ANÁLISE ECONÔMICA Junho 2011 Por George Bezerra Economias emergentes e países desenvolvidos – onde estão os maiores riscos? O funcionamento da economia mundial é um fenômeno de tal complexidade que os responsáveis pela política econômica estarão sempre se defrontando com “problemas”. Jamais existiu e provavelmente nunca existirá uma situação na qual estejam ausentes distorções e desequilíbrios - não somente na economia mundial, mas em cada um dos países e regiões econômicas. Os responsáveis pela política econômica sempre terão um trabalho difícil a realizar. Portanto, as perguntas relevantes para analisar as condições e perspectivas da economia mundial são: 1. até que ponto existem problemas graves o suficiente para ameaçarem a continuidade do desenvolvimento econômico global; 2. em que partes do mundo estão localizados esses problemas; 3. quais as políticas econômicas adequadas para lidar com esses problemas, se elas estão sendo adotadas e se serão capazes de superá-los. O conflito entre crescimento econômico mundial e preservação adequada do meio ambiente já é algo profundamente relevante, e o será cada vez mais. O principal desafio nesta área será como conseguir a energia necessária para continuar sustentando as taxas de crescimento do PIB sem produzir, por meio dos gases de efeito-estufa, a continuidade de um aquecimento global que já se revela concretamente assustador (a atividade humana está lançando algo como 35,0 bilhões de toneladas de Dióxido de Carbono na atmosfera a cada ano). Ou de submeter a humanidade a riscos que podem se tornar incontroláveis. Considere-se apenas o exemplo das decisões recentes de países como Alemanha e Itália, que restringiram de forma radical os seus programas de geração de energia nuclear. E pergunte-se como devem estar se sentindo cidadãos bem informados sobre esse assunto em países como a França, que já têm uma dependência de mais de 70% das usinas nucleares para atenderem à sua necessidade total de energia. Mas esta é apenas uma das inúmeras restrições ao crescimento econômico que vão se impondo nesta área do meio ambiente. Um estudo recente elaborado conjuntamente pela OCDE e FAO concluiu que a maioria das commodities agrícolas terá pela frente pelo menos mais uma década de preços em elevação. E um dos motivos é a pressão sobre os recursos naturais, principalmente água e terras (a produção agrícola terá que se expandir em terras menos férteis e com maiores riscos de problemas meteorológicos). www.maximaasset.com.br [email protected] Diante da crise surgida em 2008 nos Estados Unidos, e de cujas conseqüências o mundo desenvolvido ainda luta para se desvencilhar, os problemas ligados ao meio ambiente tendem a ser ainda mais relegados a planos secundários na agenda dos políticos e governantes. Mas essa é uma restrição ao crescimento econômico mundial que doravante não poderá mais ser desconsiderada sem impor um pesado ônus às gerações futuras. Além disso, qualquer análise sobre as perspectivas para a economia brasileira no longo prazo precisa levar em conta a posição relativa do país na questão do meio ambiente, que apresenta enormes vantagens comparativas. Nenhum outro país do mundo reúne tantas vantagens nessa área: grandes facilidades para a geração de energias limpas, baixíssima dependência da energia nuclear, florestas e água ainda relativamente abundantes, potencial em disponibilidade de terras e tecnologia para se tornar um dos grandes supridores de alimentos em escala global. Como se não bastasse, descobertas recentes ainda ampliaram enormemente as reservas conhecidas de petróleo. Somando-se a tantas benesses da natureza a existência de uma democracia que amadurece e de um setor privado moderno e competitivo, resta apenas a tarefa de uma política econômica que não insista em cometer desatinos. Mas voltemos aos problemas mais imediatos da economia mundial, neste momento. Onde eles se encontram e qual o seu potencial de estrago. Alguns analistas acreditam que os problemas mais graves se localizam no mundo desenvolvido. Outros apontam para algumas das mais importantes economias do mundo emergente, como China, Índia e Brasil. Analisaremos brevemente a seguir essas diferenças de avaliação. Estados Unidos, Europa e Japão Há pelo menos três elementos importantes que estão presentes nas dificuldades enfrentadas por todos esses países, e que as diferenciam do que se observa no mundo emergente. O primeiro é que todos ainda se debatem num esforço de se distanciarem do risco de recessão; o segundo é que Estados Unidos, Japão e vários países da Europa enfrentam graves desequilíbrios fiscais; e o terceiro é que a maioria desses países já esgotou grande parte do seu arsenal de medidas de natureza fiscal e monetária, sem terem conseguido retomar uma trajetória de crescimento sustentado. Av. Atlântica 1130, 14º andar - Copacabana Rio de Janeiro RJ 22021-000 Tel: 55 21 3820-1777 Fax: 55 21 3820-1795 ANÁLISE ECONÔMICA Junho 2011 Já havia uma tendência de deterioração nas contas públicas dos Estados Unidos antes da crise de 2008. O enorme aumento de gastos públicos para lidar com a crise tornou essa trajetória muito mais explosiva. E até agora o executivo e o congresso parecem bem longe de chegarem a um entendimento capaz de dar lugar a um plano de médio e longo prazo capaz de recolocar essa trajetória nos trilhos. Na verdade, eles não conseguem entrar num acordo sequer sobre o limite de gastos federais para o corrente ano, o que tem tornado o risco de default no curto prazo como uma possibilidade que não poderia ser inteiramente descartada. Obviamente, tal possibilidade resultaria de um impasse político, e não de uma efetiva incapacidade de honrar compromissos da dívida soberana dos Estados Unidos. Mesmo assim se trata de algo que revela enfaticamente a enorme dificuldade que existe entre republicanos e democratas para lidar com os problemas fiscais da maior economia do mundo. E como se sabe, a margem de manobra na utilização da política monetária também já está atingindo os seus limites. A Zona do Euro registrou uma taxa de crescimento surpreendentemente elevada no primeiro trimestre do corrente ano. Mas este desempenho foi enormemente desigual entre os países membros, com a Alemanha liderando fortemente a expansão, enquanto Grécia continuava mergulhando no terreno negativo e Irlanda, Portugal, Espanha,... seguiam crescendo a taxas insatisfatórias. No Reino Unido o crescimento patina, a inflação atinge níveis preocupantes e a trajetória das contas públicas também é desequilibrada. O problema mais grave se encontra na Zona do Euro. Pois os desequilíbrios fiscais na região são agravados pela camisa de força em que se tornou a moeda única para países com níveis tão diferentes de competitividade. Tornase cada vez mais óbvio que os pacotes de ajuda financeira, acoplados a programas de ajuste domésticos, não serão capazes de viabilizar a capacidade de pagamento das dívidas gregas. Mesmo assim as autoridades da Zona do Euro e o Fundo Monetário Internacional não conseguem chegar a um acordo em torno de uma proposta confiável para lidar com a crise. E os riscos de contaminação, que já atingiram Portugal, e podem se estender para a Espanha, parecem ter a passagem do tempo a fortalecê-los. obrigados a combater o risco de super-aquecimento (que resulta, aliás, pelo menos em parte, da política monetária fortemente expansionista que vem sendo praticada no mundo desenvolvido, particularmente nos Estados Unidos). Em princípio, é muito mais fácil reduzir a velocidade de um automóvel que funciona bem, mas está em excesso de velocidade, do que fazer andar na velocidade ideal outro que anda lentamente e enfrenta vários problemas mecânicos. E seguindo com a analogia, os “automóveis” dos Estados Unidos, Europa e Japão enfrentam “problemas mecânicos” sérios em algumas partes importantes dos seus motores. Os “automóveis” dos países emergentes que estão em excesso de velocidade têm algum problema mecânico que possa dificultar a operação de reduzir os seus desempenhos atuais para uma velocidade de cruzeiro? Os atuais indicadores fiscais da China e do Brasil podem ser considerados bons, pelo menos quando avaliados sob o ponto de vista da solvência num horizonte de curto e médio prazo. Nesse item a posição da Índia é um pouco pior, mas não chega a justificar maiores preocupações. Os indicadores relativos ao endividamento externo também são bastante satisfatórios nesses três países. Parece óbvia a necessidade de conter o ritmo de expansão do crédito bancário e promover certo aperto da política monetária nesses três países, processo esse que já se encontra em andamento. Mas não há evidências de que qualquer um deles esteja enfrentando riscos graves quanto ao impacto que isso possa vir a ter na solidez do sistema bancário (embora esta seja uma avaliação sempre difícil, particularmente na China, onde ainda é menor a disponibilidade de dados abrangentes e confiáveis). O risco de surgimento de novas crises ainda é bastante elevado no mundo desenvolvido e o seu potencial de estrago para os países emergentes continua sendo muito grande. Portanto, embora a posição macroeconômica dos principais países emergentes seja hoje bem melhor que a verificada na maioria das economias desenvolvidas, eles devem se proteger tentando maximizar a qualidade das suas políticas econômicas. A preservação de indicadores fiscais saudáveis e da solidez do sistema bancário é especialmente recomendada. Países Emergentes De certa forma os problemas atualmente enfrentados em alguns países emergentes importantes como China, Brasil e Índia, são o oposto do que se verifica em vários países desenvolvidos. Ou seja, enquanto os desenvolvidos lutam para se afastar da recessão, os emergentes são 2 www.maximaasset.com.br [email protected] Av. Atlântica 1130, 14º andar - Copacabana Rio de Janeiro RJ 22021-000 Tel: 55 21 3820-1777 Fax: 55 21 3820-1795