REGISTROS SOCIOECONÔMICOS, DE MOBILIDADE SOCIAL, TERRITORIAL E INTEROCUPASSIONAL PRESENTES NO DISTRITO DE SANTO ANTÔNIO DO RIO DAS MORTES PEQUENO, MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL-REI – MG 811 Anna Cristina Corrêa Silveira1 –[email protected] Geografia – Bolsa PIBIC – Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ Ivair Gomes2 - [email protected] Geografia - Orientador PIBIC Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ RESUMO O presente artigo faz uma análise das primeiras observações sobre a avaliação da mobilidade social, territorial e interocupassional presente no Distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (doravante poderá também ser denominado, para fins desse artigo, de comunidade do Rio das Mortes), localizado no município de São João del-Rei – MG. Será abordado algumas relevâncias registradas em pesquisa de campo no distrito, principalmente, através de entrevistas semiestruturadas e em profundidade, conversas com as lideranças e/os residentes mais antigos do Distrito e, por último, observações diretas. Almejou-se obter o conhecimento sobre as principais características e dinâmicas socioeconômicas encontradas no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno e, igualmente, pensar demais reflexões naquilo que se considera o quanto pode ser, ou não, rural e/ou urbano o distrito, e, ainda, o tipo de relação que o distrito possui com o seu respectivo município, neste caso São João delRei – MG. Demais relevâncias sobre o distrito poderão ser levantadas no corpo do texto, devido à amplitude de dinâmicas registradas. ABSTRACT This article considers the first observations on socioeconomic issues , as well as evaluation of social mobility , territorial and interocupassional present in the district of 1 Graduada em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei, com bolsa de Iniciação Científica PIBIC-UFSJ. 2 Professor Doutor no curso de Geografia na Universidade Federal de São João del-Rei. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 Santo Antonio das Mortes Little River (hereinafter may also be known for the purposes of this article , the community of Rio das Mortes ), located in the municipality of São João del -Rei - MG . Some relevance recorded in field research in the district , mainly through semi -structured interviews and in-depth conversations with leaders and / older residents of the District and, finally , direct observations will be discussed . Be - longed to gain knowledge about the main characteristics and socioeconomic dynamics found in the district of Santo Antonio das Mortes Little River and also overthink reflections on what it sees as can be, or not , rural and / or urban district , and also the type of relationship the district has with its respective municipality in this case São João del -Rei - MG . Other relevance over the district could be raised in the text , because of the magnitude of dynamic recorded . Palavras-chave: Comunidade do Rio das Mortes; Mobilidade Social Territorial Interocupassional, Registros Socioeconômicos. Keywords: Community of Rio das Mortes; Social Mobility Territorial Interocupassional, Socioeconomic Records. Eixo de Inscrição/Debate: Eixo 8 – Geografia Urbana INTRODUÇÃO “No mais, mesmo da mesmice, sempre vem a novidade”. (Guimarães Rosa – Primeiras Estórias) O espaço por menor que seja, por tão quieto, em relação a outros espaços é aberto, sempre, a mudança, a transformação, ao descobrimento – assim, por mais que ele pareça imutável, é sempre dinâmico. Em relação ao nosso objeto de estudo – comunidade do Rio das Mortes -, percebe-se que a disponibilidade tecnológica e o aporte de recursos inerentes à lógica capitalista ainda não foram suficientes para promover o desenvolvimento da comunidade naquilo que se considera, um desenvolvimento independente (em nível socioeconômico, educacional, cultural, etc.), que rompa/quebre as ligações com sua respectiva sede municipal, a cidade de São João del-Rei. No entanto, percebe-se que por menor que seja esta comunidade, ela externa algumas características, mesmo que poucas (ainda tímidas), de uma rede urbana que, de alguma forma, sofreu impactos globais, podendo, desta maneira, participar, ainda que não seja de forma exclusiva e única, de um ou mais circuitos espaciais de produção ou, pelo menos, no consumo de bens, serviços e informações que, efetivamente, estão crescendo, cada vez mais, e circulando por intermédio da eficaz ação das corporações. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 812 Neste caso, em específico, percebe-se que a comunidade lócus da pesquisa encontra-se, sobretudo, no circuito espacial de produção do consumo de bens, serviços e informações nestas relações globais e não na produção e distribuição desses. Registra-se, com isso, a relação existente entre a escala local-global (grifo nosso), (SANTOS, 1996). Para Santos (1996, p.272), “a ordem global busca impor, a todos os lugares, uma única racionalidade. E os lugares respondem ao mundo seguindo os diversos modos de sua própria racionalidade”. Na comunidade do Rio das Mortes observou-se que as características da lógica capitalista de um mundo global – rede de internet, telefone, celular, transportes, serviços, dentre outras - estão presentes no distrito, embora este também mantenha a sua própria racionalidade/identidade. Esta racionalidade, via de regra, pode ser compreendida como uma resistência, algo que ainda mantém a cultura típica do local – como as festas católicas tradicionais, o futebol, a corporação musical. Compreende-se, desta maneira, como o estudo da escala é necessário para o entendimento das relações estabelecidas entre os lugares e regiões. Conforme Magnolli e Araújo (2005, p. 5), “O uso de diferentes escalas geográficas proporciona a apreensão de características diversas dos fenômenos e processos espaciais”. Castro (1995, p.120-121), afirma que “A análise geográfica dos fenômenos requer objetivar os espaços na escala em que eles são percebidos”. Em relatos, de alguns moradores que trabalhavam ou ainda trabalham em atividades rurais na comunidade, foi possível entender que “o campo” (assim chamado por eles), isto é, a área rural, tem sido recorrentemente alvo de uma organização capitalizada, o que gera a saída do pequeno produtor, que perde capacidade de permanência no campo – por falta, principalmente, de recursos -, e a entrada permanente daqueles que são dotados de capital para realizaram as suas respectivas produções, ou seja, há uma deficiência do sistema de organização social regional. Ainda não se concluiu o estudo sobre o circuito espacial de produção desses novos indivíduos que promovem este recente sistema produtivo, excluindo o pequeno produtor. Mas percebe-se nos relatos de ex e/ou pequenos produtores de leite, por exemplo, que os gastos para manter o gado não são equivalentes e/ou inferiores a venda do leite, que cada vez mais é pouco significante, desvalorizada. Diante da relação de ex-produtores versus pequenos produtores (ainda presentes no distrito, mesmo que em menor quantidade) e, ainda, das formas concretas – aspecto visível, externo, de um objeto (SANTOS, 1982) - que compõem o espaço que se questiona se os moradores dessa comunidade mantém suas principais características ligadas ao campo ou se já sofreram interferência da transição demográfica e estariam mais afeitas as características urbanas. Qual a relação da cidade-campo neste distrito? ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 813 Na procura dessas respostas, decidiu-se fazer uma clarificação, com base nos pressupostos de Sorokin, Zimmerman e Galpin (1986), propondo um estudo de quatro aspectos: 1 – Diagnóstico socioeconômico da comunidade residente no Distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno. Este diagnóstico é objetivado nos fatores atuais e históricos de produção. Sendo feito, ainda, uma caracterização desses aspectos e da sua sustentabilidade social e ambiental. 2 – Avaliação da Mobilidade social. Estudos sociológicos vem há tempos afiançando que a classe urbana tem sido mais móbil ou dinâmica que a rural, na medida que a população urbana se desloca mais de um lugar para outro, de uma ocupação a outra e de uma posição social a outra (Martins, 1986). Avalia-se, então, a mobilidade social dos moradores da comunidade do Rio das Mortes para servir como um parâmetro de avaliação para defini-la como rural ou urbana. 3 – Avaliação da Mobilidade territorial. É avaliada na comunidade pesquisada, as considerações postuladas por Martins (1986). Ele afirma que existe uma mobilidade territorial maior das populações urbanas comparada com a das rurais devido ao fato de: 1º na renda per capita da população urbana existe um número maior de mudanças de domicílio; 2º a quilometragem média per capita percorrida pelos habitantes da cidade é maior que aquela da população rural; 3º a pulsação do influxo e defluxo diário da população das cidades é muito mais intensa que das comunidades rurais; 4º a proporção daqueles que nascidos na cidade nela permanecem é menor na população total da cidade do que um grupo similar na população total rural. 4 – Avaliação da Mobilidade interocupacional. Existem evidencias sugerindo que as populações rurais tendem a ter pequena mobilidade interocupacional. Populações agricultoras permanecem mais tempo agricultoras e teriam menor tendência a mudar de atividades que a população urbana. Após o levantamento desses quatro aspectos algumas considerações passaram a ser feitas a respeito das dinâmicas presenciadas no Rio das Mortes em relação aos seus residentes, ou seja, se eles são realmente rurais ou se eles já se urbanizaram. Na sequência, analisou-se se essa comunidade adquiriu características tidas como urbanas, mas, ainda assim, permanece ligada ao rural, de tal forma que não se caracteriza de forma absoluta nem com o espaço rural nem com o espaço urbano. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 814 Por fim, deparou-se com uma nova visão de vida dita pelos próprios moradores do distrito, sendo esta voltada para o que eles compreendem como rural e urbano. O que permitiu um novo quadro de análise em relação ao que é, ou não, o rural e o urbano. OBJETIVOS Analisar quais são as principais características e dinâmicas socioeconômicas encontradas no distrito do Rio das Mortes. Fazer um diagnóstico dos aspectos socioeconômicos da comunidade estudada e uma avaliação das mobilidades Social, Territorial e Interocupacional da comunidade estudada. METODOLOGIA Além de ter sido pautada nas literaturas de referência, consistiu principalmente de entrevistas semiestruturadas e em profundidade, discussão com lideranças e/ou residentes mais antigos e também observações diretas. A metodologia das entrevistas pretendeu garantir flexibilidade e dinâmica à abordagem dos temas sobre desenvolvimento – por meio de um roteiro amplo e flexível que permitiu a contextualização dos entrevistados e a ordenação específica das perguntas de acordo com cada situação estabelecida em campo e de acordo com as singularidades de cada entrevistado e comunidade. BREVE HISTÓRICO - SANTO ANTÔNIO DO RIO DAS MORTES PEQUENO Santo Antônio do Rio das Mortes é um distrito do município de São João del-Rei, que teve seu nome alterado por algumas vezes – como quando, por exemplo, passou a se chamar Rio das Mortes ainda na década de 1930 – até, por fim, em 2007 ser intitulado como Santo Antônio do Rio das Mortes. O nome é uma junção entre Santo Antônio – padroeiro do distrito - e Rio das Mortes – Rio que atravessa o distrito. As informações a respeito do distrito ainda são na sua integralidade dispersas, embora existam registros que narrem a existência do distrito desde o início do século XVIII, quando pelo mesmo passavam bandeirantes. Há ainda informações de historiadores que descobriram alguns documentos da Irmandade de Santo Antônio, datados de aproximadamente 1722, o que comprova a existência da Capela presente no Distrito (estas informações foram obtidas através de conversas com moradores). ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 815 O distrito do Rio das Mortes faz parte da divisão administrativa de distritos e sedes presente no município São João del-Rei-MG. Sendo a população da comunidade do Rio das Mortes no ano de 2000 de 2.586 habitantes3 (IBGE, 2000). População e área do município de São João del Rei, 2000 Sede e Distritos População São João del Rei 70.974 Arcângelo 1.114 Emboabas 1.129 Rio das Mortes 2.586 São Gonçalo do Amarante 810 São Sebastião da Vitória 2.003 Total população 78.616 Área total 1.467 Km2 Tabela 1: População e área SJDR-MG - Fonte: IBGE - Censo Demográfico – 2000. É importante ressaltar, ainda, que no distrito há uma distribuição por povoados. Segundo a pesquisa realizada em campo, foi possível registrar alguns desses nomes: Goiabeiras, Canela, Ultrabanda do Córrego, Largo da Cruz. A caráter de maiores detalhes, tem-se uma imagem que permite a visualização de alguns desses povoados. 3 Ainda não se tem os dados referentes ao distrito do último censo demográfico de 2010, no entanto em uma prévia pesquisa realizada no cartório do distrito adquiriu-se informações que o número de habitantes atualmente encontra-se por volta de 3500 habitantes. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 816 817 Imagem 1: Localização de alguns Povoado no Distrito do Município de São João del-Rei Fonte: IBGE Entende-se que estas observações são necessárias, pois a partir delas posteriores compreensões acerca do distrito foram adquiridas, sobretudo, através dos questionários realizados com a população do distrito. REGISTROS, ANÁLISES, E PRIMEIROS RESULTADOS Serão destacados a seguir alguns pontos chave, sendo todos voltados para as principais observações e considerações relevantes, até dado momento, no distrito. A priori, é de suma importância destacar que anterior ao questionário aplicado, visitas foram realizadas no distrito com o intuito de conhecer o local. Nestas visitas, fezse observações e conversas sobre o modo de vida da população, seus costumes, atividades, e dia a dia. Posterior a estas observações e conversas iniciou-se o trabalho de elaboração dos questionários que, em primeiro momento, foram aplicados em 5 moradores e após se ter percebido que o mesmo estava sendo compreendido e respondido com clareza pelos moradores, decidiu-se, então, aplicar mais 20 questionários para se trabalhar com uma amostra mais significativa diante da proposta de estudo. Neste tipo de análise, por exemplo, é interessante destacar que através das respostas obtidas no questionário novas indagações foram levantadas. Algumas das ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 perguntas feitas foram aqui destacadas para as discussões deste artigo. São ligadas às questões socioeconômicas, mobilidade social, territoriais e interocupassional. 1 Têm energia elétrica? 2 A água da casa é encanada? 3 A forma de abastecimento de água utilizada neste domicílio é: 4 Chega sinal de celular até o domicílio? 5 Chega transporte coletivo até o distrito? Utiliza este transporte? 6 A estrada até sua casa é pavimentada? 7 A fonte renda da família é adquirida no distrito? 8 Qual a sua profissão? 9 Há a existência de povoados considerados zona rural no distrito do Rio das Mortes? 10 O que torna estes povoados zona rural? Tem conhecimento sobre as principais atividades exercidas nesses povoados? 11 Você costuma ir a São João del-Rei com frequência? Porque? Tabela 2: Lista de perguntas presentes no questionário Das entrevistas também se obteve as seguintes respostas. Todos os entrevistados possuíam água encanada, energia elétrica, acesso à telefonia celular e moravam em rua asfaltada. Para 80% a água era fornecida pelo DAMAE (departamento municipal de água e esgoto). As respostas em relação à fonte de renda da família se dividiram. Em sua maioria, pelo menos 80%, afirmam que a principal fonte de renda é adquirida no próprio município com atividades ligadas ao meio urbano. Desse grupo enumerou-se atividades como balconista de padaria; professora; lavadeira, faxineira, auxiliar de serviços gerais, dentre outras. Algumas outras pessoas responderam atividades relacionadas ao meio rural, embora, atualmente, não dependam exclusivamente desta renda para sobreviver; Sobre as ocupações anteriores, principalmente dos mais velhos e aposentados, estavam ligadas a atividades de carpinteiros, lavadeiras, operadores de máquinas, faxineiras, dentre outras -, entre atividades relacionadas ao meio ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 818 urbano do próprio distrito - como auxiliar de serviços, vendedora, balconista, dentre outros -, e, ainda, entre poucas pessoas que trabalharam ou ainda trabalham em atividades ligadas ao campo – lavradores, agricultores; Todas as pessoas entendem que na periferia do distrito existem áreas e povoados que ainda são rurais. Para 68% das pessoas esses povoados são avaliados como zona rural pelo fato de estarem afastados do centro – por não se encontrarem no que eles intitulam “perímetro urbano”. Grande parte dos entrevistados, ainda, disseram não possuir conhecimento sobre as principais 819 atividades exercidas nesses povoados; Pelo menos 80% pessoas entrevistadas responderam que vão com frequência a São João del-Rei (seu município) para realizaram várias atividades como: ir ao médico (quando o médico do posto de saúde do distrito não consegue resolver o problema de saúde do paciente); pagar contas; receber a aposentadoria; fazer compras, dentre outras. Diante dessas informações é possível elencar questões de caráter socioeconômico, mobilidade social, territorial e interocupassional presentes no distrito. Em destaque, até dado momento, considera-se que o distrito é dotado de estruturas técnicas similares a de uma cidade, embora tenha suas limitações. Demonstrando, desta forma, que o distrito não se encontra isolado e pobre de investimentos que permitam uma melhor qualidade de vida para a população. O interesse em conhecer e atuar na cidade, neste caso no distrito, decorre do fato de ser este o lugar onde uma determinada parcela da população reside, mas também de ser o lugar onde os investimentos de capital podem ser, igualmente, significativos (Corrêa, 1989). Esta ideia de Corrêa (1989) é impregnada de sentido quando pensamos, e podemos exemplificar, na presença de um sistema de transporte circulando pelo Distrito. Há um investimento de capital de uma empresa de transportes para que estes cheguem ao distrito, ao mesmo tempo, sendo importante ressaltar, que é um investimento orientado pelo conhecimento da necessidade desse transporte no distrito e, também, pela ideia de lucro posterior para a empresa, o que corrobora o quanto é viável este transporte circular pelo distrito. Vale ressaltar que a empresa de transporte que chega ao distrito é a mesma que circula dentro do município de São João del-Rei-MG. Assim, é possível pensar o espaço como: [...] um conjunto indissociável, de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente da forma (os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do conteúdo. O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas contendo cada qual frações da sociedade em movimento. As formas, pois, têm um papel na realização social (SANTOS, 2008). Essas seis primeiras perguntas visam demonstrar, então, aquilo que foi dito ainda no início do artigo, sobre o fato de que por menor que seja a cidade, (voltamos a dizer que neste caso é o distrito) ela apresenta relações próximas e/ou igual de serviços, infraestruturas, cultura, parecidas com a de cidade maiores (ou até relações similares com o próprio município), exalando, com isso, a relação global-local. Intensificam-se as trocas, as relações entre diferentes áreas do globo tornam-se mais intensas e assumem diversos papéis, não só econômicos, mas também políticos, culturais etc. Qualquer parte do globo ganha nova conotação, tornando-se cada vez mais aberta, mais vulnerável às influências exógenas. As crescentes relações com áreas cada vez mais distantes suprimem as veleidades de autonomia. Não há, pois, como considerar a região como autônoma (Santos 2008, p.52). Em contra partida, ao nos atentarmos para a pergunta, aqui demarcada, como número 11, iremos perceber que por mais que existam esses serviços, essa infraestrutura, essa tentativa de aparelhagem do município no distrito, ainda é recorrente o número significativo de pessoas que precisam se deslocar até o município para resolver questões específicas, ou não, do seu dia a dia. Segundo a maioria dos entrevistados, existe certa falta de opção, concorrência e diversidade dentro do distrito do Rio das Mortes4, fazendo com que as pessoas prefiram realizar suas compras de supermercado, por exemplo, no próprio município – assim como realizar demais atividades. As perguntas 7 e 8 serviram para que se compreendesse quais os tipos de atividades econômicas são predominantes no distrito. Na busca desta compreensão foi possível entender se o distrito é composto de características mais urbanas ou mais rurais, e, também, se todas essas características são tidas como urbanas, mas, ainda assim, permanecem ligadas ao rural, caracterizando, de alguma forma, o distrito nem como um espaço rural nem como um espaço urbano. As respostas para a compreensão 4 Os principais serviços básicos encontrados no Distrito do Rio das Mortes são: uma farmácia; um posto de saúde; um mercado grande; uma padaria de referência (embora existam outras menores) e uma escola que vai do ensino fundamental ao ensino médio. Há, também, um projeto do Governo Estadual que inclui atividades de ginástica e música para os Idosos e Crianças. O que a população entrevistada alega é que ainda é preciso recorrer ao município em caso de alguns tratamentos médicos; que falta um posto policial no distrito devido ao fato deste estar cada vez mais inseguro, e que o distrito ainda carece de movimento, sendo, segundo eles, “muito parado”. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 820 das atividades econômicas dividiram-se na sua maioria, pelo menos 20 respostas, entre esta ser adquirida no próprio município com atividades ligadas ao meio urbano. Entende-se, a partir disso, que a comunidade do Rio das Mortes é vista mais como um espaço urbano que rural – pelo menos, quando o ponto de partida para se chegar nesta ideia baseia-se nas atividades econômicas que são exercidas. De todas essas observações as que mais chamaram a nossa atenção, foram as que partiram das perguntas 9 e 10. Na pergunta 9, por exemplo, procuramos saber se existiam povoados considerados zona rural no Distrito. Esta pergunta foi levantada em questionário quando nas primeiras conversas com alguns moradores do Distrito eles levantaram a existência desses povoados. De fato, em todas as respostas registradas nos questionários obteve-se como resposta a existência desses povoados. Contudo, ao indagarmos aos entrevistados se eles possuíam conhecimento a respeito do que tornavam estes povoados zona rural – se o fator determinante, neste caso, seriam as principais atividades exercidas neles -, uma nova reflexão passou a ser levantada. Para nossa surpresa, houve um desconhecimento significativo por parte dos entrevistados em relação às atividades desenvolvidas nos povoados, sendo o fator caracterizante como uma área rural, para os moradores entrevistados, era o fato de estarem distantes da área central do Rio das Mortes, ou seja, do “perímetro urbano” (expressão utilizada pelos entrevistados). A partir disso, uma nova pergunta passou a ser levantada: o que pode, ou não, ser caracterizado como um centro? Ao pensarmos no Distrito, notamos que o centro, para os moradores, é onde acontecem às relações de maiores convivência, compras, prestação de serviços, e que todas estas se encontram próximas umas das outras em um determinado local no distrito. Posto isso, na visão dos entrevistados, tudo que se encontra mais distante desse determinado local (central), não é considerada área urbana e sim área rural. Segundo os principais relatos, o que faz com que esses povoados sejam áreas rurais é, justamente, o fato de não possuírem casas umas próximas as outras, de possuírem estradas de terra e a própria distância em que se localizam em relação ao local do distrito do Rio das Mortes que possui prestações de serviço, como a escola, o posto de saúde, o supermercado, a farmácia, o cartório, dentre outros. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 821 822 Imagem 2: Área considerada urbana pela maioria dos entrevistados - Fonte: Google Earth Imagem 3: Desenho localidade considerada parte Central Urbana no Distrito - Fonte: Anna Cristina A separação existente entre o Rio das Mortes – “perímetro urbano” -, e o Povoado Largo da Cruz, por exemplo, é simplesmente uma ponte. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 823 Imagem 4 e Imagem 5: Desenho e Fotografia da Ponte, respectivamente - Fonte: Anna Cristina Imagem 6: Localização da ponte que separa o Rio das Mortes do Povoado Largo da Cruz - Fonte: Google Earth ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 É interessante perceber, neste caso, que a delimitação territorial entre o Rio das Mortes - Largo da Cruz não é, somente, física (a ponte), mas, principalmente, algo que já se encontra devidamente formulado na mente de cada um dos moradores. COMENTÁRIOS FINAIS Ao se pensar em todas essas questões suscitadas no presente texto, percebese o quanto neste pequeno distrito existem particularidades que não se esperava encontrar quando se iniciou tal pesquisa. O fato de existir povoados que recortam o distrito, faz com que se lembre de uma cidade cortada por bairros, o que chama bastante atenção por serem características encontradas em um distrito de um município - um distrito um tanto quanto pequeno. O motivo de esses povoados serem considerados zona rural pelos moradores de uma parte do distrito – que se consideram urbanos – é ainda mais curioso e precisa ser analisado com mais profundidade. Ao pensamos naquelas propostas iniciais pautadas em Sorokin, Zimmerman e Galpin (1986) - Diagnóstico socioeconômico da comunidade; Avaliação da Mobilidade social; Avaliação da Mobilidade territorial; Avaliação da Mobilidade interocupacional – percebemos o quanto estas, até dado momento, evidenciam que nas condições presentes no Distrito este pode ser entendido como um espaço urbano – quando as observações se pautam na área territorial da parte central do distrito -, e como um espaço rural – quando as observações se baseiam nos resultados das entrevistas em relação aos povoados existentes. Ainda é cedo para se definir, na sua totalidade, se o espaço é urbano ou rural. Todavia, vale elencar que as condições que o dizem como urbano, em um recorte territorial são pertinentes – quando se leva em conta a relação de um centro de concentração de atividades comerciais, serviços, culturais, etc., articuladas entre si. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTRO, Iná Elias de. O problema da escala. 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