222 A EXPRESSÃO DO PASSADO IMPERFECTIVO NA OBRA DOS CRONISTAS FERNÃO LOPES E DUARTE GALVÃO Amanda Matos Santos – UFS1 Eliana dos Santos Silva de Carvalho – UFS2 0 Introdução Sabe-se que no transcorrer da conversação informal, recorremos a duas formas verbais para indicar o valor de passado imperfectivo: o pretérito imperfeito do indicativo (IMP), ‘cantava’; e a forma perifrástica constituída pelo auxiliar estar, acompanhado do morfema de pretérito imperfeito do indicativo e verbo principal no gerúndio (PPROG), ‘estava estudando’. As formas imperfectivas são caracterizadas pelas seguintes propriedades: i) são anteriores ao momento da enunciação; ii) são concomitantes a outra situação que se torna seu ponto de referência; e iii) apresentam-se como em andamento em relação ao ponto de referência. (FREITAG, 2007). Sendo assim, este trabalho, que tem como campo de atuação a Lingüística Histórica, busca fazer uma análise histórico-diacrônica das formas que indicam imperfectivização, no português arcaico. Metodologicamente, serão utilizadas como objeto de análise da pesquisa em questão, a Chonica de El-Rei D. João I (1644), e a Chronica delrey D. Affonso Henriques (1726), dos cronistas portugueses Fernão Lopes e Duarte Galvão, respectivamente, para que desta forma, possamos verificar as alterações das funções semânticodiscursivas que as formas verbais referentes ao passado imperfectivo podem ter sofrido ao longo do tempo, estabelecendo assim, a trajetória da mudança diacrônica dos elementos lingüísticos que codificam a expressão do passado imperfectivo no português. Além disso, pretendemos discutir a cerca do processo de gramaticalização e sua relação com a teoria sociolingüística, buscando pontos de contato entre ambos os aparatos teóricos. 1 Registros históricos do português Estudos relativos à periodização da língua portuguesa apontam que a primeira fase do português arcaico se encerra no final do século XIV. Quanto à segunda, não há uma data precisa, porém, alguns estudiosos, entre eles Ivo de Castro, defendem que, provavelmente, a segunda fase do português arcaico deve ter terminado na primeira metade do século XVI, mais precisamente no ano de 1536, pois nesse período surge o primeiro estudo metalingüístico referente à língua portuguesa, com a publicação da Gramática de Língua Portuguesa de Fernão de Oliveira e em seguida, a gramática de João de Barros (1540), que dá início ao português moderno. (MATOS E SILVA, 2008) Dados lingüístico-históricos indicam que os primeiros manuscritos medievais surgiram a partir do início do século XIII, pela necessidade administrativa de se organizar fatos relativos à sociedade. Porém, os documentos produzidos neste período se restringiam à elite intelectual, que geralmente era ligada à religião e aos nobres. Estes registros não seguiam uma normativização, pois nessa fase, os textos eram produzidos muito mais para serem ouvidos, do que propriamente lidos. Tomando como parâmetro de referência os períodos acima e os dados apresentados, constata-se que, em termos lingüísticos, o período arcaico português caracteriza-se pela oralidade, sendo assim, as pessoas escreviam sem necessariamente seguirem uma regra, escreviam da forma que falavam, que ouviam, não havia um sistema ortográfico responsável pelo regimento da língua escrita. No entanto, apesar de não haver uma normativização lingüística, havia certa regularidade entre os manuscritos, que era guiada por aqueles que podemos chamar de ’mestres da escrita’. Estes, geralmente eram 1 Aluna do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe, Campus Prof. Alberto Carvalho – Itabaiana/SE. Bolsista PIBIC/UFS/CNPq 2008. E-mail: [email protected] 2 Aluna do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe, Campus Prof. Alberto Carvalho – Itabaiana/SE. Bolsista PICVol/UFS/2008. E-mail: [email protected] 223 homens ligados diretamente à nobreza, conhecidos como “os cronistas da corte”, eram os responsáveis por toda a documentação referente ao reino. (LOURES, 2008) Os cronistas exerciam sua função dentro da corte régia e eram incumbidos da tarefa de registrar os feitos do rei, para que estes não se perdessem no transcorrer do tempo. Essa documentação era reunida em forma de crônica. O gênero textual “crônica” foi a forma que os cronistas encontraram para registrar o passado no período medieval. As crônicas produzidas em Portugal no final da Idade Média foram normalmente elaboradas por membros eruditos da corte, ou a pedido de alguém oriundo da casa real, que patrocinava a compilação. As crônicas tinham como principal lugar de produção o palácio régio, e procuravam traçar para Portugal uma identidade peculiar, que girava em torno da figura do rei, concedendo ao monarca e ao reino um ar de sacralidade. Os cronistas poderiam ser considerados os jornalistas de hoje, só que não escreviam para o dono do jornal e sim para o rei; assim, as crônicas procuraram, de um lado, traduzir as aspirações do poder ao qual serviram, de outro, construir a imagem desse poder através da retrospectiva do passado inspirada no presente. No caso português, principalmente a partir da dinastia de Avis, a função das crônicas estava associada à Torre do Tombo, uma espécie de arquivo real ou “instituição de memória”, em que as crônicas eram escritas em forma de textos de caráter religioso, doutrinário e filosófico, pois a escrita ainda não era consolidada, e a partir de dados recolhidos de experiências que vivenciam e testemunhos diversos, os cronistas faziam seus escritos e os fundamentos para interpretar o mundo. As crônicas tinham uma função social muito importante, pois informavam a época em que foram escritas, e descreviam todo um reinado em forma de textos religiosos. Um dado muito interessante, é que pelo fato de não haver uma consolidação da escrita no período medível, e em função de apenas os membros da nobreza e da igreja ter acesso a tais documentos, as crônicas registravam o que cada reino achava que deveria ser exposto à sociedade. (SANTOS; CARVALHO; ANDRADE, 2008). Diante do que foi exposto, percebe-se que o gênero textual “crônica” se configura como suporte, para que possamos traçar um parâmetro de análise entre duas épocas distintas da língua portuguesa: o período medieval e o nosso momento atual. Mediante este estudo, buscamos observar se as formas verbais, referentes ao passado imperfectivo, sofreram alterações nas suas funções semânticodiscursivas, ao longo dos anos. Agora que já vimos toda a contextualização histórica do período arcaico do português, partiremos para o arcabouço teórico que subsidia análise, envolvendo os estudos referentes aos processos de variação/gramaticalização e mudança, que nos possibilitam verificar determinadas modificações sofridas pelas línguas no decorrer do tempo, focando também, as noções das categorias de Tempo e Aspecto. 2 Mudança lingüística no domínio do tempo e do aspecto A Lingüística Histórica desenvolveu-se durante o século XIX, sedimentando os estudos lingüísticos. A dinâmica das línguas é basicamente o objeto de estudo deste campo teórico, pois esta área da lingüística concebe a língua como um fenômeno que está em constante movimento, não estático, e, portanto, passível de mudanças, alterando-se continuamente no tempo e no espaço. Sendo assim, pode-se dizer que essa disciplina tem a função de observar as mudanças que ocorrem na língua no transcorrer do tempo, recorrendo desta forma ao eixo diacrônico. Como sabemos, algumas décadas depois do surgimento da Lingüística Histórica, surge no cenário lingüístico a Lingüística Moderna, que teve como precursor Ferdinand Saussure, direcionando os estudos da linguagem para a vertente sincrônica, ou seja, o que interessava era estudar a língua em um determinado momento, sem necessariamente recorrer ao passado, deixando os estudos históricodiacrônicos a margem dos interesses lingüísticos. (MATOS E SILVA, 2008). Porém, na década de 1980, eles retornam com grande força no Brasil, impulsionado principalmente pela teoria da variação e mudança lingüística, de William Labov (2008). Tendo em vista a teoria laboviana, é oportuno diferenciar o que é mudança e o que é variação. Ao contrário do que se pensa, os termos “variação” e “mudança” são distintos. O que se entende por variação é duas ou mais formas de dizer a mesma coisa. É o caso do vocábulo “cê”, variante de 224 “você”, que normalmente está mais representado em contextos de fala (FARACO, 2005). Segundo Faraco (2005), em uma língua só ocorrerá mudança se esta adquirir um status de estabilidade e permanência maior, seja na escrita e/ou na fala. Podemos tomar como exemplo a expressão “vossa mercê” que depois de um longo processo de mudança, se vê estabelecida hoje pela forma “você”. Para enfatizar melhor: A Língua é nossa companheira mais inseparável e inevitável; usando-a inconscientemente não fazemos idéia de sua complexidade, o que só percebemos quando deparamos com uma língua estrangeira. A língua materna se incorpora de tal forma à personalidade do individuo que ele tende a analisar todo e qualquer outro comportamento lingüístico a partir de sua língua, rotulando como exótico, esquisito, complicado ou extraordinário tudo aquilo que sair dos padrões que conhece em sua língua. (BORBA, 2005. p. 76). A mudança lingüística decorre da variação lingüística, diz respeito à mudança das línguas humanas no decorrer do tempo, mostrando que as línguas são heterogêneas, e que estão em constante transformação. Essa mudança pode ser caracterizada da seguinte forma: ela é contínua, pois devido a sua instabilidade, a sua heterogeneidade, a língua passa por várias alterações ininterruptas ao longo dos anos; e ela também é lenta, gradual, pois esse fenômeno lingüístico leva um longo tempo para se concretizar, e por isso, muitas vezes é imperceptível para os falantes que acreditam muito mais na permanência lingüística, do que na sua variação. No entanto, existem situações nas quais os falantes conseguem captar as mudanças, isso ocorre quando, [...] os falantes são expostos a textos muito antigos escritos em sua língua; ou convivem mais de perto com falantes bem mais jovens ou bem mais velhos; ou interagem com falantes de classes sociais que têm estado excluídas da experiência escolar e da cultura escrita, ou que têm pouco acesso a ambas; ou ainda quando escrevem e encontram dificuldades para se adequar a certas estruturas do padrão de língua cultivado socialmente na escrita. (FARACO, 2005, p. 15-16) Dado os breves esclarecimentos, podemos dizer que toda mudança pressupõe uma variação, porém nem toda variação é uma mudança, pois como podemos perceber, a mudança é condicionada pela variação, no entanto, esta não está propriamente vinculada à mudança lingüística. Por isso se diz que nem toda variação implica mudança, mas que toda mudança pressupõe variação, o que significa, em outros termos, que a língua é uma realidade multifacetada e que as mudanças emergem dessa heterogeneidade, embora de nem todo fato heterogêneo resulte necessariamente mudança. (FARACO, 2005. p.23-24) Neste trabalho, enfocamos os processos de mudança e variação, mais precisamente as ocorrências que expressam o passado imperfectivo, recorrendo ao período medieval para analisar as formas imperfectivas. Para isso, nota-se que, embora não sejam frisadas pela maioria das gramáticas normativas, duas categorias são fundamentais para compreendermos o processo de imperfectivização: as categorias de Tempo3 e Aspecto. Essas duas categorias referem-se à noção de tempo, porém distinguem-se no que se refere ao sentido. O Tempo refere-se à noção de tempo externo, pois as noções semânticas de Tempo são as de passado, presente e futuro, ou seja, a localização do momento da enunciação está voltada para a linearidade dos acontecimentos, organizando-os cronologicamente, ou seja, “descreve a maneira como localizam no tempo eventos momentâneos, “os três momentos estruturais na descrição dos tempos” (ILARI, 2001. p.10). Já o aspecto está voltado para o tempo interno, pois as noções semânticas no âmbito do Aspecto são as noções de duração, começo, meio e fim da enunciação. Dessa forma, percebe-se que esta categoria lingüística não está vinculada necessariamente ao ponto dêitico4. Grosso modo, o aspecto focaliza a forma como os fatos se desenvolvem no decorrer do processo enunciativo, dividindo-se em perfectivo e imperfectivo. 3 Conforme sugere Costa (2002), utiliza-se Tempo com inicial maiúscula como categoria lingüística, e o tempo com inicial minúscula para marcar o tempo físico. 4 Localização do falante no momento da enunciação. (COSTA, 2002) 225 O perfectivo refere-se ao fato no sentido amplo, ele é o resultado de um processo, não marca um desenvolvimento do processo enunciativo, é o que podemos chamar de um fato fechado, não-marcado, pontual. O imperfectivo revela toda a temporalidade interna do fato, a duração do acontecimento, quando ele começa, seu meio e seu fim, expressando cursividade, algo que está em curso, em desenvolvimento. Por isso, pode-se dizer que se trata de um fato marcado, como podemos observar respectivamente nos exemplos que seguem: (a) Acabei de ler o livro. (b) Estava acabando de ler o livro. Conforme Freitag (2007, p.75): O aspecto perfectivo é caracterizado pela perspectiva global da situação que é expressa fechada, formando uma unidade ou conjunto, do qual não interessa referir a sua constituição interna. Já o aspecto imperfectivo expressa diferentes nuanças da temporalidade interna: que se desenrola (cursivo), ou selecionando fases do tempo interno (inicial, medial, final), ou expressando estados resultativos, dentre outras possibilidades. O aspecto imperfectivo não indica os pontos inicial, ou final da situação, mas focaliza o seu desenvolvimento, em contraponto ao perfectivo, que enfatiza os pontos inicial ou final. De acordo com Castilho (2002), o perfectivo e o imperfectivo configuram a face qualitativa do aspecto. Exemplo: acabou de jantar, calou-se, a ação ocorreu apenas uma vez, ao passo que em vivem correndo a ação de correr ocorreu mais de uma vez. Assim, podemos dizer que o aspecto também tem uma face quantitativa, a qual distingue-se da ocorrência de singular (aspecto semelfactivo) da ocorrência múltipla, habitual ou reiterada (aspecto iterativo – representa uma quantificação do imperfectivo e do perfectivo). A respeito disso, Castilho (2002) propõe a seguinte tipologia do aspecto: Perfectivo a) Pontual – o começo da ação coincide com seu fim, tornando irrelevantes as etapas do seu desenvolvimento, portanto, temos uma situação acabada, não-marcada; b) Resultativo – vai da ação ao seu resultado. A ação começa e termina simultaneamente, implicando uma situação concluída. Imperfectivo a) Inceptivo – expressa a fase inicial de uma ação; b) Cursivo – uma fase medial, retratada em pleno curso de seu desenvolvimento; c) Terminativo – uma fase final, revela o desfecho da ação. As categorias temporal-aspectual são a representação lingüística de tempo físico, são categorias lingüísticas que retratam, no mundo das idéias, características temporais do mundo das coisas, e que o estudo dessas categorias é fundamental para que seja possível avaliarmos mais os fenômenos de variação e mudança presente nas línguas. Sendo assim, tomando como ponto de referência os aparatos teóricos citados, pretende-se a partir das noções das categorias de Tempo e Aspecto, observar como estas categorias se manifestavam no português arcaico, analisando o seu comportamento na Chonica de El-Rei D. João I (1644), de Fernão Lopes e na Chronica delrey D. Affonso Henriques (1726), de Duarte Galvão. 3 A expressão do passado imperfectivo nas crônicas Tomando por base o estudo da variação entre IMP e PPROG para expressar o passado 226 imperfectivo no português, partimos para uma primeira análise dos dados que foram observado até o momento. Ao analisarmos os dados preliminares, percebemos que a forma imperfectiva de pretérito imperfeito do indicativo (IMP), é bastante recorrente na escrita de Fernão Lopes e Duarte Galvão em ambas as obras, como podemos observar nos trechos abaixo, de Fernão Lopes (1644): (a ) Alguns outros tiuerão, q’ifto decia na fermente, no tempo de geração (...) (b) (...) bons feitos fora do louuor, que merecia, e enadindo em alguns outros da quifa (...) (c) Paços, onde poufaua, dizendo que queria que pouzaffe com ella (...) (d)E o Conde bem entendia, que de taes peffoas não era bem feguro (...) (e) (...) e da Rainha, o fazia fegurar. E de Duarte Galvão (1726): (a)Veyo há Rainha há parir hu filho grande, e formoso, que nom podia mais ser huma creatura (...). (b) (...) E ho Conde posto que tivesse grande pejo pólo bem ‘q há D. Éguas Moniz queria, de ho encarregar (...). No caso especificamente da obra de Fernão Lopes, até o momento, não encontramos nenhuma evidência de perífrase + gerúndio dentre as formas que expressam imperfectivização; percebe-se que o referido autor utiliza com muita freqüência o pretérito imperfeito (IMP). Porém, na obra de Duarte pode-se observar que a forma perifrástica constituída pelo auxiliar estar é bem evidente no uso das compilações do cronista, especialmente na Chronica delrey D. Affonso Henriques (1726), (estava, tinha). No entanto, a forma perifrástica + particípio, aparece em sua obra, mas com pouca freqüência, como podemos constatar a seguir: (a) (...) D. Egas Moniz muy esfoçado, e nobre Fidalguo, grande seu privado, que com elle viera da sua terra, e há quem tinha feyto muita mercê (...). (b) (...) como lhe tinha prometido (...). Ainda de acordo com as análises parciais referentes à crônica de Duarte Galvão, é pertinente destacarmos, um dado de grande relevância que observamos nesse primeiro momento, que é o fato que, no decorrer da crônica, também não houve nenhuma ocorrência de perífrase + gerúndio. Assim, se torna um desafio para nós procurarmos entender porque a forma de perífrase + gerúndio não ocorre na crônica. A extensão da análise poderá nos proporcionar um melhor entendimento no que se refere à ausência desse fenômeno. Ao analisarmos parcialmente os dados, referentes às ocorrências de passado imperfectivo nas obras dos cronistas portugueses, Fernão Lopes e Duarte Galvão, podemos constatar, que até o momento, em ambas as obras, não tivemos nenhuma ocorrência da forma perifrástica constituída pelo auxiliar estar, acompanhado do morfema de pretérito imperfeito do indicativo e verbo principal no gerúndio (PPROG). Esse dado é bastante interessante, pois se esse fator permanecer ao longo da busca das ocorrências de imperfectivização, devemos investigar o porquê da forma perifrástica não ter sido utilizada durante o português arcaico, ou a razão desta ter um uso tão restrito durante este período, analisando as funções semântico-discursivas das formas de pretérito imperfeito, em busca de explicações para essa suposta ausência perifrástica. Após termos identificado algumas ocorrências que expressam o passado imperfectivo, a próxima etapa deste projeto é analisar se as formas sofreram no decorrer do tempo alguma transformação semânticodiscursiva, delineando uma possível trajetória de mudança pela qual, estas formas podem ter sofrido ao longo dos anos, Com isso, poderemos comparar os resultados obtidos com resultados de análise do período atual da língua portuguesa (FREITAG, 2007), a fim, de averiguarmos o processo de variação/gramaticalização na expressão do passado imperfectivo. Considerações finais 227 A par de tudo que foi exposto no decorrer deste trabalho, percebe-se que, para que se possa realizar um estudo lingüístico-histórico, é necessário recorrermos a informações que estão bastante recuadas na linha do tempo. Portanto, para cada documento pesquisado lingüisticamente, convém fazermos todo um processo de busca e reconstrução da história textual de cada um deles. Isso, muitas vezes, justifica a dificuldade que se tem para a realização dos estudos diacrônicos no âmbito da lingüística. No entanto, não podemos esquecer de que esses estudos nos oferecem um suporte bastante relevante no se concerne à descrição da língua portuguesa, e são imprescindíveis para os estudos que enfocam os processos de variação e mudança da língua. Referências BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos estudos Lingüísticos. Campinas, SP: Pontes, 14ª ed, 2005. CASTILHO, Ataliba Teixeira de. Aspecto verbal no português falado. In. ABAURRE, Maria Bernadete M. e RODRIGUES, Angela C. 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