Tayza Katelline - Revista Brasileira de Medicina Interna

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REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(1):9-­‐12. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA INTERNA www.rbmi.com.br Artigo de Pesquisa
PROFILAXIA COM MUPIROCINA EM PACIENTES SUBMETIDOS À
ESTERNOTOMIA PARA CIRURGIA CARDÍACA NO PARANÁ
Mupirocin prophylaxis in patients undergoing sternotomy for cardiac surgery in Paraná
Tayza Katelline Danilau Ostroski, Rodrigo Gomes Penha, Anne Caroline
Hungaro, Vanessa Bertolli Lange, Fernando Cesar Laforga, Mário Augusto
Cray da Costa
Instituição Proponente: Divisão de Cardiologia e Cirurgia Cardíaca, Santa Casa de Misericórdia de
Ponta Grossa. Ponta Grossa, Paraná, Brasil.
RESUMO
Objetivo: O objetivo do estudo foi comparar a ocorrência de mediastinite em pacientes que usaram e
que não usaram mupirocina nasal, em pacientes submetidos à esternotomia para cirurgia cardíaca na Santa
Casa de Misericórdia de Ponta Grossa-PR. Materiais e Métodos: Estudo restrospectivo, analítico
observacional do tipo caso controle. Os pacientes foram divididos em Grupo A (n= 389) e Grupo B (n= 877)
de pacientes operados antes (1997-2000) e após (2008-2012) a adoção do uso de mupirocina intranasal préoperatório, respectivamente. Resultados: a incidência de mediastinite no Grupo A foi de 3,60% (n= 14) e no
Grupo B de 2,28% (n= 20), sem significância estatística (p= 0,19), mas obtivemos um número necessário de
pacientes para tratar (NNT) de 76 para o período estudado. Conclusão: o uso da mupirocina mostrou-se
benéfico, devido ao grave desfecho que é a mediastinite e relação custo/efetividade do antibiótico utilizado.
PALAVRAS-CHAVE: esternotomia, mediastinite, mupirocina, cirurgia torácica.
ABSTRACT
Objective: The aim of this study was to compare the incidence of mediastinitis in patients
undergoing sternotomy for cardiac surgery at the Santa Casa de Misericordia de Ponta Grossa-PR who used
and who did not use nasal mupirocin. Methods: retrospective study, analytical, observational, case control.
Patients were divided into Group A (n = 389) and Group B (n = 877) of patients operated before (1997-2000)
and after (2008-2012) the adoption of the use of preoperative intranasal mupirocin, respectively. Results:
The incidence of mediastinitis in Group A was 3.60% (n = 14) and group B consisted of 2.28% (n = 20). We
obtained a number of patients needed to treat (NNT) of 76 for the period studied. Conclusion: The use of
mupirocin proved beneficial due to the severe outcome that is mediastinitis and the relation
cost/effectiveness of the antibiotic used.
KEYWORDS: esternotomy, mediastinitis, mupirocin, thoracic surgery
Artigo recebido em: 09/03/2015
Aceito para publicação: 30/03/2015
Autor para correspondência: Tayza K D Ostroski ([email protected])
REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(1):9-­‐12. INTRODUÇÃO
A
técnica
de
utilização
da
esternotomia mediana para a abordagem em
cirurgias cardíacas vem sendo concebida
desde os anos 1800. Ainda hoje, séculos mais
tarde, a prevenção e o tratamento para as
complicações infecciosas desta prática,
representam um importante desafio para os
cirurgiões cardiotorácicos.1 Dentre estas
complicações, a mediastinite continua sendo
umas das principais.2
Fatores de risco foram identificados
como possíveis causas associadas às infecções
do esterno, como: idade, sexo, obesidade,
diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva
crônica;
e
fatores
relacionados
ao
procedimento, como: duração da cirurgia,
necessidade de repetidas transfusões de
sangue, permanência prolongada no hospital
no pré e pós operatório, entre outros fatores
que elevam a morbidade para os paciente.3
Por isso, são utilizadas técnicas de
descolonização para erradicar patógenos da
microbiota nasal a partir do uso tópico de
pomadas antibióticas, como a mupirocina
nasal, a fim de minimizar os fatores de risco
no pré-operatório.4
O presente estudo tem por objetivo
comparar o uso da mupirocina intranasal na
profilaxia da mediastinite em pacientes
submetidos à esternotomia mediana para
cirurgia cardíaca na Santa Casa de
Misericórdia de Ponta Grossa.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado um estudo retrospectivo,
analítico observacional do tipo caso controle,
através de análise de prontuários eletrônicos e
dados levantados na unidade de cirurgia
cardíaca utilizados na Santa Casa de
Misericórdia de Ponta Grossa-PR. Foram
incluídos 1266 pacientes submetidos à
esternotomia para cirurgia cardíaca. Os
pacientes foram distribuídos em Grupo A (n=
389) e Grupo B (n= 877) de pacientes
operados antes (1997-2000) e após (20082012) a adoção do uso de mupirocina
intranasal pré-operatório, respectivamente.
Análise comparativa entre os grupos procurou
detectar a incidência de mediastinite e suas
complicações.
O estudo foi previamente aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual de Ponta Grossa e da
Santa Casa de Misericórdia de Ponta GrossaPR.
Para a análise estatística foi aplicado o
teste de Fisher para avaliar a incidência de
mediastinite, considerando significativo o
valor de p < 0,05. Foram utilizados também
os cálculos de risco absoluto (RA), risco
relativo (RR) e número necessário de
pacientes para tratar (NNT).
RESULTADOS
Foi encontrado nesta série uma
frequência de mediastinite no Grupo A de
3,60% (n= 14) e no Grupo B de 2,28% (n=
20) (p= 0,19), havendo uma redução de risco
absoluto (RRA) de 1.32% e uma redução de
risco relativo (RRR) de 33%, com um número
necessário de pacientes para tratar (NNT) de
76 para o período estudado (tabela 1), porém
sem diferença estatística (tabela 2).
DISCUSSÃO
Mediastinite é definida como uma
infecção grave de ferida operatória na região
do mediastino. Pode se apresentar como
deiscência de sutura com secreção, dor, sinais
flogísticos no local indicando inflamação, e
instabilidade do esterno.5 As principais causas
relacionadas à mediastinite são: esternotomia
mediana; principalmente realizada para
cirurgia cardíaca; ruptura de esôfago,
abcessos de cabeça e pescoço, empiema
pleural, osteomielite de vértebras e costelas, e
abcessos retroperitoneais e subfrênicos.6
Apesar da incidência ser baixa e
representar cerca de
0,2% a 5% das
infecções, esta afecção apresenta alto índice
de morbidade e mortalidade, com taxas que
ultrapassam o valor de 40% de óbitos. Os
riscos de mediastinite são maiores quando
associados a condições como: diabetes
mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica,
tabagismo,
corticoterapia,
ventilação
7
mecânica, entre outras.
REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(1):9-­‐12. Tabela 1. Análise do NNT para a incidência de mediastinite
Não
mediastinite
Mediastinite
Não-mupirocina
(1997-2000)
375
14
Uso de
mupirocina
(2009-2012)
857
NNT
IC 95%
76
(- 0,78% , 3,42%)
20
*NNT = número necessário para tratar
Tabela 2. Análise do p para a incidência de mediastinite
Não
mediastinite
Mediastinit
e
Não-mupirocina
(1997-2000)
375
14
Uso de
mupirocina
(2009-2012)
857
Dentre os agentes etiológicos mais
frequentemente relacionados à mediastinite,
podemos destacar o Staphylococcus aureus,
representando cerca de 70% dos casos de
infecção;8 o Staphylococcus epidermidis, a
Pseudomonas sp. e a Escherichia coli. Muitas
vezes a cultura pode apresentar-se negativa
para a presença de microorganismos, isto se
deve ao uso de antibióticos profiláticos,6 como
é o caso da mupirocina, um antibiótico tópico
que parece ser eficaz na profilaxia desta
patologia.9
Além de reduzir a morbimortalidade, o
uso da mupirocina reduz os custos hosptalares
com o internamento do paciente, tendo em
vista que reduz o número de infecções.
VandenBergh et al evidenciaram em um
estudo realizado no Hospital Universitário de
Rotterdam, na Holanda, que os custos para
realização da profilaxia com mupirocina
ficaram em torno de 10 dólares,
p
OR (IC 95%)
0,1898
1,59 (0,79% - 3,20%)
20
aproximadamente 20 reais por paciente, e que
o número de infecções reduziu em 5 pontos
percentuais para os pacientes que utilizaram a
medicação no pré-operatório,10 o que
representa uma redução significativa em se
tratando de um desfecho tão grave, comparado
a uma medida de prevenção de baixo custo.
Em nosso estudo, apesar de não encontrarmos
uma significância estatística, podemos
evidenciar a presença de um NNT
considerável de 76, o que confirma a boa
relação custo efetividade desta intervenção.
CONCLUSÃO
As cirurgias cardíacas feitas através de
esternotomias apresentam alto risco de
infecção pré e pós-operatória, tendo a
mediastinite como uma das principais
infecções. Nesse sentido, é importante a
análise da eficácia do uso da mupirocina, pois
REV. BRAS. MED. INTERNA 2015; 2(1):9-­‐12. isto significa maior segurança e baixo custo
nos procedimentos hospitalares relacionados
às infecções, o que é de grande relevância para
a mediastinite, pois esta complicação modifica
substancialmente a evolução natural dos
pacientes no pós-operatório de cirurgias
cardíacas.
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