Cuidado no pós-operatório é fundamental

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M
uito além da questão estética, as varizes representam um problema
de saúde que, segundo a
Associação Brasileira de
Angiologia e de Cirurgia
Vascular, acomete 38% da população
brasileira. A doença é caracterizada
pela perda de elasticidade das veias,
que se dilatam e ficam com aspecto
tortuoso quando o retorno venoso não
ocorre adequadamente. Em geral, as
mulheres são as que mais sofrem com
as varizes – cerca de 45% da população
feminina desenvolve o problema durante a vida.
Entre os principais fatores de risco
estão a pré-disposição familiar, a obesidade e a terapia hormonal. Antes de
a doença se tornar visível, e as dores e
inchaço mais constantes, os pacientes começam a sentir desconforto nas
pernas, sensação de peso nos pés e um
pouco de inchaço. Daí a importância de
procurar o médico para receber o diagnóstico precoce e saber como tratar o
problema.
– Existem diferentes formas de tratamento e de cirurgias. O especialista
é que irá avaliar com precisão o caso e
sugerir o melhor método para aquela
pessoa, pois cada caso é singular – explica o cirurgião vascular Jeferson Aita.
O tratamento nem sempre é simples,
mas vale a pena, já que em muitos casos há considerável melhora no padrão
de vida porque a pessoa consegue voltar a fazer as atividades diárias sem as
dores. Entre esses casos está o da professora universitária Valéria Bortoluzzi
Muireann, 43 anos. Ela fez a primeira
cirurgia para a remoção de varizes internas de grosso calibre há 20 anos. Em
função da predisposição genética – a
mãe e a irmã dela também já tiveram de
se submeter ao procedimento cirúrgico
–, outras varizes surgiram. Até julho
passado, quando foi submetida a nova
cirurgia para a retirada de veias safenas
e de varizes grossas e internas, a professora tentou outros métodos: a escleroterapia, a medicação para diminuição
do inchaço de veias e o uso das meias
de compressão, todos sem sucesso.
– Fiz a cirurgia porque as veias estavam completamente incompetentes,
não havia mais circulação e eu estava
sentindo muitas dores nas pernas, a
ponto de só conseguir dormir com remédio – explica Valéria.
No pós-operatório, Valéria precisou tomar alguns cuidados até voltar a
caminhar.
– Como retirei a veia safena, fiquei
mais tempo de repouso. Nos primeiros
10 dias, caminhava cinco minutos por
hora e todo o tempo do repouso tive
de ficar com as pernas elevadas. Após
este período, por mais 20 dias precisei
controlar o período de caminhadas e de
repouso – explica.
O resultado positivo desses cuidados, que também incluem o uso de
meias de compressão por seis meses,
é a ausência de dores após um dia de
trabalho e a melhora na aparência das
pernas.
Conforme dados do Ministério da
Saúde, as varizes são a 14ª causa de
afastamentos temporários do trabalho.
(Colaborou Luana Iensen)
Cuidado no pós-operatório
é fundamental
Ronald Mendes
Pelo bem-estar das
pernas
A professora Valéria Bortoluzzi Muireann já enfrentou
duas cirurgias para a retirada de varizes. Antes de
fazer a última, em julho, só conseguia dormir à base
de remédios em função das fortes dores nas pernas
Cerca de 40% da população sofre com as varizes. Diagnóstico
adequado e tratamento cumprido à risca podem ajudar a resolver o
problema e evitar o reaparecimento dos incômodos vasos dilatados
Veia normal
Veia varicosa
Válvula lesada
Circulação
ascendente
Circulação
incorreta
Veia
superficial
Variz
Veia
profunda
Existem três tipos de veias nos membros inferiores: as superficiais, que ficam sob a pele, as profundas, que
ficam no meio da musculatura, e as comunicantes, que ligam as veias superficiais e profundas. Nelas, existem válvulas que orientam a circulação do sangue, sempre da veia superficial para a profunda, e que impedem que o sangue faça o caminho errado, descendo pelas veias, quando a pessoa está de pé ou sentada.
8 – Santa Maria, sábado e domingo, 26 e 27 de setembro de 2015
Nas pessoas em que as válvulas das veias estão doentes acontece, então, uma inversão no caminho do sangue,
que passa a ir de cima para baixo e da veia profunda para a superficial. Este fato provoca um aumento do volume sanguíneo dentro da veia superficial, ocorrendo o processo de dilatação e aparecimento das varizes.
N
ão são apenas as mulheres a sofrerem com as varizes. Conforme
a Associação Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, 30% dos
homens sofrem com o problema. Há
um ano e meio, Vitalino Pereira Bueno,
45 anos, fez uma cirurgia para retirar os
vasos que estavam dilatados nas pernas.
Como parte do tratamento pós-operatório, segue usando meias elásticas.
– Hoje não sinto mais desconforto,
inchaço e nem as câimbras me assombram mais. São pernas e vida nova – comemora Bueno.
Para o cirurgião vascular Jeferson
Aita, manter as consultas e recomendações médicas após a cirurgia é a
garantia de sucesso e maneira mais
simples de prevenir o aparecimento de
novas varizes.
– Muitas pessoas acreditam que elas
podem voltar após o tratamento, mas
isso não é verdade. O que acontece é
que, se a pessoa não se cuidar com alimentação e exercícios físicos ou ter herança genética, novas veias podem dilatar, mas não são as mesmas tratadas na
cirurgia – explica o cirurgião.
Bueno conta que sentia muitas dores
e inchaço nas pernas, agravadas porque
trabalhava o dia inteiro de pé. Além
disso, tinha câimbras duas a três vezes
por dia. Após dois anos e meio na fila
pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
ele conseguiu realizar o procedimento
cirúrgico.
– Na minha família, minha mãe e
irmã também têm varizes e já foram
operadas. Com essa pré-disposição, e se
eu não tiver atenção com os sintomas,
o médico me alertou que novas varizes
podem aparecer – conta Bueno.
A aposentada Regina da Silva Machado, 60 anos, também esperou dois
anos na fila do SUS para fazer a cirurgia, realizada há 11 anos. Para ela, os cuidados pós-operatórios também foram
bem importantes para voltar à rotina
do trabalho. Mas ela precisa redobrar
os cuidados: com a herança genética
que tem, há cinco anos novas pequenas
veias começaram a se dilatar.
– Essas novas varizes são bem superficiais e não me causam irritação. Desde
que eu me cuide, não será necessário
outra intervenção médica – afirma a
aposentada.
O cirurgião vascular Alcides Vogel
explica que o tratamento está relacionado ao tamanho e à localização das
varizes, por isso cada caso é diferente,
sendo as formas principais a retirada
ou secagem da varize. Entre os principais métodos estão a microcirurgia para
varizes superficiais, a escleroterapia, o
tratamento a laser e a extração das veias
por meio de cirurgia (veja mais ao lado).
– Hoje, os tratamentos são pouco
evasivos e já não se precisa ficar tanto
tempo na recuperação, desde que o paciente siga os cuidados passados pelo
médico – alerta Vogel.
Quanto ao uso de medicamentos e
cremes, o médico esclarece que, sozinhos, eles não solucionam as varizes,
sendo utilizados como tratamento
complementar.
Os tratamentos mais comuns
z Escleroterapia: com uma seringa, é injetada na veia doente uma
substância (que pode ser glicose, um produto secante ou uma espuma especial). Essa substância causa uma irritação na parede da veia, fazendo
com que se feche e que o sangue deixe de passar por ali. Na escleroterapia
por termocoagulação, não se injeta a substância, apenas seca-se a veia varicosa com o aumento da temperatura na ponta de uma agulha fina
z Retirada cirúrgica: por meio de uma operação, retira-se todo o segmento de veia afetado. O trecho retirado não fará falta ao corpo
z Laser: o feixe de luz do laser pode ser usado de duas formas. A primeira
delas é internamente, nas veias safena da perna, para tratar partes doentes. Inserido dentro da safena por um pequeno corte, a luz disparada faz a
parede da veia reagir ao calor, fechando-a e tornando desnecessária a retirada. A outra forma é transcutânea (por cima da pele), para secar pequenas varizes difíceis de alcançar com agulha. O uso do laser, em qualquer
caso, deve ser feito por um profissional especializado, pois exige cuidados
para evitar queimaduras
Perguntas e respostas
O uso de pílulas anticoncepcionais piora as varizes?
Sim. O uso de anticoncepcionais ou reposição hormonal é
uma das causas do surgimento de varizes.
Fazer musculação causa varizes?
Atividade física orientada ajuda a prevenir o problema, mas
quem faz exageradamente o exercício e sem acompanhamento, pode desencadear ou agravar o quadro de varizes.
Salto alto causa varizes?
Usar salto alto não causa o problema, mas os médicos alertam que, em quem já tem predisposição, o uso contínuo, assim como ficar muito tempo em pé, pode acelerar o aparecimento das varizes.
Depilação causa varizes?
Em princípio, não. Porém, os médicos alertam quem já tem
pequenas varizes: a depilação com cera quente, devido à
pressão exercida no local, pode estimular o surgimento de
novos vasos dilatados.
Depois do tratamento, as varizes podem voltar?
As varizes tratadas não têm como voltar a se dilatar. O que
acontece é o surgimento de novas veias dilatadas caso a
pessoa tenha predisposição genética ou não faça o tratamento pós-operatório adequado.
O tratamento a laser dói muito?
Qualquer tratamento pode ter um pouco de dor, mas hoje,
com equipamentos modernos, o desconforto é minimizado.
Ficarei muito tempo longe do trabalho após a cirurgia?
O repouso, em geral, é de poucos dias. Apenas nos casos de
retirada da veia safena é que se exige mais tempo de repouso e afastamento das atividades diárias.
As meias elásticas machucam?
No início, há um pouco de desconforto, mas as meias auxiliam a circulação sanguínea a voltar ao normal. Para não
sentir dor ou machucar-se, é importante adquirir o produto
em lojas especializadas.
Os remédios e cremes curam as varizes?
As medicações e cremes aliviam os sintomas, mas não significam cura.
Fontes: cirurgiões vasculares Jeferson Aita e Alcides Vogel
Causas
z Herança genética
z Obesidade
z Sedentarismo
z Exercícios impróprios (que usem a força
além da capacidade dos membros inferiores)
z Trabalhos que demandam muito tempo em
pé ou sentado
z Alterações hormonais (gravidez, uso de anticoncepcionais e reposição hormonal)
Sinais de
alerta
z Surgimento de vasinhos
avermelhados, formando
uma espécie de teia
z Sensação de peso na
pernas
z Inchaço nas pernas e
tornozelos
Fonte: cirurgião vascular Miguel Francischelli Neto
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Santa Maria, sábado e domingo, 26 e 27 de setembro de 2015 – 9
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