei.
ISBN: 978-85-99907-05-4
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Santo Antonio das Mortes Little River (hereinafter may also be known for the purposes
of this article , the community of Rio das Mortes ), located in the municipality of São João
del -Rei - MG . Some relevance recorded in field research in the district , mainly through
semi -structured interviews and in-depth conversations with leaders and / older residents
of the District and, finally , direct observations will be discussed . Be - longed to gain
knowledge about the main characteristics and socioeconomic dynamics found in the
district of Santo Antonio das Mortes Little River and also overthink reflections on what it
sees as can be, or not , rural and / or urban district , and also the type of relationship the
district has with its respective municipality in this case São João del -Rei - MG . Other
relevance over the district could be raised in the text , because of the magnitude of
dynamic recorded .
Palavras-chave:
Comunidade
do
Rio
das
Mortes;
Mobilidade
Social
Territorial
Interocupassional, Registros Socioeconômicos.
Keywords: Community of Rio das Mortes; Social Mobility Territorial Interocupassional,
Socioeconomic Records.
Eixo de Inscrição/Debate: Eixo 8 – Geografia Urbana
INTRODUÇÃO
“No mais, mesmo da mesmice, sempre vem a novidade”. (Guimarães
Rosa – Primeiras Estórias)
O espaço por menor que seja, por tão quieto, em relação a outros espaços é
aberto, sempre, a mudança, a transformação, ao descobrimento – assim, por mais que
ele pareça imutável, é sempre dinâmico.
Em relação ao nosso objeto de estudo – comunidade do Rio das Mortes -,
percebe-se que a disponibilidade tecnológica e o aporte de recursos inerentes à lógica
capitalista ainda não foram suficientes para promover o desenvolvimento da
comunidade naquilo que se considera, um desenvolvimento independente (em nível
socioeconômico, educacional, cultural, etc.), que rompa/quebre as ligações com sua
respectiva sede municipal, a cidade de São João del-Rei. No entanto, percebe-se que
por menor que seja esta comunidade, ela externa algumas características, mesmo que
poucas (ainda tímidas), de uma rede urbana que, de alguma forma, sofreu impactos
globais, podendo, desta maneira, participar, ainda que não seja de forma exclusiva e
única, de um ou mais circuitos espaciais de produção ou, pelo menos, no consumo de
bens, serviços e informações que, efetivamente, estão crescendo, cada vez mais, e
circulando por intermédio da eficaz ação das corporações.
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Neste caso, em específico, percebe-se que a comunidade lócus da pesquisa
encontra-se, sobretudo, no circuito espacial de produção do consumo de bens, serviços
e informações nestas relações globais e não na produção e distribuição desses.
Registra-se, com isso, a relação existente entre a escala local-global (grifo nosso),
(SANTOS, 1996). Para Santos (1996, p.272), “a ordem global busca impor, a todos os
lugares, uma única racionalidade. E os lugares respondem ao mundo seguindo os
diversos modos de sua própria racionalidade”. Na comunidade do Rio das Mortes
observou-se que as características da lógica capitalista de um mundo global – rede de
internet, telefone, celular, transportes, serviços, dentre outras - estão presentes no
distrito, embora este também mantenha a sua própria racionalidade/identidade. Esta
racionalidade, via de regra, pode ser compreendida como uma resistência, algo que
ainda mantém a cultura típica do local – como as festas católicas tradicionais, o futebol,
a corporação musical. Compreende-se, desta maneira, como o estudo da escala é
necessário para o entendimento das relações estabelecidas entre os lugares e regiões.
Conforme Magnolli e Araújo (2005, p. 5), “O uso de diferentes escalas geográficas
proporciona a apreensão de características diversas dos fenômenos e processos
espaciais”. Castro (1995, p.120-121), afirma que “A análise geográfica dos fenômenos
requer objetivar os espaços na escala em que eles são percebidos”.
Em relatos, de alguns moradores que trabalhavam ou ainda trabalham em
atividades rurais na comunidade, foi possível entender que “o campo” (assim chamado
por eles), isto é, a área rural, tem sido recorrentemente alvo de uma organização
capitalizada, o que gera a saída do pequeno produtor, que perde capacidade de
permanência no campo – por falta, principalmente, de recursos -, e a entrada
permanente daqueles que são dotados de capital para realizaram as suas respectivas
produções, ou seja, há uma deficiência do sistema de organização social regional.
Ainda não se concluiu o estudo sobre o circuito espacial de produção desses novos
indivíduos que promovem este recente sistema produtivo, excluindo o pequeno
produtor. Mas percebe-se nos relatos de ex e/ou pequenos produtores de leite, por
exemplo, que os gastos para manter o gado não são equivalentes e/ou inferiores a
venda do leite, que cada vez mais é pouco significante, desvalorizada.
Diante da relação de ex-produtores versus pequenos produtores (ainda
presentes no distrito, mesmo que em menor quantidade) e, ainda, das formas concretas
– aspecto visível, externo, de um objeto (SANTOS, 1982) - que compõem o espaço que
se questiona se os moradores dessa comunidade mantém suas principais
características ligadas ao campo ou se já sofreram interferência da transição
demográfica e estariam mais afeitas as características urbanas. Qual a relação da
cidade-campo neste distrito?
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Na procura dessas respostas, decidiu-se fazer uma clarificação, com base nos
pressupostos de Sorokin, Zimmerman e Galpin (1986), propondo um estudo de quatro
aspectos:
1 – Diagnóstico socioeconômico da comunidade residente no Distrito de Santo
Antônio do Rio das Mortes Pequeno. Este diagnóstico é objetivado nos fatores atuais
e históricos de produção. Sendo feito, ainda, uma caracterização desses aspectos e da
sua sustentabilidade social e ambiental.
2 – Avaliação da Mobilidade social. Estudos sociológicos vem há tempos afiançando
que a classe urbana tem sido mais móbil ou dinâmica que a rural, na medida que a
população urbana se desloca mais de um lugar para outro, de uma ocupação a outra e
de uma posição social a outra (Martins, 1986). Avalia-se, então, a mobilidade social dos
moradores da comunidade do Rio das Mortes para servir como um parâmetro de
avaliação para defini-la como rural ou urbana.
3 – Avaliação da Mobilidade territorial. É avaliada na comunidade pesquisada, as
considerações postuladas por Martins (1986). Ele afirma que existe uma mobilidade
territorial maior das populações urbanas comparada com a das rurais devido ao fato de:
1º na renda per capita da população urbana existe um número maior de
mudanças de domicílio;
2º a quilometragem média per capita percorrida pelos habitantes da cidade é
maior que aquela da população rural;
3º a pulsação do influxo e defluxo diário da população das cidades é muito mais
intensa que das comunidades rurais;
4º a proporção daqueles que nascidos na cidade nela permanecem é menor na
população total da cidade do que um grupo similar na população total rural.
4 – Avaliação da Mobilidade interocupacional. Existem evidencias sugerindo que as
populações rurais tendem a ter pequena mobilidade interocupacional. Populações
agricultoras permanecem mais tempo agricultoras e teriam menor tendência a mudar de
atividades que a população urbana.
Após o levantamento desses quatro aspectos algumas considerações passaram
a ser feitas a respeito das dinâmicas presenciadas no Rio das Mortes em relação aos
seus residentes, ou seja, se eles são realmente rurais ou se eles já se urbanizaram. Na
sequência, analisou-se se essa comunidade adquiriu características tidas como
urbanas, mas, ainda assim, permanece ligada ao rural, de tal forma que não se
caracteriza de forma absoluta nem com o espaço rural nem com o espaço urbano.
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Por fim, deparou-se com uma nova visão de vida dita pelos próprios moradores
do distrito, sendo esta voltada para o que eles compreendem como rural e urbano. O
que permitiu um novo quadro de análise em relação ao que é, ou não, o rural e o urbano.
OBJETIVOS
Analisar quais são as principais características e dinâmicas socioeconômicas
encontradas no distrito do Rio das Mortes. Fazer um diagnóstico dos aspectos
socioeconômicos da comunidade estudada e uma avaliação das mobilidades Social,
Territorial e Interocupacional da comunidade estudada.
METODOLOGIA
Além de ter sido pautada nas literaturas de referência, consistiu principalmente
de entrevistas semiestruturadas e em profundidade, discussão com lideranças e/ou
residentes mais antigos e também observações diretas. A metodologia das entrevistas
pretendeu garantir flexibilidade e dinâmica à abordagem dos temas sobre
desenvolvimento – por meio de um roteiro amplo e flexível que permitiu a
contextualização dos entrevistados e a ordenação específica das perguntas de acordo
com cada situação estabelecida em campo e de acordo com as singularidades de cada
entrevistado e comunidade.
BREVE HISTÓRICO - SANTO ANTÔNIO DO RIO DAS MORTES PEQUENO
Santo Antônio do Rio das Mortes é um distrito do município de São João del-Rei,
que teve seu nome alterado por algumas vezes – como quando, por exemplo, passou a
se chamar Rio das Mortes ainda na década de 1930 – até, por fim, em 2007 ser intitulado
como Santo Antônio do Rio das Mortes. O nome é uma junção entre Santo Antônio –
padroeiro do distrito - e Rio das Mortes – Rio que atravessa o distrito.
As informações a respeito do distrito ainda são na sua integralidade dispersas,
embora existam registros que narrem a existência do distrito desde o início do século
XVIII, quando pelo mesmo passavam bandeirantes. Há ainda informações de
historiadores que descobriram alguns documentos da Irmandade de Santo Antônio,
datados de aproximadamente 1722, o que comprova a existência da Capela presente
no Distrito (estas informações foram obtidas através de conversas com moradores).
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O distrito do Rio das Mortes faz parte da divisão administrativa de distritos e
sedes presente no município São João del-Rei-MG. Sendo a população da comunidade
do Rio das Mortes no ano de 2000 de 2.586 habitantes3 (IBGE, 2000).
População e área do município de São João del Rei, 2000
Sede e Distritos
População
São João del Rei
70.974
Arcângelo
1.114
Emboabas
1.129
Rio das Mortes
2.586
São Gonçalo do Amarante
810
São Sebastião da Vitória
2.003
Total população
78.616
Área total
1.467 Km2
Tabela 1: População e área SJDR-MG - Fonte: IBGE - Censo Demográfico – 2000.
É importante ressaltar, ainda, que no distrito há uma distribuição por povoados.
Segundo a pesquisa realizada em campo, foi possível registrar alguns desses nomes:
Goiabeiras, Canela, Ultrabanda do Córrego, Largo da Cruz. A caráter de maiores
detalhes, tem-se uma imagem que permite a visualização de alguns desses povoados.
3
Ainda não se tem os dados referentes ao distrito do último censo demográfico de 2010, no
entanto em uma prévia pesquisa realizada no cartório do distrito adquiriu-se informações que o
número de habitantes atualmente encontra-se por volta de 3500 habitantes.
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Imagem 1: Localização de alguns Povoado no Distrito do Município de São João del-Rei Fonte: IBGE
Entende-se que estas observações são necessárias, pois a partir delas
posteriores compreensões acerca do distrito foram adquiridas, sobretudo, através dos
questionários realizados com a população do distrito.
REGISTROS, ANÁLISES, E PRIMEIROS RESULTADOS
Serão destacados a seguir alguns pontos chave, sendo todos voltados para as
principais observações e considerações relevantes, até dado momento, no distrito.
A priori, é de suma importância destacar que anterior ao questionário aplicado,
visitas foram realizadas no distrito com o intuito de conhecer o local. Nestas visitas, fezse observações e conversas sobre o modo de vida da população, seus costumes,
atividades, e dia a dia. Posterior a estas observações e conversas iniciou-se o trabalho
de elaboração dos questionários que, em primeiro momento, foram aplicados em 5
moradores e após se ter percebido que o mesmo estava sendo compreendido e
respondido com clareza pelos moradores, decidiu-se, então, aplicar mais 20
questionários para se trabalhar com uma amostra mais significativa diante da proposta
de estudo. Neste tipo de análise, por exemplo, é interessante destacar que através das
respostas obtidas no questionário novas indagações foram levantadas. Algumas das
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perguntas feitas foram aqui destacadas para as discussões deste artigo. São ligadas às
questões socioeconômicas, mobilidade social, territoriais e interocupassional.
1
Têm energia elétrica?
2
A água da casa é encanada?
3
A forma de abastecimento de água utilizada neste domicílio é:
4
Chega sinal de celular até o domicílio?
5
Chega transporte coletivo até o distrito? Utiliza este transporte?
6
A estrada até sua casa é pavimentada?
7
A fonte renda da família é adquirida no distrito?
8
Qual a sua profissão?
9
Há a existência de povoados considerados zona rural no distrito do Rio das Mortes?
10
O que torna estes povoados zona rural? Tem conhecimento sobre as principais
atividades exercidas nesses povoados?
11
Você costuma ir a São João del-Rei com frequência? Porque?
Tabela 2: Lista de perguntas presentes no questionário
Das entrevistas também se obteve as seguintes respostas.

Todos os entrevistados possuíam água encanada, energia elétrica, acesso à
telefonia celular e moravam em rua asfaltada.

Para 80% a água era fornecida pelo DAMAE (departamento municipal de água
e esgoto).

As respostas em relação à fonte de renda da família se dividiram. Em sua
maioria, pelo menos 80%, afirmam que a principal fonte de renda é adquirida no
próprio município com atividades ligadas ao meio urbano. Desse grupo
enumerou-se atividades como balconista de padaria; professora; lavadeira,
faxineira, auxiliar de serviços gerais, dentre outras. Algumas outras pessoas
responderam atividades relacionadas ao meio rural, embora, atualmente, não
dependam exclusivamente desta renda para sobreviver;

Sobre as ocupações anteriores, principalmente dos mais velhos e aposentados,
estavam ligadas a atividades de carpinteiros, lavadeiras, operadores de
máquinas, faxineiras, dentre outras -, entre atividades relacionadas ao meio
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urbano do próprio distrito - como auxiliar de serviços, vendedora, balconista,
dentre outros -, e, ainda, entre poucas pessoas que trabalharam ou ainda
trabalham em atividades ligadas ao campo – lavradores, agricultores;

Todas as pessoas entendem que na periferia do distrito existem áreas e
povoados que ainda são rurais. Para 68% das pessoas esses povoados são
avaliados como zona rural pelo fato de estarem afastados do centro – por não
se encontrarem no que eles intitulam “perímetro urbano”. Grande parte dos
entrevistados, ainda, disseram não possuir conhecimento sobre as principais
819
atividades exercidas nesses povoados;

Pelo menos 80% pessoas entrevistadas responderam que vão com frequência
a São João del-Rei (seu município) para realizaram várias atividades como: ir ao
médico (quando o médico do posto de saúde do distrito não consegue resolver
o problema de saúde do paciente); pagar contas; receber a aposentadoria; fazer
compras, dentre outras.
Diante
dessas
informações
é
possível
elencar
questões
de caráter
socioeconômico, mobilidade social, territorial e interocupassional presentes no distrito.
Em destaque, até dado momento, considera-se que o distrito é dotado de
estruturas técnicas similares a de uma cidade, embora tenha suas limitações.
Demonstrando, desta forma, que o distrito não se encontra isolado e pobre de
investimentos que permitam uma melhor qualidade de vida para a população. O
interesse em conhecer e atuar na cidade, neste caso no distrito, decorre do fato de ser
este o lugar onde uma determinada parcela da população reside, mas também de ser o
lugar onde os investimentos de capital podem ser, igualmente, significativos (Corrêa,
1989). Esta ideia de Corrêa (1989) é impregnada de sentido quando pensamos, e
podemos exemplificar, na presença de um sistema de transporte circulando pelo Distrito.
Há um investimento de capital de uma empresa de transportes para que estes cheguem
ao distrito, ao mesmo tempo, sendo importante ressaltar, que é um investimento
orientado pelo conhecimento da necessidade desse transporte no distrito e, também,
pela ideia de lucro posterior para a empresa, o que corrobora o quanto é viável este
transporte circular pelo distrito. Vale ressaltar que a empresa de transporte que chega
ao distrito é a mesma que circula dentro do município de São João del-Rei-MG. Assim,
é possível pensar o espaço como:
[...] um conjunto indissociável, de que participam, de um lado, certo
arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de
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outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em
movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente da forma
(os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do
conteúdo. O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas
contendo cada qual frações da sociedade em movimento. As formas,
pois, têm um papel na realização social (SANTOS, 2008).
Essas seis primeiras perguntas visam demonstrar, então, aquilo que foi dito
ainda no início do artigo, sobre o fato de que por menor que seja a cidade, (voltamos a
dizer que neste caso é o distrito) ela apresenta relações próximas e/ou igual de serviços,
infraestruturas, cultura, parecidas com a de cidade maiores (ou até relações similares
com o próprio município), exalando, com isso, a relação global-local.
Intensificam-se as trocas, as relações entre diferentes áreas do globo
tornam-se mais intensas e assumem diversos papéis, não só
econômicos, mas também políticos, culturais etc. Qualquer parte do
globo ganha nova conotação, tornando-se cada vez mais aberta, mais
vulnerável às influências exógenas. As crescentes relações com áreas
cada vez mais distantes suprimem as veleidades de autonomia. Não
há, pois, como considerar a região como autônoma (Santos 2008,
p.52).
Em contra partida, ao nos atentarmos para a pergunta, aqui demarcada, como
número 11, iremos perceber que por mais que existam esses serviços, essa
infraestrutura, essa tentativa de aparelhagem do município no distrito, ainda é recorrente
o número significativo de pessoas que precisam se deslocar até o município para
resolver questões específicas, ou não, do seu dia a dia. Segundo a maioria dos
entrevistados, existe certa falta de opção, concorrência e diversidade dentro do distrito
do Rio das Mortes4, fazendo com que as pessoas prefiram realizar suas compras de
supermercado, por exemplo, no próprio município – assim como realizar demais
atividades.
As perguntas 7 e 8 serviram para que se compreendesse quais os tipos de
atividades econômicas são predominantes no distrito. Na busca desta compreensão foi
possível entender se o distrito é composto de características mais urbanas ou mais
rurais, e, também, se todas essas características são tidas como urbanas, mas, ainda
assim, permanecem ligadas ao rural, caracterizando, de alguma forma, o distrito nem
como um espaço rural nem como um espaço urbano. As respostas para a compreensão
4
Os principais serviços básicos encontrados no Distrito do Rio das Mortes são: uma farmácia;
um posto de saúde; um mercado grande; uma padaria de referência (embora existam outras
menores) e uma escola que vai do ensino fundamental ao ensino médio. Há, também, um projeto
do Governo Estadual que inclui atividades de ginástica e música para os Idosos e Crianças. O
que a população entrevistada alega é que ainda é preciso recorrer ao município em caso de
alguns tratamentos médicos; que falta um posto policial no distrito devido ao fato deste estar
cada vez mais inseguro, e que o distrito ainda carece de movimento, sendo, segundo eles, “muito
parado”.
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das atividades econômicas dividiram-se na sua maioria, pelo menos 20 respostas, entre
esta ser adquirida no próprio município com atividades ligadas ao meio urbano.
Entende-se, a partir disso, que a comunidade do Rio das Mortes é vista mais como um
espaço urbano que rural – pelo menos, quando o ponto de partida para se chegar nesta
ideia baseia-se nas atividades econômicas que são exercidas.
De todas essas observações as que mais chamaram a nossa atenção, foram as
que partiram das perguntas 9 e 10. Na pergunta 9, por exemplo, procuramos saber se
existiam povoados considerados zona rural no Distrito. Esta pergunta foi levantada em
questionário quando nas primeiras conversas com alguns moradores do Distrito eles
levantaram a existência desses povoados. De fato, em todas as respostas registradas
nos questionários obteve-se como resposta a existência desses povoados. Contudo, ao
indagarmos aos entrevistados se eles possuíam conhecimento a respeito do que
tornavam estes povoados zona rural – se o fator determinante, neste caso, seriam as
principais atividades exercidas neles -, uma nova reflexão passou a ser levantada. Para
nossa surpresa, houve um desconhecimento significativo por parte dos entrevistados
em relação às atividades desenvolvidas nos povoados, sendo o fator caracterizante
como uma área rural, para os moradores entrevistados, era o fato de estarem distantes
da área central do Rio das Mortes, ou seja, do “perímetro urbano” (expressão utilizada
pelos entrevistados). A partir disso, uma nova pergunta passou a ser levantada: o que
pode, ou não, ser caracterizado como um centro? Ao pensarmos no Distrito, notamos
que o centro, para os moradores, é onde acontecem às relações de maiores
convivência, compras, prestação de serviços, e que todas estas se encontram próximas
umas das outras em um determinado local no distrito. Posto isso, na visão dos
entrevistados, tudo que se encontra mais distante desse determinado local (central),
não é considerada área urbana e sim área rural.
Segundo os principais relatos, o que faz com que esses povoados sejam áreas
rurais é, justamente, o fato de não possuírem casas umas próximas as outras, de
possuírem estradas de terra e a própria distância em que se localizam em relação ao
local do distrito do Rio das Mortes que possui prestações de serviço, como a escola, o
posto de saúde, o supermercado, a farmácia, o cartório, dentre outros.
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Imagem 2: Área considerada urbana pela maioria dos entrevistados - Fonte: Google Earth
Imagem 3: Desenho localidade considerada parte Central Urbana no Distrito - Fonte: Anna Cristina
A separação existente entre o Rio das Mortes – “perímetro urbano” -, e o
Povoado Largo da Cruz, por exemplo, é simplesmente uma ponte.
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Imagem 4 e Imagem 5: Desenho e Fotografia da Ponte, respectivamente - Fonte: Anna Cristina
Imagem 6: Localização da ponte que separa o Rio das Mortes do Povoado Largo da Cruz - Fonte:
Google Earth
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É interessante perceber, neste caso, que a delimitação territorial entre o Rio das
Mortes - Largo da Cruz não é, somente, física (a ponte), mas, principalmente, algo que
já se encontra devidamente formulado na mente de cada um dos moradores.
COMENTÁRIOS FINAIS
Ao se pensar em todas essas questões suscitadas no presente texto, percebese o quanto neste pequeno distrito existem particularidades que não se esperava
encontrar quando se iniciou tal pesquisa. O fato de existir povoados que recortam o
distrito, faz com que se lembre de uma cidade cortada por bairros, o que chama bastante
atenção por serem características encontradas em um distrito de um município - um
distrito um tanto quanto pequeno. O motivo de esses povoados serem considerados
zona rural pelos moradores de uma parte do distrito – que se consideram urbanos – é
ainda mais curioso e precisa ser analisado com mais profundidade.
Ao pensamos naquelas propostas iniciais pautadas em Sorokin, Zimmerman e
Galpin (1986) - Diagnóstico socioeconômico da comunidade; Avaliação da
Mobilidade social; Avaliação da Mobilidade territorial; Avaliação da Mobilidade
interocupacional – percebemos o quanto estas, até dado momento, evidenciam que
nas condições presentes no Distrito este pode ser entendido como um espaço urbano
– quando as observações se pautam na área territorial da parte central do distrito -, e
como um espaço rural – quando as observações se baseiam nos resultados das
entrevistas em relação aos povoados existentes. Ainda é cedo para se definir, na sua
totalidade, se o espaço é urbano ou rural. Todavia, vale elencar que as condições que
o dizem como urbano, em um recorte territorial são pertinentes – quando se leva em
conta a relação de um centro de concentração de atividades comerciais, serviços,
culturais, etc., articuladas entre si.
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Introdução Crítica à Sociologia Rural. São Paulo: Hucitec, 1986
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
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